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Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio

FIL1815 – Estética – 2023.2


Matheus Araujo de Souza – 2012511 – T18A

Prova G1
Questão 1:
O conceito de autonomia na arte representa um marco crucial na relação entre artistas e suas
obras. Ele está intrinsecamente ligado à emancipação das obras de arte de suas antigas
finalidades utilitárias, em especial nas esferas da religião e da política. No passado, a arte era
predominantemente utilizada como uma ferramenta para representar o divino, narrar eventos
históricos ou transmitir conhecimentos, muitas vezes relegando os artistas ao papel de meros
executores das visões e mandatos de autoridades religiosas ou políticas.

No entanto, a partir da revolução democrática que se desencadeou no período do Iluminismo,


a arte experimentou uma profunda transformação. Os artistas foram alçados à vanguarda do
processo criativo. As obras de arte passaram a ter finalidades intrínsecas, existindo por si
mesmas, desvinculadas de qualquer propósito externo. Isso permitiu que os artistas
explorassem a natureza da produção artística, bem como a expressividade de suas próprias
perspectivas e visões de mundo. A autonomia artística desempenhou um papel crucial na
emancipação dos artistas e na capacitação da criatividade individual.

Essa transformação é fundamental para a compreensão da arte moderna. Ela não se limita
mais à mera reprodução fiel da realidade ou ao cumprimento de objetivos utilitários, mas se
concentra na liberdade criativa. Se tornou um campo onde a expressividade e a técnica de
produção são temas frequentes de exploração. Artistas têm a liberdade de experimentar,
inovar e desafiar as convenções estabelecidas, resultando em uma riqueza de movimentos e
estilos artísticos que caracterizam a era moderna.

O surgimento da estética como uma disciplina filosófica na mesma época não foi
coincidência. Com a autonomia da experiência provocada pela arte, surgiu a necessidade de
compreender os valores estéticos subjacentes. A estética se tornou essencial para teorizar a
expressão artística autônoma e para lidar com a subjetividade inerente à apreciação de uma
obra de arte. Questões relacionadas à beleza, gosto e julgamento estético passaram a ser
discutidas em profundidade, auxiliando na análise e apreciação da arte em um contexto mais
amplo.
Questão 2:
Entendemos a "Poética" de Aristóteles como uma resposta à compreensão da mimesis de
Platão, uma vez que ambos abordaram essa questão sob perspectivas contrastantes.

Platão, em sua obra "A República", condenava veementemente a mimesis na arte, chegando
ao ponto de sugerir a expulsão dos poetas da "Pólis ideal". Ele argumentava que a arte se
dedicava a criar cópias imperfeitas da realidade, o que seria prejudicial ao seu papel educador
na sociedade grega.

Para Platão, a mimesis tinha um efeito profundamente negativo na compreensão humana da


realidade. Dentro de sua argumentação, afirma que as obras de arte estão a dois graus de
separação da realidade. Isso significa que a arte é a cópia de um objeto físico, que, por sua
vez, é cópia da ideia do que ele deveria ser. Para Platão, centralizar a arte nas aparências
desviava as pessoas da busca pela verdade, mantendo-as aprisionadas em um "reino de
ilusões" no mundo sensível.

Por outro lado, Aristóteles via a mimesis com um papel positivo na formação do indivíduo.
Em sua obra "Poética", ele reconhecia a arte como uma imitação da realidade, mas
argumentava que, quando realizada de maneira adequada, a mimesis desempenhava um papel
crucial na compreensão da humanidade pelo indivíduo.

Através do processo de catarse, Aristóteles via os espectadores de uma obra de arte


experimentando uma variedade de emoções ao testemunhar eventos que se assemelhavam à
realidade. Para ele, esse processo era fundamental no desenvolvimento humano, pois permitia
que as pessoas vivenciassem situações sem o peso dos compromissos e das consequências da
realidade, possibilitando a superação de estigmas, medos e dificuldades.

Dessa forma, enquanto Platão via a mimesis como prejudicial e ilusória, Aristóteles a via
como uma ferramenta valiosa para o crescimento emocional e intelectual dos indivíduos,
proporcionando uma compreensão mais profunda das complexidades da experiência humana.
Questão 3:
Para compreender a obra de Hegel e sua teoria do "fim da arte", é fundamental
contextualizá-la no cenário histórico em que o filósofo nasceu e cresceu. Vivenciando as
inúmeras crises que afetaram a arte ao longo do século XIX, decorrentes dos avanços
tecnológicos da época, da secularização dos temas nas obras e da organização sistemática das
coleções nos museus (estes surgindo na segunda metade do século anterior), Hegel cresceu
em um momento de transição crucial para a arte.

O ato criativo estava perdendo algumas de suas finalidades tradicionais, dando lugar à
crescente importância da subjetividade tanto do artista quanto do espectador. Como observa
Pedro Sussekind, "[...] Hegel identifica uma expressão da subjetividade totalmente livre [...]
sem o compromisso de produzir uma arte bela como foi a grande arte do passado."
(SUSSEKIND, Pedro. Teoria do Fim da Arte. 1ª edição. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2017, p.
16).

Nesse contexto, a arte estava chegando ao seu "fim" como meio de representar a realidade ou
de idealizar o sublime. Essa transformação era ainda mais acelerada pela filosofia que, na
visão de Hegel, representava a forma mais elevada de expressão espiritual, capaz de abarcar e
integrar os conteúdos das artes em um sistema de pensamento mais completo e conceitual.

Além disso, a expressão "fim da arte" não apenas implica em um encerramento ou extinção,
mas também abre espaço para uma interpretação mais profunda relacionada à finalidade da
expressão artística. Hegel questiona não apenas a produção artística, mas também suas
motivações fundamentais. Com a evolução da arte moderna, as obras passaram a
desempenhar, pela primeira vez, um papel crítico na sociedade, desencadeando diversas
transformações políticas e sociais nos séculos subsequentes.

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