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ESTRATÉGIA OAB
Sumário
1 - Considerações Iniciais.................................................................................................................................... 3
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1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Amigos, passaremos agora para o estudo do último elemento integrante do conceito de crime, a famosa
Culpabilidade, seus elementos integrantes, bem como de suas diversas causas de exclusão.
Vamos lá?!
2.1 - Culpabilidade
A Culpabilidade já foi objeto de inúmeras questões na nossa prova, na maioria das vezes relacionadas às suas
hipóteses de exclusão que, como sabemos, tem como consequência isentar o agente de pena e afastar o
próprio crime, já que nosso ordenamento adota a concepção tripartida do delito, e a culpabilidade é
considerada como terceiro elemento integrante do conceito analítico de crime.
2.1.1 - Conceito
Em palavras simples podemos definir a Culpabilidade como: reprovabilidade pessoal da conduta típica e
ilícita praticada, sendo elemento integrante do conceito de crime, fundamento e pressuposto para a
aplicação da pena.
O finalismo, adotado pelo nosso Código Penal, trabalha com a teoria normativa pura da culpabilidade, pela
qual a culpabilidade é formada por 3 elementos integrantes, de caráter normativo, que são cumulativos e
necessários para que haja reprovação e crime.
Fiquem atentos, pois é muito importante lembrar que o dolo, elemento psicológico que traduz a intenção
do sujeito ao atuar, não faz parte da culpabilidade, sendo o elemento subjetivo do tipo penal, por isso,
sempre que estivermos diante de uma causa de exclusão da culpabilidade, a conduta permanece sendo típica
e dolosa, porem deixa de ser crime.
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2.1.3 - Imputabilidade
Percebam que este conceito se divide em duas partes e, para que possamos considerar alguém como
imputável, precisamos preencher duas condições:
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b) O sujeito ser capaz de se autodeterminar, ou seja, tomar decisões livremente de acordo com o
entendimento dos fatos que possui.
Evidentemente, para nossa prova, o ponto mais importante no que tange a imputabilidade são exatamente
suas causas de exclusão, ou seja, as hipóteses em que o sujeito será considerado inimputável e, por isso,
terá sua culpabilidade afastada ficando isento de pena, não respondendo criminalmente.
Então, amigos, vamos passar logo pro estudo das famosas causas de inimputabilidade, previstas no nosso
Código Penal:
CAUSAS DE
INIMPUTABILIDADE
Doença mental ou
Embriaguez
desenvolvimento
Menoridade acidental
mental
completa
incompleto
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a) Doença mental ou desenvolvimento mental incompleto (art. 26 do CP): este conceito inclui os loucos,
retardados, débeis mentais, maníacos e psicóticos, que não possuem culpabilidade, não cometem crime e
nem recebem pena. Porém, pela prática do fato típico e ilícito podem receber medidas de segurança (art. 96
do CP) em face de sua periculosidade. A semi-imputabilidade (art. 26, parágrafo único, do CP) ocorre quando
o agente apenas não era inteiramente capaz de entender a natureza dos seus atos. Nesse caso, responderá
normalmente pelo crime, porém com sua pena reduzida de 1/3 a 2/3.
b) Menoridade (art. 27 do CP): É fundada na falta da plena capacidade de autodeterminação dos menores
de 18 anos, sendo uma presunção absoluta de incapacidade fundada em aspectos orgânicos, biológicos, logo,
os menores de idade não cometem crime nem recebem pena, embora, pela prática do fato típico e ilícito
(ato infracional), possam receber medidas socioeducativas, como a internação em instituição de menores
(Lei 8.069/90 – ECA).
Agora vamos tratar da última hipótese de inimputabilidade e, para isso, precisaremos dividir o conceito de
embriaguez, como excludente de culpabilidade em três aspectos, são eles:
c.2) Acidental: é aquela de origem involuntária, não escolhida, produto de caso fortuito (não saber da droga
ou de seus efeitos) ou força maior (coação moral ou física), afastando assim a responsabilidade penal.
c.3) Completa: é sinônimo de plena, total, que exclua toda a capacidade de discernimento do agente.
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Mas, atenção, pois a embriaguez voluntária, aquela escolhida pelo agente, seja ela dolosa ou culposa, não
afasta a culpabilidade nem a responsabilidade penal, e isso se dá devido à famosa teoria da actio libera in
causa.
Amigos, essa importante teoria tem como característica transferir a análise dos fatos (conduta, dolo/culpa,
imputabilidade) para o momento prévio, aquele em que o agente livremente ingere a droga (embriaguez
voluntária), possibilitando assim que responda por aquilo que fizer posteriormente em estado de
inimputabilidade, quando esta seja produto de uma embriaguez voluntária (Art. 28 II CP).
Galera, passaremos agora para o estudo do segundo elemento da culpabilidade, o famoso potencial
conhecimento da ilicitude, sendo que, nesse primeiro momento, apenas vamos entender sua estrutura
fundamental, já que, a causa de exclusão da culpabilidade vinculada a exclusão deste elemento, o conhecido
erro de proibição, será estudado na nossa próxima aula, quando analisarmos todos os erros presentes no
nosso Código Penal.
De acordo com este elemento, para que haja reprovação, culpabilidade e crime é preciso que o agente
conheça, ou tenha ao menos a possibilidade de conhecer, o caráter ilícito, proibido, daquilo que faz.
Como dissemos, a falta de conhecimento da ilicitude dá origem ao conhecido erro de proibição, tema
recorrente na nossa prova, e que poderá excluir a culpabilidade (erro inevitável), isentando o agente de
pena, ou reduzir a culpabilidade (erro evitável), também reduzindo a pena (1/6 a 1/3) (ex.: eutanásia; alguns
crimes ambientais (Lei 9.605/1998), etc.)
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Por fim, para concluirmos o nosso estudo da culpabilidade e suas causas de exclusão, precisamos analisar o
terceiro e último elemento de seu conceito, a exigibilidade de conduta diversa, ou seja, a exigibilidade de
uma conduta conforme a norma.
Para que haja reprovação, culpabilidade e crime é preciso que seja possível exigir do agente um
comportamento diferente daquele realizado, exigir dele uma conduta diversa diante do caso concreto, ou
seja, que seja possível, diante dos fatos concretos apresentados, exigir que o sujeito não tivesse realizado o
fato típico e Ilícito.
Sendo assim, há certas hipóteses, previstas no Código Penal, em que há inexigibilidade de conduta diversa
que, portanto, irão gerar exclusão da culpabilidade, e serão chamadas de causas de exculpação.
São elas:
a) Coação moral irresistível (art. 22 do CP): Esta primeira excludente de culpabilidade nada mais é do que
uma coação que incide na moral, na psique do agente, fazendo que ele atue sem liberdade de escolha, com
sua vontade viciada.
Sendo assim, nas hipóteses de coação moral irresistível afasta-se a culpabilidade, e o crime, de quem sofre
a coação, respondendo pelo fato apenas o autor da referida coação.
Ex.: pai é coagido a subtrair dinheiro do banco onde trabalha enquanto seus filhos estão sob grave
ameaça de arma de fogo por meliante. Responde pelo furto apenas o autor da coação.
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Não se confunde a coação moral com a coação física irresistível, que é excludente da
própria tipicidade de quem a sofre, pois nela o movimento é forçado fisicamente, não
existindo sequer conduta voluntária por parte do coagido.
Nesse caso, responde pelo crime somente o superior hierárquico, autor da ordem (Ex.: capitão da polícia
militar dá ordem para soldado conduzir certa pessoa à delegacia, afirmando que há mandado de prisão
expedido contra ela, quando na verdade não há nada contra essa pessoa. Responde pelo constrangimento
ilegal – art. 146 do CP – e eventual abuso de autoridade, apenas o superior, que foi o autor da ordem).
Porém, é importante lembrarmos que, caso a ordem seja claramente ilegal e o subordinado ainda assim vier
a cumpri-la, ambos os agentes (superior e subordinado) responderão pelo crime.
Por fim, não podemos esquecer que há, ainda, as chamadas causas supralegais de exclusão da
culpabilidade, que, embora não possuam previsão na lei, também podem afastar a culpabilidade por
inexigibilidade de conduta diversa.
Podemos citar como exemplos de excludentes supra legais da culpabilidade: a legítima defesa antecipada, o
excesso exculpante em excludentes de ilicitude, o conflito de consciência, etc.
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afastam a
culpabilidade por exemplo: legítima
causas supralegais
inexigibilidade de defesa antecipada
conduta diversa.
(FGV/VIII Exame de Ordem Unificado) Analise as hipóteses abaixo relacionadas e assinale a alternativa que
apresenta somente causas excludentes de culpabilidade.
a) Erro de proibição; embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior; coação moral
irresistível.
b) Embriaguez culposa; erro de tipo permissivo; inimputabilidade por doença mental ou por
desenvolvimento mental incompleto ou retardado.
c) Inimputabilidade por menoridade; estrito cumprimento do dever legal; embriaguez incompleta.
d) Embriaguez incompleta proveniente de caso fortuito ou força maior; erro de proibição; obediência
hierárquica.
Comentários
Resposta: A
Trata-se de questão estritamente dogmática, que envolve a análise dos elementos integrantes da
culpabilidade e suas hipóteses de exclusão. A culpabilidade é formada por três elementos essenciais e
cumulativos necessários para que haja reprovação, sendo que cada um deles poderá ser excluído, afastado
em algumas hipóteses e, assim, excluir a própria culpabilidade.
São elementos da culpabilidade com suas referentes causas de exclusão:
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(FGV/XI Exame de Ordem Unificado) Para aferição da inimputabilidade por doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, assinale a alternativa que indica o critério adotado pelo
Código Penal vigente.
a) Biológico.
b) Psicológico.
c) Psiquiátrico.
d) Biopsicológico.
Comentários
Resposta: D
Trata-se de questão de caráter estritamente teórico a respeito da culpabilidade e do seu primeiro elemento
integrante, qual seja, a imputabilidade. O nosso ordenamento adotou o sistema biopsicológico ou misto
para delimitação das hipóteses de inimputabilidade.
Para esse sistema, que é a junção dos sistemas biológico e psicológico, as causas de inimputabilidade podem
ser delimitadas com base em aspectos orgânicos, biológicos, ou então puramente em aspectos psicológicos,
mentais, e essas causas aparecem em nosso Código Penal, nos arts. 26, 27 e 28 (doença mental, menoridade
e embriaguez acidental completa).
(OAB XXX Exame Unificado) Durante ação penal em que Guilherme figura como denunciado pela prática do
crime de abandono de incapaz (Pena: detenção, de 6 meses a 3 anos), foi instaurado incidente de insanidade
mental do acusado, constatando o laudo que Guilherme era, na data dos fatos (e permanecia até aquele
momento), inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato, em razão de doença mental. Não foi
indicado, porém, qual seria o tratamento adequado para Guilherme. Durante a instrução, os fatos imputados
na denúncia são confirmados, assim como a autoria e a materialidade delitiva.
Considerando apenas as informações expostas, com base nas previsões do Código Penal, no momento das
alegações finais, a defesa técnica de Guilherme, sob o ponto de vista técnico, deverá requerer:
A) a absolvição imprópria, com aplicação de medida de segurança de tratamento ambulatorial, podendo a
sentença ser considerada para fins de reincidência no futuro.
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Conduta
Resultado
FATO TÍPICO
Nexo causal
Tipicidade
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Excludentes
Imputabilidade
CULPABILIDADE
Potencial conhecimento da ilicitude
(REPROVABILIDADE)
Exigibilidade de conduta diversa
II) CULPABILIDADE
POTENCIAL
CONHECIMENTO DA Erro de proibição (art. 21 do CP)
ILICITUDE
EXIGIBILIDADE DE
CONDUTA DIVERSA a) Coação moral irresistível (art. 22 do CP)
(CAUSAS DE
INEXIGIBILIDADE DE b) Obediência hierárquica (art. 22 do CP)
CONDUTA DIVERSA)
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Nós sabemos o quanto este tema é importante e muito cobrado no exame da OAB, bem como em todos os
tipos de concurso público, e por isso, precisamos analisar com muito cuidado todas as espécies de erro
previstas em nosso ordenamento, bem como suas consequências práticas, muito abordadas nas questões
de prova.
Diferentemente do que vocês estão acostumados, ao invés de espalhar a análise dos erros pela teoria do
crime de forma desordenada, vamos reunir todas as 6 espécies de erros previstas no nosso Código Penal em
um único capítulo e, por isso, chamamos este estudo sistêmico e organizado de “Teoria do Erro”, sendo que,
isso irá simplificar muito o nosso estudo e o entendimento deste tema.
Então, mãos à obra, e vamos começar a desmistificar esse tema tão interessante!!!
3.1 - Introdução
No que tange às espécies de erro, nosso ordenamento adotou, a partir da teoria normativa pura da
culpabilidade, que já estudamos anteriormente, a vertente chamada teoria limitada da culpabilidade.
Através desta teoria (limitada) há três espécies de erros essenciais, assim chamados pois se relacionam com
os elementos essenciais integrantes do conceito de crime, quais sejam:
Importante lembrar que o erro de tipo e, eventualmente, até mesmo o erro de proibição, podem decorrer
pela influência de um terceiro que leve o agente a errar, dando origem ao chamado erro determinado por
terceiros (art. 20, § 2º, do CP).
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Nesses casos, de acordo com o Art. 20 § 2º, do CP, se tratando de erro inevitável, responderá pelo crime
apenas o terceiro que determinou o erro.
Além disso, também precisamos lembrar que há também os chamados erros acidentais, que são assim
chamados por serem relacionados a falhas, acidentes, no momento de realização da conduta típica, são eles:
Muito bem amigos, em suma, podemos definir e separar as diferentes espécies de erro da seguinte forma:
Art. 20 CP - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas
permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
De forma bastante simples, podemos dizer que o erro de tipo incriminador é aquele que incide nos
elementos objetivos que compõem o tipo penal, ou seja, quando o agente se equivoca a respeito da situação
fática que está realizando ao cometer o crime.
Logo, neste erro, ao cometer o crime age acreditando estar fazendo outra coisa (Ex.: Transporta um pacote
com cocaína pensando se tratar de farinha de trigo).
O erro de tipo incriminador irá sempre afastar o dolo, permitindo que o agente responda pela forma culposa
se o erro for evitável, produto de falta de cuidado, ou, ainda, afastar o dolo e também a culpa se o erro for
inevitável, tornando o fato atípico.
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Inevitável, invencível,
fato atípico
escusável – dolo/culpa
ERRO DE TIPO INCRIMINADOR
(ART. 20, CAPUT, DO CP)
Evitável, vencível, inescusável responde pela forma culposa
– dolo/culpa do crime (se houver)
No código penal o erro de tipo permissivo, também chamado de erro suis generis por parte da nossa
doutrina, está previsto da seguinte forma:
Descriminantes putativas
Art. 20 § 1º É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias,
supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena
quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.
O erro de tipo permissivo é aquele que incide sobre elementos integrantes de um tipo penal autorizador,
por isso permissivo, ou seja, incide sobre elementos que compõem uma excludente de ilicitude (ex.:
agressão na legítima defesa), gerando a chamada descriminante putativa.
Fiquem atentos!!! Pois, como dissemos, este erro é chamado por parte da doutrina nacional de erro suis
generis, devido as suas caraterísticas e consequências bastante peculiares.
Como dica, podemos dizer que, de acordo com a Teoria Limitada da Culpabilidade, adotada em nosso
ordenamento, o erro de tipo permissivo terá basicamente as mesmas consequências do erro de tipo comum
(incriminador), quais sejam, sempre afastar a responsabilidade por dolo, podendo punir a forma culposa do
crime se o erro for evitável, produto de falta de cuidado, ou afastar também a responsabilidade por culpa,
se o erro for inevitável, excluindo assim o crime e isentando o agente de pena.
Nas hipóteses de erro de tipo permissivo evitável, o agente responderá pela forma culposa do crime por
meio da chamada culpa imprópria, já que nessa situação há dolo na conduta (o agente quer atingir o suposto
agressor), mas esse dolo será afastado para punir “impropriamente” a forma culposa do crime.
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Podemos resumir as consequências deste erro tão importante da seguinte forma, montando um pequeno
quadro, como fizemos no erro de tipo incriminador, mas que neste erro torna-se ainda mais útil, devido às
suas características tão peculiares no que tange as consequências que o CP previu para as descriminastes
putativas fáticas, principalmente aplicadas a hipótese conhecida como Legítima Defesa Putativa:
Inevitável, invencível,
isenta de pena
escusável – dolo/culpa
ERRO DE TIPO PERMISSIVO (ART. 20,
§ 1º, DO CP)
– EXCLUDENTES DE ILICITUDE responde pelo crime
culposo (se houver)
EX.: LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA
(AGRESSÃO) Evitável, vencível,
Chama-se de Culpa
inescusável –
imprópria (tem dolo).
dolo/culpa
Amigos, precisamos ressaltar que a famosa culpa imprópria, produto do erro de tipo permissivo, é a única
hipótese no nosso direito penal em que se admite falar em tentativa de crime “culposo”.
Isso ocorre, por exemplo, quando, acreditando estar agindo em legítima defesa (legítima defesa putativa), o
agente, com dolo de matar o suposto agressor, erra o disparo e este sobrevive, havendo assim uma tentativa
de homicídio doloso, mas afasta-se o dolo em razão do erro de tipo permissivo, punindo, assim, a tentativa
de homicídio (doloso), mas na forma culposa.
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Podemos perceber que o erro de proibição ocorre quando o agente não conhece o caráter ilícito, proibido,
do seu comportamento, ou seja, erra a respeito da proibição daquilo que faz, atua sem o conhecimento da
ilicitude de seus atos.
Importante lembrar que, o erro de proibição é separado ainda pela doutrina em direto, quando o agente
acredita de forma direta que sua conduta simplesmente não está proibida, ou indireto, quando, para pensar
que seu comportamento não é proibido, o agente acredita erroneamente que existe uma norma permitindo
seu ato naquela situação (ex.: acredita que há uma norma que lhe autorize agir em eutanásia – erro de
permissão).
Mas fiquem tranquilos pois essa classificação não interfere em nada nas consequências do erro de proibição,
e dificilmente irá influenciar no gabarito das questões na nossa prova.
Vocês podem perceber que, como o potencial conhecimento da ilicitude é um elemento da culpabilidade,
fundamental para o juízo de reprovação, as consequências do erro de proibição, que incide nesse elemento
serão:
Podemos ver os seguintes exemplos para o erro de proibição que, inclusive, já foram objeto de questões na
nossa prova:
- O caso do holandês que usa drogas no Brasil; a eutanásia em familiar desenganado; filha pensa que
pode ficar com as verbas previdenciárias da mãe após a morte desta; alguns crimes ambientais.
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Em suma, sobre o erro de proibição, assim como fizemos com os demais erros essenciais:
Em nosso código penal, o erro sobre a pessoa vem previsto da seguinte forma:
§ 3º O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se
consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra
quem o agente queria praticar o crime.
Amigos, podemos dizer que o erro sobre a pessoa trata-se de um erro quanto à identidade da vítima, um
erro de valoração a respeito de quem é a vítima.
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Como dica para nossa prova podemos reconhecer este erro como o “erro do irmão gêmeo”, já que, nele, o
agente se confunde quanto a “quem é quem” na hora que realiza a conduta.
Por fim, como consequência, podemos afirmar que a lei manda ignorar todas as características da vítima
lesionada, imputando-se ao agente o crime como se tivesse atingido efetivamente a vítima contra quem
pensava estar agindo (agravantes, atenuantes, causas de aumento ou diminuição de pena etc.).
Ex.: Mãe que, querendo matar seu filho em estado puerperal, mata filho de outrem.
Embora realize um homicídio (matar alguém), responde por infanticídio (art. 123 do CP).
Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés
de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse
praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código.
No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra
do art. 70 deste Código.
Como podemos perceber trata-se de um erro fático, erro na realização/execução da conduta, em que o
agente erra o alvo visado, atingindo vítima diversa da pretendida, por isso, como dica importante para nossa
prova podemos reconhecer este erro, nos casos concretos, como o “erro da bala perdida”.
Amigos, fica bem fácil gravar as consequências deste erro, pois são as mesmas do erro sobre a pessoa, ou
seja, ignoram-se as características da vítima efetivamente atingida, imputando-se o crime como se o agente
efetivamente tivesse atingido quem pretendia.
Isso vale para todas as características da vítima que foi visada originariamente e que devem ser consideradas
no caso concreto, como agravantes, atenuantes, causas de aumento, causas de diminuição de pena,
qualificadoras, etc.
Em certas hipóteses, o aberratio ictus pode até mesmo mudar a tipificação do crime na situação concreta,
em face da vítima visada ter características especificas (ex: causar Homicídio – Art. 121 CP - mas responder
por Infanticídio -Art. 123 CP-)
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Vamos comparar os dois tipos de erro acidentais que estudamos até agora e perceber que eles possuem as
mesmas consequências práticas...
erro de valoração
ERRO DE EXECUÇÃO/
ABERRATIO ICTUS erra o alvo
Art. 73 do CP
Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime,
sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é
previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra
do art. 70 deste Código.
Podemos perceber que se trata de um erro quanto ao crime praticado, quanto ao bem jurídico lesionado,
por exemplo, o agente quer um dano ao patrimônio (Art. 163 do CP), erra o alvo e atinge pessoa, causando
culposamente a morte (art. 121 do CP) ou a lesão corporal (art. 129 do CP).
Esse erro terá como consequência afastar a tentativa de dano doloso praticada, imputando-se apenas a
lesão corporal culposa ou o homicídio culposo produzido.
Mas galera, atenção, pois se a situação for inversa, esse erro não terá aplicação, ou seja, se o agente visar
pessoa, errar e acabar atingindo patrimônio, causando danos, não há como se aplicar o art. 74 do CP, isso
por que não há previsão de modalidade culposa do crime de dano (art. 163 do CP) e, portanto, o agente
responderá normalmente e somente pela tentativa do crime doloso praticado (lesão corporal ou homicídio).
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a) Erro de b) Erro de
b) Aberratio
tipo tipo c) Erro de a) Erro sobre c) Aberratio
ictus ou erro
incriminador permissivo proibição a pessoa (art. criminis (art.
de execução
(art. 20, (art. 20, § 1º, (art. 21, CP) 20, § 3º, CP) 74, CP)
(art. 73, CP)
caput, CP) CP)
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(FGV/II Exame de Ordem Unificado) Arlete, em estado puerperal, manifesta a intenção de matar o próprio
filho recém-nascido. Após receber a criança no seu quarto para amamentá-la, a criança é levada para o
berçário. Durante a noite, Arlete vai até o berçário, e, após conferir a identificação da criança, a asfixia,
causando a sua morte. Na manhã seguinte, é constatada a morte por asfixia de um recém-nascido, que não
era o filho de Arlete. Diante do caso concreto, assinale a alternativa que indique a responsabilidade penal da
mãe.
a) Crime de homicídio, pois, o erro acidental não a isenta de responsabilidade.
b) Crime de homicídio, pois, uma vez que o art. 123 do CP trata de matar o próprio filho sob influência do
estado puerperal, não houve preenchimento dos elementos do tipo.
c) Crime de infanticídio, pois houve erro quanto à pessoa.
d) Crime de infanticídio, pois houve erro essencial.
Comentários
Resposta: C
O enunciado narra a conduta de uma mãe que, querendo matar o próprio filho sob influência do estado
puerperal, confunde-se no berçário e acaba matando outra criança, filho de outrem. Trata-se de hipótese
conhecida como Erro sobre a pessoa (art. 20, § 3.º, do CP), espécie de erro acidental em que o agente se
confunde quanto à identidade da vítima, ou seja, um erro de valoração quanto a quem é a pessoa contra
quem realiza a conduta (erro do irmão gêmeo). Esse erro tem como consequência ignorar todas as
características da vítima efetivamente atingida e considerar o fato como se o agente tivesse atingido quem
pretendia. Dessa forma, de acordo com o narrado, mesmo tendo matado o filho de outrem (matar alguém)
e, com isso, realizado homicídio, Arlete deverá responder pelo crime de Infanticídio consumado (art. 123 do
CP), como se tivesse atingido a vítima pretendida inicialmente, nesse caso, seu próprio filho.
(FGV/III Exame de Ordem Unificado) Joaquim, desejoso de tirar a vida da própria mãe, acaba causando a
morte de uma tia (por confundi-la com aquela). Tendo como referência a situação acima, é correto afirmar
que Joaquim incorre em erro
a) de tipo essencial escusável – inevitável – e deverá responder pelo crime de homicídio sem a incidência da
agravante relativa ao crime praticado contra ascendente (haja vista que a vítima, de fato, não era a sua
genitora).
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b) de tipo acidental na modalidade error in persona e deverá responder pelo crime de homicídio com a
incidência da agravante relativa ao crime praticado contra ascendente (mesmo que a vítima não seja, de
fato, a sua genitora).
c) de proibição e deverá responder pelo crime de homicídio qualificado pelo fato de ter objetivado atingir
ascendente (preserva-se o dolo, independente da identidade da vítima).
d) de tipo essencial inescusável – evitável –, mas não deverá responder pelo crime de homicídio qualificado,
uma vez que a pessoa atingida não era a sua ascendente.
Comentários
Resposta: B
O enunciado da questão narra uma situação em que determinado agente dispara sua arma para matar a
própria mãe, entretanto, por confundi-la com sua tia, mata a pessoa errada. Trata-se de hipótese conhecida
como Erro sobre a pessoa (art. 20, § 3.º, do CP), espécie de erro acidental em que o agente se confunde
quanto à identidade da vítima, ou seja, um erro de valoração quanto a quem é a pessoa contra quem realiza
a conduta (erro do irmão gêmeo). Esse erro tem como consequência ignorar todas as características da
vítima efetivamente atingida, e considerar o fato como se o agente tivesse tingido quem pretendia. Dessa
forma, de acordo com o narrado, mesmo tendo matado sua tia, Joaquim deverá responder pelo crime de
homicídio doloso consumado com a incidência da agravante relativa ao crime praticado contra ascendente,
como se tivesse atingido a vítima pretendida, nesse caso, sua própria mãe.
(FGV/V Exame de Ordem Unificado) Apolo foi ameaçado de morte por Hades, conhecido matador de
aluguel. Tendo tido ciência, por fontes seguras, que Hades o mataria naquela noite e, com o intuito de
defender-se, Apolo saiu de casa com uma faca no bolso de seu casaco. Naquela noite, ao encontrar Hades
em uma rua vazia e escura e, vendo que este colocava a mão no bolso, Apolo precipita-se e, objetivando
impedir o ataque que imaginava iminente, esfaqueia Hades, provocando-lhe as lesões corporais que
desejava. Todavia, após o ocorrido, o próprio Hades contou a Apolo que não ia matá-lo, pois havia desistido
de seu intento e, naquela noite, foi ao seu encontro justamente para dar-lhe a notícia. Nesse sentido, é
correto afirmar que:
a) havia dolo na conduta de Apolo.
b) mesmo sendo o erro escusável, Apolo não é isento de pena.
c) Apolo não agiu em legítima defesa putativa.
d) mesmo sendo o erro inescusável, Apolo responde a título de dolo.
Comentários
Resposta: A
Esta questão narra situação em que determinado sujeito (Apolo), por acreditar que seria agredido por seu
desafeto (Hades), age acreditando estar em legítima defesa, esfaqueando-o, porém não havia agressão por
parte da vítima. Trata-se de situação de legítima defesa putativa, produto do erro a respeito da agressão,
conhecido como erro de tipo permissivo (art. 20, § 1.º, do CP), e que poderá ter duas consequências: afastar
o dolo e punir a forma culposa do crime (erro evitável), ou isentar o agente de pena (erro inevitável). Porém,
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é importante lembrar que, em situação de legítima defesa putativa, como a narrada no enunciado, o agente
atua com dolo de lesionar o suposto agressor, embora, de acordo com o art. 20, § 1.º, do CP, determine que
nesses casos o dolo será afastado, imputando ao agente a forma culposa do crime (culpa imprópria) ou até
isentando o agente de pena. Dessa forma, conforme narrado na questão, houve dolo de lesão corporal na
conduta praticada por Apolo embora este achasse que estava agindo justificadamente em situação de
legítima defesa, por pensar que estava sendo agredido.
(FGV/VI Exame de Ordem Unificado) José dispara cinco tiros de revólver contra Joaquim, jovem de 26 (vinte
e seis) anos que acabara de estuprar sua filha. Contudo, em decorrência de um problema na mira da arma,
José erra seu alvo, vindo a atingir Rubem, senhor de 80 anos, ceifando-lhe a vida. A esse respeito, é correto
afirmar que José responderá:
a) pelo homicídio de Rubem, agravado por ser a vítima maior de 60 anos.
b) por tentativa de homicídio privilegiado de Joaquim e homicídio culposo de Rubem, agravado por ser a
vítima maior de 60 anos.
c) apenas por tentativa de homicídio privilegiado, uma vez que ocorreu erro quanto à pessoa.
d) apenas por homicídio privilegiado consumado, uma vez que ocorreu erro na execução.
Comentários
Resposta: D
Trata-se de questão relacionada ao chamado erro de execução ou aberratio ictus (art. 73 do CP), já que o
agente pratica uma conduta e acaba atingindo vítima diversa da pretendida. Nesse caso houve um erro de
alvo, um erro na realização da conduta pelo agente, e para identificar essa categoria de erro podemos chamá-
lo de “erro da bala perdida”. De acordo com o art. 73 do CP, nessas hipóteses devem-se ignorar as
características da vítima efetivamente atingida e punir o fato como se o agente tivesse atingido a vítima
pretendida inicialmente. Sendo assim, de acordo com o narrado, o fato de a vítima atingida possuir 80 anos
de idade, o que caracteriza uma causa de aumento de pena no crime de homicídio doloso (art. 121, § 4.º, do
CP) será irrelevante, devendo-se considerar o fato como se o agente tivesse efetivamente atingido o sujeito
que havia acabado de estuprar sua filha, ou seja, o agente deve responder pelo homicídio privilegiado
praticado por um agente dominado por violenta emoção logo após a injusta provocação da vítima (art. 121,
§ 1.º, do CP).
(FGV/IX Exame de Ordem Unificado) Jaime, brasileiro, passou a morar em um país estrangeiro no ano de
1999. Assim como seu falecido pai, Jaime tinha por hábito sempre levar consigo acessórios de arma de fogo,
o que não era proibido, levando-se em conta a legislação vigente à época, a saber, a Lei 9.437/1997. Tal
hábito foi mantido no país estrangeiro que, em sua legislação, não vedava a conduta. Todavia, em 2012,
Jaime resolve vir de férias ao Brasil. Além de matar as saudades dos familiares, Jaime também queria
apresentar o país aos seus dois filhos, ambos nascidos no estrangeiro. Ocorre que, dois dias após sua
chegada, Jaime foi preso em flagrante por portar ilegalmente acessório de arma de fogo, conduta descrita
no art. 14 da Lei 10.826/2003, verbis: “Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,
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transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar
arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação
legal ou regulamentar”. Nesse sentido, podemos afirmar que Jaime agiu em hipótese de
a) erro de proibição direto.
b) erro de tipo essencial.
c) erro de tipo acidental.
d) erro sobre as descriminantes putativas.
Comentários
Resposta: A
Trata-se de uma questão que visa a identificação da modalidade de erro ocorrida diante do caso concreto
narrado. De acordo com o enunciado, o agente (Jaime) realiza a conduta tipificada no art. 14 do Estatuto do
Desarmamento (Lei 10.826/2003), porém realiza essa conduta acreditando não realizar nada ilícito, ou seja,
sem o conhecimento da ilicitude de seu ato, sem reconhecer o caráter proibido daquilo que fez. Dessa forma,
percebe-se que o agente atuou em erro quanto ao caráter ilícito, proibido do seu ato, agindo, portanto, em
Erro de Proibição (art. 21 do CP), que terá como consequência afastar a culpabilidade do agente e isentá-lo
de pena pela falta de potencial conhecimento da ilicitude, ou, em caso de o erro ser de natureza evitável,
reduzir a pena de 1/6 a 1/3. Esse erro de proibição é considerado direto, pois o agente acredita diretamente
que seu ato simplesmente é lícito, ou seja, não é proibido, diferentemente do erro de proibição indireto em
que, para achar que seu ato não é proibido, o agente deve acreditar que há uma permissão para sua conduta
na situação específica em que se encontra, quando, na verdade, essa permissão não existe (ex.: achar que
pode matar quem furta agindo em legítima defesa, quando, na verdade, isso não está autorizado e configura
ato ilícito em excesso).
(FGV/XIII Exame de Ordem Unificado) Paulo tinha inveja da prosperidade de Gustavo e, certo dia, resolveu
quebrar o carro que este último havia acabado de comprar. Para tanto, assim que Gustavo estacionou o
veículo e dele saiu, Paulo, munido de uma barra de ferro, foi correndo em direção ao bem para danificá-lo.
Ao ver a cena, Gustavo colocou-se à frente do carro e acabou sendo atingido por um golpe da barra de ferro,
vindo a falecer em decorrência de traumatismo craniano derivado da pancada. Sabe-se que Paulo não tinha
a intenção de matar Gustavo e que este somente recebeu o golpe porque se colocou à frente do carro
quando Paulo já estava com a barra de ferro no ar, em rápido movimento para atingir o veículo, que ficou
intacto. Com base no caso relatado, assinale a afirmativa correta.
a) Paulo responderá por tentativa de dano em concurso formal com homicídio culposo.
b) Paulo responderá por homicídio doloso, tendo agido com dolo eventual.
c) Paulo responderá por homicídio culposo.
d) Paulo responderá por tentativa de dano em concurso material com homicídio culposo.
Comentários
Resposta: C
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Trata-se de um clássico caso de Aberratio Criminis em que o agente visando atingir uma coisa, ou seja,
praticar um crime de dano (art. 163 do CP) acaba atingindo uma pessoa, praticando assim um homicídio
culposo (art. 121, § 5º, do CP). Este erro, chamado de Aberratio Criminis está previsto no art. 74 do CP e tem
como consequência que se ignore a tentativa do crime de Dano (art. 163 do CP) já que não se produziu este
resultado, imputando-se ao agente somente o resultado produzido culposamente contra a pessoa, ou seja,
deverá responder apenas pelo homicídio culposo.
(FGV/XIV Exame de Ordem Unificado) Eslow, holandês e usuário de maconha, que nunca antes havia feito
uma viagem internacional, veio ao Brasil para a Copa do Mundo. Assistindo ao jogo Holanda x Brasil decidiu,
diante da tensão, fumar um cigarro de maconha nas arquibancadas do estádio. Imediatamente, os policiais
militares de plantão o prenderam e o conduziram à Delegacia de Polícia. Diante do Delegado de Polícia,
Eslow, completamente assustado, afirma que não sabia que no Brasil a utilização de pequena quantidade de
maconha era proibida, pois, no seu país, é um hábito assistir a jogos de futebol fumando maconha. Sobre a
hipótese apresentada, assinale a opção que apresenta a principal tese defensiva.
a) Eslow está em erro de tipo essencial escusável, razão pela qual deve ser absolvido.
b) Eslow está em erro de proibição direto inevitável, razão pela qual deve ser isento de pena.
c) Eslow está em erro de tipo permissivo escusável, razão pela qual deve ser punido pelo crime culposo.
d) Eslow está em erro de proibição, que importa em crime impossível, razão pela qual deve ser absolvido.
Comentários
Resposta: B
Trata-se de questão ligada à teoria do erro, já que aborda um caso concreto visando a identificação da
espécie de erro ocorrida na situação. O enunciado se refere a um estrangeiro que pratica a conduta criminosa
de “porte de droga para uso” (art. 28 da Lei 11.343/06) porém acreditando que sua conduta não é ilícita, que
o fato praticado não é proibido em nosso ordenamento. Como o próprio enunciado aponta, o referido
holandês errou sobre o caráter proibido de usar maconha no Brasil, já que em seu país de origem o uso dessa
substância não configura ato ilícito, sendo permitido, havendo assim um erro de proibição. O erro de
proibição pode ser considerado inevitável, e nesse caso isenta o agente de pena, já que se afasta sua
culpabilidade, ou evitável, reduzindo-se a pena de 1/6 a 1/3, caso, diante da situação concreta, perceba-se
que o agente tinha potencial para conhecer a ilicitude do que fez. Quanto à classificação “direto”, esta se
refere à situação em que o agente simplesmente (diretamente) acredita que algo não é proibido pelo
ordenamento (como no exemplo da questão), e “indireto” quando crê haver alguma norma autorizando a
conduta praticada, para então achar que o seu comportamento não é proibido. Esta classificação não
interfere em nada nas consequências do erro de proibição. Desta forma, evidencia-se o chamado erro de
proibição direto (art. 21 do CP) que ocorre quando o agente não conhece a ilicitude do que faz e, portanto,
erra sobre a proibição, acredita que sua conduta não é proibida, não é ilícita, estando isento de pena (erro
inevitável).
(FGV/XIV Exame de Ordem Unificado) Paloma, sob o efeito do estado puerperal, logo após o parto, durante
a madrugada, vai até o berçário onde acredita encontrar-se seu filho recém-nascido e o sufoca até a morte,
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retornando ao local de origem sem ser notada. No dia seguinte, foi descoberta a morte da criança e, pelo
circuito interno do hospital, é verificado que Paloma foi a autora do crime. Todavia, constatou-se que a
criança morta não era o seu filho, que se encontrava no berçário ao lado, tendo ela se equivocado quanto à
vítima desejada. Diante desse quadro, Paloma deverá responder pelo crime de:
a) homicídio culposo.
b) homicídio doloso simples.
c) infanticídio.
d) homicídio doloso qualificado.
Comentários
Resposta: C
Trata-se de questão relativa ao conhecido erro sobre a pessoa (art. 20, § 3º, do CP). Este erro ocorre quando
o agente erra a respeito da identidade da vítima, ou seja, trata-se de um erro de valoração a respeito de
quem é a vítima a ser atingida. Neste caso, ignora-se as características da vítima atingida imputando-se o
crime ao agente como se ele tivesse atingido quem pretendia. Sendo assim, embora tenha praticado o crime
de homicídio (art. 121 do CP) esta mãe responderá por infanticídio (art. 123 do CP), já que sob influência do
estado puerperal e logo após o parto, pensava estar matando seu filho, devendo assim responder como se
tivesse atingido quem pretendia (art. 20, § 3º, do CP).
(FGV/XIX Exame da OAB) Pedro e Paulo bebiam em um bar da cidade quando teve início uma discussão
sobre futebol. Pedro, objetivando atingir Paulo, desfere contra ele um disparo que atingiu o alvo desejado e
também terceira pessoa que se encontrava no local, certo que ambas as vítimas faleceram, inclusive aquela
cuja morte não era querida pelo agente. Para resolver a questão no campo jurídico, deve ser aplicada a
seguinte modalidade de erro:
A) erro sobre a pessoa.
B) aberratio ictus.
C) aberratio criminis.
D) erro determinado por terceiro.
Comentários
Resposta: B
No caso apresentado no enunciado, trata-se de aberratio ictus, pois Pedro, objetivando atingir Paulo, desfere
contra ele um disparo que atingiu o alvo desejado e também terceira pessoa que se encontrava no local.
Veja que se trata de um erro na execução da conduta, em que o agente erra o alvo visado, atingindo vítima
diversa da pretendida.
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(FGV/XXII Exame da OAB) Tony, a pedido de um colega, está transportando uma caixa com cápsulas que
acredita ser de remédios, sem ter conhecimento que estas, na verdade, continham Cloridrato de Cocaína em
seu interior. Por outro lado, José transporta em seu veículo 50g de Cannabis Sativa L. (maconha), pois
acreditava que poderia ter pequena quantidade do material em sua posse para fins medicinais. Ambos foram
abordados por policiais e, diante da apreensão das drogas, denunciados pela prática do crime de tráfico de
entorpecentes. Considerando apenas as informações narradas, o advogado de Tony e José deverá alegar em
favor dos clientes, respectivamente, a ocorrência de
A) erro de tipo, nos dois casos.
B) erro de proibição, nos dois casos.
C) erro de tipo e erro de proibição.
D) erro de proibição e erro de tipo.
Comentários
Resposta: C
No caso de Tony estaremos diante do erro de tipo. Nesta modalidade de erro que incide nos elementos
objetivos que compõem o tipo penal, ou seja, quando o agente se equivoca a respeito da situação fática que
está realizando ao cometer o crime. José, por sua vez, incidiu em erro de proibição, pois não sabia que sua
conduta era ilícita.
(OAB XXX Exame Unificado) Regina dá à luz seu primeiro filho, Davi. Logo após realizado o parto, ela, sob
influência do estado puerperal, comparece ao berçário da maternidade, no intuito de matar Davi. No
entanto, pensando tratar-se de seu filho, ela, com uma corda, asfixia Bruno, filho recém-nascido do casal
Marta e Rogério, causando-lhe a morte. Descobertos os fatos, Regina é denunciada pelo crime de homicídio
qualificado pela asfixia com causa de aumento de pena pela idade da vítima.
Diante dos fatos acima narrados, o(a) advogado(a) de Regina, em alegações finais da primeira fase do
procedimento do Tribunal do Júri, deverá requerer:
A) o afastamento da qualificadora, devendo Regina responder pelo crime de homicídio simples com causa
de aumento, diante do erro de tipo.
B) a desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro sobre a pessoa, não podendo ser
reconhecida a agravante pelo fato de quem se pretendia atingir ser descendente da agente.
C) a desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro na execução (aberratio ictus), podendo ser
reconhecida a agravante de o crime ser contra descendente, já que são consideradas as características de
quem se pretendia atingir.
D) a desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro sobre a pessoa, podendo ser reconhecida a
agravante de o crime ser contra descendente, já que são consideradas as características de quem se
pretendia atingir.
Comentários
Resposta: B
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Trata-se de questão relacionada a teoria do erro, mais especificamente ao erro acidental sobre a pessoa (Art.
20 par 3º CP).
No caso narrado a mãe, sob influência do estado puerperal e logo após o parto, pretendendo matar seu filho
acaba se confundindo a respeito da identidade do bebê, e acaba matando uma outra criança do berçário.
Configura-se o erro sobre a pessoa (art. 20 par. 3º CP), um erro de valoração sobre a identidade da vítima,
que terá como consequência imputar à autora do fato o crime que pretendia praticar, como se tivesse
lesionado a vitima visada originariamente, ou seja, seu próprio filho.
Não há que se falar em erro de execução (Art. 73 CP), como apontam algumas alternativas, pois este é um
erro fático na realização da conduta (erra o alvo visado).
Desta forma, embora objetivamente tenha realizado um homicídio (art. 121 CP) deverá responder pelo crime
de Infanticídio consumado (art. 123 CP)
Desta forma, a alternativa correta é a letra B.
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Galera, esse capítulo foi realmente incrível, não foi?
Sei que foi muita informação para uma única aula, mas com um pouco de calma, e relendo os principais
tópicos que estudamos juntos aqui, com certeza vocês vão conseguir mandar muito bem na prova quando
forem cobradas questões envolvendo a Culpabilidade e suas causas de exclusão, bem como as famosas
questões sobre as espécies de erro no Direito Penal.
Os assuntos que estudamos juntos nesta aulas estão entre os mais cobrados nas provas da OAB, bem como
em provas de concurso em geral, por isso, buscamos tratar da matéria da foram a mais simples e objetiva
possível, para que vocês guardarem as características e consequências das espécies de erro, bem como
buscamos organizar todas as excludentes de culpabilidade presentes no nosso código penal, já que a lei trata
delas de forma bastante desorganizada e, ainda por cima, separadas.
Com isso, fechamos oficialmente o estudo da Teoria do Crime (sentido estrito), coração da nossa matéria, e
passaremos agora ao estudo do concurso de pessoas e do concurso de crimes, temas mais tranquilos no que
tange a dogmática envolvida, mas também de grande importância para nossa prova.
Até já!!!
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