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SUMÁRIO

BIOSSEGURANÇA NA NECROPSIA ............................................................... 3


TÉCNICAS DE NECROPSIA DA CAVIDADE ORAL PARA IDENTIFICAÇÃO
HUMANA ........................................................................................................... 4
PLASTINAÇÃO ............................................................................................... 11
A FIXAÇÃO...................................................................................................... 14
DISSECAÇÃO ................................................................................................. 15
DESIDRATAÇÃO ............................................................................................ 15
IMPREGNAÇÃO .............................................................................................. 17
CURA OU POLIMERIZAÇÃO .......................................................................... 18
ESTADOS DE DECOMPOSIÇÃO DO CORPO HUMANO .............................. 19
PUTREGAÇÃO ................................................................................................ 23
COLOZINAÇÃO ............................................................................................... 25
ENTERRO ........................................................................................................ 30
ANTROPOLOGIA FORENSE .......................................................................... 32
ETAPAS PARA A LIBERAÇÃO DE UM CORPO ........................................... 39
LAUDOS REALIZADOS NO IML .................................................................... 44
PAPILOSCOPIA .............................................................................................. 45
VIRTÓPSIA ...................................................................................................... 49
NECROMAQUIAGEM ...................................................................................... 52
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 57

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BIOSSEGURANÇA NA NECROPSIA

Os cadáveres podem atuar como vetores de uma pluralidade de


doenças infecciosas que serão transmitidas no manejo e análise do material
orgânico em decomposição, logo, discutir sobre biossegurança em necrotérios
e no serviço de autópsia é dialogar sobre a saúde e a segurança dos diversos
trabalhadores deste local insalubre, além de lhes proporcionar melhores
condições ocupacionais. Este assunto também se faz necessário ao passo que
os necrotérios são pouco explorados pela comunidade acadêmico-científica.

A manipulação de cadáveres nos institutos médicos legais brasileiros


requer medidas urgentes de biossegurança, uma vez que a natureza da
atividade oferece risco de contaminação aos profissionais de saúde e técnicos
de necropsia. O alerta foi feito pelo odonto-legista Marcus Vinícius Ribeiro de
Carvalho, depois de avaliar 50 cadáveres, para detectar a presença do vírus
HIV, na cidade fluminense de Volta Redonda. Em 2,4% das amostras, ele
constatou a presença do agente etiológico, mesmo passadas 24 horas da
morte do indivíduo.

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Uso de EPIs é fundamental, pois o risco fica também para Tuberculose,
meningites e Hepatites. Dica de como trabalhar com higiene na sala de
necropsia: - Manter a limpeza da mesa com água corrente para evitar sangue
parado.

A higienização constante é fundamental e depois das necropsias a


equipe de limpeza deve fazer a lavagem da sala e os instrumentos devem ser
lavados e colocados de molho em soluções especificas.

TÉCNICAS DE NECROPSIA DA CAVIDADE ORAL PARA


IDENTIFICAÇÃO HUMANA

Em procedimentos de identificação, quando a Papiloscopia não pode ser


aplicada (como em desastres em massa, carbonização, putrefações e outros) a
Odontologia Legal assume o protagonismo no processo de identificação
humana. Juntamente com os ossos, os dentes possuem unicidade e alta
resistência após transformações tanatológicas, tornando possível o confronto
de suas características com dados
odontológicos registrados em vida. O acesso à
cavidade bucal e suas estruturas deve ser
amplo e com boa visibilidade, o que pode
demandar a remoção e ressecção especializada
de mandíbula ou dissecção facial.

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A necropsia bucal permite o acesso detalhado dos arcos dentais para
uma melhor descrição da estrutura estomatognática. A análise de
características dentárias (como dentes cuneiformes, geminação, atrição),
materiais odontológicos de restaurações, próteses e manifestações patológicas
podem indicar uma possível vítima, com o auxílio de registros odontológicos
para o confronto ante e post mortem. As técnicas preconizam incisões em
regiões de face e pescoço, com a remoção ou não dos maxilares, selecionadas
para serem utilizadas de acordo com a necessidade de preservação das
estruturas faciais ou o estado de degradação dos corpos – decomposição,
rigidez cadavérica, carbonização.

TÉCNICA DE LUNTZ

Para carbonizados, cadáveres putrefeitos, desastres em massa:


 Incisão em formato de “V”. São feitas duas incisões a partir das
comissuras labiais: a superior, indo até o arco zigomático, expondo o
côndilo mandibular (cavidade glenoide do osso temporal), e a inferior,
atingindo o ângulo da mandíbula.
 Remove-se os músculos da mastigação (principalmente o masseter) e
os ligamentos inseridos, expondo a região.
 Depois é feita uma incisão na borda inferior do osso mandibular, no
assoalho bucal, dissecando a musculatura aderida. Por fim, remove-se a
mandíbula da articulação temporomandibular.
 A maxila é retirada com um corte horizontal com uma serra, iniciando
pela espinha nasal até o processo pterigoide.
Essa técnica é aconselhada para melhor manuseio, observação e
possibilidade de se fazer uma radiografia, caso necessário.

TÉCNICA SUBMANDIBULAR (OU DA MÁSCARA):

 A incisão é feita em formato de ferradura, na base até o ângulo da


mandíbula, rebatendo os tecidos superiormente acima da região nasal,

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expondo os ossos maxilares e mandibulares.
 A mandíbula é removida com um corte bilateral dos ramos, na altura dos
terceiros molares. A maxila não é retirada.
 A técnica submandibular causa menor prejuízo as estruturas faciais,
mantendo a estética do cadáver.
 Após as técnicas de incisão, é feita a limpeza das peças para serem
usadas nos procedimentos de comparação.
 Usa-se sabão, água e escova no processo inicial, para a remoção do
tecido biológico aderido. Depois ferve-se com água e detergente, ou
com cristais de soda cáustica (NaOH) para degradação de
remanescentes. Por último, os ossos são mergulhados em peróxido de
hidrogênio (H2O2) por 24 horas para o branqueamento.

TÉCNICA DE IDENTIFICAÇÃO

Este processo inclui minucioso exame da arcada durante a necrópsia, e


confronto com dados de prontuários, moldes em gesso, fotografias e
radiografias, para uma correta identificação.
Trata-se de um método comparativo dos registros odontológicos ante
mortem com a perícia post mortem de enucleação dos arcos dentais.
O confronto é feito relacionando-se os números de dentes presentes e
ausentes, restaurações, posicionamentos dos elementos, existência de
anomalias e deformidades e, sendo possível, a análise das rugosidades
palatinas (quando edentados).
Dessa forma, é importante que o cirurgião-dentista elabore um
prontuário odontológico detalhado e atualizado, a fim de facilitar o
procedimento pericial de comparação. A documentação odontológica é uma
ferramenta essencial por oferecer características singulares do complexo
estomatognático, auxiliando a perícia criminal de forma simples e eficiente na
identificação de vítimas e suas famílias.

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ESTRATÉGIAS PARA PREVENÇÃO E CONTROLE DE INFECÇÕES.

Como os patologistas trabalham em laboratórios, as melhores práticas


para evitar e controlar as infecções são praticamente as mesmas nos dois
departamentos. Uma lista de estratégias para prevenção e controle de
infecções (PCI) que deve ser obedecida no departamento de patologia está
descrita a seguir:
 Usar as precauções-padrão;
 Fazer a higiene adequada das mãos;
 Usar equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados para a
exposição de patógenos transmitidos pelo sangue (máscaras, proteção
para olhos ou escudos de face, roupas, aventais, jalecos);
 Descartar o EPI ou lavar a roupa não descartável de forma adequada;
 Receber educação e treinamento, incluindo o treinamento sobre a
prevenção de tuberculose (TB) e as precauções com sangue e fluidos
corporais;
 Tomar vacinas específicas, como a da hepatite B;
 Observar as precauções do nível de biossegurança;
 Tratar todas as amostras como infectadas;
 Descartar os perfurocortantes em recipientes adequados;
 Limpar e desinfetar os equipamentos;
 Comunicar casos suspeitos da doença de Creutzfeldt-Jakob.

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A obediência a esses padrões de precaução e as estratégias de PCI
deve ser monitorada pelos supervisores.

ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE DE INFECÇÕES NO


CUIDADO PÓS-MORTE.

Além das precauções para os laboratórios, os patologistas que realizam


necrópsias lidam com os riscos adicionais dos cadáveres e dos procedimentos.
Todos os cadáveres que chegam ao departamento de patologia podem ser
fontes de infecção. Os patologistas que fazem necrópsias estão sob risco de
exposição a hepatite viral, vírus da imunodeficiência humana (HIV), TB e
doença de Creutzfeldt-Jakob, entre outras doenças. Para evitar a transmissão
de infecções, os líderes do departamento de patologia devem exigir que os
PASs desse setor adotem as seguintes estratégias:
Ao cuidar de um cadáver na necrópsia, todos os PASs na área devem
usar as precauções-padrão. Tais precauções incluem o uso de EPI e a higiene
das mãos. Os EPIs adequados para necrópsia incluem avental cirúrgico, touca
cirúrgica, roupa impermeável ou avental com mangas compridas, propés,
óculos ou proteção para rosto, olhos, pele e membranas mucosas. Os PASs
devem usar dois pares de luvas cirúrgicas ou luva de malha de aço, de rede ou
de Kevlar sobre as luvas cirúrgicas para proteger contra cortes com
facas. Também existem luvas não metálicas à prova de perfuração. Quando
existe risco de patógenos em aerossóis, como TB, os PASs presentes durante
a necrópsia devem usar respiradores N95.

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Fazer a necrópsia em uma área de risco biológico indicada. As salas de
necrópsia devem ser fisicamente separadas das áreas administrativas e de
todas as outras do hospital. Essa separação ajuda a evitar potenciais infecções
a partir da disseminação a funcionários ou pessoas que não realizam as
necrópsias. Essas salas devem ter pressão negativa, com o ar da sala retirado
diretamente para a parte externa.
O American Institute of Architects recomenda pelo menos 12 trocas de
ar por hora nessas áreas. Equipamentos adicionais podem ajudar a reduzir o
risco da exposição a patógenos em aerossóis, como mesas de necrópsia com
esvaziamento descendente, filtração de ar particulado de alta eficiência
(HEPA), radiação ultravioleta (para esterilizar o ar) e cabines de segurança
biológica para manusear os tecidos infectados.
 Usar o equipamento de segurança durante as necrópsias, como
equipamento com proteção, anexos com vácuo e drenos ou unidades
para descarte.
 Restringir a entrada ou saída da área de necropsia durante a execução
do procedimento.
 Implantar os controles de prática de trabalho, como tratar todas as
amostras como infectantes, separar todo o material necessário antes de
iniciar um procedimento, manter todos os tecidos na mesa de necrópsia
até serem fixados – exceto se transportados em uma bandeja ou
recipiente –, cortar seções apenas em tecidos fixados e indicar uma
pessoa para monitorar as práticas de PCI durante o procedimento.
 Rotular claramente todas as partes congeladas ou não fixadas com a
expressão “risco de infecção”. As partes do corpo fixadas devem ser
seladas em recipientes seguros, à prova de vazamento, para evitar a
contaminação para o ambiente externo.
 Tornar a imunização, especialmente para hepatite B, obrigatória para
todas as pessoas que trabalhem no departamento de patologia. Um
teste cutâneo inicial com tuberculina durante o exame admissional
também é importante.
 Os hospitais podem solicitar que os patologistas façam exames

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médicos anuais para verificar a saúde desses profissionais e identificar
qualquer possível exposição.
 Preparar o cadáver após o término da necrópsia. Isso envolve suturar
qualquer incisão com agulhas e pinças, lavar o corpo com detergente
seguido por uma solução de água sanitária e acondicionar o corpo em
uma embalagem específica à prova de vazamento.
 Limpar adequadamente as superfícies. A limpeza envolve retirar
produtos do corpo, fluidos corporais e outros materiais orgânicos
grosseiros com água, esfregar e desinfetar todas as superfícies e
enxaguar a área desinfetada. Para alguns tipos de procedimentos de
alto risco, pode ser necessária uma limpeza mais profunda. Por
exemplo, as superfícies contaminadas com Mycobacterium tuberculosis
devem ser descontaminadas com soluções tuberculocidas líquidas,
como compostos fenólicos. (Ver o Destaque 13.1 para informações de
limpeza específicas para doença de Creutzfeldt-Jakob.)
 Limpar e reprocessar os equipamentos médicos adequados. Limpadores
enzimáticos, desinfetantes de nível intermediário e lavadoras
esterilizantes de instrumentos podem ser incluídos nos processos de
limpeza dos equipamentos de patologia.

PREVENÇÃO E CONTROLE DE RISCOS DE INFECÇÃO COM A DOENÇA


DE CREUTZFELDT-JAKOB

Dentro do departamento de patologia, existem alguns procedimentos


que são considerados de maior risco para transmissão de infecção do que
outros. Isso ocorre principalmente por causa das consequências da
transmissão de infecções. Por exemplo, fazer necrópsias de cadáveres ou
manusear tecidos de pacientes com doença de Creutzfeldt-Jakob são
considerados procedimentos de alto risco, e os patologistas que cuidam de
pacientes com suspeita ou confirmação de doença de Creutzfeldt-Jakob devem
tomar precauções adequadas, como:
 Ter uma sala de procedimento dentro do necrotério para fazer

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necrópsias em pacientes de alto risco. Isso é recomendável, mas não
essencial;
 Usar um conjunto separado de instrumentos para casos de doença de
Creutzfeldt-Jakob. Se não for possível, usar instrumentos descartáveis;
 Após manusear cadáveres com suspeita de doença de Creutzfeldt-
Jakob, descontaminar os instrumentos do necrotério e as superfícies de
trabalho usando um dos seguintes métodos:
 18 minutos de autoclavagem a vapor a 134°C ou 6 ciclos de 134°C por 3
minutos;
 1 hora de autoclavagem a vapor com deslocamento de gravidade a
134°C;
 Aplicar hidróxido de sódio 1 N por 1 hora (incluindo molhar as
superfícies com frequência);
 Usar solução de hipoclorito de sódio com 20.000 ppm de cloro (Nota: a
solução de hipoclorito é muito corrosiva para metais, portanto, deve-se
ter cuidado ao aplicá-la sobre superfícies);
 1 hora de ácido fórmico a 96% (Nota: a solução de ácido fórmico é muito
corrosiva para metais, portanto, deve-se ter cuidado ao aplicá-la sobre
superfícies);
 Incineração.

PLASTINAÇÃO

A Plastinação é o procedimento técnico, moderno, de preservação de


materiais biológicos, criado pelo médico, anatomista, artista e cientista de
Heidelberg na Alemanha, Gunther Von Hagens em 1977, e que consiste
basicamente em extrair os líquidos corporais (água e soluções fixadora) e
os lipídios, através de métodos químicos, substituindo-os por resinas plásticas
como silicone, poliéster e epóxi.
Tal técnica tem numerosas vantagens, tais como:
 Melhor conservação dos corpos e tecidos;

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 Diminuição da insalubridade da manipulação das peças anatômicas;
 Durabilidade de peças anatômicas;
 Diminuição da manutenção;
 Morfologia natural das estruturas;
 Facilidade na manipulação;
 Aumenta o rendimento do aluno (maior tempo do aluno com a peça);
 Ferramenta na pesquisa morfológica;
 Facilita a exposição em Museus.
Sem sombra de dúvida, Von Hagens
teve uma grande ideia: o desenvolvimento de
uma técnica de conservação que permite o
estudo macrocósmico de cadáveres sem os
incômodos odores ou as mudanças de
tonalidade dos tecidos, normalmente
produzidas pelas químicas de conservação
tradicionais. Os estudos anátomo-científicos do
corpo humano puderam ser, então, mais
didáticos e esclarecedores.
No Brasil, bem como em boa parte dos países, a aquisição do cadáver
humano para estudo, e até mesmo animais, vem cada vez sendo mais difícil.
As questões éticas e legais têm sido empecilho em muitos lugares. A
Plastinação hoje é apontada como uma técnica que pode ajudar a minimizar
tais dificuldades, haja vista a maior durabilidade de a peça anatômica resultar
em uma menor demanda por corpos humanos e animais.
Outro grande ganho trazido pela Plastinação é a melhor formação de
museus de anatomia, onde as peças conferem um melhor entendimento ao
visitante, maior interação e proximidade do público e até mesmo propiciando
inclusão, como o caso de deficientes visuais que podem ter oportunidade de
manipular peças anatômicas.
A International society for Plastination (isp.plastination.org), fundada em
1986, tem sido uma grande difusora da técnica mundialmente, e reúne
plastinadores de todos os lugares do mundo, no objetivo de difundir,

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desenvolver e aprimorar as técnicas de Plastinação, promove fóruns de
discussão para troca mútua de informações sobre Plastinação, além de manter
o The Journal of International society for Plastination.

TIPOS DE PLASTINAÇÃO

A Plastinação pode ser dividida em 3 tipos, segundo o polímero a ser


impregnado: a Plastinação em Silicone (que pode ser subdividida em
Plastinação a Frio e Plastinação em temperatura ambiente), Plastinação em
poliéster e Plastinação em Epóxi.
A Plastinação em Silicone obtém peças com aspecto emborrachado,
flexível, e é mais usada em peça sólidas, espessas. A impregnação usa
silicones tipo S40 e S10 da Biodur, associados a um cross-linker S3 e um
reticulante S6 (alongador de cadeias) também da Biodur. No Brasil laboratórios
de Plastinação têm obtido sucesso com produtos nacionais, ainda em
experimentação. A Plastinação em silicone pode ainda ser realizada a baixa
temperatura (-25ºC) e a temperatura ambiente, cada uma com suas
particularidades de procedimentos, combinação de reagentes, forma de
desidratação, tempo de impregnação e controle de pressão.
Vale ressaltar que a Plastinação em silicone a frio, mostra melhores
resultados na qualidade das peças obtidas, na flexibilidade, no nível de
retração tecidual e coloração, principalmente em peças de sistema nervoso. A
Plastinação em silicone a frio é mais lenta, e requer também maior
investimento em freezers adaptados e em segurança. A Plastinação a
temperatura ambiente funciona muito bem, apesar da menor qualidade, com
exceção de material de sistema nervoso, recomenda-se para quem está
iniciando e implantando seu laboratório por seu baixo custo e maior
simplicidade do processo.
A Plastinação em poliéster e epóxi são usadas no preparo de peças em
slides, cortes de 1, 2 e 3 mm, com características de transparência. A
Plastinação com poliéster usa o P35 ou P40 da Biodur, onde a cura é feita com
ultravioleta, já o Epóxi usa o E12 e a cura é feita através do calor.

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Devido ao curto tempo de curso e a complexidade das demais técnicas
envolvidas na Plastinação e suas peculiaridades, tanto neste material como em
nossa aula teórica e prática nos ateremos somente a Plastinação em sílice a
temperatura ambiente.

PRINCÍPIOS DA PLASTINAÇÃO (AMBIENTE)

Basicamente a Plastinação se baseia na preparação da peça anatômica


(fixação e dissecação), desidratação, impregnação do polímero e cura ou
polimerização. Onde cada etapa é um ponto crítico para a próxima etapa e
para o sucesso do resultado do processo de Plastinação. A má execução de
um destes pontos compromete e inviabiliza todo o restante do processo.

A FIXAÇÃO

A fixação é o início de todo o processo de Plastinação, teoricamente


pode se plastinar sem fixação dos tecidos, entretanto é necessário preservar os
tecidos de espécime durante o processo de dissecação, que costuma ser

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bastante demorado. É recomendado que não se use soluções fixadoras que
contenham glicerina, esta pode comprometer o processo de impregnação. Na
verdade, a melhor técnica a ser utilizada para fixação é o nosso velho
conhecido do dia a dia, o formaldeído (formol), que pode ser usado de 5% a
10%. Particularmente, para uso em peças com objetivos de Plastinação,
preferimos utilizar o formol a 5%, por conferir maior flexibilidade. Também
recomendamos que se acondicione as peças fixadas com formol a 5% em
refrigeração 2 a 5ºC, com objetivo de manter em parte as cores naturais da
peça.
Peças preservadas em glicerina ou glicerinadas impossibilitam a
impregnação dos polímeros, portanto não são recomendadas para a
Plastinação. Contudo, alguns laboratórios de anatomia têm relatado ter tido
sucesso na reversão da glicerinação e bons resultados de uso destas peças
em plastinação.

DISSECAÇÃO

Passado o período de cura da fixação, a dissecação torna-se em minha


opinião o ponto mais crítico de todo o processo, haja vista uma peça mal
dissecada, se tornará “feia” e mal esclarecedora em sua anatomia antes e
depois da Plastinação, e após a Plastinação, fica quase impossível corrigir tais
erros. Assim, uma boa escolha da metodologia de dissecação, uso de bom
material e a definição do objetivo da dissecação (o que desejamos “mostrar”) é
imprescindível para obter uma peça ótima.
A dissecação deve ser feita com cuidado e calma. O ditado popular “ A
pressa é inimiga da perfeição” se aplica muitíssimo bem a essa situação.

DESIDRATAÇÃO

Tendo uma peça de qualidade, bem preparada, bem conservada, bem


dissecada ou seccionada, ou seja, uma peça digna de ser “imortalizada”, digna
de ser plastinada, podemos iniciar o protocolo de Plastinação propriamente

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dito. Lembrando que se temos uma peça mal preparada “feia”, ao ser
plastinada teremos como resultado uma peça “feia” plastinada.
A primeira etapa da Plastinação é desidratação da peça, remover agua
dos tecidos, juntamente com as gorduras (restantes da dissecação). Assim
como a preparação da peça é fundamental para o sucesso da Plastinação, a
desidratação também é um ponto crítico do processo. Falhas nessa etapa
comprometem o sucesso das etapas seguintes. Resíduos de água no tecido
impedem a penetração do polímero, bem com atrapalham a cura do material,
provocando manchas na peça.
A desidratação pode ser feita com acetona ou álcool, apesar da acetona
ser mais cara que o álcool, a acetona confere melhor resultado.
A desidratação deve ocorrer de forma lenta, portanto deve ser feia em
baixas temperaturas (-15 a -25ºC), o que evita a saída rápida da água e o
colabamento da peça. Pelo mesmo motivo a desidratação deve iniciar em
menor concentrações em banhos de acetona 80%, 90%, 100% e 100%
novamente, com intervalo de 7 dias. Vale ressaltar que após a retirada da
acetona de cada banho, sua concentração deve ser verificada com
acetonômetro, só devendo parar o processo quando a acetona retirada banho
chegar a 100%, ou seja, não haver mais água para retirar da peça. Tecido ou
peças com maior quantidade de água necessitam de uma maior quantidade de
banhos para chegar a 100%. Alguns autores aceitam a concentração de 98%
de acetona, entretanto, é melhor chegar a 100% e garantir o sucesso do
processo. Após a chegada aos 100% de acetona, deve-se ainda fazer mais um
banho a temperatura ambiente para retirada de gorduras excedentes das
peças.
A desidratação pode ser feita a temperatura ambiente, mas deve ser
evitada por levar a um maior nível de retração, principalmente em tecidos
moles.
A desidratação deve ocorrer em recipiente que suportem a acetona, e
que sejam herméticos. Os freezers usados na Plastinação devem ser
adaptados, seus componentes elétricos e compressor devem ser removidos e
colocado em uma sala diferente da sala onde o freezer se encontra. Tal medida

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deve ser feita para evitar explosões, haja vista a acetona ser extremamente
explosiva, ser pesada e não se dissipar do ambiente facilmente.

IMPREGNAÇÃO

Tendo obtido um material bem desidratado, este material pode ser


retirado e enxugado com papel toalha, seguindo diretamente para o polímero a
ser utilizado, neste caso silicone. O silicone mais usado para Plastinação em
temperatura ambiente é o S10 da Biodur (existe alguns equivalentes nacionais,
mas ainda se encontram em teste). A Plastinação a frio, assim como a
desidratação a frio, confere maior qualidade as peças, menor nível de retração
pelo mesmo motivo, entretanto esta é mais demorada, e requer maior
investimento na adaptação das câmaras de vácuo dentro de freezers, que por
sua vez também devem ter adaptação de seu circuito elétrico e compressor.
Nesta fase é necessário ter uma bomba de vácua capaz de gerar um
vácua mínimo de -760 mmHg para o volume de sua câmara. Quanto maior a
câmara de vácuo, maior deve ser a capacidade de drenagem por minuto de
sua bomba, algo que deve ser calculado antes de aquisição de sua bomba. O
vácuo gerado pela bomba é diferente da potência da mesma. Também
devemos ter acoplado ao sistema vacuômetros (diferente de manômetro) para
o fiel controle da pressão ideal de plastinação e para evitar implosões do
sistema.
Também é necessário ter uma câmara de vácuo capaz de suportar
pressões inferiores a -760 mmHg. Tenha em mente o quanto de vácuo seu
sistema é capaz de suportar para evitar implosões, assim nunca excedendo
estes limites.
As câmaras normalmente são de aço inoxidável, com chapas
compatíveis com o tamanho da câmara e do vácuo a ser usado, quanto maior a
câmara mais reforço ela deve ter. Também deve conter tampa de vidro ou
acrílico transparentes que possibilitem a visualização das peças e das bolhas
de acetona que saem das mesmas.
Também pode-se usar como câmaras de vácuo, dissecadores para

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pequenos trabalhos (recomendado para quem está iniciando). O mesmo
cuidado deve ser observado com dissecadores, pois o risco de implosões é
eminente, lembre-se que o dissecador é feito de vidro, e que o vidro do mesmo
deve ser adequado e suportar vácuo (deve ser temperado).
Ao S10 deve ser adicionado o alongador de cadeia (Cross-Linker) S6 na
concentração de 8%, e bem homogeneizado. A peça é mergulhada no
polímero com ajuda de uma tela com peso suficiente para fazê-la afundar.
Depois disso inicia-se a formação do vácuo, regulando-se a pressão através de
válvulas acoplados em seu sistema de vácuo. O tempo de plastinação vai
variar de acordo com o volume da peça, até que não se saia mais acetona da
mesma.

CURA OU POLIMERIZAÇÃO

Após a impregnação forçada com o silicone, a peça deve ser colocada


em uma tela que possibilite o escorrimento do silicone excedente. Nesta fase
deve ser pincelado em sua superfície o cross-linker ou S3 que irá promover a
vulcanização do silicone (solidificação). Em aproximadamente 3 dias a peça irá
começar a adquirir características de peça plastinada, podendo já ser
manipulada, entretanto tal processo continua a ocorrer de fora para dentro da
peça por aproximadamente 3 meses dependendo de seu volume.

CUIDADOS COM SEGURANÇA

Os laboratórios de plastinação devem ter ambientes distintos para

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desidratação e impregnação, e adaptados com exaustores baixos (peso da
acetona) por tubulação e instalações elétricas anti-explosão. O sistema de
refrigeração, bem condicionadores de ar assim como os freezers devem ter as
instalações elétricas e compressores no ambiente externo.

CUIDADOS COM A BOMBA

A Bomba de vácuo necessita de troca constate de óleo, mesmo que o


mesmo ainda esteja com boa aparência e viscosidade. A acetona passa dentro
da bomba, e pode impregnar no óleo, danificando as peças. Limpeza interna
das peças da bomba também é recomendada a cada 1 ano.

ESTADOS DE DECOMPOSIÇÃO DO CORPO HUMANO

A maioria de nós preferiria não imaginar o que acontece com o nosso


corpo depois que morremos, mas este processo faz nascer novas formas de
vida de maneiras inesperadas, escreve Moheb Costandi.
“Talvez seja preciso um pouco de
força para mover isso daqui”, diz a agente
funerária Holly Williams, carregando o braço
de John e gentilmente flexionando os dedos,
cotovelos e pulsos dele. “Geralmente,
quanto mais fresco o corpo, mais fácil é meu
trabalho”.
Williams fala de forma leve e tem um comportamento sorridente que vai
contra a natureza do trabalho dela. Criada e agora empregada na funerária de
sua família no norte do Texas, EUA, ela viu e lidou com corpos quase que de
forma diária desde a infância. Agora, com 28 anos, ela estima que já tenha
trabalhado em mais de 1.000 cadáveres.
O trabalho dela envolve coletar corpos recém falecidos da região de
Dallas e Fort Worth e prepará-los para o funeral.
“A maioria das pessoas que recolhemos morre em casas de repouso”,

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diz Williams, “mas em alguns casos recolhemos pessoas mortas por tiros ou
em acidentes de carro. Podemos receber uma ligação para pegar uma pessoa
que morreu sozinha e foi encontrada dias ou semanas depois, e ela já está em
decomposição, o que torna o meu trabalho muito mais difícil”.
John estava morto havia cerca de 4 horas antes do corpo dele ser
trazido à funerária. Ele foi relativamente saudável pela maior parte da vida. Ele
trabalhou a vida inteira nos campos de petróleo do Texas, um emprego que o
mantinha fisicamente ativo e em boa forma; parou de fumar há décadas; e
bebia álcool de forma moderada. Daí, em um dia frio de janeiro, ele sofreu um
terrível ataque cardíaco em casa (aparentemente desencadeado por outras
complicações desconhecidas), caiu no chão e morreu quase que
imediatamente, aos 57 anos de idade.
Agora, John deita sobre a mesa de metal de Williams, o corpo dele
envolto em um lençol de linho branco, frio e duro ao toque, a pele dele com
uma coloração roxa e acinzentada — sinais de que os estágios iniciais da
decomposição já estavam acontecendo.

AUTODIGESTÃO

Longe de estar “morto”, um cadáver apodrecendo está cheio de vida.


Um crescente número de cientistas vê um cadáver em apodrecimento como os
fundamentos de um vasto e complexo ecossistema, que emerge depois da
morte e evolui com a decomposição.
A decomposição começa alguns minutos depois da morte em um
processo chamado autólise, ou autodigestão. Momentos depois do coração ter
parado de bater, as células ficam privadas de oxigênio e a acidez delas
aumenta, à medida que os subprodutos tóxicos das reações químicas começa
a se acumular dentro delas. As enzimas começam a digerir as membranas
celulares e vazam; assim, as células começam a se romper.
Isso geralmente começa no fígado, rico em enzimas, e no cérebro, que
possui um nível maior de água. Depois, todos os outros tecidos e órgãos
começam a se desmembrar. Glóbulos brancos danificados começam a vazar

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de vasos rompidos e, auxiliados pela gravidade, instalam-se nos capilares e em
pequenas veias, descolorindo a pele.
A temperatura do corpo também começa a cair, até se aclimatar ao
ambiente. Então chega o rigor mortis — a rigidez cadavérica — começando
pelas pálpebras, queixo e músculos do pescoço, antes de prosseguir ao tronco
e aos membros. Em vida, células musculares se contraem e relaxam graças à
ação de duas proteínas filamentosas (actina e miosina), que andam juntas.
Depois da morte, as células ficam sem energia e as proteínas filamentosas
ficam paradas no lugar. Isso faz com que o músculo fique rígido, prendendo as
articulações.

Durante estes primeiros estágios, o ecossistema cadavérico consiste em


grande parte nas bactérias que vivem dentro e fora do corpo humano. Nossos
corpos hospedam uma enorme quantidade de bactérias; todas as superfícies e
cantos do corpo providenciam um habitat para uma comunidade microbial
especializada. De longe, a maior dessas comunidades vive no intestino, lar de
trilhões de bactérias que pertencem a centenas ou milhares de espécies
diferentes.
O microbioma do intestino é um dos tópicos mais pesquisados na
biologia; ele está ligado à saúde humana e a uma pletora de doenças e
problemas, incluindo autismo, depressão, síndrome do cólon irritável e
obesidade. Mas ainda sabemos pouco destes passageiros microbiais.
Sabemos ainda menos sobre o que acontece com eles quando nós morremos.
Em agosto de 2014, a cientista forense Gulnaz Javan, da Universidade
Estadual do Alabama (EUA), e seus colegas publicaram o primeiro estudo

21
sobre o que eles chamaram de tanatomicrobioma (de “thanatos”, a palavra
grega para morte).
“Muitos dos nossos exemplos vêm de casos criminais”, diz Javan.
“Alguém morre em um suicídio, homicídio, overdose de drogas ou em um
acidente de carro, e eu coleto amostras do corpo. Existem problemas éticos
porque preciso de consentimento”.
A maioria dos órgãos internos são desprovidos de micróbios quando
estão vivos. Pouco depois da morte, no entanto, o sistema imunológico para de
funcionar, deixando que eles se espalhem livremente por todo o corpo. Isso
geralmente começa no intestino, na junção do intestino grosso e delgado — e
então os tecidos adjacentes — de dentro para fora, usando o coquetel químico
que vaza das células
danificadas como fonte de
alimentação. Então eles
invadem os capilares do
sistema digestivo e os
linfonodos, espalhando-se
primeiro no fígado e no baço,
depois o coração e o cérebro.
Javan e a equipe dela colheram amostras do fígado, baço, cérebro,
coração e sangue de 11 cadáveres, entre 20 e 240 horas depois da morte. Eles
usaram duas tecnologias de ponta de sequenciamento de DNA, combinadas
com bioinformática, para analisar e comparar as bactérias presentes em cada
amostra.
As amostras colhidas de diferentes órgãos no mesmo cadáver eram
parecidas umas com as outras, mas muito diferentes das amostras colhidas do
mesmo órgão em outros pacientes. Isso talvez seja devido parcialmente às
diferenças na composição do microbioma de cada cadáver, ou talvez seja
causado pela diferença na hora da morte de cada corpo. Um estudo
anterior avaliou a decomposição de camundongos e descobriu que, apesar do
microbioma mudar drasticamente após a morte, ele faz isso de forma
consistente e mensurável. Os pesquisadores puderam estimar a data da morte

22
dentro de um intervalo de três dias.
O estudo de Javan também sugere que este ‘relógio microbiológico’
pode estar funcionando dentro do corpo humano em decomposição. Ele
mostrou que as bactérias alcançaram o fígado em cerca de 20 horas depois da
morte, e elas levaram cerca de 58 horas para se espalhar pelo restante do
corpo de forma sistemática. O tempo levado para infiltrar o primeiro órgão
interno e então outro pode prover uma nova forma de estimar a hora da morte.
“Depois da morte, a composição das bactérias muda”, diz Javan. “Elas
se movem para dentro do coração, do cérebro e então órgãos reprodutores por
último”. Em 2014, Javan e seus colegas obtiveram US$ 200.000 da Fundação
de Ciências Naturais para continuar as pesquisas. “Nós utilizaremos
sequenciamento e bioinformática de próxima geração para ver qual órgão é o
melhor para estimar [a hora da morte] — isso ainda não é claro”, ela diz.
Uma coisa que parece clara, entretanto, é que uma composição
diferente de bactérias está associada a diferentes estágios da decomposição.

PUTREFAÇÃO

Espalhados entre pinheiros em Huntsville, no Texas, EUA, estão cerca


de meia dúzia de cadáveres em vários estágios de decomposição. Os dois
corpos postos recentemente estão de braços abertos próximos ao centro do
local, com grande parte da pele acinzentada macilenta ainda intacta, as
costelas e os ossos pélvicos visíveis entre a pele que apodrece pouco a pouco.
A alguns metros deste local está outro corpo, completamente esqueletizado,
com a pele dura e escura agarrada aos ossos, como se o cadáver vestisse
uma roupa de látex brilhante com capuz. Próximo dali, entre outros restos
esqueléticos espalhados por abutres, está um terceiro corpo, dentro de uma
gaiola de metal e arame. Este está próximo do fim do ciclo da morte,
parcialmente mumificado. Diversos cogumelos marrons crescem onde um dia
estava um abdômen.
Para a maioria de nós, avistar um corpo em decomposição é na melhor
nas possibilidades desconfortante; e na pior, algo repulsivo e assustador, coisa

23
de pesadelos. Mas este é o dia a dia dos pesquisadores do Departamento de
Ciências Forense Aplicada do Sudeste do Texas. Aberto em 2009, o
departamento está localizado em uma área de cerca de 100 hectares de
floresta nacional mantida pela Universidade Pública de Sam Houston (SHSU).
Dentro dela, um trecho de mais ou menos 4 hectares de terrenos densamente
arborizados foi selado da área maior e subdividido por cercas de arame
farpado de 3 metros de altura.
No final de 2011, os pesquisadores Sibyl Bucheli, Aaron Lynne e seus
colegas da SHSU deixaram dois cadáveres novos ali, e deixaram eles se
decomporem em condições naturais.
Uma vez que a autodigestão se inicia e a bactéria começa a escapar do
trato gastrointestinal, a putrefação começa. Isso é a morte molecular: a quebra
dos tecidos moles que os transforma em gases, líquidos e sais. Este processo
já se inicia em estágios iniciais da decomposição, mas ele fica bem mais forte
quando bactérias anaeróbicas entram em ação.
A putrefação está associada a uma mudança de bactérias aeróbicas,
que precisam de oxigênio para crescer, para as anaeróbicas, que não precisam
de oxigênio. Estas então se alimentam de tecidos do corpo, fermentando
açúcar para produzir subprodutos gasosos como metano, sulfureto de
hidrogênio e amônia, que acumulam dentro do corpo, inflando (ou estufando) o
abdômen e, em alguns casos, outras partes do corpo.
Isso causa uma maior descoloração do corpo. À medida que glóbulos
brancos danificados continuam a se romper dos vasos em desintegração, as
bactérias anaeróbicas convertem moléculas de hemoglobina, que costumavam
carregar oxigênio pelo corpo, em sulfoemoglobinemia. A presença desta
molécula em sangue parado dá a pele uma aparência esverdeada,
característica de um corpo em decomposição ativa.
A pressão do gás que continua a se acumular dentro do corpo faz com
que bolhas apareçam por toda a superfície da pele. Isso é seguido pelo
afrouxamento de grande parte da pele, que permanece presa apenas à
estrutura em deteriorando abaixo delas. Os gases e os tecidos
liquefeitos acabam saindo do corpo, geralmente vazando pelo ânus e outros

24
orifícios, e frequentemente também de peles rasgadas de outras partes do
corpo. Em alguns casos, a pressão é tão forte que o abdômen chega a
estourar.
O estufamento é muitas vezes usado para demarcar a transição entre os
estágios da decomposição, e outro estudo recente mostra que essa transição é
caracterizada por uma distinta mudança na composição das bactérias
cadavéricas.
Bucheli e Lyne colheram amostras das bactérias de várias partes do
corpo no início e no final do estágio de estufamento. Eles então extraíram o
DNA das bactérias das amostras e o sequenciaram.
Como uma entomologista, Bucheli está mais interessado nos insetos
que colonizam os cadáveres. Ela vê um cadáver como um habitat
especializado para várias espécies de insetos necrófagos (ou comedores de
mortos), alguns dos quais passam por um ciclo de vida inteiro dentro do corpo
ou em seus arredores.

COLOZINAÇÃO

Quando um corpo em decomposição começa a eliminar substâncias, ele


fica completamente exposto às redondezas. Neste estágio, o ecossistema
cadavérico chega ao seu ponto máximo: trata-se de um ‘centro’ para micróbios,
insetos e detritívoros.

25
Duas moscas diretamente conectadas à decomposição são as varejeiras
(e suas larvas) das famílias Calliphoridae e Sarcophagidae. Os cadáveres
liberam um desagradável odor adocicado, feito de um complexo coquetel de
compostos voláteis que mudam conforme a decomposição avança. As
varejeiras detectam o cheiro usando receptores especializados em suas
antenas, elas então pousam no cadáver e botam ovos nos orifícios e nas
feridas abertas.
Cada mosca deposita cerca de 250 ovos que se chocam dentro de 24
horas, dando vida a larvas de primeiro nível. Estas larvas se alimentam de
carne apodrecendo e se transformam em larvas maiores, que se alimentam por
várias horas antes se transformar mais uma vez. Depois de se alimentarem um
pouco mais, elas se distanciam do corpo. Elas então se transformam em
pupas, para, enfim, se tornarem moscas adultas. Este ciclo se repete até não
existir mais nada no que elas possam se alimentar.
Sob condições ideais, um corpo em decomposição ativa terá um grande
número de larvas em terceiro nível se alimentando dele. Estas “larvas em
massa” geram muito calor, aumentando a temperatura interna do corpo em
mais de 10˚C. Como pinguins amontoados no Polo Sul, larvas individuais
dentro da massa estão em movimento constante. Mas enquanto pinguins se
amontoam para se aquecerem, as larvas se movimentam para se resfriarem.
“É uma faca de dois gumes”, explica Bucheli, cercada de grandes larvas
de brinquedo e uma coleção de bonecas de Monster High em seu escritório na
SHSU. “Se a larva está sempre pelas bordas, ela pode ser comida por um
pássaro, e se ela está sempre pelo centro, ela pode sofrer com o calor. Então
elas estão sempre se movimentando do centro para as bordas, indo e
voltando”.
A presença de moscas atrai predadores como besouros de couro,
ácaros, vespas e aranhas, que se alimentam das moscas ou parasitam em
seus ovos e larvas. Abutres e outros detritívoros, assim como outros grandes
animais comedores de carne, também podem se aproximar do corpo.No
entanto, na ausência de detritívoros, as larvas são responsáveis por remover
os tecidos moles. Conforme notou Carl Linnaeus (que idealizou o sistema o

26
qual cientistas nomeiam espécies) em 1767, “três moscas podem consumir o
cadáver de um cavalo tão rápido quanto um leão”. Larvas de terceiro nível se
distanciam em grandes quantidades do cadáver, geralmente seguindo uma
mesma rota. A atividade delas é tão rigorosa que seus caminhos de migração
podem ser vistos depois que a decomposição chega ao fim, como fundos
sulcos no solo emanando do cadáver.

Toda espécie que visita um cadáver tem o próprio repertório de


micróbios do intestino, e espécies diferentes de solo tendem a acolher
comunidades distintas de bactérias — uma composição que é provavelmente
determinada por fatores como temperatura, umidade, tipo de solo e textura.
Todos estes micróbios se misturam e se associam com o ecossistema
cadavérico. As moscas que pousam no cadáver não vão apenas depositar os
ovos nele, mas também levam consigo algumas das bactérias presentes no
cadáver, além de deixar algumas delas próprias neles. E os tecidos liquefeitos
vazando do corpo permitem uma troca de bactérias entre o corpo e o solo
abaixo dele.
Quando colheram amostras dos cadáveres, Bucheli e Lynne detectaram
bactérias originadas da pele no corpo e de moscas e detritívoros que o
visitaram, além de bactérias presentes no solo. “Quando um corpo vaza
líquidos, as bactérias do intestino começam a sair, e vemos uma grande
proporção delas do lado de fora do corpo”, diz Lynne.
Portanto, é provável que todo corpo tenha a sua própria assinatura
microbiológica, e essa assinatura pode mudar com o tempo de acordo com as
condições exatas do local em que a morte ocorreu. Um melhor entendimento
da composição dessas comunidades de bactérias, a relação entre ela e como

27
elas influenciam umas às outras conforme a decomposição avança, pode um
dia ajudar equipes forenses a saber mais onde, quando e como uma pessoa
morreu.
Por exemplo, detectar sequências de DNA pertencentes a um organismo
ou tipo de solo em particular a um cadáver pode ajudar investigadores de
cenas do crime a conectar o corpo de uma vítima a uma geolocalização
específica ou tornar menor a busca por pistas, talvez até especificar um campo
dentro de uma área.
“Existem diversos casos judiciais no qual a entomologia forense
forneceu importantes peças de um quebra cabeça”, diz Bucheli, e ela espera
que bactérias possam providenciar informações adicionais, se tornando mais
uma ferramenta para aperfeiçoar a estimativa da hora da morte. “Espero que,
em mais ou menos cinco anos, possamos começar a usar dados de bactérias
em julgamentos”, ela diz.
Até então, pesquisadores estão ocupados catalogando as espécies de
bactérias que estão presentes dentro e fora do corpo humano, estudando como
populações de bactérias se diferenciam entre cada indivíduo. “Eu amaria ter
uma base de dados da vida para a morte”, diz Bucheli. “Eu amaria conhecer
um doador que me permita colher amostras de bactérias enquanto ele está
vivo, durante o processo de morte dele e enquanto ele se decompõe”.

PURGANDO

“Este aqui é o líquido que é expelido de corpos em decomposição”, diz


Daniel Wescott, diretor do Centro de Antropologia Forense da Universidade
Estadual do Texas, em San Marcos.
Wescott, um antropólogo especializado na estrutura do crânio, usa um
tomógrafo para analisar a estrutura microscópica dos ossos trazidos da
fazenda de corpos. Ele também colabora com entomólogos e microbiólogos —
incluindo Javan, que tem se ocupado analisando amostras do solo de
cadáveres coletados do departamento de San Marcos — além de engenheiros
da computação e um piloto, que opera um drone fotográfico que registra

28
imagens do local.
“Eu li um artigo sobre drones que voavam sobre campos de colheita,
pesquisando quais seriam os melhores para plantar”, ele diz. “Eles procuravam
por espectrometria de infravermelho próximo, e solos organicamente mais ricos
apresentavam uma coloração mais escura que os outros. Eu pensei que se
eles podiam fazer isso, então talvez nós pudéssemos detectar esses pequenos
círculos”.
Os “pequenos círculos” são ilhas de cadáveres em decomposição. Um
corpo em decomposição altera significativamente a composição química do
solo abaixo dele. A purgação — o vazamento de materiais que restam dentro
de um corpo — libera nutrientes no solo, e a migração de larvas transfere muita
da energia no corpo para o ambiente. Todo o processo acaba criando uma “ilha
de cadáveres em decomposição”, uma área de solo organicamente rico e
altamente concentrado. Além de liberar nutrientes para um amplo ecossistema,
isso atrai outros materiais orgânicos, como animais mortos e matéria fecal de
animais maiores.
De acordo com uma estimativa, um corpo humano padrão consiste em
50 a 70% de água, e cada quilograma de massa corporal seca libera 32g de
nitrogênio, 10g de fósforo, 4g de potássio e 1g de magnésio no solo.
Inicialmente, isso mata parte da vegetação abaixo e ao redor do corpo,
possivelmente por causa da toxicidade do nitrogênio ou por causa dos
antibióticos encontrados no corpo, que são secretados pelas larvas de insetos
conforme elas se alimentam da carne.
Mas, depois, a decomposição é benéfica ao ecossistema. A biomassa
microbial existente dentro de uma ilha de cadáveres em decomposição é maior
que outras áreas próximas. Vermes nematoides, associados com a retirada de
nutrientes, se tornam mais abundantes, e a vegetação se torna mais diversa.
O avanço nas pesquisas sobre como corpos em decomposição alteram
a ecologia dos arredores pode fornecer novas formas de encontrar vítimas de
assassinatos cujos corpos foram enterrados em sepulturas rasas.
Análises do solo da sepultura podem providenciar outra possível forma
de estimar a hora da morte. Um estudo de 2008 sobre as mudanças

29
bioquímicas que ocorrem na ilha de um cadáver em decomposição mostrou
que a concentração de lipídios no solo de um cadáver vazando tem seu auge
40 dias após a morte, enquanto os de nitrogênio e fósforo extraível alcançam o
auge em 72 e 100 dias, respectivamente. Com um entendimento mais
detalhado deste processo, análises da bioquímica do solo de sepulturas podem
um dia ajudar pesquisadores forenses a estimar há quanto tempo um corpo foi
posto em uma sepultura escondida.

ENTERRO

No implacável tempo seco do verão texano, um corpo exposto a estes


elementos será mumificado antes de se decompor por completo. A pele
rapidamente perderá quase toda a umidade, ficando perdurada nos ossos
quando o processo estiver completo.
A velocidade das reações químicas envolvidas dobra a cada aumento de
10˚C na temperatura. Desta forma, um cadáver alcança um avançado estágio
de decomposição depois de 16 dias a uma temperatura média diária de 25˚C.
Até lá, a maior parte da carne já terá sido removida do corpo, e a migração em
massa das larvas pode começar.
Os egípcios antigos aprenderam sem querer como o ambiente afeta a
decomposição. No período pré-dinástico, antes que eles começassem a
construir caixões e tumbas elaboradas, os mortos eram envoltos em linho e
enterrados diretamente na areia. O calor inibia a atividade dos micróbios,
enquanto o enterro prevenia que os insetos alcançassem os corpos, então eles
ficavam muitos bem preservados.
Depois, eles começaram a construir tumbas elaboradas para os mortos,
para providenciar uma vida ainda melhor na vida após a morte, mas isso teve
um efeito oposto ao esperado: separar o corpo da areia acelerava a
decomposição. Aí os egípcios inventaram o embalsamamento e a mumificação.
O embalsamamento envolve tratar o corpo com produtos químicos que
desaceleram o processo de decomposição. O embalsamador egípcio
primeiramente lavava o corpo do falecido com vinho de palma e água do Rio

30
Nilo, removia a maioria dos órgãos internos por incisões feitas do lado
esquerdo, e os enchia de natrão (uma mistura natural de sais encontrada por
todo o Rio Nilo). Ele usava um longo gancho para puxar o cérebro pelas
narinas, para então cobrir todo o corpo com natrão, deixando-o secar por 40
dias.
Inicialmente, os órgãos secos eram postos dentro de vasos canópicos
que eram enterrados juntamente ao corpo; depois, eles passaram a
ser envolvidos em linho e retornados ao corpo. Finalmente, o corpo era envolto
em múltiplas camadas de linho, em preparação para o enterro. Agentes
funerários estudam os métodos de embalsamamento do Egito Antigo até os
dias de hoje.
De volta à casa funerária, Holly Williams executa algo semelhante para
que a família e os amigos possam ver os entes queridos no funeral como eles
foram em vida, em vez de vê-los como eles são agora. Para as vítimas de
traumas e mortes violentas, isso envolve extensas reconstruções faciais.
Por morar em uma cidade pequena, Williams trabalhou em muitas
pessoas que ela conhecia e com quem conviveu — amigos que morreram de
overdose, cometeram suicídio ou morreram mexendo no celular enquanto
dirigiam. Quando a mãe dela faleceu, há quatro anos, foi Williams quem cuidou
do enterro dela, adicionando toques finais à maquiagem facial da mãe: “Fui eu
quem sempre cuidou do cabelo e da maquiagem dela quando ela era viva,
então eu sabia como fazer isso bem”.
Ela transfere John para a mesa de preparação, remove as roupas dele e
o posiciona, então pega diversas garrafinhas de fluido de embalsamamento da
parede. O fluido contém uma mistura de formol, metanol e outros solventes; ele
temporariamente preserva os tecidos do corpo conectando células de proteína
umas às outras, e arrumando-as no lugar certo. O fluido mata bactérias e
previne que elas quebrem as proteínas para usá-las como alimento.
Williams derrama o conteúdo das garrafas na máquina de
embalsamamento. O fluído possui uma série de cores; cada uma
correspondente a um tom de pele diferente. Ela seca o corpo com uma esponja
molhada e faz incisões diagonais acima da clavícula. Depois, ela levanta a

31
artéria carótida e a veia subclávia do pescoço e as amarra com fios, ela então
empurra uma cânula (um tubo fino) na artéria e pequenas pinças na veia para
abrir os vasos.
A seguir, ela liga a máquina, que bombeia o fluido dentro da artéria
carótida e ao redor do corpo de John. Conforme o fluido entra, o sangue sai
pelas incisões, escorregando pelas bordas da mesa de metal e caindo dentro
de uma grande pia. Enquanto isso, ela pega um dos braços e o massageia
gentilmente. “Leva cerca de uma hora para remover todo o sangue de uma
pessoa e substitui-lo pelo fluido de embalsamamento”, diz ela. “Coágulos de
sangue podem desacelerar o processo; a massagem ajuda a rompê-los e a
acelerar o fluxo do fluido de embalsamamento”.
Uma vez que o sangue é substituído, ela aperta um aspirador contra o
abdômen de John e suga todos os fluidos da cavidade, sugando também
qualquer urina e fezes que ainda possam estar dentro do corpo. Finalmente,
ela costura as incisões, seca o corpo uma segunda vez, acerta o rosto e o
veste novamente. John está pronto para o funeral.
Corpos embalsamados também se decompõem. Exatamente quando, e
quanto tempo isso leva, depende da forma como o embalsamamento foi feito, o
tipo de caixão em que o corpo foi posto e como ele foi enterrado. Afinal, nossos
corpos são meras formas de energia presas em pedaços de matéria,
esperando serem lançadas de volta ao universo.
De acordo com a lei da termodinâmica, a energia não pode ser criada ou
destruída, apenas convertida de uma forma para outra. Em outras palavras: as
coisas têm fim, convertendo massa para energia enquanto acabam. A
decomposição é uma lembrança mórbida e final que toda matéria no universo
deve seguir estas leis fundamentais. Ela nos destrói, equilibrando nossa massa
corpórea com os arredores e nos reciclando para que outros seres vivos
possam fazer bom uso dela.

ANTROPOLOGIA FORENSE

O Direito e a Medicina sempre buscaram harmonizar a vida do ser

32
humano, cada uma com seus objetos e aspectos próprios, tem como foco o
homem.
Se por um lado o Direito se preocupa com o homem integrado no meio
social, com regras e leis que organizam seus direitos e obrigações, a medicina
busca cuidar de sua fisiologia, para preservação de sua vida e manutenção de
sua saúde.
O elo entre essas duas ciências ocorre no momento em que há violação
de um dos direitos ligados aos objetos da ciência médica (saúde, integridade
física e psicológica, vida). Assim surge a medicina legal como ponte, unindo as
ciências como forma de melhor interpretar casos indissolúveis apenas pela
aplicação de uma ciência ou de outra puramente.
Na aplicação das normas jurídicas, não raros os casos, deparamo-nos
com eventos em que se fazem imprescindíveis a utilização de recursos técnico-
científicos provenientes de outros ramos do conhecimento. Assim, a medicina
forense é uma das ferramentas auxiliadoras da justiça na resolução de crimes.

Novamente, o Direito é uma ciência que abrange inúmeras áreas e em


razão disso, por si só, nem sempre é autossuficiente. Assim a medicina legal,
como uma das matérias auxiliadoras do Direito, fornece o devido aparato para
análise de elementos e objetos que envolvam a cena de crimes e através
desse olhar é possível gerar documentos, ou seja, provas documentais,
capazes de formar a convicção do juízo criminal para que este diga o direito de
forma precisa, consoante com a busca da verdade real.
No ramo da medicina legal existem vários seguimentos, dentre eles, a

33
antropologia forense, a traumatologia forense, a asfixiologia forense, a
sexologia forense, a tanatologia, a toxicologia, a psiquiatria e psicologia
forense, a química forense, a infortunística, a vitimologia e a criminologia. No
entanto na presente dissertação teremos nossa visão direcionada
exclusivamente para a antropologia forense, com seus principais aspectos,
características e forma de aplicação.

CONCEITOS E TERMOS.

Conceituar a antropologia forense, sem antes conceituar o seu núcleo,


não atingiria o objetivo da presente dissertação. Assim, para plenos
esclarecimentos, a conceituação partira da medicina legal, que é de onde se
origina a antropologia forense e em seguida os termos que complementarão o
conceito desta ciência.
 Medicina legal: é uma especialidade concomitantemente médica e
jurídica que utiliza conhecimentos técnico-científicos da medicina para o
esclarecimento de fatos de interesse da justiça;
 Antropologia: ciência do homem no sentido mais lato, que engloba
origens, evolução, desenvolvimento físico, material e cultural, fisiologia,
psicologia características raciais, costumes sociais, crenças, etc;
 Forense: relativo aos tribunais e à justiça; jurídico, judiciário, judicial;
 Antropologia forense: é a área científica que estuda e aplica métodos
para individualização e identificação de raça, cor, idade, sexo em
indivíduos ou restos cadavéricos.

ANTROPOLOGIA FORENSE

A antropologia forense é a área da antropologia que interessa a


medicina legal, em especial em duas modalidades: a identificação policial ou
judiciária e a identificação médico-legal. Ainda que a antropologia possa ser
conceituada de forma simples, para ela existem diversos conceitos. Para
melhor compreensão buscou-se conceitos dos renomados doutrinadores da

34
área. Vejamos:
Segundo o Professor Doutor Hugo Filipe Violante Cardoso da
Associação Portuguesa de Ciência Forense temos que:
“Tradicionalmente, a Antropologia Forense ocupa-se de vários aspetos
da investigação médico-legal relacionada com a morte, nomeadamente quando
o cadáver do indivíduo se encontra em avançado estado de decomposição ou
esqueletizados. Nestes casos, o antropólogo forense aplica conhecimentos e
princípios teóricos e práticos desenvolvidos e utilizados pela antropologia,
biologia e pela arqueologia para responder a questões relacionadas com a
identidade, como seja o sexo ou a idade, assim como com as circunstâncias da
morte, através da análise e estudo detalhado dos restos ósseos e dentários do
indivíduo e do contexto físico em que ele foi encontrado. Mais recentemente,
na Europa e noutras partes do mundo, a aplicação de conhecimentos e
princípios de antropologia biológica tem-se estendido a áreas da medicina-legal
que envolvem indivíduos vivos. Nomeadamente a estimativa da idade em
indivíduos sobre os quais recai a suspeita de menoridade, em casos de
investigação da imputabilidade criminal ou de atribuição de asilo
político.”. (Autor Prof. Doutor Hugo Filipe Violante Cardoso).
Ainda sobre o tema, o Dr. André Vicente Pires Alves acrescenta:
“A Antropologia Forense consiste na aplicação dos conhecimentos da
antropologia física numa investigação de caráter forense, ou seja, numa
investigação legal, tentando estabelecer um perfil biológico, auxiliar na
determinação da causa de morte e estimativa do intervalo post mortem. Criada
por Thomas Dwight nos finais do século XIX, nos EUA, com o intuito de auxiliar
investigações legais, a antropologia forense é agora parte integrante do
conceito ciências forenses, sendo uma das principais intervenientes nas
investigações de crimes de guerra e desastres de massa tentando determinar o
perfil biológico de restos esqueletizados com vista à identificação dos mesmos.
Em Portugal, devido às suas características criminais, a antropologia forense
não assume um papel fundamental na maior parte das investigações criminais,
no entanto, na presença de restos esqueléticos é, juntamente com a
odontologia e a genética forense, a única ciência capaz de fornecer

35
informações essências à investigação de um crime. Para além da utilização em
cadáveres a antropologia forense pode ainda ser utilizada para determinar a
estatura de indivíduos presentes em gravações de câmaras de videovigilância
e na previsão das alterações sofridas fruto do envelhecimento de indivíduos
desaparecidos.”. (Autor Dr. André Vicente Pires Alves).
Concluímos então que o objetivo da Antropologia Forense é:
I. Determinar identidade do indivíduo (origem dos restos,
características gerais de identificação, características
individualizantes);
II. Determinar data da morte;
III. Determinar a causa da morte;
IV. Determinar o modo da morte (homicídio, suicídio, acidental, natural,
desconhecido);
V. Interpretar as circunstâncias da morte.

O trabalho de um antropólogo começa no local do crime e estende-se


até ao laboratório. Dividindo-se parcialmente em três etapas:
1º etapa – Arqueologia forense: É feita uma escavação minuciosa do local
onde se encontra o corpo.
2º etapa – Antropologia social: Consiste na recolha de informações em redor
da área do crime (entrevistas às pessoas da região, consultas em arquivos
municipais, eclesiásticos e militares, etc.)
3º etapa – Investigação: laboratorial. Há uma aplicação de técnicas como a
osteologia humana (área que se debruça sobre o estudo dos ossos que
compõe o esqueleto), paleopatologia (ramo da ciência que se dedica ao estudo

36
das doenças do passado) e tafonomia (estudo sistemático da evolução de
fósseis). Pode ainda ser feita uma reconstrução facial do cadáver e
superposição fotográfica.
Os estudos da antropologia forense têm como objetivo o sucesso das
investigações criminais. Vale ressaltar que a participação de antropólogos
forenses se inicia no momento da recuperação das evidências, que são
extremamente importantes para aclaramento dos fatos. Assim, com a aplicação
dos métodos e técnicas próprias é possível atingir os resultados pretendidos
das análises.

Quando requisitados, os primeiros trabalhos dos técnicos no local das


averiguações é estabelecer se existem restos humanos no local (tecidos ou
ossadas), pois eventualmente podem ser de animais. Assim que identificada a
natureza humana da evidência, começa o trabalho de preservação, remoção,
documentação de todas as fases e aspectos físicos do material colhido.
Realizando-se a perícia é possível determinar as características do sujeito
antes de sua morte e condições desta.

37
 Determinação do sexo: O primeiro parâmetro a ser observado será o
sexo. Analisa-se a pélvis ou bacia, sendo este o elemento mais
importante nesta determinação, haja vista a grande desproporção entre
os sexos neste osso.
 Determinação de idade: É incontestável na avaliação da idade,
principalmente até os 21 anos, o estudo radiológico do sistema ósseo
(punho, palma da mão, cotovelo) de um lado apenas (direito) visando o
aparecimento de pontos de ossificação e soldaduras dos ossos.
Importante ressaltar que na fase infantil, juvenil ou adulta requer análise
macroscópica de indicadores diferentes.
 Estimativa de estatura: quando não se tem a integralidade dos ossos,
é possível determinar a estatura aproximada de acordo com as medidas
dos ossos encontrados, pois estes normalmente guardam proporção
com os outros.
 Afinidades popolacionais (raça): grupos humanos apresentam
características esqueléticas que permitem determinar a que grupo
pertencia o cadáver a partir de comparação. Assim, determina-se a raça.
Para determinação da raça o crânio fornece os melhores elementos de
diferenciação, sendo feito exame: detalhando os contornos vertical,
horizontal, anterior e posterior e lateral.

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Atualmente a identificação também pode ser realizada mediante exame
da DNA, quando há material genético comparativo à disposição.
Após essas etapas e métodos o antropólogo forese procederá à análise
dos restos esqueléticos a fim de colher evidências que permitam determinar a
causa da morte e em quais circunstâncias ocorreu.
Apesar da analise antropológica ser uma parte bastante relevante na
investigação, é importante frisar que na maioria das vezes, a causa de morte
ou circunstâncias não são envolvidas apenas com análise dos restos da
ossada. Em outras palavras, o antropólogo deverá, a partir de uma lesão
óssea, caracterizar a ação ou ferramenta utilizada, qual a direção e a força
empenhada, para que o potologista forense possa estimar as lesões e a sua
severidade ao nível.
O exame pormenorizado das informações colhidas no desenvolver desta
dissertação demonstra que as técnicas e métodos aplicados no campo da
antropologia são bastante seguros na investigação criminal. A antropologia
forense possui um índice muito alto em resolução de crimes, pois mesmo em
avançado estado e deterioração dos corpos é possível determinar diversos
aspectos que envolvem a vítima e o crime, sendo fica clara a relevância desta
ciência de distinção para o campo jurídico.

ETAPAS PARA A LIBERAÇÃO DE UM CORPO

1º PASSO: ATESTADO DE ÓBITO

O primeiro passo após o falecimento de uma pessoa é obter o Atestado


de Óbito, documento sem o qual nenhuma outra providência pode ser tomada
em relação ao falecido.
O Atestado de Óbito é um documento atestando o falecimento e a causa
da morte, fornecido por um médico, que será determinado pelas circunstâncias
em que o falecimento ocorreu. As circunstâncias que ocasionarão a emissão
do Atestado de Óbito de maneira diferente dependem do tipo de morte (Natural
e Não Natural / Acidental) e o local onde está ocorreu (casa, hospital ou via

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pública).
Morte Natural é aquela que ocorre em consequência de causas naturais
como envelhecimento, doenças, sem a contribuição de qualquer fator externo.
Morte Não Natural/Acidental é aquela que ocorre por causas externas.
Quedas, atropelamentos, afogamentos, homicídios, suicídios caracterizam
mortes violentas.
Vamos abordar cada caso e identificar quem será o responsável por lhe
fornecer o ATESTADO DE ÓBITO:
Em caso de morte natural:
 Em Casa, acompanhada por um médico da família – O próprio médico
da família providenciará o atestado de óbito;
 Em Casa, sem acompanhamento médico – A família deve procurar o
distrito policial mais próximo e solicitar a remoção do corpo para o
Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) ou o Instituto Médico Legal do
município (IML). Neste caso é um médico do SVO ou IML quem emitirá,
depois dos exames, o atestado de óbito;
 No Hospital – O próprio médico do hospital que acompanhou o falecido
fornecerá o atestado de óbito;
 Em Via Pública – Nestes casos, quando acontece em via pública, o
corpo é encaminhado ao hospital municipal e a família deverá
comparecer para retirar a declaração de óbito.
Em caso de morte não natural/acidental:
 Em Casa, deve-se procurar o distrito policial mais próximo para o
registro da ocorrência e solicitar a remoção do corpo para o Serviço de
Verificação de Óbitos (SVO) ou o Instituto Médico Legal do município
(IML). Neste caso é um médico do SVO ou IML quem emitirá, depois
dos exames, o atestado de óbito;
 No Hospital, se a morte for considerada violenta o corpo será
encaminhado ao IML e a família deverá comparecer a uma Delegacia de
Polícia para registrar o Boletim de Ocorrência. Após este procedimento a
família deverá comparecer ao IML para retirar a declaração de óbito;
 Em Via Pública – Neste caso a família deverá registrar o Boletim de

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Ocorrência na Delegacia de Polícia. Após a liberação da polícia técnica,
o corpo será encaminhado ao IML, e então a família poderá retirar a
declaração de óbito.

2° PASSO: SERVIÇO FUNERÁRIO – PROVIDÊNCIAS PARA O VELÓRIO E


ENTERRO/CREMAÇÃO:

Depois de obter o atestado de óbito, a família ou responsável deve


procurar a agência de serviço funerário municipal ou uma casa funerária, para
contratar o velório e o funeral. Para contratar estes serviços, devem-se levar os
seguintes documentos do falecido:
 Atestado de óbito assinado por um médico para sepultamento;
 No caso de cremação, dois médicos deverão assinar o Atestado. Em
caso de Morte Violenta, é necessária também a apresentação de uma
autorização judicial.
 Cédula de Identidade;
 Certidão de Nascimento (em caso de falecidos menores) ou Certidão
de Casamento;
 Carteira Profissional;
 Título Eleitoral;
 Certificado de Reservista;
 CPF;
 Cartão do INSS;
 PIS/PASEP.
Apresentados estes documentos, o funcionário do Serviço Funerário
procederá ao REGISTRO DO ÓBITO com todos os dados do falecido e o
anexará ao Atestado de Óbito para envio ao Cartório de Registro Civil do
Distrito onde ocorreu a morte. Após a emissão do registro de óbito é entregue
um protocolo ao declarante para a retirada da CERTIDÃO DE ÓBITO em
cartório após 5 dias úteis. A partir da efetivação do registro de óbito a equipe
da funerária realiza a remoção do corpo, na residência, IML ou hospital.

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 Velório: O velório pode ser realizado em hospitais, igrejas, residências
ou nos velórios municipais. A escolha do local deve ser feita no
momento da contratação do funeral, e contará com a ajuda do
funcionário da agência para sua reserva no horário escolhido. Caso se
opte por um velório particular (igreja, hospital e residência), a agência
cobrará taxa de remoção do corpo e taxa de serviço pelo transporte de
materiais como artigos religiosos e enfeites florais.
 Enterro: O funcionário da agência auxiliará na reserva Cemitério mais
próximo à residência, ou aquele que apresente disponibilidade de vagas.
Caso a família possua alguma concessão em algum Cemitério, deve
citá-la ao funcionário para a reserva do funeral.
 Cremação: Nos municípios que possuem serviço de cremação, os
procedimentos são os mesmos que os adotados para a reserva de
cemitérios, desde que apresentada a documentação extra exigida,
conforme mencionado acima.

IMPORTANTE

Dispensa de Pagamento de Taxas Funerárias


Pela Lei 11.083/ 91, é concedida, aos moradores da cidade de São
Paulo que não tenham condições de pagar as despesas do funeral, a
gratuidade dos meios e procedimentos necessários ao sepultamento. Para que
obtenha dispensa, é necessário que comunique à agência funerária, que
informará qual o procedimento para que seja garantida a gratuidade no
sepultamento. Não é necessária a apresentação de atestado de pobreza, basta
apenas que ela seja declarada pelo interessado;
No Estado de São Paulo há também o auxílio funeral concedido aos
servidores embasado na Lei nº. 10.261, de 28 de outubro de 1968;
Além disso, conforme Lei 11.479/ 94, regulamentada pelo Decreto
35.198/ 95, a família da pessoa que tiver doado algum órgão para fins de
transplante médico poderá se beneficiar da dispensa do pagamento de
algumas taxas, emolumentos e tarifas do funeral. Para isso, na contratação do

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funeral, a família deverá apresentar o comprovante de doação de órgãos do
falecido, bem como da imediata comunicação do óbito à instituição médica
habilitada em receber os órgãos.
Não é necessária a comprovação de efetivo aproveitamento dos órgãos
doados.

3º PASSO: CERTIDÃO DE ÓBITO:

Depois do velório e do funeral, a família deve ainda providenciar a


Certidão de Óbito do falecido. A Certidão de Óbito, também conhecida como
óbito definitivo, é um documento diferente do Atestado de Óbito e é o registro
do óbito no Cartório Civil do distrito onde ocorreu o falecimento.
Para obter a Certidão de Óbito, o funcionário do Serviço
Funerário colherá os dados da pessoa que faleceu e os encaminhará para o
Cartório de Registro Civil do distrito onde ocorreu a morte e será entregue, a
um dos familiares, um protocolo que possibilita a retirada desta certidão no
cartório, em até 5 dias.

4º PASSO: DOCUMENTOS E CONTAS DO FALECIDO

É importante acompanhar o encerramento de contas e documentos do


falecido, de forma a evitar que alguém venha a fazer uso de seus dados. A
seguir descrevemos os procedimentos básicos a serem adotados pelos
familiares.

Cancelar o RG e Carteira de Motorista

Os Cartórios de Registro Civil, após a emissão da Certidão de Óbito,


enviarão comunicação aos órgãos emissores, para o cancelamento dos
devidos documentos. Caso haja alguma falha, a família deverá comparecer às
Secretarias de Segurança e/ou Detrans, munida da Certidão de Óbito e solicitar
o cancelamento.

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Cancelar o Título de Eleitor

Mensalmente, após um cruzamento entre os dados do cadastro de


eleitores e os registros de óbito fornecidos pela Previdência Social, a zona
eleitoral procede a este cancelamento. Caso, por falha, este não ocorra,
cumpre à família do falecido comparecer à zona eleitoral, munida do Título de
Eleitor e Certidão de Óbito para solicitar a baixa.

Cancelar o CPF

É necessário o comparecimento a uma unidade de atendimento da


Receita Federal e, mediante a apresentação da Certidão de Óbito, o CPF do
falecido, e um documento de identidade, solicitar o cancelamento.
Caso o falecido tenha deixado bens, o CPF não pode ser cancelado,
mas transformado em um CPF temporário até a definição do espólio, para seu
posterior cancelamento.

Encerrar Contas Bancárias

Deve-se entrar em contato com o Banco/s em que o falecido mantinha


contas e aplicações e solicitar, mediante a apresentação da Certidão de Óbito
e documentos de Identidade, seu encerramento assim como o de eventuais
cartões de crédito/débito. Os valores que restarem depositados nessas
instituições serão incluídos no espólio para sua posterior destinação.

LAUDOS REALIZADOS NO IML

O Instituto Médico Legal, mais conhecido pela sua sigla IML, é


um instituto brasileiro responsável pelas necropsias e laudos cadavéricos para
Polícias Científicas de um determinado Estado na área de Medicina Legal. É
um órgão público subordinado à Secretaria de Estado da Segurança Pública.

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Conhecido também como Departamento Médico Legal, ou DML, por ser,
este órgão, vinculado à Secretaria de Estado de Segurança Pública através da
Superintendência de Polícia Técnica Científica. As atribuições são as mesmas.
Nos IMLs ou DMLs são realizados vários exames de corpo de delito e perícias,
como:
 Autópsia;
 Exame de tanatologia;
 Exame de toxicologia;
 Exame de lesões corporais;
 Exame de constatação de violência sexual;
 Exame de sanidade mental;
 Exame de constatação de idade;
 Exame de constatação de doença sexualmente transmissível.

PAPILOSCOPIA

Papiloscopia é a ciência forense que trata da identificação humana por


meio das papilas dérmicas. A palavra Papiloscopia é resultante de um
hibridismo greco-latino (Papilla = papila e Skopêin = examinar).
Papilas são pequenas saliências de natureza neurovascular, situadas na
parte externa (superficial) da derme, estando os seus ápices reproduzidos
pelos relevos observáveis na epiderme.
A Papiloscopia estuda a
identificação humana pelas digitais,
presentes nas palmas das mãos e na
sola dos pés. Tem como objetivo a
perícia e o estudo a fim de pesquisas
técnico-científicas, visando a
identificação em indivíduos vivos ou
mortos.
A coleta, identificação e arquivamento das impressões digitais humanas
acontecem muitas vezes em casos de crime nos quais é necessário o

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levantamento de provas que envolvem as digitais humanas na cena.
Podem também ser utilizadas as técnicas da papiloscopia para a
identificação de corpos que sofreram decomposição ou estão em estado de
difícil identificação.

O QUE FAZ UM PAPILOSCOPISTA?

Em meio a inúmeros procedimentos e processos voltados à apuração de


provas criminais, e também ligados à veracidade de um fato, a prova judicial é
o objeto mais importante da ciência processual, já que ela constitui os olhos do
processo.

Assim, a impressão digital deixada num local de crime é a prova mais


direta e incontestável da indicação da presença do indivíduo ou até mesmo da
autoria do delito, tornando a papiloscopia uma grande ferramenta judicial e
investigatória nesse sentido.
Para entendermos melhor o que é a Papiloscopia, como atuar nessa
área e quais os principais desafios, é importante saber um pouco da sua
história, conforme veremos a seguir.

ENTENDA MAIS SOBRE ESTA CIÊNCIA

A investigação das papilas dérmicas, presentes na palma das mãos e na


sola dos pés (impressões digitais) no Brasil começou por volta de 1901. Tem
suas divisões de pesquisa da seguinte maneira: datiloscopia, quiroscopia,
podoscopia, poroscopia e cristascopia.

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A datiloscopia é o processo de identificação humana pelas impressões
digitais (dedos). Já quiroscopia é o processo de identificação humana pelas
impressões palmares (mãos).
A podoscopia é o processo de identificação humana pelas impressões
plantares (pés). A poroscopia é o processo de identificação humana dos poros.
E a cristascopia é o processo de identificação humana pelo estudo das cristas
papilares.
A necropapiloscopia é a perícia realizada em cadáveres, que tem como
objetivo identificar pessoas falecidas cuja identidade é desconhecida; a sua
identificação será feita pelo confronto das impressões papilares.
Para a identificação de cadáveres existem técnicas adequadas para
cada situação em que se encontra o corpo. Todas essas técnicas fazem parte
da Papiloscopia e da atividade do profissional papiloscopista.
Na área Criminal, a Papiloscopia trata da identificação de pessoas
indiciadas em inquéritos ou acusadas em processo, confeccionando o Boletim
de Identificação Criminal (BIC) por força do Código de Processo Penal, o que
constitui uma forma de identificação obrigatória, bem como o levantamento de
impressões digitais em locais de crime.
Mundialmente, o caso criminal mais famoso da utilização desta ciência é
o de Will & William West.

O CASO WILL & WILLIAM WEST

Will e William West não eram irmãos, mas tinham nomes iguais, e em
1903 eles foram presos na Penitenciária Leavenworth no Kansas. O primeiro a
ser preso foi William, porém, alguns anos depois, com a chegada de Will e com
as incríveis semelhanças entre os dois, a polícia local decidiu investigar
seguindo o método de Bertillon – um método de obtenção de medidas criado
para identificação humana.
O sistema de identificação humana que consistia na medição das
diferentes partes do corpo foi batizado como uma homenagem ao policial
francês Alphonse Bertillon, em Paris (1879).

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Após constatar falhas no método Bertillon, e com a insistente afirmação
de Will, que dizia nunca ter sido preso antes, a polícia decidiu mudar a técnica
e partiu para a investigação das digitais, método que ainda era pouco usado na
época, mas que resolveu o problema.
Finalmente, após a conclusão de que Will e William West eram duas
pessoas distintas, a Papiloscopia passou a ser utilizada com maior frequência
nas prisões em todo o mundo.
O método se aperfeiçoou ao longo dos anos, e, com o auxílio da
tecnologia, hoje temos uma ciência muito mais assertiva do que há cem anos.

A perícia papiloscópica engloba local de crime, perícia em laboratório,


perícia em veículo, perícia necropapiloscópica, representação facial humana
(retrato falado), perícia prosopográfica, entre outras. Até hoje não foi
encontrado nenhum caso de duas pessoas com o mesmo conjunto de minúcias
de impressão digital.
O Papiloscopista é o profissional especialista e habilitado que faz uso da
papiloscopia para a identificação de pessoas e demais atividades de sua
responsabilidade.
A coleta de fragmentos humanos no local do crime é a principal atividade
de um papiloscopista. Mas o que faz um papiloscopista vai além da perícia,
pois esse profissional também está apto à confecção de documentos que

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utilizem as impressões digitais.
O papiloscopista é, em primeiro lugar, um policial civil ou federal e, além
das atribuições voltadas às técnicas da Papiloscopia, ele também pode
desenvolver atividades administrativas, como cumprir medidas de segurança
orgânica ou outras tarefas que lhe sejam atribuídas.

VIRTÓPSIA

As técnicas de necrópsia tradicionais possuem vantagens e


desvantagens, bem como aplicações distintas a depender do contexto. Nessa
modalidade, utilizam-se basicamente de instrumentos cirúrgicos associados a
métodos de dissecção. Entretanto, na contemporaneidade as ciências forenses
estão se aperfeiçoando e buscando incorporar métodos de imagem radiológica
a investigação da causa mortis, de forma a trazer mais agilidade no processo
de autópsia e ainda possibilitar que a reconstrução das imagens fique
documentada, podendo ser revisada a qualquer tempo, mesmo após a
inumação do corpo.
O termo virtópsia, ou autópsia virtual, incorporou a tomografia
computadorizada e ressonância magnética no exame cadavérico agregando
qualidade nas análises com auxílio da tecnologia.

TÉCNICAS DE NECRÓPSIA

As técnicas tradicionais de autópsia costumam ser variações das


técnicas de Virchow, Ghon ou Letulle. O método de Rokitansky que utiliza a
dissecção in sito dos órgãos não resistiu ao tempo. Pelo método de Virchow,
todos os órgãos são retirados individualmente. Quando adotado o estudo dos
órgãos pelo método de Ghon ou Letulle haverá a extração dor órgãos em
blocos (cervicais, torácicos, abdominais e geniturinários separadamente) ou em
monobloco (“em massa”). Todas as técnicas possuem limitações e vantagens
próprias.
No método de Virchow, apesar de ser valioso para mostrar alterações

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patológicas sacrifica as relações anatômicas dos órgãos. De tal forma, o
esclarecimento integral do caso pode ficar prejudicado. Diante de tal limitação
do método de Virchow temos as técnicas de Ghon e Letulle, que preservam as
relações anatômicas dos órgãos aos extirparem em monobloco. Todas os
correspondentes anatômicos de drenagem linfática e vasculatura são
preservados. A técnica de Letulle permite ainda que o corpo do cadáver seja
preparado mais rapidamente para o funeral, devido ao menor número de
dissecções nas cavidades do cadáver. Contudo, tais técnicas necessitam de

maior tempo de dissecção na mesa de necropsia e são difíceis de serem


realizadas por único médico.
No método de Ghon, a retirada em blocos separados permite mais
agilidade quando o procedimento for realizado por um médico. Algumas
limitações inerentes a essa técnica contraindicam o seu uso em casos de,
dissecção ou aneurismas de aorta e varizes ou neoplasias de esôfago. A
técnica de Rokitansky tem como vantagem a análise dos órgãos in situ,
condição que faz com que o tempo seja menor.
Nos Institutos Médico Legais (IML) a técnica de Virchow é a mais
comum. A técnica de Letulle e Ghon é mais utilizada nas necropsias clínicas.
Independente da técnica a ser utilizada a inspeção externa é um passo comum
e consiste em observar os itens identificação, inspeção e palpação. A
identificação do paciente geralmente encontra-se no hálux e deve ser checada
com a autorização de autopsia. Revisar o caso antes do início do procedimento

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ajuda na escolha da melhor abordagem. Deve-se estar preparado para mudar
a técnica a qualquer momento, dependendo dos achados encontrados no caso.
Além de proceder o adequado encaminhamento ao IML quando observar
lesões suspeitas de morte não natural.

NOVAS FORMAS DE NECROPSIA

Internacionalmente, alguns grupos são pioneiros em novas formas de


necropsia. No Brasil o projeto Plataforma de Imagens na Sala de Autópsia
(PISA), é um projeto de incorporação a nível internacional e com parcerias de
diversos países. Na atualidade, o Serviço de Verificação de Óbitos da Capital
(São Paulo) realiza cerca de 14.000 autopsias por ano, número que faz com
que o Brasil seja o país que mais realiza autopsias no mundo.

Essa iniciativa liga os departamentos de Patologia e Radiologia da


FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e uma das
linhas de pesquisa desenvolvidas consiste na realização de autopsia
minimamente invasiva. Para isso, conta com um aparelho de ressonância
magnética de 7T, sendo desenvolvidas várias pesquisas como exemplo a linha
de estudos em autopsia minimamente invasiva.
Com a tomografia computadorizada é possível obter imagens digitais
com secção transversal a partir de projeções radiográficas transaxiais.
Posteriormente, pode ser realizada a reconstrução em 2D ou 3D. A Tomografia
Multislice é de especial serventia em estudos antropológicos. A reestruturação
óssea permite a determinação da idade utilizando-se da mensuração óssea em

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diferentes ângulos. Ademais, permite a análise detalhada de fraturas, presença
de reação vital, reconstrução das lesões, coleções aéreas provenientes de
eventos embólicos, identificação de enfisema subcutâneo de natureza
traumática, dentre outros.
A Micro-TC auxilia ainda na vinculação de padrões de lesão óssea ao
instrumento vulnerante utilizado para agressão, por exemplo: facas.
Para explanar lesões de partes moles a ressonância magnética é
superior e consegue distinguir etiologias traumáticas e não traumáticas. De
forma valorosa cumpre a função de detalhar em dimensões tridimensionais as
sequelas balísticas na trajetória que o projétil segue no organismo.

VIRTÓPSIA

A virtópsia compõem-se de técnicas e tecnologias multidisciplinares que


combinam a medicina legal com: patologia, computação gráfica, biomecânica e
física. Existem muitas críticas aos novos métodos e além do alto custo, alguns
especialistas não se põem favoráveis a substituição da visão humana sobre as
estruturas para a realização dos diagnósticos em autopsia.
Todavia, a incorporação de novas tecnologias na área médica é uma
realidade e caberá aos profissionais médicos a aceitação da inserção de novas
práticas nas salas de autopsia.

NECROMAQUIAGEM

Você sabia que todos os cadáveres passam por uma sessão de


maquiagem, mesmo que básica? Saiba mais sobre a necromaquiagem e
descubra como funciona essa técnica.
Lidar com gente morta não é algo
muito confortável para a maioria das
pessoas, porém há profissionais
especializados em lidar com cadáveres
e que são apaixonados pelos seus

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ofícios, seja um médico legista, um auxiliar de necropsia ou ainda um
profissional de necromaquiagem.
Assim, para quem escolheu profissões como a necromaquiagem, estar
com os mortos é algo tão comum quanto lidar com cálculos, planos de
marketing ou planilhas de escritório.
Afinal, quando você se desprende do imaginário assombroso que os
filmes de terror fizeram questão de colocar na sua cabeça, tudo fica mais fácil e
a arte de maquiar pessoas mortas se torna algo comum e essencial.
Pois, embora o caminho do morto até o velório pareça algo simples, há muitos
profissionais que participam do serviço funerário para fazer com que o corpo
esteja pronto para a homenagem e ela seja marcante.
E esses profissionais lidam com um momento muito delicado na vida da
família. A depender da causa da morte, o cadáver pode estar ensanguentado,
roxo – em caso de sufocamento – ou machucado.
Claro que há casos que não podem ser recuperados – como um morto
baleado no rosto -, mas em casos que não são extremos o trabalho do
necromaquiador fará toda a diferença na hora do velório.
No fim das contas, todos querem guardar uma imagem bonita daquele
que se foi. E é isso que a necromaquiagem proporciona.

O que é a necromaquiagem?
Necromaquiagem é a arte de embelezar o rosto e corpo de um cadáver
para que ele seja enterrado com dignidade.
Logo, a necromaquiagem é um conjunto de técnicas utilizadas para que
a maquiagem fique natural e transmita um pouco de como o falecido era ainda
em vida.
A maquiagem para cadáveres pode ser apenas estética – para
embelezar e deixá-lo o mais próximo possível do que era quando vivo –
ou corretiva, em casos de mortes que tenham de alguma forma deformado o
rosto e que necessitem de um “reparo”.
Se você já foi em um velório, com certeza ao ver o corpo pensou
que “parece estar apenas dormindo”, certo?

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É incrível, mas essa aparência tão natural só é possível após o trabalho
de um especialista em maquiagem funerária.
E não pense que somente aqueles que eram mais vaidosos em vida
recebem esse cuidado.
Mesmo homens e idosos recebem pelo menos um pouco de creme
hidratante para vivificar a pele que, sem circulação de sangue, fica seca. E
também um pouco de correção da cor da pele.
Além disso, esse processo também envolve o auxiliar de necropsia que
ajudará a higienizar, vestir e pentear o morto para a homenagem da família no
velório.
No fim da sessão de maquiagem, o falecido estará pronto para ser
homenageado pela família.

Como é feita a necromaquiagem?


Esse processo varia de caso a caso. Em primeiro lugar, é importante
entender que em situações extremas, como a morte por um tiro de uma arma
com um calibre muito grosso na face, o velório deve ocorrer com caixão
fechado.
Afinal, ainda não há técnica capaz de recuperar algo tão violento. Por
isso, em caso de um tiro como esse, o procedimento seria retirar a bala e fazer
a sutura para fechar a cavidade. Porém, sem sangue correndo nas veias o
corpo não é capaz de cicatrizar a ferida.
Logo, nesse caso não há maquiagem que resolva, e o comum é que o
velório ocorra de caixão fechado.
Mas, para casos não extremos, existem duas opções: maquiagem
estética para trazer viscosidade e beleza à pele, e a maquiagem corretiva que
acontece em casos como afogamentos e outras doenças que alteram o rosto.
Em ambas as situações, cabe ao profissional o bom senso: não fazer
uma maquiagem pesada e carregada, a menos que a família solicite.
Afinal, a ocasião não é exatamente festiva para que o defunto utilize algo
fora do comum e também não cabe a esse momento experimentar um estilo
diferente do que o falecido usava.

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A família quer simplesmente uma boa lembrança. Por isso, é importante
que o responsável pela necromaquiagem faça um ótimo trabalho para que
aquele que está deitado no caixão seja bem lembrado.
Sobre os produtos usados, não são diferentes dos utilizados nos vivos.
Porém, a pele recebe uma hidratação antes já que, sem sangue correndo nas
veias, os produtos não aderem bem.
É claro que o necromaquiador precisará ter uma maleta sortida com os
mais diversos tons de base e algumas opções de pó, contorno e batons.
Porém, o necromaquiador não precisa das sombras da moda ou seguir
as tendências. Nesse caso, a elegância é a melhor das estratégias.

Quanto tempo demora uma sessão de maquiagem funerária?


O tempo que o profissional leva para fazer uma sessão de maquiagem
em um cadáver pode demorar de uma a quatro horas, dependendo do que
precisar ser corrigido e do que a família solicita.
Claro que a maquiagem apenas estética demanda menos tempo do que
a maquiagem corretora de deformidades causadas pela forma da morte.
E isso também depende do profissional e das técnicas que ele prefere
utilizar em seu trabalho.

Quanto tempo dura a necromaquiagem?


A maquiagem é feita para durar pelo tempo do velório. Como dissemos
acima, a pele sem vida tem problemas de aderência dos produtos devido a
falta de viscosidade que o corpo de um sujeito vivo costuma ter. Por isso, ela

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dura em média de três a quatro horas.
Porém, se o velório for se estender ou o corpo for sofrer um translado e
participar da homenagem em duas cidades diferentes, o ideal é que a
maquiagem seja retocada ou até mesmo refeita.

Maquiadores comuns podem maquiar cadáveres?


Como dissemos acima, as técnicas para estética – correção do tom da
pele com base, aplicação de máscara de cílios e batom, por exemplo – não são
diferentes para maquiar vivos ou mortos.
O que difere na prática é a preparação do corpo para receber esses
produtos. Afinal, se essa preparação muda de pele seca para peles oleosas,
imagine então para peles dos que já faleceram?
Por isso, se o seu ente era muito vaidoso e tinha o seu maquiador
preferido, é perfeitamente possível que ele possa descansar com a pele
preparada por ele. Claro que com o auxílio de um profissional já especialista da
área de maquiagem funerária.
Porém, para maquiagens corretivas, nas quais é necessário, por
exemplo, reconstituir o rosto após um evento traumático, é recomendado que
se busque pela ajuda de um profissional especializado na área.

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REFERÊNCIAS

http://anatomistaenecropsista.blogspot.com/2014/11/quimica-da-
tanatoconservacao.html

https://facilitaseguros.com.br/blog/o-que-e-tanatopraxia/

https://anecropsia.com.br/etica/

https://semanaacademica.org.br/artigo/lidando-com-morte-o-papel-do-auxiliar-
de-necropsia-em-um-exame-necroscopico

https://robertomacedosilva.jusbrasil.com.br/artigos/324035979/medicina-legal-
e-documentos-medico-legais

https://pt.wikipedia.org/wiki/Bacteriologia

https://www.nucleodoconhecimento.com.br/lei/medicina-legal

https://www.infoescola.com/microbiologia/bacterias-gram-positivas-e-gram-
negativas/

http://anatomistaenecropsista.blogspot.com/2012/05/temas-de-iml-higiene-e-
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https://minasfazciencia.com.br/2017/12/22/plastinacao-conheca-a-tecnica-para-
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https://gizmodo.uol.com.br/corpo-depois-morte/

https://paisemluto.org.br/guia/

https://centralfuneraria.co/curiosidades/necromaquiagem-conheca-mais-sobre-
a-arte-de-maquiar-pessoas-mortas/

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