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A experiência e o juízo estéticos.

Objetivismo e subjetivismo estéticos. A posição kantiana.

Juízo estético é uma proposição que atribui uma qualidade estética (belo, feio, sublime) a um
objeto; expressão da apreciação dos objetos em termos de beleza; exprime o que se passa na
experiência estética – comunica uma satisfação desinteressada e pura – implica que o objeto
considerado belo causa satisfação, independentemente de qualquer desejo, utilidade ou
interesse.

A experiência estética exprime-se através de juízos estéticos (exemplos: “a poesia de


Fernando Pessoa é de uma beleza inexcedível” ou que “ uma tempestade em alto mar é um
espetáculo grandioso e sublime”) que descrevem o modo como a realidade nos pode afetar –
são apreciações relativamente ao belo e às categorias afins.
Natureza dos juízos estéticos

Que tipo de justificação tem os juízos estéticos? De que dependem os juízos estéticos: das
propriedades dos objetos e que podem afetar todos os indivíduos ou da subjetividade daquele
que aprecia e vê?

Existem duas perspetivas acerca da natureza do belo: objetivismo estético e subjetivismo


estético

Objetivismo estético – página 231


Para o objetivismo estético (Platão – teoria dominante até ao século XVIII e nos nossos
dias encontrou defensores como Monroe Beardsley), os juízos estéticos:
 São objetivos (com o argumento de que as qualidades estéticas existem no objeto,
independentemente de o sujeito o apreciar ou não);
 Descrevem as qualidades estéticas do objeto (harmonia, unidade, proporção…)
 São suscetíveis de ser verdadeiros ou falsos, têm o mesmo estatuto dos juízos lógico-
cognitivos;
1. As características estéticas podem ser de dois tipos: específicas – relativas às
diferentes formas de arte ou a um certo tipo de objetos e gerais que são as que se
encontram em qualquer tipo de objetos: unidade, complexidade e intensidade.
Por exemplo, elogiar um filme porque não tem momentos mortos ou cenas
despropositadas, é elogiá-lo pela sua unidade. Elogiar uma peça musical porque
utiliza vários ritmos, instrumentos e tonalidades é elogiar a sua complexidade.
Censurar uma pintura pela falta de contraste, é censura-la por falta de identidade.
Uma obra de arte pode apresentar um conjunto de características específicas e
gerais que mais nenhuma exibe – por essa diversidade é que os juízos dos críticos
de arte não se limitam a dizer que uma obra é bela mas explicam por que razão
esse objeto é belo.

QUALIDADES ESTÉTICAS
Unidade Complexidade/Diversidade Intensidade
Princípio, meio e fim. Carácter Heterogeneidade dentro Introdução de elementos que
homogéneo da obra. (Por ex., da unidade. (Variedade de produzem impacto – por ex.,
enredo de uma história.) propriedades/evitar a repetição) pelo dramatismo conseguido.

Comentário crítico: há no objetivismo estético alguma dose de verdade pois as qualidades


estéticas dependem obviamente do objeto mas, por outro lado, também dependem da
apreciação que o sujeito faz do objeto.

1. Vantagens: Apresenta critérios para distinguir o que é arte daquilo que não é
2. Aspetos negativos: Pretende impor regras ao objeto estético; Essas regras são
ensinadas; O sentimento e o juízo estéticos são subjetivos e, por isso, podem ou
não ser provocados pelas características dos objetos; não elimina desacordos – as
opiniões divergem porque as obras não são avaliadas sob o mesmo ponto de vista
– há pessoas que assumem pontos de vista errados e outras que são insensíveis à
beleza.

Para o subjetivismo estético (Kant e D. Hume):


 as qualidades estéticas têm uma componente subjetiva e os juízos estéticos são
subjetivos porque exprimem um estado de espírito. (Página 230)
 a beleza resulta do que sentimos quando observamos as coisas – a beleza está nos
olhos de quem a vê – depende do gosto de cada um
 os objetos são belos ou feios de acordo com os sentimentos de prazer ou desprazer
que fazem surgir em nós – dizer «a Vénus de Milo é bela » significa que gosto da
Vénus de Milo,i.e., sinto prazer ao vê-la

Objeções:
 Se os juízos estéticos traduzem aquilo que cada um sente, então, gostos não se
discutem. Mas, se há desacordos também pode haver consensos
 Torna impossível a comunicação – se o belo for simplesmente aquilo que cada um
acha, a palavra belo tem um significado diferente para cada pessoa o que torna
impossível a comunicação
 Os juízos estéticos são autobiográficos - «X é belo significa gosto de X». Porém, não é
assim que as coisas se passam
 A beleza é uma questão de gosto mas nem todos os gostos valem o mesmo pois existe
o padrão do gosto que inclui princípios gerais de justificação

O subjetivismo levado às últimas consequências implica um relativismo extremo que Kant


procurou evitar, atribuindo a faculdade do gosto a todos os seres humanos que, se a usassem
devidamente, poderiam chegar a consenso.
Kant centra-se no sujeito, passando da consideração do belo em si para a teoria do belo para
nós – a apreciação do belo depende do sujeito, sendo uma questão de gosto
Manual – página 229

KANT – TIPOS DE JUÍZOS

Juízo empírico (científico) Juízo sobre o agradável e o Juízo de gosto


desagradável
Os metais são bons O vinho do Porto é delicioso. A Vénus de Milo é uma obra
condutores de calor. magnífica.
Objetivo Subjetivo Subjetivo, mas universal #

# o belo depende do agrado do sujeito mas esse agrado é suscetível de ser


experimentado por todos os sujeitos – daí a universalidade. A teoria kantiana é
demasiado especulativa – não existe evidência para fundamentar a tese de que há
uma faculdade do gosto específica e diferente das faculdades sensoriais e racionais
dos seres humanos.

Para Kant, um juízo estético teria de ser: desinteressado, comunicável e universal.

Kant
Algumas imperfeições:
 Raciocínio circular – o belo é o que provoca prazer desinteressado e o prazer
desinteressado é provocado pelo belo
 Não explica como se articula imaginação e entendimento na obtenção do prazer
estético.

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