Você está na página 1de 5

VII-Estética e filosofia da Arte

1)A experiência e o juízo estéticos


A experiência estética: sensibilidade, á beleza, particularmente á
beleza artística, e, por extensão, á reflexão
A experiência genética, está na base da que se aplica á arte.
construção da obra de arte, e envolve uma vertente  Experiência estética: A experiência
racional e uma outra mais sensível. A vertente estética é uma experiência polivalente, já
racional, implica a razão, já a vertente mais que pressupõe diferentes conceções do
sensível envolve mais o lado sentimental, os objeto específico da estética. É sempre
sentidos, e os afetos. Através de ambas, constrói- uma vivencia subjetiva de um prazer ou
se o sentido, ou seja, a significação da experiência desprazer provocado por um objeto, seja
estética. ele a contemplação da natureza ou de uma
A diferença entre ler um romance de obra de arte.
Saramago, observar uma pintura de Picasso e  Juízo estético: o juízo estético, ou juízo de
ouvir um relato desportivo, decorre dos próprios gosto, desinteressa-se pela existência do
objetos e não da experiência que deles temos. Uns seu objeto e, como tal, não requer a posse
serão obras de arte, o romance de Saramago e a nem o consumo, a utilidade ou a bondade
pintura de Picasso, o outro não. Uns serão objetos do objeto contemplado. Por outro lado, na
belos, o outro já não. perspetiva de Kant, deve pretender o
Kant afirma que o belo é o que agrada consenso de cada um, sendo assim
universalmente sem conceito. Sabemos então que subjetivamente universal.
o conceito é o que nos permite identificar sem  Juízo de gosto: A partir do seculo XVIII,
qualquer equívoco alguma coisa e posteriormente o termo designa a tendência para julgar
construir um juízo sobre ela. corretamente os objetos do sentimento.
Para Kant, a experiência estética está Atualmente, o princípio de tal faculdade é,
ligada ao juízo estético e uma e outro são em geral, identificado com o senso
subjetivos. comum. Como diz Kant, na Crítica da
Resumindo, a estética é a disciplina que Faculdade do Juízo, “somente formulando
sistematiza racionalmente as experiências da a hipótese da existência do senso comum é
beleza. Segundo Baumgarten, a estética é uma que se pode pronunciar o julgamento de
teoria do conhecimento sensível. Algumas das gosto.” É, como tal, instrumento do
questões são: o que é uma experiência estética? O discernimento estético, capacidade de
que é um juízo estético? Os juízos estéticos são reconhecer o belo, de fazer um juízo sobre
objetivos ou subjetivos? as obras de arte ou sobre a natureza.

Concluímos então que:


O juízo estético:
Para Kant, o prazer estético é puramente Kant
contemplativo e, por isso, desinteressado,
uma vez que:
 Não possui qualquer interesse pratico; Diferentes prazeres
 Não se funda em conceitos;
 Não depende da experiência real do
representado;

Alguns conceitos...
O prazer do
 Estética: nasce a partir do momento em bom obtém-se
O prazer do O prazer do belo
agradável é desinteressado,
que a criticado “gosto”, ou seja, a reflexão da satisfação obtém-se da não depende
sobre as condições que permitem de uma satisfação de nem dos desejos,
avaliar algo como belo, substitui qualquer qualquer um qualquer nem das
dogmática do belo. Emprega-se necessidade desejo pessoal. necessidades ou
pratica dos
vulgarmente como sinonimo de belo ou
como designação daquilo se refere á conhecimentos.
beleza. A estética corresponde á teoria da
só no objeto. Como tal, a sua beleza é
independente daquilo que o sujeito sente.
 Independentemente de conseguirmos ou
A natureza dos juízos estéticos não captar essas propriedades que
determinam a beleza dos objetos, elas
existem de facto no objeto e constituem-se
A beleza está nos olhos de quem a vê.
como o critério objetivo de caracterização
O belo depende das propriedades dos objetos.
Existem perspetivas relativamente á do belo.
natureza dos juízos estéticos, e estão apresentados Alguns conceitos....
abaixo:  Belo: o belo natural deve distinguir-se do
belo artístico; só este, saído de uma
Subjetivismo estético: atividade do espírito humano, justifica
 Perspetiva na qual se integra a teoria plenamente essa classificação. Podemos
kantiana e que afirma que um objeto é belo distinguir, numa primeira aproximação,
em virtude do que sentimos quando o duas aceções do conceito de belo. Em
observamos. Como tal, a beleza depende sentido lato, é tudo o que vemos, ouvimos
daquilo que o espectador sente. ou imaginamos com prazer e aprovação.
 O belo ou a beleza é uma questão de gosto Em sentido restrito, identifica-se com o
ou preferência pessoal, sendo que as sublime. Só o belo em sentido estrito é
propriedades dos objetos nada contam para uma categoria especificamente estética.
a sua apreciação.  Sublime: Qualidade de uma beleza
surpreendente que desperta sentimentos
Objetivismo estético: muito intensos, colocando em jogo a ideia
 Perspetiva onde podemos situar Platão de transcendência ou de infinito. Enquanto
(século IV a.C) e que defende que um o belo é acabado e apaziguador, o sublime
objeto é belo em virtude das suas coloca-nos num estado de tensão e de
propriedades intrínsecas, isto é, das perturbação, que pode, por exemplo, ser
propriedades que se encontram no objeto e suscitado por objetos terríveis,
desmedidos, caóticos (vulcões, maremotos,
etc.)
2) A criação artística e a obra de arte
 A arte é um produto dos processos mentais do
Homem, que nasce da nossa vivência, sendo uma
O que é a arte? O que é um objeto experiência única, irredutível e que responde a
artístico? estímulos naturais. A arte exprime aquilo que se
passa na mente do artista, do criador; a música de
Arte o termo tem como raiz etimológica a Mozart comunica a intuição de Mozart ao público
palavra grega techné e o conceito latino ars, que que tenta recriar a emoção original da música.
designam a técnica, a perícia, assim como a Temos outros tipos de artes que são por exemplo:
criação artística, a procura do belo. Enquanto o Cinema, a dança, a pintura, a arquitetura, a
pratica, ela é a realização do artesão, aquele que escultura, etc.
domina uma arte no primeiro sentido, ou do  A arte foi durante muitos seculos entendida
artista, no qual um talento ou características como o território do belo, daí, a designação de
particulares o tornam apto a criar beleza. A arte, hoje em dia, as belas-artes. A beleza correspondia
no sentido de artesanato ou de técnica, não deve á ordem e á proporção e o feio era entendido como
ser oposta de forma rígida á criação artística, pois ausência de beleza, desordem e assimetria.
ela está longe de se reduzir á repetição de um A arte contemporânea veio alterar o conceito de
gesto irrefletido. A arte que visa a criação do belo arte, transformando e alargando os termos da
liberta-se, á partida, do útil e de um fim definição de obra de arte. A arte deixa de ser
determinado. exclusivamente o território do belo para se alargar
 A arte resume-se à busca de prazer a satisfação, a outras formas de ver, interpretar e comunicar o e
ao estado de se dedicar a algo em virtude da com o mundo. O feio, por exemplo, excluído do
natureza humana e, portanto, não pela utilidade ou território artístico durante seculos, é elevado a
conhecimento. categoria estética. Deixa, pois, de ser considerado
o polo negativo do belo e emerge enquanto
possibilidade artística.  A arte resulta de grupos de artistas, que se
 A beleza representa a ordem e a proporção; o reúnem em escolas, movimentos e
feio corresponde á desmedida, á desordem e correntes.
desarmonia.
 A arte contemporânea alterou a visão  A perceção desta evolução da arte coloca-nos
tradicional do belo e do feio, diluiu as fronteiras e um problema quanto a uma consensual definição
as definições. Esta indeterminação abriu as portas de arte e de obra de arte. Se, de uma forma mais
ao diálogo e á convivência entre perspetivas objetiva, as idades mais remotas da história nos
consideradas incompatíveis, transformando a arte deram uma definição, a arte contemporânea
num território de absoluta liberdade. contribui para a desconstrução das fronteiras das
definições de arte e obra de arte.
O conceito de arte  A obra de arte é uma produção humana, um
prazer sensível, é uma forma estética, é uma obra
Conceito de arte ao longo dos tempos: aberta. E acrescentar que é interpretação/
Antiguidade clássica (arte greco-romana): compreensão do mundo; expressão e liberdade;
comunicação; intermediaria entre o mundo
 Arte e técnica confundem-se interior e o mundo exterior; desejo de
 Artista e artesão confundem-se imortalidade. Permite concluir que a arte e a obra
de arte apelam aos conhecimentos, á inteligência,
 A arte é um saber fazer, é um
às tradições; aos sentimentos.
conhecimento técnico.
 Tudo isto ajuda-nos a dizer o que é a arte e a
 Na procura do belo, a regra, o cânone, é a
obra de arte, mas não serve para definir.
proporção, a harmonia para o espírito e
 Em arte pode fazer-se seja lá o que for, mas
para o olhar.
nem todo o seja lá o que for é arte.
 Uma coisa sabemos: a arte não é intervenção, é
Idade média:
criação. E isto distingue-a da técnica e da ciência.
 Arte e técnica continuam indistintas.
 Há um afastamento do saber teórico- artes
liberais (o conhecimento das escolas) - do A arte como imitação
saber fazer dos artesãos.
 A unidade medieval é dominada pela  Uma obra é arte, se e só se, imitar algo.
espiritualidade. A teoria da arte nasceu na Grécia Antiga
com os filósofos Platão e Aristóteles. Mesmo
Idade moderna: sendo as suas posições, imensamente distintas.
Por um lado, para Platão a arte é pura
 É marcada pelo Renascimento. ilusão da verdade. As artes, como a música e a
 A arte é a inspiração e genialidade. poesia, aos despertarem paixões e emoções,
desviam o ser humano do caminho das ideias e da
 Dá-se a rutura entre a arte (obras belas sem
virtude. Daí que Platão coordene os artistas.
qualquer utilidade) e a técnica (produção
Do lado oposto, Aristóteles considera que
de artefactos).
a imitação da arte é verdadeira, quer em termos de
 O fim da arte é o belo, que é considerado
conhecimento, quer em termos morais. Para ele, a
um valor.
imitação é natural ao ser humano. A arte é
 Aparece o termo “belas-artes” que se imitação do real e tem um efeito purificador.
distingue das “artes menores”, como a Neste sentido, a arte tem também uma função
cerâmica, a tecelagem, etc. pedagógica, pois fortalece a vida em comunidade.
Aristóteles apresenta a distinção que
Idade contemporânea: estabelece entre os diferentes tipos de imitação em
 Aparecem novas designações de arte: artes função dos meios utilizados para imitar, dos
plásticas, artes do espetáculo, arte popular, objetos a imitar e dos modos de imitar, sendo que
etc. os diferentes tipos de imitação correspondem às
diferentes formas artísticas de então.
 Dá-se a rutura com todos os princípios Segundo Aristóteles, a arte:
estéticos; o belo e o útil fundem-se.
É verdadeira  quer em termos de
conhecimento, quer em termos morais. Para Tolstoi a arte é um meio de
É imitação natural pois “contemplamos comunicação de sentimentos e de emoções por
com prazer as imagens mais exatas daquelas parte do artista, que deve conseguir transmiti-los
mesmas coisas que olhamos com repugnância, ao publico. Para ele só há arte se houver essa
como sejam, as representações de animais ferozes unidade do sentimento entre o artista e o publico.
e de cadáveres”. Este prazer seria similar ao Os critérios que Tolstoi considera que
prazer de aprender. podem definir a arte são os seguintes:
É uma invenção do real pois também C A particularidade do sentimento
pode ser imitação de coisas que ainda não têm transmitido;
realidade, mas que podem vir a tê-la. C A clareza da transmissão desse sentimento
Tem um efeito purificador é catarse C A sinceridade com que o artista
(termo de origem grega que significa purgação experimenta os sentimentos que transmite;
dos elementos perniciosos presentes no corpo)
Tem uma função pedagógica fortalece o Teoria da arte como expressão:
sentimento de vida comunitária. Aspetos a favor:
C Vários são os artistas que reconhecem que
Aspetos a favor e contra a teoria da arte como na origem da sua criação artística estão
imitação. emoções e sentimentos.
Aspetos a favor: C Apresenta um critério abrangente para
C É incontestável que muitas obras de arte classificar um objeto como obra de arte.
imitam algo: paisagens, pessoas, objetos, C O seu critério valorativo é claro, já que
etc. uma obra de arte será tanto melhor quanto
C A teoria dá-nos um critério para classificar conseguir expressar os sentimentos do seu
aquilo que pode ser considerado arte. criador.
C Dá-nos, igualmente, um critério para Críticas:
valorar as obras de arte. As melhores obras C Dificilmente se podem classificar como
de arte serão aquelas que melhor imitarem arte todas as obras de arte.
o objeto representado. C Há obras que não exprimem qualquer
Críticas: emoção ou sentimento.
C Quanto ao critério de classificação, a teoria C O critério de valoração falha, pois como
falha, pois há obras que são podemos saber se uma obra exprime
reconhecidamente arte e não são tidas exatamente as emoções do artista quando
como tal. ele já morreu ou decide ocultá-las?
C Já obras de arte que não imitam coisa C Não há qualquer garantia que aquilo que
alguma. A música instrumental, por sentimos perante uma obra de arte
exemplo, não parece imitar o que quer que corresponda ao sentimento seu criador. A
seja. Neste sentido, o seu critério sua condição necessária não se verifica.
valorativo falha.
C Como saber se uma obra imita ou não A arte como forma
realmente o seu objeto?  Uma obra é arte se, e só se, provocar emoções
estéticas.
A arte como expressão Esta teoria defende a ideia de que uma
 Uma obra é arte se, e só se, exprimir os obra é arte se, e só se, provocar emoções estéticas,
sentimentos e as emoções do artista. sendo que estas resultam da relação que o
Esta teoria, tenta ultrapassar as limitações observador estabelece com a obra de arte.
da teoria e da imitação colocando no criador a A teoria formalista, ou da forma
chave da compreensão da arte. Basicamente, o que significante, recusa a existência de uma
a teoria diz é que uma obra é arte somente se caraterística comum a todas as formas de arte.
exprimir os sentimentos e as emoções do artista e Assim, de acordo com o seu principal teorizador,
se este, pela sua criação, conseguir contagiar com o critico de arte Clive Bell, arte será tudo aquilo
os mesmos sentimentos e emoções o espectador. que provoca uma emoção estética. Para Bell, não
se deve procurar aquilo que define uma obra de
Emoções do artista obra de arte mesmas arte na própria obra, mas no sujeito que a aprecia.
emoções no espectador
Teoria da arte como forma. Segundo Bell, aquilo a que chama forma
Aspetos a favor: significante. A forma significante consiste numa
C Pode incluir todo o tipo de obras de arte. relação entre características que distinguem a
C Tudo o que provoque emoção estética é estrutura de uma obra de arte e não no seu
arte. Esta é a condição necessária e conteúdo. A forma significante é uma particular
suficiente para atribuir a designação de combinação de linhas e cores, de certas formas e
arte a um objeto. relações entre formas que despertam a emoção
Críticas: estética.
C Há quem não sinta nenhuma emoção A teoria formalista resolve o problema da
perante obras que são consideradas arte. definição de arte? Não. É verdade que nela cabem
C Centra a sua teoria nas artes visuais e todas as formas de arte e que a sua condição
extrapola as suas conclusões para todas as necessária e suficiente para definir arte é tudo o
formas de arte. que provoca emoção estética. No entanto, também
C Tem dificuldade em explicar de forma tem limitações. Há pessoas que não sentem nada
convincente o critério de forma perante objetos reconhecidos como arte. Depois, é
significante. difícil entender o critério da forma significante. É
C É uma teoria circular, já que define a uma teoria circular, pois a forma significante que
forma significante em função da emoção origina a emoção estética é, por sua vez,
estética e esta é definida como resultado da provocada por esta. Um outro ponto negativo é o
forma significante. facto de ser considerada uma teoria elitista, pois
C É uma teoria elitista, pois, segundo Bell, postula que só algumas pessoas conseguem sentir
nem todos conseguem sentir a emoção a emoção estética que a obra de arte transmite.
estética que uma obra de arte transmite.
Acredita que apenas um pequeno número
de afortunados a poderá sentir.

Você também pode gostar