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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE ARTES E LETRAS


CURSO DE ARTES VISUAIS

Jamille Marin Coletto

RESENHA CONVITE À FILOSOFIA: O UNIVERSO DAS ARTES

No capítulo 3 “O universo das artes”, da unidade oito do livro “Convite à filosofia”,


publicado em 2000 pela editora Ática, Marilena Chaui explora o campo das artes, sua
construção e sua relação com a sociedade.

A autora inicia o capítulo com um poema de Fernando Pessoa, e por meio desse
poema e de exemplos de outros artistas, Chaui afirma que a arte tem o poder de
ressignificação da realidade, a artista tem a habilidade de transformar o cotidiano em
excepcional.

O capítulo continua com um breve histórico de como a Arte e o artista se encontram


perante a sociedade. Esse percurso tem início na Grécia Antiga com Platão e Aristóteles, que
classificavam as artes como atividades humanas de menor valor, por considerarem-na um
trabalho manual e não intelectual; na Renascença, com a valorização do trabalho e do corpo
humano, o campo das Artes também ganha prestígio e se torna um conhecimento; no final do
século XVII e início do século XVIII, o campo das artes se eleva com a diferenciação da
finalidade das artes manuais entre úteis e belas, e a partir dessa diferenciação a figura do
artista se distancia da técnica e se aproxima de uma figura mística, “um ser iluminado com a
inspiração”; por fim, no início do século XIX e XX, as artes se tornam um trabalho de
expressão, uma transfiguração da realidade.

Chaui traz a relação entre arte e religião, afirmando que a arte surgiu pela e para o
místico, a religião, a magia, para servir aos rituais e cultos e o artista se desenvolve como um
mágico, um gênio dotado de um dom divino.

Quanto às três principais pesquisas da Estética/Filosofia da arte a autora cita: a relação


entre arte e natureza, arte e humano e finalidades-funções da arte. A primeira relação entre
arte e natureza, e mais antiga, é a da imitação, onde a artista imita a natureza, representando-a
por determinado meio, valorizando o objeto imitado; a segunda é de criação, que se
desenvolve a partir do Romantismo, o artista se separa da natureza e torna-se um gênio
criador, dotado de inspiração divina, mágica, e a obra se concebe exteriormente aos seus
sentimentos; a terceira concepção é de expressão, que se desenvolve na sociedade industrial e
concebe a arte como expressão do artista, da sua cultura e de seu contexto social.

A relação entre arte e humano possui duas vertentes, a platônica e a aristotélica, ambas
se modificam e se reconstroem ao longo da história. A concepção aristotélica considera a arte
como atividade prática fabricadora. A concepção platônica considera o campo das artes um
conhecimento, porém num plano mais baixo; já na Renascença reformula-se essa concepção e
a consideram uma forma de acesso ao conhecimento verdadeiro e ao divino; no Romantismo
o conhecimento artístico encontra seu apogeu, considerando a arte como uma ferramenta
essencial para a filosofia, religião e a verdade.

Existem duas concepções quanto à finalidade e função da artes, a expressiva e a


pedagógica. Na função pedagógica, a arte é considerada um meio de educação moral, tem um
papel de crítica social e política. Na concepção expressiva a arte tem uma papel de
ressignificação da realidade, da cultura e da sociedade.

Marilena Chaui traz para discussão a perspectiva de Walter Benjamin que analisa a
relação de arte e sociedade no capitalismo. Na qual a arte se emancipa de seu uso ritualístico,
de acesso restrito e com função específica religiosos e místicos, para a democratização ao
acesso à arte na sociedade industrial, através da exposição e reprodutibilidade.

Apesar de capacidade de reprodutibilidade e a emancipação da arte quanto suas


funções religiosas, com a revolução industrial, a arte continua presa, agora às regras do
mercado capitalista, torna-se mercadoria. A cultura se torna status, assim, ao invés da
população ter acesso às obras culturais, informação e formação cultural, a indústria cultural
divide a sociedade em elite culta e massa inculta, tirando o direito de acesso à cultura e
produção cultural da massa. Além disso cria a ilusão de que todos têm acesso e fazem uma
livre escolha de consumir ou não determinadas obras culturais e produzir ou não obras
culturais. A indústria cultural banaliza a arte a produção intelectual e priva o direito à cultura.

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