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Ação dos agentes clareadores contendo peróxido de hidrogênio e


peróxido de carbamida sobre o esmalte dental humano*
Danilo Barral de Araújo1
Max José Pimenta Lima2
Roberto Paulo Correia de Araújo3

Resumo
A demanda crescente da sociedade moderna pelos procedimentos odontológicos de caráter estético tem encontrado
resposta na odontologia mediante a opção pelo clareamento dental, seja através de géis auto-aplicáveis ou de exclusiva
competência profissional, foto-ativados ou não pelo led ou laser/led, seja incorporados à formulação de dentifrícios.
Aparentemente menos agressivos às estruturas mineralizadas, os produtos clareadores disponíveis no mercado contêm
peróxido de hidrogênio, peróxido de carbamida e perborato de sódio, sendo esse último indicado para a realização de
clareamentos endógenos em dentes despolpados. Na concentração de 10%, auto-aplicável, o peróxido de carbamida é
considerado padrão “ouro” pela FDA. O surgimento de lesões na morfologia do esmalte, em particular a hipersensibilidade,
tem justificado, inclusive, a flúor-terapia e a aplicação do laser infravermelho, dentre outros procedimentos. Não é
consensual, entre os pesquisadores, se a severidade das lesões detectadas microscopicamente na superfície do esmalte
dental, em decorrência da ação desses produtos, tem relevância clínica. O objetivo deste artigo é discutir os efeitos, sobre
o esmalte dental humano, da aplicação de produtos que contêm peróxido de hidrogênio, peróxido de carbamida,
agentes clareadores que integram dentifrícios e géis.

Palavras-chave: Peróxido de hidrogênio. Peróxido de carbamida. Dentifrício. Esmalte dental.

DADOS PRELIMINARES

A associação de três importantes fatores, neurofisiologia dos olhos e do cérebro, e até


conforme estabelece Craig e Powers (2004), mesmo em percepções que encontram justifi-
justifica a cor das unidades dentais: a maneira cativa na psicologia.
pela qual a luz influencia a cor que está em dis- Ao levar em consideração que diferentes
ponibilidade; a propriedade dos corpos em dentes e diferentes áreas de uma mesma unida-
modificar a luz que está associada à estrutura de dental possuem colorações distintas, Dozic
química das superfícies; os mecanismos que e colaboradores (2004), Joiner (2004) e Dozic
permitem às moléculas e átomos a absorção da e colaboradores (2005) comentam a existência
energia luminosa. Essa compreensão tem expli- de uma íntima relação entre a morfologia des-
cação na natureza, através da biologia, da sas estruturas mineralizadas e as supracitadas

* Artigo produzido a partir da Dissertação de Mestrado aprovada em 29-10-2007, intitulada " Ação de dentifrícios com agentes
clareadores: estudo bioquímico e morfológico do esmalte dental humano.
1
Professor Substituto de Bioquímica Oral. Instituto de Ciências da Saúde. Universidade Federal da Bahia – UFBA. Salvador. BA.
Mestrando. Programa de pós-graduação em Odontologia. Faculdade de Odontologia. Universidade Federal da Bahia – UFBA.
Salvador. BA
2
Professor Assistente de Bioquímica. Mestre em Odontologia. Universidade Católica de Salvador – UCSal. Salvador. BA
3
Professor Associado de Bioquímica. Livre Docente em Odontologia. Instituto de Ciências da Saúde. Universidade Federal da Bahia –
UFBA. Salvador. BA

Correspondência para / Correspondence to:


Danilo Barral de Araújo
Rua Aristides Novis, 70
40.210-630. Salvador – BA – Brasil
Tel.: (71) 8737 1686
E-mail: danilobarral81@hotmail.com

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colorações, pois cada região responde de forma hipocalcemia; a febre reumática, a eritroblastose
diferenciada à ação dos agentes clareadores. fetal e a porfiria congênita; os traumas dentais
Kleber, Moore, Nelson (1998) e Joiner que resultam em hemorragia interna, indepen-
(2004) afirmam que importantes fatores são dentemente ou não da manutenção da vitalida-
determinantes da cor dos dentes, dentre os quais de pulpar, além do escurecimento decorrente
as condições de luminosidade impostas pelo do processo natural de envelhecimento.
meio ambiente, em articulação com as proprie- O sangue proveniente de hemorragias
dades das estruturas dentais que favorecem a pulpares, acumulado particularmente na câmara
assimilação da luz. Segundo esses autores, o fei- pulpar, sofre decomposição. Uma vez
xe luminoso, ao incidir sobre a superfície den- metabolizada, a hemoglobina libera o ferro,
tal, gera as seguintes conseqüências: pode ser dando origem a um composto negro – o sulfeto
refletido na própria superfície incidente, pode ferroso – que, ao penetrar nos canalículos
ser absorvido pelos tecidos dentais ou pode ainda dentinários, provoca o escurecimento, compro-
ser transmitido através da superfície à qual metendo, dessa forma, a cor original da unida-
incide. Portanto, a tonalidade da cor dos den- de dental, conforme ratificam os relatos de Paiva
tes é o resultado da intensidade de luz dispersa, e Antoniazzi (1988) e Falleiros Jr. e Aun (1990).
cujo feixe luminoso segue trajetórias irregulares Avaliações realizadas em dentes mortificados ou
nas estruturas dentais, antes de emergir na su- desvitalizados, desenvolvidas por Baratieri e co-
perfície em que incidiu. laboradores (2001) levaram esses autores a afir-
Vaarkamp, Ten Bosch e Verdonschot marem que a mudança de cor está associada,
(1995), com base em estudos realizados na su- habitualmente, aos mais diversos episódios que
perfície do esmalte dental, afirmam que os cris- culminam com a necrose da polpa dental.
tais de hidroxiapatita são os principais respon- As manchas dentais reconhecidamente
sáveis pela difusão da luz, enquanto a causa pre- extrínsecas têm como característica o alcance de
dominante da dispersão é atribuída à dentina, áreas superficiais externas dos dentes, mais
de acordo com os achados de Joiner (2004). freqüentemente o esmalte, pelas substâncias
Esse entendimento respalda os autores Spitzer químicas pigmentadas que terminam por se
e Ten Bosch (1975), Bhaskar (1989), Ten Bosch precipitar na superfície dental. Resultam, na
e Coops (1995) e Gerlach, Gibb e Sagel (2002), maioria das vezes, do contato intermitente dos
ao afirmarem que a determinação da cor dos alimentos com as estruturas que constituem o
dentes é medida, fundamentalmente, em fun- meio bucal, em particular as unidades dentais,
ção da dentina, cabendo ao esmalte contribuir desde sua erupção. A relativa permeabilidade
do esmalte dental, agravada pela ocorrência de
apenas com a dispersão dos fótons que consti-
poros, se configura como elemento facilitador
tuem o feixe luminoso.
do surgimento das manchas externas, favore-
Relevantes fatores extrínsecos e intrínse-
cendo, dessa forma, a agregação e deposição das
cos produzem variadas alterações de cor, que
mais diversas substâncias de baixo peso
podem ser detectadas em unidades dentais dos
molecular, como as que estão presentes no café,
mais diversos indivíduos. O manchamento in-
no chá preto, no tabaco, em vinhos tintos, no
terno, de acordo com os estudos de Paiva e
chimarrão, na beterraba e em bebidas à base de
Antoniazzi (1988) e Falleiros Jr. e Aun (1990),
cola. Essa condição acelera o processo de im-
pode ter origem nas etapas pré e pós-eruptivas
pregnação de pigmentos e corantes na estrutu-
dos dentes. Vários são os agentes causais das
ra dental. Ao concluir essa análise, Baratieri e
alterações intrínsecas: a excessiva ingestão de
colaboradores (2001), Watts e Addy (2001) e
medicamentos na fase de maturação do germe Pontefract (2004) destacam que a rugosidade
dental e, em conseqüência, na fase pré-eruptiva, da própria superfície, a porosidade interna, a
como a tetraciclina e o flúor; as doenças com presença de trincas e a ocorrência de fendas,
distúrbios sistêmicos, entre as quais, as sulcos e depressões, presentes na estrutura su-
exantemáticas, como o sarampo, a varicela e a perficial do esmalte dental, podem vir a contri-
escarlatina; os distúrbios caracterizados pela buir para essa forma de manchamento.

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CLAREAMENTO DENTAL x INTEGRI- saltar que Hanks, Fat e Corcoran (1993) consi-
DADE MORFOLÓGICA DO ESMATE deram que o clareamento só é possível em vir-
tude da permeabilidade da estrutura dental,
Considerados esses aspectos, registrados característica morfológica que, ao mesmo tem-
na literatura científica, cabe ressaltar que po, viabiliza a absorção dos pigmentos e corantes
Goldstein e colaboradores (1995) colocam em responsáveis pelo escurecimento e assegura a
evidência o clareamento dental como um mé- assimilação dos agentes químicos clareadores,
todo eficiente, apto a restabelecer a estética de substâncias que têm a capacidade de se difun-
dentes escurecidos e a harmonia do sorriso, tor- dir livremente através do esmalte e da dentina,
nando-se, assim, o tratamento estético mais alcançando a intimidade orgânica dessas estru-
popular atualmente na odontologia, uma vez turas e promovendo o clareamento.
que consegue promover “a remoção de manchas, Pode-se inferir, portanto, que o
com conseqüente alteração da cor, sem acarre- êxito do clareamento dental resulta do grau de
tar maiores prejuízos ao esmalte dental.” Cor- penetração do produto clareador na estrutura
roborando essas afirmações, Spalding (2000) dental a ser tratada, somado ao tempo de per-
reconhece que o clareamento é um procedimen- manência na área a ser descolorada, período esse
to técnico de caráter conservador, se compara- definido como o tempo necessário à remoção
do a outras modalidades de tratamento estéti- da mancha. O peróxido de carbamida a 10% é
co, entre as quais a colocação de facetas e coroas considerado por Zekonis e colaboradores (2003)
totais em resina ou cerâmica, procedimentos como o agente químico preferencial para a rea-
protéticos que impõem um considerável des- lização do clareamento caseiro, enquanto que o
gaste da estrutura dental. peróxido de hidrogênio a 35% é opção cuja in-
O clareamento dental é um procedimen- dicação recai no exclusivo uso profissional, de
to odontológico que vem sendo difundido cada acordo com Berger (1981), Haywood e
vez mais na sociedade moderna, principalmen- Heymann (1991), Baratieri e colaboradores
te devido à sua funcionalidade estética, o que (1995), Josey e colaboradores (1996), Friedman
favorece a preservação da auto-estima dos indi- (1997), Asfora e colaboradores (1998), Men-
víduos. Pozzobon, Bevilacqua e Vilela de Sales donça e Paulillo (1998), Oliver e Haywood
(1997) enfatizam que a mudança de cor das (1999) e Lima e Araújo (2006).
unidades dentais, em especial em decorrência As diversas técnicas e, em conseqüência,
do escurecimento, influencia negativamente o os mais diversos produtos destinados ao
comportamento das pessoas acometidas, inter- clareamento dental colocados à disposição da
ferindo, inclusive, no inter-relacionamento so- sociedade são caracterizados pelos procedimen-
cial. Essa desarmonia estética tem motivado, tos de natureza caseira ou aplicáveis em consul-
cada vez mais, a busca por soluções, sendo o tório por profissionais especializados. Entretan-
clareamento dental uma opção de reabilitação to, há de se ter em consideração a importância
coronária relativamente segura. Os efeitos clí- dos procedimentos clareadores que poderão ser
nicos e laboratoriais sobre os tecidos moles, so- ou não foto-ativados. Independentemente do
bre o conteúdo das substâncias minerais e so- tipo de agente clareador a ser utilizado, deve-se
bre a superfície do esmalte dental, em decor- ter em conta, segundo Baratieri e colaborado-
rência da aplicação dos dentifrícios clareadores res (1995), que todos os produtos clareadores
Rembrandt, foram avaliados por Kuz’mina, possuem o mesmo princípio bioquímico, ou
Krikheli e Smirnova (2006). Esses autores con- seja, a ruptura das moléculas pigmentadas que
cluíram que os efeitos desses dentifrícios con- impregnam as estruturas dentais, deixando-as
firmam a necessidade de aplicações diferencia- mais leves, com significativa redução de suas
das dos agentes destinados ao clareamento den- tonalidades de cor, clareando, conseqüentemen-
tal, uma vez que o uso desses agentes melhora, te, as faces das unidades que foram submetidas
sobremaneira, a cor dos dentes. ao procedimento odontológico em questão.
Em que pese a relevância das investiga- O clareamento dental é um procedimen-
ções científicas apresentadas até aqui, cabe res- to cosmético tido como complexo, uma vez que

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consiste numa reação de oxirredução fundamen- 30% a 35%, associado freqüentemente a um


tada na oxidação parcial do princípio ativo, atra- agente físico – fonte de luz – para catalisar a
vés da qual o produto clareador altera a estru- reação de clareamento. Cabe ressaltar que o uso
tura da molécula pigmentada. Logo, estabele- do peróxido de hidrogênio, nessas concentra-
ce-se uma estreita relação entre os parâmetros ções, ativado pelo LED LASER ou LASER/LED,
de tempo de exposição à substância clareadora está restrito ao uso profissional, conforme pre-
e quantidade de pigmentação a ser retirada. De conizam, consensualmente, White, Pelino e
acordo com Pécora e colaboradores (1994), a Rodrigues (2000), Lizarelli, Moriyama e
oxidação parcial provoca ruptura das cadeias Bagnato (2002), Zanin e Brugnera (2002) e
carbônicas cíclicas dos compostos pigmentados, Pinto et al. (2004). Esse agente clareador pe-
tornando-as acíclicas, insaturadas, com duplas netra com eficácia no esmalte e na dentina, em
ligações, resultando daí produtos com tonali- virtude do seu baixo peso molecular (34g/mol),
dades mais claras. Intensificada a oxidação, as de acordo com os relatos de Berger (1981),
ligações duplas são rompidas, e a elas são incor- Haywood e Heymann (1991), Baratieri e cola-
poradas hidroxilas, o que resulta em compostos boradores (1995), Josey e colaboradores (1996),
ainda mais claros, segundo esses autores. Friedman (1997), Asfora e colaboradores
Ao tratar do mecanismo de ação dos (1998), Mendonça e Paulillo (1998), Oliver e
agentes clareadores, Haywood e Heymann Haywood (1999) e Lima e Araújo (2006). Es-
(1991) e Novais e Toledo (2000) atribuíram a ses pesquisadores salientam, ainda, que o
severa propriedade oxidante inerente aos peróxido de hidrogênio a 35% tem a proprie-
peróxidos à real possibilidade de oxidação dos dade de desnaturar proteínas, favorecendo, dessa
materiais orgânicos responsáveis pela pigmen- forma, o movimento iônico na área em trata-
tação dos dentes, seguindo-se de sua conversão mento, o que facilita, sobremaneira, a ação
em dióxido de carbono e água, fenômeno que clareadora.
assegura a remoção dos pigmentos da estrutura A indicação de uso do peróxido de
dental por mecanismo de difusão. carbamida, em concentrações que variam de
Ao abordar o processo de oxidação, Goo 10% a 22%, destina-se ao clareamento caseiro
e colaboradores (2004), Dietschi, Rossier e ou de “moldeira”, assim como o peróxido de
Krejci (2006) afirmam que os agentes hidrogênio entre 1,5% e 7,5%, de acordo com
clareadores, ao serem decompostos, liberam as recomendações de Kihn e colaboradores
produtos que são considerados radicais livres, (2000) e Novais e Toledo (2000).
como é o caso do oxigênio, e daí decorre o seu Sob a forma de gel, o produto clareador
relevante potencial oxidativo. Trata-se, portan- freqüentemente utilizado, disponível no mer-
to, da liberação de uma molécula que, por pos- cado brasileiro e recomendado pelo FDA – Food
suir elétrons desemparelhados em sua camada and Drug Administration –, órgão governamen-
mais externa, tem forte tendência a interagir tal americano que faz o controle de vários pro-
com outros elétrons, a fim de estabilizar seus dutos, dentre os quais os agentes clareadores, o
orbitais incompletos. Esses pesquisadores acre- peróxido de carbamida a 10 % [FDA... (2007)],
ditam que, durante o processo de clareamento é o produto considerado padrão ouro para apli-
dos dentes, esses agentes oxidantes reagem com cação domiciliar. Veiculado em moldeiras pre-
os radicais dos cromóforos – elementos viamente confeccionadas, é recomendado como
determinantes do escurecimento – promoven- um agente seguro. Todavia Lizarelli (1994) re-
do a clivagem dessas substâncias, episódio que gistra possíveis efeitos adversos, tanto na estru-
culmina com a alteração dessas estruturas e o tura dental – perda de substância – como nos
conseqüente efeito clareador. tecidos moles circunvizinhos a essa estrutura –
Várias técnicas de clareamento são irritação e (ou) descamação. A ocorrência de
indicadas, na dependência da necessidade in- hipersensibilidade, surgida durante ou após o
dividual de cada paciente. Os procedimentos clareamento dental, tem sido relatada por di-
realizados em consultório usualmente utilizam versos autores, dentre os quais se destacam
peróxido de hidrogênio nas concentrações de Lizarelli (1994) e Spalding, (2000). Esses pes-

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quisadores relatam que a ocorrência de ver o prazer do sorriso àqueles indivíduos que
hipersensibilidade sugere que a capacidade de demandam dessa atenção odontológica, sem
infiltração desses agentes químicos clareadores, causar desgastes ao esmalte. Diante dessas
através dos tecidos dentais, possivelmente cau- constatações, optar por uma técnica menos
sa alguma alteração morfológica estrutural ou invasiva e que preserve ao máximo a estrutura
na composição molecular desses tecidos. dental representa uma significativa evolução dos
Entretanto, Cobankara (2004), dentre procedimentos estéticos na odontologia.
outros autores, assegura que o peróxido de Protocolo experimental desenvolvido por
carbamida é um agente seguro quanto ao risco Dietschi, Rossier e Krejci (2006) confirmou a
de desmineralização da estrutura dental. eficácia clareadora progressiva de agentes quí-
Baratieri e colaboradores (1995), Friedman micos aplicados em unidades dentais, com o
(1997), Mondelli (1998) e Bevilacqua e cola- objetivo de remover manchas. Para tanto, esses
boradores (1999) relatam que o mecanismo da pesquisadores mensuraram, antes e após os pro-
reação de clareamento é caracterizado pela de- cedimentos clareadores, as cores dos dentes em
composição desse peróxido no ambiente bucal estudo, com variações de até dez níveis de co-
nos seguintes produtos, em baixas concentra- res, a partir de referências fornecidas por uma
ções: uréia, amônia, ácido carbônico e peróxido escala pré-concebida. Esse resultado fundamen-
de hidrogênio. A baixa acidez desse sistema de- tou a conclusão dos autores de que todos os
corre da presença da amônia e do dióxido de métodos utilizados são recomendáveis, desde
carbono, sendo esse último resultante da insta- que sejam observadas corretamente as orienta-
bilidade molecular do ácido carbônico. Essa ções dos fabricantes, independentemente da
propriedade se deve ao baixo peso molecular da concentração de cada produto, foto-ativados ou
uréia (60g/mol), propriedade que favorece sua não, uma vez que os resultados clínicos obtidos
livre fluidez através do esmalte e da dentina, se revelaram bons, com redução significativa das
contribuindo para elevar o pH da placa eventu- cores, quando comparadas às cores iniciais dos
almente presente, devido à sua decomposição dentes avaliados.
em amônia, o que possibilita, dessa maneira, a A questão que os pesquisadores Dietschi,
instalação de condições anticariogênicas. Rossier e Krejci (2006) colocaram em evidên-
Não se pode perder de vista que toda es- cia foi a obtenção de resultados mais significa-
trutura dental apresenta um ponto de satura- tivos com o uso dos agentes clareadores de uso
ção para o clareamento. Sendo assim, é funda- doméstico, sob a forma de géis aplicados com o
mental que haja um rigoroso controle profissi- auxílio de moldeiras, quando comparados aos
onal desse ponto de saturação, pois, se for ul- resultados obtidos mediante a aplicação dos géis
trapassado esse limite, o procedimento passa a clareadores foto-ativados. Os autores atribuem
se tornar lesivo, podendo resultar na degrada- esse resultado ao maior tempo de exposição da
ção da matriz do esmalte, conforme adverte estrutura dental a esses agentes clareadores, o
Baratieri e colaboradores (2001). Essas altera- que possibilitou a maior eficácia de penetração
ções estão diretamente relacionadas ao tempo do produto clareador que alcançou, inclusive, a
de contato das substâncias clareadoras com a dentina, tecido subjacente ao esmalte dental.
superfície do dente e a concentração dessas subs- Reforçando esses achados, Zekonis e co-
tâncias uma vez aplicadas sobre o esmalte den- laboradores (2003) se referem ao clareamento
tal, de acordo com os achados de Hegedus e caseiro pelo peróxido de carbamida a 10% como
colaboradores (1999) e Cimilli e Pameijer o mais eficaz e mais aceitável, uma vez que re-
(2001). quer menos “tempo de cadeira”, se comparado
Resguardadas as recomendações menci- ao clareamento realizado em consultório pelo
onadas até aqui, pode-se afirmar, com base nos peróxido de hidrogênio a 35%. Esse entendi-
estudos de Hanks, Fat e Corcoran (1993), mento veio a ser confirmado por Goo e colabo-
Pécora e colaboradores (1994) e Spalding radores (2004), ao ressaltarem a
(2000), que a real possibilidade de clarear as inexpressividade dos danos causados à estrutu-
unidades dentais propicia o benefício de devol- ra dental por esses agentes clareadores. Ao ava-

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liarem os dentes que foram submetidos ao entendimento levou-os a inferir que esse tipo
clareamento pelo peróxido de carbamida a 10% de alteração histológica tende a desaparecer após
durante duas semanas, com aplicação de seis duas semanas, tomando-se como referência a
horas diárias, Goo e colaboradores (2004) con- data do término do tratamento clareador, dei-
cluíram que os resultados obtidos compensa- xando o tecido pulpar sem vestígio algum dessa
vam a perda mineral relacionada aos íons cálcio possível ação deletéria.
e fósforo. Segundo esses autores, a perda mine- É com base nessas constatações que
ral foi considerada mínima, quando comparada Pasquini (2006) complementa suas observações,
à perda atribuída ao grupo-controle, caracteri- alertando quanto ao risco do uso prolongado
zado pela adoção da estratégia experimental de dos clareadores, o que pode vir a ocasionar
não expor o esmalte à ação do agente clareador hipersensibilidade dentária, irritação dos teci-
avaliado. dos moles, inflamação da garganta e do estô-
É indispensável a realização de isolamen- mago, além de danos aos tecidos periodontais,
to criterioso dos dentes a serem submetidos à com cura retardada das feridas e alteração da
intervenção clareadora, seja através da instala- flora microbiana, com conseqüente instalação
ção do dique de borracha, ou através da coloca- de infecções oportunistas.
ção da barreira dentinária, uma vez que os agen- Uma alternativa destinada à obtenção de
tes químicos destinados a essa ação cosmética, resultados estéticos consideráveis e que tem cir-
entre os quais o peróxido de hidrogênio, têm culado na mídia com relevante freqüência é o
significativo poder cáustico, podendo conta- uso de dentifrícios que contêm agentes
minar os tecidos circunvizinhos às unidades em clareadores em sua formulação, o que tem evi-
tratamento e produzir lesões. Mondelli (1998), tado, de certa forma, a aplicação dos clareadores
Baratieri e colaboradores (2001) e Pasquini de uso profissional, que são restritos aos con-
(2006) relatam ainda que, por não se poder abrir sultórios.
mão do calor quando a opção é a foto-ativação Preliminarmente, cabe ressaltar que, ao
desses compostos, a difusão do aquecimento avaliar a ação de dentifrícios sobre a estrutura
produzido pela fonte luminosa pode fazer com dental, diversas pesquisas têm concluído que a
que o líquido nos túbulos dentinários se expan- perda mineral é maior quando se associa a
da, resultando num fluxo de processos escovação ao uso de bebidas ácidas. Worschech
odontoblásticos para fora da estrutura dental (2003) e Tachibana, Braga e Sobral (2006) con-
mais interna, acarretando uma redução da cir- sideram que essa perda não se deve à presença
culação da polpa dental e culminando com a de agentes abrasivos nos dentifrícios, mas sim
instalação de um processo inflamatório e a for- ao próprio processo de escovação. Daí coloca-
mação irregular de dentina reacional, fenôme- rem em destaque que os procedimentos de
nos que são agravados com a inibição da ativi- higienização bucal são considerados elementos
dade das enzimas pulpares, o que se comprova promotores de desgaste superficial dos dentes,
pela detecção de peróxido de hidrogênio na câ- favorecendo a ocorrência de eventos de erosão e
mara pulpar, mesmo em pequenas concentra- abrasão, os quais, se acontecerem em conjunto,
ções. promovem o surgimento de lesões cervicais de
Os achados de Pasquini (2006) estão em caráter não carioso. Essa afirmação está susten-
consonância com as conclusões de Fugaro e co- tada pelos autores na perda de peso e no perfil
laboradores (2004), resultantes da investigação das unidades dentais que constituíram os gru-
científica que associou a influência dos agentes pos de estudo, nos quais não se empregaram
clareadores na reação pulpar. Esses pesquisado- dentifrícios nas escovações. West, Hughes e
res, ao realizarem as análises histológicas dos Addy (2000) realçam ainda o fato de os ensaios
tecidos pulpares das unidades clareadas pelo realizados com a inclusão de suco ácido resulta-
peróxido de carbamida a 10%, detectaram rea- rem em marcante capacidade desmineralizante,
ções nesses tecidos, classificadas como leves, o uma vez que a queda do pH, provocada com a
que, segundo os próprios autores, não acarre- incorporação de substratos dessa natureza, mes-
tou danos significativos à saúde pulpar. Esse mo isoladamente, consegue induzir a perda

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mineral nas unidades dentais. Tal perda, conse- esse tipo de agente afeta, segundo vários auto-
qüentemente, se acentua, uma vez que a estru- res, notadamente a estrutura dental, observa-
tura dental se torna mais susceptível à remoção ção essa comprovadamente confirmada em ní-
de minerais, através da fricção mecânica produ- veis microscópicos.
zida pela escovação Dados da literatura científica registram
Considerados esses aspectos, há de se que os dentifrícios que contêm agentes
destacar que tem sido relatado com freqüência clareadores em sua formulação têm o poder de
por vários autores, entre os quais Worschech clarear, de forma independente, o esmalte den-
(2003), Wiegand, Otto e Attin (2004) e Pinto tal humano. Baseados nesse paradigma,
e colaboradores (2004), o fato de os agentes Wiegand, Otto e Attin (2004) quantificaram a
clareadores à base de peróxido afetarem subs- perda mineral da estrutura dental através do
tancialmente a microdureza, a rugosidade e a fluido salivar, utilizando, para tanto,
morfologia superficial do esmalte dental, tanto metodologias experimentais semelhantes. Os
no nível nano-estrutural como no nível micro- resultados obtidos levaram os autores a concluir
estrutural. Entretanto, esses mesmos autores que essa perda mineral tem importância
enfatizam que o principal fator de degradação irrelevante do ponto de vista clínico, daí reco-
da superfície dental não é apenas a concentra- mendarem, inclusive, a associação de produtos
ção da substância empregada, e sim o período clareadores. Consideram que, ao se associar ao
de exposição da superfície do esmalte. Em se clareamento convencional caseiro o uso de den-
tratando do peróxido de hidrogênio em altas tifrícios com produtos clareadores em sua com-
concentrações, como, por exemplo, a 35%, essa posição, haverá um reforço desse poder. Afir-
ação demonstra ser mais prejudicial ainda. Logo, mam, ainda, que a produção de uma cor mais
como seqüelas mais importantes, destacam-se clara e até mesmo mais estável resulta numa
as alterações superficiais, em virtude da perda resposta clínica mais satisfatória.
acentuada dos íons cálcio e fósforo. Pinto e co- Menezes, Firoozmand e Huhtala (2003)
laboradores (2004) relatam que essa perda re- avaliaram o desgaste superficial do esmalte den-
levante decorre do enorme potencial oxidante tal escovado com diferentes dentifrícios, associ-
do peróxido de hidrogênio, reforçando o pres- ados ao agente clareador de uso noturno –
suposto de que, devido a essa propriedade, esse peróxido de carbamida a 10% – aplicado du-
agente clareador deve ser aplicado apenas em rante dez dias. A perda superficial de esmalte
consultórios odontológicos, supervisionado por constatada foi correlacionada pelos autores ao
profissionais devidamente qualificados. uso do dentifrício com o agente clareador. To-
Worschech e colaboradores (2006) assi- davia a perda superficial média não foi conside-
nalam que a rugosidade superficial do esmalte rada clinicamente significativa, apesar de a
não sofre alterações morfológicas em decorrên- quantidade perdida ter variado de acordo com
cia da aplicação do peróxido de carbamida a o dentifrício aplicado. Os maiores índices de
35%, desde que não haja associação desse tra- perda mineral demonstrados foram atribuídos
tamento com abrasivos. A escovação com agen- ao uso do dentifrício com agente clareador, a
tes abrasivos, conforme explicitam esses auto- partir da comparação realizada com os demais
res, implica perda mineral, uma vez que esse dentifrícios utilizados, caracterizados por não
tipo de associação provoca um aumento signifi- possuírem agentes clareadores em suas formu-
cativo da rugosidade. lações. Cabe ressaltar que esses resultados se
Portanto, em se tratando de dentifrícios, contrapõem às recomendações de uso de asso-
de acordo com os achados e as recomendações ciações de produtos clareadores registradas por
registradas por esses pesquisadores, a atenção Wiegand, Otto e Attin (2004) e Kuz’mina,
que deve ser dispensada à periodicidade de Krikheli e Smirnova (2006).
escovação dental deve ser observada, já que se Por fim, segundo Loretto e colaborado-
trata de um fator de desgaste comprovado, prin- res (2004), Pinto e colaboradores (2004) e
cipalmente quando se associa à escovação um Tachibana, Braga e Sobral (2006), a utilização
dentifrício com algum agente clareador, já que de dentifrícios com produtos clareadores cons-

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titui uma alternativa muito controversa, posta provocadas pelo desgaste superficial do esmal-
em discussão na atualidade, tendo-se em conta te, em decorrência do condicionamento ácido.
as evidências registradas em recentes pesquisas As alterações mais frequentemente obser-
que questionam a real eficácia dos agentes vadas na morfologia da estrutura do esmalte
clareadores incorporados a esses veículos de uso dental, associadas aos procedimentos
doméstico, destinados à escovação. Essas pon- clareadores, são descritas, segundo Miranda e
derações são agravadas pela possibilidade de se colaboradores (2005), como áreas de depres-
associarem, simultaneamente, diferentes veícu- são, com formação de crateras, além da exposi-
los com produtos clareadores. ção dos prismas, naquelas superfícies que se
Os estudos realizados por Ten Cate mostram mais acentuadamente afetadas.
(2001) e Katchburian e Arana (2004) são A literatura científica relata, conforme
consensuais no que diz respeito à estrutura do Bitter e Sanders (1993), o surgimento de
esmalte dental e possíveis alterações em sua porosidades superficiais do esmalte submetido
morfologia. Esses pesquisadores partem do pres- aos agentes clareadores, não só no tocante ao
suposto que esse tecido corresponde a uma es- aumento do número, como na expansão da lar-
trutura altamente mineralizada, constituída por, gura das linhas ou estrias incrementais de
aproximadamente, 97% de material inorgânico, Retzius, estruturas que refletem, originalmen-
o que justifica sua elevada dureza, embora se te, a mudança de direção dos ameloblastos du-
trate de um tecido extremamente friável. Ape- rante o processo de formação dos prismas, de
nas uma pequena parcela, cerca de 3%, acordo com Ten Cate (2001) e Katchburian e
corresponde à presença de água e material or- Arana (2004). Análises descritas por Pinto e
gânico, representado, principalmente, por com- colaboradores (2004) e Miranda e colaborado-
ponentes protéicos – amelogeninas e não res (2005) registram, ainda, o surgimento de
amelogeninas, além de vestígios de carboidratos decapeamentos da estrutura clareada, caracte-
e lipídeos agregados à fração protéica. A parte rizando perda de substancia inorgânica –
inorgânica dessa estrutura é composta, basica- desmineralização, frente aos desafios enfrenta-
mente, pelos cristais de fosfato de cálcio sob a dos pelo esmalte com a queda de pH.
forma de hidroxiapatita, além de carbonato, Ao avaliarem através de microscopia ele-
sódio, magnésio, cloreto, potássio e flúor, den- trônica de varredura (MEV) a superfície do es-
tre outros traços iônicos. A maior parte da es- malte dental submetida em três diferentes tem-
pessura do esmalte maduro é constituída por pos de aplicação a um agente clareador à base
unidades estruturais em forma de barras, deno- de gel de peróxido de carbamida, Bitter e
minadas de prismas, ou seja, colunas similar- Sanders (1993) detectaram lesões significativas.
mente cilíndricas, dispostas, perpendicularmen- Esses autores classificaram as lesões como leves
te, à dentina e que vão da estreita camada – uma hora após a aplicação do agente clareador;
aprismática até a superfície externa desse teci- moderadas – quinze horas após a aplicação, e
do. Essencialmente, os cristais de hidroxiapatita, severas – quarenta horas após a aplicação do
que têm aspecto de barras hexagonais com com- produto testado. As lesões encontradas nas su-
primentos variáveis, apresentam 60 nm de es- perfícies tratadas foram qualificadas e distribu-
pessura, 30 a 90 nm de largura e acompanham ídas de acordo com cada tempo de aplicação do
o direcionamento do longo eixo dos prismas. agente clareador. Com 15 horas de uso, foram
Todavia a formação de ácidos, resultan- identificadas crateras e depressões na superfície
tes do metabolismo dos microrganismos da pla- dental, enquanto que, após quarenta horas de
ca bacteriana, ou uma queda brusca nos valores exposição, foram constatadas porosidades e
de pH do meio bucal, em decorrência dos mais fissuras que chegaram a atingir, até mesmo, o
diversos fatores, é o que, justamente, torna pos- entorno dos prismas, demonstrando a profun-
sível a dissolução desses prismas, podendo cul- didade alcançada. Esses achados confirmam a
minar com a instalação de processo carioso. afirmação de ada por estas lesões. É posto em
Katchburian e Arana (2004) chamam a aten- evidência ainda, que o fator mais prejudicial para
ção para a formação de reentrâncias e saliências a superfície dentária é o tempo de exposição do

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produto, e não a sua concentração, o que vem a pregados com finalidade estética em odontolo-
ser confirmado por HEGEDUS e colaborado- gia.
res (1999) e CIMILLI e PAMEIJER (2001), Resultados similares àqueles até então
de que as alterações na estrutura dental estão abordados foram descritos por Tames, Grando
diretamente relacionadas ao período e à con- e Tames (1998), com base na realização de um
centração das substâncias clareadoras aplicadas estudo analítico de eletromicrografias da super-
sobre o esmalte. (BITTER, SANDERS, 1992; fície de dentes tratados com diferentes agentes
Estudo com microscopia de luz polari- clareadores, obtidas em microscopia eletrônica
zada, realizado por Josey e colaboradores de varredura (MEV). Os resultados colhidos
(1996), revelaram a ocorrência de alterações revelaram claras alterações na morfologia den-
morfológicas nas superfícies de esmalte tratado tal, devido à redução da uniformidade ao longo
pelo agente clareador. Essas alterações foram da superfície, o que foi confirmado pelo aumen-
caracterizadas pela mudança na textura super- to no número de porosidades nas unidades que
ficial dessa estrutura, devido ao surgimento de foram submetidas à ação do agente clareador
muitas depressões e ao aumento de porosidade, peróxido de carbamida a 10%, aplicado duran-
o que deixou a área tratada com aspecto similar te 4 semanas, respaldando-os a confirmar, des-
ao do efeito causado pelo condicionado parcial sa forma, o caráter lesivo da natureza desse agen-
com ácido. Foi observada por esses pesquisado- te clareador.
res uma indefinição das estrias de Retzius, ele- As erosões, poros e fendas são lesões en-
mentos considerados por Ten Cate (2001) e contradas com relativa freqüência nas superfíci-
Katchburian e Arana (2004) como linhas es dentais. Diversos autores, dentre os quais
incrementais de crescimento que refletem jus- Thylstrup e Fejerskov (1998), relatam que es-
tamente o fenômeno de aposição do esmalte. sas lesões podem ter origem nas mesmas bebi-
Ao sugerir que o processo de clareamento resul- das tidas como responsáveis pelo processo de
tou na perda de minerais e, particularmente, escurecimento dos dentes, tais como os refrige-
ao expressar a detecção de indefinição das estri- rantes à base de cola, os sucos de frutas cítricas
as de Retzius, Josey e colaboradores (1996) di- e os vinhos, em virtude dos baixos valores de
vergem das observações de Bitter e Sanders pH que essas bebidas encerram em suas consti-
(1993), que afirmaram ter identificado como tuições. Esses líquidos impõem níveis de pH ao
alterações das estrias apenas o seu alargamento. meio bucal que podem vir a alcançar o valor
A fim de averiguar, com maior clareza. a crítico de 5.5, contribuindo, de certa forma,
real profundidade das lesões produzidas pelos para a instalação e o progresso da
agentes clareadores, Efeoglu, Wood e Efeoglu desmineralização dental. Essa desmineralização,
(2005) realizaram um estudo que utilizou como quando associada aos maus hábitos de higiene,
equipamento de pesquisa o tomógrafo desestabiliza a microflora bucal e contribui, de
computadorizado, o que lhes permitiu analisar forma acentuada, para o surgimento de erosões
as imagens radiológicas obtidas em cortes, tor- e cavidades, tornando propícias as condições
nando viável, dessa forma, a quantificação da para a instalação da cárie, conforme Watanabe
profundidade das lesões produzidas por tais (2005).
agentes. O produto utilizado nesse estudo foi o Ao analisar com o auxílio da microscopia
peróxido de carbamida a 10%, aplicado duran- eletrônica de varredura a superfície do esmalte
te oito horas ao dia, por 15 dias. A análise das dental submetido à ação de sucos de frutas cí-
imagens obtidas revelou que houve, realmente, tricas, Claudino e colaboradores (2006) detec-
uma desmineralização da superfície do esmal- taram alterações morfológicas. Paralelamente,
te, que se estendeu a uma profundidade média encontraram, nos sucos dessas frutas, valores de
de 50 micrômetros. Desse modo, os autores, pH baixos, com variação entre 1.64 a 3.84. É
além de comprovarem a eficácia da tomografia pelo fato de esses valores estarem muito aquém
computadorizada no estudo analítico de dos níveis aceitáveis para a manutenção da in-
desmineralizações em áreas pós-clareamento, tegridade morfológica dos dentes que Claudino
reafirmaram a ação deletéria desses agentes em- e colaboradores (2006) são concordantes com

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Baratieri e colaboradores (1995) e Thylstrup e dos índices de hidroxiapatita e apatita fluoretada


Fejerskov (1998), os quais, unanimemente, afir- no esmalte dental, como forma de compensar a
mam a ocorrência de relevantes perdas de mi- subsaturação mencionada, constituindo-se em
nerais, caracterizando o processo de mais uma justificativa para elucidar o poder
desmineralização, seguido do início de instala- erosivo da bebida em questão.
ção de lesões de cárie. As seqüelas produzidas no esmalte den-
Nesse artigo, Claudino e colaboradores tal submetido a uma solução com um refrige-
(2006) relatam que as superfícies dentais sub- rante à base de cola revelaram os menores valo-
metidas aos sucos de frutas cítricas apresenta- res de microdureza, em comparação àqueles atri-
ram aspectos morfológicos distintos ao serem buídos aos efeitos produzidos pela atividade do
comparadas àquelas dos espécimes correspon- produto claredor com peróxido de carbamida a
dentes ao grupo-controle, ou seja, grupo que 10%. Araújo, Torres e Araújo (2006) enfatizam,
não foi submetido ao meio ácido. A avaliação entretanto, que importantes aspectos estão re-
das áreas erosivas encontradas possibilitou que lacionados à ingestão desse tipo de refrigerante,
se constatasse a profundidade da perda mineral ao considerarem que o uso constante desses pro-
dos dentes frente às substâncias de tão baixo dutos pode vir a reduzir o fluxo salivar, impli-
pH. Ao inferir que o tempo de exposição do cando uma queda significativa dos valores de
esmalte às bebidas ácidas contribui, de forma microdureza, particularmente se estiverem as-
significativa, para a redução dos valores de sociados a hábitos de higiene oral deficientes.
microdureza e que a capacidade Ressaltam, contudo, que tanto as lesões produ-
desmineralizante dessas substâncias está inti- zidas pelo agente clareador quanto as lesões re-
mamente ligada a dissociação iônica, Claudino lacionadas ao poder deletério dos refrigerantes
e colaboradores (2006) confirmam, mais uma à base de cola foram consideradas em nível
vez, os registros de Baratieri e colaboradores micro-estrutural, não tendo, segundo esses au-
(1995) e de Thylstrup e Fejerskov (1998). tores, maiores significados clínicos, e que essas
Pesquisa semelhante, realizada por Hugo lesões tendem a “cicatrizar” ao serem
e colaboradores (2006), avaliou, através da remineralizadas a partir do controle do meio
microscopia eletrônica de varredura, o efeito bucal propício a essa recuperação, consideração
erosivo, sobre o esmalte dental bovino, do vi- que também se acha registrada nos relatos de
nho tinto, bebida de caráter ácido, com pH em Freitas e colaboradores (2002).
torno de 4.55, e com capacidade para promo- Visando a justificar as razões que acarre-
ver a dissolução dos tecidos dentais. A erosão, tam o caráter lesivo dos agentes clareadores,
classificada como um processo de perda mine- Ribeiro e colaboradores (2006) realizaram um
ral localizada, crônica e patológica para as es- ensaio que objetivou avaliar o pH de determi-
truturas dentais, foi constatada com absoluta nados produtos com ação clareadora, dentre os
clareza nas eletromicrografias dos espécimes quais o peróxido de carbamida nas concentra-
submetidos ao contato com essa bebida. As le- ções de 10 e 16%. Os géis de peróxido de
sões produzidas foram classificadas pelos auto- carbamida avaliados revelaram valores de pH
res como leves, em função do alargamento das que variaram de 6.079 a 6.212, quando na
ranhuras fisiológicas do esmalte, e severas, pela concentração de 10%, e de 5.774 a 6.040, na
constatação da exposição dos prismas, fenôme- concentração de 16%. Um dado importante,
no revelado pelo aspecto de “favo de mel” da posto em discussão pelos autores, foi o fato de
camada prismática. A evolução das lesões pro- todos os valores de pH mensurados nos
duzidas pelo maior tempo de contato das uni- clareadores utilizados na pesquisa se mostrarem
dades dentais com a bebida em teste foi revela- abaixo dos níveis declarados pelos fabricantes
da pelo surgimento do aspecto erosivo anteri- nas respectivas bulas, ou seja, demonstravam
ormente mencionado, seguido de progressão da ser produtos de natureza ácida, ao invés de neu-
dissolução da camada aprismática. Os pesqui- tra, como se desejaria. Esse achado é relevante,
sadores relatam ainda que a condição de solu- ao se levar em conta que a desmineralização dos
ção subsaturada do vinho favoreceu a redução tecidos dentais ocorre num pH que varia entre

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5.2 a 5.8, tendo-se em consideração que o nível bucal em momento algum. Constataram ainda
crítico é da ordem de 5.5, conforme os relatos que, após sessenta minutos de aplicação do gel,
de Thylstrup e Fejerskov (1998). A comprova- o valor do pH final esteve muito próximo do
ção dos níveis de pH atribuídos, particularmen- nível inicial, assim como verificaram que o pH
te, ao peróxido de carbamida na concentração da placa bacteriana revelada se mostrou altera-
de 16% levou os autores a concluírem que os do, sofrendo elevação, o que se configura num
agentes clareadores que apresentam condições quadro que favorece as condições de manuten-
de pH idênticas àquelas dos produtos analisa- ção da saúde bucal, conforme registram
dos podem desencadear desmineralização do Thylstrup e Fejerskov (1998).
esmalte dental, se aplicados. No tocante às alterações morfológicas
Portanto, a literatura científica compro- sofridas pela estrutura dental após a realização
va que substratos ou produtos químicos que de procedimentos de clareamento, não se pode
implicam o comprometimento da manutenção perder de vista a especial atenção que deve ser
do pH do meio bucal, em níveis próximos da dada às condições de resistência dos dentes, no
normalidade, ao entrarem em contato com as que diz respeito à instalação de possíveis seqüe-
superfícies mineralizadas dos dentes, las que podem atingir sua microdureza. Freitas
continuadamente, podem gerar acentuada per- e colaboradores (2002), Pinto e colaboradores
da mineral, conforme advertem Bhaskar (1989), (2004), Rodrigues e colaboradores (2005),
Mondelli (1998) e Baratieri e colaboradores Rodrigues e colaboradores (2005A) e Araújo,
(2001), em que pese a capacidade de Torres e Araújo (2006) relatam que a
tamponamento da saliva. microdureza das unidades dentais se mostra
Todavia, através desse mesmo estudo, realmente afetada, justamente devido à perda
Ribeiro e colaboradores (2006) confirmam as de substância que se impõe a essas unidades em
informações de Ferreira Zandoná, Analoui e decorrência da ação dos agentes clareadores,
Beiswanger (1998), ao enfatizarem que o agen- originando a formação de poros, crateras e fen-
te clareador, uma vez aplicado, traz como con- das.
seqüência a elevação dos níveis de pH durante Ao pesquisarem a influência dos agentes
o desenvolvimento da reação química de oxida- clareadores sobre a microdureza do esmalte den-
ção, em virtude da dissociação do peróxido de tal, Pinto e colaboradores (2004) e Araújo, Tor-
carbamida em amônia e dióxido de carbono. res e Araújo (2006) concluíram que esses agen-
Essa elevação do pH do meio bucal ocorre cin- tes exercem influências deletérias significativas
co minutos após o desencadeamento da reação sobre a superfície do esmalte dental, provocan-
clareadora, retornando aos valores iniciais ses- do redução dos valores de microdureza em rela-
senta minutos após a aplicação do produto. Esse ção aos valores obtidos no início do estudo.
fenômeno pode vir a ser reforçado pelo acrésci- Entretanto, relatam que os efeitos lesivos não
mo da concentração da uréia, decorrente do estão intimamente ligados à ação desses produ-
aumento de excreção do fluxo salivar parotídeo. tos, mas, principalmente, ao tempo de exposi-
A realização de protocolo experimental ção a que as unidades dentais são submetidas.
semelhante levou Geraldi, Funayama e Pereira Araújo, Torres e Araújo (2006) constataram tam-
(2006) a concluírem que o pH da saliva total bém que os espécimes dentais mais afetados fo-
pode ser alterado mais rapidamente, a partir ram aqueles submetidos ao agente clareador em
dos cinco minutos iniciais da reação do agente maior concentração. O grupo que demonstrou
clareador, em função da amônia produzida pela ter sofrido menor efeito deletério foi o tratado
decomposição da uréia liberada. Esses autores pelo peróxido de carbamida a 10% – produto
encontraram mudanças no pH da saliva nos considerado como padrão ouro pelo FDA –, uma
primeiros cinco minutos após o emprego do gel vez que foram constatadas as menores altera-
clareador de peróxido de carbamida a 10%, sen- ções superficiais no esmalte, já que os valores de
do que, apesar de o pH ter variado com o passar microdureza permaneceram praticamente sem
do tempo, os valores mensurados não alcança- alteração, ao serem confrontados aos valores ini-
ram o limite considerado crítico para o meio ciais.

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Esses achados são complementados pe- odo de vinte e um dias, Faraoni-Romano, Turssi
los estudos realizados por Pinto e colaborado- e Serra (2007) e Fu, Hoth-Haning e Hanning
res (2004) e Miranda e colaboradores (2005), (2007) foram levados a afirmar não haver cor-
ao demonstrarem que diferentes concentrações relação significativa entre as lesões encontradas
de peróxido de hidrogênio e peróxido de nas superfícies do esmalte tratado por esses agen-
carbamida que constituem os agentes tes e as diferentes concentrações empregadas.
clareadores causam efeitos variados sobre a es- Essas conclusões estão em harmonia com
trutura do esmalte. Daí ser recomendado o uso os resultados das observações feitas por
do peróxido de carbamida em baixas concen- Rodrigues e colaboradores (2005) e Rodrigues
trações, face ao menor prejuízo acarretado, in- e colaboradores (2005A), que relatam ter obti-
clusive, aos tecidos circunvizinhos, conforme do redução nos valores de microdureza de uni-
chamam atenção Oltu e Gurgan (2000) e Kihn dades dentais submetidas a tratamento
e colaboradores (2000). clareador, cuja variação se situou entre 3,5 e
As discussões sobre a ação deletéria dos 6,8%, frente aos valores iniciais. Realizada a
agentes clareadores em função de suas diferen- análise dos dados, os autores concluíram não
tes concentrações têm gerado controvérsias, ao ter havido alterações significativas na estrutura
serem confrontados os achados dos mais diver- dental, o que os levou a classificá-las como in-
sos autores. Ao estudarem o efeito de um pro- significantes, do ponto de vista clínico. Afir-
duto clareador com peróxido de carbamida a mam ainda que a associação de métodos de
10% sobre a microdureza, a microestrutura e o clareamento – procedimento profissional em
conteúdo mineral do esmalte dental, Potocnik, simultaneidade ao caseiro – não provoca maio-
Kosec e Gaspersic (2000) concluíram, a partir res perdas de minerais na estrutura dental, não
dos resultados obtidos, que o agente clareador resultando, conseqüentemente, em alterações
avaliado não afetou significativamente a morfológicas relevantes. Esse tipo de procedi-
microdureza dessa estrutura. A análise das mento tem a vantagem de favorecer a obtenção
eletromicrografias obtidas através de microscopia de colorações finais, em escala numérica de cor,
eletrônica de varredura (MEV) revelou altera- mais baixas e mais estáveis, conforme descre-
ções locais na microestrutura do esmalte, cujo vem Wiegand, Otto e Attin (2004), Rodrigues
aspecto assemelhava-se às lesões iniciais de cá- e colaboradores (2005), Rodrigues e colabora-
rie, diferindo, portanto, das lesões que têm ori- dores (2005A) e Kuz’mina, Krikheli e Smirnova
gem em processos de clareamento dental. (2006).
Loretto e colaboradores (2004) conside- Confirmada a ocorrência de lesões no es-
ram que o gel de peróxido de carbamida, nas malte dental, o foco das atenções tende a ser
concentrações de 7,5 a 10%, pode ser aplicado sua relevância clínica, a partir de mensurações
pelos próprios pacientes em seus domicílios pelo da profundidade e da extensão das áreas real-
período de duas a cinco semanas. Esse entendi- mente afetadas. Embora reconheçam a ocorrên-
mento está em consonância com o FDA, que cia de seqüelas na morfologia do esmalte em
recomenda o uso domiciliar desse agente decorrência da aplicação de produtos
clareador, com vistas à obtenção de resultados clareadores, Freitas e colaboradores (2002)
estéticos tidos como satisfatórios. Muito embo- enfatizam que as lesões produzidas não têm
ra esses autores relatem o surgimento de altera- significância clínica, uma vez que podem vir a
ções morfológicas na superfície do esmalte den- ser remineralizadas dentro do período de sete a
tal após esse procedimento cosmético, ressal- quatorze dias, desde que sejam expostas às con-
vam que as alterações não têm repercussão clí- dições de controle adequado, assegurado pelo
nica. Daí considerarem-no eficiente e seguro. fluido salivar. Essa alternativa, baseada na pos-
Compartilhando essas afirmações e ten- sibilidade de remineralização de lesões de es-
do em conta os resultados obtidos de experi- malte mediante a conseqüente deposição de
mentações realizadas com o gel de peróxido de minerais, encontra respaldo na disseminação do
carbamida nas concentrações de 10, 15 e 22%, conhecimento produzido por Thylstrup e
aplicado durante duas horas diárias, pelo perí- Fejerskov (1998) e nas recentes constatações de

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Araújo, Torres e Araújo (2006), que registram a derados radicais específicos, podendo reagir com
influência dos agentes clareadores na as estruturas orgânicas dos tecidos dentais ex-
microdureza do esmalte dental humano e na postos, comparativamente às estruturas
ação benéfica da saliva na superfície tratada. mineralizadas, aumentando de forma substan-
No entanto, Baratieri e colaboradores cial a perda mineral que constitui essas estrutu-
(2001) e Basting (2005) chamam a atenção para ras.
a importância de se levarem em consideração os Basting (2005) tem em consideração
subprodutos formados em decorrência da apli- ainda que as alterações causadas na superfície
cação dos agentes clareadores, uma vez que pos- dental podem vir a modificar, inclusive, a for-
síveis lesões podem vir a ocorrer em virtude da mação do biofilme, minimizando-a, uma vez
ação desses produtos cosméticos. Segundo es- que os agentes clareadores parecem influir na
ses pesquisadores, deve-se levar em conta o ca- aderência dos microrganismos, tal como pode
ráter invasivo que pode advir das lesões decor- acontecer, por exemplo, com os S. muttans e A.
rentes da ação química desses agentes sobre as viscosus presentes no meio bucal, espécies reco-
estruturas dentais. Essas seqüelas são nhecidamente relacionadas às atividades
identificadas pela presença de erosões e cariogênicas. Além dessa peculiaridade, Basting
porosidades formadas no esmalte, que chegam (2005) levanta a possibilidade de as substânci-
a afetar, inclusive, a superfície da dentina. Cons- as clareadoras agirem efetivamente como agen-
tataram, ainda, um aumento no diâmetro dos tes cariostáticos, face ao efeito bacteriostático
túbulos dentinários durante a aplicação dos que parecem ter sobre os S. muttans, S. sanguis
agentes clareadores. Ao concluírem, atribuem a e Lactobacillus.
origem dessas conseqüências na morfologia dos O efeito cariostático atribuído aos pro-
dentes à formação dos subprodutos da reação dutos clareadores é posto em evidência, tam-
clareadora, dentre os quais a uréia e o oxigênio. bém, por Rodrigues e colaboradores (2005) e
De acordo com os relatos de Ferreira Rodrigues e colaboradores (2005A), ao avalia-
Zandoná, Analoui e Beiswanger (1998) e rem, in vitro, a ação cariostática de cremes den-
Basting (2005), a uréia é um composto tais que contêm esses agentes, em confronto a
nitrogenado que tem a propriedade de outros dentifrícios que possuem, em sua com-
desnaturar proteínas. Partindo dessa premissa e posição, o fluoreto de sódio e agentes abrasivos,
ao aplicá-la no caso particular das proteínas que entre os quais o bicarbonato de sódio. Contudo
estão presentes na porção orgânica dos dentes, esse estudo não revelou valores estatisticamente
os estudos realizados por esses autores registram significantes, que pudessem diferenciar a perda
a possibilidade de a uréia penetrar na superfície mineral sofrida pelos grupos em estudo, com e
do esmalte e afetar suas áreas intraprismáticas e sem a presença do agente clareador, já que essa
interprismáticas, contribuindo, ativamente, não perda mineral, no grupo experimental, equipa-
só para o aumento da permeabilidade, como rou-se à perda constatada no grupo submetido
também alterando a superfície em nível micro- à ação do fluoreto e do bicarbonato de sódio.
estrutural. Ao deixarem subentendido que o agente
Hegedus e colaboradores (1999) afirmam clareador testado apresentou ação
que o oxigênio liberado da reação produzida pelo bacteriostática, esses pesquisadores justificam
peróxido de carbamida, ao entrar em contato que ele foi capaz de exercer ação protetora do
com a dentina, tem a propriedade de aumentar esmalte dental, frente ao desafio cariogênico
a porosidade da superfície dessa estrutura, já imposto pelos ácidos produzidos pelos micror-
que se trata de um tecido mais poroso, o que ganismos considerados patogênicos pela litera-
permite uma melhor penetração, propagação e, tura clássica, segundo discorre Thylstrup e
conseqüentemente, maior poder de ação do Fejerskov (1998).
agente clareador. Além desse aspecto, ressalvam Visando a analisar a influência que a luz
a importância que deve ser dada aos radicais polimerizadora pode vir a exercer na adesão das
livres do oxigênio, resultantes da decomposição resinas foto-ativadas aplicadas sobre o esmalte
do peróxido de carbamida, que não são consi- dental, Loretto e colaboradores (2004) relatam

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não ter encontrado alterações morfológicas sig- testes de fractografia, os pesquisadores consta-
nificativas em níveis estatísticos. Todavia regis- taram falhas adesivas em todos os espécimes.
tram que o subproduto oxigênio, resultante da Além disso, as comparações qualitativas entre
decomposição do agente clareador peróxido de os TAGs de resina, detectados nos espécimes
carbamida na concentração de 10%, em quan- através da microscopia eletrônica de varredura
tidades residuais, pode comprometer a (MEV), revelaram finos fragmentos de TAGs
adesividade desses compósitos, tanto na fase de resinosos. Essas constatações os induziram a as-
incremento do material na cavidade oral como sociarem essas formações, justamente, aos
na fase de polimerização. No entanto os pró- subprodutos derivados das substâncias
prios autores registram que a solução desse even- clareadoras, o oxigênio e a uréia.
tual problema tem sido a utilização de sistemas A interferência dos clareadores no pro-
adesivos que contenham acetona ou álcool, uma cesso de adesão também foi estudada por
vez que a alta volatilidade e a natureza Cacciafesta e colaboradores (2006), que avalia-
hidrofóbica e solvente dessas substâncias facili- ram o grau de fixação de brackets ortodônticos
tam a retirada do oxigênio residual dos túbulos em superfícies previamente clareadas, colados
dentinários, devido à rápida evaporação para o com uma resina modificada com ionômero de
meio ambiente, contribuindo, dessa forma, para vidro, material que favorece, inclusive, o pro-
aumentar o poder adesivo na interface entre re- cesso de remineralização, uma vez que possui,
sina e dente. em sua composição, o íon fluoreto, recurso
Diversos autores, entre os quais farmacológico indicado, já que esse elemento
Montalvan e colaboradores (2006) e Nour El- contribui para a manutenção da regularidade
Din e colaboradores (2006) concordam com as das superfícies clareadas, de acordo com Araújo
afirmações feitas por Loretto e colaboradores (2002). Após submeter os espécimes em análi-
(2004), no tocante à interferência da se ao tratamento clareador, Cacciafesta e cola-
adesividade da resina fotopolimerizável na su- boradores (2006) procederam à colagem dos
perfície dental submetida a procedimento brackets e à realização dos testes de tração, a
clareador. Essas observações resultaram de ava- fim de verificar se a adesão esperada foi real-
liações realizadas imediatamente e vinte e qua- mente afetada. Os resultados obtidos a partir
tro horas após os procedimentos de clareamento. dessa experimentação confirmaram, mais uma
Nour El-Din (2006) e colaboradores vez, o caráter prejudicial desse procedimento
admitem que a concentração da substância estético, já que as unidades dentais que não fo-
clareadora não interfere substancialmente no ram submetidas ao tratamento clareador apre-
poder de adesão entre o produto restaurador e sentaram maior força de união na interface com
o esmalte dental, e sim o tempo de exposição, os brackets ortodônticos instalados. Esses auto-
uma vez que o tempo de aplicação dos res afirmam ainda que o clareamento, realizado
clareadores testados foi o mesmo para todos os uma semana antes da colagem dos artefatos
espécimes avaliados, e as lesões produzidas fo- ortodônticos, prejudicou substantivamente a
ram de caráter semelhante. O aumento do tem- força de união entre essas duas estruturas, uma
po de exposição da superfície dental ao agente vez que a resina modificada com ionômero de
clareador favorece a formação de TAGS de resi- vidro não conseguiu conter efetivamente os ar-
na – estruturas resultantes de uma tefatos e compensar o processo de
polimerização deficiente –, o que pode vir a desmineralização ocorrido durante a ação dos
comprometer o contato do material restaura- agentes clareadores, conclusões que
dor com a superfície dental, prejudicando, con- complementam as inferências de Nour El-Din
seqüentemente, a adesão pretendida. As unida- e colaboradores (2006).
des das forças de ligação medidas após a ação do Após a retirada mecânica de brackets fixa-
peróxido de hidrogênio a 35% e do peróxido dos em superfícies dentais, Sundfeld e colabo-
de carbamida a 10% foram significativamente radores (2007) realizaram procedimentos de
mais baixas, quando comparadas às unidades micro-abrasão, com o intuito de remover os res-
que constituíram o grupo-controle. Através de tos da resina utilizada na colagem desses artefa-

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tos ortodônticos que ainda permaneciam aderi- cálcio, com o intuito de impedir o processo de
dos aos dentes. Ao constatar que as superfícies desmineralização do esmalte dental.
dentais não apresentavam aparência estética Ao desenvolverem a pesquisa intitulada
satisfatória, em virtude da tonalidade amarela- “Efeitos do agente clareador peróxido de
da adquirida, esses autores fizeram a opção pela carbamida em gel contendo em sua formulação
aplicação de procedimento clareador. Cabe sa- cálcio e flúor, na microdureza do esmalte den-
lientar que os objetivos dessa metodologia, al- tal”, Oliveira, Paes Leme e Giannini (2005)
cançados segundo os próprios autores, tiveram avaliaram a eficácia desse agente clareador na
finalidade estritamente estética, já que as uni- concentração de 10%, aplicado durante seis
dades dentais demonstraram um decréscimo horas ao dia, num período de quatorze dias, em
considerável de cor após a realização dessas in- associação com os íons cálcio e flúor, adiciona-
tervenções, conforme foi constatado pelas dos com a finalidade de compensar possíveis
mensurações realizadas com o auxílio de escala desmineralizações que pudessem vir a ocorrer
referencial de cores. É importante enfatizar que, no esmalte dental. Os resultados obtidos leva-
apesar da opção pela associação dos dois proce- ram esses autores a afirmarem que a adição des-
dimentos – especialmente a micro-abrasão, de ses íons ao produto clareador, com finalidade
caráter invasivo em relação à unidade dental –, remineralizante, não deteve, substancialmente,
não foi constatada a presença de lesões nas su- a perda de minerais. Essa comprovação os levou
perfícies estudadas, após o processo clareador. a concluir, ainda, que os valores de micro-dure-
Esse resultado permitiu aos autores afirmarem za obtiveram uma queda palpável, quando com-
que as lesões detectadas, em nível microscópi- parados aos espécimes que constituíram o gru-
co, não tiveram grande significância clínica, até po-controle.
mesmo em unidades que sofreram o processo A eficácia da aplicação tópica de flúor,
de micro-abrasão prévia à exposição ao agente imediatamente após os pacientes terem se sub-
clareador. Daí reafirmarem a segurança quanto metido ao procedimento clareador, foi avaliada
ao uso dessas substâncias. Cabe ressalvar que por Masotti e colaboradores (2004). As con-
vários pesquisadores, entre os quais Baratieri e centrações escolhidas para a aplicação desse agen-
colaboradores (2001) e Tachibana, Braga e te remineralizante foram de 0,05 e 5%, respec-
Sobral (2006), afirmam que o desgaste da su- tivamente, visando a confirmar se a concentra-
perfície dental produzido pela microabrasão leva ção desse íon poderia causar maior ganho mi-
a uma perda considerável de substância mine- neral, o que favoreceria, dessa forma, a recupe-
ral. ração mineral da estrutura dos dentes tratados
A demanda crescente, em resposta à lar- pelo produto clareador. Constatou-se não ter
ga difusão dos procedimentos clareadores, alia- havido correlação direta entre a redução da sen-
da à necessidade de uma melhor compreensão sibilidade dental e a aplicação do agente
do mecanismo de ação das substâncias quími- remineralizador em sua forma tópica, uma vez
cas empregadas para a obtenção desse benefício que tanto os pacientes que se submeteram a essa
estético têm levado os pesquisadores a identifi- modalidade de fluorterapia quanto aqueles aos
carem os possíveis danos que são causados à es- quais foi aplicado um agente placebo acusaram
trutura morfológica das unidades dentais, mo- sensibilidade semelhante, através da mensuração
tivando-os a buscarem alternativas terapêuticas dos índices de dor, não se confirmando, por-
que minimizem a perda mineral causada pelos tanto, a eficácia do íon fluoreto na redução da
produtos empregados com essa finalidade. De sensibilidade provocada pelo produto clareador.
acordo com Baratieri e colaboradores (1995), Ao partir do pressuposto de que o ele-
Mondelli (1998), Thylstrup e Fejerskov (1998) mento lesivo mais significativo não é a concen-
e Araújo (2002), uma possibilidade preventiva tração do agente clareador, e sim o tempo em
disponível consiste em se adicionarem agentes que a unidade dental permanece exposta a esse
remineralizantes aos próprios agentes agente, conforme registram Pinto e colabora-
clareadores, como é o caso dos íons fluoreto e dores (2004) e Tachibana, Braga e Sobral

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(2006), um estudo desenvolvido por Lewistein tratamento. Esses resultados favoráveis permi-
e colaboradores (2004) comprovou uma rele- tiram aos autores relacioná-los a uma menor
vante perda de minerais em unidades clareadas perda de mineral, por conta do meio protegido
pelos agentes de uso caseiro em diferentes con- pelos íons fluoreto e potássio, daí vincularem o
centrações. O produto testado na concentração êxito da eficácia dos agentes clareadores à adi-
de 10% gerou uma perda iônica superior àque- ção de agentes remineralizantes.
la produzida pelo agente clareador em maior O poder remineralizante da saliva, fren-
concentração, ou seja, 15%. Uma te à ocorrência de irregularidades não muito
desmineralização da ordem de18% em esmalte extensas no esmalte, como é o caso daquelas
e de 13% em dentina foi indicada pelos auto- eventuais lesões produzidas com o uso do
res como decorrente do uso do clareador em peróxido de carbamida a 10%, é demonstrado
menor concentração, e de 14% em esmalte e pelo fato de essas lesões virem a “cicatrizar” to-
9% em dentina, em resposta ao efeito produzi- tal ou parcialmente. Para tanto, Thylstrup,
do pela substância em menor concentração. Fejerskov (1998), Freitas e colaboradores (2002)
Contrapondo-se a Masotti e colaboradores e Loretto e colaboradores (2004) sinalizam a
(2004) e Oliveira, Paes Leme e Giannini (2005), possibilidade de se abrir mão de polimentos
os achados de Lewistein e colaboradores (2004) dentais, uma vez que procedimentos dessa na-
levaram à conclusão de que a aplicação tópica tureza podem vir a acarretar a remoção da smear
de fluoreto, após o procedimento clareador, res- layer formada nessas superfícies, diminuindo,
tabelece, em grande quantidade, o teor mineral conseqüentemente, a espessura da camada den-
perdido. Enfatizam ainda que a fluorterapia tal superficial, o que implica a redução da ade-
tópica produz uma obliteração parcial nos são na interface dente e resina, além de resultar
túbulos dentinários, dificultando o trânsito de no aumento da sensibilidade dental.
fluidos, o que resulta, conseqüentemente, numa Essa afirmativa vem a ser confirmada por
diminuição da sensibilidade dental, detectada, diversos autores que reforçam o uso constante
com freqüência, após os procedimentos de de flúor, o íntimo contato entre a superfície
clareamento, comprovando o poder dental e a saliva e a adoção de medidas que ve-
remineralizante do íon fluoreto, cujas proprie- nham a adequar os hábitos que favorecem a boa
dades terapêuticas estão fundamentadas na higiene bucal como condições que contribuem,
odontologia por importantes pesquisadores, a sobremaneira, para a melhoria das característi-
exemplo de Thylstrup e Fejerskov (1998). cas micromorfológicas e superficiais das estru-
Testes realizados por Browning e colabo- turas dentais. De acordo com Thylstrup e
radores (2004), cujo objetivo era avaliar a eficá- Fejerskov (1998), Freitas e colaboradores (2002)
cia de agentes clareadores de aplicação notur- e Basting (2005), a manutenção da higidez das
na, que continham fluoreto de sódio e nitrato superfícies dos dentes e seu restabelecimento
de potássio em suas formulações, demonstra- são possíveis, a partir da deposição de cristais
ram que 67% dos pacientes submetidos às subs- de fluoreto de cálcio na superfície dental, além
tâncias clareadoras sem a adição desses compo- da manutenção do equilíbrio entre os fenôme-
nentes remineralizantes revelaram marcante sen- nos de desmineralização e remineralização, es-
sibilidade dental, confirmando o caráter lesivo sencial à integridade dos dentes.
desse procedimento cosmético. Por outro lado,
os autores observaram que, no grupo tratado
pelos agentes clareadores que continham esses CONCLUSÃO
íons em suas formulações, houve uma acentua-
da redução no número de indivíduos que acu- Face aos relatos aqui destacados, pode-se
sou sensibilidade, uma vez que apenas 36% concluir que a literatura científica que aborda o
apresentaram essa intercorrência durante o pro- surgimento de lesões que atingem a morfologia
cesso de clareamento, e somente 13,7% quei- do esmalte dental em conseqüência da ação dos
xaram-se desse desconforto após o término do agentes clareadores tem se limitado a descrevê-

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las de forma significativamente heterogênea, cedimentos de micro-análise de alta precisão


sendo que diversos autores consideram que es- tecnológica dentre os quais a espectrometria de
tas seqüelas não têm ressonância clínica. Por não energia dispersiva de raios X com vistas ao estu-
ser consensual, este pressuposto é questionável, do da profundidade das lesões e sua constitui-
daí a importância em se investigar a superfície ção, o que poderá contribuir para elucidar mais
do esmalte comprovadamente lesado pelo claramente o grau de severidade das seqüelas
peróxido de carbamida e pelo peróxido de hi- produzidas.
drogênio, fotoativado ou não, com base em pro-

Action of bleaching agents containing hydrogen peroxide and carbamide


peroxide on human dental enamel
Abstract
The increasing demand of modern society for aesthetic dental procedures has found reply in dentistry
that has been providing options for dental bleaching, using gels that may be auto-applicable or exclusively
manipulated by professionals, either photo-activated by led or laser/led or not, or even incorporated to
dentifrices formulas. Apparently less aggressive to mineralized structures, the available bleaching agents
contain: hydrogen peroxide, carbamide peroxide and sodium perborate, the last one indicated for endogenous
bleaching procedures in pulped teeth. In the concentration of 10%, auto-applicable, the carbamide peroxide
is considered the gold standard substance by FDA. The sprouting of injuries in the morphology of the
enamel, especially the hipersensitivity, has justified, also, the fluoride-therapy and the application of infra-
red laser, amongst other procedures. It is not consensual among researchers if the severity of the injuries on
the surface of dental enamel, detected by electronic microscopic scanning and caused by the action of these
products, has clinical relevance. This paper aims to discuss the effect on human dental enamel resultant of
the application of the hydrogen peroxide and carbamide peroxide, bleaching materials that constitute
dentifrices and gels.

Keywords: Hydrogen peroxide. Carbamide peroxide. Dentifrice. Dental enamel.

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Recebido em / Received: 05/01/2007


Aceito em / Accepted: 27/04/2007

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