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DIREITO PENAL

Tipicidade, Ilicitude e Culpabilidade, com Resolução de Questões


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CONTINUAÇÃO DA TEORIA CAUSAL CLÁSSICA – TIPICIDADE,


ILICITUDE E CULPABILIDADE – COM RESOLUÇÃO DE QUESTÕES

RELEMBRANDO
A primeira Teoria do Crime (sistema Liszt-Beling-Radbruch), desenvolvida no final do século
XIX e início do século XX, partiu de uma plataforma positivista, naturalista, que impedia
a realização de juízo de valor e a construção de conceitos penais com base axiológica,
valorativa. O Direito não foi visto como ciência cultural, valorativa, mas como uma ciência
semelhante às demais (matemática, física). A teoria causal clássica, portanto, é uma teoria
de sistema fechado, de tipicidade formal, de ilicitude formal, de falácia naturalista.

Teoria Causal Clássica (sistema naturalista)

• expoentes: Von Liszt e Beling


• Base filosófica: positivismo
• ação: movimento corporal voluntário que muda o mundo exterior
• tipicidade: formal
• ilicitude: formal
• injusto (tipicidade + ilicitude) objetivo
• culpabilidade: liame subjetivo que liga o agente ao fato por ele praticado (teoria psico-
lógica pura)
• elementos da culpabilidade: dolo/culpa.
• pressuposto da culpabilidade: imputabilidade

Outras observações:
• dolo normativo (maioria): formado por vontade; consciência do resultado e consciên-
cia da ilicitude. tipicidade e ilicitude constituem a parte objetiva do crime; culpabilidade
constitui a parte subjetiva do crime.
• crítica: sistema fechado sem possibilidade de análise valorativa (falácia naturalista).

Quando estudamos a Teoria do Crime, seja a Teoria Causal Clássica, o sistema neoclás-
sico, finalista, a Teoria Social da Ação, o Funcionalismo Sistêmico, Teleológico, ou a Teoria
ANOTAÇÕES

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Significativa da Ação, temos de estudar, primeiramente, o conceito de ação humana. É impor-


tante para entendermos, mais adiante, o crime. O conceito de ação é o ponto de partida.
Apesar do pouco valor atribuído à ação no Funcionalismo Sistêmico de Jakobs, os demais
autores dão grande importância a esse conceito.
Na Teoria Causal Clássica, o movimento corporal voluntário que muda a realidade exterior
nos traz a ideia de um conceito mecânico, sendo necessário uma mudança externa para que
a ação seja completa. Haverá ação quando houver resultado naturalístico. Exemplo: no porte
de arma de fogo, considerado crime (art. 14 ou 16, a depender do tipo de arma, segundo a Lei
n. 10.826), não há resultado naturalístico (crime de perigo e de tutela preventiva).
A Teoria Causal Clássica não conseguia explicar tal espécie de crime, assim como os
crimes de mera conduta e crimes formais. A crítica vale para os crimes comissivos e, também,
para os omissivos. Beling dizia que a omissão era a “retração dos músculos”. Zaffaroni, em
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crítica a Beling, utilizava a seguinte hipótese: alguém que, correndo em uma esteira, visse
outra pessoa precisando de socorro, e omitisse a prestação de socorro, não estaria com retra-
ção dos músculos. Zaffaroni, com essa crítica, dizia que não se pode conceituar a omissão de
forma naturalística, mecânica. Alguém só responde por omissão, em termos penais, porque
o legislador assim tipifica (há uma construção jurídica, normativa). Na omissão não há nexo
naturalístico, mas normativo, ou causal-jurídico.
A tipicidade era a adequação do fato à leta da lei. Então, o furto de “uma dúzia de ovos
caipiras, assim como o furto de cem vacas paridas”, seria furto do mesmo jeito: bastava a ade-
quação formal ao tipo. Não havia espaço para, por exemplo, desenvolver o princípio da insig-
nificância, pois esse princípio só pode ser desenvolvido em modelos de tipicidade material.
A ilicitude era a relação de contradição, de antagonismo, entre o fato e o ordenamento jurí-
dico. Não havia, no conceito de ilicitude, a ideia de danosidade social. Beling desenvolveu um
conceito de tipo, em 1906, com elementos descritivos e objetivos, enquanto Liszt desenvolveu
um conceito de ilicitude, bebendo na fonte de Ihering, na construção da ilicitude do Direito
Civil, transportando-a para o Direito Penal. O conceito de ilicitude de Liszt era, inicialmente,
formal. No entanto, posteriormente, evoluiu para o conceito de ilicitude material.
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ATENÇÃO
Os dois conceitos – de ilicitude formal e material – foram objeto de questão de prova para
Juiz Federal da 5ª Região.

Qual a importância disso para o Direito Penal? Ora, se o conceito de ilicitude é formal,
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só podemos compreender excludentes de ilicitude previstas na lei (legítima defesa, estado de
necessidade, estrito cumprimento de dever legal e exercício regular de direito), e não pode-
mos compreender a exclusão da ilicitude de maneira supralegal – como compreendemos
hoje, a exemplo do consentimento do ofendido (ilicitude material).
A tipicidade e a ilicitude formavam o injusto.

ATENÇÃO
O crime é um fato típico, ilícito e culpável. Há, no entanto, pessoas que defendem a ideia de
que tipicidade e ilicitude têm o mesmo lugar (teoria da ratio essendi e teoria dos elementos
negativos do tipo, que veremos em seguida, no Neokantismo). Ainda prevalece, entre nós, a
ideia de ratio cognoscendi, da tipicidade como um indício de ilicitude.

Na Teoria Causal Clássica, o injusto era objetivo e formal. Era objetivo, pois os elementos
subjetivos (dolo e culpa) estavam na culpabilidade. A tipicidade era fechada, hermética, avalo-
rada, acrítica. O crime era dividido em duas partes: objetiva – formada por tipicidade e ilicitude
– e parte subjetiva – formada pela culpabilidade. Essa divisão do crime perdurou até a Teoria
Causal Neoclássica. No finalismo, não havia mais esse entendimento.
Os elementos da culpabilidade, segundo a teoria psicológica pura, no causalismo clássico,
eram: dolo e culpa. A imputabilidade era mero pressuposto.

ATENÇÃO
Anote: o dolo e a culpa são os únicos elementos da culpabilidade da teoria psicológica pura,
no causalismo clássico. Neste momento, ainda não havia surgido a exigibilidade de conduta
diversa (surgida na teoria causal neoclássica, que veio logo em seguida).
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O dolo da teoria causal clássica, para a doutrina e questões de provas, é chamado de


dolo normativo. O dolo normativo tem 3 elementos: vontade, representação do resultado ou
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consciência do resultado, e a consciência da ilicitude (consciência real, pois a ideia de consci-
ência potencial só foi desenvolvida no final do neokantismo, por Mezger, na teoria da cegueira
jurídica). Esse dolo provém do dolus malus, do Direito Romano – dolo com má-fé, má astúcia.

ATENÇÃO
Não confundir o dolo normativo do causalismo clássico e neoclássico com o dolo do finalismo,
que não está na culpabilidade (dolo natural, que está na conduta e integra o fato típico).

Havia um embate sobre essa questão do dolo. Observe a seguir.

PONTO DE DESTAQUE

DOLO NO CAUSALISMO CLÁSSICO – LIVROS E QUESTÕES DE CONCURSOS


A presença da consciência da ilicitude no dolo foi combatida por Franz von Liszt, por
entender que tal classificação paralisaria a administração da justiça, pois haveria necessidade
de provar que o agente em cada caso concreto conhecia o preceito violado. Por sua vez, Ernst
von Belling afirmava que, para a existência do dolo, o autor deveria ter conhecido as circuns-
tâncias do fato que pertence ao tipo, bem como a consciência da antijuridicidade, destacando
que se tratava de uma concepção dominante na ciência de seu tempo.
GOMES FILHO, Dermeval Farias. Dogmática Penal: fundamento e limite à construção da
jurisprudência penal no Supremo Tribunal Federal. Salvador: Juspodivm, 2019.
LISZT, Franz von. Tratado de Direito Penal allemão. Ed. fac-sim. Trad. José Hygino Duarte
Pereira. Brasília: Senado Federal, 2006. v. 1, p. 285.
BELING, op. cit., p. 76-77.

Obs.: note que, em Liszt, havia confusão entre o conhecimento da lei formal e o conhe-
cimento da ilicitude. Para Beling o dolo é normativo. Para Liszt, não. Nesta época,
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havia uma confusão entre erros que beneficiavam o agente e erros que não beneficia-
vam. Não havia erro de tipo e erro de proibição. Os erros eram de direito ou de fato. E
muitas pessoas que cometeram fatos capitulados como crime, com erro, foram puni-
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das nesta época. Isso porque o erro de direito só beneficiava a pessoa quando fosse
extrapenal – não se distinguiam ignorância da lei e desconhecimento da ilicitude. Essa
confusão não existe mais hoje. Tudo isso girava em torno da consciência da ilicitude
– se estava, ou não, presente no dolo.

ATENÇÃO
"Macete" para concursos: o dolo é normativo (vontade, representação do resultado ou
consciência do resultado, e a consciência da ilicitude), no causalismo clássico e neoclássico.
No finalismo, o dolo é natural.

Críticas à teoria causal clássica:


• modelo formal, que impedia juízo de valor no injusto;
• modelo que confundia a posição do dolo e da culpa.

Exemplo: distinção entre uma lesão corporal e uma tentativa de homicídio. Imagine que A
lesionou B no braço. A, em outro dia, lesionou C, também no braço. Um desses casos é lesão
corporal e o outro, tentativa de homicídio. Como saber? Na tentativa de homicídio, há o dolo
de matar, que o agente não consegue atingir, por circunstância alheia a sua vontade. Na lesão
corporal, não há dolo de matar, nem pode o agente assumir o risco de matar: tem de haver
dolo de lesionar. Porém, o dolo na teoria causal clássica estava na culpabilidade. Tinha de ser
analisada o dolo na culpabilidade e, após, voltar à tipicidade, para fazer a adequação típica (o
elemento subjetivo estava na culpabilidade). No exemplo, para o causalismo, as duas lesões
eram iguais.
Hoje o dolo não está mais na culpabilidade, mas na conduta que integra o fato típico.
A questão a seguir merece a nossa atenção. Não fugiremos de questões mal feitas
(nem sempre aprendemos resolvendo questões, e a banca, nem sempre, anula esse tipo
de questão):

DIRETO DO CONCURSO
QUESTÃO SOBRE A TEORIA CAUSAL CLÁSSICA
ANOTAÇÕES

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1. (MPSP/2015/PROMOTOR) Após a leitura dos enunciados abaixo, assinale a alternati-


va correta:

I – A teoria finalista, no conceito analítico de crime, o define como um fato típico e antijurí-
dico, sendo a culpabilidade pressuposto da pena.
II – A teoria clássica, no conceito analítico de crime, o define como um fato típico, antijurí-
dico e culpável.
III – A teoria clássica entende que a culpabilidade consiste em um vínculo subjetivo que
liga a ação ao resultado, ou seja, no dolo ou na culpa em sentido estrito.
IV – A teoria finalista entende que, por ser o delito uma conduta humana e voluntária que
tem sempre uma finalidade, o dolo e a culpa são abrangidos pela conduta.
V – A teoria finalista entende que pode existir crime sem que haja culpabilidade, isto é,
censurabilidade ou reprovabilidade da conduta, inexistindo, portanto, a condição indispen-
sável à imposição e pena.

a. Somente o II e o III são verdadeiros.


b. Somente o I e o IV são verdadeiros.
c. Somente o I, IV e V são verdadeiros.
d. Somente o I e II são verdadeiros.
e. Todos são verdadeiros.

ATENÇÃO
Quando o examinador menciona teoria clássica, está se referindo à teoria causal clássica,
ao naturalismo (causalismo clássico). Geralmente, quando quer fazer referência ao
neokantismo, há menção à teoria causal neoclássica ou neokantismo. O examinador, no
item, deveria ter especificado a referência.
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COMENTÁRIO
Desde o causalismo clássico, o crime é um fato típico, ilícito e culpável. Esse conceito
passou pelo finalismo, teoria social da ação e o funcionalismo teleológico de Roxin, para o
qual a culpabilidade era elemento da estrutura analítica do crime. A ideia bipartida parte de
setor específico, minoritário, da doutrina (Dotti, Damásio e Mirabete) e não tem aceitação
pela maior parte da doutrina.
Devemos entender como especificidade da banca (MPSP) e do examinador de então.
Vimos que, tanto a teoria clássica, quanto a neoclássica, trabalham o conceito analítico de
25m crime como fato típico, ilícito e culpável.
Letra E corresponde à resposta correta, segundo banca do ano de 2015. Os itens II e III sobre
a teoria causal clássica não merecem reparos, pois estão corretos, conforme explicamos no
tópico sobre a teoria causal clássica. Os itens I e V não deveriam ser objeto de cobrança
em uma prova objetiva, uma vez que o tema divide a doutrina brasileira (conceito bipartido x
conceito tripartido), conforme veremos no tópico sobre o finalismo. E além disso, a corrente
dominante é a de que o crime é um fato típico, ilícito e culpável. O item IV aborda tema que
será visto no tópico mais adiante sobre o finalismo. De antemão, não merece reparo.

Obs.: o modelo do comentário é o mesmo que está no PDF, disponível para os alunos ainda
30m neste semestre (I/2020).

GABARITO
1. e

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Dermeval Farias Gomes Filho.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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