protocolo clínico
Desafios estéticos:
facetas diretas em dentes escurecidos
Rafael CALIXTO
Especialista, Mestre e Doutor em Dentística Restauradora, UNESP-Araraquara.
Nelson MASSING
Especialista e Mestre em Dentística Restauradora, ULBRA.
INTRODUÇÃO
As restaurações diretas nos dentes anteriores
são um grande desafio para o clínico/especialista
devido ao alto grau de exigência estética que os
pacientes requerem nos dias de hoje. Esses proce-
dimentos tornam-se ainda mais desafiadores nas
facetas, especialmente quando o substrato dentá-
rio tem sua cor alterada (escurecida). Para muitos,
esse é o maior desafio com resinas compostas, de-
vido à necessidade de um mascaramento adequa-
do do remanescente dentário com agentes opacifi-
cadores e, ao mesmo tempo, uma manutenção da
translucidez natural da estrutura dentária.
Esse primeiro artigo de 2014 tem como objetivo
descrever materiais e técnicas para o correto proce-
dimento de facetas diretas nos dentes escurecidos.
Como citar esta seção: Calixto R, Massing N. Desafios estéticos: facetas diretas em dentes escurecidos. Rev Dental
Press Estét. 2014 jan-mar;11(1)14-25.
Enviado em: 10/01/2014 - Revisado e aceito: 17/01/2014
Endereço de correspondência: Rafael Calixto. Av. Prof. João Fiusa, 1901 – Sl. 211 – Jd. Canadá – Ribeirão Preto/SP CEP:
CEP: 14.024-250 – E-mail: lrcalixto@hotmail.com
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TRANSLUCIDEZ/OPACIDADE
Um dos principais fatores a serem considera-
dos, com relação à cor, nas restaurações estéticas
diretas, é a correta reprodução do valor da restau-
ração, o qual está diretamente ligado à translu-
cidez e opacidade (Fig. 1). Materiais translúcidos
permitem uma passagem de grande quantidade
de luz que incide sobre ele. Já materiais opacos
(menos translúcidos) refletem uma maior quan-
tidade de luz. Isso está diretamente ligado à per-
cepção de cor/valor das restaurações de resina,
pois uma grande quantidade de opaco (dentina)
resulta em uma maior reflexão de luz e em um as-
pecto leitoso da restauração, já uma menor quan-
tidade de dentina e, consequentemente, maior
quantidade de esmalte (translúcido), permitem
Os autores declaram não ter interesses associati-
vos, comerciais, de propriedade ou financeiros que
representem conflito de interesse nos produtos e
companhias descritos nesse artigo.
O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo
autorizou(aram) previamente a publicação de suas
fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias.

uma grande passagem de luz, tendo como resul-
tado uma maior visualização do que está atrás da
restauração, como um substrato pigmentado ou o
fundo escuro da boca, o que deixará a restauração
com aspecto acinzentado (baixo valor).
As resinas para dentina são chamadas de
“opacas”, porém apresentam um certo grau de
translucidez, permitindo uma determinada pas-
sagem de luz. Devido a isso, em caso de facetas
sobre substratos muito escurecidos, devemos uti-
lizar materiais com um maior grau de opacidade,
o que permite apenas uma passagem mínima da
luz, de acordo com sua espessura e característi-
ca. Esses agentes são chamados de opacificadores
(Fig. 3 a 9), e podem apresentam-se na forma de
resinas convencionais ou fluidificadas.
Figura 1. Observe na imagem dos dentes a característica mais opaca ou mais translúcida da estrutura dentinária natural, a qual leva a dife-
rentes percepções de cor, apesar de apresentarem características de tonalidade de cor muito próximas.
Desafios estéticos: facetas diretas em dentes escurecidos
PREPARO
Na realização dos preparos para facetas diretas
sobre substratos escurecidos, algum cuidados de-
vem ser considerados. O primeiro deles é a profun-
didade do preparo, que deve permitir a aplicação,
primeiramente, do agente opacificador, e a subse-
quente estratificação com as camadas de dentina e
esmalte. Uma espessura em torno 1,5mm seria in-
teressante para permitir a aplicação dessas várias
camadas, podendo variar de acordo com o grau de
escurecimento do substrato dentário. O término
cervical deve estar posicionado intrassulcular para
impedir uma visualização da margem da restaura-
ção, assim como o limite do preparo proximal deve
estar levemente “invadindo” o contato proximal
— pelo mesmo motivo já citado (Fig. 2).
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Figura 2. O preparo dentário sobre dentes escurecidos deve apresentar um térmico cervical intrassulcular, assim como suas margens proxi-
mais levemente dentro do contato proximal, sobretudo na região cervical. Observe que essas recomendações não estão sendo respeitadas.

Figura 3. Os opacificadores apresentam-se sob a forma de uma resina convencional — que permite um controle da espessura da camada
aplicada — e sob a forma de resinas fluidas.

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Figura 4. Os agentes para mascaramento podem apresentar-se com diferentes características de opacidade, dependendo da marca comer-
cial e consistência. Os materiais sob a forma de resinas fluidas, em geral, são extremamente opacos, e devem ser cuidadosamente aplicados
para não gerar uma característica muito leitosa na restauração final. Começando pelo quadrante superior esquerdo, no sentido horário: Mo-
nopaque 110 - fluido (Ivoclar); Opak B0.5 – fluido (Angelus); OS Vit-l-escence (Ultradent); OW Amelogen Plus (Ultradent).

Figura 5 a 9. Sequência demonstrativa em manequim, mostrando que uma pequena espessura do opacificador, em geral, já é suficiente para
mascaramento do remanescente escurecido.

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MASCARAMENTO DO REMANESCENTE opacificadores (Tab. 1). A maior dificuldade está

A característica de cor de uma restauração
direta anterior será sempre determinada pela
cor/valor da resina, somada ao que está atrás dela
(substrato ou fundo escuro da boca). Substratos
escurecidos após as preparações para facetas di-
retas necessitam de um material que não permita
uma grande passagem de luz, que são os agentes
em trabalhar com materiais extremamente opa-
cos para opacificação e, ao mesmo tempo, man-
ter a translucidez natural da estrutura dentária.
Os casos clínicos que seguem (Fig. 10 a 35) mos-
tram dicas e estratégias para um mascaramento
adequado e natural de remanescentes escureci-
dos em facetas diretas.

Tabela 1. Alguns exemplos de opacificadores disponíveis no mercado.

RESINA CONSISTÊNCIA FABRICANTE

OW – Amelogen Plus Convencional Ultradent

OW/OS – Vit-l-escence Convencional Ultradent

OW/OP - Opallis Convencional FGM

Opaquer - Renamel Fluida Cosmedent

Monopaque Fluida Ivoclar

Opak Fluida Angelus

Figura 10 e 11. Aspecto inicial do paciente com restauração inadequada do dente 11.

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Figura 12. Após a remoção da restauração e preparo para faceta Figura 13. A aplicação de agentes opacificadores é necessária de-
direta, notou-se um remanescente escurecido. vido a incapacidade que as resinas para dentina possuem em mas-
carar um substrato escurecido. Mascaramento realizado com OW
Amelogen Plus (Ultradent).

Figura 14. Após o mascaramento do substrato, as camadas subsequentes são, normalmente, aplicadas seguindo a técnica de estratificação
natural por camadas. (Dentina A3/A1+ EnamelFrost – Vit-l-escence/Ultradent).

Figura 15. Aspecto final da faceta após acabamento e polimento.

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Figura 16. Caso clínico inicial, onde foi planejada faceta direta dos incisivos. Figura 17. Preparo para faceta direta. Note o aspecto extre-
mamente escurecido do substrato após o preparo.

Figura 18 e 19. Aplicação do agente opacificador OW (Vit-l-

-escenceUltradent) para mascaramento do substrato.

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Figura 20 e 21. Um correto mascaramento de um dente escurecido deve recobrir a área escurecida e suavemente reduzir sua espessura para
região sem escurecimento (note essa característica principalmente no dente 11). Um correto mascaramento deve “esconder” em torno de
80% do aspecto escurecido do substrato, os outros 20% serão papel da camada de dentina subsequente. Uma característica muito leitosa
após o opacificador significa um excesso desse material, já uma visualização nítida do substrato deve-se a uma pequena espessura e/ou
incapacidade de mascaramento desse.

Figura 22 a 24. Estratificação das camadas subsequentes de dentina (A3D terço médio-cervical) + corpo (A2B cervical + A1B terço médio
incisal) + esmalte (A1E). Resina Z350XT (3M).

Figura 25. Aspecto final após acabamento

e polimento.

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Figura 26. Caso inicial de faceta direta (11) e troca da classe IV

antiga (21).

Figura 27. Agente opacificador sobre a região escurecida. Após isso, quando se nota uma característica muito branca (não confundir com opa-
ca), uma aplicação de uma dentina bem saturada (nesse caso A4D – Z350XT/3M) pode “mesclar” com o aspecto branco do opacificador e resul-
tar em uma colocação mais natural (em torno do A3). Em seguida, foi aplicada a resina de corpo (A3B cervical+ A2B médio-incisal - Z350XT/3M).

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Figura 28. Aspecto após a aplicação do esmalte (A1E – Z350 XT/3M). Figura 29. Sorriso final.

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Figura 30. Caso inicial, mostrando a característica acinzentada da restauração do 11.

Figura 32. Aspecto após a preparação da faceta.
Figura 33. Restauração finalizada. Foram aplicadas as resinas
Opaquer 2-2.5 (RenamelCreativ Color, Cosmedent) + Dentin A3
cervical e Dentin A1 médio-incisal (EmpressDirect/Ivoclar) + Light
Brown na margem cervical (RenamelCreativ Color, Cosmedent) +
Enamel A1 (EmpressDirect, Ivoclar). Um dos erros mais comuns
está no aspecto acinzentado após a finalização desse tipo de face-
ta. Quando esse acinzentamento é suave, a correção pode ser feita
por um aumento da espessura da camada de dentina. Já quando a
característica acinzentada é mais intensa, a solução está na cama-
da de opacificador, que deve ser aumentada.

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Figura 34 e 35. Aspecto final após aumento da espessura da dentina e polimento final.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conhecimento aquedado e, principalmen-
te, a interpretação dos conceitos de translucidez e
opacidade, associados ao domínios no manejo dos
agentes opacificados, são essenciais para que o clí-
nico/especialista obtenha uma estética natural nas
facetas diretas de dentes escurecidos.

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