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CAROLINE CORSO
CAXIAS DO SUL
2020
CAROLINE CORSO
CAXIAS DO SUL
2020
RESUMO
Introdução: A redução da carga microbiana deve ser alcançada após a terapia endodôntica,
entretanto muitas paredes dos canais radiculares não são tocadas, favorecendo a manutenção desses
microrganismos. Como forma de resolver esse problema foi proposta uma ampliação foraminal
associada ao preparo químico-mecânico, contudo não há um consenso sobre as vantagens desse
alargamento. Objetivo: investigar a hipótese de que a ampliação foraminal é benéfica para a melhora
do preparo, reduzindo a carga microbiana além de favorecer a irrigação. Materiais e métodos: um
relato de caso clínico com pesquisa bibliográfica no PubMed e Scielo usando os seguintes termos:
alargamento foraminal, patência foraminal, comprimento de trabalho, irrigação, PUI, endodontia,
preparo químico-mecânico. Resultados: O aumento foraminal estimula a reparação de lesões
periapicais, criando um ambiente mais favorável à cicatrização, outra vantagem é a eficácia química
da irrigação, que é aumentada permitindo uma penetração mais profunda da agulha de irrigação e um
maior volume de irrigantes atingindo o terço apical e melhora a troca de irrigação nessa região.
Conclusão: A instrumentação não deve ficar restrita ao limite CDC, devemos promover uma
ampliação foraminal, para promover ao máximo a redução das áreas intocadas e dos microrganismos,
dessa forma teremos maior previsibilidade do tratamento endodôntico.
Palavras-chave: endodontia; preparo de canal radicular; periodontite apical; forame apical; relato de
caso
ABSTRACT
Introduction: The reduction of microbial load must be achieved after endodontic therapy, however
many walls of the root canals are not touched, favoring the maintenance of these microorganisms. As
a way to solve this problem, a foraminal enlargement associated with the chemical-mechanical
preparation proposed, however there is no consensus on the advantages of this enlargement.
Objective: to investigate the hypothesis that foraminal enlargement is beneficial for improving the
preparation, reducing the microbial load in addition to favoring irrigation. Materials and methods:
a clinical case report with bibliographic research in PubMed and Scielo using the following terms:
foraminal enlargement, foraminal patency, working length, irrigation, PUI, endodontics, chemical-
mechanical preparation. Results: The foraminal increase stimulates the repair of periapical lesions,
creating a more favorable environment for healing, another advantage is the chemical efficiency of
irrigation, which is increased allowing a deeper penetration of the irrigation needle and a greater
volume of irrigants reaching the third apical and improves the irrigation exchange in that region.
Conclusion: The instrumentation should not be restricted to the CDC limit, we must promote a
foraminal enlargement, to promote as much as possible the reduction of untouched areas and
microorganisms, in this way we will have greater predictability of endodontic treatment.
Keywords: endodontics; root canal preparation; apical periodontitis; tooth apex; case report
INTRODUÇÃO:
O tratamento endodôntico depende da limpeza e remoção de microrganismos do sistema
radicular (PINTO et al., 2019). A preparação quimiomecânica do canal radicular é uma união dos
efeitos químicos dos agentes irrigantes e dos efeitos mecânicos da instrumentação para obter limpeza,
modelagem e desinfecção do canal radicular (RODRIGUES et al., 2017), sendo essa uma das etapas
cruciais no tratamento do canal radicular (DUQUE et al., 2019; PETERS; ARIAS; PAQUÉ, 2015).
O canal radicular ou dentinário até o limite apical sempre foi considerado o local que necessita
de modelagem, desinfecção e obturação tridimensional e esse limite nunca devia ser ultrapassado
pelo cirurgião-dentista (WEBBER, 2019). Entretanto com o surgimento do conceito de patência
apical com Buchanan em 1989 alterou nossa compreensão desse conceito e nossa visão do canal
cementário.
Atualmente estudos de micro-tomografia computadorizada demostraram que 11% a 48% da
área superficial do canal radicular permanecem despreparadas, independente da técnica de
instrumentação (PÉREZ et al., 2018; PETERS; ARIAS; PAQUÉ, 2015; SIQUEIRA et al., 2017) e
em canais ovalados, essa porcentagem varia de 16,08% a 32,38% (BORTOLUZZI et al., 2015; DE-
DEUS et al., 2015a; ZUOLO 2017). Podem permanecer inalterados tecidos e bactérias em paredes e
áreas despreparadas, além de que as bactérias penetram profundamente nos túbulos dentinários,
especialmente quando os dentes estão infectados (LASLAMI et al., 2018; PÉREZ et al., 2018; PINTO
et al., 2019) e para o resultado do tratamento representam um risco.
Essas superfícies do canal podem manter-se despreparadas pois o tamanho dos instrumentos
não é grande o suficiente para abranger toda a superfície das paredes ou pela forma do canal ser
irregular na secção transversal (oval ou achatada) (PÉREZ et al., 2018).
Uma zona crítica para o controle de infecções que tem sido considerada é a porção apical dos
sistemas de canais radiculares, a largura da preparação apical tem sido motivo de grande interesse e
debate (AMINOSHARIAE; KULILD, 2015; PÉREZ et al., 2018).
Atualmente o uso de instrumentos de níquel-titânio (NiTi) permite o aumento apical dos
canais radiculares, mantendo sua trajetória. Os instrumentos de NiTi tratados termicamente têm
melhor comportamento mecânico, flexibilidade e resistência à fadiga cíclica do que os instrumentos
NiTi convencionais e podem fornecer uma preparação centralizada em canais curvos (PINTO et al.,
2019).
A formatação e desinfecção do terço apical assume uma importância essencial no sucesso
do tratamento endodôntico (ÇAPAR et al., 2015; RODRIGUES et al., 2017), já que foi demonstrado
que 63% das falhas do tratamento endodôntico estão relacionadas à percolação apical devido um
selamento insuficiente (LASLAMI et al., 2018).
Estudos in vitro demostraram que houve maior redução bacteriana intracanal quanto maior o
tamanho da preparação apical dos canais infectados (RODRIGUES et al., 2017). Ainda que a
instrumentação do canal radicular deva ser grande o suficiente para eliminar dentina infectada,
bactérias e restos de polpa, ela não deve remover a dentina excedendo a ponto de comprometer a
integridade da raiz e ampliar os riscos de fratura (PÉREZ et al., 2018).
A ampliação apical ideal durante a preparação do canal radicular permanece controverso
(ÇAPAR et al., 2015). O diâmetro anatômico dos canais radiculares tem sido investigado
extensivamente em um esforço para identificar o tamanho ideal da instrumentação do canal apical
(JARA et al., 2018).
Um critério para determinar o tamanho da preparação apical é considerar cada canal como
uma entidade individual, medindo o diâmetro inicial do canal apical e estabelecendo o tamanho da
preparação final de acordo (geralmente 2 a 4 instrumentos maiores) (PÉREZ et al., 2018).
Desta forma, o presente estudo teve como objetivo investigar a hipótese de que a ampliação
foraminal é benéfica para a melhora do preparo reduzindo a carga microbiana além de favorecer a
irrigação.
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO:
PRÉ-ALARGAMENTO CORONAL
Várias vantagens são vistas diante do pré-alargamento coronal: prevenção de instrumentos presos no
canal, melhor acesso ao terço apical, impede alteração no comprimento de trabalho (CT) durante a preparação,
sensação tátil melhorada e permite um melhor controle sobre a instrumentação apical (RAMACHANDRAN;
KHAN, 2015).
No estudo de Ramachandran et al., 2015 eles observaram que uma ausência de pré-alargamento
coronal resultou em um tamanho menor do instrumento que se liga ao CT, o que refletiu uma disparidade entre
o valor da lima e o diâmetro anatômico.
É importante promover uma desinfecção da parte cervical e média do acesso para reduzir o número
bacteriano desta região para não haver transporte de microrganismos para a região apical, a técnica coroa-ápice
é uma ótima opção (MARION et al., 2019; MARSHALL & PAPIN, 1980).
Figura 4: Traçado preto é o forame maior e o traçado amarelo forame menor. * é canal dentinário e # é o canal cementário.
Fonte: WEBBER, J. Cemental canal instrumentation : a new concept. n. December, 2019.
A literatura não apresentou nenhuma substância química capaz de dissolver ou remover biofilme
bacteriano. As alterações periapicais estão associadas a microrganismos e tecido necrótico no interior do canal
radicular e nas proximidades do forame apical. Por conta disso, o processo da limpeza mecânica não pode se
limitar a um ponto no interior do canal (limite CDC), na medida que seu término se localiza no forame apical
(JOSÉ; MARION, 2013).
PATÊNCIA FORAMINAL
O terço apical pode abrigar um grande número de microrganismos responsáveis pela continuidade da
inflamação perirradicular, por isso é considerado uma zona crítica. Desse modo, a remoção do conteúdo do
canal radicular e limpeza foraminal são essenciais para aumentar a previsibilidade dos resultados do tratamento
endodôntico (ALBUQUERQUE et al., 2020; LASLAMI et al., 2018).
Buchanan, 1989 define patência apical um procedimento pela qual a porção apical é mantida livre de
detritos por recapitulação com um pequena lima flexível, que é movida passivamente pela constrição apical
0,5-1mm além do forame menor, sem alargá-lo (ALBUQUERQUE et al., 2020).
Esse processo gera condições biológicas mais convenientes a cicatrização e também fornece um
preparo centralizado do canal (ALBUQUERQUE et al., 2020).
No estudo de Vanni et al., 2005 demonstraram que a 1mm do ápice radiográfico o instrumento dá uma
sensação tátil de ajuste, mas na verdade, não toca nas paredes do canal neste momento. Webber, 2019 com
microscopia eletrônica de varredura (MEV) demonstrou claramente essa situação. O instrumento visto no
comprimento de trabalho não toca nas paredes do forame menor e se perde completamente dentro das paredes
do canal cementário, clinicamente, isso é visto.
Figura 5a: A imagem do MEV demonstra claramente a chamada "zona de constrição", o instrumento está solto e não toca
as paredes. Fonte: WEBBER, J. Cemental canal instrumentation : a new concept. n. December, 2019
Figura 5b: O instrumento visto no CT não toca as paredes do forame menor (parte sombreada ao seu redor) e está
completamente perdido dentro das paredes do canal cementário. Fonte: WEBBER, J. Cemental canal instrumentation : a
new concept. n. December, 2019
AMPLIAÇÃO FORAMINAL
O aumento foraminal estimula a reparação de lesões periapicais, com a hipótese que o preparo
apical reduz a infecção endodôntica, criando um ambiente mais favorável à cicatrização, visto que os
microrganismos são encontrados não apenas no canal dentinário, mas também no canal cementário
(fig 5b), estão fora do alcance da instrumentação convencional do canal, bem como o sistema
imunológico. (BRANDÃO et al., 2019; JARA et al., 2018; WEBBER, 2019).
Figura 6a: A porção mais apical de um dente com necrose pulpar e uma lesão periapical. Figura 6b: em magnitude
crescente, mostrando o canal cementário e uma pequena parte da lesão periapical. Figura 6c: bactérias Gram negativas e
Gram positivas povoando os defeitos do canal. Fonte: WEBBER, J. Cemental canal instrumentation : a new concept. n.
December, 2019.
Em dentes necrosados há ausência de vascularização nos canais. Por isso não ocorre a
fagocitose de microrganismos do biofilme bacteriano intracanal. A instrumentação torna-se essencial
para reduzir o número bacteriano mecanicamente (JOSÉ; MARION, 2013).
O sangramento pode ocorrer no interior do canal depois da patência e da ampliação foraminal,
mas logo deve cessar, após irrigação com soro fisiológico. O sangramento no ligamento periodontal
não é intenso e persistente, pois assim que o instrumento atinge o tecido conjuntivo ocorre a formação
de coágulo. Aquele sangramento que persiste de forma consistente geralmente ocorre devido a restos
pulpares no interior do canal radicular (JOSÉ; MARION, 2013).
IRRIGAÇÃO
Como já foi relatado o sistema de canais radiculares possuem uma anatomia complexa, com
áreas irregulares, canais laterais, deltas apicais, o que favorece a permanência de microrganismos e
após a instrumentação um acúmulo de detritos que pode impactar negativamente no selamento os
canais. Dessa maneira a irrigação é fundamental na limpeza dessas áreas. Com ações físicas, agitando
no interior do canal e com ação química, com a escolha da solução irrigante (VERA et al., 2012;
VIVAN et al., 2016).
Outra vantagem da ampliação foraminal é a eficácia química da irrigação, que é aumentada
pois preparações maiores permitem uma penetração mais profunda da agulha de irrigação e um maior
volume de irrigantes atingindo o terço apical e melhora a troca de irrigação nessa região (JARA et
al., 2018; RODRIGUES et al., 2017).
No trabalho de Versiani et al., 2015, eles já observavam que com a irrigação convencional
não era possível atingira todas as paredes, deixando significativas áreas intocadas. Com isso a
irrigação ultrassônica passiva (PUI) foi apresentada como uma auxiliar no processo de limpeza final,
reduzindo a dor pós-operatória, melhorando o desbridamento e a limpeza dos canais e istmos, além
de conseguir que o irrigante chegue próximo ao comprimento de trabalho (SUSILA; MINU, 2019;
VIVAN et al., 2016).
A agulha com saída lateral apresenta velocidade de jato ligeiramente menor que a agulha
aberta, porém apresenta ventilação de um dos lados para irrigação lateral, evitando o perigo da
extrusão de fluidos através do ápice (BOUTSIOUKIS et al., 2010; CHANG; CHEUNG; CHEUNG,
2015).
OBTURAÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A instrumentação não deve ficar restrita ao limite CDC, mas abranger toda a extensão do
canal, visando no canal dentinário a forma e remoção do conteúdo e no canal cementário a limpeza
para que os substratos orgânicos pulpares, microrganismos e tecidos necróticos sejam reduzidos em
número ou até mesmo desejosamente removidos, desta forma teremos uma maior previsibilidade do
tratamento endodôntico. E este possui duas etapas, sendo a preparação seguida pela obturação do
canal radicular, contudo a obturação deve ser vista como complementar ao controle da infecção, não
como fator determinante.
REFERÊNCIAS