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All content following this page was uploaded by Wallace Alves Moraes on 16 July 2015.
For some time was created a myth around the Golden Ratio stating it has
influence on the beauty of objects and graphical forms. Many authors
claim that designers, artists and architects have used it in their creations
and some others claim that it is also present in nature. This research
shows several hypothesis concerning that subject. With a brief review
about meaning of the beauty for the ancient greek philosophers, through
one of the first concepts proposed by Euclid about what we would later call
Golden Ratio, proceeding to the concepts of objectivity and subjectivity
of beauty, we approach this matter. Could the Golden Ratio - an objective
criterion - influence the beauty of objects? {Aesthetics, Golden Ratio, Beau-
ty}
Uma das grandes questões no Design diz respeito a objetividade ou subjetividade
da interpretação de beleza ou feiura dos objetos. Existem Leis universais que se seguidas
na configuração dos artefatos lhes permitiria o status de belo e seriam interpretados da
mesma forma por todos? Ou “a beleza está nos olhos de quem vê? Nos concentramos aqui
numa hipótese que segundo Markowsky (1992) tem capturado a imaginação popular e é
discutida em vários livros e artigos, poderia a Proporção Áurea – considerada um critério
objetivo de configuração da forma por alguns – influenciar a beleza dos objetos? Muitos
argumentam que a proporção áurea tem impacto significativo sobre a harmonia e a beleza
dos objetos, no entanto há evidências de que muitos dos juízos estéticos diferem entre
culturas.
A beleza importa? Para Scruton, muito; Löbach (2001) diz que a estética da
informação associada à percepção envolve o processo de apreciação visual dos objetos
estéticos, sabemos que no senso comum as pessoas preferem objetos belos, qual
configuração seguir então para construí-los? Consideramos interessante a ideia de
“formulas” – como nas ciências exatas – que nos auxiliassem a criar objetos belos, mas
não temos teorias comprovadas de algum modelo de criação que determine como fazer
coisas belas.
A pergunta é genérica, nos traz inúmeras hipóteses e existem diversas discussões
sobre o que poderia levar a preferência “estética” de um indivíduo nas várias disciplinas,
filosofia, psicologia e biologia. Não se trata de buscar respostas definitivas, mas de
estabelecer um ponto de partida, um desafio, mesmo que inglório, para aprofundarmos
nosso estudo e dirigi-lo numa direção.
1. Desenvolvimento
Durante muito tempo tem se estudado e proposto teorias da forma no design para a
concepção de objetos, um exemplo disto é a teoria da Gestalt, conceitos como proporção,
harmonia, composição, forma, equilíbrio, contraste e as hipóteses levantadas sobre a
Proporção Áurea.
Para Elam (2010), existe uma predileção do senso estético dos seres humanos pela
Proporção Áurea enquanto que Doczi diz (1994, p. 2) “a reciprocidade dessa proporção
nos impressiona por ser particularmente harmoniosa e agradável, um fato que foi
comprovado por muitos experimentos científicos desde o final do último século. ”
Huntley (1970) fala de uma pesquisa do psicólogo alemão Gustav Theodor Fechner
em 1986 sobre o assunto. Ele realizou uma pesquisa sobre a preferência de pessoas por
formatos de retângulos. O resultado mostrou que a maioria deles preferiu um em que a
razão de suas medidas se aproximava da Proporção Áurea.
Beleza e Estética
No uso comum, estética é associada a beleza, mas o que é estética e o que é beleza?
Antes de entrarmos propriamente na discussão a respeito do nosso objeto de estudo,
convém-nos introduzir alguns conceitos e definições a respeito da beleza, fazendo alguns
recortes de ideias filosóficas sobre assunto.
Segundo Nunes (1999), no século VI a. C., os primeiros filósofos gregos
preocuparam-se em conhecer os elementos constituintes das coisas. Eles investigaram a
natureza, à busca de um princípio estável, comum a todos os seres, que explicasse a sua
origem e as suas transformações e na segunda metade do século V a. C., os Sofistas já
debatiam, ente outras ideias, o Belo.
Para Nunes (1999), os filósofos medievais acreditavam na Beleza pertencente
essencialmente a Deus, como o brilho da Verdade Divina nas coisas que se faz sensível
aos olhos do espírito. “A relação entre a Beleza e as artes não é essencial, mas acidental”
(NUNES, 1999, p. 6).
Platão tem uma visão objetivista da percepção estética, para ele a beleza é
considerada como uma propriedade de um objeto que produz uma experiência agradável
em um visualizador adequado (DI DIO et al., 2007)
Platão liga beleza e bondade, tudo o que é belo e também verdadeiro é bom e vice-
versa. É a beleza das ideias que atrai a inteligência do filósofo e o bem, e por ser belo atrai
a sabedoria. Para ele deve haver uma beleza primaria, que pela sua presença torna belas
as coisas que designamos por belas. Ele ainda completa dizendo que algo composto de
partes diversas não pode ter beleza se os seus componentes não estiverem configurados
numa certa ordem (HUISMAN, 2000).
Nas definições de Aristóteles “Ritmo, harmonia, medida ou simetria, tudo em
última análise, conduz à ordem”. Os Neoplatonistas acreditavam que “O Belo é o
esplendor da verdade e do Bem”. Plotino (205-270) caracteriza a beleza pela unidade, pela
forma pura e pela ordem. De uma visão objetiva a uma relativista, Kant dirá que o belo
é a condição de objeto da experiência estética, a qual não é determinada por conceito,
é contemplativa e possui finalidade essencial, isto é, pode ser considerado íntimo do
indivíduo (HUISMAN, 2000, p. 26; NUNES, 1999).
Descrição Matemática
A proporção áurea não é a única progressão geométrica, suas propriedades
matemáticas são facilmente definidas. Uma linha AC deverá ser dividida num ponto B
de forma que a razão entre o seguimento AB/BC seja igual a AC/AB, o desenvolvimento
da expressão matemática terá como resultado da operação o valor 1.61803398875 (HERZ-
FISCHLER, 1998; MARKOWSKY, 1992).
A B C
2. Método
Para este estudo, seguiu-se os seguintes procedimentos metodológicos: A princípio,
consideramos estudar as relações matemáticas e construções geométricas que descrevem
matematicamente o significado da Proporção Áurea, depois de compreender essas
relações iniciamos com o estudo de bibliografias muito citadas sobre o assunto como,
Huntley (1970), Livio (2002), Doczi (1994) e Elam (2001), entretanto, as mesmas não
eram por muitas vezes imparciais ou sequer apresentavam alguma visão contrária sobre
a influência da Proporção Áurea na beleza dos objetos. Diante deste fato, começamos a
analisar bibliografias que mostrassem uma visão contrária como a de Markowsky (1992) e
Falbo (2005) para apresentarmos um olhar crítico e imparcial sobre o assunto.
Percebendo que o nosso tema estava contextualizado e envolvia questões sobre
beleza e a sua importância, dedicamo-nos então a construir análises sobre o significado
dela a partir do pensamento dos filósofos gregos até os dias atuais. Deste estudo surgiram
os conceitos de objetividade, subjetividade e respectivamente a conjunção destes.
Depois disto, analisamos diversos estudos que de forma estatísticas falam da
presença da Proporção Áurea na natureza, na arte, no design ou apontam a sua possível
relação com o nosso sistema nervoso e como interpretamos o belo. Aqui citamos os que
consideramos mais relevantes. Não nos limitamos a textos que estavam em nossa língua
(portuguesa), inclusive por causa da pouca ou nenhuma bibliografia que questionasse
a validade do assunto ou discordasse da relação da beleza e Proporção Áurea. Então,
estas análises bibliográficas nos permitiram identificar equívocos e contradições em
relação ao assunto para que depois apresentássemos hipóteses e teses sólidas e com
rigor metodológico de alguns autores, compreendendo e apontando possíveis conceitos
infundados.
3. Resultados e discussões
Muitos defendem que a proporção áurea tem impacto significativo na harmonia
ou na beleza dos objetos: Livio (2002), Huntley (1970), Doczi (1994). Doczi relaciona a
característica de auto propagação desta proporção como sendo a implicação para que crie
harmonia. Mas a Proporção Áurea não é a única progressão aritmética existente segundo
Fowler (1982).
Elam (2001, p. 10), diz que uma das mais antigas evidências do uso da Proporção
Áurea está na arquitetura de Stonehenge (2000 a.C.) na Grã-Bretanha: “A arquitetura
de Stonehenge, na Grã-Bretanha, onde se encontra o mais importante monumento
megalítico da Europa (2000 a.C.) é uma das mais antigas evidências do uso do retângulo
áureo, com uma proporção de 1:1,618”, entretanto não encontramos a metologia que
suporte a suposição.
Falbo (2005), Herz-Fischler (1998), Fowler (1982) e Markowsky (1992) dizem que
deve haver um método meticuloso para estudar o assunto, pois muito da literatura
está repleta de mitos e de uma visão “romântica”; se realmente houver um impacto
significativo da Razão Áurea na beleza das coisas, como seria a aplicação ou utilização
dela no processo criativo? Pois muito das relações de medidas construídas sobre as obras
através de esquemas com o pretexto da correspondência à esta razão, são arbitrárias
e não há fatos concretos que mostrem que os artistas a usaram em suas obras. O que
percebemos, é o consentimento entre os autores sobre as propriedades matemáticas de Φ.
4. Conclusão
Depois de uma extensa pesquisa bibliográfica, este trabalho apresenta diferentes
pontos de vista, hipóteses e teorias em relação a proporção áurea, nosso objetivo não foi
provar ou validar uma tese, mas alargar o conhecimento sobre o assunto, levando em
consideração diversas ideias, inclusive as contrapostas.
Pensamos que o designer deve levar em consideração uma série de fatores num
projeto, comportamento humano, os hábitos do homem, sua cultura, cognição e questões
de configuração da forma e assim construir um projeto que esteja alinhado com os
objetivos e expectativas dos indivíduos. Além do esforço no projeto e na estratégia de
design, deve haver também um complexo trabalho desempenhado nas estratégias de
comunicação do produto. É provável que nem a função, forma ou beleza sejam suficientes
para a composição de bons projetos de design — isso levando em consideração “bom
projeto”, como aquele que cumpra as expectativas dos atores –, mas toda uma conjunção
de fatores.
Existem constatações esmagadoras que muitos dos julgamentos estéticos variam
entre culturas, como podemos observar no estudo de Berlyne (1971), Di Dio et al. (2007)
ainda afirmam que “uma das questões mais debatidas na estética é se a beleza pode ser
definida por alguns parâmetros objetivos, ou se ela apenas depende de fatores subjetivos”
e se existem padrões objetivos para o julgamento estético, o parecer subjetivo desempenha
também um papel importante neste processo. Acreditamos que os designers devem ter
em seu processo de criação um olhar crítico para as técnicas que usa, avaliando-as e
não apenas se deixando levar pelo senso comum, pois os tais desempenham um papel
essencial na criação de objetos de uso, na estética e na ergonomia.
Referências
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| DÓCZI, György. O Poder dos Limites. Shambhala, 1981.
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Esta pesquisa foi realizada com o apoio do CNPq e MACKPesquisa entre 2012 e 2013.