Preparo do Canal Radicular no

Tratamento de Dentes com Polpa

Necrosada (Necropulpectomia)

Nos dentes com polpa mortificada, os restos de teci-

do necrosado servem como substrato ao desenvolvimento
de microrganismos mantendo a infecção.
O s canais de todos os dentes com polpas ne-
crosadas e alterações pe r iapicais radio lúcidas
achavam-se infectados e a maioria dos microrga-
nismos eram anaeróbicos.
(Sundqvist , 1976)
Como foi registrado no capítulo de acesso ao
canal radicular, após a localização e o preparo
da ent rada, antecedendo a instrumentação, é
possível fazer o preparo do terço cervical. Esse
procedimento traz inúmeros benefícios. E tam-
bém uma alternativa à disposição para uso em
todas as técnicas de modelagem descritas an te-
riormente neste capítulo.

:::Ur essa razão, como afirmamos anteriormente, no

[IJ ExPLORAÇÃO DO CANAL COM
rra-a::-:e::m endodôntico destes dentes cabe ao preparo ESVAZIAMENTO PARCIAL
r::e-~ro. auxiliado pela irrigação, remover os restos
cec.:.2-.: dar forma e dimensões para que.o tanal possa Na exploração com esvaziamento parcial procuramos,
se: :)Z.....-.r.~ào e, ainda, eliminar ou reduzir o número de com o uso de instrumentos e de soluções irrigadoras,
m:c:u.-:;a_-Jsmos presentes no sistema· de canais radicu- realizar em uma mesma manobra operatória o reconhe-
lares. cimento do canal radicular (exploração) e a remoção de
l5SO faz com que as diferenças entre o preparo de parte de seu conteúdo (esvaziamento parcial).
car.._::_s ro::::: a polpa viva e aqueles com polpa necrosada A necrose da polpa decorre, na maior parte das ve-
se_i:::..- ~-eaas, porém fundamentais. zes, da ação das bactérias, do que resulta um conteúdo
.-. p-3e-.:a de microrgani.smos, nos dentes com polpa infectado e tóxico (toxinas bacterianas e teciduais) no
nec-c~ca. e responsável - também - pela cautela com interior da cavidade pulpar. Mesmo nas necroses assép-
que o u:l:a:nento deve ser realizado. Procedimentos ticas, a decomposição do tecido pulpar gera produtos
poLo cr-.:cadosos terminam provocando - quase sem- com potencial de agressão aos tecidos periapicais.
pre - s_~:.e:as muito desagradáveis (Figura 7.34).
- es::::a forma que no tratamento dos dentes com
po:?3 \"'J\ã e ,isando facilitar a compreensão, a descri-
ção seiã. :e:.:a por etapas (Quadros 7. 7, 7.8 e Figuras
7. e - ...!: .
::.-a?25 do Preparo:
::..'9!oração do canal radicular com esvaziamen-
:o ;,arcial.
? . :e:-:.suração do dente (odontometria).
3. ::.s-·aziamento do canal radicular.
.:!. • ~.:ooelagem do canal radicular.

Figura 7 .34 Presença de bactérias na parede do canal radicular.

 1 Capítulo 7 Preparo do Canal Radicular
....
Nessas circunstâncias o instrumento explorador, pe-
netrando na extensão do canal radicular, poderá atuar
como se fosse um êmbolo, impulsionando para o terço
apical, ou extrusionando para os tecidos periapicais, o
conteúdo contaminado do canal, determinando seqüe-
las extremamente desagradáveis.
Em razão dessa real possibilidade, antes da explora-
ção ou junto com ela, é necessário reduzir a quantidade
e/ ou neutralizar a agressividade desse conteúdo.
Esta redução e/ ou neutralização pode ser realizada
através de uma técnica imediata ou de uma técnica media-
ta.
Na neutralização imediata, também conhecida por
penetração desinfectante, a redução da quantidade de mi-
crorganismos e/ ou de produtos tóxicos é alcançada pelo
emprego simultâneo e cuidadoso de soluções de hipo-
clorito de sódio e de instrumentos.
1.1 Técnica
A escolha do instrumento a ser utilizado para reali-
zar a exploração e o esvaziamento parcial, bem como a
determinação do comprimento de trabalho, deve obe-
decer às mesmas normas preestabelecidas para a esco-
lha e para o preparo do instrumento explorador para os
casos de pulpectomia.
O tipo de instrumento recomendado depende das
características do canal e preferencialmente utilizamos
aqueles com secção triangular. Justifica-se a escolha por
instrumentos com essa secção pela menor probabilida-
de de impulsionarem os detritos em direção apical.
O número do primeiro instrumento deverá ser com-
patível com o diâmetro do canal. Quando muito finos
não serão efetivos na função de esvaziamento; muito
calibrosos, poderão funcionar como êmbolos. O bom
senso auxiliará na escolha. Na dúvida, a opção deve ser
por instrumentos mais finos.
De forma idêntica a que foi descrita para os casos de
polpa viva, é necessário determinar o comprimento de
trabalho para exploração.
A neutralização imediata deve ser iniciada pela irri-
gação da câmara pulpar e da entrada do canal com
hipoclorito de sódio em concentrações de 1 % a 5% que,
por suas características como anti-séptico e dissolvente
da matéria orgânica, e usado com prudência, tem-se
mostrado a solução ideal.
Após o preenchimento da câmara com hipoclorito, o
instrumento explorador calibrado com o comprimento
de trabalho para exploração é introduzido no terço cervical
com a finalidade de agitar o meio e, dessa forma, facili-
tar o contato da solução com a matéria orgânica. Uma
aspiração na câmara removerá o líquido com os detritos
em suspensão. Nova quantidade de hipoclorito é coloca-
da no interior do canal e a solução agitada com a intro-
dução do instrumento, agora, até o terço médio. A aspi-
ração completa a neutralização dos terços cervical e mé-
dio.
Com os mesmos cuidados o canal vai sendo explora-
do e esvaziado parcialmente até o comprimento de tra-
balho para exploração estabelecido para o dente em tra-
tamento (Figura 7.35) . Ao alcançar a profundidade de-
sejada, o instrumento deve ser fixado nessa posição e a
realização de uma radiografia, nesse momento, permiti-
rá a realização da odontometria.
Figura 7.35 Esvaziamento parcelado do canal radicular em um dente
com polpa necrosada.
A neutralização imediata do conteúdo do canal deve
ser realizada cautelosamente; é necessário dar alguns
segundos para que o hipoclorito exerça, efetivamente,
sua ação desinfectante e dissolvente . A p enetração
desinfectante, realizada às pressas tem pouco ou nenhum
efeito, e as conseqüências confirmarão a necessidade de
realizá-la com calma.
Em síntese, avançando por terços, o esvaziamento
proporcionará a remoção de parte do conteúdo do canal
até o limite estabelecido pelo comprimento de trabalho
e, simultaneamente, a exploração fornecerá as informa-
ções necessárias para melhor conhecimento de suas ca-
racterísticas anatômicas. ·
Outra técnica utilizada com o objetivo de modificar
o conteúdo do canal radicular é a mediata com o uso do
tricresolformalina como medicação prévia.
Através desse procedimento, descrito e avaliado em
inúmeras publicações e empregado há muitos anos por
Soares e colaboradores, é possível reduzir, quimicamen-
te, o conteúdo microbiano do canal radicular e neutrali-
zar as substâncias tóxicas provenientes da decomposi-
ção do tecido pulpar necrosado.

Após a utilização da medicação prévia será possível
dar continuidade ao tratamento dentro de condições
compatíveis com os princípios biológicos que devem ser
obedecidos durante todo o transcorrer da terapia endo-
dôntica.
A quantidade de tricresol formalina a ser levada à
câmara pulpar deve ser a menor possível. A dificuldade
prática de limitar o volume da medicação sugere que,
sempre que houver dúvida, o excesso seja removido, pres-
sionando o curativo contra uma compressa de gaze.
Para a realização desse curativo após o acesso ao ca-
nal, com a câmara pulpar limpa e seca - resultado dos
procedimentos de esvaziamento descritos na página 60
- uma bolinha de algodão, compatível com o espaço exis-
tente, com pequena quantidade de tricresol formalina, é
acomodada na câmara e o dente restaurado proviso-
riamente (Figura 7.36).
Com esse procedimento encerra-se a primeira sessão
do tratamento. Esse curativo permanecerá na câmara
pulpar por, no mínimo, 24 horas, quando terá início a
exploração do canal radicular.
OBSERVAÇÃO
A escolha de uma ou de outra técnica para alcançar a
neutralização do conteúdo do canal dos dentes despol-
pados pode ser uma opção pessoal. Todavia, a vivência
clínica sugere que para alunos ou para profissionais com
pouca experiência em endodont ia e d~ um modo geral no
tratamento de canais atrésicos - quando mesmo os instru-
mentos muito finos têm dificuldade em penetrar e a solução
irrigadora não consegue alcançar os milímetros apicais da
cavidade pulpar - a neutralização mediata é a mais acon-
selhável.
Curativo
&---+ comTricresol
Formalina
Figu ra 7.36 Dente com um curativo de tricresci formalina (medica-
ção prévia) na câmara pulpar e com restauração provisória.
Parte I Técnica e Fundamentos
Ü DONTOMETRIA
( MENSURAÇÃO DO DENTE)
A técnica para aferir o comprimento do dente inde-
pende do estado da polpa (viva ou necrosada); por essa
razão, para realizar a odontometria dos dentes com pol-
pa necrosada, consulte o item correspondente a esse pro-
cedimento para os casos de pulpectomia (ver página 107).
Determinado o comprimento real do dente, passa-
mos à etapa seguinte.
OJ E SVAZIAMENTO DO CANAL RADICUIAR
O esvaziamento do canal radicular compleménta o es-
vaziamento parcial realizado durante a exploração. Nele,
com o uso de instrumentos e soluções irrigadoras, pro-
cura-se remover o remanescente do conteúdo do canal
em toda a sua extensão.
O conteúdo do canal radicular nos dentes despolpados
(fragmentos de tecido necrosado, detritos e bactérias)
descaracteriza o esvaziamento, como foi conceituado
para os casos de pulpecromia. Enquanto nos dentes com
polpa viva pode haver, efetivamente, o esvaziamento em
um único procedimento (por exemplo, a remoção da pol-
pa radicular em um canal amplo), nos casos de dentes
com polpa morta isto não acontece. O esvaziamento, que
foi iniciado na exploração com esvaziamento parcial, terá
continuidade com o esvaziamento do canal radicular e só
será concluído durante a modelagem do canal.
Feita a exploração com o esvaziamento parcial e a
odontometria, deve-se dar seqüência ao esvaziamento.
Para realizá-lo, procedemos de acordo com os itens des-
critos a seguir.
3.1 Determinação do Comprimento de
Trabalho para Esvaziamento (CTEs)
Nos dentes que sofreram processo de mortificação pulpar
não há tecido vivo que possa caracterizar um coto apical.
Quando esses dentes apresentam uma lesão periapical
radiograficamente evidenciada, há também a reabsorção
do cemento apical, o que determina a alteração nas di-
mensões do canal cementário. Esses fatos ocorrem como
conseqüência da irritação química e/ ou microbiana, que
provêm do canal radicular e por si só justificam o esvazia-
mento do canal em toda a sua extensão.
Assim sendo, para os dentes com polpa morta,
CTEs = CRD
3.2 Técnica
O esvaziamento do canal de um dente com polpa
necrosada é mais difícil de ser realizado quando compa-