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Texto: CANCLINI, Néstor García. Das utopias ao mercado. In: __________. Culturas Híbridas:
estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: EDUSP, 1997.
A imaginação emancipada?
Canclini analisa as contradições entre esses projetos. A primeira é como construir espaços de
saber e de criação que se desenvolvam com autonomia se as práticas de mercado tornam os bens
artísticos seus dependentes? Canclini retoma o pensamento de diversos autores, como Habermas,
Bourdieu e Becker. O primeiro diz que a arte deve continuar suas experimentações autônomas e
reaproximar essa forma de cultura especializada à práxis diária, para que essa não se empobreça a
partir da repetição de tradições.
Bourdieu e Becker já acham que a cultura moderna se distancia de todo o período anterior
por ser um espaço autônomo dentro da estrutura social. Bourdieu ainda acrescenta que a arte, a
partir da formação de campos específicos de gosto e de conhecimento, serve de distinção social. O
consumo nesse caso seria uma forma de instaurar e comunicar as diferenças, sobretudo no que
tange à arte.
Canclini diz que é preciso aprofundar esse pensamento de Bourdieu para entender a dialética
existente entre divulgação e distinção. Como entender a distinção quando os museus recebem
milhões de visitantes e as obras literárias clássicas são consumidas em supermercados?
Becker explica que por vezes os trabalhos artísticos possuem conhecimentos e convenções
fixados em oposição ao saber comum. Dessa forma, seria possível criar uma distinção entre, por
exemplo, o público assíduo e que pode colaborar ativamente como coautor da obra e aquele que é
ocasional. No entanto, ele também menciona os artistas que incorporam em suas obras as formas
ordinárias e comuns de representação do real. Dessa forma, ele evidencia que os mundos da arte
são múltiplos, não se separando de maneira absoluta entre eles e nem em relação à vida social.
Em termos de conflitos de integrantes do mundo da arte, a obra de Bourdieu auxilia muito
mais. Para ele, todo campo cultura é essencialmente um campo de luta pela apropriação do
capital simbólico.