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Roteiro de Aula – Direito Penal

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ


INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
Teoria do Delito
Profa Dra. Manuela Pickerell

TIPO E TIPICIDADE

 TIPICIDADE FORMAL, MATERIAL E CONGLOBANTE.


- Tipo é o conjunto dos elementos do fato punível descrito na lei penal. É a descrição
concreta da conduta proibida, do conteúdo da norma (Welzel).

- Tipicidade é a conformidade do fato praticado pelo agente com a moldura


abstratamente descrita na lei penal. Tipicidade é a correspondência entre o fato
praticado pelo agente e a descrição de cada espécie de infração contida na lei penal
incriminadora.

- Tipicidade formal X tipicidade material X tipicidade conglobante.

 CONDUTA.

1. Conceito: ação é o comportamento humano voluntário conscientemente


dirigido a um fim (Welzel).

2. Elementos: vontade, finalidade, exterioridade, consciência.

3. AUSÊNCIA DE AÇÃO:
4.1 Coação física irresistível.
4. 2 Movimentos reflexos.
4.3 Estado de inconsciência.
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 A OMISSÃO E SEU CARÁTER NORMATIVO


- Classificação: crimes comissivos e omissivos.
4.1 Comissão.
4.2 Omissão
4.2.1 Crime omissivo próprio.
4.2.2 Crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão:
- Art. 13, § 2º, CP.
- A relação causal é normativa.
- Diferenças: Dever de agir X dever de evitar o resultado; crime de mera
conduta X crime material; norma mandamental X norma proibitiva.

 IMPUTAÇÃO SUBJETIVA:
 O DOLO:
1. CONCEITO: é a vontade consciente de realizar um crime ou – mais tecnicamente –
a vontade consciente de realizar o tipo objetivo de um crime, também definível como
saber e querer em relação às circunstâncias de fato do tipo legal (CIRINO).

2. DISPOSITIVO LEGAL: art. 18, I, CP.

3. TEORIAS:
- Teoria da vontade.
- Teoria da representação.
- Teoria do consentimento.

4. ELEMENTOS:
4.1. Cognitivo ou intelectual.
4.2. Volitivo.

5. ESPÉCIES:
5.1. Dolo direto:
5.1.1. Dolo direito de primeiro grau.
5.1.2 Dolo direto de segundo grau.

5.2 Eventual.
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OBS: Dolo geral (erro sucessivo).

 A CULPA:
1. CONCEITO: culpa é a inobservância do dever objetivo de cuidado manifestada
numa conduta produtora de um resultado não querido, mas objetivamente previsível.

2. DISPOSITIVO LEGAL: art. 18, II, CP.


- Parágrafo único: excepcionalidade do crime culposo.

3. ELEMENTOS:
3.1. Conduta humana.
3.2. Inobservância do cuidado objetivo – dever objetivo de cuidado.
3.3. Produção de um resultado e nexo causal.
3.4. Previsibilidade objetiva do resultado.

4. MODALIDADES DE CULPA:
4.1. Imprudência.
4.2. Negligência.
4.3. Imperícia.

5. ESPÉCIES DE CULPA:
5.1. Culpa consciente.
5.2. Culpa inconsciente.

OBS: Dolo eventual X Culpa consciente.

 CRIME PRETERDOLOSO.

 RESULTADO E RELAÇÃO DE CAUSALIDADE.

- “Para se fazer uma imputação de crime a alguém é preciso apurar


(previamente) se existe relação de causalidade entre a ação e o resultado... A
causalidade constitui, assim, um elemento objetivo prévio dos tipos (delitos) de
resultado. Portanto, uma questão de imputação objetiva do resultado. E fixar
critérios precisos de delimitação da causalidade é fundamental para evitar que
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o agente responda por resultados de exclusiva responsabilidade de terceiro ou


puramente causais, estranhos, em todo caso, à sua vontade... Assim, o nexo
causal é um constructo, e não simplesmente uma constatação físico-natural ”
(QUEIROZ).

- A comprovação do nexo de causalidade tem importância apenas para os


crimes materiais?!

- Art. 13, CP.

- TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DAS CONDIÇÕES OU CONDITIO SINE QUA


NON (condição sem a qual não).
- Causa é todo fator (condição) que de alguma forma contribui para a
ocorrência do resultado.
- JUÍZO HIPOTÉTICO DE ELIMINAÇÃO.

- SUPERVENIÊNCIA DE CAUSA RELATIVAMENTE INDEPENDENTE QUE,


POR SI SÓ, PRODUZ O RESULTADO (ART. 13, § 1º, CP):
- Causas (concausas): preexistentes; concomitantes; supervenientes.
- Causa absolutamente independente.
- Causa relativamente independente.

 IMPUTAÇÃO OBJETIVA

- Pensadores: Larenz e Honig; Mais destacados representantes: Roxin e


Jakobs.

- Visa delimitar o alcance do tipo objetivo (a partir de critérios essencialmente


normativos), e não imputar resultados. Sua verificação constitui uma questão
de tipicidade.
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- Risco juridicamente proibido X Risco juridicamente permitido (socialmente


tolerado).

ANTIJURIDICIDADE E CAUSAS DE JUSTIFICAÇÃO

- É a contrariedade entre a ação e a norma. A infração de um dever, a


desobediência à norma. A relação de antagonismo que se estabelece entre
uma conduta humana voluntária e o ordenamento jurídico, de modo a causar
lesão ou expor a perigo de lesão um bem jurídico tutelado.

 Excludentes de antijuridicidade ou causas de justificação


- Art. 23, CP.
- Excesso nas causas de justificação.
- Causas legais e supralegais.
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1. Consentimento do ofendido:
- Requisitos:
- Vontade juridicamente válida.
- Capacidade do ofendido.
- Bem jurídico disponível.
- O fato se limite ao que foi consentido.

2. Estado de Necessidade:
- Art. 24, CP.
- Caracteriza-se pela colisão de interesses juridicamente protegidos, devendo
um deles ser sacrificado em prol do outro.
- Requisitos:
- Existência de perigo atual e inevitável.
- Não provocação voluntária do perigo.
- Inevitabilidade do perigo por outro meio.
- Inexigibilidade de sacrifício do bem ameaçado ou razoabilidade do
sacrifício do bem.
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- Direito próprio ou alheio.


- Elemento subjetivo: finalidade de salvar o bem em perigo.
- Ausência de dever legal de enfrentar o perigo.

3. Legítima defesa:
- Art. 25, CP.
- Aquela requerida para repelir de si ou de outrem uma agressão atual e
ilegítima.
- Requisitos:
- Agressão injusta, atual ou iminente.
- Direito próprio ou alheio.
- Meios necessários, usados moderadamente.
- Elementos subjetivos: animus defendendi: ter consciência da
agressão injusta e a vontade de defender-se.
 LD sucessiva.

4. Estrito cumprimento do dever legal.


- Art. 23, III, CP.
- Requisitos:
- Estrito cumprimento.
- Dever legal.

5. Exercício regular do Direito.


- Art. 23, III, CP.
- Requisitos:
- Exercício regular.
- Direito.

CULPABILIDADE

 Teorias:
1. Teoria psicológica da culpabilidade.
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2. Teoria psicológico-normativa.
3. Teoria normativa pura.

 Definição: culpabilidade é a reprovabilidade da formação da vontade


(Welzel).

 Elementos:
1. Imputabilidade: é a capacidade ou aptidão para ser culpável.
- Excludentes: - Inimputabilidade por doença mental.
- Inimputabilidade por imaturidade natural.
- Não exclui a imputabilidade: - Emoção e paixão.
- Embriaguez (existem alguns casos que
excluem a imputabilidade).

2. Potencial consciência da ilicitude do fato:


- Excludente: - Erro de proibição inevitável.

3. Exigibilidade de conduta diversa:


- Excludentes: - Coação moral irresistível.
- Obediência hierárquica.

 Excludentes de culpabilidade:
1. INIMPUTABILIDADE:
- Sistemas: Biológico, Psicológico e Biopsicológico.

1.1 Doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado:


- Art. 26, CP.
- Doença mental (alienação mental): são as psicoses, e aí se incluem: os
estados de alienação mental por desintegração da personalidade, ou evolução
deformada dos seus componentes, como ocorre na esquizofrenia, ou na
psicose maníaco-depressiva e na paranoia; as chamadas reações de situação,
distúrbios mentais com que o sujeito responde problemas embaraçosos de seu
mundo circundante; as perturbações do psiquismo por processos tóxicos ou
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tóxicos-infecciosos; e finalmente os estados demenciais, a demência senil e as


demências secundárias.
- Desenvolvimento mental incompleto: é aquele desenvolvimento mental
que ainda não se concluiu (pode afetar um dos sentidos), inclui os surdos-
mudos e os silvícolas inadaptados.

- Desenvolvimento metal retardado: compreende a oligofrenia, em suas


formas tradicionais – idiotia, imbecilidade e debilidade mental – é aquele em
que não se atingiu a maturidade psíquica por deficiência de saúde mental.

- Consequências?

 Semi-imputabilidade ou capacidade diminuída:


- Art. 26, p. único, CP.
- Situam-se nessa faixa os chamados fronteiriços, que apresentam
situações atenuadas ou residuais de psicoses, de oligofrenias e,
particularmente, grande parte das chamadas personalidades psicopáticas ou
mesmo transtornos mentais transitórios. Estes estados afetam a saúde mental
sem, contudo, excluí-la, ou seja, o agente não é inteiramente capaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com este
entendimento.
- Consequências?

1.2 Menoridade ou imaturidade natural ou imaturidade mental:


- Art. 27, CP e art. 228, CF.

2. EMOÇÃO E PAIXÃO (não excluem a culpabilidade)


- Emoção: é uma viva excitação do sentimento. É uma forte e transitória
perturbação da afetividade a que estão ligadas certas variações somáticas ou
modificações particulares das funções da vida orgânica.
- Paixão: é a emoção em estado crônico, perdurando como um sentimento
profundo e monopolizante (amor, ódio, fanatismo, etc).
- Art. 28, I, CP.
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3. EMBRIAGUEZ (em regra, não exclui a culpabilidade)


- Art. 28, II, CP.
- Conceito: embriaguez pode ser definida como a intoxicação aguda e
transitória provocada pela ingestão de álcool ou de substaâncias de efeitos
análogos.

- Modalidades:
1. Embriaguez não acidental: voluntária ou culposa.
- Teoria do action libera in causa.

2. Embriaguez acidental: caso fortuito ou força maior.


- Inimputável: art. 28, §1º, CP - Embriaguez completa
- Art. 28, §2º: Embriaguez acidental e incompleta.

3. Embriaguez preordenada.

4. Embriaguez habitual e patológica:


- Habitual: alcoolismo crônico, quem se apresenta habitualmente embriagado –
caracteriza anomalias psíquicas.
- Patológica: alcoolismo agudo que se manifesta em pessoas preordenadas,
assemelha-se a psicose, seria uma doença mental.

4. COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL E OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA


- Art. 22, CP.
- Coação moral irresistível.
- Obediência hierárquica.
- Requisitos:
- Ordem proferida por superior hierárquico;
- Ordem não manifestamente ilegal;
- Se ater aos limites da ordem.
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ERRO

- É uma falsa percepção da realidade.

 Erro de Tipo:
1. Conceito: é aquele que recai sobre as elementares, circunstâncias ou
qualquer dado que se agregue a determinada figura típica, ou ainda aquele
incidente sobre os pressupostos de fato de uma causa de justificação ou dados
secundários da norma penal incriminadora. É a ignorância ou a falsa
representação de qualquer dos elementos constitutivos do tipo penal.

2. Espécies:
2.1 ERRO DE TIPO ESSENCIAL: recai sob elementares, circunstancias ou
qualquer outro dado que agregue a figura típica.
Art 20, CP.
- Consequências: invencível ou inevitável ou escusável X vencível ou
evitável ou inescusável.

2.2 ERRO ACIDENTAL: o agente não julga lícita a sua ação. Age com a
consciência da antijuridicidade de seu comportamento. Apenas se engana
quanto a um elemento não essencial do fato.
- Pode ser: - Erro sobre o objeto.
- Erro sobre a pessoa (art. 20, § 3º, CP).
- Erro na execução (art. 73, CP).
- Resultado diverso do pretendido (art. 74).

2.3 ERRO DE TIPO PERMISSIVO

 Erro de Proibição.
1. Conceito: falta a consciência da ilicitude de uma conduta. O agente supõe,
por erro, ser lícita a sua conduta, quando, na realidade, ela é ilícita. O objeto do
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erro não é nem a lei, nem o fato, mas a ilicitude, isto é, a contrariedade do fato
em relação à lei. O agente supõe permitida uma conduta proibida. O agente faz
um juízo equivocado daquilo que lhe é permitido fazer em sociedade.
- Desconhecimento da lei X falta de consciência da ilicitude.

2. Art. 21, CP.


- Consequências: invencível ou inevitável ou escusável X vencível ou
evitável ou inescusável.

3. Espécies:
3.1 ERRO DE PROIBIÇÃO DIRETO: quando o erro do agente vem a recair
sobre o conteúdo proibitivo de uma norma penal.
3.2 ERRO MANDAMENTAL: incide sobre o mandamento contido nos crimes
omissivos.
3.3 ERRO DE PROIBIÇÃO INDIRETO.

 Descriminantes putativas.
- Legítima defesa putativa; estado de necessidade putativo; estrito
cumprimento do dever legal putativo; exercício regular do direito putativo.
1. Espécies:
1.1. ERRO DE TIPO PERMISSIVO: erra sobre uma situação de fato que se
existisse tornaria a ação legítima.
- Art. 20, § 1º, CP - Consequências: escusável X inescusável.
1.2. ERRO DE PROIBIÇÃO INDIRETO: erra sobre a existência ou sobre os
limites de uma causa de justificação.
- Art. 21, CP – Consequências: escusável X inescusável.

ITER CRIMINIS

- Ou o caminho do crime: é o conjunto de etapas que se sucedem,


cronologicamente, no desenvolvimento do delito.
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- Etapas do iter criminis (só ocorre nos crimes dolosos):


1. Cogitação.
2. Preparação.
3. Execução.
Preparação X Execução
4. Consumação.
5. Exaurimento.

 CRIME CONSUMADO

- Art. 14, I, CP.


- O crime está consumado quando nele se reúnem todos os elementos de sua
definição legal, quando o tipo está inteiramente realizado.

 TENTATIVA

- Art. 14, II – Norma de extensão.


- Elementos que caracterizam o crime tentado:
1. Conduta dolosa: não há um dolo específico para a tentativa, o dolo é da
consumação.
2. Ingressar na fase de execução.
3. Não alcançar a consumação do crime por circunstâncias alheias à sua
vontade: qualquer fato externo que, de qualquer modo, influencie na
interrupção ou no fracasso da execução.

- Tentativa Perfeita (tentativa acabada ou crime falho) X Tentativa Imperfeita


(tentativa inacabada).

- Tentativa branca ou incruenta x Tentativa vermelha ou cruenta.

- Alguns ilícitos penais não comportam a tentativa, como as contravenções (Art.


4o da LCP), os crimes culposos, os crimes de mera conduta, os crimes
omissivos próprios, etc.
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 DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ

- Art. 15, CP.

- Desistência voluntária ou tentativa abandonada: ocorre quando durante a


prática dos atos de execução, mas sem esgotar todos os meios que tinha à sua
disposição para chegar à consumação do crime, o agente desiste,
voluntariamente, de nela prosseguir.
- Voluntária X Espontânea.
- Fórmula de Frank: desistência voluntária (posso prosseguir, mas não quero) X
tentativa (quero prosseguir, mas não posso).

- Arrependimento eficaz: ocorre quando o agente, depois de esgotar todos os


meios de que dispunha para chegar à consumação da infração penal,
arrepende-se e atua em sentido contrário, evitando a produção do resultado
inicialmente por ele pretendido.

 ARREPENDIMENTO POSTERIOR

- Art. 16, CP.


- Momento: até o recebimento da denúncia ou queixa.
- Crimes passíveis: Sem violência ou grave ameaça à pessoa.
- Voluntário X Espontâneo.
- Restituição total da coisa ou reparação do dano.

 CRIME IMPOSSÍVEL

- Art. 17, CP.


- Também conhecido como tentativa inidônea, inadequada ou quase crime.
- Meio: é tudo aquilo utilizado pelo agente capaz de ajudá-lo a produzir o
resultado. O meio pode ser uma faca, um revólver, um taco de golfe, veneno,
vidro, etc. Muitas coisas que não tem a finalidade precípua de ataque ou
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defesa podem ser utilizadas como meio para o cometimento de uma infração
penal.
- Meio absolutamente ineficaz: é aquele que, no caso concreto, não possui a
mínima aptidão para produzir os efeitos pretendidos, por sua própria essência
ou natureza, por mais que se reitere o seu emprego.

- Objeto: é a pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta do agente.


- Absoluta impropriedade do objeto: ocorre quando o objeto é totalmente
impróprio, inadequado, sendo impossível alcançar o fim pretendido diante do
objeto eleito.

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