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UM DIÁLOGO ENTRE (IDEIAS) : A REPRODUTIBILIDADE

TÉCNICA SEGUNDO BENJAMIN E O ARTISTA RADICANTE DE


BOURRIAUD
Aldeny Jose Cardoso dos Santos*
Fernando Antônio Gonçalves de Azevedo**

A arte moderna acompanhou, discutiu e precipitou, em larga medida, o


fenômeno do desaparecimento da aura da obra artística, comentado de
maneira brilhante por Walter Benjamin em 1935. A era da
"reprodutibilidade mecânica ilimitada" de fato prejudicou esse efeito
pararreligioso que Benjamin definia como "a aparição única de um
distante", propriedade tradicionalmente vinculada à arte. Paralelamente a
isso, no quadro de um movimento geral de emancipação, a modernidade
dedicou-se a criticar o predomínio da comunidade sobre o indivíduo, a
condenar sistematicamente as formas de alienação coletiva. Ora, o que
temos hoje? A sacralidade retorna por toda parte; há uma aspiração difusa
ao retorno da aura tradicional; não há palavras suficientes para criticar o
individualismo contemporâneo. Uma fase do projeto moderno encerrou-se.
Hoje, depois de dois séculos de luta pela singularidade e contra as pulsões
coletivas, é necessária uma nova síntese capaz de nos preservar do fantasma
regressivo, que atua um pouco por toda parte. Retomar a idéia de
pluralidade, para a cultura contemporânea nascida da modernidade, significa
inventar modos de estar-juntos, formas de interações que ultrapassem a
fatalidade das famílias, dos guetos do tecnoconvívio e das instituições
coletivas que nos são oferecidas. Não podemos dar prosseguimento à
modernidade a não ser superando as lutas que ela nos legou: em nossas
sociedades pós-industriais, o mais urgente não é mais a emancipação dos
indivíduos, e sim a da comunicação inter-humana, a emancipação da
dimensão relacional da existência. (BOURRIAUD, 2009)

Com a palavra, Fernando Azevedo....

Da Mentalidade do Mito à Desmitificação da Arte


Duas formas de perceber o artista e sua obra são evidentes na mentalidade da maioria de
nosso povo. A primeira vertente, de origem um tanto Romântica, concebe o artista como ser
superior - acima das contradições sociais - e a obra de arte como um grito da alma, emoção
levado ao limite da magia, uma espécie de estado de inspiração embriagadora. Nesta forma
de compreender o artista e sua obra, o caráter mágico da arte torna-se função essencial na
produção artística, parecendo deixar de lado os processos racionais do homem. A segunda
vertente percebe o artista como o ser humano vivendo como qualquer outro, sujeito as
contradições da sociedade, e a produção artística como algo que não pode fugir dos limites da
compreensão humana. Ou seja, a obra de arte, sobretudo, é compreendida como um processo
de trabalho consciente em que a inteligência é mobilizada assim como a emoção, no sentido
de dominar e transformar a “matéria-prima” em fato artístico.
Além de perceber o artista como ser superior, a primeira vertente concebe a sociedade como
harmônica, sempre voltada para integração de todos os seus participantes, sem distinções.
Qualquer desvio deve ser entendido como mero acidente, que por isso mesmo, há de ser
corrigido pela educação. Garantindo assim a construção de uma sociedade igualitária que
pressupõe o acesso de “todos” aos bens artísticos, filosóficos, científicos, históricos, culturais,
entre outros.
Podemos dizer que essa concepção está fundada em uma base filosófica Idealista,
apresentando também o caráter ideológico Liberal quando pressupõe que o artista é
pré-determinado misticamente pelo “dom”, ou pela “inspiração”, ou ainda, justifica-se o
artista pelo determinismo biológico “se nasce artista”. Convém ressaltar que, de uma maneira
geral, o senso comum não distingue entre o determinismo místico e o biológico, difundindo a
ideia de que se nasce artista (ou não) portanto, pode-se prescindir de uma preparação, estudo,
trabalho, pesquisa e avaliação.
Por outro lado, não podemos esquecer que vivemos em uma sociedade capitalista e
industrializada em que as diferenças de classe excluem e determina a priori o acesso dos
indivíduos aos bens. Convém ressaltar que nossa organização social de cunho industrial
caracteriza-se pela produção em série, imprimindo no ser humano a necessidade de
auto-alienação na medida em que a uniformidade de pensamento/ação torna-se exigência do
processo de massificação imposto. Nesse sentido a simulação ou ilusório deve sobrepor-se a
qualquer tentativa de criatividade e crítica a tais padrões.
Assim sendo, o fazer artístico, entendido como acesso aos meios de produção da arte, devem
ser evitados para a maioria do nosso povo, o que nada mais é do que a reprodução na divisão
de classes, pois as elites detêm o acesso tanto o produto quanto aos meios de produção da
arte. De alguma forma eles tentam justificar esta divisão de classes, apregoando que a arte é
um “hobby”, ou distração, ou ainda, entretenimento efêmero - um luxo - que pode ser
perfeitamente dispensado. Com essa visão, as elites disfarçam as desigualdades sociais,
reservando ao povo o acesso a arte de má qualidade, que poderíamos denominar de arte de
mídia.
Nesse sentido, a mídia confere ao artista o poder de criar magicamente, sempre envolto em
mistério - detendo um conhecimento e um fazer que a grande maioria percebe como espécie
de alquimia - apresentando quase sempre um comportamento excêntrico que o torna mais
distante e acima dos simples mortais. Objetivando aprofundar nossa discussão partiremos das
ideias de Walter Benjamin em seu texto ​A obra de arte na era de sua reprodutibilidade
técnica​. Segundo Benjamin, a descoberta da fotografia e a sua utilização para multiplicar e
difundir a arte é um fato histórico-social que altera significativamente a questão estética da
produção artística, pois é neste momento que o eixo da arte se desloca do Ritual para o
Político. Tal afirmação nos remete a uma outra questão: a Arte da mídia, ou ainda, uma outra
espécie de aura que se cria a partir da era da mídia. Esta nova espécie de aura está
comprometida com o efêmero, o fugaz, a simulação e a novidade.
O que nos leva a ousar admitir que, atualmente, o eixo da função social da arte transporta-se
do político para o Ideológico. Na verdade a arte na era da mídia basta ser notícia, e aí ela
adquire sua função social, que por sua vez é passageira, pois para mídia interessa o simulacro
da obra de arte. Esta simulação nos parece advir do princípio ideológico em que o espírito
crítico e transgressor do artista e sua obra é substituído por um espírito de auto-alienação,
propondo obras que devem ser de fácil consumo, desvinculados de qualquer questão mais
profunda sobre a articulação política entre estética e ética.
Dessa forma a arte de mídia favorece uma prática de relações sociais de cunho excludente,
como se a estetização da alienação fosse a grande obra de arte que a humanidade pudesse
produzir, de forma que a produção artística deve trazer em sua essência a capacidade de
acomodar a humanidade, favorecendo o domínio das elites sobre a maioria da população.
Já a segunda vertente, por outro lado, pensa o artista como um ser no mundo, envolvido com
a humanidade, suas contradições e adversidades, como diz Fernando Pessoa em um trecho de
seu poema ​O Guardador de Rebanhos:
“E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas
tábuas....”
Assim, o artista dessa sua aura de superioridade e mistério, toma seu trabalho como algo
inteligível, e portanto possível de ser ensinado e aprendido. Ernest Fischer em seu trabalho ​A
Necessidade da Arte ​(1987), nos chama atenção:
É verdade que a função essencial da arte para uma classe destinada a
transformar o mundo não é de fazer mágica e sim esclarecer e incitar à ação;
mas é igualmente verdade que o resíduo mágico na arte não pode ser
inteiramente eliminado, de vez que sem esse resíduo provindo de sua
natureza original, a arte deixa de ser arte.

Portanto separar os processos sensíveis/emocionais dos processos cognitivos do homem é um


artifício ideológico que precisa ser denunciado e evitado, pois além das funções acima
mencionadas “arte como mágica e arte como instrução” pensamos que uma sociedades será
verdadeiramente adulta e democrática quando favorecer o acesso de todos aos bens de uma
maneira ampla e integrada.
O Movimento de Arteducação que surgiu no Brasil por volta dos anos 1970/1980,
identifica-se com a proposta dessa segunda vertente. Hoje quando uma nova Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional já foi aprovada na Câmara Federal, elevando a Arte à
categoria de disciplina do saber escolar, o que significa que esta área do conhecimento possui
conteúdos próprios e epistemologias das linguagens artísticas. Logo, se faz urgente repensar a
prática pedagógica na perspectiva de desmistificação das linguagens artísticas. Trazer a arte
para o cotidiano da escola sem perder de vista a relação dialética entre a entrega (processo
sensíveis, emocionais e sociais) e a disciplina (processo sensíveis e cognitivos). Eis o desafio
do arteducador, sem no entanto, deixar de lado a função social que possui a Arte de
transgressora de padrões impostos e retrógrados, tão comuns em alguns segmentos da
educação escolar. Tarefa difícil, pois exige do professor uma postura política em relação a
sua contribuição à sociedade. Claro que não estamos querendo dizer com isso que, através do
ensino e aprendizagem da arte, a sociedade se transformará, pois seria simplista e cairíamos
no erro de idealizar o ensino da mesma. O que queremos é um ensino de arte de qualidade
como um ato político que precisa ser efetivado. Ou seja, o ensino da arte no âmbito da
educação escolar deve garantir, pelo menos para a maioria dos estudantes, o acesso a
conteúdos vivos e concretos ligados em formas reais às realidades sociais, mas apesar da luta
pelo ensino da arte como um bem acessível a todos e, portanto, uma possibilidade de
interferência na sociedade, ainda nos parece distante sua concretização, uma vez que a nossa
organização social apresenta-se contraditória quanto a essa aspiração, pois se por um lado o
movimento de Arteducação ganha a arte como disciplina, no nova Constituição datada em
1988, é escorregadia quanto ao dever do Estado.
A seguir, tentaremos analisar o artigo 208, mais precisamente Inciso V, à luz das ideias do
filósofo da educação Demerval Saviani. Nosso referencial teórico pode ser encontrado no
texto “A Análise Crítica da Organização Escolar Brasileira” através das leis nº 5540/68º e
5692/71º da obra ​Educação do Senso Comum à Consciência Filosófica ​(1991).
Segundo Saviani, “para se compreender o real significado da legislação não basta ater-se à
letra da lei é preciso captar o seu espírito”, na realidade, o que é importante analisar na lei
está além das palavras, devemos procurar nas entrelinhas qual contexto filosófico, social e
político que ela reflete tentando desta maneira investigar quais os princípios sociais que a
norteiam, em que bases filosóficas a lei está fundamentada, em última análise a que ideologia
ela venha servir. A nossa mais recente1 constituição diz no artigo 208, quanto ao dever do
Estado com a educação no Inciso V: “Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa
e da criação artística segundo a capacidade de cada um….”. A própria lei evidencia a
compreensão da educação como artigo de luxo ou refinamento e por isso direito de alguns
poucos, ou um bem que está acima do alcance da maioria do povo. O texto da constituição é
mais forte ainda quando fecha a questão esclarecendo: “segundo a capacidade de cada um”.
Desta forma retira do Estado a responsabilidade quanto ao dever de tornar acessível ensino da
arte de qualidade, reafirmando o caráter elitista dos bens, quer sejam científico, quer sejam
artístico e quer ser sejam filosóficos (de maneira excludente), pré-determinando cada classe
social em seu lugar. A lógica da lei parece tentar justificar as desigualdades sociais colocando
que a dificuldade de acesso a tais bens podem ser superadas através da capacidade de cada
indivíduo, o que nos remete à ideia do personagem herói - que nada mais é do que o ser
humano como o senhor absoluto de suas ações. Nesse caso, a lei esquece que as necessidades
materiais e as limitações do exercício da liberdade humana decorre, não dá vontade
individual - como propõe os idealistas e liberais - mas de todo um complexo sistema de
relações sociais.
Considerações…
Diante deste quadro, nós, arteducadores, somos levados afirmar que encontramos introjetada
na mentalidade da maioria dos nossos estudantes, educadores, artistas e do povo em geral a

1
Como o texto foi elaborado em 1993, a constituição de 1988 é considerada recente para a época.
ideia de que o artista nasce artista, ou seja, a ideologia do “dom” no caso está bem assimilado
e acomodada, como refletem os depoimentos abaixo:
“Cheguei na sala como cega, pois não tenho nenhuma formação em arte. Mas sempre
acreditamos que a arte é muito importante, é um dom do ser humano”. Aluna de Pedagogia
“Esses desencontros deveriam servir para despertar a paz de espírito inspiração, em nossos
alunos”. Aluna de Pedagogia
“Até então não tínhamos um razoável aprofundamento de como trabalhar Arte na
alfabetização”. Alfabetizadora
“Tinha noção que a arte era apenas um exercício mais”. Alfabetizadora
Portanto, recorremos novamente ao poeta Fernando Pessoa em sequência do poema citado
anteriormente neste trabalho:
“Que triste não saber florir!
Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói
um muro
E ver que está bem e tirar se não está!...
Quando a única casa artística é a Terra toda…”

O que nos leva a compreender metaforicamente a dimensão de nossa profissão: alfabetizar


esteticamente seria, de forma genérica, a necessidade de instrumentalizar pela aquisição do
conhecimento artístico para ler e reler, elaborar e reelaborar a obra de arte. Sem esquecer que
assim forjaremos a formação de um espírito crítico e criativo na relação do ser humano com o
tempo e o espaço. O que implica na aquisição de repertório mais amplo de expressão
sensível, simbólica e humana. É fato inconteste que o homem desde tempos imemoriais fez
Arte e tentou comunicar através dela suas angústias, medos, alegrias, amores, realizações e
perplexidades, o que nos remete a uma questão: O que querem de nós quando nos impedem o
acesso e a posse de uma alfabetização estética de qualidade?
Na realidade, a raiz dessa questão é a privação da maioria do nosso povo aos códigos da arte,
no sentido de que o contrário vem possibilitar a elaboração de uma leitura e “escrita” própria
de cada pessoa, independente da classe social. Ressaltamos que cabe ao arteducador a difícil
tarefa de tentar possibilitar a ruptura da mentalidade do mito a desmitificação da arte,
elevando a educação a um patamar de qualidade no sentido de que, através de uma educação
comprometida com as questões concretas e sensíveis do homem e de suas relações sociais,
seremos mais resistente às ideologias de dominação, domesticação e alienação.
Com a palavra, Aldeny J. Cardoso dos Santos....

É importante lembrar que, o material acima foi feito em 1993, para o 6º Congresso da
Federação de Arte-Educadores do Brasil, entretanto, mesmo tendo sido publicado há 26 anos
atrás, a sua fala quanto à ideia que se tem do Artista é extremamente atual, sendo deveras
interessante, para o contexto atual, um adendo, apresentando a visão do próprio pelos olhos
(escrita) de Nicolas Bourriaud, o Artista Radicante. Logo, gostaria de apresentar esse
pequeno ​Post-Scriptum​:

A desmitificação da Arte e o Artista Radicante, uma questão de Identidade.

Como a peste, o teatro é [...] Uma formidável convocação de forças que


conduz o espírito […] Se o teatro essencial é como a peste, não é por ser
contagioso, mas sim porque, como a peste, é a revelação, a ascensão do
primeiro plano, a exteriorização de um fundo de crueldade latente através do
qual de localizam num indivíduo ou num povo todos as possibilidades
perversas do espírito. (ARTAUD, 1938)

Ao fazer uma primeira lida sobre o Texto “Da Mentalidade do Mito à Desmitificação da
Arte” de Fernando Azevedo, podemos ver uma forte crítica quanto ao ver o artista como um
ser mítico, aquele que está acima das diretrizes históricas, das leis morais vigentes e dos
conflitos sociais e interpessoais, como alguém que devesse se manter antes de tudo Neutro,
pois teríamos “o artista como ser superior” que “concebe a sociedade como harmônica,
sempre voltada para a integração de todos os seus participantes, sem distinção” (AZEVEDO,
1993), ou seja, o artista, como ser mítico dever-se-ia manter como alguém que não propõe
uma arte crítica, que não apresentas as falhas sociais, e que além disso, não apresenta as
injustiças na sociedade em que vive, além do mais, o artista estaria tão distante da própria
sociedade que a sua arte só teria a função de entreter, nunca de questionar.
Seria como se o artista não apresentasse raízes naquela sociedade, como se o artista não
apresentasse uma identidade naquele lugar/período sócio-histórico, pois ele estaria acima
disso, como algum tipo de entidade divina. Porém, como bem dita o autor em uma das suas
visões, ele é um ser humano, como qualquer outro e que está “sujeito às contradições da
sociedade”, sendo assim a arte nunca deve ser desvincular de qualquer contexto histórico, ou
social, pois se o humano é um ser Político de natureza como diz Aristóteles, a arte, a sua
obra, também é política. Entretanto, para que a arte política se faça sentido, deve-se haver
uma compreensão aprofundada e enraizada daquilo que a arte está criticando, sendo assim, o
artista deve adotar uma postura de criar raízes em na sua realidade, e buscar outras
(realidades) para se fundamentar, e com isso criar novas raízes, conceitos, pensares e
identidades, se tornando um Artista Radicante.
Artista Radicante, segundo a leitura da resenha “A Altermodernidade de Nicolas Bourriaud”,
escrita por Ricardo Nascimento Fabbini, é aquele Artista que graças ao contato com o mundo
globalizado desenvolve e cria raízes não só em seu “território” (FABBINI, 2012), mas em
outros em que ele interage e se recria, permitindo até que outras pessoas possam se recriar a
partir da arte. Todavia, qual seria importância para um artista de criar várias raízes? E o que
isso tem a ver com o olhar crítico da arte?
Para responder essas perguntas voltemos ao texto de Fernando Azevedo, no qual o autor diz
que “o eixo da função social da arte transporta-se do Político para o Ideológico”2, logo, para
que a arte exista de forma crítica social, o artista deve imbuir-se de uma Ideologia, porém
para que tal feito seja possível, o artista precisa antes construir a sua identidade. A construção
de uma identidade em um mundo globalizado, no qual várias culturas são oferecidas como
um cardápio de consumo, assim sendo, como materiais expostos de forma superficial, é
extremamente difícil, pois o artista precisa aprender a construir raízes e se fincar
emocional/racionalmente em seu território, ignorando qualquer meio
midiático/consumista/panfletário do seu ambiente, entrando assim em um processo de
identificação própria com o território, passando assim por um processo de pertencimento, que
pode levar anos e que nem sempre sai como o esperado.
Todavia, mesmo com todo esse processo, a construção de ideologias críticas necessita que o
artista passe a conhecer outros territórios e a partir disso, construir novas raízes, sem esquecer
as suas raízes originais, logo, fazendo uma troca/conexão cultural, permitindo assim que o
artista crie “novos modos possíveis de habitar o mundo existente” (BOURRIAUD, 2009,
apud FABBINI, 2012). Ou seja, se faz necessário que se quebre a ideia de que o artista é
alguém que se nasce pronto por causa de um “dom”, como bem fala Azevedo, e se volte a
perceber que o artista é alguém que precisa criar a sua própria identidade, através de estudo,

2
Fernando apresenta essa relação com base em Walter Benjamin, na obra ​A obra de arte na era
de sua reprodutibilidade técnica​ se apoiando no que ele diz sobre o impacto da fotografia no
sistema das Belas Artes, porém tal situação se enquadra, ao meu ver, para a Arte no geral.
preparação, pesquisa e avaliação do mundo, quebrando a ideia de Arte pela Arte, e com isso
surge a construção da Identidade Cultural do artista nesse mundo que se apresenta cada vez
mais diverso. Sendo assim, o artista ​se constrói a partir das suas vivências, não de uma
benção ou determinismo biológico.

Referências:

ARTAUD, Antonin. ​Le Théatre Et Son Double​. Paris: Gallimard, 1938.

AZEVEDO, Fernando Antônio Gonçalves de. ​Da Mentalidade do Mito à Desmitificação


da Arte. ​SUPLEMENTO CULTURAL. Recife-PE : Cepe. Novembro de 1993.

BARBOSA, Ana Mae.​ A Imagem no Ensino da Arte.​ São Paulo: Perspectiva, 1986.

BENJAMIN, Walter. A Obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Texto


original em alemão. Tradução José Lins Grunnenwald e publicado em A Idéia do Cinema,
Rio de Janeiro, 1969.

BOURRIAUD, Nicolas. Trad. BOTTMANN, Denise. ​Estética Relacional. São Paulo:


Martins Fontes, 2009.

FABBRINI, Ricardo Nascimento. A altermodernidade de Nicolas Bourriaud.


Trans/Form/Ação, v. 35, n. 3, p. 259-266, 2012.

FISCHER, Ernest.​ A Necessidade da Arte.​ Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.

SAVIANI, Demerval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo:


Cortez. 1991.

RAMOS, Cesar Augusto. Aristóteles e o sentido político da comunidade ante o


liberalismo.​ Kriterion: Revista de Filosofia, v. 55, n. 129, p. 61-77, 2014.
*Aldeny Jose Cardoso dos Santos:
Graduando em Licenciatura em Química, pela Universidade Federal de Pernambuco - Campus Acadêmico do
Agreste - UFPE CAA. Residente do projeto Residência Pedagógica pela CAPES. Ator do grupo proscênio de
teatro, SESC LER Surubim, participante das peças (Ator/Músico): Passaredo (2013); Aboio, uma toada ligeira
pra Surubim(2015); Opera D'Agua (2017).
E-mail: ​aldeny.cardoso05@gmail.com

** Fernando Antônio Gonçalves de Azevedo:


Graduado em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco (1976), Mestrado em Artes pela
Universidade de São Paulo (2001) e Doutor em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
(2014). Professor do curso de Pedagogia no Centro Acadêmica do Agreste da Universidade Federal de
Pernambuco - UFPE/CAA. Membro do grupo de estudos GEARTE ( Grupo de Pesquisa em Educação e Arte)
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Experiência na área de Artes, com ênfase em Ensino de Arte,
atuando principalmente nos seguintes temas: arte educação, história da arte educação, educação especial, ensino
de arte, formação continuada de professores e inclusão social e cultural, além de Filosofia e Filosofia da
Educação.
E-mail: ​f_zevedo@hotmail.com

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