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CURSO PREPARATÓRIO PARA 1ª FASE DO 37º EXAME DA ORDEM DOS

ADVOGADOS DO BRASIL (OAB)


Direito Penal
2 Leandro Gesteira

APRESENTAÇÃO

Estimados Guerreiros e Guerreiras!

É com muita alegria que apresentamos o módulo de Direito Penal do preparatório para 37º exame
da Ordem dos Advogados do Brasil. Sejam todos muito bem-vindos!

Preparei esse roteiro pensando no seu exame e sabendo da importância desses temas para sua prova,
então, valerá a pena o nosso esforço durante essas aulas!

Nosso módulo não dispensa suas anotações pessoais e, principalmente, a leitura e os grifos dos
dispositivos específicos de cada assunto que abordaremos. Utilize, portanto, o seu Vade Mecum (1ª Fase
da OAB e Concursos) e vamos juntos!

Espero que vocês tenham um excelente proveito!

Receba o nosso sincero abraço!

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INTRODUÇÃO

Para prova da OAB, os temas dividem-se em 3:

Parte Geral Parte Especial Legislação Especial


- Art. 1 ao 120, CP. - Art. 121 ao - Lei especial é a que a Constituição confia à disciplina
- Conceituação do crime 359, CP. de matéria determinada, como o sistema nacional de
e suas consequências armas, organização criminosa, crimes hediondos, o
legais. tráfico de drogas, etc.
- 90% da prova está
aqui.

→ Ao longo da história, tentamos responder de forma adequada o que é o crime. O conceito de


crime e seus requisitos são cruciais para que possamos compreender a configuração do fato.
→ Ao longo da história, diferentes sistemas construíram elementos para responder a essa
pergunta de diferentes maneiras.

Para maioria da doutrina, o Brasil adota um conceito tripartido de crime.

Crime = fato típico, ilícito e culpável

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SISTEMAS PENAIS

1) SISTEMA CLÁSSICO
▪ Sistema constituído entre 1906 - 1908, enquanto imperava o positivismo na Europa.
o Lizst (1884) e Beling (1906) ficaram conhecidos por serem os primeiros a tentarem a
construir esse conceito científico.
▪ Também conhecido como causalismo de primeira etapa > teoria causal da ação.
▪ Primeiro sistema a tentar trazer um conceito científico de Direito Penal. Antes, o Direito Penal
era aplicado com base em compreensões culturais, tradicionais.
▪ A conduta é inervação muscular voluntária (único elemento externo a ser analisado), que
causa uma modificação no mundo exterior.
o As condutas involuntárias não possuem mais relevância para o direito penal.
o Para Lizst, o crime é injusto penal (tipicidade + ilicitude).
o Para Beiling o crime é fato típico (conduta e tipicidade) e culpável (dolo ou culpa) >
faz com que desenvolva a teoria psicológica da culpabilidade.
▪ Teoria criticada por ter a tipicidade cega (analisa a voluntariedade, sem analisar vontade) e por
não explicar a tentativa.
▪ Para os causalistas, não interessava vontade, mas sim o resultado causado, que estava na
culpabilidade.
▪ Não explicava a culpa inconsciente, mas somente a culpa consciente.
▪ Traz a análise de dolo e culpa, no âmbito do conceito de crime.

2) SISTEMA NEOCLÁSSICO
▪ Também conhecido como causalismo de segunda etapa.
▪ Baseado nas ideias filosóficas de Emmanuel Kant, chamado de sistema neokantista.
▪ Conceito de conduta melhor adequado.
o Conduta como uma causalidade juridicamente relevante.
▪ Direito como dever-ser, devidamente aplicado ao caso concreto.

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▪ O crime ficaria definido como:


o Nascimento da teoria psicológico-normativa da culpabilidade
Fato típico Ilícito Culpável
- Conduta - Causas de exclusão. Dolo e Culpa
- Resultado - Imputabilidade
- Tipicidade Consciência da
- Nexo causal ilicitude
- Exige conduta
diversa

3) SISTEMA FINALISTA
▪ Hans Welzel foi quem começou a construir o finalismo.
▪ A teoria finalista parte da premissa que há uma finalidade nas coisas > elas não existem por
existir; existem para alcançar algo.
▪ Welzel diz que o homem possui um saber causal (causa e consequência), e que é impossível
dissociar a conduta do dolo.
▪ A maioria da doutrina entende que o Código Penal brasileiro adota a teoria finalista.
▪ Alguns doutrinadores afirmam que o nosso Código Penal é finalista, mas que também, de alguma
maneira, foi adotado o sistema funcionalista.
▪ Para teoria finalista, o crime está configurado com a junção de três elementos em conjunto,
quais sejam, fato típico, antijurídico/ilícito ou culpável.

A Teoria Finalista
é a adotado pelo
Brasil!

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▪ A estrutura seria:

Fato típico Ilícito Culpável


- Conduta Art. 23, CP. - Imputabilidade
(dolo/culpa) - Estado de necessidade - Potencial
- Resultado - Legítima defesa; consciência da
- Nexo causal - Estrito cumprimento do dever legal; ilicitude;
- Tipicidade Exercício regular do direito. - Exigibilidade de
* Consentimento da vítima (causa supralegal de conduta diversa;
exclusão da ilicitude)

Deu início a Teoria Normativa Pura da Culpabilidade.

▪ Ao analisar a ilicitude, deve-se fazê-la em uma análise de exclusão. Ou seja, já que é fato típico,
pressupõe-se que é fato ilícito; e ao analisar a ilicitude se buscará circunstâncias que a afastará.
▪ E essas circunstâncias, como regra, estão no art. 23, do CP (existem outras espalhadas no Código
Penal).

Para uma parte minoritária da doutrina, o crime é só fato típico e


ilícito. A culpabilidade não faria parte do conceito de crime; seria um
mero pressuposto para aplicação da pena.

▪ O sistema finalista adota o chamado conceito tripartido de crime, em que, para existir crime é
necessário ter os três elementos: fato típico, ilícito e culpável.
Cuidado: quando se fala em crime, amplia para infração
penal.
o Tem uma posição minoritária, que é chamada de bipartida, que afirma que basta ter fato
típico e ilícito para existir o crime. E a culpabilidade é um mero pressuposto para
aplicação da pena.
▪ O Código Penal brasileiro, de 1940, foi criado pautado na teoria causalista, na teoria neokantista.
Mas, em 1984 foi feita uma reforma no Código para adequá-lo ao sistema finalista.

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4) SISTEMA FUNCIONALISTA
▪ Também chamada de teoria pós-finalista.
▪ Tenta explicar o crime com base na função do direito penal.
o Qual a função do direito penal?
▪ Modalidades:
a) Funcionalismo teleológico (moderado ou funcionalismo de política criminal): A
função do direito penal é proteger bens jurídicos essenciais para sobrevivência social.
o A conduta é o comportamento voluntário, causador de relevante e intolerável
lesão ou perigo ao bem > teoria da imputação objetiva, que visa impedir a
responsabilidade objetiva no nexo de causalidade.
b) Funcionalismo sistêmico: Aquele que integra uma organização criminosa, pretende
destruir o estado. E se ele pretende destruir o estado, não pode ter direito as proteções
fundamentais instituídas por este estado.
o A possibilidade de direitos penais distintos > um para o cidadão (respeita as
garantias) e o outro para o inimigo (ofende as garantias) > chamado de
funcionalismo radical.
o Essa modalidade cria a teoria do direito penal do inimigo.

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PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL

❖ Os princípios servem como um norte para o legislador no momento de criação das leis e ao juiz
no momento de aplicar essas leis. Também têm a função de limitar o poder do Estado, conter as suas
arbitrariedades e conceder segurança jurídica.
❖ Segundo Beccaria, a partir do momento em que nós fizemos um contrato social, nós demos ao Estado
o poder de punir (jus puniendi do Estado), cedendo uma parcela da nossa soberania e liberdade,
em troca de segurança.

1) PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
▪ Princípio de maior relevância do direito penal.
▪ Alguns autores chamam de “Reserva Legal”.
▪ Previsto no art. 1 do CP e no art. 5, XXXIV, da CF/88.
▪ Antes do princípio da legalidade não existia segurança jurídica (princípio do marco zero).
▪ Objetiva estabilizar as relações jurídicas, dar condição de realizar tarefas diárias com a
certeza que não está cometendo um crime.
▪ Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal deve ser
acrescido contravenções penais no entendimento.
▪ Abrange os crimes e as contravenções penais, que terão suas respectivas penas e/ou medidas
de segurança.
▪ O crime só poderá ser criado mediante lei (escrita, certa, estrita e anterior).
▪ Mais à frente, estudaremos sua aplicação inserido no contexto da Lei Penal no Tempo.

1.1. Subprincípios da legalidade:


a) Reserva legal: Apenas a lei pode criminalizar uma determinada conduta.
o Apesar de fonte do direito, o costume não pode ser utilizado como reserva legal.
o Exceções: Uma medida provisória, apesar de ter força de lei, não pode criar um
crime, por não garantir segurança jurídica (art. 62, § 1, inciso I, alínea b).
b) Taxatividade ou Determinação: A lei penal deve evitar expressões que causem dúvidas,
devendo ser taxativa (art. 1, CP).
o Possui duas vertentes:
i. Legislador, para evitar multiplicidade de interpretações;

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ii. Julgador, para ser taxativo > interpretar a


conduta, que deve ser exatamente igual ao crime.
c) Analogia: Caso tenha ausência da lei ou lacuna, face um caso concreto, o juiz deve usar a
analogia, por meio de norma parecida.
o Pode utilizar a analogia, desde que seja para beneficiar o réu.
o A analogia é uma forma de integração do direito.

2) PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA


▪ O direito penal é a ultima ratio, ou seja, a lei penal se aplica quando somente ela é capaz de
evitar a ocorrência de atos ilícitos ou de puni-los à altura da lesão ou do perigo a que submeteram
determinado bem jurídico, dotado de relevância para a manutenção da convivência social
pacífica.
▪ O direito penal serve para pequenos fragmentos de comportamentos inadequados, seguindo o
critério da fragmentariedade.
▪ O direito penal somente será utilizado se outros ramos do direito não conseguirem solucionar,
sendo chamado de “soldado de reserva”.

3) PRINCÍPIO DA LESIVIDADE/OFENSIVIDADE:
▪ O crime tem que estar na lei e ser conduta relevante para a intervenção mínima do Estado.
▪ A conduta tem que causar um dano ou um perigo a bem jurídico de outrem.
o Somente é punido aquele que coloca em risco o bem jurídico de outra pessoa, com base
no princípio da alteridade.

4) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA / BAGATELA:


▪ Para ser crime, além de estar previsto em lei, tem que ofender ou colocar em risco um bem
jurídico. Isso quer dizer que, condutas insignificantes não são de relevância para o Direito Penal.
▪ Se a conduta for insignificante, o fato é atípico por falta de tipicidade material.
▪ Segundo o STF, para aplicação do Princípio da Insignificância deve ter:
a) Mínima ofensabilidade da conduta;
b) Ausência de periculosidade social;
c) Reduzido grau de reprovabilidade;
d) Inexpressividade da lesão.
▪ A reincidência, por si só, não exclui a insignificância, mas se analisada, pode dificultar.

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▪ O princípio da insignificância não é aplicado nos crimes contra


a fé pública e no âmbito da aplicação da Lei Maria da Penha, pelo próprio bem jurídico em si >
súmula 559/STJ e súmula 589/STJ.

5) PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL:


▪ Para ser criminalizado, o fato precisa ser considerado inadequado. Sendo assim, uma conduta
somente pode ser criminalizada se for reprovada socialmente.
▪ Na prática, esse princípio não revoga crime, vez que, costume não revoga lei.

6) PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE:
▪ Princípio que limita o poder do Estado.
▪ Aplica-se a responsabilidade é subjetiva > só pode punir alguém que agiu com dolo ou culpa,
nas hipóteses em que a lei penalizado por culpa.
▪ Não se responde por casos imprevisíveis.

7) PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE:
▪ Garantismo (i) monocular ou binocular, e o (ii) hiperbólico (observar somente as garantias do
réu).
▪ Existe normativa vedando o excesso e a insuficiência.

8) PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO:
▪ Trata cada um no âmbito da sua culpabilidade e/ou participação.
▪ Individualizar é olhar as peculiaridades de cada um.
▪ Essa individualização deve se dar, desde o legislador até o juiz da instrução, que irá aplicar a
pena e realizar a dosimetria.

9) PRINCÍPIO DA HUMANIDADE:
▪ Garante que o direito penal não pode ter pena de morte e pena caráter perpétuo.
▪ O limite de cumprimento de pena no Brasil é de 40 anos (art. 75, CP).
▪ O limite de cumprimento de medida de segurança no Brasil é de 5 anos.

10) PRINCIPIO DA PESSOALIDADE:


▪ A pena não passará da pessoa do condenado, ou seja, responde pelo que fez e não pelo que
fizeram.
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▪ O direito de indenizar e/ou reparar, transmite-se para os


sucessores, até o limite da herança.

11) PRINCIPIO DO “NON BIS IDEM”:


▪ Um agente não pode ser um processado duas vezes pelo mesmo fato, não pode ser condenado
ou executado duas vezes pelo mesmo fato.
▪ Exceção: lei penal no espaço. Em caso de extraterritorialidade incondicionada (sem condição) –
ocorre contra a vida e a liberdade do Presidente da República – o sujeito poderá ser julgado no
Brasil mesmo sendo julgado no exterior.
▪ Na dosimetria da pena, não se pode valorar duas vezes uma mesma circunstância, ou seja, se
algo é criado, isso não pode ser valorado de novo.

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LEI PENAL NO TEMPO

Necessidade de princípios que protejam a


segurança jurídica a tempo.

 No Brasil, a teoria aplicada é a Teoria da Atividade, na qual, analisa-se o momento da conduta.


 Lei nova posterior só será aplicada se for mais benéfica, por conta do princípio da retroatividade
da lei mais benéfica.
o Caso a lei nova seja mais prejudicial, ela não retroage, com isso, falamos na irretroatividade
da lei mais gravosa.

 Algumas leis são uma parte melhores e outra parte piores, como a Lei do Tráfico de Drogas.
o Art. 33, 11.343/06: Antes dessa lei, o tráfico já era crime, só que a pena era maior (03 a 15
anos).
o A lei 11.343/06 veio e modificou isso, aumentando a pena de 05 a 15 anos.
o Ex.: Caio traficou drogas em 2004, a lei que se aplica a ele é a vigente no momento do crime
(03 a 15 anos). Surgiu a lei nova, ainda assim ele fica com a dele (03 a 15), por ser mais
benéfica.

 Súmula 501 do STJ: A combinação de leis é vedada.


o Não pode escolher o melhor de cada lei, porque isso estaria interferindo na esfera de outro
poder, ou seja, seria o Poder Judiciário legislando.

 Crimes permanentes: Aquele que se protrai no tempo, que não para. O bem jurídico é atingido o
tempo todo.
Ex.: crime de sequestro; ter droga em depósito.

 Crime continuado (art. 71, CP): O agente faz a mesma coisa, do mesmo jeito, mas várias vezes. É
uma ficção jurídica que transforma vários crimes em um só.

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Observação: Nos crimes


permanentes e continuados se aplica a última lei, ainda que mais
gravosa, e se foi durante o crime. OU seja, se existir uma alteração
legislativa durante a continuidade ou permanência, se aplica a última
lei, ainda que ela seja pior (súmula 711, do STF).

 Normas temporárias (art. 3, CP): São leis que possuem o tempo de vigência predeterminado. Ex.:
Lei Geral da Copa, que foi uma lei específica para o evento da Copa no Brasil, e veio com o período
em que estaria valendo, com regras e crimes temporários.

 Normais excepcionais (art. 3, CP): não são criadas para durar para sempre, mas também não vem
com um prazo, com um fim determinado. Elas duram enquanto durar o estado de exceção.

Art. 3º, CP: A lei excepcional ou temporária, embora


decorrido o período de sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato
praticado durante sua vigência.

Observação.:
➢ O crime precisa estar disposto em Lei Federal. A lei que determina
um, pode ser complementada por outros atos normativos, mas esses
atos não podem criar um crime.

 A extratividade da lei penal é a possibilidade da aplicação da lei, depois de ser superada por uma
mais recente continuar a regular fatos ocorridos na sua vigência.
I. Retroatividade: Aplica-se uma lei para o passado, fora do tempo dela, caso seja mais
favorável.
II. Ultratividade (art. 3, CP): Aplica-se a lei para o futuro, fora do tempo dela. Se o agente
pratica a conduta durante a vigência da norma temporária ou excepcional, essa lei continuará
valendo mesmo após a sua cessação.

Observações:
➢ Quando houver conflitos de ordem temporal, os princípios
utilizados são: anterioridade, irretroatividade e irretroatividade da
lei penal mais benéfica.
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➢ Quando houver conflitos de ordem


espacial, os princípios utilizados são: territorialidade e
extraterritorialidade

QUESTÕES PARA TREINO:

1) Sobre a aplicação da lei penal e da lei processual penal, assinale a opção incorreta.
A) Os atos processuais realizados sob a vigência de lei processual anterior são considerados
válidos, mesmo após a revogação da lei.
B) As normas processuais têm aplicação imediata, ainda que o fato que deu origem ao processo
seja anterior à entrada em vigor dessas normas.
C) O dispositivo constitucional que estabelece que a lei não retroagirá, salvo para beneficiar o
réu, aplica-se à lei penal e à lei processual penal.
D) Lei penal que substitua outra e que favoreça o agente aplica- se aos fatos anteriores à sua
entrada em vigor, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

2) Considere que determinado agente tenha em depósito, durante o período de um ano, 300kg de
cocaína. Considere também que, durante o referido período, tenha entrado em vigor uma nova lei
elevando a pena relativa ao crime de tráfico de entorpecentes. Sobre o caso sugerido, levando em conta
o entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre o tema, assinale a afirmativa correta.
A) Deve ser aplicada a lei mais benéfica ao agente, qual seja, aquela que já estava em vigor quando
o agente passou a ter a droga em depósito.
B) Deve ser aplicada a lei mais severa, qual seja, aquela que passou a vigorar durante o período
em que o agente ainda estava com a droga em depósito.
C) As duas leis podem ser aplicadas, pois ao magistrado é permitido fazer a combinação das leis
sempre que essa atitude puder beneficiar o réu.
D) O magistrado poderá aplicar o critério do caso concreto, perguntando ao réu qual lei ele
pretende que lhe seja aplicada por ser, no seu caso, mais benéfica.

3) O Presidente da República, diante da nova onda de protestos, decide, por meio de medida provisória,
criar um novo tipo penal para coibir os atos de vandalismo. A medida provisória foi convertida em lei,
sem impugnações. Com base nos dados fornecidos, assinale a opção correta.

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A) Não há ofensa ao princípio da reserva legal na criação de tipos


penais por meio de medida provisória, quando convertida em lei.
B) Não há ofensa ao princípio da reserva legal na criação de tipos penais por meio de medida
provisória, pois houve avaliação prévia do Congresso Nacional.
C) Há ofensa ao princípio da reserva legal, pois não é possível a criação de tipos penais por meio
de medida provisória.
D) Há ofensa ao princípio da reserva legal, pois não cabe ao Presidente da República a iniciativa
de lei em matéria penal

4) Jorge foi condenado, definitivamente, pela prática de determinado crime, e se encontrava em


cumprimento dessa pena. Ao mesmo tempo, João respondia a uma ação penal pela prática de crime
idêntico ao cometido por Jorge. Durante o cumprimento da pena por Jorge e da submissão ao processo
por João, foi publicada e entrou em vigência uma lei que deixou de considerar as condutas dos dois
como criminosas. Ao tomarem conhecimento da vigência da lei nova, João e Jorge o procuram, como
advogado, para a adoção das medidas cabíveis.
Com base nas informações narradas, como advogado de João e de Jorge, você deverá esclarecer que
A) não poderá buscar a extinção da punibilidade de Jorge em razão de a sentença condenatória
já ter transitado em julgado, mas poderá buscar a de João, que continuará sendo considerado
primário e de bons antecedentes.
B) poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, fazendo cessar todos os efeitos civis e
penais da condenação de Jorge, inclusive não podendo ser considerada para fins de reincidência
ou maus antecedentes.
C) poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, fazendo cessar todos os efeitos penais da
condenação de Jorge, mas não os extrapenais.
D) não poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, tendo em vista que os fatos foram
praticados anteriormente à edição da lei.

5) Sílvio foi condenado pela prática de crime de roubo, ocorrido em 10/01/2017, por decisão transitada
em julgado, em 05/03/2018, à pena base de 4 anos de reclusão, majorada em 1/3 em razão do emprego
de arma branca, totalizando 5 anos e 4 meses de pena privativa de liberdade, além de multa. Após ter
sido iniciado o cumprimento definitivo da pena por Sílvio, foi editada, em 23/04/2018, a Lei nº
13.654/18, que excluiu a causa de aumento pelo emprego de arma branca no crime de roubo. Ao tomar
conhecimento da edição da nova lei, a família de Sílvio procura um(a) advogado(a). O advogado(a) de
Sílvio:
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A) não poderá buscar alteração da sentença, tendo em vista que


houve trânsito em julgado da sentença penal condenatória.
B) poderá requerer ao juízo da execução penal o afastamento da causa de aumento e,
consequentemente, a redução da sanção penal imposta.
C) deverá buscar a redução da pena aplicada, com afastamento da causa de aumento do emprego
da arma branca, por meio de revisão criminal.
D) deverá buscar a anulação da sentença condenatória, pugnando pela realização de novo
julgamento com base na inovação legislativa.

GABARITO
1) C 2) B 3) C 4) C 5) B

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LEI PENAL NO ESPAÇO

Art. 6, CP: Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou
em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

1) TEORIAS:
I. Teoria da atividade: Para o tempo do crime esta teoria é usada, interessa a ação e omissão.
II. Teoria do resultado: Interessa apenas o resultado.
III. Teoria da ubiquidade (mista): Teoria mais segura para o julgamento, sendo utilizado para
a questão espacial, interessa o resultado e ação/omissão. ADOTADA NO BRASIL!

Observações:
➢ A lei Brasileira é competente para julgar quando houver ação ou omissão
ou quando ocorreu o resultado.
➢ Se o crime foi praticado no Brasil, o princípio utilizado é o da
territorialidade, em regra.

Territorialidade (art. 5, CP): Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras
de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.
 § 1. Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações
e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se
encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
 § 2. É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou
embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território
nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do
Brasil.

Observações:
➢ As embaixadas no território brasileiro, pertencem ao Brasil,
qualquer crime ocorrido dentro de embaixadas, quem julga é o
Brasil.

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➢ Excepcionalmente pode-se aplicar


leis estrangeiras para crimes ocorridos dentro do território
brasileiro.
➢ O Tribunal Penal internacional, em Haia, julga os crimes contra
humanidade (genocídio).
➢ Entregar é diferente de extraditar > extraditado é quando o
indivíduo é levado para ser julgado em um país, e entregue é quando
é entregue para um organismo para ser julgado.

Extraterritorialidade (art. 7, CP > exceção):


▪ Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de
Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou
fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou
condenado no estrangeiro.
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes
condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta
a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

Pena cumprida no estrangeiro (art. 8, CP): A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta
no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.
O cálculo da pena se calcula em três fases:
1) Circunstâncias judiciais;
2) Agravantes e atenuantes;
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3) Causas de aumento e diminuição de pena.

Eficácia de sentença estrangeira (art. 9, CP): A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei
brasileira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para:
I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis;
II - sujeitá-lo a medida de segurança.
Parágrafo único - A homologação depende
a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada;
b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja
autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do
Ministro da Justiça.

Se liga no macete do CEJAS:

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Observação:
As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei
especial, se esta não dispuser de modo diverso (art. 12, CP).

QUESTÕES PARA TREINO:

1) Revoltado com a conduta de um Ministro de Estado, Mário se esconde no interior de uma aeronave
pública brasileira, que estava a serviço do governo, e, no meio da viagem, já no espaço aéreo equivalente
ao Uruguai, desfere 05 facadas no Ministro com o qual estava insatisfeito, vindo a causar-lhe lesão
corporal gravíssima. Diante da hipótese narrada, com base na lei brasileira, assinale a afirmativa
correta.
A) Mário poderá ser responsabilizado, segundo a lei brasileira, com base no critério da
territorialidade.
B) Mário poderá ser responsabilizado, segundo a lei brasileira, com base no critério da
extraterritorialidade e princípio da justiça universal.
C) Mário poderá ser responsabilizado, segundo a lei brasileira, com base no critério da
extraterritorialidade, desde que ingresse em território brasileiro e não venha a ser julgado no
estrangeiro.
D) Mário não poderá ser responsabilizado pela lei brasileira, pois o crime foi cometido no
exterior e nenhuma das causas de extraterritorialidade se aplica ao caso.

2) No ano de 2005, Pierre, jovem francês residente na Bulgária, atentou contra a vida do então
presidente do Brasil que, na ocasião, visitava o referido país. Devidamente processado, segundo as leis
locais, Pierre foi absolvido. Considerando apenas os dados descritos, assinale a afirmativa correta.
A) Não é aplicável a lei penal brasileira, pois como Pierre foi absolvido no estrangeiro, não ficou
satisfeita uma das exigências previstas à hipótese de extraterritorialidade condicionada.
B) É aplicável a lei penal brasileira, pois o caso narrado traz hipótese de extraterritorialidade
incondicionada, exigindo- se, apenas, que o fato não tenha sido alcançado por nenhuma causa
extintiva de punibilidade no estrangeiro.
C) É aplicável a lei penal brasileira, pois o caso narrado traz hipótese de

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extraterritorialidade incondicionada, sendo irrelevante o fato de


ter sido o agente absolvido no estrangeiro.
D) Não é aplicável a lei penal brasileira, pois como o agente é estrangeiro e a conduta foi
praticada em território também estrangeiro, as exigências relativas à extraterritorialidade
condicionada não foram satisfeitas.

3) John, cidadão inglês, capitão de uma embarcação particular de bandeira americana, é assassinado
por José, cidadão brasileiro, dentro do aludido barco, que se encontrava atracado no Porto de Santos,
no Estado de São Paulo. Nesse contexto, é correto afirmar que a lei brasileira
A) não é aplicável, uma vez que a embarcação é americana, devendo José ser processado de
acordo com a lei estadunidense.
B) é aplicável, uma vez que a embarcação estrangeira de propriedade privada estava atracada
em território nacional.
C) é aplicável, uma vez que o crime, apesar de haver sido cometido em território estrangeiro, foi
praticado por brasileiro.
D) não é aplicável, uma vez que, de acordo com a Convenção de Viena, é
competência do Tribunal Penal Internacional processar e julgar os crimes
praticados em embarcação estrangeira atracada em território de país diverso.

4) Acerca da aplicação da lei penal no tempo e no espaço, assinale a alternativa correta.


A) Se um funcionário público a serviço do Brasil na Itália praticar, naquele país, crime de
corrupção passiva (art. 317 do Código Penal), ficará sujeito à lei penal brasileira em face do
princípio da extraterritorialidade.
B) O ordenamento jurídico-penal brasileiro prevê a combinação de leis sucessivas sempre que a
fusão puder beneficiar o réu.
C) Na ocorrência de sucessão de leis penais no tempo, não será possível a aplicação da lei penal
intermediária mesmo se ela configurar a lei mais
favorável.
D) As leis penais temporárias e excepcionais são dotadas de ultratividade. Por tal motivo, são
aplicáveis a qualquer delito, desde que seus resultados tenham ocorrido durante sua vigência.

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5) Dentre as assertivas abaixo, assinale a alternativa CORRETA:


A) o Código Penal acolhe em caráter absoluto o princípio da territorialidade, pelo qual a lei
brasileira é aplicada em todo território nacional, independente da nacionalidade do autor e da
vítima do crime;
B) seguindo o critério objetivo adotado pelo Código Penal, é de se dizer que os atos preparatórios
são punidos a título de tentativa;
C) em relação ao lugar do crime, o Código Penal vigente adotou a teoria da atividade;
D) o princípio da retroatividade benigna não se aplica às hipóteses da lei excepcional ou
temporária, nos termos do art. 3º do Código Penal.

GABARITO
1. A 2. C 3. B 4. A 5. D

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TEORIA DO CRIME

 O crime é formal (disciplinado em lei), analítico (analisado por partes), material (risco ou lesão a
um bem jurídico) e legal (previsto no CP, com pena de reclusão ou detenção.

Observações:
➢ No crime habitual, o ato isolado não é crime, a reiteração que o torna crime.
➢ Conforme disciplina o art. 32, do CP, o ordenamento jurídico brasileiro admite três tipos
de penas: (i) privativa de liberdade, (ii) restritivas de direitos e (iii) multa.
➢ O Mandado de Segurança no processo penal substitui o Habeas Corpus quando não
houver risco de privação de liberdade, ou seja, quando o réu é uma pessoa jurídica ou,
mesmo sendo uma pessoa humana, o crime não tem pena privativa de liberdade.

 Estrutura da Teoria do Crime:


I. Fato típico:
a) Conduta;
b) Nexo Causal;
c) Resultado;

Se faltar d) Tipicidade
qualquer II. Antijurídico ou Ilícito:
um dos
3, não há a) Estado de Necessidade
crime. b) Legitima defesa
c) Estrito Cumprimento de um dever legal
d) Exercício legal de um direito
e) Consentimento do ofendido
III. Culpável:
a) Imputabilidade
b) Potencial consciência da ilicitude
c) Exigível na conduta diversa

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FATO TÍPICO

1) CONDUTA:
1.1. Humana: Conduta humana dirigida a um fim (ilícito ou não).
 A Lei de Crimes Ambientas traz hipóteses em que se poderá responsabilizar uma
pessoa jurídica.

1.2. Voluntária: Conduta voluntária foi a atitude tomada.


 Não se confunde voluntariedade com espontaneidade.
o Voluntário foi o que você fez.
o Espontâneo é aquilo que você quis fazer.
 Afastam a voluntariedade: coação física, sonambulismo, etc.
 A doença mental, regra geral, é causa de inimputabilidade, salvo o sonambulismo.
 Não havendo voluntariedade, é fato atípico.

1.3. Vontade: Dolo ou culpa.


 Analisar a vontade do agente é analisar o dolo e a culpa.
 Por exemplo: Se uma pessoa quer matar e não mata, ela responde por tentativa. E se
ela quer matar e mata, responde por homicídio consumado. Ainda, se ela não queria
matar, mas matou, irá responder por lesão corporal seguida de morte, porque não
queria matar e acabou matando culposamente.
 A vontade passa a ser analisada no âmbito da tipicidade > fato típico.
 Para o sistema clássico e neoclássico, o dolo era normativo, uma vez que estava
contido na culpabilidade (dolo do causalismo). Quando Welzel tira o dolo da
culpabilidade e põe na tipicidade, esse dolo passa a ser um dolo natural.
- Dolo normativo era aquele que estava dentro da culpabilidade.
- Dolo natural era aquele dentro do fato típico, dentro da tipicidade, da condita >
ligado ao elemento próprio da conduta, da vontade do agente.

→ O art. 18, CP: conceitua o que é crime doloso e culposo.


a) Dolo (art. 18, II, do CP):
- Quis o resultado = Teoria da vontade: Haverá dolo quando o agente possuir a vontade livre
e consciente de realizar a conduta proibida no tipo penal.
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- Assumiu o risco = Teoria da assunção / assentimento:


haverá dolo quando o agente, prevendo como possível o resultado lesivo, atua sem se
importar com a produção do resultado. Mesmo não querendo o resultado, não se importou.
o Dolo eventual: o agente prevê o resultado e não se importa. Só pode assumir o risco
de algo que previu que o resultado poderia acontecer, não tem dolo eventual.

b) Culpa (art. 18, II, do CP):


 Requisitos da culpa:
1º. Para existir uma conduta culposa é preciso a existência de uma conduta
humana, voluntária, comissiva ou omissiva.
2º. A Inobservância do dever de cuidado, imprudência, negligência ou
imperícia.
3º. Resultado lesivo não querido, nem assumido.
- Não cabe tentativa para crime culposo; crime culposo só existe se houver
consumação
4º. A relação de causalidade, que é indispensável para que o resultado lesivo
tenha sido resultado da daquela conduta.
5º. A previsibilidade, só responde pelo ato lesivo que é previsível (culpa
consciente quando se prevê concretamente, mas não queria o resultado lesivo. E
na culpa inconsciente, o agente não prevê o que era previsível).
6º. A tipicidade formal, previsão legal.

Observação: A regra é o dolo e a exceção é a culpa, se tiver expressa previsão legal.


- É comum que nosso legislador tenha tipos penais básicos e traga circunstâncias que vão
agravando esse tipo penal mais básico.

1.4. Ação ou Omissão: A ação e a omissão vão resultar em tipos penais de espécies distintas.
 Se o agente pratica uma ação, ele vai responder por um crime comissivo. Se ele
pratica uma ação, buscar-se-á um tipo penal que tipifica a ação que ele praticou e ali
sua conduta será enquadrada.
Ex.: Art. 121. Matar alguém.
A conduta proibida aqui é “matar”, portanto, o homicídio é um crime comissivo,
porque a conduta proibida é uma ação.
 Quando o sujeito pratica uma omissão, tem-se duas possibilidades:
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Crime omissivo próprio

OMISSÃO

Crime omissivo impróprio

a) Crime omissivo próprio/puro: Essa é a regra. Se o sujeito praticou uma omissão,


ele responderá por um crime omissivo próprio. É aquele crime em que se proíbe uma
omissão. EX.: art. 135, do CP, que trata da omissão de socorro; art. 246, que trata do
abandono intelectual.
- O agente se omite quando o tipo penal estabelece que a omissão, naquelas
circunstâncias, tipifica o delito. Ou seja, o agente simplesmente descumpre a norma penal
que lhe impunha o dever de agir.

b) Omissivo improprio/impuros (art. 13, §2º, CP): o sujeito se omite, mas responde
por um crime comissivo, também chamado de crime comissivo por omissão.
Ex.: Leandro, professor, estava indo para o CEJAS e se depara com um acidente
no caminho, em que a vítima se encontrava em estado grave. Se ele não prestar
socorro, responderá por omissão de socorro prevista no art. 135, do CP. Agora,
se Leandro é bombeiro e, nessa mesma situação, ver a pessoa acidentada, em
estado grave, e não presta socorro, ele responderá por omissão mais grave, ou
seja, por crime comissivo impróprio, uma vez que se encontrava no papel de
garantidor, respondendo, portanto, por tentativa de homicídio, ou por
homicídio consumados caso a vítima venha morrer.

➢ Veja que o bombeiro, neste caso, responderá como se tivesse matado,


porque ele tinha o dever legal de não se omitir no caso concreto.
➢ Em tais crimes, o agente é responsabilizado por um determinado
resultado lesivo, por ter se omitido quando tinha o dever legal de
agir, não imposto as pessoas em geral.

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2) RESULTADO:
2.1. Crime Material: Aquele que, a conduta prevista pode causar um resultado naturalístico
(perceptível no mundo das coisas) e a consumação do crime depende da produção desse
resultado.
Ex.: crime de homicídio (art. 121, CP).
o A ideia de tipicidade vai se aplicar com perfeição para os crimes materiais
consumados. Se não for um crime material consumado, não necessariamente se irá
analisar cada um desses elementos do fato típico (conduta, resultado, nexo causal e
tipicidade).

2.2. Crime Formal: Aquele em que a conduta que pode causar um resultado naturalístico, mas
a consumação não depende desse resultado.
Ex.: crime de extorsão mediante sequestro (art. 159, CP). → Toda infração penal a que a
lei comina pena de reclusão ou detenção.

Observações:

Crime transeunte: não deixa vestígios, sendo necessário a realização de


perícia para provar que houve materialidade. Não havendo como ser
feita, poderá ser provada por outro meio.

Crime não transeunte: deixa vestígios provados por exame pericial


(art. 168, do CPP, excepciona as hipóteses de exame pericial quando
desaparecem os vestígios sem culpa da vítima ou da autoridade).

3) NEXO CAUSAL:
▪ O nexo causal é o vínculo que une a conduta do agente ao resultado naturalístico ocorrido
no mundo exterior.
▪ Pela teoria da equivalência dos antecedentes causais (regra adotada), o resultado de que
depende a existência do crime só pode ser imputável a quem deu lhe deu causa (ação ou
omissão), nos moldes do art. 13, do CP.
o Teoria criticada por criar uma projeção de uma regressão ao infinito.

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o A contra crítica diz que a regressão ao infinito é mentira,


uma vez que somente se regredirá onde houver dolo ou culpa. Não existindo mais dolo
ou culpa, não há mais o que se analisar.
- Dolo e culpa são limitadores da teoria da equivalência dos antecedentes causais.

4) TIPICIDADE:
▪ Formal: é a adequação da conduta do agente a uma previsão legal.

a) Tipicidade formal imediata/direta: quando se encontra diretamente no dispositivo


e se encaixa a conduta do agente. → Consumação do crime.

b) Tipicidade formal mediata/indireta: quando a tipificação só ocorre com uma norma


acessória/subsidiária. → Tentativa.

c) Tipicidade conglobante (Englobante) - engloba alguns fatores:


- Tipicidade material;
- Estrito cumprimento do dever legal;
- Iter crimines cogitar;
- Atos preparatórios (se for crime autônomo);
- Princípio da consunção (o crime fim absorve o ato preparatório, Súmula 17/STJ).

4.1. Iter Criminis: Análise da conduta estritamente; olhar para a conduta e pensar com a seria
aplicada, como seria compreendida.
o Todo crime doloso é premeditado.

Consumação
Fase interna Fase externa Todos
Cogitação Atos Atos
preparatórios executórios Crime
Tentativa impossível

Desistência Voluntária ou
Arrependimento Eficaz

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a) Premeditação / Cogitação: é uma circunstância natural de todo e qualquer crime. Agora, se


pode dosar o tempo de premeditação na aplicação da pena.
o Cogitar por si só não é crime. → Princípio da Alteridade, que diz que o Direito Penal
somente pode se importar com condutas que ultrapassem a esfera do próprio agente.
E quando cogita se está praticando uma conduta que não ultrapassa a sua esfera
individual.
o Não influencia na tipicidade da conduta, mas influencia na dosimetria da pena.
o Fase interna e irrelevante para o direito penal.

b) Atos preparatórios: é uma fase externa, em que se poderá punir.


o Como regra geral, os atos preparatórios não são puníveis. Só se pune o ato
preparatório quando este for crime autônomo.
Ex.: porte ilegal de arma.
o Nos atos preparatórios, em regra, aplica-se o princípio chamado de consunção, ou seja,
quando o agente praticar o crime fim, o ato preparatório será absorvido pelo crime
fim.
o Pelo princípio da consunção, o crime meio será absorvido pelo fim, independente da
gravidade > o direito é finalista.
o O Crime contra a ordem tributária só se configura se houver fraude > inadimplência
não é crime.

→ Teoria dos atos preparatórios:


i. Subjetiva: o agente responde pelos atos preparatórios como forma de
prevenção criminal, como se tivesse praticado o crime fim (não é uma teoria
adotada pelo Código Penal).
ii. Objetiva: o agente só responde pelo ato preparatório se ele executar o crime
fim, ou se o ato preparatório for um crime autônomo, respondendo pelo ato
preparatório (adotada pelo Código Penal).

c) Atos executórios: é uma fase externa, em que se poderá punir.


o Iniciados quando o agente começa a praticar o primeiro ato com capacidade de
lesionar o bem jurídico.

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30 Leandro Gesteira

o Adotamos a teoria formal, em que se considera ato


executório o momento em que o agente começa a praticar a conduta descrita no tipo
penal.
- Teoria material: A execução é iniciada por uma concepção naturalística,
quando houver risco para o bem jurídico.
o Poderá desencadear:
i. Consumação (art. 14, I, CP): O crime é consumado quando nele se
reúnem todos os elementos de sua definição legal.
ii. Tentativa (art. 14, II, CP): para existir a tentativa, precisamos verificar
se a execução foi iniciada e a ausência da consumação por circunstâncias
alheias a vontade do agente.
- Se não houver início da execução, será ato preparatório e não
haverá punição.
- Quando estamos diante de um crime impossível, estamos diante de
uma tentativa.
o Sempre que a prova falar em morte, em qualquer tipo penal, é morte cerebral,
encefálica (Lei 9.434/97, art. 3º) > o momento de consumação da morte para a
legislação brasileira é a morte cerebral, a morte encefálica.

Súmula 610, STF: Há crime de latrocínio, quando o


homicídio se consuma, ainda que não realize o agente
a subtração de bens da vítima.

o Crime impossível (art. 17, CP): quando, pela ineficácia absoluta do meio, ou por conta
da impropriedade absoluta do objeto, o agente jamais chegará à consumação, sendo
impossível a consumação.
- Em se tratando de crime impossível, não se pune a tentativa, que é um fato
atípico, ou seja, o sujeito não irá responder. Logo, nem toda tentativa será
punida, pois só se pune as tentativas que impõem risco ao bem jurídico.
- O flagrante preparado é crime impossível (súmula 145/STF).

Art. 17, CP: Não se pune a tentativa quando, por ineficácia


absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do
objeto, é impossível consumar-se o crime.

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Observação: Portar arma de brinquedo não é crime > fato atípico. Portar
arma desmuniciada é crime lesiona o bem jurídico (etéreo) da
incolumidade pública (segurança da sociedade).

Infrações penais que não admitem tentativas:


- Crime omisso próprio;
- Crime culposo;
- Contravenção penal (art.4º, do Decreto-lei 3.688/41);
- Preterdoloso (o agente age com dolo, mas o resultado produzido não é voluntário).

o Dentre os atos executórios, poderá ocorrer a desistência voluntária ou o


arrependimento eficaz: Não admite-se a consumação do crime. São excludentes de
tentativa, entretanto, o agente vai responder pelos atos já praticados, se típicos.
- A desistência voluntária é quando o sujeito dá início à execução do delito e não
esgota o potencial lesivo, os meios executórios. Ele pode seguir adiante, mas para,
tem uma postura de abstenção (art. 15, CP).
- No arrependimento eficaz, o sujeito vai esgotar a potencialidade lesiva, ou seja,
ele vai esgotar todos os meios executórios que tinha a disposição para consumar o
crime. Mas, antes do resultado, da consumação, ele pratica uma conduta, uma
postura ativa, para impedir o resultado.
- Se o arrependimento for ineficaz (art. 65, III, “b”, CP), ou seja, o resultado se
produziu, o sujeito vai responder pelo resultado produzido, mas o juiz pode, na
hora de aplicar a pena, reconhecer essa atenuante de ter procurado evitar as
consequências de seus atos.

Crime impossível > tentativa inidônea, quase crime, tentativa inadequada.

TEORIAS:

i) Subjetiva: diz que o autor deve responder com a mesma pena da tentativa do crime
impossível, em razão da sua periculosidade, pois ele acredita que está praticando o
crime.

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ii) Objetiva: defende que, o agente deveria


responder em razão do perigo representado ao bem jurídico, apenas se houvesse real
perigo de produção da lesão > adotado pelo nosso ordenamento jurídico).
iii) Teoria sintomática: defende que deveria ser analisado, em cada caso concreto,
se a conduta do agente representaria ou revelaria uma periculosidade.

Observação: Crime putativo é a expressão vem de


irreal/ilusório. É um crime ilusório.

d) Exaurimento: quando o agente obtém vantagem que almejava obter com a pratica da
conduta.
o Iniciados

QUESTÕES PARA TREINO:

1) Durante um assalto a uma instituição bancária, Antônio e Francisco, gerentes do estabelecimento,


são feitos reféns. Tendo ciência da condição deles de gerentes e da necessidade de que suas digitais
fossem inseridas em determinado sistema para abertura do cofre, os criminosos colocam, à força, o
dedo de Antônio no local necessário, abrindo, com isso, o cofre e subtraindo determinada quantia em
dinheiro. Além disso, sob a ameaça de morte da esposa de Francisco, exigem que este saia do banco,
levando a sacola de dinheiro juntamente com eles, enquanto apontam uma arma de fogo para os
policiais que tentavam efetuar a prisão dos agentes. Analisando as condutas de Antônio e Francisco,
com base no conceito tripartido de crime, é correto afirmar que
a) Antônio não responderá pelo crime por ausência de tipicidade, enquanto
Francisco não responderá por ausência de ilicitude em sua conduta.
b) Antônio não responderá pelo crime por ausência de ilicitude, enquanto Francisco não
responderá por ausência de culpabilidade em sua conduta.
c) Antônio não responderá pelo crime por ausência de tipicidade, enquanto
Francisco não responderá por ausência de culpabilidade em sua conduta.
d) Ambos não responderão pelo crime por ausência de culpabilidade em suas condutas.

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33 Leandro Gesteira

2) É CORRETO que no crime progressivo há:


a) pluralidade de condutas delitivas encadeadas por uma seqüência causal e certa unidade de
contexto, sendo a posterior mais grave que a anterior, com desdobramento do elemento
subjetivo em momentos distintos;
b) um tipo penal, abstratamente considerado, que contém implicitamente outro, o qual deve
necessariamente ser realizado para se alcançar o resultado;
c) o cometimento de duas infrações penais, sendo a primeira menos grave que a segunda, a qual,
por isso, considera-se pós-fato não punível;
d) o cometimento de duas ou mais infrações penais, num mesmo contexto e contra a mesma
vítima, com unidade de desígnios.

3) Sobre o momento consumativo do crime, assinale a alternativa incorreta:


a) nos crimes materiais, a consumação ocorre com o evento ou resultado;
b) nos crimes culposos, só há consumação com o resultado naturalístico;
c) nos crimes formais a consumação ocorre com a própria ação, já que não se exige o resultado
naturalístico;
d) nos crimes omissivos impróprios, a consumação ocorre com a simples omissão do agente.

4) De acordo com os postulados da teoria da imputação objetiva, assinale a alternativa CORRETA:


a) para que ocorra a imputação objetiva da conduta típica basta que o agente provoque uma
situação de risco juridicamente proibido, pouco importando a materialização desse risco em
resultado lesivo;
b) sendo a imputação objetiva tema afeto à tipicidade, a atuação nos limites do risco permitido
não é penalmente típica, estando ausente o desvalor da conduta;
c) A imputação é excluída quando a conduta geradora do resultado se configurar como uma ação
que diminui o risco existente ao invés de incrementá-lo;
d) não há imputação se a conduta geradora do resultado, apesar de haver ocasionado um perigo
relevante para o bem jurídico, é considerada socialmente adequada.

5) Durante a madrugada, Lucas ingressou em uma residência e subtraiu um computador. Quando se


preparava para sair da residência, ainda dentro da casa, foi surpreendido pela chegada do proprietário.
Assustado, ele o empurrou e conseguiu fugir com a coisa subtraída. Na manhã seguinte, arrependeu-se
e resolveu devolver a coisa subtraída ao legítimo dono, o que efetivamente veio a ocorrer. O
proprietário, revoltado com a conduta anterior de Lucas, compareceu em sede policial e narrou o
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34 Leandro Gesteira

ocorrido. Intimado pelo Delegado para comparecer em sede policial,


Lucas, preocupado com uma possível responsabilização penal, procura o advogado da família e solicita
esclarecimentos sobre a sua situação jurídica, reiterando que já no dia seguinte devolvera o bem
subtraído. Na ocasião da assistência jurídica, o(a) advogado(a) deverá informar a Lucas que poderá ser
reconhecido(a)
A) a desistência voluntária, havendo exclusão da tipicidade de sua conduta.
B) o arrependimento eficaz, respondendo o agente apenas pelos atos até então praticados.
C) o arrependimento posterior, não sendo afastada a tipicidade da conduta, mas gerando
aplicação de causa de diminuição de pena.
D) a atenuante da reparação do dano, apenas, não sendo, porém, afastada a tipicidade da
conduta.

6) Talles, desempregado, decide utilizar seu conhecimento de engenharia para fabricar máquina
destinada à falsificação de moedas. Ao mesmo tempo, pega uma moeda falsa de R$ 3,00 (três reais) e,
com um colega também envolvido com falsificações, tenta colocá-la em livre circulação, para provar o
sucesso da empreitada. Ocorre que aquele que recebe a moeda percebe a falsidade rapidamente, em
razão do valor suspeito, e decide chamar a Polícia, que apreende a moeda e o maquinário já fabricado.
Talles é indiciado pela prática de crimes e, já na Delegacia, liga para você, na condição de advogado(a),
para esclarecimentos sobre a tipicidade de sua conduta. Considerando as informações narradas, em
conversa sigilosa com seu cliente, você deverá esclarecer que a conduta de Talles configura
A) atos preparatórios, sem a prática de qualquer delito.
B) crimes de moeda falsa e de petrechos para falsificação de moeda.
C) crime de petrechos para falsificação de moeda, apenas.
D) crime de moeda falsa, apenas, em sua modalidade tentada.

7) Pretendendo causar unicamente um crime de dano em determinado estabelecimento comercial,


após discussão com o gerente do local, Bruno, influenciado pela ingestão de bebida alcoólica, arremessa
uma grande pedra em direção às janelas do estabelecimento. Todavia, sua conduta imprudente fez com
que a pedra acertasse a cabeça de Vitor, que estava jantando no local com sua esposa, causando sua
morte. Por outro lado, a janela do estabelecimento não foi atingida, permanecendo intacta. Preocupado
com as consequências de seus atos, após indiciamento realizado pela autoridade policial, Bruno procura
seu advogado para esclarecimentos. Considerando a ocorrência do resultado diverso do pretendido
pelo agente, o advogado deve esclarecer que Bruno tecnicamente será responsabilizado pela(s)
seguinte(s) prática(s) criminosa(s):
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35 Leandro Gesteira

A) homicídio culposo e tentativa de dano, em concurso material.


B) homicídio culposo, apenas.
C) homicídio culposo e tentativa de dano, em concurso formal.
D) homicídio doloso, apenas.

8) Carlos presta serviço informal como salva-vidas de um clube, não sendo regularmente contratado,
apesar de receber uma gorjeta para observar os sócios do clube na piscina, durante toda a semana. Em
seu horário de “serviço”, com várias crianças brincando na piscina, fica observando a beleza física da
mãe de uma das crianças e, ao mesmo tempo, falando no celular com um amigo, acabando por ficar de
costas para a piscina. Nesse momento, uma criança vem a falecer por afogamento, fato que não foi
notado por Carlos. Sobre a conduta de Carlos, diante da situação narrada, assinale a afirmativa correta.
A) Não praticou crime, tendo em vista que, apesar de garantidor, não podia agir, já que
concretamente não viu a criança se afogando.
B) Deve responder pelo crime de homicídio culposo, diante de sua omissão culposa, violando o
dever de garantidor.
C) Deve responder pelo crime de homicídio doloso, em razão de sua omissão dolosa, violando o
dever de garantidor.
D) Responde apenas pela omissão de socorro, mas não pelo resultado morte, já que não havia
contrato regular que o obrigasse a agir como garantidor

9) Com dificuldades financeiras para comprar o novo celular pretendido, Vanessa, sem qualquer
envolvimento pretérito com aparato policial ou judicial, aceita, a pedido de namorado de sua prima, que
havia conhecido dois dias antes, transportar 500 g de cocaína de Alagoas para Sergipe. Apesar de aceitar
a tarefa, Vanessa solicitou como recompensa R$ 5.000,00, já que estava muito nervosa por nunca ter
adotado qualquer comportamento parecido. Após a transferência do valor acordado, Vanessa esconde
o material entorpecente na mala de seu carro e inicia o transporte da substância. Ainda no estado de
Alagoas, 30 minutos depois, Vanessa é abordada por policiais e presa em flagrante. Após denúncia pela
prática do crime de tráfico de drogas com causa de aumento do Art. 40, inciso V, da Lei nº 11.343/06
(“caracterizado tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal”), durante a
instrução, todos os fatos são confirmados: Folha de Antecedentes Criminais sem outras anotações,
primeira vez no transporte de drogas, transferência de valores, que o bem transportado era droga e que
a pretensão era entregar o material em Sergipe. Intimado da sentença condenatória nos termos da
denúncia, o advogado de Vanessa, de acordo com as previsões da Lei nº 11.343/06 e a jurisprudência
do Superior Tribunal de Justiça, deverá pleitear
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Direito Penal
36 Leandro Gesteira

A) o reconhecimento da causa de diminuição de pena do tráfico


privilegiado e reconhecimento da tentativa.
B) o afastamento da causa de aumento e o reconhecimento da causa de diminuição de pena do
tráfico privilegiado.
C) o afastamento da causa de aumento, apenas.
D) o reconhecimento da causa de diminuição de pena do tráfico privilegiado, apenas.

GABARITO:
1) C 2) B 3) D 4) D 5) C 6) B 7) B 8) D 9) A

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Direito Penal
37 Leandro Gesteira

ILICITUDE OU ANTIJURIDICIDADE

Fato Típico Ilicitude Culpabilidade

I. Conduta: Art. 23 CP: I. Imputabilidade:


- Humana; I. Estado de necessidade; Critérios:
- Voluntária > coação - Biológico: menor de 18 anos;
física/sonambulismo; II. Legítima defesa; desenvolvimento Mental
- Vontade: dolo e culpa; incompleto ou retardado.
- Ação ou comissivo > omissivo III. Estrito cumprimento do - Psicológico;
próprio e omissivo imprópria. dever legal; - Biopsicológico: perturbação de
saúde mental e inteiramente
II. Resultado: IV. Exercício regular de incapaz de entender.
- Formal; direito.
- Material. II. Potencial consciência da
V. Consentimento da vítima: Ilicitude;
III. Nexo Causal: Causa supralegal > pode excluir
- Vínculo que une o agente ao a tipicidade (quando for III. Exigibilidade de conduta
fato. elemento do tipo penal) ou a diversa.
ilicitude (quando não for
IV. Tipicidade: elementar do crime e os
- Formal mediata; requisitos estiverem presentes).
- Formal imediata;
- Conglobante.

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HIPÓTESES DAS EXCLUDENTES DE ILICITUDE:

1) LEGÍTIMA DEFESA (ART. 25, CP):


▪ A palavra-chave é “agressão injusta”.
o Agressão injusta = é uma agressão ilícita!
o Essa injusta agressão tem que ser atual e iminente.
o Deve conter fato típico, atual ou iminente, tutelando direito próprio ou alheio, utilizando
de meios moderados.
▪ O sujeito deve fazer um uso moderado dos meios que ele tem a sua disposição. Logo, tem que
verificar o meio necessário e suficiente para fazer cessar a agressão. E depois tem que fazer o
uso moderado desse meio necessário.
▪ Não é cabível a legitima defesa de legitima defesa.
▪ É cabível o estado de necessidade diante de legitima defesa.

2) ESTADO DE NECESSIDADE (ART. 24 DO CP):


▪ O agente se encontra em uma situação de perigo atual, e esta situação de perigo pode decorrer
de uma ação humana, por um evento da natureza, ou até mesmo por ataque de um animal.
▪ Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que
não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo
sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
o Perigo não causado voluntariamente.
o Ponderação de bens > há um critério de proporcionalidade, em que o bem protegido tem
que ser igual ou maior do que o bem sacrificado.
Ex.: pode sacrificar um bem para salvar uma vida.
o Quando o ataque de animal é espontâneo, estamos diante de caso de estado de
necessidade.
- Se este animal for instigado para atacar, estaremos diante de uma agressão
injusta. Logo, teremos um caso de legítima defesa.
▪ Quem pode alegar o estado de necessidade é aquele que não provocou a situação de perigo
voluntariamente. O sujeito que provocou a situação não poderá alegar o estado de necessidade.

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▪ O estado de necessidade só é alegado quando for inevitável


aquela situação de perigoso, ou seja, quando não há outro modo para se salvar da situação de
perigo.
▪ Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
▪ O estado de necessidade pode ser agressivo (atinge um patrimônio de pessoa inocente, que não
tem nada a ver com o perigo produzido) e pode ser defensivo (não gera o direito de
indenização).
o Essa pessoa inocente pode, com base no art. 929 do CC, cobrar indenização daquela
pessoa que violou seu patrimônio, mas que estava em perigo.

3) ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL (ART. 23, III, CP):


▪ Corresponde e compreende toda e qualquer obrigação direta ou indiretamente derivada de
lei, todavia, cabe acrescentar as decisões judiciais
▪ É causa excludente de ilicitude consistente na realização de fato típico. Tal excludente abrange
funcionários públicos, agentes públicos e, também, particular que exerce função pública
▪ É necessário que o estrito cumprimento do dever legal se dê nos exatos termos, impostos pela
lei.
▪ O estrito cumprimento do dever legal é pressuposto de dois requisitos:
i. O estrito cumprimento: somente os atos necessários justificam o comportamento, em
princípio ilícito; e
ii. O dever legal: norma da qual surge o dever caracterizando-se pela obrigatoriedade e
juridicidade.
▪ O excesso punível está descrito no art. 23, parágrafo único, CP.
▪ Causa de excludente de ilicitude que ocorre em casos de funcionários públicos (ou agentes
particulares que exercem funções públicas), os quais em determinadas situações são obrigados
a violar bem jurídico de indivíduos pelo estabelecimento de um dever legal.
Ex.: Prisão em flagrante executada por policiais.

4) EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO:


▪ Previsto na 2ª parte do art. 23, III, do CP, o exercício regular de um direito compreende ações
do cidadão comum autorizadas pela existência de direito definido em lei e condicionadas a
regularidade do exercício desse direito.

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40 Leandro Gesteira

▪ O exercício regular de direito pode ser “pro magistratu”, que


são situações em que o Estado não pode estar presente para evitar a lesão ao bem jurídico ou
recompor a ordem pública. Como pode ser também “direito de castigo”, que consiste na educação
e no exercício do poder familiar.
▪ Possui três requisitos:
i. Indispensabilidade (impossibilidade de recurso útil aos meios coercitivos
normais);
ii. Proporcionalidade;
iii. Conhecimento da situação de fato justificante (subjetivo).
▪ Um exemplo de adoção prática ao exercício regular do direito, dentro da realidade das grandes
cidades, são os ofendículos, consistentes em aparato preordenado para a defesa do patrimônio.
Ex.: cacos de vidro no muro, cerca elétrica, lanças nos portões, etc.

5) CONSENTIMENTO DA VÍTIMA:
▪ Consentimento da vítima é uma causa supralegal de excludente de ilicitude, devendo
observar os seguintes requisitos: o bem jurídico deve ser disponível; a vítima deve possuir
capacidade para consentir; e o consentimento deve ser dado até a consumação do crime.
▪ O consentimento deve acontecer no inter criminis. Se ele for dado após a consumação, não
exclui a ilicitude; se o crime for de ação incondicionada, ele já está consumado e o consentimento
depois não serve de nada (o Ministério Público irá oferecer a denúncia).

Observação: A descriminante putativa é fato previsto no art. 20,


§1, CP, dispondo que, é isento de pena quem, por erro plenamente
justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se
existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o
erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.

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CULPABILIDADE

➢ Conhecido como juízo de reprovação social.

➢ Para que o sujeito seja culpável, ele tem que ser imputável > é preciso que ele tenha potencial
consciência da ilicitude (erro despercebido), ou seja, tenha capacidade de compreender que
aquela conduta que ele está desenvolvendo é ilícita; e exigibilidade de conduta diversa (uma
conduta diferente tinha como ser exigida?).

➢ Causas de exclusão da culpabilidade: quando o sujeito for inimputável, faltar potencial


consciência da ilicitude (erro de proibição direto, do art. 21 do CP) ou quando for inexigível conduta
diversa (por meio de coação moral irresistível e obediência hierárquica).
o A inimputabilidade pode ser por doença mental ou enfermidade mental (art. 26 do CP), ou
ainda por embriaguez completa ou acidental (art. 28 do CP).

1) IMPUTABILIDADE:
1.1. Critérios:
a) Biológico (art. 27, CP): Considera apenas o desenvolvimento mental do agente
(doença mental ou idade), independentemente se tinha, ao tempo da conduta, capacidade
de entendimento e autodeterminação.
b) Psicológico: Considera apenas se o agente, ao tempo da conduta, tinha a capacidade
de entendimento e autodeterminação, independentemente de sua condição mental ou
idade.
c) Biopsicológico (art. 26, CP): Considera-se inimputável aquele que, em razão de sua
condição mental (por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado), era, ao tempo da conduta, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Como regra geral, o Código Penal adota o Critério Biopsicológico.

2) INIMPUTABILIDADE:
2.1. Por doença mental/enfermidade mental: em decorrência de doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado + inteiramente incapaz de compreender o
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caráter ilícito da sua conduta e de se comportar de acordo com


esse entendimento. → Tem-se um critério biopsicológico.
o A sanção penal aplicada é uma medida de segurança, que pode consistir em uma
internação no hospital de custódia ou um tratamento ambulatorial (art. 97 do CP).
o O juiz vai proferir uma sentença absolutória imprópria. É imprópria porque o juiz vai
aplicar uma medida de segurança, que pode ser uma internação ou um tratamento
ambulatorial.

2.2. Por embriaguez completa ou acidental: a inimputabilidade também pode decorrer


por embriaguez completa ou acidental (pode caracterizar uma semi-inimputabilidade, de
acordo com o art. 26, §único, CP).
o Sujeito com perturbação mental e não ser inteiramente capaz de compreender o
caráter ilícito, sofrerá uma sentença penal condenatória, com a aplicação de causa de
diminuição de pena (1/2 a 2/3).
o Inimputabilidade por embriaguez completa (o sujeito tem que estar num estado
de incapacidade de compreensão e de determinação; o sujeito já não sabe mais o que
é certo ou errado) ou acidental (aquela que pode decorrer de força maior ou de caso
fortuito).
o Embriaguez acidental incompleta: quando sujeito tem a sua capacidade volitiva ou
intelectual reduzida, nesse caso, teremos diminuição da pena e a sentença penal será
condenatória.

Observações:
➢ Não excluem a imputabilidade penal (i) a emoção e a paixão,
e (ii) a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou
substância de efeitos análogos.

2) EXCLUDENTES DE CULPABILIDADE (ART. 22, CP):


▪ O sujeito que cometeu um crime é afastado ou excluído da culpa de tê-lo cometido.
▪ Situação em que houve um ato ilícito e tipificado, como tal no Código Penal, mas o agente que
o cometeu não é responsável pela culpa de tê-lo cometido.
▪ Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não
manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.

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2.1. Coação Moral Irresistível


 Existe uma ameaça, e a vontade do coacto não é livre, embora possa decidir pelo que
considere para si um mal menor; por isso, trata-se de hipótese em que não se exclui a
ação, mas sim a culpabilidade, por não lhe ser exigível comportamento diverso.

2.2. Obediência Hierárquica


 Prática do crime “em estrita obediência à ordem, não manifestamente ilegal, de
superior hierárquico”.
o Supondo obedecer a uma ordem legítima do superior, o agente pratica o fato
incriminado.
 Não sendo a ordem manifestamente ilegal, se o agente não tem condições de se opor
a ela em decorrência das consequências que podem advir no sistema de hierarquia e
disciplina a que está submetido, inexistirá a culpabilidade pela coação moral
irresistível, estando à ameaça implícita na ordem ilegal. Em vez de erro de proibição,
há inexigibilidade de conduta diversa.
 Para que o subordinado cumpra a ordem e se exclua a culpabilidade, é necessário que
aquela:
a) Seja emanada da autoridade competente.
b) Tenha o agente atribuições para a prática do ato.
c) Não seja a ordem manifestamente ilegal.

QUESTÕES PARA TREINO:

1) Laura, nascida em 21 de fevereiro de 2000, é inimiga declarada de Lívia, nascida em 14 de dezembro


de 1999, sendo que o principal motivo da rivalidade está no fato de que Lívia tem interesse no namorado
de Laura. Durante uma festa, em 19 de fevereiro de 2018, Laura vem a saber que Lívia anunciou para
todos que tentaria manter relações sexuais com o referido namorado. Soube, ainda, que Lívia disse que,
na semana seguinte, iria desferir um tapa no rosto de Laura, na frente de seus colegas, como forma de
humilhá-la. Diante disso, para evitar que as ameaças de Lívia se concretizassem, Laura, durante a festa,
desfere facadas no peito de Lívia, mas terceiros intervêm e encaminham Lívia diretamente para o
hospital. Dois dias depois, Lívia vem a falecer em virtude dos golpes sofridos. Descobertos os fatos, o
Ministério Público ofereceu denúncia em face de Laura pela prática do crime de homicídio qualificado.
Confirmados integralmente os fatos, a defesa técnica de Laura deverá pleitear o reconhecimento da

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A) inimputabilidade da agente.
B) legítima defesa.
C) inexigibilidade de conduta diversa.
D) atenuante da menoridade relativa.

2) Miguel, com 27 anos de idade, pratica conjunção carnal com Maria, jovem saudável com 16 anos de
idade, na residência desta, que consente com o ato. Na mesma data e também na mesma residência, a
irmã de Maria, de nome Marta, com 18 anos, permite que seu namorado Alexandre quebre todos os
porta-retratos que estão com as fotos de seu ex-namorado. O Ministério Público ofereceu denúncia em
face de Miguel pelo crime de estupro. Marta, após o fim da relação, ofereceu queixa pela prática de dano
por Alexandre. Os réus contrataram o mesmo advogado, que deverá alegar que não foram praticados
crimes, pois, em relação às condutas de Miguel e Alexandre, respectivamente, estamos diante de
A) causa supralegal excludente da ilicitude e causa supralegal de excludente da culpabilidade.
B) causa excludente da tipicidade, em ambos os casos.
C) causa excludente da tipicidade e causa supralegal de excludente da ilicitude.
D) causa supralegal de excludente da ilicitude, em ambos os casos.

3) Mário subtraiu uma TV do seu local de trabalho. Ao chegar em casa com a coisa subtraída, é
convencido pela esposa a devolvê-la, o que efetivamente vem a fazer no dia seguinte, quando o fato já
havia sido registrado na delegacia. O comportamento de Mário, de acordo com a teoria do delito,
configura
A) desistência voluntária, não podendo responder por furto.
B) arrependimento eficaz, não podendo responder por furto.
C) arrependimento posterior, com reflexo exclusivamente no processo dosimétrico da pena.
D) furto, sendo totalmente irrelevante a devolução do bem a partir de
convencimento da esposa.

4) Carlos e seu filho de dez anos caminhavam por uma rua com pouco movimento e
bastante escura, já de madrugada, quando são surpreendidos com a vinda de um
cão pitbull na direção deles. Quando o animal iniciou o ataque contra a criança, Carlos, que estava
armado e tinha autorização para assim se encontrar, efetuou um disparo na direção do cão, que não foi
atingido, ricocheteando a bala em uma pedra e acabando por atingir o dono do animal, Leandro, que
chegava correndo em sua busca, pois notou que ele fugira clandestinamente da casa. A vítima atingida
veio a falecer, ficando constatado que Carlos não teria outro modo de agir para evitar o ataque do cão
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contra o seu filho, não sendo sua conduta tachada de descuidada. Diante
desse quadro, assinale a opção que apresenta situação jurídica de Carlos.
A) Carlos atuou em legítima defesa de seu filho, devendo responder, porém, pela morte de
Leandro.
B) Carlos atuou em estado de necessidade defensivo, devendo responder, porém, pela morte de
Leandro.
C) Carlos atuou em estado de necessidade e não deve responder pela morte de Leandro.
D) Carlos atuou em estado de necessidade putativo, razão pela qual não deve responder pela
morte de Leandro.

5) Débora estava em uma festa com seu namorado Eduardo e algumas amigas quando percebeu que
Camila, colega de faculdade, insinuava-se para Eduardo. Cega de raiva, Débora esperou que Camila fosse
ao banheiro e a seguiu. Chegando lá e percebendo que estavam sozinhas no recinto, Débora desferiu
vários tapas no rosto de Camila, causando-lhe lesões corporais de natureza leve. Camila, por sua vez,
atordoada com o acontecido, somente deu por si quando Débora já estava saindo do banheiro,
vangloriando-se da surra dada. Neste momento, com ódio de sua algoz, Camila levanta-se do chão,
agarra Débora pelos cabelos e a golpeia com uma tesourinha de unha que carregava na bolsa, causando-
lhe lesões de natureza grave. Com relação à conduta de Camila, assinale a afirmativa correta.
A) Agiu em legítima defesa.
B) Agiu em legítima defesa, mas deverá responder pelo excesso doloso.
C) Ficará isenta de pena por inexigibilidade de conduta diversa.
D) Praticou crime de lesão corporal de natureza grave, mas poderá ter a pena diminuída.

6) Acerca das causas excludentes de ilicitude e extintivas de punibilidade, assinale a afirmativa


incorreta.
A) A coação moral irresistível exclui a culpabilidade, enquanto que a coação física irresistível
exclui a própria conduta, de modo que, nesta segunda hipótese, sequer chegamos a analisar a
tipicidade, pois não há conduta penalmente relevante.
B) Em um bar, Caio, por notar que Tício olhava maliciosamente para sua namorada, desfere
contra este um soco no rosto. Aturdido, Tício vai ao chão, levantando- se em seguida, e vai atrás
de Caio e o interpela quando este já estava saindo do bar. Ao voltar-se para trás, atendendo ao
chamado, Caio é surpreendido com um soco no ventre. Tício praticou conduta típica, mas
amparada por uma causa excludente de ilicitude.
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C) Mévio, atendendo a ordem dada por seu líder religioso e, com


o intuito de converter Rufus, permanece na residência deste à sua revelia, ou seja, sem o seu
consentimento. Neste caso, Mévio, mesmo cumprindo ordem de seu superior e mesmo sendo tal
ordem não manifestamente ilegal, pratica crime de violação de domicílio (Art. 150 do Código
Penal), não estando amparado pela obediência hierárquica.
D) O consentimento do ofendido não foi previsto pelo nosso ordenamento jurídico-penal como
uma causa de exclusão da ilicitude. Todavia, sua natureza justificante é pacificamente aceita,
desde que, entre outros requisitos, o ofendido seja capaz de consentir e que tal consentimento
recaia sobre bem disponível.

Gabarito
1) A 2) C 3) C 4) C 5) D 6) B

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TEORIA DO ERRO

❖ A vontade pressupõe ter consciência de algo.


❖ Analisar à vontade pressupõe analisar a consciência > só tem vontade quem tem consciência do
que está fazendo. E analisar vontade, pressupõe trazer as hipóteses de erro (chamado de erro de
fato e erro de direito).
o Welzel, em 1930, diz que a consciência deve ser analisada na conduta (ao analisar o dolo) e
potencial consciência da ilicitude. Ou seja, ele propõe que se faça a análise da consciência
duas vezes. E ao permitir a análise duas vezes da consciência, ele cria o erro de tipo e o erro
de proibição.

Erro de fato e erro de direito → Causalismo.


Erro de tipo e erro de proibição → Finalismo.

1) ERRO DE PROIBIÇÃO (ART. 21 DO CP):


▪ Situação em que o agente sabe qual conduta está praticando, mas acreditava que não era
proibida.
Ex.: um garoto de 17 anos tem relações sexuais com uma garota de 13 anos, e ele sabe que
ela tem 13 anos, mas acha que é permitido, uma vez que eles já namoravam há um ano.
Além disso, os pais de ambos aprovam esse namoro. Logo, o garoto achou que não era
crime ter relações com uma menor de 14 anos, tendo um relacionamento com ela e a
aprovação dos pais.
- Nesse caso, ele sabia que estava tendo reações sexuais com uma menor de 14
anos, mas achou que não era proibido.
▪ O sujeito não erra sobre um contexto fático, um contexto da realidade; o erro é sobre a ilicitude
do fato. O sujeito sabe exatamente o que faz, só falta lhe potencial consciência de que a conduta
é ilícita.
I. O fato é conhecido, mas não se percebe a ilicitude do ato;
II. Se for inevitável exclui a culpabilidade por falta de consciência da ilicitude.
▪ Consequências:
a) Se for inevitável, ou seja, escusável, vai ocorrer do sujeito ser isento de pena. É uma
causa de exclusão da culpabilidade.
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b) Se for um erro de proibição evitável ou inescusável


(aquela situação em que o sujeito, uma pessoa mais cautelosa, teria consciência de que a
conduta é ilícita), o sujeito vai responder pelo delito, mas terá uma diminuição da pena,
de 1/6 a 1/3.

Art. 21, CP. O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se
inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

2) ERRO DE TIPO ESSENCIAL: ART. 20, CAPUT, DO CP


2.1. Erro de tipo: é o erro sobre um elemento constitutivo do tipo. É quando o sujeito, na conduta
que ele desenvolve, erra sobre um desses elementos. Ou seja, é quando o agente vai desenvolver
uma conduta, mas desenvolve uma conduta sem saber que está praticando um tipo penal, um
crime.
o O sujeito desenvolve a conduta tendo uma falsa percepção de uma realidade.
o O sujeito não sabe que está praticando conduta típica, ou seja, não sabe o que faz.
Ex.: o sujeito está numa caçada e o objetivo é matar o animal. Ele ouve uma movimentação
atrás de alguns arbustos, supondo ser um animal, mira e efetua o disparo. Quando vai até
o animal, vê que era uma pessoa atrás da moita. Nesse caso, ele matou alguém sem saber
que estava matando uma pessoa, mas sim um animal.
 O erro de tipo sempre exclui o dolo.
 Consequências/Efeitos:
a) se for um erro de tipo vencível ou evitável/escusável (perdoável), aquele tipo
em que qualquer pessoa, naquela situação, erraria. → Tem-se como consequência
a exclusão do dolo e da culpa e o fato será atípico.
b) Se o erro de tipo for invencível, ou seja, inevitável/inescusável (imperdoável),
que uma pessoa com o mínimo de discernimento, mais cautelosa, mais cuidadosa,
não erraria, tem aqui a exclusão do dolo e o sujeito responderá por culpa, se tiver
modalidade culposa, ou seja, se tiver previsão legal na modalidade culposa.

3) ERRO DE TIPO ACIDENTAL:


▪ É aquele erro que recai sobre uma circunstância acessória do tipo penal.
▪ Não exclui o dolo.

3.1. Erro quanto ao objeto: é aquele que recai sobre o valor da coisa subtraída.
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49 Leandro Gesteira

Ex.: Leandro entra numa relojoaria pretendendo pegar e


subtrair um relógio de ouro. Mas, quando ele vai ver, na verdade é um relógio de latão. Ou
seja, ele errou quanto ao objeto. Ele, nesse caso, irá responder sim por crime de furto.

3.2. Erro quanto a pessoa (art. 20, §3º): o erro recai sobre a identificação da vítima. O sujeito
pretende praticar um delito uma pessoa e, por conta de um erro na identificação, acaba atingindo
pessoa diversa.
Ex.: Leandro quer matar Caio, vai ao encontro dele, mas encontra uma pessoa parecida e
acaba atirando por achar ser o próprio, mas na verdade é Ivan.
 O erro é sobre a identidade da vítima.
 Efeitos: considera as condições e qualidades da vítima pretendida e não da vítima real, que
foi efetivamente atingida.

3.3. Erro na Execução (art. 73 do CP): a doutrina costuma chamar de aberratio ictus.
 Segundo o art. 73 do CP, tem o “aberratio ictus” quando se tem um acidente no uso dos meios
de execução.
 Aqui, o sujeito pretende atingir uma pessoa pretendida, só que, por acidente ou erro no uso
dos meios de execução, atinge pessoa diversa. Há um erro no uso dos meios da execução que
acaba por atingir pessoa diversa. → Responde como se tivesse cometido o crime contra a
pessoa pretendida.
- A vítima pretendida está no local, mas no momento de executar o crime, acaba atingindo
pessoa diversa.
 Consequências: considera as condições e qualidades da pessoa pretendida, ignorando as
características da vítima atingida (serão os mesmos do art. 20, §3º).
 Resultado duplo: vai atingir a pessoa pretendida e também a pessoa diversa. Por um erro
na execução, acaba atingindo a pessoa pretendida e a pessoa diversa. Nesse caso, o agente irá
responder por concurso formal (art. 70, CP), em que o agente mediante uma ação pratica
mais de um crime, ou seja, produz mais de um resultado. Assim, o agente terá sua pena
aumentada de 1/6 a 1/3.
- Nesse caso, pega a pena do crime mais grave e aumenta de 1/6 a 1/3.

3.4. Resultado diverso do pretendido ou Aberratio criminis: art. 74, do CP.


 Há aqui também um erro, só que em relação ao crime. O erro ou acidente se dá em relação
aos meios de execução, que produz um resultado diverso daquele pretendido.
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 O art. 74 do CP é subsidiário, ou seja, somente será aplicado


caso não seja possível aplicar o art. 73 do CP.
 Consequência: o sujeito, em regra, vai responder por culpa se tiver previsão legal na
modalidade culposa.
Ex.: o sujeito quer praticar crime de dano (art. 163 do CP), mas acaba atingindo uma pessoa.
Nesse caso, vai responder por lesão corporal culposa.
Se houver resultado duplo, ou seja, além de atingir a coisa, o bem, atinge também pessoa,
ou seja, com uma única conduta ele atinge dois resultados (art. 70, 2ª parte). → Nesse caso,
adota-se a regra do crime formal, em que se pegará a pena do crime mais grave e aumentará
de 1/6 a 1/3.

3.5. Erro determinado por terceiro (art. 20, §2º, CP):


 Responde pelo crime o terceiro que determina o erro. E, nesse caso, responde como autor
mediato.

4) DESCRIMINANTES PUTATIVAS: ART. 20, §1º DO CP


▪ Uma descriminante é algo que exclui o crime e putativo se refere a algo imaginário, ilusório.
“Exclui o crime + “imaginário” = Erro
▪ Tipos penais permissivos: são aqueles tipos penais que descrevem condutas permissivas.
▪ Art. 23, CP: traz o rol das discriminantes.
▪ Consentimento do ofendido também é uma discriminante.
▪ Há uma situação de perigo imaginária; uma agressão injusta imaginária → Legítima defesa
putativa.

4.1. O erro pode acontecer em três hipóteses:


a) Erro sobre a circunstância fática: erro de tipo – Art. 20, §1º, CP.
Exemplo 1: sujeito supõe que está sendo assaltado e reage, dando um soco naquele que,
em verdade, não o estava assaltando. Nesse caso temos legítima defesa putativa.
Exemplo 2: Leandro está em um bar e entra o malfeitor do bairro, o mais violento, que
ninguém gosta dele, que já o ameaçou de morte, e vai em sua direção. Ao chegar perto, ele
põe a mão na calça e Leandro, achando que este irá matá-lo, pega uma faca e mata o
sujeito. No entanto, depois disso, ele descobre que nem armado o sujeito estava, que este
apenas queria entrar para usar o banheiro.

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b) Erro sobre a existência da discriminante: erro de proibição


– art. 21, CP.
 Em julgamento de 2019, o STF entendeu que não se admite a legítima defesa da honra no
tribunal do júri.
Ex.: Zezinho, que mora no interior do Estado, numa zona rural, foi traído, ou acha que foi
traído por sua esposa, e na cabeça dele, o direito permite que ele a mate em legítima
defesa de sua honra. → Nesse caso, essa discriminante que ele achou que existia não
existe. Logo, ele cometeu erro sobre a existência da discriminante.
- Nesse caso, se aplicava o art. 21 do CP. Mas o STF entendeu que não cabe mais a
legítima defesa da honra no Tribunal do Júri, não sendo mais reconhecida essa
discriminante putativa nesses casos.

c) Erro sobre os limites da discriminante: erro de proibição – art. 21, CP.


 A discriminante existe, mas o agente erra nos limites dela.

QUESTÕES PARA TREINO:

1) Tony, a pedido de um colega, está transportando uma caixa com cápsulas que acredita ser de
remédios, sem ter conhecimento que estas, na verdade, continham Cloridrato de Cocaína em seu
interior. Por outro lado, José transporta em seu veículo 50g de Cannabis Sativa L. (maconha), pois
acreditava que poderia ter pequena quantidade do material em sua posse para fins medicinais. Ambos
foram abordados por policiais e, diante da apreensão das drogas, denunciados pela prática do crime de
tráfico de entorpecentes. Considerando apenas as informações narradas, o advogado de Tony e José
deverá alegar em favor dos clientes, respectivamente, a ocorrência de
A) erro de tipo, nos dois casos.
B) erro de proibição, nos dois casos.
C) erro de tipo e erro de proibição.
D) erro de proibição e erro de tipo.

2) Patrício e Luiz estavam em um bar, quando o primeiro, mediante ameaça de arma de fogo, obriga o
último a beber dois copos de tequila. Luiz ficou inteiramente embriagado. A dupla, então, deixou o local,
sendo que Patrício conduzia Luiz, que caminhava com muitas dificuldades. Ao encontrarem Juliana, que
caminhava sozinha pela calçada, Patrício e Luiz, se utilizando da arma que era portada pelo primeiro,

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52 Leandro Gesteira

constrangeram-na a com eles praticar sexo oral, sendo flagrados por


populares que passavam ocasionalmente pelo local, ocorrendo a prisão em flagrante. Denunciados pelo
crime de estupro, no curso da instrução, mediante perícia, restou constatado que Patrício era possuidor
de doença mental grave e que, quando da prática do fato, era inteiramente incapaz de entender o caráter
ilícito do seu comportamento, situação, aliás, que permanece até o momento do julgamento. Também
ficou demonstrado que, no momento do crime, Luiz estava completamente embriagado. O Ministério
Público requereu a condenação dos acusados. Não havendo dúvida com relação ao injusto,
tecnicamente, a defesa técnica dos acusados deverá requerer, nas alegações finais,
A) a absolvição dos acusados por força da inimputabilidade, aplicando, porém, medida de
segurança para ambos.
B) a absolvição de Luiz por ausência de culpabilidade em razão da embriaguez culposa e a
absolvição imprópria de Patrício, com aplicação, para este, de medida de segurança.
C) a absolvição de Luiz por ausência de culpabilidade em razão da embriaguez completa
decorrente de força maior e a absolvição imprópria de Patrício, com aplicação, para este, de
medida de segurança.
D) a absolvição imprópria de Patrício, com a aplicação de medida de segurança, e a condenação
de Luiz na pena mínima, porque a embriaguez nunca exclui a culpabilidade.

3) Eslow, holandês e usuário de maconha, que nunca antes havia feito uma viagem internacional, veio
ao Brasil para a Copa do Mundo. Assistindo ao jogo Holanda x Brasil decidiu, diante da tensão, fumar
um cigarro de maconha nas arquibancadas do estádio. Imediatamente, os policiais militares de plantão
o prenderam e o conduziram à Delegacia de Polícia. Diante do Delegado de Polícia, Eslow,
completamente assustado, afirma que não sabia que no Brasil a utilização de pequena quantidade de
maconha era proibida, pois, no seu país, é um habito assistir a jogos de futebol fumando maconha. Sobre
a hipótese apresentada, assinale a opção que apresenta a principal tese defensiva.
A) Eslow está em erro de tipo essencial escusável, razão pela qual deve ser absolvido.
B) Eslow está em erro de proibição direto inevitável, razão pela qual deve ser isento de pena.
C) Eslow está em erro de tipo permissivo escusável, razão pela qual deve ser punido pelo crime
culposo.
D) Eslow está em erro de proibição, que importa em crime impossível, razão pela qual deve ser
absolvido.

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53 Leandro Gesteira

4) Para aferição da inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou


retardado, assinale a alternativa que indica o critério adotado pelo Código Penal vigente.
A) Biológico.
B) Psicológico.
C) Psiquiátrico.
D) Biopsicológico.

5) Analise as hipóteses abaixo relacionadas e assinale a alternativa que apresenta somente causas
excludentes de culpabilidade.
A) Erro de proibição; embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior; coação
moral irresistível.
B) Embriaguez culposa; erro de tipo permissivo; inimputabilidade por doença mental ou por
desenvolvimento mental incompleto ou retardado.
C) Inimputabilidade por menoridade; estrito cumprimento do dever legal; embriaguez
incompleta.
D) Embriaguez incompleta proveniente de caso fortuito ou força maior; erro de proibição;
obediência hierárquica.

GABARITO
1) C 2) C 3) B 4) D 5) A

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CONCURSO DE PESSOAS

❖ Tem determinados crimes em que é necessário o concurso de pessoas, ou seja, a presença de duas
ou mais pessoas.
Ex.: crime de associação para o tráfico (art. 35 da Lei 11.343/06); crime de associação
criminosa (art. 288, CP).

❖ Tem também determinadas situações em que o concurso de pessoas é eventual, ou seja, o crime
pode ser cometido por uma pessoa, mas eventualmente duas ou mais pessoas se reúnem para
praticar aquele delito.

1) TEORIAS:
▪ Essas teorias trazem construções distintas para pensarmos na responsabilidade penal dos
agentes que concorrem para a prática de um crime.
▪ Teorias:
a) Monista: diz que todo mundo responde pelo mesmo crime, ou seja, todos aqueles que
concorrem para a prática de um crime respondem nas penas de um só crime.
o O Código Penal brasileiro adota a teoria monista moderada/temperada (art. 29,
CP).
b) Dualista: faz uma distinção entre autor e partícipe – Se o sujeito é autor ou coator, ele
responde por um crime e os partícipes respondem por outro crime.
c) Pluralista: segundo essa teoria, haveria vários crimes, um crime para cada agente.

2) AUTOR:
▪ Segundo a teoria extensiva, todo mundo é autor.
▪ Há ainda outra teoria, chamada de teoria restritiva que diz que autor é aquele que pratica o
verbo nuclear do tipo, ou seja, é o sujeito que pratica a conduta descrita no tipo penal.
o Essa é a teoria adotada pelo Código Penal.
o Essa teoria não explica o mandante (aquele que tem o controle se a conduta será
praticada ou não, é quem define o quando, o quanto e onde). Por essa teoria, o
mandante também é partícipe. → Isso é resolvido com a teoria trazida por Klaus
Roxin, chamada de Teoria do Domínio Final do Fato (Domínio do Fato). Por esta

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teoria, será autor quem pratica o verbo e quem


tem o controle, o domínio, sobre a realização do fato. Essa teoria também é adotada
no Código Penal.

3) PARTÍCIPE:
▪ Aquele que vai induzir, instigar ou auxiliar o autor na prática delituosa (art. 31 do CP). Vai
contribuir de qualquer modo a prática do crime, sem executar a ação do verbo nuclear do tipo.
▪ Para falar em participação, há a adoção das Teorias das Acessoriedades, que pode ser:
a) Mínima: o partícipe responde se o autor praticar um fato típico.
b) Limitada: para que o partícipe responda, o autor deve praticar um fato típico e ilícito.
– Essa é a teoria adotada pelo Código Penal brasileiro.
c) Extremada: o partícipe só irá responder se o autor praticar um fato típico, ilícito e
culpável.
d) Hiper acessoriedade: o partícipe só responde se a conduta do autor for fato típico,
ilícito, culpável e punível. Ex.: Leandro induziu Ivan a matar Caio. Só que, como Ivan era
menor de 21 anos, a prescrição dele conta pela metade, então o crime dele prescreveu.
Logo, como o crime prescreveu para Ivan, Leandro não irá também responder por este
crime.

Crime de participação de menor importância (art. 29, §1º do CP): é uma participação que
não influencia efetivamente na prática da conduta; que traz um grau mínimo para a prática da
conduta. Aqui há uma causa de diminuição de pena, sendo a pena, nesse caso, diminuída de 1/6
a 1/3.

Participação dolosamente distinta (art. 29, §2º do CP): pode ser que um dos agentes queira
praticar crime menos grave e o outro agente, em concurso de pessoas, queira praticar o crime
mais grave. Nesse caso, cada um responderá pelo crime que praticou. → Aplicação da Teoria
Pluralista.
- Aqui, o agente que quis praticar crime menos grave, vai responder pelo crime que
pretendeu praticar. E o agente que praticar crime mais grave, responde por este que foi o
que ele pretendeu.

Art. 30 do CP → Comunicabilidade de condições ou circunstâncias de caráter pessoal: é


quando essa condição ou circunstância pode ser atribuída a outro agente. As circunstâncias de
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caráter objetivo vão sempre se comunicar (o objeto do crime).


Quando essa circunstância é de caráter pessoal, de regra, essa circunstância não se comunica, ou
seja, não vai atingir o outro agente. Se essa circunstância for elementar do crime, aí sim haverá
comunicação.
 Essas circunstâncias servem para aumentar ou diminuir uma pena.

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CONCURSO DE CRIMES

Ocorre quando, no caso concreto, houver a


prática de mais de um crime.

a) Material (art. 69 do CP): tem-se mais de uma conduta causando mais de um resultado.
 O critério aplicado é a cumulação das penas (soma das penas).
 Concurso material benéfico: são hipóteses excepcionais, em que o cálculo da pena pelo concurso
material acaba sendo mais benéfico para o réu do que o concurso formal. Nesses casos, o art. 70,
§ único do CP determina que as penas sejam para beneficiar o réu.

b) Formal (art. 70, CP): tem-se aqui uma conduta causando mais de um resultado.
Ex.: um motorista perde o controle do carro e atropela quatro pessoas (quatro crimes e uma ação).
Nesse caso, o dolo não será para todas as pessoas.

b.1) Próprio/Perfeito (1ª parte do art. 70, CP): o agente age uma vez, causando mais de um
resultado, mas não deseja causar todos os resultados.
o Apesar de agir mais de uma vez ou uma vez só, o agente não tem intenção de cometer
nenhum crime e comete vários por culpa. Ou ainda, quer cometer um crime e acaba
cometendo outro por culpa. → Não tem a chamada diversidade de designíos.
o O critério utilizado para o cálculo da pena é a exasperação (aumentar), em que escolhe
um só crime, o mais grave, e aumenta de 1/6 até a metade.
o Se ocorrer de a exasperação não for mais benéfica para o agente, se aplicará a soma
(concurso material mais benéfico).

b.2) Impróprio/Imperfeito (2ª parte do art. 70, CP): quando há dolo para todos os crimes. Age
uma vez já querendo causar os resultados. → Tem a chamada diversidade de designíos, ou seja,
apesar de agir uma vez só, ele só tem dolo naqueles resultados.
o O critério de aplicação da pena é a cumulação.

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c) Crime continuado (art. 71 do CP): é uma ficção jurídica que transforma vários crimes em um só.
 Tem-se uma conduta prolongada ao longo do tempo, em várias ações.
 Requisitos:
i. Mais de uma conduta e mais de um crime;
ii. Crimes da mesma espécie (Ex.: roubo + roubo; estupro + estupro);
iii. Nexo de continuidade (nas mesmas circunstâncias de tempo, espaço e maneira de
execução).
 Entende a doutrina que a circunstância de tempo se refere a intervalo não superior a 30 dias,
entre uma conduta em outra; lugar seria a mesma comarca; e maneira de execução é o que se
chama de modus operandi, em que se faz a mesma coisa e do mesmo jeito.
 Critério: Exasperação da pena, de 1/6 a 2/3.
 Crime continuado qualificado: crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com
violência e grave ameaça a pessoa, o juiz poderá aumentar a pena até o triplo.

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TEORIA DA PENA

❖ Tecnicamente chamada de sanção penal, ou ainda Teoria das Consequências Jurídicas de um


Delito.

❖ Pena é uma sanção imposta pelo Estado, que é quem possui o jus puniendi exclusivo, para aqueles
que praticam um crime ou uma contravenção penal.

1. FINALIDADES:
▪ No início, prevalecia a Teoria Absoluta, que dizia que a pena servia como uma forma de punição.
Essa ideia prevalece até hoje, em que se tem a ideia de pena como uma punição, uma vingança.
▪ Teoria Relativa: para essa teoria, a pena não é uma forma de punição ou retribuição. A pena
visa a prevenção.
▪ Teoria mista (art. 59 do CP): é a que prevalece no Brasil, que diz que deve o juiz, a princípio,
fazer o cálculo da pena conforme necessário e suficiente para a prevenção e punição.

1.1. Espécies de prevenção:


a) Geral:
- Positiva: visa incutir na sociedade novos valores; ideia de ensinar, de respeitar o
ordenamento jurídico.
- Negativa: atemorizar; coação psicológica. A partir do momento em que se vai punir,
o objetiva é intimidar a sociedade.
b) Especial:
- Positiva: é a ressocialização, a reinserção social.
- Negativa: encarceramento.

2. ESPÉCIES DE PENAS: art. 32, CP.


2.1. Privativa de liberdade: priva a liberdade, em maior ou menor grau.
a) Reclusão: poderá ser fechado, semiaberto e o aberto, dependendo da quantidade de
pena a ser aplicada.
b) Detenção: não pode iniciar com o regime fechado, mas caberá o fechado por regressão.
o O juiz somente poderá fixar regime inicial semiaberto e aberto.

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c) Prisão simples: aberto ou semiaberto, não podendo ir


para o regime fechado nem nos casos de regressão.
o A pena de prisão simples é aquela das contravenções penais.
o Contravenção penal não é crime de menor potencial lesivo, porque não é
crime. É uma infração penal menos grave.
- Não se pune tentativa de contravenção penal; só tem punição de
crime por tentativa.
- O limite de cumprimento da pena é de cinco anos.
- Nas contravenções penais não se admite a extraterritorialidade (é
aplicar a lei brasileira em fatos praticados no exterior).
- Contravenção penal é de competência da justiça estadual.

2.2. Penas restritivas de direitos: restringe direitos que, em tese, não seria a própria liberdade.
o Penas autônomas, ou seja, não se aplica as duas, as penas privativas de liberdade e
restritivas de direitos, pelo mesmo fato.
o O juiz, antes de substituir a pena a ser aplicada, tem que dizer qual a pena restritiva de
direitos, porque se o sujeito não cumprir o que fora determinado, poderá converter em
pena privativa de liberdade.
o O descumprimento injustificado de uma pena restritiva de direitos pode levar a
conversão em uma pena privativa de liberdade.
o Prazo: o prazo de uma pena restritiva de direitos é o mesmo da pena privativa de
liberdade fixada.
o Limitação dos finais de semanas: fica sábado e domingo sábado na casa do albergado
(chamado de prisão descontínua). No caso de descumprimento injustificado, converte-se
a pena para cumprimento do tempo que resta, respeitado o mínimo de 30 dias.
o Requisitos (art. 44 do CP):
a) Objetivos: pena não superior a quatro anos, será possível a substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva para crime doloso; qualquer pena se for
culposo.
- Se o crime for culposo, caberá à substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva qualquer que seja a pena.
b) Subjetivos: caberá a substituição nos casos de crimes cometidos sem violência
ou grave ameaça a pessoa.
c) Não reincidente em crime doloso – Se for reincidente culposo, pode.
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Observação: Se o crime for de competência do JECRIM caberá a


substituição.

Espécies de pena restritivas de direito:


I. Prestação pecuniária (art. 45, §1º, CP): o destinatário é preferencialmente a vítima
e o valor é de 1 a 360 salários-mínimos;
II. Prestação inominada (art. 45, §2º, CP): tem que ter aceitação do beneficiário;
III. Perda de bens e valores: o juiz é quem irá escolher, se paga para a vítima ou que
pague para o Fundo Penitenciário Nacional. O valor será do lucro ou do prejuízo, o
que for maior.
IV. Prestação de serviços à comunidade (art. 46, CP): trabalhos gratuitos e uma hora
por dia. Só pode ter pena alternativa de prestação de serviços se a pena for superior
a 6 (seis) meses. → Obs.: O artigo 46 do CP determina que só é possível aplicar a
prestação de serviços à comunidade em penas superiores a seis meses. Contudo, o
agente pode cumprir a pena pela metade do tempo, respeitada a mesma carga
horária se a pena for superior a um ano.
V. Interdição de direitos (art. 47, CP): irá interditar direitos e não a liberdade. Poderá
ficar proibido de exercer a sua profissão, atividade, desde que tenha vínculo do
crime com o cargo; suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículos;
concursos, frequentar lugares.
VI. Limitação de fins de semanas.

QUESTÕES PARA TREINO:

1) Douglas foi condenado pela prática de duas tentativas de roubo majoradas pelo concurso de agentes
e restrição da liberdade das vítimas (Art. 157, § 2º, incisos II e V, c/c. o Art. 14, inciso II, por duas vezes,
na forma do Art. 70, todos do CP). No momento de fixar a sanção penal, o juiz aplicou a pena base no
mínimo legal, reconhecendo a confissão espontânea do agente, mas deixou de diminuir a pena na
segunda fase. No terceiro momento, o magistrado aumentou a pena do máximo, considerando as
circunstâncias do crime, em especial a quantidade de agentes (5 agentes) e o tempo que durou a
restrição da liberdade das vítimas. Ademais, reduziu, ainda na terceira fase, a pena do mínimo legal em
razão da tentativa, novamente fundamentando na gravidade do delito e naquelas circunstâncias de

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quantidade de agentes e restrição da liberdade. Após a aplicação da


pena dos dois delitos, reconheceu o concurso formal de crimes, aumentando a pena de um deles de
acordo com a quantidade de crimes praticados. O Ministério Público não recorreu. Considerando as
informações narradas, de acordo com a jurisprudência pacificada do Superior Tribunal de Justiça, o(a)
advogado(a) de Douglas, quanto à aplicação da pena, deverá buscar
A) a redução da pena na segunda fase diante do reconhecimento da atenuante da confissão
espontânea.
B) a redução do quantum de aumento em razão da presença das majorantes, que deverá ser
aplicada de acordo com a quantidade de causas de aumento.
C) o aumento do quantum de diminuição em razão do reconhecimento da tentativa, pois a
fundamentação apresentada pelo magistrado foi inadequada.
D) a redução do quantum de aumento em razão do reconhecimento do concurso de crimes,
devido à fundamentação inadequada.

2) Juarez, com a intenção de causar a morte de um casal de vizinhos, aproveita a situação em que o
marido e a esposa estão juntos, conversando na rua, e joga um artefato explosivo nas vítimas, sendo a
explosão deste material bélico a causa eficiente da morte do casal. Apesar de todos os fatos e a autoria
restarem provados em inquérito encaminhado ao Ministério Público com relatório final de
indiciamento de Juarez, o Promotor de Justiça se mantém inerte em razão de excesso de serviço, não
apresentando denúncia no prazo legal. Depois de vários meses com omissão do Promotor de Justiça, o
filho do casal falecido procura o advogado da família para adoção das medidas cabíveis. No momento
da apresentação de queixa em ação penal privada subsidiária da pública, o advogado do filho do casal,
sob o ponto de vista técnico, de acordo com o Código Penal, deverá imputar a Juarez a prática de dois
crimes de homicídio em
A) concurso material, requerendo a soma das penas impostas para cada um dos delitos.
B) concurso formal, requerendo a exasperação da pena mais grave em razão do concurso de
crimes.
C) continuidade delitiva, requerendo a exasperação da pena mais grave em razão do concurso
de crimes.
D) concurso formal, requerendo a soma das penas impostas para cada um dos delitos.

3) Cláudio, na cidade de Campinas, transportava e portava, em um automóvel, três armas de fogo, sendo
que duas estavam embaixo do banco do carona e uma, em sua cintura. Abordado por policiais, foram
localizadas todas as armas. Diante disso, o Ministério Público ofereceu denúncia em face de Cláudio pela
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prática de três crimes de porte de arma de fogo de uso permitido, em


concurso material (Art. 14 da Lei nº 10.826/03, por três vezes, na forma do Art. 69 do Código Penal).
Foi acostado nos autos laudo pericial confirmando o potencial lesivo do material, bem como que as
armas eram de calibre .38, ou seja, de uso permitido, com numeração de série aparente. Considerando
que todos os fatos narrados foram confirmados em juízo, é correto afirmar que o(a) advogado(a) de
Cláudio deverá defender o reconhecimento
A) de crime único de porte de arma de fogo.
B) da continuidade delitiva entre os três delitos imputados.
C) do concurso formal entre dois delitos, em continuidade delitiva com o terceiro.
D) do concurso formal de crimes entre os três delitos imputados.

4) Cássio foi denunciado pela prática de um crime de dano qualificado, por ter atingido bem municipal
(Art. 163, parágrafo único, inciso III, do CP – pena: detenção de 6 meses a 3 anos e multa), merecendo
destaque que, em sua Folha de Antecedentes Criminais, consta uma única condenação anterior,
definitiva, oriunda de sentença publicada 4 anos antes, pela prática do crime de lesão corporal culposa
praticada na direção de veículo automotor. Ao final da instrução, Cássio confessa integralmente os fatos,
dizendo estar arrependido e esclarecendo que “perdeu a cabeça” no momento do crime, sendo certo
que está trabalhando e tem 03 filhos com menos de 10 anos de idade que são por ele sustentados.
Apenas com base nas informações constantes, o(a) advogado(a) de Cássio poderá pleitear, de acordo
com as previsões do Código Penal, em sede de alegações finais,
A) o reconhecimento do perdão judicial.
B) o reconhecimento da atenuante da confissão, mas nunca sua compensação com a reincidência.
C) a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, apesar de o agente ser
reincidente.
D) o afastamento da agravante da reincidência, já que o crime pretérito foi praticado em sua
modalidade culposa, e não dolosa.

5) Pedro, quando limpava sua arma de fogo, devidamente registrada em seu nome, que mantinha no
interior da residência sem adotar os cuidados necessários, inclusive o de desmuniciá-la, acaba,
acidentalmente, por dispará-la, vindo a atingir seu vizinho Júlio e a esposa deste, Maria. Júlio faleceu em
razão da lesão causada pelo projétil e Maria sofreu lesão corporal e debilidade permanente de membro.
Preocupado com sua situação jurídica, Pedro o procura para, na condição de advogado, orientá-lo
acerca das consequências do seu comportamento. Na oportunidade, considerando a situação narrada,

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64 Leandro Gesteira

você deverá esclarecer, sob o ponto de vista técnico, que ele poderá vir
a ser responsabilizado pelos crimes de
A) homicídio culposo, lesão corporal culposa e disparo de de arma de fogo, em concurso formal.
B) homicídio culposo e lesão corporal grave, em concurso formal.
C) homicídio culposo e lesão corporal culposa, em concurso material.
D) homicídio culposo e lesão corporal culposa, em concurso formal.

6) Rafael foi condenado pela prática de crime a pena privativa de liberdade de 04 anos e 06 meses,
tendo a sentença transitado em julgado em 10/02/2008. Após cumprir 02 anos e 06 meses de pena,
obteve livramento condicional em 10/08/2010, sendo o mesmo cumprido com correção e a pena
extinta em 10/08/2012. Em 15/09/2015, Rafael pratica novo crime, dessa vez de roubo, tendo como
vítima senhora de 60 anos de idade, circunstância que era do seu conhecimento. Dois dias depois,
arrependido, antes da denúncia, reparou integralmente o dano causado. Na sentença, o magistrado
condenou o acusado, reconhecendo a existência de duas agravantes pela reincidência e idade da vítima,
além de não reconhecer o arrependimento posterior. O advogado de Rafael deve pleitear
A) reconhecimento do arrependimento posterior.
B) reconhecimento da tentativa.
C) afastamento da agravante pela idade da vítima.
D) afastamento da agravante da reincidência.

7) Marcondes, necessitando de dinheiro para comparecer a uma festa no bairro em que residia, decide
subtrair R$ 1.000,00 do caixa do açougue de propriedade de seu pai. Para isso, aproveita-se da ausência
de seu genitor, que, naquele dia, comemorava seu aniversário de 63 anos, para arrombar a porta do
estabelecimento e subtrair a quantia em espécie necessária. Analisando a situação fática, é correto
afirmar que
A) Marcondes não será condenado pela prática de crime, pois é isento de pena, em razão da
escusa absolutória.
B) Marcondes deverá responder pelo crime de furto de coisa comum, por ser herdeiro de seu
pai.
C) Marcondes deverá responder pelo crime de furto qualificado.
D) Marcondes deverá responder pelos crimes de dano e furto simples em concurso formal.

GABARITO
1) C 2) D 3) A 4) C 5) D 6) D 7) C
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PARTE ESPECIAL DO DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A VIDA


➢ Principal exemplo de crimes materiais.
➢ Rol de quatro crimes contra a vida, sendo eles:
1) Homicídio (art. 121, CP).
2) Induzimento, Instigação e Auxilio ao Suicídio e a Automutilação (art. 122, CP) >
modificado pelo pacote anticrime.
3) Infanticídio (art. 123, CP) > elementares específicas.
4) Aborto (art. 124 ao 126, CP).

o Todos esses são crimes materiais. Ou seja, trazem a previsão de um resultado naturalístico
(resultado que pode ser visto no mundo das coisas, como a morte).

➢ A consumação depende da verificação concreta do resultado naturalístico.


o A morte cerebral que consuma qualquer um desses crimes, pois, é a única considerada
irreversível.
o Morte cardíaca ou pulmonar não consumam esses crimes > modalidade tentada.

➢ Chamados de crimes não transeuntes, ou seja, aqueles que deixam vestígios, que não
desaparecem, não somem.
o A regra é que a materialidade desse crime deve ser comprovada por exame pericial (art.
158, CPP).
o Se o crime deixa vestígio e não houve a perícia, a regra é a absolvição, mesmo que se trate
de réu confesso. A confissão não substitui o laudo pericial. Cabem exceções.
o O art. 167 do CPP diz que a prova testemunhal pode suprir a ausência do laudo, mas
apenas nas hipóteses em que a ausência do laudo não é imputada a uma desídia da
autoridade pública ou da própria vítima.

➢ A Súmula 605/STF diz que não se admite continuidade delitiva nos crimes contra a vida.
o O STF entende que essa súmula foi revogada.
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66 Leandro Gesteira

o A continuidade delitiva é uma ficção jurídica criada pelo


legislador para beneficiar o agente, sendo necessário, para o seu reconhecimento, a
presença de requisitos objetivos (mesmas condições de tempo, espaço e modus
operandi) e subjetivo (unidade de desígnios), de modo que os delitos subsequentes sejam
um desdobramento do primeiro > cabível nos crimes contra a vida.

1) HOMICÍDIO (art. 121, CP):


1.1. Homicídio Simples (art. 121, caput, CP)
▪ A conduta é matar alguém.
▪ Crime material e não transeunte.
▪ Pena de reclusão, de 6 a 20 anos.
▪ A ausência de motivo para matar, configura-se como homicídio simples > matar sem
motivo.
▪ Poderá ser crime hediondo, se for praticado em atividade típica de grupo de extermínio,
mesmo que por um só agente.
▪ Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3:
I. Se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 ou maior de 60 anos.

1.2. Homicídio Privilegiado (art. 121, § 1º, CP)


▪ O homicídio é privilegiado se o agente comete o crime impelido por:
I. Motivo de relevante valor social ou moral; ou
- Relevante valor social é uma motivação coletiva.
- Relevante valor moral é uma motivação pessoal.

II. Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da


vítima.
- A emoção é tão forte que domina o agente.
- A emoção pode ser causa atenuante ou causa de diminuição de pena.
▪ O juiz deve reduzir a pena de 1/6 a 1/3, se os requisitos estiverem presente.

1.3. Homicídio Qualificado (art. 121, § 2º, CP)


▪ Existem qualificadoras objetivas (dizem respeito ao modo de execução, a forma ou
maneira) e subjetivas (dizem respeito ao motivo).
▪ O homicídio será qualificado quando cometido:
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67 Leandro Gesteira

I. Mediante paga ou promessa de recompensa, ou


por outro motivo torpe;
- Para o executor é motivo para prática do crime (subjetivo). Para o
mandante é meio de execução (objetivo).
- “Por outro motivo torpe” é uma interpretação analógica > a lei não é
omissa.
- O motivo torpe é abjeto, que causa repulsa > em regra, é subjetivo. Nunca
poderá ser hipótese de privilégio.
II. Por motivo fútil;
- O motivo fútil é algo pequeno, insignificante.
- Pode vir a ser privilégio, caso seja aumentado.
III. Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
- Hipótese de qualificadora objetiva > modo/maneira de execução do crime.
IV. À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
- Hipótese de qualificadora objetiva > modo/maneira de execução do crime.
- Tiro nas costas, não necessariamente significa tiro pelas costas. Traição é
o tiro pelas costas, quando não se sabe que seria atingido.
- O STF entende que, se há discussão prévia, não há dissimulação ou traição.
V. Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro
crime.
- Hipótese de qualificadora subjetiva > meio de execução do crime
(assegurar).
- Se o agente matar, visando assegurar a execução, ocultação ou impunidade
de uma contravenção penal, responderá no inciso I.
VI. Contra a mulher por razões da condição de sexo feminino (Feminicídio).
- A qualificadora do Feminicídio foi criada em 2015.
- Hipótese de qualificadora objetiva > modo/maneira de execução do crime.
- Se a vítima for homem, há violência doméstica, mas não aplica-se a Lei
Maria da Penha.
- Se a vítima for mulher, há violência doméstica e também aplica-se a Lei
Maria da Penha.

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- A mãe pode matar filha, a vó pode matar


filha, e se a conduta se deu por razões da condição de sexo feminino, será
tipificado como Feminicídio.
- A doutrina majoritária entende que, para o transexual/transgênero
feminino sofrer Feminicídio, precisa ter passado pela cirurgia de
transgenitalização.
- A vítima tem que ser mulher. O autor pode ser homem ou mulher.
- Necessário que a razão para o crime seja a condição do sexo feminino (§
2º-A), para ser Feminicídio.
VII. Contra autoridade ou agentes descritos nos artigos 142 (forças armadas) e 144
(segurança pública) da CF/88, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela,
ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro
grau, em razão dessa condição.
- Para incidir essa qualificadora, o crime tem que ocorrer no exercício da
função ou em decorrência dela.
- Guarda municipal não integra esse rol.
- Não é cabível para parentes por afinidade.
VIII. Com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido.
▪ As qualificadoras objetivas poderão ser combinadas com as qualificadoras subjetivas.
▪ Não posso qualificar um crime duplamente. Posso ter duas qualificadoras, mas uma com
natureza de qualificadora e outra como causa agravante ou circunstância judicial.
▪ O homicídio qualificado é crime hediondo, em regra.
o Todas as qualificadoras são hediondas.
o Podemos ter um homicídio qualificado e privilegiado, desde que seja uma
qualificadora objetiva > qualificadora objetiva combina com o privilégio, que é
subjetivo.
▪ O privilégio afasta a hediondez do crime.
▪ A pena é de reclusão, de 12 a 30 anos.

1.4. Homicídio Culposo (art. 121, § 3º, CP)


▪ Se o homicídio é culposo, a pena será de detenção, de 1 a 3 anos.
▪ O homicídio culposo é aquele no qual uma pessoa mata a outra sem ter a intenção de fazê-
lo (sem dolo).
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▪ Este homicídio acontece por conta da Negligência,


Imperícia ou Imprudência.
a) Negligência: Deixa-se de tomar uma atitude ou de apresentar uma conduta que era
esperada para a situação. Age com descuido, indiferença ou desatenção, não
adotando as devidas precauções.
Ex.: Um pai de família que deixa uma arma carregada em local inseguro ou
de fácil acesso a crianças pode causar a morte de alguém por essa atitude
negligente.
b) Imperícia: É necessário constatar a inaptidão, ignorância, falta de qualificação
técnica, teórica ou prática ou ausência de conhecimentos elementares e básicos
para a ação realizada.
Ex.: Um médico que realize uma cirurgia plástica sem a devida técnica em
alguém e cause deformidade.
c) Imprudência: Pressupõe uma ação precipitada e sem cautela. A pessoa não deixa
de fazer algo. Ela age, mas toma uma atitude diversa da esperada.
Ex.: Um motorista que dirige em velocidade acima da permitida e não
consegue parar no sinal vermelho, invadindo a faixa de pedestres e
atropelando alguém.
▪ Se o crime for praticado na direção de veículo automotor terrestre, a pena é de reclusão,
de 2 a 4 anos (art. 302, CTB).
o Todas as demais hipóteses serão no CP.

▪ No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3:


I. Se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício
(imperícia); ou
II. Se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima;
III. Se não procura diminuir as consequências do seu ato; ou
IV. Se foge para evitar prisão em flagrante.
▪ O agente não poderá ser punido 2x por conta da imperícia > se a imperícia for usada para
alegar o crime culposo, não poderá ser usada no aumento da pena.
▪ Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção
penal se torne desnecessária > hipótese do perdão judicial (§ 5).

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o A jurisprudência e a doutrina entendem que o


delegado poderá deixar de indiciar o agente, no relatório, alegando o perdão
judicial. Não poderá arquivar o inquérito.
o O perdão judicial não poderá ser aplicado por analogia, somente será aplicado se
previsto em Lei. Contudo, poderá ser aplicado ao CTB.

1.5. Causas de aumento de pena


▪ No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3, se o crime resulta de inobservância de
regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro
à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em
flagrante (§ 4º).
▪ No homicídio doloso, a pena é aumentada de 1/3 se o crime é praticado contra pessoa
menor de 14 ou maior de 60 anos (§ 4º).
▪ Se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio, a pena é aumentada de 1/3 até a metade (§ 6º).
▪ A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 até a metade se o crime for praticado:
I. durante a gestação ou nos 3 meses posteriores ao parto;
II. contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos, com deficiência ou
portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de
vulnerabilidade física ou mental;
III. na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;
IV. em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos
I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340/06.

2) INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO OU A AUTOMUTILAÇÃO (art. 122, CP)


▪ Antes da Lei 13.964/19 (pacote anticrime):
o Antes, a automutilação era fato atípico > somente era crime o induzimento, instigação ou
auxilio ao suicídio.
o No crime de induzimento, instigação e auxilio ao suicídio, se resultasse lesão grave, a pena
era de 1 a 3 anos. Se resultasse morte, a pena era de 3 a 6 anos.
- Se resultasse lesão leve era fato atípico.
▪ O pacote anticrime entrou em vigor dia 23 de janeiro de 2020, trazendo severas modificações.
▪ A conduta é induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-
lhe auxílio material para que o faça.
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o Inserção da automutilação como elementar do crime.


o Trata-se de tipo misto alternativo > prevê mais de uma conduta criminosa, no mesmo tipo
penal (induzir, instigar e auxiliar).
- Não influencia na tipicidade, mas influencia no cálculo da pena.
o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao suicídio é crime doloso contra a vida > há dolo >
competência do Tribunal do Júri.
o Induzir, instigar ou auxiliar alguém a automutilação pode até ser crime doloso, mas não
é contra a vida, é crime contra a integridade corporal > não há dolo > competência do
Juizado Especial Criminal (JECRIM).
▪ Crime com pena de reclusão, de 6 meses a 2 anos.
▪ Hipóteses de qualificadoras:
I. Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza
grave ou gravíssima, a pena será de reclusão, de 1 a 3 anos (§ 1º).
- Se resulta lesão leve, o agente responderá pelo caput > pena de reclusão de 6
meses a 2 anos, de competência do JECRIM.
II. Se do suicídio se consuma ou da automutilação resulta morte, a pena será de reclusão,
de 2 a 6 anos (§ 2º).
▪ Suicídio e automutilação não são crimes, logo, não há punibilidade > não lesiona bem jurídico de
terceiros.
o A participação no suicídio ou automutilação alheia é punível, por ser crime autônomo.
o O caso de automutilação para lesionar a seguradora (receber o seguro) é punível.
▪ O induzimento, instigação ou auxilio na automutilação, que resulta morte, possui caráter
culposo, pois, não se deseja a morte > fica conhecido como crime preterdoloso (dolo no
antecedente e culpa no consequente).
▪ Hipóteses de aumento de pena (pena é duplicada - § 3º):
I. Se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil;
II. Se a vítima é menor (-18) ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de
resistência.
- Se o agente instigar, induzir ou auxiliar no suicídio de menor de 18 anos, incidirá
em homicídio.
- Vários fatores poderão diminuir a capacidade de resistência, por exemplo, a
bebida.
▪ Inovações do Pacote Anticrime:

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o A pena é aumentada até o dobro se a conduta é


realizada por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo real
(§ 4º).
o Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede
virtual (§ 5º).
o Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão corporal de natureza
gravíssima e é cometido contra menor de anos ou contra quem, por enfermidade ou
deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por
qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime
descrito no § 2º do art. 129 deste Código (§ 6º).
o Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra menor de 14 anos ou contra
quem não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer
outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de homicídio,
nos termos do art. 121 deste Código (§ 7º).

3) INFANTICÍDIO (art. 123, CP)


▪ A conduta é matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo
após.
o A conduta proibida é matar o próprio filho, sob influência do estado puerperal, durante
ou após o parto.
o A influência do estado puerperal é condição biopsíquica > alterações hormonais
biológicas que causam perturbações psíquicas na mulher.
- Essa alteração pode fazer a mulher matar o próprio filho.
- Por conta dessa alteração, entende-se que o infanticídio possui natureza de um
homicídio atenuado.
- Não é necessário exame pericial para comprovar a influência do estado puerperal,
pois, está presente na grande maioria das mulheres > influência presumida.
- Excepcionalmente, a influência do estado puerperal pode gerar a
inimputabilidade.
- Segundo a medicina legal, a influência do estado puerperal pode durar até 8
semanas após o parto, mas não será mais infanticídio.
▪ Não protege a vida intrauterina > para que ocorra o infanticídio, a conduta precisa ocorrer
após o início do parto.

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▪ O logo após o parto deverá seguir os critérios da razoabilidade


e proporcionalidade, analisando o caso concreto. Em regra, é no mesmo dia. Em regra, o dia
seguinte já não é mais considerado “logo após”.
o O infanticídio deve ser praticado durante o parto ou logo após.
- Se não for infanticídio, será homicídio.
▪ Pena de detenção, de 2 a 6 anos.
▪ Há possibilidade de concurso de agentes/pessoas.
o Casos os pais cometam crime juntos, ambos responderão por infanticídio > aquilo que é
condição pessoal para um, se for elementar do crime, comunica-se para todos.
- Se o pai foi partícipe, responde por infanticídio.
- Se o pai for coautor, responde por homicídio.
▪ Competência de julgamento do Tribunal do Júri > crime doloso contra a vida.

4) ABORTO (art. 124 ao 128, CP)


▪ Protege a vida intrauterina > primeiro tipo penal a proteger o bem jurídico vida.
▪ Defende a vida a partir da nidação > processo de implantação do óvulo fecundado no
endométrio.
o Antes da nidação, essa vida não tem proteção pelo direito penal.
o Geralmente, a nidação ocorre 14 dias após a relação sexual.
o Qualquer instrumento que impeça o processo de nidação não é considerado abortivo,
como por exemplo, a pílula do dia seguinte (métodos contraceptivos).

4.1. Tipos Penais de Aborto


▪ O aborto pode ser praticado de duas maneiras:
I. Pela própria gestante
II. Por um terceiro

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Pela própria gestante (art. 124, CP) Por um terceiro (art. 125 e 126, CP)
- Aborto provocado pela própria gestante ou com - O terceiro responde de forma
seu consentimento. autônoma.
- A conduta é provocar aborto em si mesma, ou
consentir que outrem lhe provoque > duas - O art. 125 trata do aborto praticado por
condutas puníveis. terceiro, sem consentimento da gestante.
a) Provocar o aborto em si mesma; ou - Pena de reclusão, de 3 a 10 anos > mais
b) Consentir que outrem lhe provoque o grave, por ter duas vítimas.
aborto.
- A doutrina chama de autoaborto. - O art. 126 trata do aborto praticado
- Crime de forma livre. com consentimento da gestante.
- Pena de detenção, de 1 a 3 anos. - Pena de reclusão, de 1 a 4 anos.

▪ O art. 126, parágrafo único, CP: Se o consentimento foi juridicamente inválido, o


terceiro responderá com as penas do art. 125, CP (pena de reclusão de 3 a 10 anos).
o Hipóteses da invalidade jurídica:
i. Gestante menor de 14 anos;
ii. Gestante alienada;
iii. Gestante débil mental;
iv. Consentimento obtido mediante fraude;
v. Consentimento obtido mediante grave ameaça;
vi. Consentimento obtido mediante violência.

4.2. Forma Qualificada do Aborto (art. 127, CP)


Observação: Hipóteses muito criticadas, pois, não possuem pena
própria para que sejam consideradas qualificadoras.
▪ Somente o terceiro responderá pelo aborto qualificado. A gestante somente
responderá por aborto simples, sempre.
▪ As penas dos dois artigos anteriores (art. 125 e 126) são aumentadas de um terço, se,
em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante
sofre lesão corporal de natureza grave.

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▪ As penas dos dois artigos anteriores (art. 125 e 126)


são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.

4.3. Excludente de Ilicitude (art. 128, CP)


▪ Fato típico, mas lícito.
▪ Não se pune o aborto praticado por médico:
I. Se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
- Hipótese de aborto necessário.
II. Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da
gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
- Hipótese de aborto no caso de gravidez resultante de estupro.

Observações:
➢ Na ADPF 54, o STF estabeleceu que é inconstitucional a interpretação segundo a qual a
interrupção da gravidez de feto anencéfalo constitui aborto. Por essa razão, foi autorizada a
interrupção da gravidez de fetos com diagnóstico de anencefalia, com consentimento da
gestante.
o Não se confunde anencefalia com microcefalia. O aborto nos casos de microcefalia não
tem excludente, pois, a vida fora do útero é viável.
➢ Em precedente do STF, a morte é o fim da atividade cerebral, e a vida é o início da atividade
cerebral.
o A atividade cerebral, em regra, começa após o 3º mês > a doutrina fala em 12 ou 13
semanas.
o A conduta do aborto, se praticada até 12ª semana de vida, não configura crime
(precedente do STF).

5) LESÃO CORPORAL (ART. 129, CP)


▪ Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem.
▪ As lesões corporais podem ser:

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CRIMES CONTRA A HONRA

→ A honra pode ser vista sob dois aspectos:


a) Objetiva: Imagem que o outro tem.
b) Subjetiva: Imagem que a pessoa faz sobre si mesmo.

1) CALÚNIA (ART. 138, CP)


▪ Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime.
o Imputar alguém um fato falso, definido como crime.
▪ Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
▪ É punível a calúnia contra os mortos.

2) DIFAMAÇÃO (ART. 139, CP)


▪ Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação.
o Imputar um fato ofensivo, mas não criminoso, a alguém.
▪ É cabível a exceção da verdade somente se (i) o ofendido é funcionário público e (ii) a ofensa é
relativa ao exercício de suas funções.

3) INJURIA (ART. 140, CP)


▪ Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro.
o Adjetivar alguém de forma que ofenda sua honra.
Ex.: Você é burro, trouxa, otário!
▪ A injúria poderá ser:
a) Real: Utilização meios físicos.
b) Preconceituosa: Raça, cor, etnia, deficiência, etc.
▪ O juiz pode deixar de aplicar a pena (i) quando o ofendido, de forma reprovável, provocou
diretamente a injúria, e (ii) no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
▪ Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio
empregado, se considerem aviltantes, a pena será de detenção de 3 meses a um ano, e multa,
além da pena correspondente à violência.
▪ Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem
ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência, a pena será de reclusão de 1 a 3 anos,
e multa.
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4) DISPOSIÇÕES COMUNS
▪ Art. 141. As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes
é cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
II - contra funcionário público, em razão de suas funções;
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da
difamação ou da injúria;
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no
caso de injúria.
▪ Se o crime for cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em
dobro.
▪ Se o crime for cometido ou divulgado em quaisquer modalidades das redes sociais da rede
mundial de computadores, aplica-se em triplo a pena.
▪ Art. 142, CP. Não constituem injúria ou difamação punível:
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando
inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou
informação que preste no cumprimento de dever do ofício.
▪ Art. 143, CP. O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da
difamação, fica isento de pena > instituto da retratação.
o Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de
meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos
meios em que se praticou a ofensa.
▪ Art. 145, CP. Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo
quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
o Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do
art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do
mesmo artigo, bem como no caso do § 3o do art. 140 deste Código.

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CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

➢ O art. 181 do CP trata da hipótese de Escusa Absolutória.


o É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo:
I. do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II. de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja
civil ou natural.
o Caso de não aplicação do direito penal, não exclui a tipicidade, ilicitude ou culpabilidade.

➢ O art. 182 do CP diz que, somente se procede mediante representação, se o crime previsto
neste título é cometido em prejuízo:
I. do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II. de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III. de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
o Prazo de 6 meses para representação, contado a partir do conhecimento da autoria.

➢ O art. 183 do CP explica que as situações em que os dois últimos artigos não serão
aplicados.
Art. 183. Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de
grave ameaça ou violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime;
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 anos.

1) FURTO (art. 155, CP)


▪ A conduta é subtrair (crime material).
▪ A consumação da conduta ocorre no momento em que houver a subtração > incide a
conduta se a coisa sai da esfera de disponibilidade da vítima, ainda que por breve momento.
o Consoante a teoria da amotio ou apreehensio, basta a inversão da posse do bem para que
se consume o crime de furto, ainda que por curto período de tempo, sendo prescindível a
posse mansa e pacífica.

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▪ A tentativa de furto simples é cabível, caracterizando-se


quando o crime material não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente, não
chegando a res furtiva a sair da esfera de vigilância do dono e, consequentemente, não passando
para a posse tranquila daquele.
▪ O crime de furto necessita que a coisa móvel e alheia seja subtraída para si ou para outrem.
▪ Furto de uso é fato atípico > o agente subtrai para usar momentaneamente, gerando
atipicidade formal.
o O Código Penal Militar caracteriza, expressamente, o furto de uso como fato típico.
o Se o bem objeto da subtração for substituível, não cabe furto de uso > configura crime,
fato típico. Porém, se a coisa for insubstituível, configura fato atípico > cabível furto de
uso.
o O bem móvel “dinheiro” é substituível, por excelência, portanto, não aplica-se o furto de
uso > fato típico.
o Se o bem é insubstituível, deve haver devolução da coisa, no mesmo local e nas mesmas
condições.
o A energia elétrica e genética se equiparam a coisa móvel.
▪ Qualquer pessoa poderá praticar o crime de furto, exceto o proprietário da coisa.
▪ A pena é de reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
o Cabe o regime inicial fechado.
o Nas hipóteses de absolvição impropria em que houver periculosidade, aplicam-se as
medidas de segurança (internação ou/e tratamento ambulatorial).
o Por ser crime de médio potencial ofensivo, cabe a suspensão condicional do processo.
o A pena é aumentada em 1/3 se o crime for praticado durante o repouso noturno >
aplicado na terceira fase de dosimetria da pena.
▪ O Furto Privilegiado (art. 155, § 2º, CP) é hipótese em que o criminoso é primário e a coisa
furtada é de pequeno valor. Sendo assim, o juiz poderá:
i. substituir a pena de reclusão pela de detenção;
ii. diminuir a pena de um a dois terços; ou
iii. aplicar somente a pena de multa.
▪ O Furto Qualificado (art. 155, § 4º, CP) está caracterizado quando crime for cometido:
i. com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
ii. com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
iii. com emprego de chave falsa;
iv. mediante concurso de duas ou mais pessoas
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o A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa.


o A Súmula 442/STJ inadmite a aplicação da majorante do roubo, pelo concurso de agentes,
no furto qualificado.

Observações:
Causa de aumento > - Não possui pena própria > usa a do caput.
Qualificadora > - Pena própria (maior que o caput).

Privilégio > - Pena própria (menos que o caput).


Causa de diminuição > - Não possui pena própria > usa a do caput.

▪ As Leis 9.426/96, 13.330/16, 13.654/18 e 14.155/21, implementaram algumas


modificações e qualificadoras ao crime de furto e roubo:
i. Se o furto for praticado com emprego de explosivo ou artefato análogo que cause
perigo comum, a pena será de reclusão de 4 a 10 anos, e multa (§ 4º-A).
ii. Se o furto for praticado mediante fraude, por meio de dispositivo eletrônico ou
informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a violação de
mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer
outro meio fraudulento análogo, a pena é de reclusão, de 4 a 8 anos, e multa (§ 4º-B).
iii. A pena poderá ser aumentada considerando a relevância do resultado gravoso (§ 4º-
C) > Utilização de servidor mantido fora do país e/ou crime praticado contra idoso ou
vulnerável.
iv. Se a subtração for de veículo automotor (carro, navio, jet-ski, helicóptero, moto) que
venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior, a pena é de reclusão
de 3 a 8 anos (§ 5º).
v. Se a subtração for de semovente domesticável de produção (gado, bode), ainda que
abatido ou dividido em partes no local da subtração, a pena é de reclusão de 2 a 5 anos
(§ 6º).
vi. Se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego, a pena é de
reclusão de 4 a 10 anos e multa (§ 7º).

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Observação:
Furto mediante Fraude Estelionato
- O agente utiliza meio enganoso. - O agente utiliza meio enganoso.
- A fraude empregada pelo agente visa - A fraude busca fazer com que a vítima
diminuir a vigilância da vítima, incida em erro e entregue
possibilitando a subtração. espontaneamente o objeto ao agente.
- A vontade de alterar a posse é - A vontade de alterar a posse é
unilateral. bilateral.

2) ROUBO (art. 157, CP)


▪ A conduta proibida é subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, sendo consumado
quando o objeto sai da posse da vítima.
▪ O roubo de uso enquadra-se como um constrangimento ilegal.
▪ A subtração poderá ser de três maneiras (art. 157, CP):
i. Mediante grave ameaça;
ii. Mediante violência física contra a pessoa;
iii. Depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência.

A doutrina chama essa hipótese de “violência imprópria”.

▪ O art. 157, do CP, trata da hipótese do roubo próprio. Primeiro se pratica a violência ou grave
ameaça e depois a subtração do objeto.
o Pena de reclusão, de 4 a 10 anos, e multa.
▪ O art. 157, § 1º, CP traz a hipótese do roubo impróprio > Na mesma pena incorre quem, logo
depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de
assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.
o Primeiro ocorre a subtração, e depois ocorre a violência ou grave ameaça, visando
assegurar a impunidade do delito.
o O roubo improprio nasce como um furto em que a vítima reage.
▪ A pena do roubo será aumentada de 1/3 até metade (§ 2º) > hipóteses de qualificadoras:
i. se há o concurso de duas ou mais pessoas;
ii. se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal
circunstância;
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83 Leandro Gesteira

iii. se a subtração for de veículo automotor que venha a


ser transportado para outro Estado ou para o exterior;
iv. se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade;
v. se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego;
vi. se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca.
A arma pode ser própria ou impropria:

- Própria > criada com objetivo de ser arma.

- Impropria > criada sem objetivo de ser arma, mas


podendo ser usada.

▪ Aumenta-se a pena de 2/3 (dois terços) (§ 2º-A):


i. se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
- cabível somente se o crime foi cometido após 2018 > se foi antes, caberá o
aumento do § 2º (mais benéfico para o réu).
ii. se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de
artefato análogo que cause perigo comum.
- não é crime hediondo!
▪ Nos moldes do § 2º-B, se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo
de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.
▪ O § 3º foi modificado pela Lei 13.654/18 > hipóteses de crime hediondo. Se a violência física
do roubo resultar em:
i. lesão corporal grave, onde a pena será de reclusão de 7 a 18 anos, e multa;
ii. morte, onde a pena será de reclusão de 20 a 30 anos, e multa.

Observação:
Roubo Extorsão
- Envolve violência ou grave ameaça, ou - Envolve violência ou grave ameaça.
redução, por qualquer meio, da - O agente faz com que a vítima
capacidade de resistência da vítima. entregue a coisa (verbo constranger).
- O agente subtrai a coisa pretendida - A colaboração da vítima é
(verbo subtrair). Há subtração da coisa. indispensável, pois, o agente não
- A colaboração da vítima é dispensável, consegue fazer sozinho.
pois, o agente consegue fazer sozinho.

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84 Leandro Gesteira

- A vantagem buscada (coisa alheia - A vantagem buscada pode ser


móvel) tem caráter imediato. contemporânea ao fato ou posterior a
- A vantagem econômica indevida é bem ele.
móvel. - A vantagem econômica indevida pode
ser um bem móvel ou imóvel.

Observações sobre o Latrocínio:


 Crime contra o patrimônio.
 Não é crime doloso contra a vida, logo, não é da competência do júri.
 A lesão contra a vida é meio para atingir o patrimônio.
 De acordo com a Súmula 610, do STF, a consumação ocorre com a
morte da vítima, mesmo que o agente não consiga subtrair os bens.

3) EXTORSÃO (art. 158, CP)


▪ Crime formal, bastando constranger a vítima com violência ou grave ameaça, sendo
desnecessário o recebimento.
o A Súmula 96/STJ confirma que a extorsão se consuma independentemente da obtenção
da vantagem econômica indevida.
▪ Classificado como crime subsidiário, onde só se aplica se não houver a incidência de um tipo
mais grave.
o Ex.: o delito de constrangimento ilegal (art. 146) é subsidiário em relação ao crime de
extorsão (art. 159).
▪ Na extorsão há a necessidade de participação da vítima para que o crime se concretize. A
colaboração da vítima é indispensável para que o agente obtenha a vantagem, visto que o
agente não consegue consumar o fato sozinho.
▪ A conduta é constranger alguém (vítima determinada).
o Esse tipo penal exige vítima determinada/específica, não sendo admitido contra uma
coletividade indefinida.
▪ A violência e o constrangimento não precisam causar lesão corporal, pois, as vias de fato já são
suficientes.
o A ameaça poderá configurar violência, se for efetiva para entrega do objeto.
▪ A violência ou constrangimento são meios que possuem a finalidade específica de obter, para
si ou para outrem, indevida vantagem econômica.
o A vantagem, necessariamente, deve ser indevida.
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85 Leandro Gesteira

- Se a vantagem era devida, o crime é o de


“exercício arbitrário das próprias razões” > art. 345, CP.
▪ Para ser extorsão, a vantagem deve ser indevida e econômica.
▪ Na extorsão, a vítima precisa ser constrangida a:
i. fazer alguma coisa;
ii. tolerar que se faça alguma coisa;
iii. deixar de fazer alguma coisa.
▪ A tentativa de extorsão ocorre quando o sujeito passivo, não obstante constrangido pelo autor
por intermédio da violência física ou moral, não realiza a conduta positiva ou negativa
pretendida, por circunstâncias alheias à vontade do autor.
▪ Crime com pena de reclusão, de 4 a 10 anos, e multa.
▪ Nas causas de aumento de pena (§ 1º), aumenta-se a pena de um terço até metade:
i. Se o crime for cometido por duas ou mais pessoas; ou
ii. Com emprego de arma.
▪ Se da extorsão praticada mediante violência, resulta:
i. lesão corporal grave > será aplicada pena de reclusão de 7 a 18 anos, e multa;
ii. morte > será aplicada pena de reclusão de 20 a 30 anos, e multa.
- Não é hipótese de extorsão hedionda, ainda que ocorra a morte da vítima.
▪ Na extorsão, o bem jurídico “vida” é meio utilizado para alcançar o “patrimônio”. Ou seja, trata-
se de crime contra o patrimônio.
▪ Se o crime de extorsão for cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa
condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica > pena será de reclusão, de 6 a
12 anos, além da multa (§ 3º).
o Se esse crime for praticado por mais de duas pessoas e com emprego de arma, a pena de
reclusão será aumentada.
o Se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º
e 3º, respectivamente > A extorsão do § 3º é considerada hipótese de crime hediondo,
desde que ocorra lesão corporal ou morte.

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4) EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO (art. 159, CP)


▪ Considerado como crime mais grave da ordem jurídica, sendo o crime contra o patrimônio
com a maior pena prevista.
▪ Crime integralmente hediondo.
▪ Não possui pena de multa.
▪ A conduta é sequestrar pessoa, com finalidade de obter, para si ou para outrem, qualquer
vantagem, como condição ou preço do resgate.
o A jurisprudência e a doutrina também tipificam o crime de “cárcere privado” nesse
artigo.
o Conduta criminosa praticada com finalidade de obter qualquer vantagem, salvo as
normas especiais previstas.
- Vantagem de cunho sexual, por exemplo, tipifica-se no crime de estupro
(previsão especial).
▪ A pena é de reclusão, de 8 a 15 anos.
▪ A extorsão mediante sequestro qualificada caberá (§ 1º):
i. Se o sequestro dura mais de 24 horas;
ii. Se o sequestrado é menor de 18 ou maior de 60 anos; ou
iii. Se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
- Pena de reclusão, de 12 a 20 anos.
iv. Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave.
- Pena de reclusão, de 16 a 24 anos.
v. Se resulta morte (maior pena do ordenamento).
- Pena de reclusão, de 24 a 30 anos.
▪ Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a
libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços > o § 4º traz uma hipótese
de Delação Premiada.
o A pena será reduzida, de 1/3 a 2/3.

5) APROPRIAÇÃO INDÉBITA (art. 168, CP)


▪ A conduta é apropriar-se, de coisa alheia móvel, de quem tem a posse ou detenção.
o O dolo é posterior a obtenção da coisa.
Ex.: João empresta sua bicicleta para Tiago. Depois de algum tempo, Tiago decide
ficar com a bicicleta de João.
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▪ Pena de reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.

5.1. Modalidades de Apropriação:


a) Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza (art.
169, CP)
 Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou
força da natureza.
 Se o agente cria a situação de erro, a conduta é do crime de estelionato > na
apropriação, o dolo é posterior a obtenção da coisa.
 Pena de detenção, de 1 mês a 1 ano, ou multa.
 Competência do Juizado Especial Criminal > menor potencial ofensivo.

b) Apropriação de Tesouro (art. 169, I, CP)


 Quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota
a que tem direito o proprietário do prédio.

c) Apropriação de Coisa Achada (art. 169, II, CP)


 Quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando
de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade
competente, dentro no prazo de quinze dias.
- Apropriação indébita de coisa achada.
 O crime só se tipifica após o 16º dia.

6) ESTELIONATO (art. 171, CP)


▪ Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento.
o A conduta proibida é obter.
▪ Se a vantagem for lícita, não é estelionato.
▪ É indispensável que exista prejuízo alheio.
▪ O estelionato pode ser praticado:
i. Induzindo > o agente cria o erro para que a vítima erre; ou
ii. Mantendo alguém em erro > o agente percebe o erro e permite que aconteça.
▪ Só há estelionato se houver dolo! > crime exclusivamente doloso.
▪ Crime que só se configura se houver vítima definida ou um conjunto definido de vítimas.
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88 Leandro Gesteira

o Uma coletividade indefinida não pode ser vítima de


estelionato.
▪ O estelionato poderá ser praticado mediante:
i. Artifício > a fraude material, na qual há uma alteração exterior da coisa (falsidade,
disfarce, etc).
ii. Ardil > astúcia, a malícia, ou seja, uma fraude puramente intelectual.
iii. Qualquer outro meio fraudulento.
▪ Admite-se a interpretação analógica em benefício do réu, mas em prejuízo não.
▪ Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena
conforme o disposto no art. 155, § 2º (aplicação do privilégio do furto).
o Pequeno valor = até 1 salário mínimo da data do fato.

6.1. Modalidades Equiparadas do Estelionato (art. 171, § 2º)


a) Disposição de coisa alheia como própria
 Vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como
própria.
b) Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria
 Vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável,
gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante
pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias.
c) Defraudação de penhor
 Defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a
garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado
d) Fraude na entrega de coisa
 Defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a
alguém
e) Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro
 Destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou
a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver
indenização ou valor de seguro
f) Fraude no pagamento por meio de cheque
 Emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe
frustra o pagamento.
 Sem dolo, não há tipicidade.
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89 Leandro Gesteira

 O cheque é uma ordem de pagamento à vista.


o Para o STF, cheque emitido para data posterior, deixa de ser cheque e passa
a ter natureza de nota promissória > é uma confissão de dívida > configura
crime do caput.

Observação:
➢ Súmula 246/STF: Comprovado não ter havido fraude, não se configura
o crime de emissão de cheque sem fundos.
➢ Súmula 554/STF: O pagamento de cheque emitido sem provisão de
fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento
da ação penal.
o A consumação ocorre quando o banco nega o pagamento por
falta de fundos.

▪ Fraude eletrônica > A pena é de reclusão, de 4 a 8 anos, e multa, se a fraude é cometida com a
utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de
redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer
outro meio fraudulento análogo (§ 2º-A).
o A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso,
aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a
utilização de servidor mantido fora do território nacional (§ 2º-B).
▪ A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito
público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência (§ 3º).
▪ A pena aumenta-se de 1/3 ao dobro, se o crime é cometido contra idoso ou vulnerável,
considerada a relevância do resultado gravoso (§ 4º).
▪ Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:
I - a Administração Pública, direta ou indireta;
II - criança ou adolescente;
III - pessoa com deficiência mental; ou
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.

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Direito Penal
90 Leandro Gesteira

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

1) ESTUPRO (ART. 213, CP)


▪ Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar
ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.
▪ Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave, gravíssima, morte, ou se a vítima é menor
de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos, tipificado como estupro qualificado.

Observação: O denominado estupro corretivo é uma prática criminosa, segundo


a qual, uma ou mais pessoas estupram outra pessoa, supostamente como forma de
"curar" sua orientação sexual.

2) VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE (ART. 215, CP)


▪ Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro
meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima.
▪ Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.

3) IMPORTUNAÇÃO SEXUAL (ART. 215-A, CP)


▪ Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria
lascívia ou a de terceiro.

4) ASSÉDIO SEXUAL (ART. 216-A, CP)


▪ Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se
o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de
emprego, cargo ou função.
▪ A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos.

5) ESTUPRO DE VULNERÁVEL (ART. 217-A, CP)


▪ Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos.
▪ Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou
que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

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Direito Penal
91 Leandro Gesteira

▪ Se da conduta resultar lesão corporal de natureza grave,


gravíssima ou morte, o estupro de vulnerável será qualificado.
▪ As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente do
consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime.

6) CORRUPÇÃO DE MENORES (ART. 218, CP) .


▪ Induzir alguém menor de 14 anos a satisfazer a lascívia de outrem.

7) FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE


CRIANÇA OU ADOLESCENTE OU DE VULNERÁVEL (ART. 218-B, CP)
▪ Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor
de 18 anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone.
▪ Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.
▪ Incorre nas mesmas penas:
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18
(dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo;
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas
referidas no caput deste artigo.

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Direito Penal
92 Leandro Gesteira

LEGISLAÇÃO ESPECIAL

→ Cada lei especial configura um microssistema.


→ Na aplicação do direito, é necessário ter um diálogo entre as fontes para aplicação ao caso
concreto.

LEI DE CRIMES HEDIONDOS (LEI 8.072/90)

 Essa lei está cumprindo um mandado constitucional.


 A Constituição não trará a tipificação de crimes e sanções a serem aplicadas para determinadas
condutas, mas pode trazer aquilo que a doutrina chama de mandados constitucionais de
criminalização, como fez no art. 5º, inciso XLIII, da CRFB/88.
 Os crimes hediondos não são imprescritíveis. Só temos duas hipóteses de imprescritíveis em
nosso ordenamento jurídico, que são:
a) Racismo; e
b) Ação de grupos armados contra o Estado Democrático de Direito.
 Quando o legislador vai trazer a hipótese de imprescritibilidade, ele tinha três opções para fazer:
1º Critério legal: a lei diria quais crimes seriam hediondos, trazendo um rol taxativo;
- Quando a lei lista um rol taxativos de crimes como hediondos, retira-se do juiz a
possibilidade de, em um caso concreto, não se aplicar a lei de crimes hediondos.
2º Critério Judicial: a lei traria um conceito de hediondez e deixaria para que o juiz, no caso
concreto, entendesse se deveria ou não aplicar os crimes hediondos daquela conduta.
- Iria trazer uma enorme insegurança jurídica.
3º Critério Misto: traria um rol taxativos de crime e o juiz, no caso concreto, poderia, se
entendesse a circunstância, deixar de aplicar a hediondez.
- Não traria a possibilidade de o juiz aplicar o que não estaria no rol.

 Desses três critérios, a Lei 8.072/90 adotou o critério legal, critério taxativo.

Gravidade concreta: quem valora é o juiz.

Gravidade em abstrato: quem valora é o legislador.

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Direito Penal
93 Leandro Gesteira

 A Lei 8.072/90 adotou a Teoria Penal do Inimigo.

 Art. 1º - Adoção do critério legal e apresentação de um rol taxativo. Ao analisar esse artigo, uma das
premissas que se pode concluir é que, como regra, os crimes hediondos estão no Código Penal.
- A hediondez dos crimes independe de consumação ou tentativa.

 Inciso I - O homicídio é crime hediondo. Tem-se aqui duas hipóteses em que o homicídio será
considerado crime hediondo: o homicídio simples será crime hediondo se praticado em
atividade típica de extermínio, ainda que tenha sido praticado por um só agente, e no caso de
homicídio qualificado por motivo torpe.
o Nucci faz uma crítica a este artigo dizendo que, essa primeira parte do artigo é letra
morta, porque se um homicídio for praticado em atividade típica de extermínio, ele será
qualificado. A prática de homicídio em atividade típica de grupo de extermínio leva ao
reconhecimento da qualificadora do motivo torpe.
o A presença do privilégio sempre afasta a hediondez.
o Art. 121 do CP: Passou a prever como uma qualificadora o homicídio praticado contra
autoridade ou agente descrito no art. 142 (forças armadas) e 144 (carreiras policiais), da
CF. Se o crime ocorre no exercício da função ou em razão da função.
- Também será qualificado crime contra o cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo.
- Se não for consanguíneo, não será crime hediondo ou qualificado, até o 3º grau.

 Inciso I-A – Lesão corporal de natureza gravíssima

 Inciso II - Roubo: antes só tinha uma hipótese de hediondez, que era o latrocínio (roubo
qualificado pela morte). Ou seja, o roubo só era hediondo quando fosse qualificado pela morte.
a) Quando circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima → Não confundir com
sequestro relâmpago (crime de extorsão, art. 158, §3º, inciso V, CP).
b) Circunstanciado pelo emprego de arma de fogo ou pelo emprego de arma de fogo de uso
proibido ou restrito → O roubo só não será hediondo quando praticado com o uso de
arma branca.
- O roubo passou a ser qualificado quando praticado com o uso explosivo, mas não é
hediondo.
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Direito Penal
94 Leandro Gesteira

c) Qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte.

 Inciso III – Extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão
corporal ou morte → Cuidado: a extorsão com ocorrência de lesão corporal leve não é crime
hediondo. Agora, se a lesão for grave ou gravíssima, se aplica a hediondez.

 Inciso IV – Extorsão mediante sequestro e na forma qualificada. → É uma espécie de privilégio


para a extorsão, que será a hipótese de uma “delação premiada”. Se o crime for praticado em
concurso de pessoas, o concorrente que denunciar o local do cativeiro, propiciando a libertação
da vítima, com a sua integridade física preservada, terá direito a diminuição da pena de 1 a 2/3.

 Inciso V – O crime de estupro passa a ser crime hediondo com a lei 12.015/09, em que se teve a
revogação do art. 214 do CP com o abarcamento da conduta no âmbito do art. 213. Cuidado que
essa revogação ocorrida no art. 214 não acarretou abolitio criminis. A doutrina chama isso de
abolitio criminis formal e não abolitio criminis material, pois a conduta não deixou de ser crime.

 Inciso VI – Estupro de vulnerável.

 Inciso VII – Epidemia com resultado morte (art. 267, §1º, CP).

 Inciso VII-B – Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins


terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e §1º-B, com a redação dada pela Lei no
9.677, de 2 de julho de 1998). → Atribuição da Polícia Federal.

 Inciso VIII – A partir de 2014; antes de 2014 não tem hediondez.

 Inciso IX – Furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo
comum.
Cuidado: O roubo qualificado pelo emprego de explosivo não é crime
hediondo, mas o furto qualificado com o emprego de explosivo é hediondo.
→ O furto de explosivo não é hediondo; a hediondez é do furto qualificado
pelo emprego do explosivo.
Parágrafo único: Traz os crimes que não estão no Código Penal e que são hediondos,
sejam eles tentados ou consumados.
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95 Leandro Gesteira

I- Crime de Genocídio: Lei 2.889/56 – Para praticar


genocídio não precisa matar ninguém. A conduta do genocídio é quando se tenta
destruir no todo ou em parte um grupo étnico.
II- Crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido. → E o uso de
arma de fogo restrito é hediondo? Não.
III- Comércio ilegal de armas de fogo.
IV- Crime tráfico Internacional de arma de fogo acessório ou munição.
V- Crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime
hediondo ou equiparado. → Sofreu alteração com a lei 13964/19. Tem-se aqui
uma modalidade de organização (crime associativo). Se a organização criminosa
se destina a praticar crimes hediondos, o crime de organização criminosa por si só
já é hediondo.

 Crimes associativos: associação criminosa artigo 288 do CP, associação para o tráfico do artigo 35
da Lei de Drogas (11.343/06) e a organização criminosa 12.846/13.

 Art. 2º - Trata dos crimes hediondos equiparados, que são tortura, tráfico e terrorismo.

São insuscetíveis de:


I - Anistia, graça e indulto.
- Anistia é através de lei.
- A graça é individual;
- O indulto é coletivo.
• Graça e indulto são de competência do Presidente da República, enquanto a anistia é de
competência do Congresso Nacional mediante lei.
• Lembre-se que, por conta do princípio da reserva legal, a matéria do Direito Penal é
reservada, regra geral, ao Congresso Nacional e medida provisória não pode tratar de
direito penal, nem para conceder graça ou indulto (o art. 61 da CF proíbe expressamente
que medida provisória trate de matéria de Direito Penal).

 Art. 107, CP: Extingue-se a punibilidade:


I. pela morte do agente;
II. Crimes que ferem gravemente os direitos humanos, para o direito internacional, não
são passíveis de anistia.
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Direito Penal
96 Leandro Gesteira

Observação: Alguns tratados de Direitos Humanos impedem


a anistia para determinados crimes que ferem gravemente os
direitos humanos para o direito internacional, não sendo
esses crimes passíveis de anistia, mesmo que não estejam no
rol de crimes hediondos.

 Comutação de penas é uma espécie de indulto, em que quem já cumpriu metade da pena
terá direito ao indulto. E, a Lei de Crimes de Hediondos, ao vetar o indulto, consequentemente
também está vedando a comutação de penas.

II - Fiança → Os crimes são inafiançáveis.


• São crimes insuscetíveis de liberdade provisória? Errado. Eles são inafiançáveis.
• Pode-se conceder a liberdade provisória com fiança, ou conceder a liberdade provisória sem
fiança.

§1º A pena será cumprida, inicialmente, em regime fechado. – O STF diz que esse parágrafo é
inconstitucional, uma vez que fere o princípio da individualização da pena na segunda vertente.
Três vertentes da individualização da pena:
a) Legislador – quando vai aplicar uma pena, deve respeitar a individualização da
pena;
b) Juiz – na hora de aplicar a pena, ele tem que individualizar. Não pode pegar duas
pessoas, distintas, e aplicar a mesma pena.
c) Processo de execução – a execução da pena deve se dar de forma individualizada.
§3º A liberdade deve ser decidida de forma fundamentada.
§4º Prisão temporária – Prazo de 30 dias, prorrogáveis por mais 30 em caso de extrema
necessidade.
Cuidado: Na Lei 7.960/89, o prazo será de cinco dias,
prorrogáveis por mais cinco.

 O art. 3º trouxe a previsão de que a União construísse e mantivesse presídios federais.

Observação: O processo de execução segue o condenado por onde


ele for. Se o sujeito for condenado pela Justiça Estadual da Bahia, mas
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está cumprindo pena em um


presídio federal no Paraná, o juiz Federal da execução passa a ser o
juiz Federal da Vara de Execuções do Paraná.

 A Convenção de Palermo, principal instrumento global de combate ao crime organizado


transnacional, foi incorporado no Brasil por meio do Decreto nº 5.015/2004. → Só que o Brasil, a
partir de 2004, começou a criar leis para definir o que é crime organizado, mas não trouxe nenhum
conceito ou tipificação da conduta.
• Veja: tinha-se três leis, mas nenhuma delas tipificava a conduta. Tinha-se apenas a
Convenção de Palermo dizendo o que era crime de organização criminosa. No entanto, essa
convenção não era válida porque, por conta do princípio da reserva legal, só lei em sentido
estrito, emanada pelo Congresso Nacional.
• Lei 12.850/13 → Trouxe no art. 1º, §1º, o conceito de organização criminosa.

LEI DAS ASSOCIAÇÕES CRIMINOSAS (LEI 12.850/13):

 Art. 1º - traz um verdadeiro microssistema, além de definir o que é organização criminosa.


o A regra é que se aplique a lei brasileira para o crime cometido em território nacional. E o
que é território nacional? É composto por toda a faixa de terra circundada pelas nossas
fronteiras físicas e 12 milhas do mar territorial.
o Se um crime ocorre dentro da embaixada americana localizada no Brasil, se aplicará a lei
brasileira, isto porque a embaixada não pertence ao país que ocupa.

 Art. 2º - As condutas são “promover, constituir, financiar ou integrar”. – Esse artigo, como se
pode observar, é que tipifica a conduta de organização criminosa.

 Organização criminosa: associação de 4 ou mais pessoais pessoas estruturalmente


ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas. → Infrações penais com penas máximas > 4
(quatro) anos ou infrações transnacionais.
o A pena poderá ser aumentada até a metade se o crime for cometido com o uso de arma
de fogo (art. 2º, §2º). → Segundo o STF e STJ, será dispensável a apreensão do
armamento.
o A pena também poderá ser agravada para quem comanda, ainda que não pratique
pessoalmente os atos executórios.
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- Em se tratando de perda de mandato eletivo, o


STF decidiu que compete ao Congresso Nacional decidir a respeito.

Observação: No caso da organização criminosa há previsão


expressa em que, se os integrantes dessa organização criminosa
praticam outros crimes, eles vão responder por estes crimes,
inclusive se tiver qualificadora ou causa de aumento pelo concurso
de pessoas.

 O recebimento da denúncia, segundo o STJ, funcionária como o momento de encerramento


daquela conduta anterior. Então, se o Ministério Público oferece denúncia contra Caio, Tício e
Mévio por associação criminosa, quando tiver o despacho recebendo a denúncia, encerrou-se a
permanência do crime anterior. E se eles continuarem associados, se terá um novo crime de
associação criminosa, podendo o Ministério Público aditar a denúncia ou oferecer uma nova. →
Isso vale para qualquer crime associativo, ou seja, tanto para associação criminosa como para
organização criminosa.

Observação: Funcionário Público que integra a organização criminosa ou


que utiliza o seu cargo para facilitar a atuação da organização criminosa,
poderá este ser afastado cautelarmente, sem prejuízo da remuneração,
por determinação judicial. Poderá, ainda, perder o cargo e interdição
para o exercício de função ou cargo público pelo prazo de 08 anos após
o cumprimento da pena no caso de haver condenação com trânsito em
julgado.

 A consumação do crime se dá com a formação da organização criminosa, não sendo cabível a


tentativa.

 É um crime permanente, além de ser inafiançável, uma vez que estão presentes as hipóteses de
cabimento da preventiva.

 O prazo prescricional somente se inicia após a cessação da permanência do crime.

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 Art. 3º - Irá trazer alguns meios de investigação, ou meios de obtenção de provas.


o Lembre-se que a persecução penal engloba tanto a ação penal, como também o inquérito
policial.
o Colaboração premiada é também chamada de delação premiada.
o Delação premiada é um contrato que deve ser feito, sempre, por escrito (negócio jurídico
processual).
- Esse acordo, durante as fases de negociação, não terá participação do juiz, que
sequer sabe que está sendo celebrado entre as partes. Somente após a formulação
das cláusulas desse acordo é que será levado perante a autoridade judicial, que irá
tão somente homologar ou não.
- O juiz não irá adentrar no mérito da delação; irá analisar tão somente a
legalidade do acordo.
- A autoridade policial pode celebrar o acordo sem a participação do
Ministério Público.
o No acordo de delação premiada (ART. 3-A), o delator irá abrir mão ao direito ao silêncio.
Logo, toda vez que ele for ouvido, seja perante autoridade policial ou judicial, irá assumir o
compromisso de falar a verdade. E se mentir, irá responder nos termos do art. 19 desta lei.
o A palavra do delator não é prova, mas meio de obtenção da prova. E não é meio de prova, pois
a sentença condenatória não poderá ser proferida exclusivamente com base nas palavras do
delator. As palavras do delator deverão ser utilizadas para que se encontre as provas
necessárias para as imputações.

Observação: O delator pode delatar a qualquer tempo, mesmo após


o trânsito em julgado do condenado.

 Art. 5º do CP: Princípio da Territorialidade (regra). → Aplica-se a lei penal brasileira nos crimes
cometidos em território nacional.
o Essa territorialidade não é absoluta, uma vez que depende de regras, tratados e
convenções de Direito Internacional, sendo denominada, neste caso, de territorialidade
temperada ou mitigada.

 Art. 7ª do CP: A exceção é a extraterritorialidade. Em alguns casos será aplicada a lei brasileira,
ainda que o crime tenha sido cometido fora do território nacional.
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 Art. 8º, da Lei de Crimes Hediondos: a pena de associação criminosa terá uma pena diferente
se a associação foi para praticar crime hediondo.

Associação para o Associação criminosa Organização criminosa


tráfico
Art. 35, da Lei 11.343/06 Art. 288, CP Art. 1º, §1º, da Lei 12.850, 13
Duas ou mais pessoas Três ou mais pessoas Quatro ou mais pessoas
Não eventual Não eventual Estrutura ordenada,
caracterizada pela divisão de
tarefas.
- Essa estrutura não precisa
ser formal, pode ser informal.
Finalidade: traficar Finalidade: praticar Finalidade: obter vantagem
crimes de qualquer natureza.
- Infrações penais (devem ter
pena máxima superior a 04,
ou caráter transnacional (não
interessa qual será a pena).

Da investigação e dos meios de prova:


▪ Se dará em qualquer fase da persecução penal.
▪ Dispensa licitação para contratação de serviços técnicos especializados, aquisição ou locação de
equipamentos destinados à polícia judiciária em caso de necessidade justificada de sigilo.

Da ação controlada:
▪ É também conhecida como ação retardada, postergada ou interdição policial, que tem como
finalidade aprofundar as investigações para descobrir, por exemplo, demais integrantes da
organização criminosa.
▪ A ação controlada significa dizer que, em determinadas situações, a autoridade policial poderá
retardar a prisão em flagrante dos investigados, mas desde que os mantenha sob estrita e
ininterrupta vigilância. E essa ação controlada deve ser concretizada no momento certo, de
maneira eficaz, para a formação de provas e fornecimento de informações.
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▪ Devido a previsão legal, a autoridade policial e seus agentes


poderão retardar a prisão em flagrante quando estiverem diante de estado flagrancial de crimes
praticados por organizações criminosas.
▪ A ação controlada afasta a obrigatoriedade da prisão em flagrante realizada por autoridades e
seus agentes (art. 301, CPP), quando encontrarem alguém em flagrante delito.
▪ Regra geral: se a autoridade policial presencia a prática de um crime, tem que prender em
flagrante. Caso não o faça, ele pratica crime de prevaricação. Agora, diante de uma hipótese como
essa do art. 8º da Lei 12.850/13, a autoridade policial vai retardar sua ação, permitir que a
prática criminosa continue ou se consuma com a finalidade de descobrir informações acerca da
organização criminosa.
▪ Essa ação controlada é permitida “desde que mantida sob observação e acompanhamento para
que a medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de
informações”.
▪ Não há necessidade de autorização judicial, basta prévia comunicação, cabendo ao juiz
estabelecer ou não os limites de atuação.

Observação: Não confunda ação controlada com flagrante preparado, forjado.


- Flagrante forjado: a autoridade policial simula a existência de um crime
para prender alguém em flagrante.
- Flagrante retardado (ação controlada): a autoridade policial
presencia a prática de uma conduta criminosa, avisa a autoridade judicial,
e quando achar certo para atuar de fato, haverá a prisão em flagrante, que
será legal.
- Flagrante preparado: a autoridade policial limita-se a aguardar o
momento da prática do delito, sem qualquer induzimento.

CRIMES DE TORTURA - LEI 9.455/97:

 A Constituição Federal traz em seu art. 5º, incisos III e XLIII, como princípio, o repúdio à tortura
e às penas degradantes, desumanas e cruéis.

Observação: A Constituição determina que o crime de tortura é


inafiançável e insuscetível de graça ou anistia, mas não é imprescritível.

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Além disso, o condenado por crime de


tortura não pode ser beneficiado com o indulto.

ATENÇÃO!!!

A Constituição determina que o crime de tortura é inafiançável e


insuscetível de graça ou anistia, mas não é imprescritível. Além disso, o
condenado por crime de tortura não pode ser beneficiado com o
indulto.

Art. 1º - Tortura é o ato de constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-
lhe sofrimento físico ou mental, com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou
de terceira pessoa, para provocar ação ou omissão de natureza criminosa, em razão de discriminação
de qualquer natureza.
- Observe que a tortura não se resume apenas a imposição de dor física, mas também
mental e emocional. E essa agonia mental imposta a vítima é chamada de tortura limpa,
pois não deixa marcas perceptíveis.
 É um crime material, uma vez que a sua consumação se dá com o próprio resultado, que é o
sofrimento da vítima. Logo, podemos afirmar que, não cabe tentativa e desistência voluntária,
muito menos se admite arrependimento eficaz ou arrependimento posterior.
 É um crime de ação penal pública incondicionada.
 O princípio da proporcionalidade veda a proteção deficiente e veda a proteção em excesso. Se
é para ser proporcional, deve ser na justa medida. E nesses dois casos, poderá ser declarada a
inconstitucionalidade.
- Proibição da proteção em excesso: se refere a atividade legislativa que, ao legislar, acaba
por ir além do necessário, em excesso, afetando direitos fundamentais. Veja que o Estado
não pode ir além do necessário e adequado. Além disso, pode-se aplicar a pena de um
crime menos grave. → A inconstitucionalidade, nesse caso, poderá ser corrigida.
- Proibição da proteção deficiente: ocorre quando o estado não legisla acerca de um
determinado direito fundamental desprotegendo-o. → A inconstitucionalidade, nesse
caso, não poderá ser corrigida.

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103 Leandro Gesteira

Art. 1º, §1º - A Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso XLIX,
assegura que “aos presos o respeito à integridade física e moral”. Logo, basta que a pessoa presa ou
sujeita a medida de segurança seja submetida a sofrimento para configuração do crime de tortura, não
se exigindo um dolo específico do agente.

Art. 1º, §2º - Omissão perante a tortura. Por este parágrafo, apenas responde aquele que tinha o
dever de agir para evitar o ato de tortura e não faz. → Esse dispositivo é criticado pela doutrina,
pois ele apenas criminaliza a conduta de omissão de quem tinha o dever de agir para evitar a tortura,
não incluindo aquele que, apesar de não ter o dever, tinha a possibilidade de agir e impedir o ato de
tortura e não o faz.

Art. 1º, §3º - Aqui temos o crime preterdoloso; o dolo não é causar a lesão grave, mas praticar a tortura.
→ Hipóteses de tortura qualificada.
 A lesão corporal leve não é qualificadora no crime de tortura, apenas lesão corporal grave ou
gravíssima, ou morte.

Art. 1º, §5º - No caso de o agente do crime de tortura ser um funcionário público, este perderá o cargo,
função ou emprego e ficará impedido para o seu exercício pelo período equivalente ao dobro da pena
aplicada.

Art. 1º, §7º - O condenado por crime de tortura iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.

LEI 10.826/03 – ESTATUTO DO DESARMAMENTO:

Art. 12. - Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em
desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta,
ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou
empresa (...).
 A posse consiste em manter no interior de residência (ou dependência desta) ou no local
de trabalho a arma de fogo.
- Pena de detenção.

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104 Leandro Gesteira

Art. 14. - Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,


transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou
ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com
determinação legal ou regulamentar (...).
 O porte ilegal pressupõe que a arma de fogo esteja circulando ou esteja fora da residência
ou do local de trabalho.
- Pena de reclusão.
 O fato de o agente portar mais de uma arma, ou possuir, configura um único crime. → A
quantidade de armas, assim como a quantidade de acessórios, ou a quantidade de munições, não
faz com que tenha mais de um tipo penal (isso na mesma conduta fática).

Art. 15. - Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências,
em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro
crime (...).
Observação: Os parágrafos únicos dos artigos 14 e 15 da Lei 10.826/2003 foram
declarados inconstitucionais, sob o fundamento de que tais delitos não poderiam ser
equiparados a terrorismo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes ou crimes
hediondos (CF, art. 5º, XLIII).
- Trata-se, na verdade, de crimes de mera conduta que, embora impliquem
redução no nível de segurança coletiva, não podem ser igualados aos crimes que
acarretam lesão ou ameaça de lesão à vida ou à propriedade.

 Os Tribunais Superiores têm entendido que o crime de porte de arma de fogo se consuma
independentemente de a arma estar municiada, mas o STJ ressalva o seu entendimento no que diz
respeito ao laudo pericial reconhecer a total ineficácia da arma de fogo e das munições, caso em que
deve ser reconhecida a atipicidade da conduta.

Art. 16. - Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que
gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório
ou munição de uso restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar
(...).
 Será também hediondo o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito,
tentado ou consumado.

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105 Leandro Gesteira

Art. 26. - São vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a


importação de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam confundir.
Parágrafo único. Excetuam-se da proibição as réplicas e os simulacros destinados à instrução, ao
adestramento, ou à coleção de usuário autorizado, nas condições fixadas pelo Comando do Exército.

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106 Leandro Gesteira

PARABÉNS PELO EMPENHO!

NÓS ACREDITAMOS
EM VOCÊ!!

Família CEJAS: Líderes em aprovação em todo o Brasil!

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