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tratamento pela técnica da
ÍS
NT
microabrasão associada ao
DE
clareamento dental
Virginia BOSQUIROLI1
Julio Katuhide UEDA2
Wagner BASEggIO3
RESUMO
1
Mestre em Dentística Restauradora pela Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo; professora da disciplina
Dentística Restauradora I do Curso de Odontologia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Cascavel, Paraná.
2
Mestre em Dentística Restauradora pela Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo; professor da disciplina
Dentística Restauradora I e II do Curso de Odontologia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Cascavel,
Paraná.
3
Mestrando em Dentística Restauradora pela Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo.
A primeira sessão consistiu de uma cuidadosa an- seguida do isolamento absoluto do campo oper-
amnese procurando identificar os fatores que le- atório, abrangendo do elemento 15 ao 25 (Figuras
varam a paciente a ter as alterações no esmalte 2, 3 e 4). O selamento cervical do lençol de borracha
dental, seguida de um exame físico minucioso das com vaselina foi realizado tomando-se o cuidado
manchas. O aspecto físico, somado aos dados da de manter os dentes limpos. Foi feita uma profilaxia
anamnese, levou ao diagnóstico de fluorose den- com taça de borracha e pasta profilática. Confec-
tária moderada (DEAN, 1934) e em grau 3 (THYL- cionou-se a pasta microabrasiva em pote dappen,
STRUP; FEJERSKOV, 1978). No plano de trata- misturando-se ácido fosfórico 37% e pedra-pomes,
mento, optou-se pela realização da técnica de mi- em proporções volumétricas iguais. Aplicou-se a
croabrasão do esmalte dental com ácido fosfórico pasta preparada com aproximadamente 1mm de
37% associado à pedra-pomes (MONDELLI et al., espessura nos elementos do hemiarco esquerdo,
1995; MONDELLI et al., 2001) aplicado manual- nos locais que se encontravam manchados, e fric-
mente, com uma espátula de madeira, e posterior cionou-se com espátula de madeira durante dez
clareamento dental pelo método caseiro supervi- segundos em cada elemento. Em seguida, a pasta
sionado com peróxido de carbamida 10% (HAY- foi removida com spray de ar/água.
WOOD; HEYMANN, 1989). Ainda com os dentes úmidos, foi observado se
Na segunda sessão, iniciou-se a técnica de micro- os manchamentos haviam sido removidos, o
abrasão. Alguns cuidados foram tomados para evi- que indicaria a não necessidade de se continuar
tar o contato do ácido com a mucosa oral e outras com a microabrasão nesses dentes (Figura 5).
regiões da face da paciente. Os olhos da paciente A quantidade de desgaste do esmalte dental foi
foram protegidos com óculos de proteção e uma controlada com o auxílio de um espelho bucal
pomada de Oncilom A em orabase® (Brystol-Meyrs plano posicionado por incisal. Foram efetuadas três
Squibb Brasil F.A.) foi utilizada nos tecidos moles, aplicações da pasta microabrasiva. Os mesmos
Figura 2 - Aspecto clínico após isolamento absoluto do Figura 3 - Aspecto aproximado do hemi-arco superior
campo operatório. esquerdo.
Figura 4 - Aspecto aproximado do hemi-arco superior Figura 5 - Aspecto do hemi-arco superior esquerdo após
direito. 3 aplicações de 30 segundos de ácido fosfórico 37% +
pedra pomes sob fricção com espátula de madeira.
procedimentos foram realizados nos elementos do ção da moldeira de três horas ao dia. Além disso, de-
hemiarco direito (Figura 6). Terminada essa etapa, veria controlar, na sua dieta, a ingestão de alimentos
prosseguiu-se com o polimento com discos de que contivessem corantes, sob pena de pigmentar
óxido de alumínio de granulação ultrafina e discos os dentes devido à permeabilidade aumentada do
de feltro com pasta para polimento de resina esmalte durante o período de clareamento. Após a
composta, objetivando a remoção da opacidade remoção da moldeira, deveria apenas realizar um
do tecido adamantino ocasionado pela técnica. Em bochecho com água para a remoção dos excessos
seguida, aplicou-se flúor fosfato acidulado 1,23% do gel clareador da superfície dos dentes e proced-
sem corantes, por um minuto, para auxiliar na er à higienização da moldeira em água corrente. A
remineralização do esmalte afetado pelo ácido. escovação deve ser evitada imediatamente após a
Na terceira sessão, após o registro da cor, real- remoção da moldeira, para não provocar um efeito
izou-se uma moldagem das arcadas dentárias abrasivo no esmalte dental. Foram feitas sessões
para a confecção das moldeiras individuais para o de controle do clareamento ao segundo, quinto e
clareamento dental. A paciente foi orientada a apli- sétimo dias, analisando os tecidos moles e a sensi-
car uma pequena quantidade de gel na moldeira na bilidade da paciente. Como nenhuma anormalidade
face vestibular dos dentes, o suficiente para recobrir foi identificada, a paciente retornou ao término de
essa superfície, bem como sobre o tempo de utiliza- quatorze dias de uso da moldeira (Figura 7).
Diante de alguns casos em que ocorriam quei- sente caso clínico, optou-se pelo gel clareador
maduras da mucosa dos pacientes pelo extrava- Whiteness Perfect (FGM), com maior concentra-
samento do ácido clorídrico, conseqüente da inad- ção (16%), para que se reduzisse o tempo de uso.
equada mistura entre esse ácido à pedra-pomes, Os mecanismos de ação do clareamento dental
Croll e Cavanaugh (1986), em seus estudos em não são conhecidos de forma precisa. No entan-
dentes humanos, procuraram selecionar o melhor to, Atkinson (1947) demonstrou que as soluções
ácido, na concentração ideal, associado ao mel- de peróxido fluem livremente através do esmalte
hor agente abrasivo. A partir de suas pesquisas, e dentina, devido ao seu baixo peso molecular
em 1989, surge no mercado um produto chamado de 30g/mol. Dessa forma, quando em contato
Prema Compound® (Premier Dental Company), com os tecidos bucais, o peróxido de carbamida
composto de uma pasta de ácido clorídrico a 10%, decompõe-se em peróxido de hidrogênio e uréia
carboneto de silício mais sílica em gel, com es- (BARATIERI et. al, 2001; GOLDSTEIN; GARBER,
pátulas especiais para aplicação manual e taças 1995). O peróxido de hidrogênio é considerado o
de borracha para serem usadas em baixa veloci- agente ativo do clareamento, degradando-se ai-
dade. nda mais em oxigênio e água. O oxigênio difunde-
Mondelli et al. (2001) sugeriram o uso do ácido fos- se pelo esmalte e dentina agindo sobre estrutu-
fórico 37% em gel associado à pedra-pomes de ras orgânicas dos dentes, fragmentando, por uma
granulação extrafina, em proporções volumétricas reação de oxirredução, as cadeias moleculares
iguais, formando uma pasta mais consistente. Os longas que caracterizam o pigmento, em cadeias
autores obtiveram resultados semelhantes aos ca- moleculares menores e também mais claras na
sos em que havia sido utilizado o ácido clorídrico. cor (BARATIERI et. al, 2001; FASANARO, 1992).
No entanto, a utilização do ácido fosfórico 37% A uréia, por sua vez, decompõe-se em dióxido de
apresenta vantagens: é menos erosivo e cáustico carbono e amônia, elevando o pH.
que o ácido clorídrico, permitindo melhor controle Nesse sentido, o mecanismo de ação da micro-
do desgaste; é mais fácil de ser manipulado; pro- abrasão do esmalte é extrínsico, sendo restrito às
porciona melhor homogenização com a pedra- camadas mais superficiais do esmalte, enquanto
pomes; encontra-se disponível nos consultórios e o mecanismo de ação do clareamento dental é in-
possui manuseio mais conhecido. trínsico, possibilitando o clareamento de manchas
Aproximadamente 50 a 200 micrômetros de es- mais profundas.
malte são removidos na técnica da microabrasão Alguns pacientes podem apresentar sensibilidade
(CROLL, 1989), permanecendo ainda uma cama- térmica transitória, como efeito colateral ao trata-
da suficiente de esmalte possibilitando estética e mento clareador. A interrupção do tratamento por
função normais (SUNDFELD, 1990). dois a três dias normalmente resolve o desconforto
Outras concentrações de ácido clorídrico menos (BARATIERI et. Al., 2001).
cáusticas ainda são propostas como no caso do O regime de tratamento pode ser diurno, com uma
microabrasivo de esmalte dental Opalustre® (Ultra- ou duas aplicações de duas horas, ou noturno,
dent Products, Inc) com ácido clorídrico 6,6% as- utilizando-se a moldeira com o gel clareador por
sociado à micropartículas de sílica carbide. um período de seis horas (BARATIERI et al., 2001;
O clareamento dental caseiro, por sua vez, foi pro- GOLDSTEIN; GARBER, 1995).
posto por Heymann e Haywood (1989) e está in-
dicado, segundo Baratieri et. al (2001) e Goldstein
e Garber (1995), para: a) manchas fluoróticas - as CONCLUSÃO
marrons respondem melhor ao tratamento; b) para
disfarçar manchas fluoróticas brancas, uma vez A microabrasão do esmalte é um tratamento
que os dentes se tornam mais claros; c) pacien- simples, com custo relativamente baixo, que tra-
tes insatisfeitos com a cor natural de seus dentes; ta manchamentos superficiais do esmalte com
d) calcificação distrófica da polpa; 5) dentes vitais preservação da estrutura dental. Em associação
naturalmente escurecidos ou escurecidos por cor- ao clareamento dental caseiro, constitui em alter-
antes. nativa para o tratamento da desarmonia de cor ex-
A técnica utiliza géis de peróxido de carbamida istente nos dentes acometidos pela fluorose, pro-
com concentrações de 5, 10, 16 e 22%. No pre- porcionando um resultado estético satisfatório.