@_laryssamgomes l 27/09/2023
mental do acusado e para verificar se, à época
Manicômio judiciário e direitos humanos
Manicômio é o nome dado ao estabelecimento
ou hospital psiquiátrico especializado em tratar
de pessoas em sofrimento psíquico. As pessoas
com problemas mentais ficam isoladas nos
manicômios, afastadas do convívio social com o
intuito de serem intensamente tratadas de seus
transtornos psiquiátricos.
Com a reforma psiquiátrica, o termo manicômio
passou a ser substituído por “hospital de
custódia e tratamento psiquiátrico” ou
simplesmente "hospital psiquiátrico". Ainda
assim, os atuais hospitais psiquiátricos
continuam sendo chamados de manicômios, até
mesmo por profissionais especialistas no
assunto, devido à permanência das práticas
tradicionalmente associadas aos antigos
manicômios.
Imputabilidade e inimputabilidade
Imputabilidade penal é o conjunto de condições
pessoais que dão ao agente capacidade para
lhe ser juridicamente imputada a prática de um
fato punível. A inimputabilidade é a ausência de
culpa. O sujeito não tem a capacidade de
compreender o caráter ilícito da ação devido à
sua incapacidade mental.
Código Penal, art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era,
ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento.
Incidentes de sanidade mental
O incidente de insanidade mental é instaurado
sempre que houver dúvida sobre a saúde
dos atos, ele era ou não inimputável. Consiste,
portanto, no procedimento para verificação,
através de perícia médica, da saúde mental do
réu, em um processo penal.
♥ Critério intelectual;
♥ Controle volitivo.
No caso do indivíduo, por doença ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardo
ser inteiramente incapaz de entender o caráter
ilícito do fato, ela será isenta de pena, em vez
disso, este indivíduo será encaminhado a um
tratamento médico através de uma internação
em um hospital de custódia (também chamados
de manicômios judiciários) ou de tratamento
ambulatorial.
⚠ Inicialmente, os objetivos dos manicômios
judiciais são custodiar e tratar. Entretanto, os
manicômios judiciários são mantidos no Brasil
com todas as características de uma instituição
híbrida, integrando e misturando funções de
uma instituição hospitalar e prisional (unindo o
“pior” dos piores).
Duração da medida de segurança
De acordo com o artigo 97 do Código Penal, a
medida de segurança não tem prazo máximo,
devendo de tempos em tempos, ser realizado
exame pericial para aferir se a periculosidade do
sujeito permanece.
Embora o § 1º do referido artigo determine que
a internação continuará enquanto perdurar a
periculosidade do agente, o STF e o STJ
entendem que também há limite para a medida
de segurança. Para o STF, o limite da medida de
segurança é o mesmo da pena, ou seja, 40 anos.
Para o STJ, o tempo de duração da medida de
segurança não deve ultrapassar o limite
máximo da pena abstratamente cominada ao
delito praticado (sumula 527). Ou seja, se a pena
para o crime “x” é até 5 anos de prisão, a medida
de segurança não deve ultrapassar esse período
de 5 anos.
✎ A Lei 10.216/2001 que dispõe sobre a proteção
e os direitos das pessoas portadoras de
transtornos mentais e redireciona o modelo
assistencial em saúde mental também deveria
englobar os “loucos criminosos”.
Política antimanicomial
A política antimanicomial do poder judiciário
(resolução 487/2023), prevê medidas voltadas
para o atendimento de pessoas com transtorno
mentais que cometeram crimes. Entre outros
pontos, essa resolução estabelece regras para o
atendimento especializado dos “loucos
criminosos” e em local adequado. A norma veda
a internação em instituição de caráter asilar,
como os hospitais de custódia e tratamento
psiquiátrico, e prevê medidas para evitar que o
tratamento do acusado ou preso seja
descontinuado.
Vídeo: A casa dos mortos (youtube).
Drogas, proibicionismo e tratamentos violentos
Drogas: São substâncias que, ao serem
introduzidas em um organismo vivo, modificam
processos bioquímicos, resultando em
mudanças fisiológicas ou comportamentais.
Vício: Tendência específica para algo indecoroso
ou nocivo ou qualquer ato ou conduta por essa
tendência motivada. Também pode ser
entendido como um hábito repetitivo que
degenera ou causa algum prejuízo ao viciado e
aos que com ele convivem.
Dependência química: É uma doença do cérebro.
Ela acontece porque determinadas substâncias
acionam o “sistema de recompensa” do cérebro
(sistema límbico) que vai, com o tempo, se
interessando somente pela sensação de prazer
provocada pela droga e vai ignorando os sinais
do córtex pré-frontal, responsável por controle
das ações. Por este motivo, com o tempo, se
começa a perder o controle dos impulsos, da
capacidade de planejamento e das decisões
(vulnerabilidade).
Comunidades terapêuticas
Segundo o site do Governo Federal,
comunidades terapêuticas são “entidades
privadas, sem fins lucrativos, que realizam
gratuitamente o acolhimento de pessoas com
transtornos decorrentes do uso, abuso ou
dependência de substâncias psicoativas, em
regime residencial transitório e de caráter
exclusivamente voluntário (espontâneo).”. Em
algumas instituições há financiamento pelo
Governo Federal por meio de recursos
destinados a políticas sobre drogas.
✎ Devido a quantidade de clinicas não
vinculadas aos órgãos públicos, o cumprimento
da dei 10.216/2001 fica prejudicada.
Lei antidrogas
A lei 11.343/1006 foi atualizada pela lei 13.840/2019
para prever a internação involuntária (contra a
vontade do dependente químico), o acolhimento
de usuários de drogas em comunidades
terapêuticas e o uso de bens apreendidos do
tráfico, como veículos e aviões. A chamada
“nova Lei de Drogas” aborda a questão da
ressocialização do usuário, abandonando em
parte a visão punitivista e deslocando a questão
para o âmbito da saúde pública. A norma
determina que a União se responsabilizará por
formular e coordenar a Política Nacional
Antidrogas, integrando ações nos planos
federal, estaduais e municipais.
Tratamentos violentos
Muitos usuários de drogas são enviados a
comunidades terapêuticas por determinação
judicial com o objetivo de suposto tratamento de
dependência química. A Lei da reforma
psiquiátrica define três modalidades de
internação: involuntárias (sem o consentimento
do usuário, a pedido de terceiro e realizada por
um médico), compulsórias (determinadas pela
Justiça) e voluntárias (com o consentimento do
usuário). Entretanto, muitas comunidades
terapêuticas exercem a privação forçada de
liberdade até mesmo em casos de internação
voluntária.
Além disso, muitas dessas comunidades têm o
isolamento ou a restrição do convívio social
como eixo central do suposto tratamento
oferecido. Esse modelo viola o amplo conjunto de
diretrizes que tratam dos direitos da pessoa
com transtorno mental, incluindo os advindos do
uso de álcool e outras drogas. A Lei nº 10.216/2001,
que instituiu a reforma psiquiátrica no Brasil, é
clara ao apontar que o atendimento a essa
população deve priorizar a ressocialização do
dependente na família, trabalho e comunidade.
É comum encontrar nessas comunidades
terapêuticas práticas de castigo e punição aos
internos, por exemplo:
• Execução obrigatória de tarefas repetitivas;
• Aumento da laborterapia;
• Perda de refeições (supressão da alimentação);
• Violência física;
• Isolamento por longos períodos;
• Privação de sono;
• Uso irregular de contenção mecânica ou
química.
Todos os ícones acima podem ser
caracterizados como práticas de tortura e
tratamento cruel ou degradante, de acordo
com a legislação brasileira.
Sobre religião, há imposição de uma rígida rotina
de orações e obrigatoriedade de participação
nas atividades religiosas, bem como a punição
em casos de negativa. Inclusive, internos de
outras religiões podem ser coagidos a
frequentar atividades da designação religiosa
da comunidade terapêutica. É comum nessas
comunidades, além da intolerância religiosa, o
desrespeito à diversidade de orientação sexual
e de identidade de gênero.
Com relação à internação de adolescentes, as
comunidades terapêuticas não atendem às
mínimas obrigações estabelecidas no art. 94 do
ECA, por exemplo:
• Não observam garantias e direitos de
adolescentes;
• Não oferecem atendimento personalizado;
• Não diligenciam pelo reestabelecimento e
preservação de vínculos familiares;
• Nem sempre oferecem instalações físicas
adequadas;
• Não proporcionam escolarização e
profissionalização;
• Não oferecem atividades culturais, esportivas,
de lazer, entre outros;
• Realizam internação de adolescentes por
motivos não relacionados ao uso de álcool ou
outras drogas.
✎ As drogas são liberadas no Brasil a depender
da classe social, da cor da pele e de onde se vive.
Se for um preto, pobre e morador de periferia,
é tráfico. Se for em bairro nobre, branco e rica,
é consumidor.