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VINÍCIUS TEIXEIRA SILVA

Dispositivos utilizados na descompressão de lesões císticas odontogênicas na


cavidade bucal: revisão sistemática

São Paulo
2022
VINÍCIUS TEIXEIRA SILVA

Dispositivos utilizados na descompressão de lesões císticas odontogênicas na


cavidade: revisão sistemática

Versão Corrigida

Dissertação apresentada à Faculdade de


Odontologia da Universidade de São
Paulo, pelo Programa de Pós-Graduação
em Diagnóstico Bucal, Radiologia e
Imaginologia, para a obtenção do título de
mestre.

Orientador: Prof. Dr. Celso Augusto Lemos


Júnior

São Paulo
2022
Catalogação da Publicação
Serviço de Documentação Odontológica
Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo

Silva, Vinícius Teixeira .


Dispositivos utilizados na descompressão de lesões císticas odontogênicas na cavidade oral:
uma revisão sistemática / Vinícius Teixeira Silva; orientador Celso Augusto Lemos Júnior. -- São
Paulo, 2022.
44 p. : fig. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado) -- Programa de Pós-Graduação em Diagnóstico Bucal, Radiologia


Odontológica e Imaginologia. -- Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.
Versão corrigida.

1. Descompressão. 2. Cistos odontogênicos. 3. Dispositivos para descompressão de cistos. I.


Lemos Júnior, Celso Augusto. II. Título.

Fábio Jastwebski – Bibliotecário - CRB8/5280


Silva VT. Dispositivos utilizados na descompressão de lesões císticas odontogênicas
na cavidade bucal: revisão sistemática [dissertação]. São Paulo: Universidade de São
Paulo, Faculdade de Odontologia; 2022.

Aprovado em: 06 / 07 /2022

Banca Examinadora

Prof(a). Dr(a). Fábio de Abreu Alves


Instituição: Estomatologia -FOUSP. Julgamento: Aprovado

Prof(a). Dr(a). Élio Hitoshi Shinohara


Instituição: Hospital Regional de Osasco. Julgamento: Aprovado

Prof(a). Dr(a). Daniel Falbo Martins de Souza


Instituição: Américas -UHG. Julgamento: Aprovado
Dedico este trabalho à minha querida mãe Ana Maria Teixeira (in memoriam) a qual
foi a principal responsável pela minha formação como homem e profissional.
AGRADECIMENTOS

Agradeço à Deus por ter me concedido força e saúde em meio a um período


difícil da história. Agradeço à todos os meus familiares.
Agradeço a todos os professores da disciplina de Estomatologia da FOUSP:
Prof. Dr. Fábio de Abreu Alves, Prof. Dr. Norberto Nobuo Sugaya, Prof. Dra. Camila
de Barros Gallo, Prof. Dra. Andréa Lusvarghi Witzel e Prof. Dr. Dante Antônio Migliari.
Agradeço de maneira mais do que especial ao Prof. Dr. Celso Augusto Lemos Júnior
por me orientar neste trabalho e me transmitir sempre o caminho real da ciência.
Agradeço ao técnico da disciplina Laerte Zanon e à secretária Iracema Mascarenhas
Pires “Nina”.
Agradeço em especial aos seguintes professores por terem aceitado o convite
para fazerem parte desta banca, contribuindo em muito com este trabalho e minha
formação: Prof.Dr. Fábio de Abreu Alves, Prof. Dr. Élio Hitoshi Shinohara e Prof. Dr.
Daniel Falbo Martins de Souza.
Agradeço aos meus colegas e amigos do programa de pós-graduação em
Diagnóstico Bucal: Wladimir Gushiken de Campos, Caroline Leone, Camilla Esteves,
Bruno Marotta,Jun Ho Kim.
Agradeço à todos estagiários e alunos do departamento de Diagnóstico Bucal
que estiveram presentes comigo durante este período.
Agradeço aos meus colegas de equipe de Cirurgia Bucomaxilofacial pelo
incentivo na realização deste trabalho: Daniel Falbo Martins de Souza, Eduardo
Vasques da Fonseca, Bruna Caroline de Brito Ferreira, Mariana Pasculli Assef,
Tábatha Fernandes de Mello, Náthali Ramos La Blanca e Mariana Aparecida Brozoski.
RESUMO

Silva VT. Dispositivos utilizados na descompressão de lesões císticas odontogênicas


na cavidade oral: uma revisão sistemática [dissertação corrigida]. São Paulo:
Universidade de São Paulo, Faculdade de Odontologia; 2022. Versão Corrigida.

Os cistos odontogênicos são processos patológicos de origem do epitélio


odontogênico que ocorrem nos ossos gnáticos. A maioria dos cistos que acometem
os ossos gnáticos são originários do epitélio odontogênico. O tratamento pode ser
feito através da enucleação cirúrgica, ressecção óssea, ou com o auxílio de técnicas
cirúrgicas de marsupialização ou descompressão para obter a redução do tamanho
do cisto como também de preservar estruturas nobres na região. O estudo seguiu as
diretrizes Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis
(PRISMA) foi registrado na plataforma PROSPERO sob o número de protocolo:
CRD:42021239597. Uma estratégia Population, Intervention, Comparison, Outcome,
Study Design (PICOS) foi utilizada. Foram selecionados 08 artigos específicos sobre
a utilização de dispositivos de descompressão para cistos odontogênicos. De um total
de 181 lesões identificadas e comprovadas por exame anátomo-patológico, foram
encontrados 123 queratocistos, 40 cistos dentígeros, 09 cistos radiculares, 01 cisto de
origem epitelial, porém sem especificação e 08 ameloblastomas unicísticos. As
principais vantagens da descompressão foram minimizar as possiblidades de danos
a estruturas nobres anatômicas e objetivando uma cirurgia definitiva com menor
morbidade. As principais desvantagens foram: maior tempo de tratamento e
dependência da colaboração do paciente. Embora não haja uma resposta sobre qual
o melhor dispositivo utilizado para descompressão, este procedimento é benéfico ao
tratamento, principalmente em casos de lesões extensas. O objetivo deste trabalho foi
fazer uma revisão sistemática sobre os principais tipos de dispositivos utilizados para
descompressão de cistos odontogênicos e integrando os dados publicados
disponíveis sobre as indicações, tipos, vantagens e desvantagens dos dispositivos
utilizados na descompressão de lesões císticas odontogênicas na cavidade oral.

Palavras-chave: Cisto Odontogênico; Descompressão; Dispositivos de Fixação


Cirúrgica.
ABSTRACT

Silva VT. Odontogenic Devices used for decompression of odontogenic cysts in oral
cavity: a systematic review [corrected dissertation]. São Paulo: Universidade de São
Paulo, Faculdade de Odontologia; 2022. Versão Corrigida.

odontogenic cysts are processes that occur in the gnathic bones. Most cysts that
affect the gnathic bones originate from the odontogenic epithelium. The treatment
can be done through surgical enucleation, bone resection, or with the aid of surgical
techniques of marsupialization or decompression to obtain the reduction of the size of
the cyst as well as to preserve noble structures in the region. The study followed the
Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis (PRISMA)
guidelines and was registered on the PROSPERO platform under protocol number:
CRD:42021239597. A Population, Intervention, Comparison, Outcome, Study Design
(PICOS) strategy was used. Eight specific articles on the use of decompression
devices for odontogenic cysts were selected. From a total of 181 lesions identified
and confirmed by anatomopathological examination, 123 keratocysts, 40 dentigerous
cysts, 09 radicular cysts, 01 cyst of epithelial origin, but without specification and 08
unicystic ameloblastomas were found. The main advantages of decompression were
minimizing the possibility of damage to important anatomical structures and aiming at
a definitive surgery with less morbidity. The main disadvantages were longer
treatment time and dependence on patient cooperation. Although there is no answer
about the best device used for decompression, this procedure is beneficial to the
treatment, especially in cases of extensive injuries. The objective of this work was to
make a systematic review on the main types of devices used for decompression of
odontogenic cysts and integrating the published data available on the indications,
types, advantages and disadvantages of the devices used in the decompression of
odontogenic cystic lesions in the oral cavity.

Keywords: Odontogenic Cyst; Decompression; Devices, Surgical Fixation.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 15
2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................. 17
3 PROPOSIÇÃO.................................................................................................... 23
4 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................. 25
5 RESULTADOS ................................................................................................... 29
6 DISCUSSÃO....................................................................................................... 35
7 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 39
REFERÊNCIAS .................................................................................................. 41
15

1 INTRODUÇÃO

Os cistos são cavidades patológicas que contém material fluido ou semissólido


circundado por uma camada de epitélio. A maioria dos cistos que acometem os ossos
gnáticos são originários do epitélio odontogênico.(1) As lesões císticas são as
doenças intraósseas mais prevalentes nos maxilares, as manifestações mais comuns
desse tipo de lesão são: aumento de volume, muitas vezes indolor, tais lesões podem
acometer estruturas nobres importantes anatômicas tais como: nervo alveolar inferior,
seio maxilar e podendo também causar deslocamentos dentários e reabsorções de
raízes dentárias.(2)
O tratamento dos cistos odontogênicos é cirúrgico. A cirurgia de enucleação
também conhecida como cistectomia é o tratamento de escolha, porém dependendo
do tamanho da lesão procedimentos coadjuvantes como a descompressão ou a
marsupialização podem ser indicados com o objetivo de diminuir o tamanho do cisto
e proporcionando uma cirurgia definitiva com menor morbidade e preservando
estruturas anatômicas nobres tais como nervo alveolar inferior, seio maxilar e dentes.
O tratamento mais agressivo como a ressecção também é citado.(3)
A descompressão cirúrgica trata-se de um procedimento no qual objetiva
reduzir o tamanho da lesão cística, proporcionando uma cirurgia com menor
morbidade para o paciente e preservando estruturas nobres anatômicas. O
procedimento consiste na criação de uma fenestração na membrana cística e através
da colocação de algum tipo de dispositivo para manter essa fenestração aberta e
patente logrando a redução da pressão osmótica intraluminal da lesão e
consequentemente a redução do tamanho do cisto, tratando-se de uma manobra de
suma importância para o tratamento de cistos odontogênicos principalmente nos
casos de lesões extensas nos maxilares.
O objetivo de marsupialização e descompressão são os mesmos, redução da
pressão osmótica intraluminal para consequente redução do tamanho do cisto, no
caso da marsupialização não há a colocação de um dispositivo para manter aberta a
cavidade cística como ocorre na descompressão. Tanto a marsupialização quanto a
descompressão também são citadas como tratamento definitivo destes tipos de
lesões.(1)
16

Devido a grande quantidade de tipos de dispositivos para a descompressão


cirúrgica de cistos odontogênicos relatados na literatura, o objetivo deste trabalho foi
fazer uma revisão sistemática sobre os principais tipos de dispositivos utilizados para
descompressão de cistos odontogênicos e integrando os dados publicados
disponíveis sobre as indicações, tipos, vantagens e desvantagens dos dispositivos
utilizados na descompressão de lesões císticas odontogênicas na cavidade oral.
17

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 CISTOS ODONTOGÊNICOS

Um dos primeiros relatos de lesões císticas que acometem os maxilares foi


descrito por Ien Scultet em 1671, onde ele se referia a estes tipos de lesões como
“tumores líquidos”. Em 1774 John Hunter descreveu um caso o qual parecia se tratar
de um paciente portador de um cisto odontogênico. O cisto periapical foi descrito por
Brown em 1839 e o cisto dentígero foi descrito em 1842. Em 1853 o patologista
britânico James Paget utilizou o termo cisto dentígero para referir a qualquer cisto de
origem dentária.(4) O queratocisto foi reportado literatura em 1956 por Philipsen.(5)

2.1.1 Fisiopatologia

Cisto é uma cavidade patológica benigna que contêm material fluido ou


semissólido em seu interior, circundado por uma camada de epitélio. Alguns cistos
são formados por epitélio que ficou retido nas linhas de fusões embriológicas o qual
ficou aprisionado. A maioria dos cistos nos maxilares são formados por epitélio de
origem odontogênico e por tanto são denominados como cistos odontogênicos.
Os cistos odontogênicos são formados por células do folículo dentário ou
células remanescentes do epitélio odontogênico tais como células do epitélio do órgão
reduzido do esmalte, restos de Malassez, bainha epitelial de Hertwig ou restos de
Serres. Os cistos odontogênicos crescem por aumento da pressão osmótica em seu
interior, levando a uma atividade de células osteoclásticas ao redor da lesão
culminando com osteólise concomitante com o aumento do tamanho do cisto,
podendo atingir grandes dimensões em tamanho.(1)

2.1.2 Classificação

Os cistos podem ser classificados como inflamatórios ou de desenvolvimentos,


segundo a classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2017, O
queratocisto e o cisto epitelial calcificante deixaram de ser considerados neoplasias
como na classificação de 2005 e voltaram a ser considerados como lesões císticas.
18

Já os cistos primordiais foram removidos e não são mais utilizados como


sinônimos dos queratocistos, o cisto odontogênico ortoqueratinizado continua sendo
uma entidade a parte dos queratocistos.(6)

2.1.3 Sinais e sintomas

O crescimento dos cistos é lento, e algumas vezes pode ser de maneira


assintomática, e muitas vezes a lesão é diagnosticada como um achado radiográfico.
Quando presentes os principais sinais e sintomas são: assimetria facial,
deslocamentos dentários, dor (quando associado a algum processo infeccioso ou
inflamatório) e como complicação em casos de lesões extensas as quais podem
ocasionar fratura de mandíbula.(7)

2.1.4 Diagnóstico

Um bom exame físico complementado por exames de imagens tais como


radiografias panorâmicas ou até mesmo tomografia computadorizada, são de suma
importância além de colher a história do paciente na anamnese para se pensar em
hipóteses diagnósticas que incluam a possibilidade de cisto odontogênico, o
diagnóstico será fechado através da realização de biópsia e confirmação feita pelo
exame histopatológico.(8)

2.1.5 Epidemiologia

Os cistos periapicais são os cistos mais frequentes nos maxilares, sua


incidência varia de 7% até 54%.(9) O queratocisto pode corresponder em média a
11% do total de lesões císticas e mais frequentemente é encontrado em ramo e ângulo
de mandíbula.(10)

2.2 TRATAMENTO DOS CISTOS ODONTOGÊNICOS


19

2.2.1 Enucleação

Também conhecido como cistectomia, procedimento descrito por Partsch em


1910 consiste na remoção cirúrgica do cisto por inteiro, tratando-se do procedimento
mais rápido, porém em casos de lesões extensas onde o cisto está em íntimo contato
com estruturas nobres tais como seio maxilar, nervo alveolar inferior, nervo
infraorbitário e cavidade nasal. Em casos de lesões com maiores taxas de recidivas
como por exemplo o queratocisto, pode-se lançar a mão de tratamento coadjuvante
da cavidade óssea tais como: crioterapia, solução de Carnoy ou ostectomia
periférica.(11)

2.2.2 Marsupialização

Procedimento descrito por Partsch em 1882, também conhecido como


cistostomia, que consiste na criação de um stoma, ou seja uma comunicação com o
interior da cavidade cística através da remoção de um pedaço da membrana, e então
sutura-se a membrana do cisto junto a mucosa oral adjacente mantendo uma via
pérvia ampla que promoverá diminuição da pressão osmótica no interior da lesão
culminando em redução de seu tamanho e neoformação óssea.(7) A marsupialização
é descrita tanto como tratamento complementar objetivando um cirurgia de
enucleação com menor comorbidade para o paciente e também é descrita por alguns
autores como tratamento definitivo.

2.2.3 Descompressão

Descrito por Thomas em 1947 baseado nos princípios de Partsch, a


descompressão abrange o procedimento de marsupialização, diferindo apenas que
neste procedimento há a instalação de um dispositivo no interior da cavidade cística
afim de manter uma comunicação patente entre o interior da lesão e a cavidade bucal
corroborando para a diminuição da pressão osmótica e consequentemente diminuindo
o tamanho do cisto.(12) Estes dispositivos podem ser fixados através de suturas na
mucosa oral, amarrias com fio de aço em dentes adjacentes, dispositivos ortodônticos
colados ao dente adjacente e também através de placas e parafusos de titânio.(13)
20

Tolstunov (14) sugere 5 quesitos ideais para um dispositivo de descompressão:


que ele possua um formato com certa retentividade para impedir o deslocamento para
o interior ou para fora da lesão, não interfira na mastigação, fácil adaptação e sutura
na mucosa adjacente, que seja de fácil manejo para o paciente limpar e irrigar a
cavidade cística diariamente e que não acumule resíduos alimentares. Catunda
sugere mais algumas características ideais tais como baixo custo e radiopacidade
para a visualização em exames de imagens radiográficas.(14) A descompressão pode
ser um procedimento mais fácil de se realizar e mais estável comparando com a
marsupialização. (15)

2.2.4. Dispositivos para descompressão

Existem inúmeros dispositivos relatados na literatura tais como: tubo de


polietileno, sugador de saliva, sonda Foley, dispositivos confeccionados em resina
acrílica, tubos para anestesia pediátrica entre tantos outros. Estes dispositivos são
fixados mais comumente através de suturas nas mucosas adjacentes. Outras técnicas
de fixação dos dispositivos incluem amarrias dentárias com fio de aço, ou através do
próprio aparelho ortodônticos. Casos em que são necessários um maior período de
descompressão, existem relatos na literatura da fixação destes dispositivos através
de parafusos ou placas e parafusos de titânio. (5,12)
Jungwirth (16) relata um caso onde foi feito um dispositivo customizado através
de planejamento virtual, dispositivo esse em aço e fixado através de placas e
parafusos de titânio nas corticais ósseas. Kimura relata a utilização de um tubo de
silicone fixado através de amarria com fio de aço no dente adjacente, o mesmo autor
relata ser mais estável a fixação com amarrias de fio de aço ao invés das suturas nas
mucosas adjacentes, pois estas podem se soltar e causar o deslocamento do
dispositivo tanto para dentro ou para fora da cavidade cística. (17) Zhu relata a
utilização de tubos de aço fixado em brackets ortodônticos. (18) Torul relata a
utilização de uma chupeta adaptada para a descompressão de um cisto residual
grande em mandíbula em um paciente de 93 anos.(19)
21

Figura 2.1 - Sonda Folley fixada com amarria interdentárias com fio de aço

Fonte: O autor.

2.2.5 Complicações

As principais complicações passíveis de acontecer em relação aos dispositivos


de descompressão são: obstrução por detritos alimentares, deslocamento do
dispositivo tanto para dentro ou para fora da cavidade cística, soltura precoce do
dispositivo e infecção local.(20)
23

3 PROPOSIÇÃO

Fazer uma revisão sistemática sobre os principais tipos de dispositivos utilizados


para descompressão de cistos odontogênicos e integrando os dados publicados
disponíveis sobre as indicações, tipos, vantagens e desvantagens dos dispositivos
utilizados na descompressão de lesões císticas odontogênicas na cavidade oral.
25

4 MATERIAL E MÉTODOS

O estudo seguiu as diretrizes Preferred Reporting Items for Systematic Reviews


and Meta-Analysis (PRISMA) foi registrado na plataforma PROSPERO sob o número
de protocolo: CRD:42021239597. Uma estratégia Population, Intervention,
Comparison, Outcome, Study Design (PICOS) foi utilizada.

P - Pacientes diagnosticados com cistos na cavidade bucal (Qualquer faixa etária,


qualquer tipo de cisto)
I - Descompressão com a utilização de algum dispositivo
C - Não haverá grupo controle, somente Intervenção
O - Resultados Primários: eficiência da redução cística
Resultados Secundários: Qualidade de vida (taxa de infecção, facilidade de
limpeza, estabilidade do dispositivo).
S - Todos os tipos de estudo, com no mínimo 10 casos descritos.

4.1 Estratégia e busca de dados

A pesquisa foi realizada nas bases Pubmed/Medline, Web of Science, Science


Direct, LILACS e Google Scholar almejando trabalhos publicados na língua inglesa,
sem restrições de datas das publicações, utilizando os seguintes termos
“decompression cyst” “decompression cyst’s devices” “odontogenic cysts”.
Foram utilizadas as seguintes Mesh Terms: (("mouth"[MeSH Terms] OR
"mouth"[All Fields] OR "oral"[All Fields]) AND ("cysts"[MeSH Terms] OR "cysts"[All
Fields] OR "cyst"[All Fields] OR "neurofibroma"[MeSH Terms] OR "neurofibroma"[All
Fields] OR "neurofibromas"[All Fields] OR "tumor s"[All Fields] OR "tumoral"[All Fields]
OR "tumorous"[All Fields] OR "tumour"[All Fields] OR "neoplasms"[MeSH Terms] OR
"neoplasms"[All Fields] OR "tumor"[All Fields] OR "tumour s"[All Fields] OR
"tumoural"[All Fields] OR "tumourous"[All Fields] OR "tumours"[All Fields] OR
"tumors"[All Fields]) AND ("decompress"[All Fields] OR "decompressed"[All Fields] OR
"decompresses"[All Fields] OR "decompressing"[All Fields] OR
"decompression"[MeSH Terms] OR "decompression"[All Fields] OR
"decompressions"[All Fields] OR "decompressive"[All Fields])) NOT ("case
reports"[Publication Type] OR "case report"[All Fields])
26

4.2 Critérios de inclusão

Estudos reportando casos e série de casos, ensaios clínicos randomizados, de


descompressão de cistos odontogênicos e os tipos de dispositivos utilizados durante
o período de descompressão, com no mínimo 10 pacientes. Todos os cistos
odontogênicos relatados devem ser comprovados através de biópsia em suas
respectivas publicações. Não houve restrições de trabalhos em relações à idade, sexo
e data de publicação. Apenas artigos publicados na língua inglesa fizeram parte dos
critérios de inclusão.

4.3 Critérios De Exclusão

Trabalhos sobre cistos odontogênicos onde não foram relatados a utilização de


dispositivos para a descompressão de cistos odontogênicos durante o tratamento.
Outros trabalhos que não entraram foram: revisões, editoriais, cartas ao editor,
opiniões pessoais, capítulos de livros, conferências, notas técnicas, estudos
experimentais (in vitro or in vivo), série de casos com número menor que 10 pacientes
e artigos de pacientes portadores da síndrome de Gorlin-Goltz.

4.4 Análise de dados

Dois revisores independentes coletaram os seguintes dados dos trabalhos


selecionados, tais dados como: idade, sexo, localização anatômica, diagnóstico
confirmado através de biópsia, tipo de padrão unilocular ou multilocular, tipo de
dispositivo utilizado para a descompressão, tipo de fixação deste dispositivo na
cavidade oral, tempo de descompressão, tratamento definito e taxas de recidivas. Em
caso de desacordo entre os dois revisores, um terceiro revisor foi acionado quando
necessário.

4.5 Seleção de artigos

A seleção dos artigos foi dividida em duas fases, na primeira fase, dois
revisores independentes após removerem os artigos duplicados, os títulos e os
resumos dos estudos foram checados e de um total de 495 artigos restaram 34. Na
27

segunda fase os 34 artigos foram lidos e apenas oito trabalhos preencheram os


requisitos de inclusão. Em ambas as fases nos casos de discordância entre os
autores, um terceiro revisor foi consultado. Todas as buscas foram finalizadas em
setembro de 2021. Referências em duplicada foram removidas com um gerenciador
de referências (Mendeley Desktop, Elsevier, New York).

4.6 Risco de viés dos estudos incluídos

A ferramenta The Joanna Briggs Institute Critical Appraisal Checklist for Case
Series foi utilizada para avaliar a qualidade dos estudos incluídos. A pontuação foi
discutida entre os revisores, sendo os estudos categorizados em “alto”, quando a
pontuação do estudo foi inferior a 49%, “moderado” quando a pontuação do estudo foi
entre 50 e 69%, e “baixo” quando a pontuação do estudo foi superior a 70%. Todos
os oito artigos foram classificados como baixo risco de viés.
29

5 RESULTADOS

Na primeira fase, nós encontramos 709 artigos nos bancos de dados


selecionados. Após a remoção dos artigos duplicados, restaram 495 artigos. Após a
leitura dos títulos e resumos, nós excluímos 461 artigos, e 34 artigos restaram.
Nenhum artigo do Google Scholar foi incluído nesta revisão. Foi realizada a leitura
completa dos artigos selecionados na primeira fase. Essa metodologia levou à
exclusão de 26 estudos, restando oito para análise final. Um fluxograma da
metodologia de seleção é mostrado na Figura 5.1.

5.1 Carcaterísticas dos estudos

Um total de oito estudos foram selecionados para a revisão, totalizando 221


pacientes. O número de casos em cada estudo variou de15 a 32. Todos os estudos
foram escritos em inglês. Os artigos foram publicados entre 1996 e 2021. Os estudos
selecionados estão listados no quadro 5.1..

5.2 Síntese dos resultados

Foram incluídos apenas estudos que analisaram os tipos de dispositivo


utilizados para descompressão de cistos odontogênicos (n=8)(20–27). Critérios foram
incluídos tais como gênero, faixa etária, hipótese diagnóstica, tipo de dispositivo
utilizado para descompressão, tempo de descompressão, recidiva, follow-up,
complicações, porcentagem de redução dos cistos com a descompressão e
localização anatômica.
30

Figura 5.1– Prisma flowchart

Fonte: O autor.

Destes oito trabalhos, dois artigos eram da China, dois dos Estados Unidos, um
do Brasil, um da Áustria, um da Turquia e um do Japão. Os anos das publicações
variaram de 1996 até 2021. Dos oito trabalhos apenas dois não especificaram os
grupos de pacientes em relação ao quesito sexo, Zhang et al (23) e Pogrel at al (27).
(Tabela 2)
31

Foram 79 mulheres contra 73 homens, a faixa etária dos pacientes variou de


05 até 87 anos.
De um total de 181 lesões identificadas e comprovadas por exame anátomo-
patológico, foram encontrados 123 queratocistos, 40 cistos dentígeros, 09 cistos
radiculares, 01 cisto de origem epitelial, porém sem especificação e 08
ameloblastomas unicísticos. Apenas o trabalho de Zhang não especificou os tipos de
cistos. (23)
Em relação aos tipos de dispositivos utilizados foram: tubo plástico, cilindro de
borracha, tubo de resina termoplástica, dreno de resina acrílica, placa de Hawley,
dreno de polietileno, sonda nasogástrica fixada com fio de aço e obturador em resina
acrílica. (20–27)
Apenas dois trabalhos relataram as taxas de recidivas Maurette 14,3% e Marker
8,9%. (21,26)
O período de follow-up variou de 04 meses até 10 anos, o período de
descompressão variou de 76 dias até 14 meses. Apenas dois autores citaram as
complicações que foram basicamente obstrução por detritos alimentares dos
dispositivos, deslocamento ou fratura do dispositivo e irritação da mucosa adjacente.
(20,25)
Três trabalhos citaram as taxas de diminuição do tamanho das lesões após o
período de descompressão, taxa as quais variaram de 50% até 81% de redução do
volume das lesões. (20,22,26)
Em relação a localização anatômica das lesões houve maior prevalência em
região de mandíbula principalmente na região de ângulo mandibular.
Quadro 5.2 – Lista dos oito artigos incluídos na revisão sistemática
Tipo de Porcentagem de
Idade Diagnóstico Tempo de Localização
Autor Ano País Pacientes dispositivo Recidivas Follow-up Complicações redução dos cistos
(média) histopatológico descompressão anatômica
utilizado (média)
Oclusão do dispositivo
por detritos; necrose
8 queratocistos, 5 por pressão;
20 Mandíbula
cistos radiculares, 6 desconforto dos
14 527 dias (11 ângulo da
Enislidis 200 14-72 cistos dentígeros e 1 Tubo plástico 76-1379 dias (média pacientes;
Áustria mulheres, Nenhuma (intervalo: 81% mandíbula +
et al. 4 anos (45) cisto epitelial sem personalizado 446) deslocamento do
6 homens 10-1431) 09 sínfise
classificação dispostivo para dentro
mandíbula)
adicional do lúmen cístico (2
casos); perda do
dispostivo (3 casos)
2 anos 16 lesões
19
Maurette 200 13-69 Cilindro de 3-14 meses (média (24.89 ± (53,3%) Ângulo
Brasil mulheres, 28 queratocistos 4 (14,3%) Nenhuma relatada Não relatada
et al. 6 anos (30) borracha 9,27) 9.74 e Ramo
9 homens
meses) Mandibular
Queratocisto 8,32
Cisto radicular
(dp 5,37); Cistos
11 20 queratocistos, 4 79.6%;
Tubo de resina radiculares 2,75 (dp
Gao et 201 mulheres, 5-11 anos cistos radiculares e Não Queratocisto
China termoplástica 0,96); 24 meses Nenhuma relatada Não informado
al. 4 21 (9) 8 ameloblastomas relatada 78.9%, e
personalizado Ameloblastoma
homens unicísticos Ameloblastoma
unicístico 9,75 (dp
Unicístico 67.2%
2,67)
40 Dreno de Resina
Zhang et 202 pacientes Não Acrílica com Não Não Todos na
China Não Relatado 13 meses (+/- 3) Não Relatada Não relatada
al. 1 grupo Relatado conexão de Relatada Relatado Mandíbula
modelo silicone
7 em ângulo de
mandíbula, 5
6 16-57
Shudou 202 Obturador de 136 dias até 1150 Não Não ramo
Japão mulheres, anos 15 Queratocistos Não Relatada Não relatada
et al. 1 Resina Acrílica dias Relatada Relatado mandibular, 03
9 homens (35.9)
região anterior
de mandíbula
Obstrução do ducto,
Deslocamento do tubo
20 Mandíbula
Placa de Hawley em 06 casos, fratura do
Ugurlu 202 Turqui meninas, 5.97 meses (3 -9 Não região de
7.94 anos 34 Cistos Dentígeros modificada com 10 anos dispositivo em 02 Não relatada
et al. 1 a 14 meses) Houve molares
tubo de aço casos, irritação de
meninos decíduos
mucosa e dor em 05
casos.
47 anos Dreno de 13 anos
14
Marker 199 (10-87) Polietileno com 12 meses(grupo1) e grupo 1 e Ângulo e ramo
EUA homens, 9 23 Queratocistos 2 (8,9 %) Não Relatada 50% a 60%
et al. 6 25 anos achatamento nas 9,5 meses (grupo 2) 4.7 anos de mandíbula
mulheres
(14-37) extremidades (grupo 2)
Sonda de
alimentação
Pogrel et 201 Não pediátrica fixada Não 4 meses -
EUA 29 29 Queratocistos Não informado Não Relatada Não relatada Não relatado
al. 5 relatado com fio de aço houve 5 anos
em dente
adjacente

33
35

6 DISCUSSÃO

Os cistos odontogênicos são as lesões intraósseas mais comuns nos


maxilares, um diagnóstico preciso e um tratamento adequado são de suma
importância. Muitas vezes o diagnóstico deste tipo de patologia acaba sendo tardio
quando este tipo de lesão já atinge um tamanho extenso causando muitas vezes
algum tipo de deformidade facial.
O tratamento dos cistos odontogênicos é cirúrgico, sendo o mais indicado a
cistectomia, porém nos casos de lesões extensas onde este tipo de tratamento pode
causar algumas injúrias em estruturas anatômicas nobres, podemos lançar mão de
tratamentos coadjuvantes como a descompressão ou a marsupialização objetivando
uma redução do tamanho da lesão e consequentemente uma cirurgia definitiva com
menor morbidade em um segundo tempo operatório.
Descompressão e marsupialização podem ser indicadas tanto como tratamento
coadjuvante e até mesmo como tratamento definitivo para os cistos odontogênicos. O
objetivo de ambas as terapias é a redução da pressão osmótica dentro da cavidade
cística e consequentemente obter uma diminuição do tamanho do cisto.
A principal diferença entre descompressão e marsupialização é que na primeira
há a colocação de um dispositivo para manter a cavidade cística aberta e patente,
coisa que não ocorre na marsupialização, procedimento em que a membrana do cisto
é suturada na mucosa oral adjacente.
Embora haja muitos relatos de estudos sobre descompressão de cistos
odontogênicos na literatura e diversos tipos de dispositivos utilizados, não há uma
resposta sobre qual ou quais são os melhores tipos de dispositivos utilizados para
descompressão de cistos odontogênicos.
A maioria dos trabalhos citam as vantagens sobre o tratamento principalmente
de lesões císticas grandes, maiores do que três centímetros de diâmetro com a
utilização da descompressão ou mesmo marsupialização prévia a cirurgia de
cistectomia, objetivando um segundo ato cirúrgico com menor morbidade e com
prevenção de danos em estruturas anatômicas nobres tais como nervo alveolar
inferior, seio maxilar, raízes, germes dentários e mesmo até prevenção em relação a
fraturas patológicas de mandíbula. (20) O benefício do espessamento da membrana
do cisto após a descompressão também é citado como um agente facilitador na
cirurgia de cistectomia.(5) O importante em relação aos dispositivos de
36

descompressão segundo Tostunov (2) é que eles sejam estáveis na cavidade bucal,
sejam passíveis de fácil higienização e relativamente confortáveis para o paciente,
lembrando que muitos trabalhos citam como tempos médios de descompressão
períodos longos muitas vezes variando de um ano até dois anos. Alguns autores citam
a importância de o dispositivo conter algum marcador radiopaco para a monitorização
radiográfica durante o período de descompressão. (28)
Em relação às desvantagens sobre a descompressão temos um aumento da
duração do tempo de tratamento da lesão, desconforto devido ao dispositivo e
depende bastante da colaboração do paciente. (29)
Tabrizi (30) observou em sua revisão sistemática que houve uma menor taxa
de recidivas de queratocistos quando o tratamento somente de descompressão foi
realizado comparado com o tratamento somente de marsupialização, porém não
houve diferenças quando estas duas formas de tratamento foram complementadas
por cirurgias subsequentes como a enucleação. Alguns autores relatam que o uso da
técnica de descompressão não aparenta estar associado como fator de risco de
recidivas no tratamento de queratocisto. (31)
Quando optamos pela indicação da descompressão de cistos odontogênicos
grandes devemos pensar em períodos longos do uso do dispositivo de
descompressão, portanto o mesmo tem que ser o mais confortável possível para o
paciente, ser bem fixado além de orientar o paciente a fazer uma irrigação e
higienização do dispositivo. A cooperação do paciente ao tratamento é de suma
importância também, a perda do dispositivo ou a necessidade de uma nova
intervenção para a colocação de um novo dispositivo para descompressão muitas
vezes pode ser frustrante ao tratamento, principalmente em pacientes pediátricos.
Importante salientar também sobre o tipo de fixação do dispositivo na boca, a
fixação pode ser feita através de suturas na mucosa oral, sendo esta manobra a mais
frequente, porém alternativas são descritas como a fixação feita através de amarrias
com fio de aço ao dente adjacente mais próximo ou mesmo através de dispositivos
ortodônticos.
O período médio de descompressão nos trabalhos incluídos variou de 76 dias
até 14 meses, alguns autores citam também períodos longos de descompressão
podendo variar de um até dois anos e alguns casos em que a necessidade de
períodos mais longos de descompressão seja necessário, a utilização da fixação
37

através de placas e parafusos de titânio ou somente através de parafusos do


dispositivo pode ser indicada.(16,32)
O período de acompanhamento pós operatório por longo período também é de
suma importância tendo em vista que alguns cistos odontogênicos tem maior
probabilidade de ocorrer recidivas como no queratocisto.(33)
As principais complicações observadas nos estudos incluídos foram a oclusão
do dispositivo por obstrução do ducto, deslocamentos do dispositivo para o interior da
lesão, perda do dispositivo, fratura do mesmo e casos de irritação de mucosa. As
complicações por obstrução do dispositivo podem ser devido ao acúmulo de detritos
alimentares que pode acontecer principalmente devido a uma irrigação insuficiente do
mesmo. (20,29)Enislidis (20)corrobora com esses dados em seu trabalho.
Lesões grandes e em indivíduos jovens normalmente apresentam melhores
respostas à descompressão do que em pacientes com idades avançadas, fato esse
pode ser associado devido a um maior potencial osteogênico em pacientes jovens.
(2,34)
Nos estudos inclusos houve uma ligeira maior prevalência de lesões císticas
em mulheres o que difere de outros autores, em contrapartida em relação à faixa etária
que variou de 05 anos até 87 anos vai de acordo com a revisão sistemática de outros
autores, sendo que as lesões císticas podem ocorrer em qualquer faixa etária.(33)
As lesões císticas odontogênicas são mais frequentes em região de mandíbula
posterior, seis trabalhos relataram essa predileção anatômica. (5,10,20,24,25,35) Tal
fato pode ser associado à presença dos terceiros molares inclusos nessa região tendo
em vista que muitas lesões císticas são associadas com dentes inclusos, e alguns
autores suportam esses dados na literatura. (36)
Em relação à maior prevalência de queratocistos podemos levar em conta de
que alguns dos trabalhos inclusos nessa revisão sistemática foram específicos para
queratocistos. (5,21,24,37) Alguns autores citam como a lesão cística mais prevalente
nos maxilares o cisto dentígero. Outros trabalhos relatam o cisto radicular como o de
maior prevalência, variando de acordo com o autor. (15)
38

Embora o objetivo do trabalho não seja específico para avaliar a porcentagem


de redução das lesões císticas nos maxilares, apenas dois artigos relataram esta taxa
de redução o que corrobora com a maioria dos autores sobre o quão benéfica é a
descompressão de lesões extensas de cistos odontogênicos nos maxilares
objetivando uma cirurgia de cistectomia com menor morbidade para o paciente.
Diversos tipos de dispositivos são relatados na literatura, tais como: sugador
de saliva, sonda Folley, sonda Nasogástrica, dispositivos em resina acrília,
dispositivos de aço chupeta, dispositivos feitos de polietileno ou plástico.
Marker(26)relata que os dispositivos podem causar alguma reação inflamatória na
membrana dos cistos.
Zhang(23)relatou em seu trabalho o benefício de um dispositivo em acrílico
coberto por silicone mantendo a cavidade cística aberta, impedindo o deslocamento
de resíduos alimentares para dentro da cavidade evitando assim alguma possível
inflamação local. Ugurlu(25)utilizou para descompressão uma placa de Hawley
modificada e relatou que dos 34 pacientes tratados, 13 tivereram apenas
complicações leves tais como irritação da mucosa, fratura do dispositivo ou
mobilização do mesmo mas sem a necessidade de fazer um novo procedimento.
Pogrel(37)relata em seu trabalho que utilizou tubo de sonda nasogástrica
pediátrica para a descompressão de 29 queratocistos e não relatou nenhuma recidiva
em seu período de follow-up.
Gao (22)em seu trabalho observou que houve redução do tamanho das
seguinte lesões após o período de descompressão utilizando dispositivo customizado
feito de resina termoplástica: cisto radicular, queratocisto e ameloblastoma unicístico.
39

7 CONCLUSÃO

Embora não haja uma resposta sobre qual o melhor dispositivo utilizado para
descompressão de cistos odontogênicos, diversos tipos de dispositivos são relatados
e com diferentes técnicas de fixação. A descompressão é benéfica ao tratamento
principalmente nos casos de lesões císticas extensas. As principais vantagens da
utilização da técnica de descompressão são: evitar danos em estruturas anatômicas
nobres, permitir uma segunda cirurgia com menor morbidade. As principais
desvantagens são: maior tempo de tratamento e dependência da colaboração do
paciente. O importante do dispositivo é que ele seja o mais confortável possível, tenha
retentividade, seja estável na cavidade bucal além de ser de fácil higienização pelo
paciente.
41

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