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03/01/2022 18:44 Brasil: a luta da Defensoria Pública em meio à crise | World Prison Brief
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Patrick Cacicedo é Defensor Público em São Paulo, Doutor pela Universidade de São
Paulo e pesquisador em matéria prisional. Nesse texto, Patrick reflete sobre o trabalho
da Defensoria Pública durante a crise sanitária e a situação alarmante das prisões
brasileiras.
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À emergência humanitária das prisões somou-se a emergência sanitária da Covid-19, cuja medida
básica de contenção é o distanciamento social, incompatível com as prisões brasileiras, quase
todas compostas por celas coletivas. O ambiente fechado das prisões, por si só propício para a
proliferação do vírus, se agrava ainda mais em razão das condições específicas da vida carcerária
brasileira: superlotação, falta de equipes mínimas e programas de saúde, racionamento de água e
fornecimento precário de produtos de higiene.
Reações do Judiciário
Sem medidas concretas dos Poderes Executivo e Legislativo, o Poder Judiciário concentrou as
demandas individuais e coletivas de tutela de direitos dos presos, sobretudo levadas pela
Defensoria Pública. Tais demandas foram fundadas na única medida significativa levada a efeito
para o enfrentamento da pandemia no sistema prisional: a Recomendação n. 62, de março de
2020, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Através desse documento, o CNJ recomendou aos
juízes a adoção de medidas preventivas à propagação da infecção pelo novo coronavírus no
âmbito dos sistemas de justiça penal e juvenil, como, por exemplo, a reavaliação das prisões
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A medida, que se mostrou alvissareira logo após sua edição, revelou prontamente sua fragilidade:
a recomendação não tem efeito vinculante e não gerou maiores impactos na vida prisional. Salvo
exceções pontuais, os juízes ignoraram a recomendação e, inclusive, a população prisional
brasileira cresceu durante a pandemia. Até mesmo a Suprema Corte brasileira negou em massa
pedidos de liberdade fundados na recomendação do próprio CNJ.
A maioria desses milhares de pedidos foram veiculados por habeas corpus impetrados por
defensores públicos. A via coletiva do habeas corpus também foi utilizada por mais de uma vez:
idosos, mulheres grávidas, pessoas do grupo de risco para a Covid. A Suprema Corte, contudo,
negou a possibilidade de tais pessoas cumprirem pena em prisão domiciliar. Foram excepcionais
os casos acatados pelos tribunais brasileiros.
A luta da Defensoria Pública não se restringiu aos pedidos de liberação de pessoas do grupo de
risco. Em São Paulo, estado que concentra quase um terço da população prisional brasileira, a
Defensoria Pública ajuizou ações para implantação de equipes mínimas de saúde nos presídios e
também para instalação de telefones públicos e organização de visitas virtuais. Além disso, instou
o Presidente da República para que concedesse indulto humanitário a pessoas do grupo de risco.
De todas essas medidas, apenas as visitas virtuais foram realmente implementadas.
Outra atividade desenvolvida pela Defensoria Pública de São Paulo foram inspeções de
monitoramento em diversos presídios, muitas vezes a partir de denúncias de familiares de presos.
Vinte e uma prisões foram inspecionadas e o levantamento de dados das quatorze primeiras
revelou que:
a) a prisão com menor taxa de superlotação tinha 122% de ocupação e a com maior apresentava
230%;
b) 86% das unidades racionava o fornecimento de água, sendo que uma delas não fornecia água
havia cinco dias;
c) o fornecimento de produtos de higiene era precário e em 31% das prisões os presos relataram
que nunca receberam tais produtos;
d) todas as unidades inspecionadas fornecem apenas três refeições diárias, de baixo valor
nutricional, e há 13 horas de diferença entre a última refeição de um dia e primeira do outro;
e) a insalubridade é generalizada, há pouca iluminação e ventilação nas celas;
f) nenhuma prisão possui equipe de saúde completa e quatro delas não há qualquer atendimento
por médico.
Mesmo diante desses casos, a postura do poder público brasileiro segue negacionista. A inércia
das autoridades nacionais levou a Defensoria Pública de São Paulo a requerer audiência temática
junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos com o objetivo de expor a realidade das
prisões brasileiras na pandemia e instar o Estado brasileiro a prestar esclarecimentos.
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03/01/2022 18:44 Brasil: a luta da Defensoria Pública em meio à crise | World Prison Brief
desigualdades se amplificaram e a violação de direitos se tornou ainda mais aguda. Mais do que
urgente, a mudança é vital. A Defensoria Pública segue na luta.
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