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Valdézia Pereira1
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
1
Professora da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. Graduada em Artes e Direito.
Especialista em Artes Plásticas: suportes científicos e práxis. Especialista em Direito Ambiental.
Mestre em Teoria da Literatura. Doutora em Mídia e Conhecimento.
decisivo entre arte e realidade. Considerando-se serem a pintura, a escultura e a
arquitetura as formas artísticas visuais mais difundidas entre os gregos, coube ao
filósofo relegá-las a um plano inferior à beleza e à própria verdade, visto o caráter
ilusório dessas produções. Então, Platão tanto problematizou a existência, quanto a
finalidade das artes. Neste sentido, elas acabam tornando-se objeto de investigação
teórica. “É o pensamento racional que as interpela sobre o seu valor, sua razão de
ser e seu lugar na existência humana” (NUNES, 2000, p. 8).
O confronto da arte com a realidade, em Platão, terminou por depreciar
aquela. Os valores morais da arte, para ele, sintetizam o equilíbrio da alma com o
equilíbrio da vida social, mas a pintura e a escultura seduzem os indivíduos pela sua
falsa beleza, desviando-os da contemplação intelectual do verdadeiro e do bem.
Segundo D’Amaral (1984), o idealismo de Platão é a primeira forma de
elaboração da metafísica, construído no contato direto com a sofística, e por isto
reage extremamente a esta. A filosofia platônica concebe o real como ideal e
condena o mundo sensível como ilusão, quando estabelece a forma extrema da
supremacia do logos sobre a physis.
Já o realismo aristotélico, segundo o autor, inverte a concepção platônica,
retira da natureza do real o mundo ideal, “efetua uma realização da essência, uma
objetivação da natureza que acaba concedendo à physis um peso relativo na sua
oposição a logos” (D’AMARAL, 1984, p. 30). No entanto, reafirma o autor a
prevalência do logos, visto que a verdade da essência é o seu conceito. Assim, a
forma só ganha significado pela reflexão teórica, não por si só.
Sobre a produção e a edificação das imagens na Grécia, não fica claro
quem decidia o que fazer nem quem patrocinava a exposição dessas obras e a
construção de todo um aparato físico e mítico sobre as imagens produzidas. Assim,
se o artista, via de regra, era um trabalhador comum, não era este que, por meio de
sua capacidade expressiva ou criadora, determinava e patrocinava o que deveria ser
feito. Acredita-se que toda a construção da acrópole grega estava comprometida
em trazer à tona valores mais morais que estéticos, mais ideológicos que
transcendentes, mais encomendados que voluntários.
Por se tratar de um momento histórico, como outro qualquer, em que o
poder era/é imprescindível aos governantes, aliar o comportamento humano ao
comportamento dos deuses por meio do espetáculo público (onde esses aparecem
humanizados e os homens divinizados), favorecia a concretização de um espírito de
harmonia e cumplicidade, ou seja, favorecia a crença numa certa legitimidade do
povo. Todavia, também na Grécia democrática havia distinções de classes. Assim, a
realidade não poderia aparecer nas mesmas condições para os ‘cegos’ de Platão e
para aqueles que viam a ‘luz’. Então, parece ilusória a crença de que a arte grega
corresponde ao ideal da cultura democrática, levada à valorização das ações
humanas. Isto porque, acredita-se que os padrões de referência (políticos,
ideológicos, estéticos e éticos) não eram os mesmos para um filósofo esclarecido,
cujo ato específico de perceber é distanciado daquelas classes culturalmente menos
favorecidas.
Considerando-se essas questões históricas, determinantes não apenas
da produção de imagens no ocidente, mas das discussões sobre as mesmas,
buscar-se-á, no estudo proposto, refletir sobre a produção de imagens e sua
vinculação com processos sociais e políticos, bem como diferentes entendimentos
sobre a beleza e, posteriormente, sobre a estética, uma vez que não há que se
negar a importância da percepção e da sensibilidade em discussões dessa natureza.
Eis que a questão problema suscitada visa identificar se a imagens falam
por si, ou se refletem o contexto cultural no qual foram produzidas, ou, ainda, se as
duas instâncias: a imagem traz em si seus fundamentos, mas estes não se dão
apartados de circunstâncias sociais concretas, respondem pela discussão em tela.
Para Kant, segundo D’Amaral (1984), estaria nos objetos provocarem por
si mesmos o espírito, independentemente dos interesses práticos da vida. Trata-se
do que Kant irá chamar atitude contemplativa, desinteressada. Em Kant, a
autonomia do estético atinge sua plenitude conceitual por meio da Crítica do juízo,
considerada pelo autor em comento, como o primeiro tratado teórico-positivo na
direção do reforço do autonomismo (entendido, grosso modo, como a obra que ‘fala
por si’).
Entende, neste sentido, que o belo dá prazer; já o bom, está dirigido a
certos fins que faltam ao agradável e ao belo. Enquanto o bom só afeta a alma
racional, o gosto é simplesmente contemplativo.
Portanto, dos três tipos de deleite apresentados por Kant (o belo, o bom e
o agradável), só o gosto pela beleza é desinteressado e livre. Esta é a matriz do
pensamento autonomista apresentado por Kant e discutido por D’Amaral (1984).
Ante tal entendimento das discussões filosóficas sobre o objeto artístico,
destaca-se que o século XIX vive a descoberta da História. Isto, para D’Amaral
(1984, p. 55), significa que o solo do saber e do fazer passa a perseguir a origem, a
indagação das mudanças que inquietam o homem e suas relações com o meio em
que vive.
que deve ser a base de toda a ciência. Só quando a ciência começa pela
percepção sensível e da necessidade dos sentidos – isto é; só quando a
ciência começa pela natureza – ela é verdadeiramente ciência. Toda a
história é uma preparação, um desenvolvimento, para que o homem se
torne objeto da consciência sensível e para que as necessidades do
‘homem enquanto homem’ tornem-se necessidades (sensíveis) (MARX
apud EAGLETON, 1993 p. 147).
3. CONCLUSÃO
fazendo dela o estudo dos juízos de gosto, não importando que esses
juízos sejam individuais ou coletivos, pois derivam todos do espírito e
colocando portanto, a estética entre as ciências noológicas – outra,
conservando principalmente o caráter “coisista” da ciência, não admitindo
por conseguinte que a estética possa ocupar-se de juízos subjetivos por
definição, dando-lhe como objeto o estudo das “formas”.
BASTIDE, Roger. Arte e sociedade. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1979.
COELHO, Teixeira . Moderno pós moderno. São Paulo: Editora Iluminuras Ltda.
1995.
DUARTE, JR. João Francisco. O que é beleza? São Paulo: Brasiliense, 1986.