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Resumos de filosofia:

A questão da objetividade científica:


Será que a ciência representa uma leitura objetiva dos factos, já que obedece a determinadas
regras, aplica métodos de pesquisa e critérios racionais de escolha e validação de teorias?
Ou será que a ciência é apenas uma leitura que reflete as crenças e valores dos cientistas
(influenciado por fatores ideológicos, económicos e estéticos)?

Resposta de Popper:
Para Popper, o cientista é um sujeito ativo, criativo e crítico, mas comprometido com ideias, valores
e princípios que influenciam o seu trabalho. Porém, o conhecimento científico é independente do
sujeito que o produz e do contexto.
Para Popper, a ciência resulta de uma atividade conjetural. O investigador formula conjeturas
(hipóteses explicativas para os problemas identificados), de seguida, coloca-as à prova, sujeitando-
as a testes de falsificação. Se uma teoria for falsificável empiricamente é uma teoria científica.
Deste modo, se for falsificável também é passível de ser substituída por outras com melhor
desempenho face aos testes de falsificação. Estas substituições representam um passo em frente
no processo de evolução do conhecimento científico. Logo, não significa que são verdades, porque
nada nos garante que não falhe nos próximos testes de falsificação, mas é a mais próxima da
verdade (a meta da ciência).
Em suma, no que diz respeito à questão da objetividade da ciência, Popper considera que, pelas
características logicas inerentes às teorias científicas, o conhecimento científico é objetivo.

Resposta de Kuhn:
Para Kuhn, o cientista nunca é um sujeito neutro nem isolado, mas sim alguém condicionado e
contextualizado, de tal modo que a ciência nunca poderá ser verdadeiramente objetiva e imparcial.
Segundo Kuhn o progresso científico ocorre no interior de cada paradigma, e não na transição de
um paradigma para outro. Ou seja, a mudança de um paradigma para outro não e cumulativa, uma
vez que a verdade das teorias científicas esta sempre dependente do paradigma em que se insere.
Os paradigmas são incomensuráveis, logo não há um padrão que permita estabelecer a
superioridade de um paradigma em relação a outro. Daí afirmarmos que a verdade é sempre
definida pelos princípios e regras do paradigma em que se insere, então o seu valor é apenas
relativo. Assim, para Kuhn, só podemos falar de progresso, objetividade e verdade de modo
relativo.
Para além disso, Kuhn destaca os fatores históricos, sociológicos e psicológicos que interferem na
mudança de paradigma. O que obriga à argumentação. Logo, este processo de escolha é
intersubjetivo e nele os cientistas usam critérios objetivos e subjetivos de justificação. O que
também põe em causa o valor da objetividade científica.

NOTA: Apesar de responderem ao problema da objetividade de modos distintos, tanto Popper


como Kuhn compreendem que a ciência não é o tipo de conhecimento absolutamente certo e
indubitável.

A Estética:
A estética como área especializada da filosofia foi criada no século XVIII por Alexander Baumgarten.
A estética é a disciplina filosófica que analisa a experiência estética em geral, discutindo problemas
relativos à arte, ao gosto e à natureza da arte (filosofia da arte). A estética pode se então classificar
como o estudo da sensibilidade.

A atitude e experiência estéticas:


A atitude estética consiste em olhar desinteressadamente o objeto, somente pelo prazer dessa
contemplação. Assim, distingue-se da atitude prática, pois é uma atitude que não se dirige para a
função ou utilidade de um objeto. Caracteriza-se também por se centrar no sentimento e na
experiência que a simples contemplação do objeto proporciona.
O objeto estético *, contemplado desta forma desinteressada, proporciona uma experiência
estética. Esta experiência caracteriza-se por ser:

 Atenta, na medida em que nos obriga a focar a nossa atenção no objeto;


 Desinteressada, pois não procura a utilidade do objeto;
 Empática, pois processa-se uma espécie de comunicação e identificação com o próprio
objeto contemplado;
 Ativa, porque o sujeito que contempla não é uma figura com uma posição passiva; ele deve
demorar o olhar, prestando atenção a cada pormenor (propriedades físicas e formais).
*- todo o objeto, natural ou artístico, que se apresenta à perceção do sujeito e é capaz de o afetar
provocando-lhe uma emoção estético

Subjetivismo e objetivismo estéticos:


Qual a origem da beleza?
Será que uma coisa é bela porque desperta em nós um sentimento de prazer?
Ou será que ela pode ser bela independentemente daquilo que o observador sente?
Consoante a maneira como respondemos a estas questões há dois caminhos diferentes:

 Subjetivismo estético:
Defende que a beleza não é uma propriedade intrínseca dos objetos, mas é antes o resultado da
experiência humana. Ou seja, a beleza depende dos sentimentos de prazer ou desprazer que
acompanham a contemplação desinteressada do objeto estético. Deste modo, cada ser humano
pode “criar” essa beleza, transformando todos os juízos estéticos em juízos subjetivos. Uma vez que
ao afirmarmos que um juízo é belo, isto traduz apenas uma apreciação subjetiva do sentimento que
a contemplação da obra nos fez experienciar.

 Objetivismo estético:
Defende que a beleza é uma qualidade intrínseca do objeto, a qual depende das propriedades dos
objetos, sendo independente do que sente o observador. Logo, o ser humano nunca é visto como
criador da beleza, mas como um ser capaz de a reconhecer. Para os autores que defendem o
objetivismo estético, os juízos estéticos nunca poderiam ser juízos subjetivos, pois os objetos são
objetivamente belos ou não. Então, qualquer juízo estético objetivo limita-se a fazer uma descrição
das qualidades da obra, podendo essa descrição ser verdadeira ou falsa. O que levanta questões
como: Que propriedades podem tornar um objeto intrinsecamente belo e quem as decide?
NOTA: juízo estético- é a apreciação do valor estético do objeto a partir do sentimento que
acompanha a sua contemplação.

Resposta de Kant:
Kant pretende solucionar esta discórdia em torno dos juízos estéticos. Ele afirma que apesar do
juízo estético ser, originalmente, subjetivamente, uma vez que resulta de uma experiência subjetiva
de um sujeito, a verdade é que ele se tende a universalizar. Já que o juízo estético resulta de uma
experiência desinteressada dos interesses pessoais e egoísticos dos indivíduos, de tal modo que os
juízos estéticos estariam despidos da individualidade da pessoa que os enuncia tornando-os quase
uma norma ideal e universal.

Problema da definição de arte:


Com o passar dos séculos, a Estética foi vendo o seu campo de investigação cada vez mais
confinado. Agora o estudo sobre os objetos naturais dizia respeito à Biologia, Física, etc, e à Estética
restava apenas o domínio das obras de arte, dos objetos artísticos. Traçando o caminho para a
Estética, defendendo que toda a criação artística, porque reveladora de um trabalho intelectual/
espiritual humano, se sobrepõe à natureza ordinária.
Ao sobrepor o objeto artístico em relação ao objeto natural e ordinário surge então o problema da
definição de um objeto artístico. Já sabemos que os objetos artísticos são objetos produzidos ou
fabricados pelo homem, através da sua criatividade, os quais não possuem outra finalidade senão a
sua contemplação. Porém esta definição genérica nem sempre foi tomada como critério suficiente
para estabelecer o que é, ou não é, arte.
Com base em questões ideológicas e culturais é natural que os critérios definidores do que é, ou
não é, artístico se vão alterando, explicando assim o surgimento de diferentes teorias acerca da
arte, as quais partem todas de um critério comum (que qualquer produção artística não visa a
realidade utilitária, a sua finalidade é apenas de ser contemplada e despertar um prazer estético
naquele que contempla).

Distinção entre teorias essencialistas e não essencialistas acerca da arte:


 Teorias essencialistas acerca da arte
As teorias essencialistas, de um modo geral, caracterizam-se por defender que existe uma espécie
de essência de arte, ou seja, existe um conjunto de propriedades essenciais que todas as obras
devem apresentar, sob a pena de virem a não ser consideradas artísticas. Estas teorias definem
uma espécie de paradigma, através do qual distinguem aquilo que é daquilo que não é artístico.

 Teorias não essencialistas acerca da arte


Já as teorias não essencialistas consideram que o universo artístico é tao complexo e polissémico,
que qualquer tentativa de o encerrar num conjunto de qualidades essências será sempre redutor.
Defendendo que aquilo que a realidade nos mostra é que o que faz algo ascender ao estatuo de
obra artística mais que qualquer qualidade essencial e intrínseca da obra são fatores extrínsecos,
isto é, fatores contextuais e culturais.

Teorias essencialistas
Teoria da arte como imitação/ representação:
A Teoria da arte como imitação (mimese) tem como base da sua tese central a definição que uma
obra é arte se, e só se, é produzida pelo o homem e imita algo. Para além da finalidade
contemplativa, qualquer obra, para ser considerada artística, deve ainda ter sido produzida pelo o
homem e imitar alguma coisa. Resumidamente:

 Finalidade da arte: imitar a realidade.


 Função do artista: mostrar a realidade tal como ela é.
 Prazer estético: resulta da observação da conformidade entre a obra e o modelo copiado.
Tendo a obra mais valor quão maior for essa conformidade.
Críticas:

 Nem toda a arte pretende imitar a realidade, como por exemplo, a arquitetura e a arte
abstrata. (demasiado excludente)
 E como podemos avaliar o grau de fidelidade com que uma obra imita a realidade, se não
pudermos aceder a essa realidade?
Teoria expressionista:
Com o surgimento da Teoria da arte como expressão o universo artístico sofre uma revolução. Para
de estar em causa a realidade e o mundo visível, que devia ser fidedignamente copiado e foca-se na
realidade interior e emocional do próprio artista. Um objeto só poderia ser considerado artístico se,
para além da sua finalidade contemplativa, exprimir sentimentos e emoções (dai ser apelidada
Teoria emocionalista da arte). Resumidamente:

 Finalidade da arte: exprimir e comunicar sentimentos (por exemplo através do uso de cores
quentes).
 Função do artista: provocar nos outros o mesmo sentimento que o afeta.
 Prazer estético: resulta da identificação com o sentimento transmitido.

Críticas:

 Nem toda a arte pretende exprimir sentimentos e comunicá-los.


 O sentimento que o artista expressa não é necessariamente o mesmo que aquele que o
espetador sente.
 Os estados mentais do artista podem ser inacessíveis, sendo os sentimentos estéticos
dependentes de contextos culturais muito específicos. Fazendo com que nós, privados deste
contexto, por vezes corremos o risco de nem sequer entender o sentimento que o artista
pretende comunicar.

Teoria da arte como forma significante:


A Teoria da arte como forma significante levou ao desprendimento face ao conteúdo e à
mensagem. Ou seja, segundo esta teoria, o conteúdo, ou a mensagem, da obra artística passa a ser
irrelevante como critério definidor da obra de arte. O trabalho do artista consistirá apenas em criar
obra que, pela sua qualidade formal, desencadeiam a uma experiência estética no observador.
Destaca-se Clive Bell, que afirma que uma obra só poderia ser considerada artística se, e só se,
apresentasse uma forma significante capaz de despertar no espetador uma experiência estética.
Segundo ele, a forma significante é a única qualidade comum a todas as obras de arte visual, e
consiste numa combinação de linhas e cores, certas formas, que despertam as nossas emoções
estéticas. (petição de princípio, argumento circular)
Isto leva a conclusão que a experiência estética é completamente subjetiva, porém para Clive Bell,
isto não é correto. Segundo ele, existe um jogo de cores e formas específico para possuir a Forma
Significante, para que uma obra possa ser efetivamente considerada artística. Acrescentando ainda
que essa especificidade estética formal deveria ser encontrada pelo próprio sujeito que faz a
apreciação, obrigatoriamente alguém com sensibilidade estética. Resumidamente:

 Finalidade da arte: criar objetos com qualidades estéticas formais.


 Função do artista: Proporcionar emoções estéticas a partir da combinação de formas.
 Prazer estética: o espetador obtém através da perceção do jogo de formas.
+
Críticas:

 Nem toda a arte se propõe ou consegue provocar emoções estéticas a partir da sua forma.
 Quase sempre a arte se apresenta como um todo, onde forma e conteúdo são inseparáveis.
 A arte não se restringe a aspetos visuais (ex. música).

NOTA: Platão vs Aristóteles


Para Platão, a criação artística (objetos artísticos) mais do que ajudar a conhecer a verdadeira
realidade, nos afastava do caminho do verdadeiro conhecimento. O que se compreende devido ao
seu contexto histórico, já que no seu tempo as grandes criações artísticas partiam de um princípio
de mimese, isto é, imitação. O artista procurava reproduzir nas suas obras a realidade, imitando-a,
copiando-a. Deste modo, as obras de arte eram uma cópia da realidade. Assim, Platão defendia que
se o nosso interesse é conhecer a realidade, então não pode ser nas cópias dos objetos naturais
(nas obras de arte) que procuramos a verdadeira beleza e o conhecimento supremo, mas sim a
partir dos modelos originais, os objetos naturais (objetos produzidos pela Natureza).
Já Aristóteles não defende que a arte afasta o ser humano do verdadeiro conhecimento. Segundo
este autor, se toda a realidade é sensível, então ela pode expressar-se através de qualquer forma
de sensibilidade, inclusive a mimese. Considerando que as obras de arte, os objetos artísticos, para
além de nos mostrarem eventuais possibilidades de a realidade sensível se manifestar, ainda
podem conter um caráter pedagógico, pois chamam a atenção para pormenores da realidade que
nos escapam. Assim, promovem sentimentos comuns e universais, preparando-nos para a vida em
comunidade.
Em suma: para Platão os objetos artísticos nos deseducam (pois afastam o nossa olhar da realidade,
focando a nossa atenção nas cópias) e para Aristóteles os objetos artísticos educam-nos (pois
promovem sentimentos comuns e universais que melhor nos preparam para a nossa integração na
sociedade).

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