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Prova G1
Questão 1:
O conceito de autonomia na arte representa um marco crucial na relação entre artistas e suas
obras. Ele está intrinsecamente ligado à emancipação das obras de arte de suas antigas
finalidades utilitárias, em especial nas esferas da religião e da política. No passado, a arte era
predominantemente utilizada como uma ferramenta para representar o divino, narrar eventos
históricos ou transmitir conhecimentos, muitas vezes relegando os artistas ao papel de meros
executores das visões e mandatos de autoridades religiosas ou políticas.
Essa transformação é fundamental para a compreensão da arte moderna. Ela não se limita
mais à mera reprodução fiel da realidade ou ao cumprimento de objetivos utilitários, mas se
concentra na liberdade criativa. Se tornou um campo onde a expressividade e a técnica de
produção são temas frequentes de exploração. Artistas têm a liberdade de experimentar,
inovar e desafiar as convenções estabelecidas, resultando em uma riqueza de movimentos e
estilos artísticos que caracterizam a era moderna.
O surgimento da estética como uma disciplina filosófica na mesma época não foi
coincidência. Com a autonomia da experiência provocada pela arte, surgiu a necessidade de
compreender os valores estéticos subjacentes. A estética se tornou essencial para teorizar a
expressão artística autônoma e para lidar com a subjetividade inerente à apreciação de uma
obra de arte. Questões relacionadas à beleza, gosto e julgamento estético passaram a ser
discutidas em profundidade, auxiliando na análise e apreciação da arte em um contexto mais
amplo.
Questão 2:
Entendemos a "Poética" de Aristóteles como uma resposta à compreensão da mimesis de
Platão, uma vez que ambos abordaram essa questão sob perspectivas contrastantes.
Platão, em sua obra "A República", condenava veementemente a mimesis na arte, chegando
ao ponto de sugerir a expulsão dos poetas da "Pólis ideal". Ele argumentava que a arte se
dedicava a criar cópias imperfeitas da realidade, o que seria prejudicial ao seu papel educador
na sociedade grega.
Por outro lado, Aristóteles via a mimesis com um papel positivo na formação do indivíduo.
Em sua obra "Poética", ele reconhecia a arte como uma imitação da realidade, mas
argumentava que, quando realizada de maneira adequada, a mimesis desempenhava um papel
crucial na compreensão da humanidade pelo indivíduo.
Dessa forma, enquanto Platão via a mimesis como prejudicial e ilusória, Aristóteles a via
como uma ferramenta valiosa para o crescimento emocional e intelectual dos indivíduos,
proporcionando uma compreensão mais profunda das complexidades da experiência humana.
Questão 3:
Para compreender a obra de Hegel e sua teoria do "fim da arte", é fundamental
contextualizá-la no cenário histórico em que o filósofo nasceu e cresceu. Vivenciando as
inúmeras crises que afetaram a arte ao longo do século XIX, decorrentes dos avanços
tecnológicos da época, da secularização dos temas nas obras e da organização sistemática das
coleções nos museus (estes surgindo na segunda metade do século anterior), Hegel cresceu
em um momento de transição crucial para a arte.
O ato criativo estava perdendo algumas de suas finalidades tradicionais, dando lugar à
crescente importância da subjetividade tanto do artista quanto do espectador. Como observa
Pedro Sussekind, "[...] Hegel identifica uma expressão da subjetividade totalmente livre [...]
sem o compromisso de produzir uma arte bela como foi a grande arte do passado."
(SUSSEKIND, Pedro. Teoria do Fim da Arte. 1ª edição. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2017, p.
16).
Nesse contexto, a arte estava chegando ao seu "fim" como meio de representar a realidade ou
de idealizar o sublime. Essa transformação era ainda mais acelerada pela filosofia que, na
visão de Hegel, representava a forma mais elevada de expressão espiritual, capaz de abarcar e
integrar os conteúdos das artes em um sistema de pensamento mais completo e conceitual.
Além disso, a expressão "fim da arte" não apenas implica em um encerramento ou extinção,
mas também abre espaço para uma interpretação mais profunda relacionada à finalidade da
expressão artística. Hegel questiona não apenas a produção artística, mas também suas
motivações fundamentais. Com a evolução da arte moderna, as obras passaram a
desempenhar, pela primeira vez, um papel crítico na sociedade, desencadeando diversas
transformações políticas e sociais nos séculos subsequentes.