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Plano de Aula – Prof.

ª Carolina Salazar

CULPABILIDADE

É a reprovação pessoal que se faz sobre o autor do injusto penal, embora pudesse atuar de modo
diferente como o fez.

Juízo de reprovação que recai sobre o autor da conduta injusta, que sabia (potencialmente) do conteúdo
da proibição e, embora pudesse atuar de forma diversa, atuou de forma contrária ao Direito.

Essência da culpabilidade reside no poder agir de outro modo → livre arbítrio

Culpabilidade como predicado do crime (quando eu digo que o sujeito é culpável, pressupõe-se que
ele praticou um crime - fato típico, antijurídico e culpável) - pressuposto da pena.

Triplo sentido à culpabilidade:


1) Fundamento da pena - possibilidade, ou não, de se impor a pena a uma pessoa que pratica um
fato típico e antijurídico;
Função de fundamentar a punição estatal 1
É pressuposto da pena (definição do crime tem caráter sequencial e o peso da imputação vai
aumentando à medida que passa de um elemento a outro tipicidade → antijuridicidade →
culpabilidade).

2) Limite da pena - impedimento de que a pessoa seja responsabilizada além da medida prevista
pela própria culpabilidade (grau de reprovabilidade)
Juízo individualizado de atribuição da culpa estatal (nulla poena sine culpa)
EX: art. 59, CP

3) Fundamento e limite para a imposição da pena justa. Conceito contrário à responsabilidade


objetiva (princípio da culpabilidade) - ninguém será responsabilizado pela causação de um
resultado absolutamente imprevisível e se não houver, ao menos, agido com dolo ou com culpa.

Adoção da teoria normativa pura da culpabilidade, com a extração de todos os elementos subjetivos
da culpabilidade (consequência da adoção da teoria finalista da ação).
Negação da teoria psicológica e a teoria psicológico-normativa
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Este Plano de Aula não pretende abranger todo o assunto tratado em sala de aula; presta-se, tão somente, como
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Na culpabilidade concentram-se apenas os elementos que condicionam a reprovabilidade da conduta


contrária ao Direito.

Trata-se, a culpabilidade, da reprovação do processo volitivo: culpabilidade é a reprovabilidade da


configuração da vontade.

Elementos (indispensáveis) da Culpabilidade:


1) Imputabilidade - capacidade de culpabilidade – ausência: inimputabilidade
2) Potencial consciência da ilicitude – ausência: erro de proibição
*** Welzel: quando presentes os elementos 1 e 2, está a culpabilidade materialmente configurada e
pode renunciar à reprovação em virtude da ausência do próximo elemento (entendido como o conteúdo
da reprovabilidade):
3) Exigibilidade de (obediência) conduta conforme o Direito – ausência: inexigibilidade de
conduta diversa

Obs: inexistência de um dos elementos da culpabilidade gerará uma causa de exculpação (excludente 2
de culpabilidade).

1) IMPUTABILIDADE

Capacidade ou aptidão para ser culpável.

é a capacidade mental, inerente ao ser humano de, ao tempo da ação ou omissão, entender o caráter
ilícito do fato e determinar-se conforme esse entendimento.

Não se confunde com responsabilidade, porque os inimputáveis podem responder pelas suas ações.
Apenas não praticam crime e, por conseguinte, não podem receber, a título de responsabilização, pena.
Em alguns casos, entretanto, até mesmo sanção penal lhes pode ser aplicada: é o caso da medida de
segurança imposta ao inimputável por doença mental

Condição central de reprovabilidade (pelo Direito Penal).


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CP não dá o conceito; apenas elenca os casos de inimputabilidade.

Sujeito carece de liberdade e de faculdade para comportar-se de outro modo, com o que não é capaz
de culpabilidade, sendo, portanto, inculpável.

Capacidade livre de autodeterminação.

Capacidade geral, por elementos intelectuais e voluntários (indispensável que ambos estejam
presentes, caso contrário - inimputabilidade):
- Capacidade de compreensão do injusto (cognoscitivo ou intelectual) - integridade biopsíquica
(perfeita saúde mental)
- Determinação da vontade conforme essa compreensão (volitivo ou de vontade) - domínio da
vontade: agente pode controlar e comanda os seus impulsos relativos à compreensão do caráter
ilícito do fato.

Exclusão se dá pela inimputabilidade:


SISTEMAS 3
- Biológico: condicionado à saúde mental (presunção absoluta de falta de capacidade);
- Psicológico: se, ao tempo do crime, faticamente, estava abolida no agente a faculdade de
apreciar a criminalidade do fato e de determinar-se conforme esse entendimento
- Biopsicológico: união de ambos.

Brasil: regra geral, adota o critério biopsicológico e, excepcionalmente, adota o sistema puramente
biológico, para os casos de menores de 18 anos (art. 228, CF e 27 do CP).

→ Inimputabilidade por imaturidade natural


Menoridade/maioridade penal
Necessário que a pessoa possua condições de normalidade e maturidade psíquica mínima para que
possa ser considerado um sujeito capaz de ser motivado pelos mandados normativos.

Menores de 18 anos (art. 27 c/c art. 227, CF)


Critério biológico (excepcionalmente) - alguns falam em critério cronológico

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Medida de política criminal (art. 227, CF): tratamento adequado compatível com as suas condições de
pessoas.

Responsabilização por ato infracional (art. 103, ECA) e submissão às medidas socioeducativas- art.
112, ECA (ECA - Lei 8069/90).

→ Doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado

Inimputáveis
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Redução de pena
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude
de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não
era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento.

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Art. 26, caput, CP: Inimputáveis por doença mental

- Doença mental: interpretação em sentido amplo - problemas patológicos e também de ordem


toxicológica. Todas as doenças mentais ou psíquicas que suprem o ser humano de sua
capacidade de entender o caráter ilícito do fato e determinar-se conforme esse entendimento.
- Pode ser permanente ou transitória.
- Obs: intervalos de lucidez
- Desenvolvimento mental incompleto ou retardado: Não se compatibiliza com o estágio de vida
em que se encontra o indivíduo, em virtude de alguma condição que lhe seja peculiar (ex.
desenvolvimento interrompido ou incompleto da mente) - comprometimento de habilidades
que interferem no nível global de inteligência do indivíduo.

Critério biopsicológico:
Além da doença mental OU desenvolvimento mental incompleto, necessário que seja inteiramente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato e/ou determinar-se conforme esse entendimento.

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Efeitos (responsabilização): absolvição imprópria e imposição de medida de segurança (tratamento


ambulatorial // internação em HCTP) - indeterminação.

Obs: Semi imputáveis e a culpabilidade diminuída (art. 26, parágrafo único, CP)

Gradações: Fronteiriços (situações atenuadas, ou residuais psicoses, de oligofrenias, estados que


afetam a saúde mental do indivíduo)

Agente não é inteiramente incapaz

Culpabilidade presente – incidência de minorante.

→ Embriaguês e substâncias de efeitos análogos

Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:


(...)
Embriaguez
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II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso
fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez,
proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a
plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.

Art. 28, II
Embriaguês = Intoxicação completa e aguda causada pela ingestão do álcool ou de substâncias
análogas.

Teoria da actio libera in causa ad libertatem relata.

Estados de inconsciência.

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Critério biopsicológico: necessário que a embriaguez seja COMPLETA e ACIDENTAL (caso fortuito
ou força maior) para excluir a imputabilidade e que, além disso, pessoa, na data do fato, fosse
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.

Obs: lembrete da culpabilidade diminuída nos casos de embriaguez (art. 28, §2º): a embriaguez pode
ser incompleta e, na data do fato, não possuísse plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento (culpabilidade presente – incidência de
minorante).

2) POSSIBILIDADE DE CONHECIMENTO DA ILICITUDE DO FATO

Conhecimento potencial de que a conduta, com todos os seus elementos, é contrária ao Direito
(antijurídica).

Conheça ou possa conhecer o caráter ilícito do fato. 6

Valoração paralela na esfera do profano

Possibilidade normativamente determinável de conhecimento.

Exclusão se dá pelo erro de proibição.

Erro de proibição se dá sobre a antijuridicidade do fato, com pleno conhecimento da realização do tipo
(em todas as suas circunstâncias).

Erro sobre a ilicitude do fato


Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se
inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a
consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa
consciência.

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Autor sabe o que faz, mas supõe erroneamente, que estaria permitido: não conhece a norma jurídica
(ou não a conhece bem e interpreta-a mal) ou supõe, equivocadamente, que concorre uma causa de
justificação.

O erro, quando invencível (escusável), gera a exclusão da culpabilidade; quando vencível


(inescusável), atenua a culpabilidade (aplicação de minorante do art. 21, CP)

Não será perdoável o erro grosseiro, também chamado de simulacro de erro (essa pessoa não está em
erro).

3) EXIGIBILIDADE DE OBEDIÊNCIA AO DIREITO

Conhecimento do injusto não pode ser o único elemento (suficiente) de avaliação da reprovabilidade
do autor.

Agente poderia comportar-se conforme o direito, mas escolheu viola-lo. 7

Somente poderá ocorrer quando, em uma situação concreta, o autor puder adotar a sua conduta
conforme esse entendimento.

Razoabilidade

Autor deve e pode adotar uma resolução de vontade de acordo com o ordenamento jurídico.

Problema do livre arbítrio.

Exclusão: inexigibilidade de conduta diversa

Coação irresistível e obediência hierárquica

Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem,

não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da


ordem.

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→ Coação (moral) irresistível (art. 22)

REQUISITOS
1) Grave ameaça - promessa de mal grave e iminente, que o coagido não é obrigado a suportar
- Coagido e, por medo, realiza a conduta criminosa
- Direcionada à pessoa do coagido ou terceiros ligados por intimidade (possibilidade de
estranhos, a depender do contexto - causa supralegal).
- Pouco importa se o coator realmente quer concretizar a ameaça ou não, mas o coagido está
convencido disso.
- Coação age sobre a vontade do agente, viciando-a.
- Direito não pode exigir que as pessoas se comportem de forma heróica.
- Difere da coação física (exclusão da conduta - tipicidade - aspecto volitivo totalmente
eliminado - pessoa é instrumento)

2) Inevitabilidade do perigo na posição concreta em que se encontra o coagido


- Se puder evitar comportando-se conforme o direito, não haverá a excludente 8
- Evitabilidade mediante ação pessoal ou da polícia afasta a excludente (razoabilidade)

3) Irresistível - não passível de superação


- Caso concreto - não passível de superação
- Sem se cobrar atos heróicos → não se considerará o homem médio, mas a figura específica do
agente da conduta antijurídica
- Se for resistível, agente terá direito a uma causa de diminuição de pena (atenuante - art. 65, III,
c, CP)

*** Obs: coator (autor mediato) será responsabilizado penalmente pela conduta do coagido e também
pelo crime contra a liberdade individual (constrangimento ilegal)

→ Obediência hierárquica (art. 22)


REQUISITOS
1) Ordem não manifestamente ilegal
- Aparente legalidade (não pode haver uma evidente contrariedade ao ordenamento jurídico)
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- Análise conforme o perfil subjetivo do executor


- Crença que um funcionário público subalterno tem ao obedecer o seu superior hierárquico
- Superior possui maior conhecimento técnico // há mais tempo no serviço // contato com o alto
escalão

2) Ordem originária de autoridade competente e hierarquicamente superior


Funcionário público legalmente competente para dar a ordem

3) Relação de Direito Público


Obs: seara militar - crime - art. 163, CPM
Atenção!!! Causa supralegal excludente de ilicitude: relações privadas (razoabilidade).

4) Cumprimento estrito da ordem


- Sem excesso

*** Obs: superior hierárquico (autor mediato) será responsabilizado penalmente pela conduta
*** Caso não haja a exclusão da culpabilidade, agente subalterno terá direito a uma causa de 9
diminuição de pena (atenuante - art. 65, III, c, CP)

ATENÇÃO!!
Aceitação, caso a caso, de causas supralegais de exclusão da culpabilidade, pela inexigibilidade de
conduta diversa.

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