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A IMPORTÂNCIA DA ESTÉTICA NA USABILIDADE DOS PRODUTOS:

UMA DEMANDA A SER EXPLORADA

THE IMPORTANCE OF AESTHETIC OF THE PRODUCTS USABILITY:


A DEMAND TO BE EXPLORED
Liara Mucio de Mattos1, Lívia Flávia de Albuquerque Campos2, Luis Carlos Paschoarelli3

(1) Graduanda em Design, DepDesign - UNESP


e-mail: liaramattos@gmail.com
(2) Doutoranda em Design,PPGDesign - UNESP
e-mail: liviaflavia@gmail.com
(3) Livre Docente em Design Ergonômico, PPGDesign - UNESP
e-mail: paschoarelli@faac.com.br

Palavras-chave: Ergonomia, Estética, Usabilidade


Este artigo discute a respeito da função da estética na relação Usuário x Produto ressaltando a importância desta na
percepção de conforto/desconforto e facilidade de uso, e ainda a escassez de pesquisas a respeito deste tema. Fez-se
também uma revisão bibliográfica sobre a estética sob a ótica da filosofia e ao longo da história do design.

Key-words: Ergonomics, Aesthetic, Usability


This paper discusses about the role of aesthetics in relation User x Product emphasizing the importance of the
perception of comfort / discomfort and ease of use, and also the lack of research on this subject. We also review the
literature on the aesthetics from the perspective of philosophy and throughout the design history.

1. Introdução dificuldade de compreensão de uso.

Nas últimas décadas a Ergonomia tem se Neste estudo pretende-se discutir o conceito de
desenvolvido em pesquisas que procuram estética e como ela pode ser analisada nos
analisar a interface entre usuários e a tecnologia, produtos do dia a dia a fim de aprimorá-los.
com a finalidade de tornar os produtos de uso Também foi realizada uma revisão teórica ao
cotidiano mais adequados e agradáveis de usar. longo da história do pensamento da humanidade
e como seus conceitos puderam ser aplicados no
Para tanto, a usabilidade procura atender tais Design.
necessidades, mas apesar de todo empenho das
pesquisas na área, ainda surgem demandas para 2. Definição de Estética
novas interações metodológicas, visando
compreender como se dá a relação Usuário x A estética pode ser compreendida, pelo menos,
Produto/sistema. sob duas óticas, a da História da Arte e da
Filosofia. Para este trabalho, propôs-se a análise
Dentre as questões que necessitam maior da definição estética através da Filosofia.
demanda de pesquisas, a estética aplicada ao
Design ergonômico, é uma área com grande De acordo com Aranha e Martins (1986), no
potencial a ser explorado e que tende a conceito de estética, dentro de uma visão
contribuir com os estudos sobre usabilidade, fenomenológica (ou seja, uma visão intrínseca
uma vez que a aparência dos objetos pode ser ao espírito que é essencial para a compreensão
uma característica crucial para a sensação de da existência do ser), não mais existe a ideia de
conforto, além de influir na percepção de um único valor estético, pois cada objeto é
singular e estabelece seu próprio tipo de beleza. filosofia, e atendendo às necessidades de
Entretanto, devido a influências socioculturais, especificação das investigações nesta área, que
existe um padrão de beleza incrustado na passaram a ser mais claras e centradas.
sociedade que leva o indivíduo a escolher
determinado objeto, a classificar como belo ou 2.2 A Feiúra
feio uma determinada característica, o que torna
possível mensurar o valor estético de uma O entendimento que se tem do feio está
população. “O princípio do juízo estético é o implícito nas colocações feitas a respeito do
sentimento do sujeito, e não o conceito do belo. Segundo Eco (2007), o “feio” tem sido
objeto. No entanto, há a possibilidade de compreendido como o oposto de beleza, ou
universalização desse juízo subjetivo na medida aquilo que não agrada os sentidos, e de acordo
em que as condições subjetivas da faculdade de com a definição de estética citada
julgar são as mesmas em todos os homens” anteriormente, aquilo que não satisfaz
(ARANHA; MARTINS,1986, p. 379). completamente todos os sentidos. Nas Artes, na
Arquitetura e no Design, podemos diferenciar
Contudo, a estética não deixa de ser relacionada obras e produtos do que é dito “feio” e
com a noção de beleza, também na filosofia representações feias (ARANHA; MARTINS,
(ARANHA; MARTINS, 1986). As autoras 1986).
ainda definem a estética como sendo um “ramo
da filosofia que estuda racionalmente o belo e o A partir do século XIX, com o surgimento da
sentimento que suscita nos homens” (p.378). fotografia, no período naturalista/realista, a arte
perde o sentido de ser cópia do real,
2.1 Etimologia representação perfeita de cenas, objetos,
animais e pessoas, e passa a admitir o que na
O substantivo estética origina-se do grego verdade sempre foi, uma visão de mundo pelas
aisthêtiké, variação do adjetivo aisthêtikós e do mãos do artista, arquiteto ou designer. Neste
substantivo aisthesis que vem a ser, segundo período o problema do belo e do feio é
Aranha e Martins (1986, p.378), a “faculdade de deslocado do tema para o modo de
sentir, compreensão totalizante pelos sentidos, representação.
percepção totalizante”.
De acordo com Aranha e Martins (1986), só
Assim, mesmo sendo uma palavra haverá obras “feias” na medida em que forem
informalmente utilizada para designar a mal executadas, ou seja, que não
aparência de objetos e do corpo humano, a corresponderem plenamente à sua proposta.
estética não é apenas aquilo que surpreende ao Segundo Eco (2007), assim como o belo, o feio
olhar, mas está, também, relacionada a todos os está sujeito aos vários períodos históricos, às
outros sentidos, o tato, a audição, o olfato, além convenções de uma determinada época ou
dos sentimentos que ela vem a inspirar no ser sociedade, inclusive à política reinante naquele
humano logo após a sua identificação nos momento histórico.
objetos com os quais o homem entra em contato
no seu cotidiano.
2.3. O Gosto e o Julgamento Estético
Segundo Bayer (1995), a palavra “estética”
adquiriu a definição conhecida atualmente Ao analisar a preferência estética de usuários, é
apenas no século XVIII com Baumgarten sob a importante considerar a questão do gosto e o
forma Aesthetica, por volta de 1750 no julgamento imparcial.
inacabado trabalho “Estética”, a respeito das
percepções sensoriais, introduzindo dessa Aranha e Martins (1986) discutem que o gosto
forma, o termo e sua definição na área da normalmente é a preferência arbitrária da
subjetividade, que se refere mais a si mesma, à No período do Classicismo, quando são
satisfação do ego, do que ao universo dentro do resgatados valores estéticos da Antiguidade
qual ela se forma. Clássica grega, há grande rigor estético, e as
artes estão sujeitas à enorme formalidade.
Ou seja, o gosto não avalia os aspectos estéticos Independentemente de quem percebe a
de um objeto, por exemplo, de forma a qualidade das obras artísticas, a estética ser
considerá-lo de forma universal, sob uma visão agradável ou não, neste momento depende do
holística, analisando processo de produção, objeto em si.
qualidade de materiais, aplicação de cores e
texturas coerentes à finalidade do referido Segundo Bayer (1995), no século XVIII, como
objeto, etc. dito anteriormente, Baumgarten foi o
responsável pela definição da palavra e
Tal tipo de julgamento estético subjetivo decide introdução desta no meio filosófico. Dessa
o que nós preferimos em virtude daquilo que forma, de acordo com Aranha e Martins (1986),
somos. O julgamento estético mergulha no outros filósofos passaram a estudar e definir
objeto analisado, desprendendo-se o máximo estética de modo mais orientado e específico.
possível de influências pessoais e externas, e o
analisa através de suas particularidades. O modo de pensamento, com relação à estética,
será mudado no século XIX com a invenção da
3. A Estética ao longo da História da fotografia, e com os impressionistas, de acordo
Filosofia com Aranha e Martins (1986), pois já não se
preocupavam em retratar fielmente a realidade
Ainda que apenas com Baumgarten a estética ou a “melhorando” (dentro do contexto
tenha sido introduzida no meio científico e naturalista), mas trabalhavam as variações de
acadêmico, e sendo a estética estreitamente luz e sombra, e não do objeto em si. Assim,
ligada à “beleza”, pode-se afirmar que já no também de acordo com as mesmas autoras, a
período da Grécia antiga, Sócrates discursava obra de arte já não se concentra na
sobre o belo (BISOGNIN, et al. 2005). Sócrates representação do tema, e sim na técnica, na
afirmava que “a beleza consiste na exata função forma como representar, e a realidade que
de cada coisa ou de cada ser” (NUNES, 2003 representa é a da obra em si, “realidade de obra
apud BISOGNIN et al. 2005), sendo de arte” (ARANHA; MARTINS, 1986, p. 397).
verdadeiramente belo aquilo que se mostra útil.
Apesar disso, o naturalismo ainda está presente
Depois de Sócrates, seu discípulo Platão escreve em outras formas de representação de imagens,
‘Fedro’, tratado a respeito do belo, e vem como a televisão, na qual as imagens, as
afirmar que a beleza é a única “ideia” que informações em geral, de telejornais, por
resplandece no mundo, e influencia todos os exemplo, são selecionadas a fim de criar-se uma
seres (ARANHA; MARTINS, 1986). mensagem específica, manipulada e
previamente interpretada.
Continuando a explicação, Aranha e Martins
(1986), dizem que até o período do Classicismo, Nesse entrave, Aranha e Martins (1986)
a estética era analisada objetivamente, de colocam que empiristas como Hume, ao
acordo com a ótica naturalista. contrário do que prega o naturalismo,
relativizam a beleza ao gosto de cada ser
O naturalismo “pode ser definido como a humano, pregando que é impossível mensurar
ambição de colocar diante do observador uma racionalmente aquilo que só pode ser percebido
semelhança convincente das aparências reais pelos sentidos.
das coisas”. (OSBORNE apud ARANHA e
MARTINS,1986, P. 391) Já Kant afirma que a beleza, ainda que não se
possa justificá-la pelo intelecto, é tudo o que na transição do “século XIX para o século XX
agrada aos sentidos universalmente; que começa a se evidenciar a reflexão da
atividade do design, como alternativa de
Em “Estética – A Ideia e o Ideal”, Hegel (1770- conciliação entre a produção artística e
1831) introduz o conceito de história na industrial, e que vai caracterizar a estética do
definição de estética, sendo a beleza fruto de um design modernista, sob a influência da Bauhaus
momento histórico e da forma de pensamento (e da Vchutemas, no âmbito da revolução
vigente; ela é mutável, tal como as sociedades e soviética)” (PANTALEÃO; PINHEIRO, 2011,
seus valores e acompanha todas essas mudanças p. 119).
através das eras.
Ainda sobre a importância do movimento
Hegel ainda diferencia a estética natural do belo liderado pela escola Bauhaus, colocam que a
natural, ou seja, a beleza presente dos produção e o ensino de design priorizava a
fenômenos da natureza, da estética artística, da funcionalidade e a satisfação das necessidades
beleza encontrada nas obras de artes, aquele sociais, na tentativa de conciliar a arte, o
criada pelas mãos humanas e na qual o homem artesanato e a produção em larga escala das
baseou-se no espírito para criar (HEGEL, 1991). indústrias, reafirmada pela arquitetura, tal como
fizeram alguns dos professores da escola.
Durante o século XX, a estética é amplamente Kandinsky, Mies van der Rohe entre outros, não
repercutida em diversas publicações. somente ensinavam design e projetavam
Atualmente, é considerada uma ciência produtos, como também eram os arquitetos de
independente da filosofia por ter alcançado seu suas próprias casas e as construíam de forma a
próprio método, como discursa Bayer (1995), espelhar o design proposto por eles .
mesmo que ainda seja objeto de estudo desta e
de tantas outras áreas, como o Design. Ainda segundo os mesmos autores, nesta época
houve a geometrização das formas e a uma
4. Estética no Design tendência ao abstrato. Cardoso (2003) defende
também que havia uma vertente que buscava
4.1 Períodos da Estética no Design formas mais orgânicas e ornamentos mais
elaborados, em contrapartida ao pensamento da
Teóricos do design como, Rafael Cardoso, em Bauhaus e de seu design, visando a
“Uma História do Design” (2003) afirmam que funcionalidade do objeto.
a profissão designer teve seu início adjunto a
primeira Revolução Industrial a fim de O período Pós-guerra foi de notável avanço
aumentar a qualidade e a aparência dos produtos tecnológico, o que, aliás, ajudou a definir o
industriais. A estética aplicada nos produtos era, conflito armado (CARDOSO, 2003). A
normalmente, semelhante aos conceitos descoberta de novos materiais, novas modos de
estéticos aplicados na arte. usar matéria prima, meios de processamento,
motores, polímeros, influenciaram
Contudo, como afirma Dorfles (1991, p. 127) enormemente no design da época.
apud Costa Júnior (2007), a maioria dos objetos
industriais produzidos no início do surgimento A Segunda Guerra proporcionou a oportunidade
das fábricas, a “estética” utilizada tinha a de crescimento de consumidores e da economia
“errônea função de mascarar as características de países periféricos; nesta época também,
funcionais do objeto mediante sobreposições ocorreu maior entrada da mulher no mercado de
ornamentais ao gosto dominante da época” trabalho e no mercado consumidor. Para atender
(COSTA JÚNIOR, 2007). as exigências deste novo mercado consumidor,
de necessidades e até mesmo de planos
Como Pantaleão e Pinheiro (2011) vem afirmar, políticos, Cardoso (2003) explica que o designer
desempenhou a função de tornar os produtos Martins (1986) explicam que a arte possui forte
cada vez mais atraentes ao público, e de, cada elo com a reflexão estética por, durante um
vez mais, criar necessidades através do longo período, foi responsável por expressar de
lançamento de produtos. modo particularmente sensível o belo, e ainda
colocam que o objeto artístico vem a ser aquilo
O período pós-modernidade é explanado que se oferece aos sentimentos e à percepção.
também por Cardoso (2003), como um período
de muitas e diversas mudanças, no modo de Tais objetos artísticos, devido a esta capacidade
pensamento e também no modo de produção. de transmitir de forma totalizante e sensível a
Pantaleão e Pinheiro (2011) defendem que a informação presente neles, são os mais
função estética dos produtos foi repensada a adequados para mediar a relação entre usuário e
partir de novos parâmetros, mas resgatando o o produto, pois sintetizam as informações de
papel pioneiro do designer, ou seja, de conciliar forma clara, quando bem projetados e
a produção em série com produtos simplificam a comunicação com o usuário. “A
personalizados (e personalizáveis), em verdade é que a satisfação das necessidades
contrapartida ao design do Pós-guerra, que estéticas não é necessária para nossa existência
produzia massivamente. física, mas à nossa saúde psíquica” (LÖBACH,
2001, p.35).
Verifica-se inclusive, de acordo com Pantaleão
e Pinheiro (2011, p. 120) “uma retomada da Löbach (2001) defende ainda que nossas
produção artesanal e, conseqüentemente, um relações cotidianas são intermediadas pelos
aumento no nível e grau de elementos objetos, reafirmando assim, que a estética é uma
semióticos (simbólicos, como a metáfora) e necessidade psíquica.
psicológicos (de apelo emocional)”. “Devido à
área de atuação do design na sociedade atual ter O mesmo autor também diz que, tendo a
se expandido em diferentes aportes do característica de ser melhor percebido pelo
conhecimento sem nunca ter eliminado as homem, um objeto com alto valor estético é tido
questões de âmbito artístico, julga-se pertinente também como o mais “visível” no momento da
tais conceitos, por se apresentarem a cada dia compra, obscurecendo os produtos cuja função
mais intermutáveis, levando à constante estética foi pouco desenvolvida, já que as
necessidade de se atribuir a setores tecnológicos funções práticas normalmente são percebida
e científicos, o valor estético.” completamente após a compra.

4.2 A Função Estética do Design Em pesquisas realizadas com participantes com


pouco ou nenhum repertório de artes ou design,
De acordo com Löbach (2001), os produtos concluiu-se que objetos com maior grau de
industriais possuem três funções básicas, além apelo artístico, ou estético, foram os preferidos
das atribuídas pelo usuário: Função Prática, pelos indivíduos.
Função Estética e Função Simbólica. Tais
funções são projetadas para um determinado Hung e Chen (2008) realizaram uma pesquisa
objeto, que pode conter uma ou mais função, e analisando influência da estética do produto, em
nos ateremos à função estética. especial a característica “tipicidade”, que,
segundo o Dicionário Houaiss da Língua
Segundo o mesmo autor, os objetos artísticos, Portuguesa, é a “qualidade do que é típico”, ou
ou com grande apelo estético, podem ser seja, objetos comuns do cotidiano.
analisados como uma classificação especial,
sendo ricamente portadores de informação, pois Para a pesquisa, os autore selecionaram 88
a transmitem de forma que é percebida cadeiras que abrangem uma grande variedade de
imediatamente pelo cérebro humano. Aranha e formas, cores, texturas e que seriam utilizados
como estímulos. Os resultados confirmam que
as cadeiras “mais preferidas” foram as de
elevado nível estético e design mais
diferenciado. Já as cadeiras de modelos mais
comuns foram pouco preferidas entre os
participantes da pesquisa.

A respeito da usabilidade e percepção estética,


Löbach (2001) cita um exercício prático
realizado em sala de aula na disciplina
“Problemas Práticos de Ergonomia” por
estudantes do curso de design “Escola Superior
Profissional de Bielefeld”. O mostrador de uma
balança doméstica foi otimizado levando-se em
consideração a estética do mesmo. O mostrador
original não exibia nenhum ponto de referência,
no qual o olhar do usuário pudesse se apoiar
para ler a medição (Figura 1). Figura 2 - Mostrador modificado pelos alunos. Nota-se a
melhora na facilidade de leitura dos números da balança.
Fonte: Löbach (2001, p. 61).

A função estética, quando bem desenvolvida


nos produtos, desencadeia a sensação de bem
estar, e fazendo com que o usuário se
identifique com o produto. Em contrapartida, a
sociedade pós-moderna, pautada na
racionalidade, tem buscado cada vez mais
formas lúdicas, orgânicas, personalizadas a fim
de satisfazer-se emocionalmente.

5. Discussão: Estética e Usabilidade

Dentre as funções atribuídas aos objetos -


propostas por Löbach (2001), no que se diz
respeito à relação entre os objetos e os usuários
- a função estética “é a relação entre um produto
Figura 1 - mostrador original. e um usuário no nível dos processos sensoriais”
Fonte: Löbach (2001, p. 60).
e “aspecto psicológico da percepção sensorial
durante seu uso” (p. 59-60).
Aumentando-se o tamanho da fonte de Ainda segundo o mesmo autor, é possível inferir
“números-chave” que servissem de ponto de que a estética é “responsável por promover a
apoio ao olhar (no caso a cada 0,5 Kg da sensação de bem estar, identificando o usuário
balança), ampliou-se a fonte (Figura 2). É com o produto durante o processo de uso” (p.
possível inferir com este exemplo que a estética 59-60), atendendo as necessidades psíquicas dos
desempenha percepção multissensorial do usuários.
usuário.
Löbach (2001) demonstra que dentre várias estética para o Design e o usuário, já que a
características do objeto, as que mais estimulam maioria dos testes não está concentrada na
o usuário, estão: forma, material, superfície e usabilidade.
cor. Norman (2008) também discute a respeito
do apego emocional cujos objetos ao nosso Stich (2004) cita tentativas para medir a
redor nos suscitam. sensibilidade estética visual na área da
psicologia; para crianças (CHILD, 1962, 1964,
Pesquisas realizadas no campo da psicologia 1965; KARWOSKI, CHRISTENSEN, 1926);
(ISEN, 1993, apud NORMAN, 2008), com menor gasto de tempo (EYSENCK, 1983;
demonstram que seres humanos tendem a GÖTZ et al, 1979); e focadas em obras de arte
resolver melhor problemas de raciocínio lógico (BAMOSSY et al, 1983;. EYSENCK, 1983;
ou quando existem múltiplas possibilidades de GÖTZ et al, 1979). E, no marketing, estuda-se
solução, estando em estado psíquico a dimensão estética visual do produto para o
considerado alegre ou satisfeito. estímulo das vendas (BLOCH et al., 2003).

Sob a ótica de Norman (2008), objetos cuja 6. Considerações Finais


estética são atraentes, tornam-se de fácil
utilização devido às sensações de prazer, No presente estudo propôs-se discutir a respeito
satisfação e alegria causadas por sua aparência; do significado de estética sob o ponto de vista
sentimentos estes, que potencializam a da filosofia e de como ela foi manipulada
capacidade de raciocínio. durante os períodos da história do design.

Kurosu e Kashimura (1995 a,b) realizaram os Foi apresentada também a importância da


primeiros testes relacionando estética e estética para a psique humana, como
usabilidade em interfaces digitais de caixas necessidade emocional básica, e sua
eletrônicos. aplicabilidade no design ergonômico como
meio facilitador na relação Usuário x Artefato,
Tractinsky (1997) os repetiu obtendo resultados tornando esta relação mais simples, eficiente e
semelhantes, nos quais a estética foi prazerosa.
evidenciada, sendo determinante na
classificação de quão fácil era o uso da Entretanto ainda há carência de estudos e
interface. Confirmou-se a hipótese de que, se pesquisas a respeito da estética associada à
dois produtos são semelhantes em usabilidade, o usabilidade. A literatura especializada tem
mais atraente é considerado mais útil. Isto apontado uma elevada demanda para estudos
demonstra indícios de que na relação entre nesta área e isto caracteriza uma nova frente de
usuário e produto deve se valorizar os aspectos pesquisa no campo da usabilidade.
estéticos.

Por outro lado, Campos e Paschoarelli (2011) 7. Agradecimentos


realizaram uma revisão de estudos publicados
nos anais (de todas as edições) do Este estudo foi desenvolvido com apoio do
ERGODESIGN – Brasil, e apontaram que CNPq e Fapesp (Proc. FAPESP 2010/21439-9).
apenas 3% dos artigos fazem alguma associação
entre os aspectos do uso e as características
estéticas. 8. Referências Bibliográficas

Neste sentido, nota-se uma demanda para a ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P.


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