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DE PRÁTICAS
HEMOSTÁTICAS EM
CIRURGIA ORAL
• Coagulação
• Distúrbios de Coagulação
• Hemostasia
• Práticas hemostáticas
UNIVERSIDADE FRANCISCANA
Autor: Leonardo Bolzan da Silveira
culminam no surgimento de FIXa e FvW
Coagulação livre que participam da adesão e
agregação plaquetária no local da lesão
vascular. Estando os fatores ativados na
O processo de coagulação ocorre superfície das plaquetas inicia-se a fase
em diferentes fases, iniciando pela de propagação (RODRIGUES, 2012).
vasoconstrição, que diminui o fluxo Na fase de propagação grandes
sanguíneo próximo a lesão; seguida pela quantidades de plaquetas são recrutadas
formação do tampão plaquetário quando para o local da lesão e são formados
as substâncias hemostáticas sanguíneas inúmeros complexos tenase e
se encontram com os componentes protrombinase, dessa forma, grandes
reativos do subendotélio e pela quantidades de protrombina são
fibrinólise, que desfaz os coágulos após transformadas em trombina que resulta
a reparação do tecido. na clivagem de fibrinogênio em
Atualmente, o processo de monômeros de fibrina. A fibrina se
coagulação sugere as fases de iniciação, polimeriza e forma um coágulo estável.
amplificação e propagação, que explica (RODRIGUES, 2012).
mais adequadamente tal evento in vivo e Para normalizar o funcionamento
do vaso sanguíneo, o coágulo deve ser
é totalmente modulado pelos inibidores
removido pelo sistema fibrinolítico,
fisiológicos da coagulação, que limita a
então o plasminogênio é ativado em sua
coágulo formação na região injuriada
forma proteolítica chamada plasmina
(SANTOS,2012). (SANTOS, 2012), uma serino protease
Sendo assim, a fase de iniciação que degrada a rede de fibrina em
começa pela lesão ou ativação das produtos de degradação solúveis,
células endoteliais, monócitos, ou dissolvendo o coágulo após a
micropartículas oriundas de vários tipos reconstrução do vaso.
de células que formam um complexo que
acaba convertendo protrombina em
traços de trombina e, além disso, pode se
deslocar para outra célula ou para a
superfície das plaquetas tornando-as
ativas e assim iniciar a fase de
amplificação de coagulação
(RODRIGUES, 2012).
Já a fase de amplificação é
preparatória para a subsequente ativação
e produção de trombina em grandes
quantidades na fase de propagação
(BERGER,2014); o traço de trombina
gerado na fase de iniciação ativa as
plaquetas, ativa o fator V Imagem 1: imagem representativa do dano provocado em
superficialmente nas plaquetas, que após nível vascular e a formação do coágulo. Imagem extraída do
site Brasil Escola, acessado em 17 de maio de 2022.
algumas ligações com outras partículas
importantes durante a cascata de
Distúrbios da coagulação, diminuindo a função pró-
coagulação coagulante das plaquetas; são exemplos:
a síndrome de Bernard Soulier, doença
Quando algo não vai bem no de Von Willebrand e doença do estoque
processo de hemostasia, aumentam as plaquetário (RIZKALLA, 2020).
chances de morbidade e mortalidade, e Sangramentos cutâneos e nas
no que tange a área odontológica, mucosas são comuns nesses pacientes,
procedimentos cirúrgicos periodontais, além de outras manifestações clínicas
exodontias e biópsias tendem a ser como epistaxes, equimoses espontâneas,
dificultados e muitas vezes púrpura, menorragia, gengivorragia,
contraindicados, pelo menos, sangramentos após exodontias e
temporariamente; uma vez que cirurgias periodontais (SANTOS, 2012).
tendências hemorrágicas são um desafio Alterações plaquetárias
para os profissionais da saúde, é adquiridas podem ser secundárias ao uso
importante que além do sistema de drogas, autoanticorpos e doenças
hemostático fisiológico, se conheça sistêmicas. Apresentam sangramentos
possíveis alterações patológicas dele. semelhantes aos das plaquetopatias
Em nosso país, cerca de 18.500 congênitas, entretanto, são causadas por
indivíduos apresentam algum tipo de agentes externos como doenças,
coagulopatia hereditária. Esses pacientes medicamentos e procedimentos (RICK,
fazem uso de diversos medicamentos, 2018). A plaquetopenia induzida por
inclusive anticoagulantes. O Cirurgião medicamentos é relativamente comum e
Dentista deve estar ciente do impacto dos pode ser causada por medicamentos
distúrbios hemorrágicos durante a como, heparina, quinina, abciximab, sais
abordagem de seus pacientes, de ouro, linezolida, diazepan,
especialmente se procedimentos carbamazepina, diclofenaco, naproxeno,
invasivos forem considerados ibuprofeno, hidroclorotiazida,
(CESCONETTO, 2021). ciclosporina e rituximab, por exemplo
Alterações plaquetárias podem (MUMFORD et. Al. 2014).
ser tanto congênitas quanto adquiridas; Coagulopatias congênitas são
as alterações congênitas podem ser doenças hemorrágicas advindas das
qualitativas ou quantitativas e pacientes deficiências dos fatores de coagulação,
acometidos por plaquetopatias quantitativas ou qualitativas, sendo a
congênitas podem apresentar doença de Von Willebrand e as
sangramento de gravidade variável, hemofilias as mais comuns (SANTOS,
espontâneos ou pós-traumáticos 2012).
(REZENDE, 2010) visto que têm como
característica comum a redução da
formação de trombina (RIZKALLA,
2020).
Alterações qualitativas refletem
insuficiência ou disfunção de receptores
e demais componentes que são
descobertos após procedimentos como
Doença de Von exodontias e raspagens subgengivais ou
Willebrand (DVW) através de traumas (RICK, 2018).
O diagnóstico se baseia em
histórico clínico, familiar, exames
A DVW representa falhas na físicos e laboratoriais e seu tratamento é
quantidade ou na qualidade do fator multiprofissional. Dentre os exames que
sérico promovendo um déficit na podem ser solicitados estão, níveis
hemostasia primária (RIZKALLA, séricos do antígeno do fator Willebrand,
2020). Tal doença é dividida em três teste de ristocetina (antibiótico indutor
tipos e mais subdivisões: de agregação plaquetária) e atividade do
Tipo 1: quantitativo e mais fator VIII; além de uma anamnese
comum, cerca de 75% dos casos, com detalhada para encontrar casos de
sangramentos de leves a exacerbados; epistaxes na infância e em familiares
Tipo 2: qualitativa, que significa (RIZKALLA, 2020).
15% dos casos e apresenta sangramentos
moderados a severos devido a
diminuição dos multímeros de alto peso Coagulopatias
do fator; tipo 2B, qualitativo, que marca
5% dos casos e apresenta sangramentos adquiridas
moderados devido a ligação exagerada
dos multímeros de alto peso às plaquetas;
tipo 2M, bastante raro que gera Coagulopatias adquiridas são
diminuição da adesão plaquetária encontradas muito comumente na prática
trazendo um risco de sangramento clínica e muitas vezes estão associados a
moderado a severo; distúrbios plaquetários, sendo as doenças
Tipo 3: extremamente rara, que do fígado e a deficiência de vitamina K
causa uma redução imensa da produção as causadoras mais frequentes
do fator, tornando-o indetectável em (SANTOS, 2012).
alguns casos causando hemorragias em O fígado como local de maior
mucosas e tecidos moles com grave produção de fatores de coagulação e
facilidade (RIZKALLA, 2020). fibrinolíticos apresenta papel
As hemorragias podem ser fundamental na hemostasia, com isso,
espontâneas ou provocadas por doenças hepáticas podem mudar e
traumatismos, com frequência e comprometer o processo hemostático
intensidade atreladas ao déficit e/ou por uma série de causas, como defeitos
qualidade do fator (SANTOS, 2012). Por plaquetários, redução da síntese de
mais que quadros hemofílicos sejam fatores e inibidores, deficiência de
comuns, poucos pacientes sabem que vitamina K, fatores com defeitos
possuem, visto que, normalmente esses funcionais, hiper fibrinólise e
quadros se manifestam de maneira mais coagulação intravascular disseminada,
leve, com ausência de sangramentos podendo causar alterações em
espontâneos, com isso, acabam sendo
hemogramas, hemorragias e tromboses organismo contra sangramentos
(SANTOS, 2012). advindos de lesões aos vasos sanguíneos
A vitamina K é importante pois (BERGER, 2014), sendo a coagulação
ativa os fatores de coagulação VII, IX e vital para este processo.
X além dos anticoagulantes naturais, O sangue permanece em estado
proteínas C e S (MUMFORD et. Al. fluido fisiologicamente devido ao
2014); o déficit dessa vitamina pode ser sistema hemostático, entretanto, ao
causado por diversos motivos, por ser reagir a lesões nas paredes vasculares ele
lipossolúvel, problemas biliares e no corrige essas lesões para evitar o
fígado comprometem sua absorção, além extravasamento sanguíneo; “A
de doenças inflamatórias intestinais e o manutenção da circulação como um
uso de antibióticos como cefalosporinas; sistema hemodinâmico fechado em um
como também, estados de estado de equilíbrio basal é a hemostasia
Hipervitaminose A e B (RIZKALLA, e depende de mecanismos relacionados
2020). ao endotélio, às plaquetas, ao sistema de
coagulação com seus anticoagulantes e
ao sistema fibrinolítico” (SANTOS,
2012).
Sendo a hemostasia uma das
etapas mais importantes da cirurgia,
promovendo uma melhor visualização
do campo operatório, o bem-estar do
paciente e após o procedimento, uma
melhor cicatrização e pós-operatório, é
importante que sejam bem esclarecidos
todos os meios, técnicas e dispositivos
possíveis que o cirurgião-dentista pode
lançar mão para realizá-la, além do
entendimento pleno do processo
fisiológico de hemostasia e coagulação e
Imagem 2: Representação do processo ineficaz/patológico também, de seus processos patológicos.
de hemostasia. Imagem retirada do site Diagno, acessado Sangramentos em excesso
em 20 de maio de 2020.
durante as cirurgias e complicações de
coagulação e cicatrização são desafios
Hemostasia importantes na vida de qualquer
profissional, e abordar esses desafios de
Hemostasia refere-se à parada de maneira inadequada pode impactar na
sangramentos, o termo surge das raízes reabilitação do paciente. Embora não
gregas heme (sangue) e estase (parada), haja consenso sobre a melhor abordagem
sendo assim, parada de sangue da hemostasia, o número de opções
(ANUBHAV, 2019). disponíveis para o cirurgião continua a
crescer (ECHAVE; OYAGUEZ;
A hemostasia é um complexo e
CASADO, 2014).
multifatorial sistema de defesa do
de origem capilar (PRADO; SALIM,
2018).
A pressão deve ser exercida
manualmente, demandando força o
suficiente para proporcionar coagulação,
mas sem excesso, evitando assim injúrias
aos tecidos (FARIAS et al, 2020). Vasos
pequenos geralmente requerem pressão
por 20 ou 30 segundos, enquanto vasos
maiores requerem de 5 a 10 minutos de
pressão contínua (GOMES, 2021).
Técnica de pinçagem
Imagem 3: Representação do processo fisiológico de
hemostasia. Imagem retirada do site Diagno, acessado em
20 de maio de 2020. Com pinça hemostática, se
mostram eficientes, aprisionando as
extremidades de um vaso seccionado e
após isso, utiliza-se fios de sutura para
Práticas hemostáticas fazer sua ligadura, o que não causa
necroses visto que, existe a circulação
em cirurgia oral acessória, além dos vasos mais
calibrosos (PRADO; SALIM, 2018).