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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO VALE DO IPOJUCA – UNIFAVIP

Curso de Direito

CARANDIRU – O QUE DEU ERRADO? UM ESTUDO SOBRE O SISTEMA


PRISIONAL E O QUE OCASIONOU O MAIOR MASSACRE CARCERÁRIO DO
BRASIL

JOÃO PAULO DOS SANTOS PAIVA

Caruaru
2022.2

1
JOÃO PAULO DOS SANTOS PAIVA

CARANDIRU – O QUE DEU ERRADO? UM ESTUDO SOBRE O SISTEMA


PRISIONAL E O QUE OCASIONOU O MAIOR MASSACRE CARCERÁRIO DO
BRASIL

Artigo Científico Jurídico apresentado ao


Centro Universitário do Vale do Ipojuca
UNIFAVIP, como requisito para conclusão do
Curso de Direito.

Orientadora: Professora Newdylande de


Oliveira Ribeiro de Souza

Caruaru
2022.2

2
JOÃO PAULO DOS SANTOS PAIVA

CARANDIRU – O QUE DEU ERRADO? UM ESTUDO SOBRE O SISTEMA


PRISIONAL E O QUE OCASIONOU O MAIOR MASSACRE CARCERÁRIO DO
BRASIL

Artigo Científico Jurídico apresentado ao


Centro Universitário do Vale do Ipojuca
UNIFAVIP, como requisito para conclusão do
Curso de Direito.

Orientadora: Professora Newdylande de


Oliveira Ribeiro de Souza

Banca Examinadora

__________________________________________________________
Professora Newdylande de Oliveira Ribeiro de Souza

__________________________________________________________
1ª Examinadora: Professora Tatiana Costa

_________________________________________________________
2ª Examinadora: Valéria Soares

Caruaru
2022.2
3
A Deus que é meu guia, a minha família
que sempre me apoiou em todos os
momentos e sem dúvida é a base para o
meu equilíbrio e força nessa vida e a todas
as 111 vítimas do Massacre do Carandiru.

4
AGRADECIMENTOS

A Deus, por tudo o que Ele tem feito por mim, por me proteger e guiar em
todos os meus passos, me dando força e fé para superar os obstáculos durante essa
árdua trajetória.
A minha família, na forma de minha mãe Ana, meu pai João, minha tia Josefa
e meu irmão Sávio, por todo carinho e incentivo em cada momento, sem eles
imagino que não seria nada do que sou.
A minha companheira, Lívia Marcelle, por me apoiar em minha trajetória
acadêmica, me incentivar e ser meu alicerce em meio as adversidades.
Aos meus nobres e valorosos amigos, em especial Pedro Antonino, pelos
valores que sempre me encheram de inspiração e motivação para enfrentar as
dificuldades cotidianas.
A minha orientadora, Professora Newdylande Oliveira, por sua admirável
compreensão, ensinamentos e pelo fundamental apoio a mim concedido, que me
servirão por toda vida.
E a tantos outros, colegas e amigos, que nos mais diversos lapsos
temporais até então vividos, me inspiraram à concretização deste trabalho. O meu
muito obrigado.

5
CARANDIRU – O QUE DEU ERRADO? UM ESTUDO SOBRE O SISTEMA
PRISIONAL E O QUE OCASIONOU O MAIOR MASSACRE CARCERÁRIO DO
BRASIL
João Paulo dos Santos Paiva1

RESUMO

O Brasil possui uma conjuntura normativa que serve de exemplo para diversos países,
todavia, a realidade carcerária brasileira é de constantes violações de direitos e
garantias. Portanto, o objetivo deste artigo foi analisar o Massacre do Carandiru,
ocorrido em 02/10/1992 e que foi um marco para o cárcere brasileiro. Foram utilizados
diversos meios de pesquisa, como livros, artigos científicos, notícias, relatórios, entre
outras fontes que abordavam a Casa de Detenção de São Paulo, sendo, portanto,
uma pesquisa essencialmente bibliográfica. Entretanto, para que fosse possível
entender os principais fatores que levaram ao massacre, se fez necessário discorrer
a respeito da evolução do sistema prisional e dos direitos e garantias do detento,
desde os seus primeiros registros históricos até a data do massacre, e quais os
impactos da chacina para o próprio sistema prisional e para a sociedade como um
todo. O artigo abordou o contexto histórico e político do Carandiru, bem como as
questões relacionadas ao sistema carcerário. Ademais, foi feita uma comparação
entre o Carandiru e o atual sistema prisional, elencando sugestões de medidas
efetivas para uma mudança na realidade penitenciária, priorizando a ressocialização
do preso e em atenção a dignidade da pessoa humana.

Palavras-chave: Carandiru. Sistema Prisional. Ressocialização. Lei de Execução


Penal. Direitos Humanos.

SUMÁRIO: Introdução; 1. Origem da Pena, do Sistema Prisional e da


Ressocialização; 2. Aplicabilidade da Lei de Execução Penal; 3. O Carandiru; 4.
Conclusão; Referências.

1
Bacharelando em Direito pela UNIFAVIP Wyden; Membro da Comissão de Relações Acadêmicas da OAB
Subseção Pesqueira/PE; Membro da Comissão de Direito Penal da OAB Subsecção Pesqueira/PE.
1
INTRODUÇÃO

No dia 02 de outubro de 1992, no pavilhão 9 da Casa de Detenção de São


Paulo, se inicia uma briga, segundo os detentos por uma disputa de varal, que gera
uma rebelião em todo o pavilhão. Na época a Casa de Detenção, mais conhecida
como Carandiru, era considerada uma das maiores da América Latina, com
capacidade total para pouco mais de três mil presos, todavia, comportava em torno
de sete mil presos. Objetivando conter a rebelião, a Polícia Militar foi acionada e
encerrou-a depois de ceifar a vida de 111 detentos, a maior chacina dentro de um
presídio da história do Brasil e que 30 anos após o ocorrido, segue impune. Portanto,
a pesquisa foi norteada pelo seguinte problema: Quais os principais fatores que
levaram ao Massacre do Carandiru?
Partindo da hipótese que ao analisar o sistema carcerário brasileiro,
abordando perspectivas históricas, jurídicas e sociais, era possível assimilar o que
ocorreu no Carandiru e o que ocorre em inúmeras penitenciárias atuais, haja vista que
o sistema penitenciário atual continua sendo omisso em garantir assistência ao preso,
seja na esfera administrativa, jurídica ou social e impossibilitando a ressocialização.
Portanto, entender os elementos que geraram a transição de uma prisão modelo de
ressocialização mundial a um sinônimo de fracasso do sistema carcerário era de suma
importância para que o ocorrido de 1992 não se repita.
Deste modo, o objetivo geral da pesquisa foi investigar os principais fatores
que ocasionaram o massacre.
Para tanto, o primeiro objetivo específico foi abordar a ótica histórica do
sistema prisional internacional e brasileiro, bem como a ressocialização do apenado
ao longo dos anos, discorrendo a respeito das fases da pena e da ressocialização,
além da introdução e evolução no Brasil, desde as Ordenações Afonsinas até a Lei
de Execução Penal de 1984.
O segundo objetivo foi analisar os direitos fundamentais inerentes ao preso e
a aplicabilidade da Lei de Execução Penal dentro do sistema prisional, para que fosse
possível entender o impacto da falta de políticas públicas que visem ressocializar o
detento.

2
Por fim, o terceiro objetivo foi analisar o Carandiru, desde o início de suas
atividades em 1920, até o ocorrido de 1992, comparando com o sistema carcerário
atual. Objetivando identificar as consequências desse atentado no atual sistema
penitenciário brasileiro e buscar soluções para a crise carcerária no Brasil.
Para o desenvolvimento do artigo, foi usada uma abordagem qualitativa,
sendo uma metodologia de estudo de caso, por meio de pesquisa bibliográfica e
documental.

1. ORIGEM DA PENA, DO SISTEMA PENITENCIÁRIO E DA RESSOCIALIZAÇÃO

É impreciso afirmar quando houve o surgimento das sanções penais,


entretanto, os primeiros registros de normas penais remontam ao Código de Ur-
Nammu, criado por volta do século XXI a.C., trazendo o entendimento que as leis eram
divinas e o rei era descendente dos deuses, portanto, não havia uma necessidade de
punições severas, tendo em vista que a população respeitava as normas e entendia
que uma prestação pecuniária era suficiente para sanar o dano causado. Dando
assim, uma visão muito mais patrimonial a pena, sendo as únicas penas mais severas
o homicídio, roubo, estupro de mulher virgem dum gurus2 e adultério cometido por
mulher virgem dum gurus, punidos com a morte, e o sequestro, previsto com
encarceramento, onde o indivíduo, além de preso, deveria pagar uma quantia de
quinze gin3 de prata.
No século XVIII a.C., mais precisamente entre 1792 e 1750 a.C., há a criação
do Código de Hamurabi, baseado na Lei de Talião4, onde se verifica que os crimes
eram penalizados com atos recíprocos ao praticado, por conta disso, surge a famosa
frase “olho por olho, dente por dente”. Todavia, apesar de penas severas, as punições
variavam de acordo com o status social do indivíduo, sendo os “awelum” a classe mais
alta, homens livres e portadores das punições mais brandas; logo em seguida haviam

2
O termo gurus se refere a homens que costumeiramente mantinham relações de dependência e prestavam
serviços das mais variadas espécies a corte imperial em troca de retribuições.
3
Unidade de medida usada durante a III Dinastia de Ur que era equivalente a 8.3 gramas.
4
Talião se origina do latim talionis ius, onde ius significa direito e talionis vem do grego talis, que significa aquilo
que tudo reflete.
3
os “mushkenum”, fidalgos com menor status social e por último os “wardum”, escravos
que podiam ter propriedades. À época, a codificação se propunha a implantar a justiça
na terra, destruir o mal, prevenir a opressão do fraco pelo forte, propiciar o bem-estar
social e iluminar o mundo. In verbis alguns exemplos da codificação:

196º - Se alguém arranca o olho a um outro, se lhe deverá arrancar o olho;


229º - Se um arquiteto constrói para alguém e não o faz solidamente e a casa
que ele construiu cai e fere de morte o proprietário, esse arquiteto deverá ser
morto;
230º - Se fere de morte o filho do proprietário, deverá ser morto o filho do
arquiteto.

O Código de Hamurabi foi um marco para o direito penal, alastrando-se por


todo o reino babilônico, sendo que a Lei de Talião, citada pela primeira vez em seu
código, serviu de inspiração e foi extensamente usada em diversas outras civilizações
na antiguidade e em outras épocas, aparecendo inclusive no antigo testamento
bíblico.
A Grécia Antiga é o berço do direito ocidental e isso inclui o direito penal,
iniciando-se na passagem do período homérico para o arcaico, pois, com a mudança
das Óikos5 para as Pólis6, há um grande aumento demográfico, influenciando na
desigualdade e nos conflitos entre a aristocracia e a população de tal modo que os
aristocratas nomeiam primeiramente Dracón e posteriormente Solón legisladores
atenienses, para pôr fim aos conflitos sociais. Dracón foi equiparado a um ditador,
favorecendo os eupátridas, haja vista que pertencia a classe, e aplicando penas
extremamente ríspidas aos infratores. Haja vista o fracasso na tentativa de resolução
dos conflitos por Dracón, seu código foi substituído pelas leis de Solón.
Já na Roma Antiga, é criada a Lei das XII Tábuas, primeira codificação escrita
romana e que traz expressões e conceitos como o dolo, delito, citação e furto. O direito
penal no Império Romano se dividia em duas vertentes, a dos delitos públicos, em que
o Estado, na figura do magistrado, era encarregado de repreender o indivíduo e os
delitos privados, que vigorava sob o sistema de vingança privada, onde cabia aos
familiares da vítima aplicar a punição, com o Estado apenas regulamentando a
aplicabilidade. Vale citar que antes do Cristianismo, o fundamento para a instituição
das penas era a vingança, mas após a instauração do Cristianismo na Legislação

5
Organizações políticas ligadas a família, muito semelhante a tribos, que detinham o poder local.
6
Cidades-estados
4
Romana, a pena passou a ter caráter de caridade e em defesa da segurança e
harmonia social. Como cita Santo Tomás de Aquino: “é louvável e salutar, para a
conservação do bem comum, pôr à morte aquele que se tornar perigoso para a
comunidade e causa a perdição para ela; pois, como diz o Apóstolo, um pouco de
fermento corrompe toda a massa”7
Na Idade Média há um caráter exibicionista e sádico na prática de sanções,
tendo em vista que a figura do rei era juiz, júri e executor, como cita bem Danielle
Magnabosco:

As sanções na Idade Média estavam submetidas ao arbítrio dos governantes,


que as impunham em função do status social a que pertencia o réu. A
amputação dos braços, a forca, a roda e guilhotina constituem o espetáculo
favorito das multidões deste período histórico. Penas em que se promovia o
espetáculo e a dor, como por exemplo a que o condenado era arrastado, seu
ventre aberto, as entranhas arrancadas às pressas para que tivesse tempo
de vê-las sendo lançadas ao fogo. Passaram a uma execução capital, a um
novo tipo de mecanismo punitivo.8

Ainda na Idade Média a prisão se torna um meio mais comum de punibilidade,


com a Igreja Católica criando o Tribunal de Inquisição, castigando hereges e quem
fosse contrário aos dogmas cristãos com o desterro e a prisão. Ademais, monges e
clérigos eram punidos por não cumprirem com suas obrigações, sendo coagidos a
ficarem em celas meditando em busca do perdão divino. Na Antiguidade o cárcere
tinha como único objetivo torturar os delinquentes ou mantê-los em custódia, seja até
a data de sua execução ou para que os escravos não fugissem.
Todavia, foi apenas entre 1550 e 1552, vindo da ideia dos monges da Idade
Média que surgiu a primeira penitenciária do mundo destinada a reclusão de
criminosos, a House of Correction of Londres9. Logo em seguida, em Roma, o
Hospício San Michel, foi a primeira instituição penal, destinada ao encarceramento de
“meninos incorrigíveis”10. Mas foi apenas em 1595 que a pena de privação de

7
AQUINO, Santo Tomás de. Summa Theológica 2ª Parte – Da Justiça Questão LXIV, Artigo II Tradução de
Alexandre Correia Ed. Instituto Sedes Sapientiae, 1956- p. 442
8
MAGNABOSCO, Danielle. SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO: Aspectos sociológicos. Jus Navigandi, 1998.
Disponível em: https://jus.com.br/artigos/1010/sistema-penitenciario-brasileiro-aspectos-sociologicos.
9
LASTE, Geórgia. Breve resgate histórico da pena. 2019. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/72978/breve-
resgate-historico-da-pena/2 Acesso em: 25/09/2022
10
EDUARDO, Vinícius. História do Sistema Prisional. 2012. Disponível em:
https://pordentrodasgrades.blogspot.com/2012/05/historia-do-sistema-prisional.html Acesso em: 25/09/2022
5
liberdade começou a ser aplicada, no Rasphuis de Amsterdã, que no passado era um
convento e passou a ser uma prisão.
Na Europa, a partir do século XVII, fomentada pela crescente da burguesia e
pelo Iluminismo, surgiram diversas escolas de direito, dentre elas a Escola Clássica e
a Escola do Direito Natural. Através de grandes pensadores como Montesquieu,
Voltaire, Locke, Rousseau, Hobbes, Kant, Spinoza e entre outros, foi se formando
cada vez mais um clamor pelo fim das barbáries no panorama penal da época. Cesar
Bonesana, Marquês de Beccaria, publica em 1764 a obra “Dos Delitos e das Penas”,
obra essa que virou um alicerce dos Direitos Humanos e teve diversos princípios
usados na “Declaração dos Direitos e dos Homens”.
A Revolução Francesa de 1789 é o estopim que a população europeia
precisava, sendo um marco do direito moderno. A Declaração dos Direitos e dos
Homens extinguiu as fases de vinganças do direito penal, sejam elas vingança divina,
privada ou pública e trouxe à tona pensamentos humanitários, bem como princípios
norteadores do direito penal até os dias de hoje, como o princípio da presunção de
inocência, da reserva legal e da dignidade da pessoa humana.
Após a Primeira Guerra Mundial, surgiu na Inglaterra o sistema de progressão
de regime, que ainda é usado pela estrutura penal contemporânea. A época o sistema
era dividido em três fases, inicialmente o recluso era mantido em isolamento celular
durante o dia e a noite, posteriormente ele era mantido trabalhando em comum, mas
em total silêncio e por último era concedido o livramento condicional. Na Irlanda
também surgiu um interessante sistema, que consistia em, além das três fases do
sistema inglês, uma quarta fase antes da liberdade condicional que o preso ficava em
um regime semelhante ao semiaberto dos dias atuais, onde ele podia trabalhar ao ar
livre e em estabelecimentos próprios.
No Brasil, vale frisar que não há registros de como as tribos indígenas
aplicavam sanções punitivas, portanto, apenas é possível abordar após a colonização.
O Brasil Colônia no início usou como legislação penal as Ordenações Afonsinas,
mesmas leis usadas no Reino de Portugal. Em 1512, Dom Manuel I decidiu por criar
as Ordenações Manuelinas, que constavam as mesmas previsões legais das
Ordenações Afonsinas com a adição de leis extravagantes. Em 1603, Rei Felipe III na
Espanha e II em Portugal revogou as Ordenações Manuelinas e vigorou o Código
Filipino, que previa penas muito mais severas em relação a legislação anterior. A

6
legislação brasileira seguia as fases vingativas da pena vista na Europa, com exceção
da fase da vingança privada, que vigorou durante a Antiguidade.
Um caso que tomou proporções imensas é do mártir Tiradentes, líder do
movimento separatista que visava a independência de Minas Gerais, também
chamada de Inconfidência Mineira, que foi morto e mutilado, tendo suas partes
expostas em várias partes do estado de Minas Gerais, in verbis um trecho da sentença
trazido por René Ariel Dotti:

Portanto condenam ao Réu Joaquim José da Silva Xavier por alcunha o


Tiradentes Alferes que foi da tropa paga da Capitania de Minas a que com
baraço e pregão seja conduzido pelas ruas publicas ao lugar da forca e nella
morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a
cabeça e levada a Villa Rica aonde em lugar mais publico dela será pregada,
em um poste alto até que o tempo a consuma, e o seu corpo será dividido em
quatro quartos, e pregados em postes pelo caminho de Minas no sitio da
Varginha e das Sebolas aonde o Réu teve as suas infames práticas e os mais
nos sitios (sic) de maiores povoações até que o tempo também os consuma;
declaram o Réu infame, e seus filhos e netos tendo-os, e os seus bens
applicam para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Villa Rica
será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique e não
sendo própria será avaliada e paga a seu dono pelos bens confiscados e no
mesmo chão se levantará um padrão pelo qual se conserve em memória a
infamia deste abominavel Réu.11

Durante o Império, o Brasil sofreu forte influência do Iluminismo na elaboração


de sua legislação penal, sendo sancionado em 1830 o primeiro Código Penal
Brasileiro. Esse Código estipulou a pena de privação de liberdade e a ressocialização
do apenado, substituindo as penas infames da época e extinguindo a pena de morte
do ordenamento brasileiro.
Foi ainda no período do Império que começaram as construções das primeiras
penitenciárias brasileiras, sendo a primeira a Casa de Correção da Corte da capital,
na época Rio de Janeiro, planejada em 1830 e inaugurada em 1850. Comportando
presos antes da inauguração, tinha por objetivo transformar criminosos em “cidadãos
probos e laboriosos”, entretanto, não possuía nem regulamento para disciplinar os
detentos, ficando à mercê das determinações do administrador. Segundo registros da
época, durante a construção, a prisão se assemelhava mais a um canteiro de obras
do que a um local de cumprimento de sentença. Sendo registrado alguns incidentes,
como o de 1845, onde ocorreu uma invasão e uma intensa troca de tiros dentro da

11
DOTTI, René Ariel. Casos criminais célebres. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 27.
7
prisão ainda em construção. Ao longo dos anos, a Casa de Correção foi transformada
no Complexo Penitenciário Frei Caneca, e por fim, demolida em 2010. A realidade do
cárcere no período imperial é de precariedade, com penitenciárias sem qualquer
infraestrutura para abarcar os detentos.
Já no período do Brasil República, foi promulgado um novo Código Penal em
1890, com penas mais leves e com caráter muito mais corretivo que o anterior. Foi
apenas em 1932, após um grande montante de leis extravagantes, que o governo
decidiu por realizar uma consolidação das leis penais.
No decurso do Estado Novo, apesar do autoritarismo, fechamento do
congresso e forte influência militar, inclusive com a volta da pena de morte, é
sancionado o Código Penal de 1940 que vigora até hoje, sofrendo mudanças ao longo
dos anos. Sendo outorgado um novo em 1969, que nunca chegou a ser sancionado.
Em 1984 é criada a Lei de Execução Penal, reformulando por completo a parte
geral do Código. René Ariel Dotti leciona que o projeto da lei foi desenvolvido com
base em cinco pilares, são eles: o repúdio à pena de morte, a manutenção da prisão,
as novas penas patrimoniais, a extinção das penas acessórias e a revisão das
medidas de segurança (1998, p. 93)12. Após a promulgação da CF/88, se fazia
necessário uma atualização no ordenamento penal, surgindo assim a lei 9.714/98, que
altera os requisitos das penas privativas de direito.
Ao longo dos anos, o direito penal e processual penal sofreu incontáveis
modificações, sendo influenciado pela época e sociedade em que era atribuído,
todavia, é visível a evolução normativista para com o detento, saindo de penas
exclusivamente corporais para normas que, teoricamente, visam garantir o bem-estar
social do apenado.

2. APLICABILIDADE DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL

Inicialmente, é de suma importância destacar que o direito tem como centro o


ser humano, pois, no fim tudo deve objetivar o bem-estar e proteção da humanidade,

12
DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998.
8
como alude Protagoras: “o homem é a medida de todas as coisas”. Deste modo, o
indivíduo, apenas pelo fato de ser humano, intrinsicamente já é detentor de dignidade.
A dignidade é muito mais que um direito, está ligada ao indivíduo pelo simples
fato de ser do gênero humano, sem distinção de classe social, etnia ou quaisquer
outras diferenças, e deve ser sempre princípio basilar de todo o ordenamento jurídico,
pois, como já foi visto no capítulo anterior, direitos são mutáveis de acordo com a
época e local, enquanto a dignidade deve ser imutável e inerente a qualquer pessoa
em qualquer lugar do mundo, “mesmo entre aquele que já perdeu a consciência da
própria dignidade, merece tê-la considerada e respeitada”13.
Para podermos falar da Lei de Execução Penal, primeiro precisamos abordar
os Tratados Internacionais de Direitos Humanos que devem, sempre que possível,
serem aplicados dentro do ordenamento penal brasileiro, sendo de extrema
importância para a humanização das penas. Discorreremos sobre as resoluções
editadas pelas Nações Unidas acerca da justiça criminal e da prevenção de crimes,
que durante anos servem como guia para diversos Estados, também chamadas de
Regras de Mandela, de Tóquio, de Bangkok e de Pequim.
As Regras de Mandela são diretrizes mínimas a serem estipuladas para a
tratamento do recluso, visando garantir um tratamento digno aos apenados em
situação de privação de liberdade, todavia, sem estipular um modelo padrão de
sistema prisional14. As Regras de Tóquio são um conjunto de recomendações acerca
da aplicabilidade de medidas alternativas e têm como objetivos fundamentais diminuir
a superlotação em presídios, colaborar para a ressocialização do apenado e prevenir
possíveis novos delitos, estimulando a aplicação de medidas não privativas de
liberdade15. Além do mais, estipula meios de supervisionar os indivíduos, visando
identificar descumprimentos que acarretariam a aplicação de uma pena privativa de
liberdade. As Regras de Bangkok versam sobre o tratamento de mulheres
encarceradas e medidas que possibilitem a aplicação de penas não privativas de

13
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais da Constituição Federal de
1988. 2001, p. 50.
14
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Regras de Mandela: regras mínimas das Nações Unidas para o tratamento
de presos. Brasília: CNJ, 2016. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2019/09/a9426e51735a4d0d8501f06a4ba8b4de.pdf Acesso em:
26/09/2022.
15
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Regras de Tóquio: regras mínimas padrão das Nações Unidas para a
elaboração de medidas não privativas de liberdade. Brasília: CNJ, 2016. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2019/09/6ab7922434499259ffca0729122b2d38-2.pdf Acesso em:
26/09/2022.
9
liberdade para as detentas. Tendo em vista que a mulher presa demanda
necessidades específicas em razão de suas particularidades16. As Regras de Pequim,
que originalmente seriam uma Carta de Direito aos Menores Infratores, foi promulgada
em 1985 sob a ótica de proteger o bem-estar do menor infrator e de sua família,
objetivando o desenvolvimento pessoal e educacional do menor e afastando-o da
criminalidade e da delinquência17.
A Lei de Execução Penal, promulgada em 1984, é um conjunto de normas e
princípios que em seu art. 1° já traz a finalidade de sua criação: efetivar as disposições
de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica
integração social do condenado e do internado (Brasil, 1984).18 De acordo com a
doutrina, é regida pelos seguintes princípios: humanidade das penas; legalidade;
personalização da pena; proporcionalidade da pena; isonomia; jurisdicionalidade;
vedação ao excesso da execução e da ressocialização.
Busca também garantir a dignidade da pessoa humana através de
assistências elencadas no art. 11, incisos I ao VI. A Assistência Material é formada
pela garantia de fornecimento de alimento, roupas, instalações sanitárias e de higiene
pessoal, além de compra e uso de objetos permitidos pela administração
penitenciária. A Assistência à Saúde abarca o direito a atendimento médico em caráter
preventivo e curativo dentro do sistema prisional, caso não haja condições, deve o
detento ou internado ser transferido para unidade hospitalar capaz, ademais, com a
inclusão da Lei nº 14.326/2022, ficou garantido também o direito da gestante de
receber tratamento pré-natal, no trabalho de parto e pós-parto, bem como o recém-
nascido. A Assistência Jurídica disserta que o indivíduo deve ter constituído um
advogado ou defensor público, visando garantir a devida aplicabilidade da pena. A
Assistência Educacional refere-se a garantia de ensino fundamental obrigatório,
ensino profissionalizante opcional e biblioteca dentro da penitenciária. A Assistência
Social busca amparar o detento e prepará-lo para o retorno a sociedade por meio de

16
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Regras de Bangkok: regras das Nações Unidas para o tratamento de
mulheres presas e medidas não privativas de liberdade para mulheres infratoras. Brasília: CNJ, 2016. Disponível
em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2019/09/cd8bc11ffdcbc397c32eecdc40afbb74.pdf Acesso em:
26/09/2022.
17
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Regras de Pequim: regras mínimas das Nações Unidas para a administração
da justiça de menores. Brasília: CNJ, 2016. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2019/09/2166fd6e650e326d77608a013a6081f6.pdf Acesso em:
26/09/2022.
18
LEI Nº 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984.
10
acompanhamento durante o cumprimento da pena e logo após a saída do recinto
prisional. Por último, a Assistência Religiosa garante a possibilidade de participar de
cultos, ter a liberdade de crença, além do direito de possuir livros religiosos,
encontrando amparo no art. 5°, VI, da CF/8819
Destarte, é responsabilidade do Estado garantir a aplicabilidade desses
princípios e assistências, visando a ressocialização do apenado. Todavia, não é o que
se verifica na prática, onde o condenado sofre uma pena quase que exclusivamente
punitiva, com inúmeras violações de direitos básicos. O sistema carcerário brasileiro
como um todo é atualmente de uma precariedade absurda, segundo relatório do
Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), em dezembro de 2021, juntando
todas as 1.549 unidades prisionais no território nacional, havia uma capacidade
carcerária de 573.330 detentos, todavia, o total de presos no país era de 833.176
pessoas, ou seja, 45,32% acima da capacidade total20.
O local que deveria ser de reeducação, se tornou o local que intensifica a
prática criminosa, tendo em vista que o condenado é completamente esquecido pela
Administração Pública e encontra dentro do presídio o amparo de facções criminosas.
Na ADPF 347, o STF reconheceu em sede de decisão liminar, o Estado de Coisa
Inconstitucional (ECI)21 do sistema penitenciário brasileiro, na decisão, o ministro
Edson Fachin pontuou:

Os estabelecimentos prisionais funcionam como instituições


segregacionistas de grupos em situação de vulnerabilidade social.
Encontram-se separados da sociedade os negros, as pessoas com
deficiência, os analfabetos. E não há mostras de que essa segregação
objetive – um dia – reintegrá-los à sociedade, mas sim, mantê-los
indefinidamente apartados, a partir da contribuição que a precariedade dos
estabelecimentos oferece à reincidência.22

Mais adiante completou falando:

19
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos
e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
20
DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL. 11º Ciclo – INFOPEN. 2021. Disponível em:
https://www.gov.br/depen/pt-br/servicos/sisdepen/relatorios-e-manuais/relatorios/relatorios-
analiticos/br/brasil-dez-2021.pdf Acesso em: 26/09/2022
21
É uma técnica, usada pela primeira vez na Corte Constitucional da Colômbia, que visa enfrentar situações de
violação grave e sistemática dos direitos fundamentais, cuja causas sejam decorrentes de falhas estruturais em
políticas públicas adotadas pelo Estado.
22
Supremo Tribunal Federal. Petição inicial da ADPF 347. Disponível em:
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur339101/false Acesso em: 26/09/2022
11
Avista-se um estado em que os direitos fundamentais dos presos, definitivos
ou provisórios, padecem de proteção efetiva por parte do Estado 23.

Ainda, o ministro Marco Aurélio dissertou que:

No sistema prisional brasileiro, ocorre violação generalizada de direitos


fundamentais dos presos no tocante à dignidade, higidez física e integridade
psíquica. A superlotação carcerária e a precariedade das instalações das
delegacias e presídios, mais do que inobservância, pelo Estado, da ordem
jurídica correspondente, configuram tratamento degradante, ultrajante e
indigno a pessoas que se encontram sob custódia. As penas privativas de
liberdade aplicadas em nossos presídios convertem-se em penas cruéis e
desumanas. Os presos tornam-se ‘lixo digno do pior tratamento possível’,
sendo-lhes negado todo e qualquer direito à existência minimamente segura
e salubre. Daí o acerto do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, na
comparação com as ‘masmorras medievais’. 24

Apesar do reconhecimento do ECI, possibilitando que o Judiciário promova a


aplicabilidade dos Direitos Fundamentais, é necessário cautela para que a Separação
dos Poderes não sofra danos irreparáveis, haja vista que a atuação do Judiciário é de
competência atípica e deve ser respeitado esse limite.

3. O CARANDIRU

A Casa de Detenção de São Paulo, popularmente conhecida como Carandiru,


teve suas atividades iniciadas em 1920, com a ousada proposta à época de ser, além
de uma simples penitenciária, um local de reeducação para os detentos. Inicialmente
cumpriu com êxito essa proposta, possuindo códigos que objetivavam a disciplina,
trabalho, educação e salubridade, além da própria arquitetura da estrutura prisional,
concebida sob a ideia do modelo panóptico25 e baseada no Centre Pénitentiaire de
Fresnes26, que na época era uma das prisões mais seguras do mundo. Foi

23
Supremo Tribunal Federal. Petição inicial da ADPF 347. Disponível em:
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur339101/false Acesso em: 26/09/2022
24
Supremo Tribunal Federal. Petição inicial da ADPF 347. Disponível em:
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur339101/false Acesso em: 26/09/2022
25
Termo usado para se referir a “penitenciária ideal” pensada por Jeremy Bentham em 1785, que consistia em
manter todos os presos sob vigilância total e silenciosa, sem ter contato com os carcereiros. No Carandiru, as
janelas localizadas nas portas tinham esse propósito.
26
Inaugurada em 1898, na cidade de Fresnes, França, é atualmente o segundo maior estabelecimento prisional
da França, com capacidade para 1.651 detentos, segundo dados do Ministère de la Justice
12
reconhecido como um sinônimo de ressocialização e competência no cumprimento da
pena, se tornando um cartão postal da cidade e sendo inclusive visitado por
autoridades nacionais e internacionais com certa frequência.
Todavia, a partir de década de 40, com o exponencial aumento populacional
da cidade de São Paulo, a casa de detenção atingiu seu limite ocupacional (1200
detentos) e nunca mais saiu da rotina de superlotação. Em 1956, o então governador
Jânio Quadros decidiu por aumentar a Penitenciária e criou os pavilhões 2, 5 e 8,
passando a comportar 3.250 detentos. Com o passar dos anos, os governadores cada
vez mais tentam encobrir os erros administrativos cometidos no Carandiru e o que um
dia foi exemplo mundial de penitenciária, citado inclusive por Stefan Zweig, que
expressou seu sentimento de admiração pelo sentimento humano com que era tratado
a penitenciária, ressaltando que “a limpeza e a higiene exemplares faziam com que o
presídio se transformasse em uma fábrica de trabalho. Eram os presos que faziam o
pão, preparavam os medicamentos, prestavam os serviços na clínica e no hospital,
plantavam legumes, lavavam a roupa, faziam pinturas e desenhos e tinham aulas”27,
foi se tornando um exemplo de fracasso da administração pública.
O auge deste fracasso tem início por volta das 13h30 de 02 de outubro de
1992, um dia antes das eleições municipais. No pavilhão 9, se inicia uma briga entre
2 detentos que toma grandes proporções, eclodindo assim uma rebelião. Na data do
ocorrido, a capacidade do presídio era de pouco mais de 3 mil presos, todavia,
comportava 7.257 detentos. Segundo dados apresentados a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, apenas no pavilhão 9 havia 2.069 presos e 15
guardas28, o que tornava completamente inviável a possibilidade de interrupção do
motim pela guarda carcerária e ocasionou no acionamento da Polícia Militar.
Às 14h45 as guarnições chegam, entre as quais as da tropa de choque
especial ROTA (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), fundada durante o período
militar para combater guerrilhas urbanas e com extenso histórico de matanças, com
aproximadamente 325 policiais, comandados pelo Coronel Ubiratan, juntamente com
3 juízes que foram completamente dissuadidos de intervir e persuadidos da
impossibilidade de adentrar no pavilhão 9. Uma hora após o início do protesto, o
Secretário de Segurança da época, Cláudio Alvarenga avisa o Governador Luis

27
ZWEIG, Stefan. Encontros com homens livros e países. Rio de Janeiro. Ed. Guanabara. 1936.
28
Relatório nº 34/00, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos - CDIH, que faz parte da Organização
dos Estados Americanos.
13
Antônio Fleury, que preocupado com a repercussão da rebelião nas eleições, ordena
que ela seja cessada o mais rápido possível, todavia, não dá nenhuma ordem
expressa de invasão.
Segundo Fleury, a ordem de invasão veio do Secretário de Segurança às
16h15 e durou 20 minutos, os policiais obrigaram os presos sobreviventes a ficarem
nus no pátio interno e posteriormente carregarem os mortos para a galeria do pavilhão
9. Inicialmente foi noticiado 8 mortos, entretanto, faltando 30 minutos para o
encerramento das eleições no dia seguinte é noticiado o saldo real da chacina: 111
mortos, todos detentos. A perícia deixou claro que 75% dos presos mortos estavam
dentro das celas e foram alvejados de fora para dentro, derrubando a tese que houve
confronto entre detentos e policiais.
O Coronel Ubiratan, que assumiu total comando e responsabilidade pela
operação, aproveitou-se da fama do ocorrido e lançou candidatura em 1997 para
deputado estadual com o número 14.111 (alusão ao número de mortos), sendo eleito
suplente. Foi condenado em 2001 a 632 anos pela morte de 102 dos 111 detentos e
em 2002 se elegeu em definitivo com pouco mais de 50 mil votos, onde fez uso do
benefício do foro privilegiado para não ser preso. Em 2006 foi absolvido pelo órgão
especial do Tribunal de Justiça de São Paulo, sob o argumento de estrito cumprimento
do dever legal, todavia, poucos meses depois foi assassinado a tiros.
73 policiais envolvidos no massacre foram a júri popular entre 2013 e 2014,
com penas que variaram entre 48 e 624 anos, todavia, em 2018 o Tribunal de Justiça
de São Paulo anulou todos os julgamentos sob o argumento que a decisão foi
contraria as provas apresentadas e que os agentes agiram no estrito cumprimento do
dever legal, bem como em legítima defesa. Ademais, em 2021 o Superior Tribunal de
Justiça restabeleceu as condenações, a defesa então recorreu ao Supremo Tribunal
Federal, que em agosto deste ano decidiu por negar o recurso e manter a decisão do
Superior Tribunal de Justiça, haja vista a ausência de repercussão geral.
O Carandiru, implodido em 2002, se tornou um atrativo para a população
paulista. Diário de um detento, obra de Racionais MC’s, retrata o cotidiano da
penitenciária, abordando temas como a rua 10, local de acerto de contas; o metrô que
passava todos os dias ao lado da prisão e possibilitava a sociedade paulista visualizar
o cotidiano dos presos, fazendo assimilação a um zoológico; a superlotação das celas,

14
sua precariedade e insalubridade. Segundo Mauricio Monteiro, sobrevivente do
episódio, o Carandiru “era um país, e cada pavilhão era um estado”29.
Uma série de fatores levaram ao massacre, dentre os principais estão a
pressão política e administrativa, a falta de preparo e agressividade dos agentes e
policiais (um dos sobreviventes, Marco Antônio de Moura, depôs que a ROTA, ao
retirar os detentos do pavilhão gritava 'Deus cria, a Rota mata. Viva o choque'), a
situação precária dos detentos e a ausência de apoio do Estado. Todavia, esses
aspectos não se limitaram apenas ao momento do massacre, o Carandiru como
sistema prisional se tornou fadado ao fracasso por incompetência do Estado e virou
um marco do colapso do sistema prisional brasileiro, bem como o estopim para o
surgimento das organizações criminosas, com ênfase no Primeiro Comando da
Capital (PCC), que surgiu para evitar que massacres semelhantes ao do Carandiru
ocorressem e hoje é a maior e mais poderosa organização criminosa da história do
Brasil.
Após 30 anos do ocorrido, não é possível verificar nenhuma mudança
significativa por parte do Estado nos presídios brasileiros. A superlotação,
precariedade, insalubridade e a falta de garantia de direitos básicos torna quase que
inviável a ressocialização dentro do ordenamento brasileiro, salvo raras exceções,
como a da Penitenciária Central do Estado – Unidade de Progressão, localizada em
Curitiba, onde, por meio de uma parceria entre o governo e o Tribunal de Justiça,
busca-se garantir todos os direitos e garantias previstos na Lei de Execução Penal,
ofertando a 100% dos presos estudo e trabalho, bem como boas condições de
cumprimento da pena, o que resulta, segundo o diretor geral do Departamento
Penitenciário do Estado do Paraná, Luiz Alberto Cartaxo Moura, em um índice de
reincidência criminal de 0%.30
Entretanto, a grande maioria das penitenciárias brasileiras abarca apenas o
caráter punitivo, recebendo o detento que após entrar no presídio perde seu nome e
se torna apenas um número para o Estado, sendo largado ao léu depois de anos. Se
assemelhando muito com as penas corporais aplicadas antes do século XIX, onde os

29
ARAÚJO, Mateus. 'Carandiru era um país': sobreviventes lembram massacre, que faz 30 anos. Tab UOL. 2022.
Disponível em: https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2022/10/02/um-numero-para-o-estado-sobreviventes-
relembram-o-massacre-do-carandiru.htm Acesso em: 24/10/2022.
30
MARONI, João Rodrigo. Prisão onde 100% dos detentos trabalham e estudam? Existe, e fica no Brasil. Gazeta
do Povo. 2018. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/justica/prisao-onde-100-dos-detentos-
trabalham-e-estudam-existe-e-fica-no-brasil-0h3sil0asliz2bgm0tuzrtnf2/ Acesso em: 24/10/2022.
15
detentos eram jogados em depósitos temporários enquanto aguardavam a execução
de suas verdadeiras penas.
Os presídios atuais, apesar de inúmeras leis que visam garantir o devido
cumprimento da pena com integridade física e moral, são “bombas-relógios”, assim
como um dia foi o Carandiru, em razão do descaso do Estado e da sociedade que
julga o detento como um cidadão que não pode mais ser inserido no meio social e faz
vista grossa para o que ocorre dentro das prisões, bem como por conta da corrupção
dentro do próprio sistema prisional.
A necessidade de mudança e modernização de todo o sistema prisional urge,
construindo novas cadeias para descentralizar e desobstruir o governo, dando
autonomia municipal para a gestão e manutenção das estruturas prisionais, bem como
uma maior assistência jurídica, social, médica, psicológica e melhor preparo dos
agentes penitenciários. O reconhecimento do ECI já foi um grande passo, onde foram
formulados oito pedidos de medidas cautelares para os Tribunais, Conselho Nacional
de Justiça e União, sendo dois pedidos aprovados, os das alíneas “b” e “h”:

Obrigações aos Juízes e Tribunais:


b) Implementem, no prazo máximo de 90 dias, as audiências de custódia;

Obrigação à União:
h) Libere, sem qualquer tipo de limitação, o saldo acumulado do Fundo
Penitenciário Nacional (Funpen) para utilização na finalidade para a qual foi
criado, proibindo a realização de novos contingenciamentos.

Ademais, não se pode deixar de pontuar a falta de apoio social que o indivíduo
recebe após o cumprimento da pena, sob a acunha de ex-presidiário, o indivíduo sofre
uma forte represália do mercado de trabalho motivada pelo ódio e preconceito. É
corriqueiro o apenado receber como ônus da prisão, a rejeição e exclusão por parte
do meio social, mesmo que já tenha cumprido sua pena. Tem-se em nossa sociedade
um receio em permitir a participação de ex-detentos em ambientes de lazer, trabalho
e educação, não restando nenhuma alternativa senão a reincidência. Destarte,
deveria ser de responsabilidade do Estado aplicar políticas públicas que visassem a
educação e qualificação dos detentos ainda dentro do presídio, para que quando
livres, não ficassem eternamente atrelados ao crime cometido.
Isto posto, é correto afirmar que há meios que se bem implementados pelo
governo, podem evitar que massacres como o da Casa de Detenção do Carandiru
ocorram novamente.
16
CONCLUSÃO

O presente artigo teve por objetivo discorrer sobre o massacre do Carandiru,


buscando entender as motivações e o papel do Estado dentro do sistema prisional
brasileiro. Através das informações obtidas ao longo desse trabalho, foi possível
responder à pergunta que norteou esse trabalho: Quais os principais fatores que
levaram ao Massacre do Carandiru?
É importante salientar que as autoridades ignoram as inúmeras violações que
ocorrem dentro do sistema prisional desde a sua fundação, com pouquíssimos casos
de penitenciárias que cumpriram com êxito a função ressocializadora por longos anos,
o Carandiru cumpriu essa função entre 1920 e 1940, todavia, se tornou um depósito
de detentos com o passar dos anos.
O que é observado no cenário atual não se difere daquela época,
penitenciárias superlotadas, insalubres e precárias, falta de dignidade e inúmeras
garantias violadas por omissão do Estado para com os detentos. A ressocialização,
que deveria ser um dos alicerces principais da pena privativa de liberdade, é deixada
de lado e não raras as vezes é substituída dentro da penitenciária por penas
“privativas de direitos fundamentais”, assimilando-se com a fase da vingança pública
praticada na idade média, onde o detento era punido pelo Estado para saciar o desejo
da sociedade, restringindo a figura do apenado apenas ao crime praticado.
Em síntese, crenças como “bandido bom é bandido morto” reafirmam que o
pensamento em face do apenado permanece intransigente durante 30 anos. É
necessário que governantes e a sociedade entendam que o preso, apesar de
cometedor de um crime, possui direitos e não é merecedor de toda segregação. Se
faz necessária a implementação de políticas públicas sérias que visem qualificar e
preparar o detento para o retorno ao meio social de forma digna, bem como a
aplicação e fiscalização dentro das penitenciárias de penas humanitárias. Todavia, há
um ciclo vicioso de ódio e violência estrutural gerado pela impunidade de autores de
crimes como o do massacre do Carandiru que se não passarem a ser

17
responsabilizados, gerarão mais episódios como o que foi visto em 02 de outubro de
1992.
Por todo o exposto, retomando o problema de pesquisa: “Quais os principais
fatores que levaram ao massacre do Carandiru?”, concluiu-se que dentre os principais
fatores estavam a má administração, tendo em vista o pouquíssimo número de
guardas penitenciários que estavam no pavilhão 9, a falta de direitos e garantias
básicas, muito em decorrência da precária estrutura que o presídio tinha, bem como
a superlotação, a insalubridade e a falta de dignidade, além da pressão política no
momento da rebelião em decorrência das eleições municipais que ocorreriam no dia
seguinte, e por fim, a violência policial respaldada e alicerçada pelo Estado que
perpetuava desde o regime militar de 1964.

18
REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Carlos Eduardo Moreira de. Cárceres Imperiais: A Casa de Correção do


Rio De Janeiro. Seus detentos e o sistema prisional no Império, 1830 – 1861.
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ARAÚJO, Mateus. 'Carandiru era um país': sobreviventes lembram massacre,


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ZWEIG, Stefan. Encontros com homens livros e países. Rio de Janeiro. Ed.
Guanabara. 1942.

23
ANEXO I

Declaração de Isenção de Responsabilidade

Eu, João Paulo dos Santos Paiva, matrícula n° 201851344764, aluno de TC


curso de Direito, declaro para todos os fins de direito, que assumo total
responsabilidade pela originalidade do trabalho de curso que resultará da orientação
recebida sobre o tema objeto de minha pesquisa, bem como, pela contribuição
científico-ideológica decorrente dos postulados por mim defendidos, razão pela qual
isento de qualquer responsabilidade ao IES, a Coordenação do Curso de Direito e o
Professor Orientador a esse respeito.

Caruaru, _____ de _______________ de 2022.

__________________________________________
Assinatura do (a) Aluno(a)

24
25

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