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Inimputabilidade

Para que se compreenda a inimputabilidade, importa primeiro falar na culpa. Para


haver um crime, a ação que lhe corresponde tem de ser, entre outros, culposa, isto é, há um
juízo de censura que se dirige ao concreto agente que cometeu o crime. Portanto, atendendo
aos seus conhecimentos e às circunstâncias concretas do crime, pode ser censurável ou não.

Ora, o inimputável é aquele que é incapaz de culpa; o sujeito em questão pratica


condutas que não são admitidas pelo Direito – são ilícitas -, mas sem culpa. Sendo assim, é
importante sublinhar que o regime da inimputabilidade está previsto nos artigos 19.º e 20.º do
Código Penal Português (CP).

No artigo 19.º estabelece-se a inimputabilidade em razão da idade – “os menores de


16 anos são inimputáveis”. Entende o legislador que abaixo desta idade, com base nos
conhecimentos transmitidos pela ciência médica e numa clara opção de política criminal, que
até aos 16 anos as pessoas não possuem o desenvolvimento biológico que lhes permita ser
capaz de avaliar uma conduta criminosa e de se determinar de acordo com essa avaliação.

Aos menores de 16 anos de idade não é por isso aplicável nenhuma das disposições
criminais previstas e puníveis pelo ordenamento jurídico-criminal português, por não terem
atingido a finalização deste desenvolvimento biológico.

Até ao dia em que os menores completarem 16 anos de idade, não podem ser punidos
criminalmente, ficando, assim, por factos ilícitos que pratiquem, sujeitos a medidas de
proteção, assistência e educação, previstas na legislação sobre menores - O.T.M. –
Organização Tutelar de Menores e Lei Tutelar Educativa.

A par deste artigo, é de referir a Lei n.º 147/99, de 1 de setembro. Esta lei pretende
proteger o menor, dando-lhe o sentido de responsabilidade necessário para que ele possa agir
sem perigos na sua vida adulta. Inclui um regime para os menores em risco (assistencial) e um
outro com medidas tutelares educativas, sem caráter sancionatório, mas antes corretivo.

O artigo 20.º do CP, por sua vez, consagra a inimputabilidade em razão de anomalia
psíquica: essa anomalia tem de impedir o agente de distinguir aquilo que é permitido do que
não é permitido (o lícito do ilícito); ou, conseguindo distinguir, é-lhe impossível controlar-se e
agir de acordo com o que é permitido.

Passando a citar o seguinte artigo, presente no Código Penal:

1 - É inimputável quem, por força de uma anomalia psíquica, for incapaz, no momento
da prática do facto, de avaliar a ilicitude deste ou de se determinar de acordo com essa
avaliação.

2 - Pode ser declarado inimputável quem, por força de uma anomalia psíquica grave,
não acidental e cujos efeitos não domina, sem que por isso possa ser censurado, tiver, no
momento da prática do facto, a capacidade para avaliar a ilicitude deste ou para se determinar
de acordo com essa avaliação sensivelmente diminuída. Ex: Epilepsia; débil mental, etc.

3 - A comprovada incapacidade do agente para ser influenciado pelas penas pode


constituir índice da situação prevista no número anterior.
4 - A imputabilidade não é excluída quando a anomalia psíquica tiver sido provocada
pelo agente com intenção de praticar o facto.

Assim, a inimputabilidade é referente ao momento da prática do ilícito e ao tipo de


ilícito – por exemplo, um pirómano não será inimputável quanto a um crime de homicídio.

Em termos de consequências da classificação como inimputável, no Direito Penal, não


pode haver uma pena sem que haja culpa; ora, o inimputável, sendo incapaz de culpa, não lhe
pode ver ser atribuída uma pena. Ora, portanto, o ordenamento jurídico-penal, aplica-lhe
medidas de segurança. Estas têm como objetivo, atendendo à especial perigosidade do
agente, a proteção da sociedade.

Assim, o inimputável não pratica crimes, mas tão só ilícitos e vê-lhe aplicadas medidas
de segurança e não penas, dado que essas são dirigidas a quem é passível de atuar com culpa
(imputável).

Exemplo:

“João, de 16 anos de idade, embebedou-se para matar o seu irmão, já que seria difícil
consegui-lo de outra forma senão naquele estado psíquico. Diga, justificando, se o indivíduo
poderá ser declarado inimputável? Não. A imputabilidade não é excluída quando a anomalia
psíquica tiver sido provocada pelo agente com a intenção de praticar o facto.”

Um indivíduo que antes de se embebedar ou drogar tiver a intenção de matar outrem


e que depois acabou por consumar o facto, também neste caso a imputabilidade não é
excluída, ou seja, a inimputabilidade não existe quando a anomalia psíquica é provocada pelo
agente com a intenção de praticar o facto.

Em conclusão em Direito, chama-se de imputabilidade penal a capacidade que tem a


pessoa que praticou certo ato, definido como crime, de entender o que está a fazer e de
acordo com esse entendimento, será ou não legalmente punida, dependendo da intenção.

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