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OAB

EXAME DE ORDEM

DIREITO
AMBIENTAL
Capítulo 01
Olá, aluno!

Bem-vindo ao estudo para o Exame de Ordem. Preparamos todo esse material para você

não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade, garantindo que
você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente.

Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins

de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal,
queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento,

pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo
sempre!

Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo

completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a
estrutura do PDF Ad Verum foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar
especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada

capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.

E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser

aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou


comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para

a gente!

O que você vai encontrar aqui?

 Recorrência da disciplina e de cada assunto dentro dela


 Questões comentadas
 Questão desafio para aprendizagem proativa
 Jurisprudência comentada
 Indicação da legislação compilada para leitura
 Quadro sinótico para revisão
 Mapa mental para fixação

1
Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para alcançar

a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que
um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para

o estudo da disciplina.

Faça bom uso do seu PDF!

Bons estudos 

2
SOBRE ESTA DISCIPLINA

Daremos início ao estudo da disciplina Direito Penal. Via de regra, nos concursos de
outorga de delegações de Notas e Registros, esta disciplina não é tão cobrada, na primeira fase.
A título de exemplo, nos últimos concursos dos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná

e Distrito Federal a matéria foi pouco cobrada. Todavia, vale lembrar que, as notas de corte, na
fase inicial dos concursos, são altas, então, cada ponto e questão são de extrema importância.

Ademais, vale destacar que, nos últimos certames promovidos no Estado de Minas Gerais,
a prova foi dividida em “blocos”, sendo necessário que o candidato acertasse 50% das questões

de cada bloco, sob pena de eliminação. O bloco composto pelas disciplinas de Direito Penal e
Processual Penal tem sido um diferencial. Bons candidatos, que, todavia, desprezam o estudo

dessas matérias, são eliminados por não atingirem o mínimo no bloco dessas disciplinas.

Não bastasse, as Bancas são compostas por membros do Ministério Público, então, na
prova oral da carreira, inevitavelmente, a disciplina é cobrada de forma bastante contundente,

já que afeta à rotina de trabalho do examinador, por isso, seu estudo, em uma preparação
completa do candidato, não pode ser renegado.

Este material busca fornecer ao aluno um conhecimento amplo e suficiente, conforme os


temas costumam ser cobrados, então, ao final dos capítulos, serão colacionadas questões para

treinamento, sempre priorizando aos concursos da área.

Vale acrescentar, por fim, que, como se constatará ao longo dos capítulos, os
Examinadores dos concursos de outorga de Delegações de Notas e Registros, vem cobrando a
disciplina de modo abrangente. Deste modo, em que pese alguns temas sejam mais recorrentes,
nenhum capítulo deste material deve ser negligenciado.

Veja abaixo como se dá a distribuição macro da recorrência dessa disciplina:

3
RECORRÊNCIA DA DISCIPLINA

Como dito, sabemos que estudar de forma direcionada, com base nos assuntos objetivamente

mais recorrentes, é essencial. Afinal, uma separação planejada pode fazer toda diferença.
Pensando nisso, através de estudo realizado pelo nosso setor de inteligência com base nas
últimas provas, trouxemos os temas mais abordados nessa disciplina!

Sistema Nacional de
Unidades de
Conservação da
Natureza
12%
Política Nacional do
Meio Ambiente
33%

Estudo de
Impacto
Ambiental -
EIA
24%

Ação Civil Pública


12%

Responsabilidade
ambiental
6%

Política Nacional do Meio Ambiente


Ação Civil Pública
Responsabilidade ambiental
Estudo de Impacto Ambiental - EIA
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza

4
TEMAS RECORRÊNCIA

Política Nacional do Meio Ambiente

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 

Ação Civil Pública 

Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza 

Responsabilidade Ambiental 

5
Assim, os assuntos de Direito Ambiental estão distribuídos da seguinte forma:

CAPÍTULOS

Capítulo 1 (você está aqui!) – Princípios do Direito ambiental 

Capítulo 2 – Tutela Constitucional do Meio Ambiente e



Responsabilidade Ambiental Civil e Administrativa.
Capítulo 3 – Política Nacional do Meio Ambiente. 
Capítulo 4 – Licença Ambiental. 
Capítulo 5 – Código Florestal. 
Capítulo 6 – Unidades de Conservação da Natureza. 
Capítulo 7 – Política Nacional de Recursos Hídricos e Os Recursos

Minerais.
Capítulo 8 – Tutela Processual Coletiva do Meio Ambiente e Tutela

Penal e Processual Penal do Meio Ambiente.

6
SOBRE ESTE CAPÍTULO

Antes de começar o estudo, precisamos fazer algumas considerações a respeito da apostila de

nº 01 do nosso curso, tá?

Em primeiro turno, Princípios do Direito Ambiental não costuma ser cobrado no exame de
ordem!

Ademais, a banca examinadora tende a ser um pouco imprevisível, e o nosso objetivo é deixar

você preparado para exatamente qualquer coisa que aparecer na prova!

Então, achamos pertinente abranger o máximo de conteúdo possível! 😊

Inclusive, ao final desta apostila, você encontrará questões de outras carreiras, para um maior
aproveitamento e assimilação de conteúdo, portanto, não deixe de respondê-las, tá?

Vamos juntos!

7
SUMÁRIO

DIREITO AMBIENTAL ............................................................................................................................ 10

Capítulo 1 ................................................................................................................................................ 10

1. Princípios do Direito Ambiental .................................................................................................. 10

1.1 Princípio do Desenvolvimento Sustentável ............................................................................................ 10

1.2 Princípio do Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado .............................................................. 12

1.3 Princípios da Prevenção e da Precaução ................................................................................................. 13

1.4 Princípio do Poluidor Pagador ..................................................................................................................... 15

1.5 Princípio do Usuário Pagador....................................................................................................................... 16

1.6 Princípio da Obrigatoriedade de Intervenção Estatal ........................................................................ 16

1.7 Princípio da Participação Comunitária ...................................................................................................... 17

1.8 Princípio da Informação .................................................................................................................................. 17

1.9 Princípio da Educação Ambiental ............................................................................................................... 18

1.10 Princípio da Função Socioambiental da Propriedade ........................................................................ 19

1.11 Princípio da Cooperação Entre os Povos ................................................................................................ 19

1.12 Princípio da ubiquidade .................................................................................................................................. 20

1.13 Princípio do Limite............................................................................................................................................. 20

1.14 Princípio da Vedação ao Retrocesso Ecológico (Efeito Cliquet Ambiental) ............................. 20

1.15 Princípio do Protetor-Recebedor ................................................................................................................ 21

QUADRO SINÓTICO .............................................................................................................................. 22

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 24

GABARITO ............................................................................................................................................... 33

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 34

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 35

8
LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 37

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 38

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 46

9
DIREITO AMBIENTAL

Capítulo 1

1. Princípios do Direito Ambiental

Apesar de parecer uma matéria interdisciplinar, o Direito Ambiental é dotado de


autonomia científica, obedece a princípios específicos, sem os quais dificilmente seria capaz de
tutelar o meio ambiente ecologicamente equilibrado. Não há consenso na doutrina sobre os
princípios do Direito Ambiental, portanto, vamos elencá-los da forma mais objetiva possível para

os seus estudos, ok?

1.1 Princípio do Desenvolvimento Sustentável

É um dos princípios mais importantes do Direito Ambiental. O desenvolvimento

sustentável visa harmonizar o crescimento econômico, a preservação ambiental e a equidade


social1. A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento estabelece o seguinte

conceito para desenvolvimento sustentável:

“Um desenvolvimento que faz face às necessidades das gerações presentes sem

comprometer a capacidade das gerações futuras na satisfação de suas próprias necessidades”.

1
Vide questão 8 desse material.
10
Nesse contexto, o princípio quarto da Declaração da Rio 92 aduz que “para se alcançar o
desenvolvimento sustentável, a proteção do meio ambiente deve constituir parte integrante do

processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente em relação a ele”.

Enquanto isso, o princípio quinto da mesma declaração aduz: “todos os Estados e todos
os indivíduos, como requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável, devem

cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza, de forma a reduzir as disparidades nos


padrões de vida e melhor atender às necessidades da maioria da população do mundo”.

O princípio do desenvolvimento sustentável está previsto na nossa Constituição Federal,

em seu art. 170, II, III, VI e VII, quando estabelece como princípios da ordem econômica,
respectivamente: a propriedade privada, como um incentivo ao crescimento econômico; a função

social da propriedade, que representa a responsabilidade social; a defesa do meio ambiente; e


a redução das desigualdades regionais e sociais.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios: (...)

II - propriedade privada;

III - função social da propriedade; (...)

VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o


impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação;

VII - redução das desigualdades regionais e sociais; (...)

Além do art. 170, a Constituição prevê o princípio do desenvolvimento sustentável no


caput do art. 225:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

11
Alguns doutrinadores afirmam que do fato de a Constituição Federal estabelecer que

cabe ao Poder Público e à coletividade defender e preservar o meio ambiente ecologicamente


equilibrado para as futuras gerações, surge o princípio da equidade intergeracional, ou

princípio da solidariedade intergeracional.

1.2 Princípio do Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado

A Declaração de Estocolmo das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano de 1972

reconheceu o meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito fundamental do


homem – direitos humanos de terceira geração.

Na Constituição de 1988 esse princípio está expresso no já citado art. 225, caput, e na

legislação infraconstitucional podemos destacar os artigos 2º e 40 da Lei 6.938/81 que trata da


Política Nacional do Meio Ambiente.

Vale destacar que o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado está diretamente ligado ao direito à vida, à saúde e à dignidade humana. Por isso,
o STJ já decidiu que esse direito essencial deve ser imprescritível.

ACP. REPARAÇÃO. DANO AMBIENTAL. Cuida-se, originariamente, de ação civil pública


(ACP) com pedido de reparação dos prejuízos causados pelos ora recorrentes à comunidade

12
indígena, tendo em vista os danos materiais e morais decorrentes da extração ilegal de madeira

indígena. (...) Do ponto de vista do sujeito passivo (causador de eventual dano), a prescrição cria
em seu favor a faculdade de articular (usar da ferramenta) exceção substancial peremptória. A

prescrição tutela interesse privado, podendo ser compreendida como mecanismo de


segurança jurídica e estabilidade. O dano ambiental refere-se àquele que oferece grande risco

a toda humanidade e à coletividade, que é a titular do bem ambiental que constitui direito
difuso. Destacou a Min. Relatora que a reparação civil do dano ambiental assumiu grande

amplitude no Brasil, com profundas implicações, na espécie, de responsabilidade do degradador


do meio ambiente, inclusive imputando-lhe responsabilidade objetiva, fundada no simples risco
ou no simples fato da atividade danosa, independentemente da culpa do agente causador do

dano. O direito ao pedido de reparação de danos ambientais, dentro da logicidade


hermenêutica, também está protegido pelo manto da imprescritibilidade, por se tratar de

direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos povos, independentemente


de estar expresso ou não em texto legal. No conflito entre estabelecer um prazo prescricional

em favor do causador do dano ambiental, a fim de lhe atribuir segurança jurídica e estabilidade
com natureza eminentemente privada, e tutelar de forma mais benéfica bem jurídico coletivo,

indisponível, fundamental, que antecede todos os demais direitos – pois sem ele não há vida,
nem saúde, nem trabalho, nem lazer – o último prevalece, por óbvio, concluindo pela
imprescritibilidade do direito à reparação do dano ambiental. Mesmo que o pedido seja

genérico, havendo elementos suficientes nos autos, pode o magistrado determinar, desde já, o
montante da reparação. (REsp 1.120.117-AC, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 10/11/2009).

1.3 Princípios da Prevenção e da Precaução

Os danos ambientais geralmente são graves e irreversíveis, com isso, devemos preferir

sempre evitar a remediar. Dessa ideia surgem os princípios da prevenção e da precaução,

13
extremamente importantes para a nossa matéria. Mas qual a diferença entre eles já que ambos

visam evitar que o dano ambiental ocorra por meio de medidas preventivas?2

PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO


A aplicação do princípio da prevenção ocorre A aplicação do princípio da precaução ocorre
na certeza científica do impacto ambiental da na constatação de potenciais riscos de
atividade. impacto ambiental da atividade, que no
Conhecendo os danos que determinada momento não podem ser cientificamente
atividade causa ao meio ambiente, podemos comprovados. É um dever de cautela.
impor medidas preventivas para minimizar ou
eliminar esses efeitos.

Princípio décimo quinto da Declaração do Rio 92 – “Com o fim de proteger o meio


ambiente, os Estados deverão aplicar amplamente o critério da precaução de acordo com suas

capacidades. Quando haja perigo de dano grave e irreversível, a falta de certeza científica
absoluta não deverá ser utilizada como razão para postergar a adoção de medidas eficazes

para impedir a degradação do meio ambiente”.

Como a incerteza científica deve ser interpretada em favor do meio ambiente, o ônus de
provar que as ações não são danosas é do acusado interessado3. Mas atenção: a aplicação do

princípio deve ser feita apenas em caso de perigo de dano grave e irreversível, sob pena
de inviabilizar o desenvolvimento científico e econômico se for aplicado a qualquer tipo de
risco ambiental.

2
Vide questões 2, 3, 4, 7, 8 e 9 desse material.
3
Vide questão 7 desse material.
14
1.4 Princípio do Poluidor Pagador

O princípio do poluidor pagador, usado como um instrumento econômico de política


ambiental, exige que o poluidor suporte as despesas de prevenção, reparação e repressão dos

seus danos ambientais4.

Aplicando o princípio do poluidor pagador, os custos sociais externos do processo de


produção devem ser internalizados pelo empreendedor da atividade, procurando corrigir o

prejuízo que a sociedade tem com o seu processo produtivo 5.

Temos nesse caso uma responsabilidade civil objetiva6 do degradador ambiental que,
independentemente de agir com dolo ou culpa, deve ser responsabilizado pelo dano que a sua

atividade causou ao meio ambiente, comprovado o dano e o nexo causal entre ele e a atividade
do agente.

Veremos a responsabilidade civil ambiental de forma bem mais aprofundada em capítulo

próprio, mas, desde já, saiba que o degradador ambiental pode responder nas esferas civil,
administrativa e penal, de forma simultânea e independente, pelo menos dano ao meio

ambiente. Portanto, no direito ambiental temos a tríplice responsabilização do degradador,


que materializa o princípio da proteção integral do meio ambiente7.

Especificamente quanto ao princípio do poluidor-pagador, podemos analisá-lo de duas

formas compatíveis e complementares:

 Reparação – o poluidor deve assumir as consequências do dano ambiental que causou.


Nesse aspecto o princípio do poluidor pagador também é chamado de princípio da
reparação ou de princípio da responsabilidade;
 Prevenção – o poluidor deve seguir as políticas públicas e considerar os custos sociais
da degradação ambiental. Trata-se de um incentivo dissuasivo para quem pretende atuar
de forma lesiva ao meio ambiente8.

4
Vide questões 1 e 10 desse material.
5
Vide questão 6 desse material.
6
Vide questões 5, 8 e 10 desse material.
7
Vide questão 4 desse material.
8
Vide questões 9 e 10 desse material.
15
Quem paga pode poluir? Claro que não! Essa é uma interpretação completamente
equivocada do princípio do poluidor pagador. Não é sua intenção estabelecer a “compra do

direito de poluir”. É lógico que diante de um direito fundamental tão importante, ligado ao
direito à vida e à dignidade humana, não é compatível com o nosso ordenamento jurídico que

se polua mediante pagamento. E como vimos, o princípio do poluidor pagador não se limita à
compensação do dano já causado, aliás, muito mais importante é a sua função de prevenção.

1.5 Princípio do Usuário Pagador

Por esse princípio, é definido um valor econômico aos recursos naturais para racionalizar

o seu uso, evitando o seu desperdício. Portanto, o usuário dos recursos naturais deve pagar por
eles, mesmo que a sua atividade seja lícita9. É uma forma de evolução e de complementar o

princípio do poluidor pagador.

O princípio do usuário pagador não é uma sanção. Essa compensação financeira deve
ser revertida em favor da coletividade, titular do meio ambiente, independentemente da

ocorrência de efetivo dano ambiental e de qualquer ilicitude no comportamento do usuário.

1.6 Princípio da Obrigatoriedade de Intervenção Estatal

Também conhecido como princípio da atuação obrigatória do Estado e como princípio


da natureza pública da proteção ambiental, está previsto no art. 255 da CF/88 que, em seu
caput, estabelece que é um dever do Poder Público (e da coletividade) defender e preservar o
meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações.

9
Vide questão 8 e 9 desse material.
16
A atuação obrigatória do Estado na proteção do meio ambiente decorre da natureza

indisponível desse direito, indispensável à vida e à dignidade da pessoa humana.

Para realizar essas intervenções, o Estado pode se valer de políticas públicas no âmbito
da fiscalização das atividades econômicas poluidoras; da aplicação de multas rigorosas e sanções

administrativas; e de incentivos fiscais para empresas ambientalmente responsáveis. Com esses


exemplos podemos enxergar como o Estado tem mecanismos efetivos para incentivar a

preservação do meio ambiente.

Para terminar, preste atenção: o dever do Estado de preservar o meio ambiente


ecologicamente equilibrado não atribuído apenas ao Poder Executivo. Por exemplo, cabe ao

Poder Legislativo elaborar leis que visem esse objetivo. Portanto, o dever de intervenção para a
preservação do meio ambiente cabe a todos os Poderes da República, em todas as suas esferas

de atuação.

1.7 Princípio da Participação Comunitária

Também chamado de princípio da participação popular e de princípio democrático,

estabelece, de acordo com o caput do art. 255 da CF, que o cidadão tem o direito (e o dever)
de participar das decisões sobre o equilíbrio do meio ambiente.

Com isso, a sociedade passou a dispor de alguns mecanismos de participação democrática

direta, destacando-se: iniciativa popular de lei, participação em audiência pública, participação


de representantes da sociedade civil em órgãos colegiados responsáveis pela formulação de
políticas públicas e possibilidade de propor ação popular.

1.8 Princípio da Informação

O princípio da participação comunitária pressupõe o direito de informação, pois só o

cidadão informado pode atuar de forma eficaz.

Exemplo da aplicação do princípio da informação está disposto no art. 255, IV da CF/88,


que exige a publicidade do estudo prévio de impacto ambiental. Ademais, você verá ao longo

17
do curso que todas as normas infraconstitucionais em matéria ambiental privilegiam o princípio

da informação.

Art. 5º, XXXIII, da CF: todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da
lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado.

Os dados referentes ao meio ambiente devem ser amplamente divulgados à sociedade

civil, salvo matérias que envolvam segredo industrial ou do Estado. Nesse ponto, vale ressaltar
que, apesar de o artigo acima citado dispor que é obrigação dos órgãos públicos prestar as

informações à sociedade, as entidades privadas também estão sujeitas à incidência do princípio


da informação ambiental10, devendo, muitas vezes, elaborar relatórios periódicos.

Claramente as informações relativas ao meio ambiente são de interesse coletivo ou geral,

pois trata-se de um interesse difuso. Portanto, em regra, qualquer pessoa pode ter acesso às
informações que tratam do meio ambiente sem precisar comprovar interesse específico.

Essas informações devem ser prestadas, por meios hábeis a atingir a coletividade, de

forma periódica, e não apenas quando ocorrer um dano ambiental, para que seja possível a
adoção de medidas preventivas contra eventuais irregularidades.

Visto isso, podemos elencar os seguintes requisitos da informação ambiental: que seja

verdade, ampla, tempestiva e acessível.

1.9 Princípio da Educação Ambiental

A educação ambiental é um instrumento para esclarecer e envolver a sociedade com a

proteção do meio ambiente, possibilitando, assim como o princípio da informação, a


participação ativa do cidadão na democracia.

10
Vide questão 4 desse material.
18
Está expressamente disposto no art. 225, §1º, VI da CF/88, que determina ao Poder Público

o dever de promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização


pública para a preservação do meio ambiente.

É um princípio com tanta relevância que foi criada a Política Nacional de Educação

Ambiental pela Lei 9.795/99, que define a educação ambiental como um conjunto de “processos
por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,

habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de


uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.

1.10 Princípio da Função Socioambiental da Propriedade

De acordo com o art. 5º, XXII e XXIII, da CF/88, fica garantido o direito à propriedade a
quem exercer a sua função social. Com isso, o legislador constituinte fez com que a propriedade

perdesse o seu caráter absoluto e passasse a ser uma forma de promover o progresso da
sociedade, atribuindo-a um caráter de dever coletivo11.

Sendo o meio ambiente ecologicamente equilibrado um direito difuso, que tem como

titular a coletividade, evidentemente que a função social da propriedade está condicionada à


sua tutela.

Prova disso é que o Código Civil determina em seu art. 1.228, §1º, que o direito de

propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais,
de modo que sejam preservados a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o
patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.

1.11 Princípio da Cooperação Entre os Povos

A cooperação entre os povos para o progresso da humanidade está prevista como um

dos princípios da República Federativa do Brasil nas relações internacionais pelo art. 4º, IX da

11
Vide questão 4 desse material.
19
CF/88. Como os danos ambientais podem tomar grandes proporções, atingindo mais de um

país, esse princípio ganha relevância no direito ambiental.

O princípio da cooperação consiste na necessidade de uma troca mútua de


conhecimentos ambientais entre os países, fazendo um intercâmbio de tecnologias para manter

o equilíbrio ambiental.

1.12 Princípio da ubiquidade

Muitos autores o citam como princípio do direito ambiental tendo em vista que o meio
ambiente é onipresente e, por isso, a sua agressão em qualquer localidade seria capaz de gerar
reflexos em todo o planeta12.

1.13 Princípio do Limite

Também conhecido como princípio do controle do poluidor pelo Poder Público, consiste

no exercício do Poder de Polícia ambiental do Estado para intervir de forma necessária no


âmbito particular para fiscalizar, orientar e conscientizar quanto aos limites da exploração do

meio ambiente, à sua importância para a coletividade e à sua utilização consciente para que
seja permanentemente disponível13.

1.14 Princípio da Vedação ao Retrocesso Ecológico (Efeito


Cliquet Ambiental)

Como visto, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito

fundamental e, por isso, não é possível recuar quanto às suas garantias já consolidadas no
ordenamento jurídico.

Por exemplo, existindo uma lei que determina garantias de proteção ao meio ambiente,

ela não pode ser revogada sem que outra a substitua com garantias maiores ou similares.

12
Vide questão 9 desse material.
13
Vide questão 9 desse material.
20
É pelo princípio da vedação ao retrocesso que podemos afirmar que o Poder Público está

obrigado, em todas as suas esferas de poder, a atuar no sentido progressivo na proteção dos
direitos fundamentais, jamais recuando, suprimindo ou restringindo, a efetividade das suas

garantias.

1.15 Princípio do Protetor-Recebedor

Esse princípio funciona como um instrumento econômico de proteção ambiental que visa

incentivar as iniciativas para proteção do meio ambiente por meio de recompensas econômicas.
Essas recompensas devem ser custeadas pela pessoa física, jurídica ou pela coletividade que se

beneficia da iniciativa do protetor.

21
QUADRO SINÓTICO

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL


Desenvolvimento sustentável é aquele que harmoniza o crescimento
PRINCÍPIO DO
econômico, a preservação ambiental e a equidade social. É o princípio que
DESENVOLVIMENTO
garante as necessidades das gerações presentes e futuras – princípio da
SUSTENTÁVEL
solidariedade intergeracional.
PRINCÍPIO DO MEIO O equilíbrio ecológico é o estado do meio ambiente que garante as condições
AMBIENTE adequadas para a qualidade de vida. Trata-se de um direito fundamental do
ECOLOGICAMENTE homem, pois está ligado intrinsecamente ao direito à vida.
EQUILIBRADO
Apoiado na certeza científica, o princípio da prevenção visa evitar que o dano
PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO
ambiental seja produzido por meio de medidas preventivas.
Segundo o princípio da precaução, o dano ambiental deve ser evitado, mesmo
que o seu risco não seja comprovado cientificamente. É a garantia contra os
riscos potenciais, pois a ausência de comprovação científica no atual estágio
de conhecimento não pode servir de argumento para negligenciar a proteção
PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO do meio ambiente.
Pelo princípio da precaução, a incerteza científica deve ser interpretada a favor
do meio ambiente. Por isso, inverte-se o ônus da prova, cabe ao interessado
demonstrar que a atividade que pretende exercer não é capaz de gerar dano
ambiental.
O poluidor deve suportar as despesas de prevenção, reparação e repressão
PRINCÍPIO DO POLUIDOR dos danos ambientais. Além de indenizar o dano causado, o poluidor deve
PAGADOR internalizar as externalidades negativas das suas atividades poluidoras, para
evitar a socialização dos prejuízos.
PRINCÍPIO DO USUÁRIO O usuário de recursos naturais deve pagar pela sua utilização, promovendo,
PAGADOR assim, a racionalização do seu uso. Não é uma punição.
O Poder Público tem o dever imposto constitucionalmente e defender e
PRINCÍPIO DA
preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e
OBRIGATORIEDADE DA
futuras gerações. Para tanto, deve se valer, por exemplo, de políticas públicas
INTERVENÇÃO ESTATAL
e do seu poder de polícia ambiental.
PRINCÍPIO DA A Constituição Federal também estabelece a coletividade como detentora do
PARTICIPAÇÃO dever de preservar o equilíbrio ecológico ambiental para as presentes e futuras
COMUNITÁRIA gerações. Portanto, é direito do cidadão participar das práticas que visam a

22
proteção ambiental, como as decisões públicas e a fiscalização das suas
execuções.
As informações sobre o meio ambiente devem ser disponibilizadas para todos
os interessados. O direito à informação sobre matéria ambiental é um
PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO
desdobramento lógico do princípio da participação comunitária, pois o cidadão
só poderá participar se tiver informação.
PRINCÍPIO DA EDUCAÇÃO Incumbe ao Poder Público promover em todos os níveis de ensino a educação
AMBIENTAL ambiental e a conscientização pública para preservar o meio ambiente.
O direito de propriedade está condicionado à observância da sua função social.
PRINCÍPIO DA FUNÇÃO
Sendo o meio ambiente ecologicamente equilibrado um direito difuso, que
SOCIOAMBIENTAL DA
tem como titular a coletividade, evidentemente que a função social da
PROPRIEDADE
propriedade está condicionada à sua tutela.
A poluição ambiental não fica limitada apenas a um território, portanto, as
PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO
nações precisam cooperar entre si para proteger o equilíbrio do meio
ENTRE OS POVOS
ambiente.
Cabe ao Poder Público impor limites, controlar a produção, a comercialização
PRINCÍPIO DO LIMITE e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que gerem risco à vida, à
qualidade de vida e ao meio ambiente.
Como o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito
PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO fundamental, quando conquistadas garantias de proteção ambiental, a
RETROCESSO ECOLÓGICO sociedade não pode retroagir para níveis de proteção inferiores sem que as
circunstâncias fáticas sejam substancialmente alteradas.
PRINCÍPIO DO PROTETOR Segundo o princípio do protetor recebedor, as condutas de proteção ambiental
RECEBEDOR relevantes devem ser compensadas com benefícios econômicos.

23
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça Substituto) No Direito Ambiental, o dever de

recompor o meio ambiente lesado ou de indenizar pelos danos causados refere-se ao princípio
A) do poluidor-pagador.

B) do desenvolvimento sustentável.
C) do equilíbrio.
D) do limite.

E) da prevenção.

Comentário:

O princípio do poluidor-pagador orienta que o poluidor deve internalizar as despesas de

prevenção, reparação e repressão dos seus danos ambientais, gerando o dever de


recompor o meio ambiente lesado ou de indenizar pelos danos causados, como afirma a
questão. Lembre-se: o princípio do desenvolvimento sustentável busca harmonizar o

crescimento econômico, a preservação ambiental e a equidade social; o princípio do


equilíbrio visa defender o meio ambiente ecologicamente equilibrado, diretamente ligado

à defesa da vida e da dignidade da pessoa humana; o princípio do limite incumbe ao Poder


Público o controle da produção, da comercialização e do emprego de técnicas, métodos e

substâncias que gerem risco à vida, à qualidade de vida e ao meio ambiente; e o princípio
da prevenção busca aplicar medidas preventivas para evitar qualquer dano ambiental que

seja cientificamente comprovado.

24
Questão 2

(MPE-SC - 2019 - MPE-SC - Promotor de Justiça) O princípio ambiental da prevenção não se

confunde com o princípio ambiental da precaução. O princípio da prevenção se aplica quando


existem elementos seguros para afirmar que uma determinada atividade é perigosa, sendo que
têm por objetivo impedir a ocorrência de danos ao meio ambiente, por meio da imposição de

medidas acautelatórias antes da implantação de empreendimentos e atividades consideradas


efetiva ou potencialmente poluidoras.

( ) CERTO
( ) ERRADO

Comentário:

De fato, os princípios da prevenção e da precaução não se confundem. Ambos procuram

evitar danos ambientais, entretanto, enquanto o princípio da prevenção se aplica quando


há certeza científica de que a atividade é ambientalmente danosa, o princípio da precaução

se aplica quando, apesar de não existir certeza científica, há riscos potenciais da atividade.

Questão 3

(CESPE - 2019 - TJ-SC - Juiz Substituto) Uma associação de moradores de um bairro de


determinado município da Federação propôs uma ação civil pública (ACP) em desfavor da
concessionária de energia local, para que seja determinada a redução do campo eletromagnético
em linhas de transmissão de energia elétrica localizadas nas proximidades das residências dos

moradores do bairro, alegando eventuais efeitos nocivos à saúde humana em decorrência desse
campo eletromagnético. Apesar de estudos desenvolvidos pela Organização Mundial da Saúde
afirmarem a inexistência de evidências científicas convincentes que confirmem a relação entre a

exposição humana a valores de campos eletromagnéticos acima dos limites estabelecidos e


efeitos adversos à saúde, a entidade defende que há incertezas científicas sobre a possibilidade

25
de esse serviço desequilibrar o meio ambiente ou atingir a saúde humana, o que exige análise

dos riscos.
Nessa situação hipotética, o pedido da associação feito na referida ACP se pauta no princípio

ambiental
A) da precaução.

B) da proporcionalidade.
C) da equidade.

D) do poluidor-pagador.
E) do desenvolvimento sustentável.

Comentário:

A questão narra uma situação em que não há estudos conclusivos sobre uma determinada

atividade produzir ou não danos ambientais. Pelo princípio da precaução, a falta de certeza
científica milita em favor do meio ambiente, portanto, isso não deve ser um pretexto para

a negligenciar a adoção de medidas para evitar a degradação ambiental.

Questão 4

(VUNESP - 2019 - TJ-AC - Juiz de Direito Substituto) Sobre os princípios constitucionais

ambientais, é correto afirmar que


A) o princípio da responsabilização integral envolve o dever do poluidor, pessoa física ou jurídica,

de arcar com as consequências de sua conduta lesiva contra o meio ambiente, tanto na seara
civil e administrativa, quanto na penal.
B) as entidades privadas não estão sujeitas ao princípio da informação no que se relaciona à

matéria ambiental.
C) o princípio da função socioambiental da propriedade possui caráter de dever individual,

estando o direito à propriedade garantido se sua função social for cumprida.


D) o princípio da prevenção implica a adoção de medidas previamente à ocorrência de um dano

concreto, embora ausente a certeza científica, com o fim de evitar a verificação desses danos.
26
Comentário:

De acordo com o art. 225, §3º da Constituição Federal, as pessoas físicas e jurídicas estão

sujeitas à sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar


os danos causados, quando as suas condutas e atividades forem nocivas ao meio ambiente.

No direito ambiental, portanto, há uma TRIPLA RESPONSABILIZAÇÃO do poluidor. A


alternativa “B” está incorreta porque as entidades privadas também devem observar o
princípio da informação ambiental, pelo qual todo cidadão tem o direito às informações

que julgar necessárias sobre o meio ambiente, pois trata-se de um direito difuso, que
interessa à toda coletividade. A alternativa “C” está incorreta porque o princípio da função
socioambiental da propriedade possui caráter de dever coletivo. A alternativa “D” está
incorreta porque troca o conceito do princípio da prevenção com o do princípio da

precaução.

Questão 5

(VUNESP - 2018 - TJ-SP - Juiz Substituto) A responsabilidade civil do poluidor-pagador

A) é de natureza subjetiva.
B) é de natureza objetiva.

C) nunca exige demonstração do dano causado.


D) nunca exige demonstração do nexo causal.

Comentário:

De acordo com o princípio do poluidor-pagador, no direito ambiental, o agente poluidor,

independentemente da existência de culpa, é obrigado a reparar ou indenizar os danos


causados por sua atividade. Portanto, a responsabilidade civil ambiental é objetiva. Mas,
atenção: a responsabilidade penal e administrativa em matéria ambiental é subjetiva!

27
Questão 6

(VUNESP - 2018 - TJ-MT - Juiz Substituto) A internalização do custo ambiental, transformando

a externalidade negativa, ou custo social, num custo privado, visa impedir a socialização do
prejuízo e a privatização dos lucros. Este é o objetivo do princípio
A) do poluidor-pagador.

B) da função social da propriedade.


C) da prevenção.

D) da precaução.
E) da cooperação.

Comentário:

Observe como o princípio do poluidor-pagador é um tema recorrente em provas. O

enunciado da questão definiu o seu objetivo, agora vamos ver os objetivos dos princípios
das outras alternativas: princípio da função social da propriedade – objetiva condicionar o

exercício do direito de propriedade ao cumprimento da sua função social ambiental;


princípio da prevenção – objetiva evitar danos ambientais por meio de medidas preventivas

apoiadas em certezas científicas; princípio da precaução – objetiva evitar potenciais danos


ambientais, que o conhecimento científico atual não comprova, mas também não descarta;

princípio da cooperação – objetiva unir as nações para preservar o meio ambiente, já que
os danos ambientais podem gerar efeitos negativos em todo o planeta.

Questão 7

(IBFC - 2018 - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) A respeito do princípio da precaução
em relação ao Direito Ambiental, é correto afirmar que:

A) o ônus da prova sobre a ocorrência do dano ambiental e sua autoria é do autor da ação civil
pública.
B) os riscos são certos e o perigo de dano é concreto.

28
C) o Poder Público deve comprovar que os riscos existem, e que a pessoa que explora a atividade

foi a causadora do dano.


D) ele se confunde com o princípio da prevenção.

E) compete a quem supostamente promoveu o dano ambiental comprovar que não o causou
ou que a substância lançada ao meio ambiente não lhe é potencialmente lesiva.

Comentário:

A adoção do princípio da precaução pressupõe a inversão do ônus da prova. Portanto,

cabe ao réu, suposto poluidor, comprovar que não lesou o meio ambiente, conforme
disposto na alternativa “E”. Ademais, como visto, o princípio da precaução se aplica quando
não temos certeza científica quanto à potencialidade poluidora de determinada atividade,
que é o que o diferencia do princípio da prevenção.

Questão 8

(TRF - 3ª REGIÃO - 2018 - TRF - 3ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) A respeito dos princípios

que sustentam o direito ambiental brasileiro é CORRETO afirmar que:


A) O princípio do desenvolvimento sustentável envolve a substituição de norma de expansão

quantitativa por uma melhoria qualitativa como caminho para o progresso, trazendo a
integração entre a proteção ambiental e o desenvolvimento econômico para o benefício das
presentes e futuras gerações.

B) O princípio usuário-pagador pressupõe uma prática ilícita daquele que utiliza o recurso
ambiental, sendo possível a exigência de pagamento quando houver o cometimento de faltas

ou infrações.
C) O princípio da precaução contido no artigo 225 da Constituição Federal impõe ao Poder

Público a obrigação de controlar atividades de risco quando importarem ameaças de danos


irreversíveis e conhecidos pela ciência, sendo liberada a atividade se não houver prova do
prejuízo.

29
D) A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente obriga a reparação dos danos causados pelo

poluidor à fauna, à flora e ao meio ambiente, devendo ser demonstrada a culpa em sua conduta,
exceto em caso de prejuízo causado pela atividade nuclear.

Comentário:

O desenvolvimento sustentável consiste na harmonização do crescimento econômico com


a preservação do meio ambiente e com a equidade social. O princípio em questão,
relacionado com o princípio da solidariedade intergeracional, visa um progresso de

qualidade para preservar a capacidade de satisfação das necessidades das presentes e


futuras gerações. A alternativa “B” está incorreta porque o princípio do usuário-pagador é
aplicado em práticas lícitas; a alternativa “C” está incorreta porque o princípio da precaução
é aplicado no controle de atividades potencialmente danosas, em que não haja certeza

científica. Ademais, por esse princípio inverte-se o ônus da prova. Portanto, não é possível
liberar a atividade se não houver prova do prejuízo, sendo a dúvida interpretada pro natura;

a alternativa “D” está incorreta porque a obrigação de indenizar ou reparar os danos


ambientais é de responsabilidade objetiva, independentemente da demonstração de culpa
do poluidor. A responsabilidade por dano nuclear citada na alternativa também é objetiva,

entretanto, é fundamentada na teoria do risco integral.

Questão 9

(MPE-MS - 2018 - MPE-MS - Promotor de Justiça Substituto) Considere as assertivas a seguir:


I. Uma das facetas do princípio do poluidor-pagador é evitar as externalidades negativas.

II. Para a maioria da doutrina que faz a diferenciação entre estes dois princípios, o princípio da

precaução é aplicável aos casos em que os impactos ambientais são conhecidos e devem ser
evitados ou mitigados, enquanto o princípio da prevenção é aplicável aos casos em que não há
certeza científica sobre os riscos e os impactos ambientais da atividade a ser exercida.

30
III. As Resoluções do CONAMA que tratam de padrões máximos de emissão de poluentes têm

por fundamento o princípio do limite ou controle.

IV. O princípio da Ubiquidade é aquele segundo o qual as presentes gerações não podem utilizar
os recursos ambientais de maneira irracional, de modo a privar as gerações futuras de um

ambiente ecologicamente equilibrado.

V. A cobrança pelo uso da água prevista na Lei de Recursos Hídricos e a compensação ambiental
prevista na Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação são exemplos de aplicação
prática do princípio do usuário-pagador.

Em atenção aos princípios do Direito Ambiental, assinale a alternativa correta:

A) Todas as assertivas estão corretas.

B) Somente as assertivas I, III e V estão corretas.


C) Somente as assertivas I, II, IV e V estão corretas.

D) Somente as assertivas II, III, IV e V estão corretas.


E) Somente as assertivas II, III e IV estão corretas.

Comentário:

A assertiva II está incorreta porque inverte o conceito dos princípios da precaução e da

prevenção; a assertiva IV está incorreta porque o princípio da ubiquidade estabelece que


o bem ambiental é onipresente e, por isso, qualquer forma e lugar de agressão ao meio

ambiente atinge todo o planeta com reflexos negativos. Entretanto, o princípio conceituado
na questão é da solidariedade intergeracional, relacionado com o princípio do
desenvolvimento sustentável.

31
Questão 10

(PGR - 2017 - PGR - Procurador da República) SOBRE O PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR

É CORRETO AFIRMAR:
A) O princípio do poluidor pagador resume a responsabilidade pela degradação ambiental em
termos repressivos: o dano ambiental consumado deve ser plenamente ressarcido.

B) O princípio do poluidor pagador não elide a responsabilidade pela prevenção ao dano


ambiental.

C) O princípio do poluidor pagador resume a responsabilidade pela degradação ambiental em


termos subjetivos: deve reparar o dano ambiental quem tem culpa.

D) O princípio do poluidor pagador refere-se à recuperação ambiental mais próxima das


condições originais e elide o ressarcimento.

Comentário:

Pelo princípio do poluidor-pagador, o sujeito que praticar atividade que cause ou possa causar dano
ambiental deve ser responsável pelas despesas de prevenção, reparação e repressão desse dano. Portanto,

a responsabilidade pela prevenção ao dano ambiental está incluída na esfera de atuação do princípio do
poluidor-pagador. A alternativa “A” está incorreta porque o princípio em análise não se resume a medidas
repressivas, ao contrário, deve-se privilegiar as medidas preventivas; a alternativa “C” está incorreta porque

a reponsabilidade do poluidor-pagador é objetiva, deve reparar o dano causado por sua atividade
independentemente de culpa; e a alternativa “D” está incorreta porque a recuperação ambiental próxima

das condições originais não exclui o dever de ressarcimento, inclusive as despesas de prevenção,

reparação e repressão podem ser acumuladas.

32
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 - CERTO

Questão 3 - A

Questão 4 - A

Questão 5 - B

Questão 6 - A

Questão 7 - E

Questão 8 - A

Questão 9 - B

Questão 10 - B

33
QUESTÃO DESAFIO

Diferencie os princípios do poluidor pagador e do usuário pagador


à luz da legislação pertinente.

Responda em até 5 linhas

34
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

O princípio do poluidor-pagador é instrumento econômico que exige do poluidor que

arque com os danos causados pela sua atividade, com base no art. 225, § 3º, da CF. Já o
princípio do usuário-pagador, previsto no art. 4º, VII, da Lei nº 6.938, prevê a cobrança
pelo uso dos recursos naturais.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Poluidor-pagador

O princípio do poluidor- pagador busca a reparação ambiental. Isso porque toda atividade

poluidora gera um dano ao meio ambiente, de modo que aquele que polui estará obrigado a
pagar pelos danos suportados pela sociedade. Explica AMADO, Frederico. Resumo Direito

Ambiental esquematizado. 3ª Ed: São Paulo. Método. 2015, p. 39: “(...) diga-se que a poluição
amparada em regular licença ou autorização ambiental não desonerará o poluidor de reparar

os danos ambientais, pois não se trata de uma penalidade, e sim de um ressarcimento ao meio
ambiente, em aplicação ao princípio do poluidor- pagador.

 Usuário-pagador

Uma vez que os recursos naturais são limitados, o legislador passou a prever, inclusive como
instrumento da política nacional do meio ambiente, a possibilidade de se realizar cobrança pelo

uso dos recursos. Isso porque, além de limitar o seu uso, garante que os indivíduos consumirão
os bens naturais de maneira mais consciente, visto que estarão pagando pelo seu uso. Nesse
sentido, preceitua AMADO, Frederico. Resumo Direito Ambiental esquematizado. 3ª Ed: São

Paulo. Método. 2015, p. 41: “Por ele, as pessoas que utilizam recursos naturais devem pagar
pela sua utilização, mesmo que não haja poluição, a exemplo do uso racional da água (...) há

uma progressiva tendência mundial na cobrança pelo uso dos recursos naturais, notadamente
os mais escassos, a fim de racionalizar a sua utilização e funcionar como medida educativa para
inibir o desperdício (...)”

 Art. 225, § 3º, CF e art. 4º, VII, PNMA


35
Art. 225, § 3º, CF. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente

sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,


independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Art 4º - A Política Nacional do

Meio Ambiente visará: VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar


e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos

ambientais com fins econômicos. Jurisprudência Correlata: ADI 3378. (...)Também considerou
que o dispositivo hostilizado densifica o princípio do usuário-pagador, que impõe ao

empreendedor a obrigação de responder pelas medidas de prevenção de impactos ambientais


que possam decorrer da implementação da atividade econômica (...)

36
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Princípios do Direito Ambiental:

 CF/88: art. 4º, IX, 5º, XXII, XIII, XXXIII, 170 e 225;
 PNMA: art. 2º e 40;
 Código Civil: art. 1.228, §1º.

37
JURISPRUDÊNCIA

Princípios do Direito Ambiental

 STF. ADI 3.540-MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 03/02/06

O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado caráter eminentemente constitucional, encontra


suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de
obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação
desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição
inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos
direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que se traduz bem de uso comum da generalidade
de pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações.

 STJ. REsp 1.120-AC, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 10/11/2009 (Informativo 415, STJ)

O dano ambiental refere-se àquele que oferece grande risco a toda humanidade e à coletividade, que é a titular
do bem ambiental que constitui direito difuso. Destacou a Min. Relatora que a reparação civil do dano ambiental
assumiu grande amplitude no Brasil, com profundas implicações, na espécie, de responsabilidade do degradador
do meio ambiente, inclusive imputando-lhe responsabilidade objetiva, fundada no simples risco ou no simples fato
da atividade danosa, independentemente da culpa do agente causador do dano. O direito ao pedido de reparação
de danos ambientais, dentro da logicidade hermenêutica, também está protegido pelo manto da imprescritibilidade,
por se tratar de direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos povos, independentemente de
estar expresso ou não em texto legal. No conflito entre estabelecer um prazo prescricional em favor do causador
do dano ambiental, a fim de lhe atribuir segurança jurídica e estabilidade com natureza eminentemente privada, e
tutelar de forma mais benéfica bem jurídico coletivo, indisponível, fundamental, que antecede todos os demais
direitos – pois sem ele não há vida, nem saúde, nem trabalho, nem lazer – o último prevalece, por óbvio, concluindo
pela imprescritibilidade do direito à reparação do dano ambiental. Mesmo que o pedido seja genérico, havendo
elementos suficientes nos autos, pode o magistrado determinar, desde já, o montante da reparação.

 STF. ADI 3510. Rel. Min. Ayres Britto. DJe 28/05/2010.

Quando se cogita da preservação da vida numa escala mais ampla, ou seja, no plano coletivo, não apenas nacional,
mas inclusive planetário, vem à baila o chamado "princípio da precaução", que hoje norteia as condutas de todos
aqueles que atuam no campo da proteção do meio ambiente e da saúde pública. Ainda que não expressamente
formulado, encontra abrigo nos arts. 196 e 225 de nossa Constituição. O princípio da precaução foi explicitado, de
forma pioneira, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio

38
de Janeiro, em 1992, da qual resultou a Agenda 21, que, em seu item 15, estabeleceu que, diante de uma ameaça
de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o
adiamento de medidas viáveis para prevenir a degradação ambiental. (...) Dentre os principais elementos que
integram tal princípio figuram: i) a precaução diante de incertezas científicas; ii) a exploração de alternativas a ações
potencialmente prejudiciais, inclusive a da não-ação; iii) a transferência do ônus da prova aos seus proponentes e
não às vítimas ou possíveis vítimas; e iv) o emprego de processos democráticos de decisão e acompanhamento
dessas ações, com destaque para o direito subjetivo ao consentimento informado.

 STJ. REsp 1049822/RS, Rel. Min. Francisco Falcão, 1ª Turma, DJe 18/05/2009.

Aquele que cria ou assume o risco de danos ambientais tem o dever de reparar os danos causados e, em tal
contexto, transfere-se a ele todo o encargo de provar que sua conduta não foi lesiva. Cabível, na hipótese, a
inversão o ônus da prova que, em verdade, se dá em prol da sociedade, que detém o direito de ver reparada ou
compensada a eventual prática lesiva ao meio ambiente.

 STJ. R.E. 2003/0195051-9. Rel. orig. Min. José Delgado, rel. p/ acórdão Min. Teori Zavascki, 18/08/2005.
Publ. 17/10/2005, p. 179.

O sistema jurídico de proteção ao meio ambiente, disciplinado em normas constitucionais (CRFB/1988, art. 225,
§3º) e infraconstitucionais (Lei 6.938/81, arts. 2º e 4º), está fundado, entre outros, nos princípios da prevenção, do
poluidor-pagador e da reparação integral. Deles decorrem, para os destinatários (Estado e comunidade), deveres
e obrigações de variada natureza, comportando prestações pessoais, positivas e negativas (fazer e não fazer), bem
como de pagar quantia (indenização dos danos insuscetíveis de recomposição in natura), prestações essas que
não se excluem, mas, pelo contrário, se cumulam, se for o caso.

 STJ. REsp 217.858, Rel. Min. Franciulli Netto, DJ 19/12/2003

É de elementar inferência, dessarte, que a obrigação de conservação é automaticamente transferida do alienante


ao adquirente, independentemente deste último ter responsabilidade pelo dano ambiental. Mais a mais, a doutrina
tem entendido, à luz do dispositivo referido, que a manutenção da área destinada à reserva legal é obrigação
propter rem, ou seja, decorre da relação existente entre o devedor e a coisa, de modo que o ônus de conservação
do imóvel é automaticamente transferido do alienante ao adquirente, independentemente deste último ter
responsabilidade pelo dano ambiental. Eventual prejuízo deverá ser discutido, por meio de ação própria entre o
adquirente e o alienante que efetivamente provocou o dano.

 STJ. Resp 302.906/SP. Min. Herman Benjamin. Dje 01/12/2010

O exercício do ius variandi, para flexibilizar restrições urbanístico-ambientais contratuais, haverá de respeitar o ato
jurídico perfeito e o licenciamento do empreendimento, pressuposto geral que, no Direito Urbanístico, como no
Direito Ambiental, é decorrência da crescente escassez de espaços verdades e dilapidação da qualidade de vida

39
nas cidades. Por isso mesmo, submete-se ao princípio da não-regressão (ou, por outra terminologia, princípio da
proibição do retrocesso), garantia de que os avanços urbanísticos-ambientais conquistados no passado não serão
diluídos, destruídos ou negados pela geração atual ou pelas seguintes.

 Súmula 654, STF

Recurso extraordinário. Repercussão geral reconhecida. Direito Constitucional e Ambiental. Acórdão do tribunal de
origem que, além de impor normativa alienígena, desprezou norma técnica mundialmente aceita. Conteúdo jurídico
do princípio da precaução. Ausência, por ora, de fundamentos fáticos ou jurídicos a obrigar as concessionárias de
energia elétrica a reduzir o campo eletromagnético das linhas de transmissão de energia elétrica abaixo do patamar
legal. Presunção de constitucionalidade não elidida. Recurso provido. Ações civis públicas julgadas improcedentes.
1. O assunto corresponde ao Tema nº 479 da Gestão por Temas da Repercussão Geral do portal do STF na internet
e trata, à luz dos arts. 5º, caput e inciso II, e 225, da Constituição Federal, da possibilidade, ou não, de se impor a
concessionária de serviço público de distribuição de energia elétrica, por observância ao princípio da precaução, a
obrigação de reduzir o campo eletromagnético de suas linhas de transmissão, de acordo com padrões internacionais
de segurança, em face de eventuais efeitos nocivos à saúde da população. 2. O princípio da precaução é um critério
de gestão de risco a ser aplicado sempre que existirem incertezas científicas sobre a possibilidade de um produto,
evento ou serviço desequilibrar o meio ambiente ou atingir a saúde dos cidadãos, o que exige que o estado analise
os riscos, avalie os custos das medidas de prevenção e, ao final, execute as ações necessárias, as quais serão
decorrentes de decisões universais, não discriminatórias, motivadas, coerentes e proporcionais. 3. Não há vedação
para o controle jurisdicional das políticas públicas sobre a aplicação do princípio da precaução, desde que a decisão
judicial não se afaste da análise formal dos limites desses parâmetros e que privilegie a opção democrática das
escolhas discricionárias feitas pelo legislador e pela Administração Pública. 4. Por ora, não existem fundamentos
fáticos ou jurídicos a obrigar as concessionárias de energia elétrica a reduzir o campo eletromagnético das linhas
de transmissão de energia elétrica abaixo do patamar legal fixado. 5. Por força da repercussão geral, é fixada a
seguinte tese: no atual estágio do conhecimento científico, que indica ser incerta a existência de efeitos nocivos da
exposição ocupacional e da população em geral a campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos gerados por
sistemas de energia elétrica, não existem impedimentos, por ora, a que sejam adotados os parâmetros propostos
pela Organização Mundial de Saúde, conforme estabelece a Lei nº 11.934/2009. 6. Recurso extraordinário provido
para o fim de julgar improcedentes ambas as ações civis públicas, sem a fixação de verbas de sucumbência.

 STJ. Resp 1.164.630-MG. Rel. Min. Castro Meira, julgado em 18/11/2010

DANO AMBIENTAL. MORTANDADE. PÁSSAROS. O MP estadual, recorrido, ajuizou, na origem, ação civil pública em
desfavor da empresa agrícola, recorrente, sob a alegação de que essa seria responsável por dano ambiental por
uso de agrotóxico ilegal, o que teria causado grande mortandade de pássaros. A recorrente, em contestação, entre
outras alegações, sustentou a descaracterização do mencionado dano, arguindo que pouco mais de trezentas aves
teriam morrido, sem que tenha havido efetivo comprometimento do meio ambiente. A sentença julgou procedente

40
a ação, condenando a recorrente a pagar a importância de R$ 150 mil em indenização a ser revertida para o meio
ambiente local, em recomposição do dano ambiental causado com a morte de 1.300 pássaros da fauna silvestre, o
que se manteve em grau de apelação. Nesta instância especial, ao apreciar a controvérsia, consignou o Min. Relator
que a existência de um dano ambiental não só encerra a necessidade de reconstituição do meio ambiente no que
for possível, com a necessária punição do poluidor (princípio do poluidor-pagador), mas também traz em seu bojo
a necessidade de evitar que o fato venha a repetir-se, o que justifica medidas coercitivas e punições que terão,
inclusive, natureza educativa. Observou não haver como fracionar o meio ambiente e, dessa forma, deve ser
responsabilizado o agente pela morte dos pássaros em decorrência de sua ação poluidora. Quanto ao valor
estabelecido na condenação, entendeu que o pleito da recorrente para que se tome como base de cálculo o valor
unitário de cada pássaro não pode prosperar, já que a mensuração do dano ecológico não se exaure na simples
recomposição numérica dos animais mortos, devendo-se também considerar os nefastos efeitos decorrentes do
desequilíbrio ecológico em face da ação praticada pela recorrente. Diante desses fundamentos, entre outros, a
Turma negou provimento ao recurso. Precedentes citados: REsp 1.120.117-AC, DJe 19/11/2009, e REsp 1.114.893-
MG.

 STF. ADI 3540 MC/DF. Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 01/09/2005

EMENTA: MEIO AMBIENTE – DIREITO À PRESERVAÇÃO DE SUA INTEGRIDADE (CF, ART. 225) – PRERROGATIVA
QUALIFICADA POR SEU CARÁTER DE METAINDIVIDUALIDADE – DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO (OU DE
NOVÍSSIMA DIMENSÃO) QUE CONSAGRA O POSTULADO DA SOLIDARIEDADE – NECESSIDADE DE IMPEDIR QUE
A TRANSGRESSÃO A ESSE DIREITO FAÇA IRROMPER, NO SEIO DA COLETIVIDADE, CONFLITOS
INTERGENERACIONAIS – ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS (CF, ART. 225, § 1º, III) –
ALTERAÇÃO E SUPRESSÃO DO REGIME JURÍDICO A ELES PERTINENTE – MEDIDAS SUJEITAS AO PRINCÍPIO
CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE LEI – SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE
– POSSIBILIDADE DE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, CUMPRIDAS AS EXIGÊNCIAS LEGAIS, AUTORIZAR, LICENCIAR
OU PERMITIR OBRAS E/OU ATIVIDADES NOS ESPAÇOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS, DESDE QUE RESPEITADA,
QUANTO A ESTES, A INTEGRIDADE DOS ATRIBUTOS JUSTIFICADORES DO REGIME DE PROTEÇÃO ESPECIAL –
RELAÇÕES ENTRE ECONOMIA (CF, ART. 3º, II, C/C O ART. 170, VI) E ECOLOGIA (CF, ART. 225) – COLISÃO DE
DIREITOS FUNDAMENTAIS – CRITÉRIOS DE SUPERAÇÃO DESSE ESTADO DE TENSÃO ENTRE VALORES
CONSTITUCIONAIS RELEVANTES – OS DIREITOS BÁSICOS DA PESSOA HUMANA E AS SUCESSIVAS GERAÇÕES
(FASES OU DIMENSÕES) DE DIREITOS (RTJ 164/158, 160-161) – A QUESTÃO DA PRECEDÊNCIA DO DIREITO À
PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE: UMA LIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL EXPLÍCITA À ATIVIDADE ECONÔMICA
(CF, ART. 170, VI) – DECISÃO NÃO REFERENDADA – CONSEQUENTE INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE MEDIDA
CAUTELAR. A PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE: EXPRESSÃO CONSTITUCIONAL DE UM
DIREITO FUNDAMENTAL QUE ASSISTE À GENERALIDADE DAS PESSOAS. - Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado. Trata-se de um típico direito de terceira geração (ou de novíssima dimensão), que
assiste a todo o gênero humano (RTJ 158/205-206). Incumbe, ao Estado e à própria coletividade, a especial

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obrigação de defender e preservar, em benefício das presentes e futuras gerações, esse direito de titularidade
coletiva e de caráter transindividual (RTJ 164/158-161). O adimplemento desse encargo, que é irrenunciável,
representa a garantia de que não se instaurarão, no seio da coletividade, os graves conflitos intergeneracionais
marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade, que a todos se impõe, na proteção desse bem essencial de
uso comum das pessoas em geral. Doutrina. A ATIVIDADE ECONÔMICA NÃO PODE SER EXERCIDA EM
DESARMONIA COM OS PRINCÍPIOS DESTINADOS A TORNAR EFETIVA A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE. - A
incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de
motivações de índole meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica,
considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que
privilegia a “defesa do meio ambiente” (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de
meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente
laboral. Doutrina. Os instrumentos jurídicos de caráter legal e de natureza constitucional objetivam viabilizar a tutela
efetiva do meio ambiente, para que não se alterem as propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que
provocaria inaceitável comprometimento da saúde, segurança, cultura, trabalho e bem-estar da população, além
de causar graves danos ecológicos ao patrimônio ambiental, considerado este em seu aspecto físico ou natural. A
QUESTÃO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL (CF, ART. 3º, II) E A NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DA
INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE (CF, ART. 225): O PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO
FATOR DE OBTENÇÃO DO JUSTO EQUILÍBRIO ENTRE AS EXIGÊNCIAS DA ECONOMIA E AS DA ECOLOGIA. - O
princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente constitucional, encontra
suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de
obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação
desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição
inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos
direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade
das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações. O ART. 4º DO CÓDIGO FLORESTAL E A
MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.166-67/2001: UM AVANÇO EXPRESSIVO NA TUTELA DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE. - A Medida Provisória nº 2.166-67, de 24/08/2001, na parte em que introduziu significativas
alterações no art. 4o do Código Florestal, longe de comprometer os valores constitucionais consagrados no art.
225 da Lei Fundamental, estabeleceu, ao contrário, mecanismos que permitem um real controle, pelo Estado, das
atividades desenvolvidas no âmbito das áreas de preservação permanente, em ordem a impedir ações predatórias
e lesivas ao patrimônio ambiental, cuja situação de maior vulnerabilidade reclama proteção mais intensa, agora
propiciada, de modo adequado e compatível com o texto constitucional, pelo diploma normativo em questão. -
Somente a alteração e a supressão do regime jurídico pertinente aos espaços territoriais especialmente protegidos
qualificam-se, por efeito da cláusula inscrita no art. 225, § 1º, III, da Constituição, como matérias sujeitas ao princípio
da reserva legal. - É lícito ao Poder Público – qualquer que seja a dimensão institucional em que se posicione na
estrutura federativa (União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios) – autorizar, licenciar ou permitir a

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execução de obras e/ou a realização de serviços no âmbito dos espaços territoriais especialmente protegidos, desde
que, além de observadas as restrições, limitações e exigências abstratamente estabelecidas em lei, não resulte
comprometida a integridade dos atributos que justificaram, quanto a tais territórios, a instituição de regime jurídico
de proteção especial (CF, art. 225, § 1º, III).

 STF. ADPF 101/DF. Rel. Min. Cármen Lúcia, 11/03/2009.

EMENTA: ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL: ADEQUAÇÃO. OBSERVÂNCIA DO


PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE. ARTS. 170, 196 E 225 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
CONSTITUCIONALIDADE DE ATOS NORMATIVOS PROIBITIVOS DA IMPORTAÇÃO DE PNEUS USADOS. RECICLAGEM
DE PNEUS USADOS: AUSÊNCIA DE ELIMINAÇÃO TOTAL DE SEUS EFEITOS NOCIVOS À SAÚDE E AO MEIO AMBIENTE
EQUILIBRADO. AFRONTA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE E DO MEIO AMBIENTE
ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO. COISA JULGADA COM CONTEÚDO EXECUTADO OU EXAURIDO:
IMPOSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO. DECISÕES JUDICIAIS COM CONTEÚDO INDETERMINADO NO TEMPO:
PROIBIÇÃO DE NOVOS EFEITOS A PARTIR DO JULGAMENTO. ARGUIÇÃO JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE.
1. Adequação da arguição pela correta indicação de preceitos fundamentais atingidos, a saber, o direito à saúde,
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (arts. 196 e 225 da Constituição Brasileira) e a busca de
desenvolvimento econômico sustentável: princípios constitucionais da livre iniciativa e da liberdade de comércio
interpretados e aplicados em harmonia com o do desenvolvimento social saudável. Multiplicidade de ações judiciais,
nos diversos graus de jurisdição, nas quais se têm interpretações e decisões divergentes sobre a matéria: situação
de insegurança jurídica acrescida da ausência de outro meio processual hábil para solucionar a polêmica pendente:
observância do princípio da subsidiariedade. Cabimento da presente ação. 2. Arguição de descumprimento dos
preceitos fundamentais constitucionalmente estabelecidos: decisões judiciais nacionais permitindo a importação de
pneus usados de Países que não compõem o Mercosul: objeto de contencioso na Organização Mundial do
Comércio – OMC, a partir de 20.6.2005, pela Solicitação de Consulta da União Europeia ao Brasil. 3. Crescente
aumento da frota de veículos no mundo a acarretar também aumento de pneus novos e, consequentemente,
necessidade de sua substituição em decorrência do seu desgaste. Necessidade de destinação ecologicamente
correta dos pneus usados para submissão dos procedimentos às normas constitucionais e legais vigentes. Ausência
de eliminação total dos efeitos nocivos da destinação dos pneus usados, com malefícios ao meio ambiente:
demonstração pelos dados. 4. Princípios constitucionais (art. 225) a) do desenvolvimento sustentável e b) da
equidade e responsabilidade intergeracional. Meio ambiente ecologicamente equilibrado: preservação para a
geração atual e para as gerações futuras. Desenvolvimento sustentável: crescimento econômico com garantia
paralela e superiormente respeitada da saúde da população, cujos direitos devem ser observados em face das
necessidades atuais e daquelas previsíveis e a serem prevenidas para garantia e respeito às gerações futuras.
Atendimento ao princípio da precaução, acolhido constitucionalmente, harmonizado com os demais princípios da
ordem social e econômica. 5. Direito à saúde: o depósito de pneus ao ar livre, inexorável com a falta de utilização
dos pneus inservíveis, fomentado pela importação é fator de disseminação de doenças tropicais. Legitimidade e

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razoabilidade da atuação estatal preventiva, prudente e precavida, na adoção de políticas públicas que evitem
causas do aumento de doenças graves ou contagiosas. Direito à saúde: bem não patrimonial, cuja tutela se impõe
de forma inibitória, preventiva, impedindo-se atos de importação de pneus usados, idêntico procedimento adotado
pelos Estados desenvolvidos, que deles se livram. (...) 8. Demonstração de que: a) os elementos que compõem o
pneus, dando-lhe durabilidade, é responsável pela demora na sua decomposição quando descartado em aterros;
b) a dificuldade de seu armazenamento impele a sua queima, o que libera substâncias tóxicas e cancerígenas no
ar; c) quando compactados inteiros, os pneus tendem a voltar à sua forma original e retornam à superfície,
ocupando espaços que são escassos e de grande valia, em especial nas grandes cidades; d) pneus inservíveis e
descartados a céu aberto são criadouros de insetos e outros transmissores de doenças; e) o alto índice calorífico
dos pneus, interessante para as indústrias cimenteiras, quando queimados a céu aberto se tornam focos de incêndio
difíceis de extinguir, podendo durar dias, meses e até anos; f) o Brasil produz pneus usados em quantitativo
suficiente para abastecer as fábricas de remoldagem de pneus, do que decorre não faltar matéria prima a impedir
a atividade econômica. Ponderação dos princípios constitucionais: demonstração de que a importação de pneus
usados ou remoldados afronta os preceitos constitucionais de saúde e do meio ambiente ecologicamente
equilibrado (arts. 170, inc. I e VI e seu parágrafo único, 196 e 225 da Constituição do Brasil).

 STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 31/8/2016 (Info 837)

É inconstitucional a expressão “em horário diverso do autorizado” contida no art. 254 do ECA. "Art. 254. Transmitir,
através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de sua classificação: Pena
- multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá
determinar a suspensão da programação da emissora por até dois dias." O Estado não pode determinar que os
programas somente possam ser exibidos em determinados horários. Isso seria uma imposição, o que é vedado
pelo texto constitucional por configurar censura. O Poder Público pode apenas recomendar os horários adequados.
A classificação dos programas é indicativa (e não obrigatória).

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MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. Salvador – Juspodivm, 2018.

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª ed. São Paulo – Saraiva, 2019.

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