Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Patrimônio
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8
UNIDADE I
ARTES NO BRASIL ANTES DO SÉCULO XVI.............................................................................................. 11
CAPÍTULO 1
ARTE RUPESTRE BRASILEIRA...................................................................................................... 11
CAPÍTULO 2
ARTES INDÍGENAS BRASILEIRAS................................................................................................ 20
UNIDADE II
ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX..................................................................................... 29
CAPÍTULO 1
MISSÃO HOLANDESA............................................................................................................... 29
CAPÍTULO 2
ARTE BARROCA BRASILEIRA..................................................................................................... 37
CAPÍTULO 3
MISSÃO FRANCESA................................................................................................................. 45
CAPÍTULO 4
ARTE ACADÊMICA................................................................................................................... 52
UNIDADE III
ARTES NO BRASIL NO SÉCULO XX......................................................................................................... 61
CAPÍTULO 1
CONTEXTO DO SÉCULO XX E O INÍCIO DO MODERNISMO...................................................... 61
CAPÍTULO 2
O CENÁRIO ARTÍSTICO ANTES DA SEMANA DE 1922................................................................ 63
CAPÍTULO 3
SEMANA DE 1922................................................................................................................... 65
CAPÍTULO 4
REPERCUSSÕES APÓS 1922.................................................................................................... 67
CAPÍTULO 5
CONCRETISMO NO BRASIL...................................................................................................... 71
CAPÍTULO 6
ARQUITETURA MODERNA......................................................................................................... 74
UNIDADE IV
ARTE, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO............................................................................................................ 78
CAPÍTULO 1
ARTE E CULTURA...................................................................................................................... 78
CAPÍTULO 2
CULTURA E PATRIMÔNIO.......................................................................................................... 80
CAPÍTULO 3
PATRIMÔNIO E LEGISLAÇÕES................................................................................................... 82
CAPÍTULO 4
PATRIMÔNIOS HISTÓRICOS E CULTURAIS NO BRASIL.................................................................. 86
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 91
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
7
Introdução
Prezado estudante, seja bem-vindo à disciplina História da Arte no Brasil,
Memória e Patrimônio. Aqui estudaremos a História da Arte no Brasil desde
antes da descoberta do país até meados do século XX, podendo identificar não só
importantes artistas e suas obras, mas também, as fases marcadas por diferentes
momentos do país.
8
moderna no Brasil. Tendo Brasília como exemplo, conheceremos importantes
artistas e suas obras que se tornaram marco artístico e patrimonial.
Por último, na Unidade IV, falaremos das artes no âmbito cultural e patrimonial,
trazendo à tona conceitos e leis que determinam sobre a escolha, a preservação
e a divulgação de diferentes bens, incluindo registros artísticos, considerados
importantes para a nação e para a humanidade. Por fim, conheceremos alguns
destes patrimônios localizados no território brasileiro.
Objetivos
» Conhecer os diferentes momentos da História da Arte no Brasil.
9
10
ARTES NO BRASIL UNIDADE I
ANTES DO SÉCULO XVI
CAPÍTULO 1
Arte Rupestre Brasileira
Para falarmos sobre a Arte no Brasil e, assim, construirmos a História da Arte no Brasil,
cabe, da mesma forma que se faz quando se fala da História Geral da Arte, iniciarmos
pelos mais antigos registros artísticos que foram encontrados nesse imenso país.
11
UNIDADE I │ ARTES NO BRASIL ANTES DO SÉCULO XVI
Por essa descrição podemos confirmar o que foi dito anteriormente sobre as linguagens
artísticas utilizadas para a elaboração da Arte Rupestre no Brasil. Como bem fala Gaspar
(2003), a pintura e a gravura foram eleitas para a gravação dos desenhos nas rochas
e cada uma destas linguagens contou com diversidade de técnicas próprias. A gravura
contou com técnicas, não só de picoteamento e incisão como também de polimento. Já
quando se fala da pintura, esta foi feita mediante diferentes técnicas para depósito da
tinta ou pigmentos sobre a rocha.
Algumas pinturas foram feitas a partir dos dedos dos homens que os tomaram por
pincéis, outras vezes utilizaram outros recursos como pelos de animais, galhos e
folhas ou ainda, pegaram pedaços de pedra colorida e esfregaram diretamente sobre
a superfície da rocha de suporte. Outra técnica utiliza na pintura foi o assopro de tinta
podendo ter sido feita a partir do preparo do pigmento em forma líquida ou em pó.
Para se chegar às cores desejadas, foram utilizados tanto pigmentos puros quanto tintas
obtidas pela mistura de pigmentos e outros materiais como água e saliva. O pigmento,
o elemento principal para dar cor aos registros, era obtido de forma natural como o uso
de sangue e de rochas coloridas e por outros processos diferentes como o esmagamento
de sementes e plantas e a queima de ossos e de madeira.
As cores que mais aparecem nos registros são o vermelho, o preto, o branco, o amarelo e
o cinza. Vale frisar que cada tipo de pigmento ou tinta apresenta durabilidade diferente
12
ARTES NO BRASIL ANTES DO SÉCULO XVI │ UNIDADE I
pelo que poderemos considerar que, certa porcentagem de registros das Arte Rupestre
feitos com pigmentos menos resistentes, foram se degradando ao longo dos anos, não
chegando ao nosso tempo.
Pelos registros que chegaram até nós, na Arte Rupestre Brasileira, foram representados
diversos temas que estavam intimamente relacionados com o lugar onde foram
produzidas. Os desenhos presentes nos registros representam desde animais como
onças, peixes, macacos, répteis e pássaros até figuras humanas em diferentes cenas
do cotidiano como as caças, os rituais, as danças entre outras atividades próprias do
homem daquela época.
Para além dos animais e dos humanos, outro tema foi representado e se configurou
por desenhos geométricos que se apresentavam de forma agrupada e por vezes em
repetição. São desenhos de círculos, triângulos, retângulos, linhas curvas e retas,
pontos entre outros. Segundo José Teixeira Leite (2015, p. 237), há indícios de
que os desenhos geométricos tenham sido feitos por consequência do consumo de
alucinógenos associados a rituais. Este fato seria uma forma de entender certo nível
de abstracionismo desenvolvido na Arte Rupestre em época tão remota.
É importante salientar que, em vários casos, a partir do estudo das tintas e pigmentos
dos registros, pode-se concluir que nem todos os desenhos feitos, por exemplo, num
mesmo painel ou próximos datam do mesmo período histórico. Esta situação mostra
que houve, ao longo dos tempos, sobreposições de desenhos na mesma superfície
que poderiam estar interagindo com uma mensagem pré-existente. Nesse pensar, é
possível observar a transformação de determinados registros, conhecendo de forma
mais concreta as mudanças ambientais e culturais que permearam ao longo do
tempo aquela região.
Por todas essas condições de variação na composição do suporte, das cores e dos
temas utilizados na elaboração da Arte Rupestre Brasileira, inúmeros foram os
registros encontrados em todo o território, do sul ao norte. Apesar dessa variedade
nas características da Arte Rupestre, a arqueologia brasileira conseguiu definir
uma forma de classificar o que chamou de tradição ou tradições, nas quais reúne
particularidades como forma e composição do suporte, temas e cores dominantes e
composição das tintas.
13
UNIDADE I │ ARTES NO BRASIL ANTES DO SÉCULO XVI
Mas, para isso, tiveram que, primeiramente, localizar os registros de Arte Rupestre.
14
ARTES NO BRASIL ANTES DO SÉCULO XVI │ UNIDADE I
registros mais antigos são datados de 11 mil anos (TEIXEIRA LEITE, 2015, p.
231).
Mas não foram unicamente nestes lugares que a Arte Rupestre foi encontrada. A
imensidão do país também proporcionou a existência de registros em grande parte do
Brasil. Foram encontrados em Lagoa Santa e Serra do Cipó, no Paraná; na Toca do
Cosmo, na Bahia; nos Lajedos do Corumbá, no Mato Grosso do Sul; Lajedo da Soledade,
no Rio Grande do Norte; Parque Nacional Serra do Catimbau, em Pernambuco; entre
outras regiões como em Santa Catarina e na Paraíba.
15
UNIDADE I │ ARTES NO BRASIL ANTES DO SÉCULO XVI
Tradição Amazônica
Tradição Planalto
Tradição Litorânea
Tradição Geométrica
Tradição Meridional
Tradição Agreste
Tradição Nordeste
A tradição Nordeste é vista principalmente nos estados do Piauí, Rio Grande do Norte,
Bahia, Ceará, Pernambuco e norte de Minas Gerais (GASPAR, 2003, p. 461). Nesta
tradição, predomina a Arte Rupestre com desenhos de homens, animais e figuras
geométricas representando cenas narrativas do cotidiano.
A tradição São Francisco, como o próprio nome alude, é encontrada no vale do Rio São
Francisco, Minas Gerais, mas também em alguns lugares dos estados da Bahia, Mato
Grosso, Goiás e Sergipe. Os registros de Arte Rupestre desta tradição configuram-se
pelo uso de desenhos geométricos e algumas representações esquemáticos de humanos
e de animais.
16
ARTES NO BRASIL ANTES DO SÉCULO XVI │ UNIDADE I
raros como tamanduás e tatus, e, até mesmo de alguns já extintos como o cervo-do-
pantanal e o veado-campeiro (GASPAR, 2003, p. 528).
No que se refere à Tradição Sul e Meridional, esta se concentra no Rio Grande do Sul
e em estados vizinhos, assim como em alguns países de fronteira. A arte rupestre aqui
praticada foi feita principalmente por incisão ou polimento.
Estas tradições não se desenvolveram em apenas uma região do Brasil, pelo contrário,
houve expansão e se mostraram presentes, muitas vezes, em mais de um estado. Este
fato se deu principalmente devido o deslocamento dos grupos étnicos autores dos
registros.
Figura 2. Arte Rupestre no Parque Nacional Serra da Capivara. A primeira é uma cena de veados, na Toca do Sítio
17
UNIDADE I │ ARTES NO BRASIL ANTES DO SÉCULO XVI
Figura 3. A primeira imagem é um detalhe de gravura na Pedra do Ingá, PA. A segunda imagem corresponde a
Figura 4. Painéis de Arte Rupestre em Santa Catarina. A primeira imagem foi feita no Sítio Triste, na Ilha do
Pelo estudo da Arte Rupestre Brasileira, analisando os registros nas suas cores,
representações e materiais, além de entender como foram designadas cada tradição
e a sua expansão ao longo do país, é possível identificar algumas propriedades que
caracterizam a Arte Rupestre Brasileira.
18
ARTES NO BRASIL ANTES DO SÉCULO XVI │ UNIDADE I
Este tipo de análise nos parece legítima por duas razões: primeiramente, tratando-
se de registros artísticos, é um movimento próprio da área das artes buscar entender
para que determinado registro foi feito; depois, pela Arte Rupestre estar datada de um
período longínquo, o interesse por este tipo de informações ajuda a entender a época, o
local em que foi feita e os homens que a elaboraram.
À vista disso, os estudos sobre a Arte Rupestre direcionaram o interesse sobre ela em
várias vertentes de pesquisa, estando na maior parte dos casos ligada ao aprofundamento
dos conhecimentos sobre o homem pré-histórico no Brasil, à cultura praticada e em
cada região onde ela foi encontrada e às características dos registros e informações
sobre fauna e flora que pode informar.
Assim, povos como os indígenas que estabeleceram profunda ligação com os registros
e com os sítios localizados onde estão morando e tentam preservá-los de forma mais
entusiasmada na medida em que reconhecem nos registros mensagens dos seus
antepassados.
19
CAPÍTULO 2
Artes indígenas brasileiras
Desde a descoberta do Brasil pelos portugueses, as artes indígenas e tudo o que estava
ligada às culturas deles impressionaram não só pela diferença, mas igualmente pelo
colorismo apresentado, tudo era visto de forma exótica ao olhar europeu. Da chegada,
avistaram belas paisagens que compunham o cenário empolgante, contudo, para além
de riquezas verdejantes se depararam com seres humanos muito diferentes aos que
estavam familiarizados, com outras formas de vestir, de agir, de comer, de viver, de se
relacionar. Eram os índios.
Os índios se apresentavam com traços e cores de pele diferentes, assim como formas
de vida e de se relacionar. A compreensão e o diálogo eram quase impossíveis de
serem estabelecidos pelas barreiras linguísticas o que se colocavam entre eles e os
colonizadores.
A forte ligação e relação que os indígenas desenvolveram com a natureza é uma das mais
importantes características observadas. Assim, em todas as suas atividades, artísticas
ou não, os índios buscam preservá-la respeitando seus ciclos de vida e de tudo o que há
nela.
Então, não diferente nas artes, tudo o que é produzido vem diretamente do que a
natureza lhes oferece, associando destreza manual com o ideário que rege o povo a
que pertence. São utilizados materiais como barro, madeiras, folhas, sementes, cocos,
couros, ossos, plumas, conchas, frutos etc.
É de relevância frisar que aqui se fala em artes indígenas, no seu sentido plural,
buscando o respeito pela diversidade que dela ramifica, pois, vários são os povos, tribos
e as etnias às quais pertencem. Mesmo desenvolvendo as mesmas tipologias artísticas,
há grande variedade de técnicas empregadas na elaboração das peças, nas decorações
20
ARTES NO BRASIL ANTES DO SÉCULO XVI │ UNIDADE I
e nas funções para as quais estão destinadas que se diferenciam de tribo para tribo e de
região para região.
Mesmo com essas diferenças, podemos dizer que as artes indígenas brasileiras se
desenvolveram principalmente em linguagens como a cerâmica, a cestaria, a tecelagem,
e os enfeites corporais com o uso da arte plumária e da pintura corporal da qual
iremos debruçar. Mas, podemos ainda citar a elaboração de instrumentos musicais, a
construção de moradias, algumas peças de mobiliário como bancos.
A elaboração de objetos artísticos pelos indígenas, assim como acontecia nas artes
rupestres, é impulsionada pela funcionalidade a que está destinada e coberta por preceitos
tanto estéticos quanto sociais e culturais. Assim, como confirma Élida Alexandre (2018,
l. 839), o “talento dos artistas está a serviço da manutenção da tradição do povo, da
continuidade de sua identidade”, acarretando significações mais profundas quando se
quer analisar as artes indígenas.
Cerâmica
Uma das principais linguagens desenvolvidas pelos índios brasileiros para a confecção
de objetos artísticos foi a cerâmica, técnica que teve seu surgimento em tempos bem
remotos, mais precisamente no período Neolítico. No Brasil, há vestígios de cerâmica
que datam de mais de quatro mil anos (TEIXEIRA LEITE, 2015, p. 106).
A cerâmica tem por base o uso de argila (sílica, alúmen e água) como matéria-prima
para dar forma a diversos objetos que podem ter na sua elaboração o uso de diferentes
técnicas de elaboração, secagem e decoração.
Tendo por base o uso da argila, os objetos de cerâmica produzidos pelos índios no
Brasil garantem grande abundância em formas e funções. São produzidos desde
objetos de uso de cozinha como panelas, vasilhas e pratos como instrumentos musicais
21
UNIDADE I │ ARTES NO BRASIL ANTES DO SÉCULO XVI
como chocalhos, flautas entre outros objetos presentes no cotidiano e em rituais como
cachimbos, máscaras, urnas funerárias.
Figura 5. Cerâmicas Indígenas brasileiras. A primeira imagem é um vaso da Cultura Santarém. A imagem do meio
é um vaso Marajoara para o preparo de alimentos. A última imagem é uma urna funerária Marajoara.
No que diz respeito ao processo de elaboração dos objetos em cerâmica, alguns passos
básicos eram cruciais para que fossem feitos com qualidade. O primeiro passo consiste
na escolha e coleta da argila, muitas vezes retirada de margens de rio quando este se
apresentava com águas mais rasas. Posteriormente, retiram-se as impurezas que podem
atrapalhar a qualidade do objeto a ser elaborado. À argila, por vezes, são acrescentados
outros materiais de composição orgânica e mineral a fim de que atribuir melhores
propriedades à matéria-prima.
A escolha da técnica a ser utilizada para dar forma à matéria-prima depende do tipo
de objeto que se deseja para determinada função. Por exemplo, os objetos como vasos
e panelas eram produzidos pela técnica do acordelado que, como explica Alexandre
(2018, l. 943), consistem na justaposição de roletes de argila em formato anelar ou
espiral em cima de uma base pré-elaborada. Esta técnica, segundo a mesma autora, é a
mais adotada pela maioria dos indígenas brasileiros.
A secagem dos objetos poderia ser feita de forma natural, com o uso do próprio
calor do sol, ou então, cozinhavam-nos em fornos com o auxílio de fogueiras.
Dependendo do processo de secagem, os objetos poderiam obter tons mais
esbranquiçados ou avermelhados.
No que consta sobre os formatos atribuídos aos objetos de cerâmica, eles podem
variar de mais simples a mais complexos como as urnas funerárias que poderiam
ter formatos antropomorfos.
22
ARTES NO BRASIL ANTES DO SÉCULO XVI │ UNIDADE I
Em cada tribo, o trabalho com a produção de objetos em cerâmica era feito de forma
diferenciada, com técnicas próprias desenvolvidas por cada tribo, havendo, além disso,
a predominância de algum gênero sobre este tipo de produção.
Por vezes, este tipo de produção apenas era conferido às mulheres sendo que os
homens poderiam participar apenas de parte do processo como o transporte do barro.
Em outros casos, cada gênero era responsável pela produção de determinados tipos
de objeto, como é o caso dos índios Tapirapé, tribo na qual a confecção de cachimbo é
destinada aos homens enquanto a fabricação de panelas e outras vasilhas ficam a cargo
das mulheres.
Como podemos observar, as cerâmicas indígenas variam não só nos formatos como nas
decorações e cores. Utilizando-se de múltiplos materiais colhidos na natureza, os índios
não só extraíram as matérias-primas e ferramentas para a confecção dos objetos como
encontraram pigmentos minerais e vegetais que foram usados para dar cor e, dessa
forma, criar a decoração.
Para esta, utilizam-se tanto a incisão quanto a pintura, registrando vários motivos na
superfície. Nos objetos pintados, destacam-se cores como o branco, o preto e o vermelho,
obtidas na produção de tintas por meio de várias misturas que incluem resinas extraídas
de árvores, areias coloridas, jenipapo, urucum, pó de carvão entre outros elementos.
23
UNIDADE I │ ARTES NO BRASIL ANTES DO SÉCULO XVI
Hoje, a cerâmica no Brasil apresenta-se de forma cada vez mais ampliada e diversa nos
formatos, cores e funções dos objetos. Aos poucos, os objetos de cerâmica deixaram
de serem feitos para uso exclusivo da própria tribo para se tornarem peças de troca e
venda impulsionado pelo turismo e o interesse comercial.
Além disso, com as várias influências que foram acontecendo pelos encontros culturais
de lugares diferentes, em cada região, às cerâmicas indígenas foram sendo acrescentadas
outras características. Com as influências vindas de fora do Brasil como as europeias e as
africanas, as cerâmicas brasileiras passaram a ser experimentadas por outras técnicas e
padrões que resultaram em novos objetos, que, ainda assim apresentam características
regionais de onde foi produzida.
Cestaria
Outra linguagem na qual a produção dos indígenas brasileiros se destaca é a cestaria,
na qual, fibras são trançadas de forma a construir uma peça única. Dos objetos feitos
a partir da cestaria, destacam-se os cestos, balaios, peneiras, esteira, redes, pulseiras e
chapéus, peças que são de uso cotidiano ou ritual.
24
ARTES NO BRASIL ANTES DO SÉCULO XVI │ UNIDADE I
Figura 6. Cestarias indígenas brasileiras. A primeira imagem é um cesto cargueiro dos indígenas Baré. A imagem
do meio mostra um jovem elaborando um cesto. A última imagem mostra um cesto produzido pelos índios
Wayana.
A diversidade das cestarias indígenas está presente também nas técnicas utilizadas
para elaboração e decoração dos objetos que, assim como acontece na cerâmica,
diferem de tribo para tribo. Mas, de uma forma geral, durante o processo, existem os
passos de escolha das fibras e sua preparação, a escolha do trançado que melhor se
adequa à função do objeto e ainda a decoração que engloba a escolha do pigmento,
sua extração da natureza e preparação, podendo ser pintada na superfície do objeto
já pronto ou utilizada antes do trançado pelo tingimento das fibras.
A escolha da matéria-prima a ser usada está diretamente relacionada com a função que
o objeto a ser elaborado terá. Assim, materiais mais resistentes e fortes são utilizados
para objetos destinados a suportar grandes pesos como os cestos-cargueiro.
Vale comentar ainda sobre a quem cabe a produção de cestaria entre os povos indígenas
no Brasil. De igual modo, como acontece com a cerâmica, não há uma mesma regra para
todas as tribos indígenas, variando entre elas a tarefa entre homens ou mulheres, ou
como acontece também, parte do processo estar a cargo de uns e outra parte de outros.
25
UNIDADE I │ ARTES NO BRASIL ANTES DO SÉCULO XVI
A cestaria como linguagem artística propõe uma análise mais apurada por todas as
particularidades a ela associadas. Pela grande diversidade de tribos indígenas existentes
em todo Brasil, estudar sobre as cestarias produzidas por elas denotaria um extenso e
delicado trabalh,o a fim de se respeitar as particularidades presentes nos objetos de
cada tribo.
Tecelagem
As tecelagens indígenas brasileiras exploram principalmente a confecção de redes,
feitas principalmente de algodão e da palmeira de tucum. Todo o trabalho de produção
é feito de forma manual e, de forma geral, pode ser executada por dois processos
diferentes: um vertical e outro horizontal. Conforme Alexandre (2018, l.152-160), os
povos indígenas localizados na Amazônia e em Mato Grosso constroem suas redes a
partir da técnica vertical.
Quanto à decoração, esta é feita durante a própria tessitura dos fios em que algumas
fibras previamente tingidas são organizadas de modo a formar diferentes padrões. Os
desenhos dos padrões são elaborados de forma diferente em cada grupo, apresentando
referências visuais próprias da tribo.
Enfeites corporais
A arte indígena brasileira possui grande variedade de objetos que a caracteriza como
vimos até aqui, porém, não só objetos de utilidade doméstica pertencem a ela.
26
ARTES NO BRASIL ANTES DO SÉCULO XVI │ UNIDADE I
no cotidiano e em outros em rituais, essas formas de arte assim como as outras têm em
sua base de elaboração, produtos extraídos da natureza.
O enfeite corporal dos índios brasileiros também é feito a partir de pintura corporal que
consiste no depósito de tinta feita a partir de pigmentos naturais. Esses pigmentos são
27
UNIDADE I │ ARTES NO BRASIL ANTES DO SÉCULO XVI
Depois da tinta pronta, com pincéis feitos com gravetos de plantas, os índios pintam-se
uns aos outros ou a si mesmos depositando a mistura na pele. Os padrões representados
são normalmente geométricos com desenhos de linhas retas e curvas, carregando
simbolismo próprio do contexto da tribo.
A contribuição e a riqueza dos povos indígenas vão além das suas produções
materiais, apesar de ser o que mais se destaca. Os modos de vida e a relação
de respeito pela natureza, suas danças e cânticos presentes não só nos rituais,
mas também no dia a dia, garantem o mesmo valor na construção das culturas
indígenas. Pelo link http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/sons-
indigenas é possível escutar alguns cantos indígenas usados em diferentes
momentos.
28
ARTES NO BRASIL
ENTRE OS SÉCULOS UNIDADE II
XVI E XIX
CAPÍTULO 1
Missão holandesa
Toda a atmosfera de novidade fez do Brasil um prato cheio para aqueles que se
viam numa Europa assolada pelas consequências de guerras. Em tudo, o Brasil
parecia ser uma ótima saída, uma verdadeira lufada de ar fresco.
Dotado de um solo rico, o Brasil se tornou logo uma importante fonte comercial
para os portugueses, principalmente na produção de açúcar, alimento muito
valioso na época.
Então, com esses propósitos, os holandeses fizeram várias investidas nos litorais
do Brasil a fim de tomarem posse e se afixarem. Comandados pela Companhia
das Índias Ocidentais – West-Indische Compagnie, mais conhecida por WIC,
29
UNIDADE II │ ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX
iniciaram primeiramente por Salvador, Bahia, em 1624, porém não tiveram êxito
(SCHARF, 2019, p.54).
Decidido em conselho, para tal cargo foi nomeado então João Maurício Nassau
que, naquela época, era o Conde de Nassau-Siegen, sendo posteriormente
intitulado Príncipe. Este governador, a quem foram dadas amplas atribuições,
descendia de família real, possuía educação humanista, grande experiência
militar e, ainda, mostrava grande fascínio pelas artes.
30
ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX │ UNIDADE II
Somando a essas obras orquestradas por Nassau, Teixeira Leite (2015, l. 942) inclui
ainda a construção de hospitais e “assessorias técnicas junto de cada aldeia de nativos”
fato que mostra a preocupação de Nassau em estabelecer boas relações com os índios.
Vale ressaltar que essas obras só foram possíveis, pois, na sua comitiva já composta de
militares (soldados e oficiais do governo), ele incluiu artistas e cientistas profissionais
previamente escolhidos.
As imagens produzidas pelos artistas e pelos cientistas vindos com Nassau, figurados
principalmente pela pintura e pela cartografia, não se limitaram a ficar no Brasil, pelo
contrário, na época era comum a produção destes tipos de registros como forma também
de decoração e para fins de conhecimento sobre o que havia em terras longínquas.
A comitiva de artistas
Como pode-se perceber, a produção imagética realizada por integrantes da missão
holandesa não esteve somente nas mãos de artistas profissionais. Também foram feitas
por artistas amadores, cartógrafos e botânicos inspirados pela exuberância e novidade
à qual estavam expostos.
Da comitiva de Nassau, nem todos chegaram ao mesmo tempo no Brasil, tendo alguns
aderidos ao grupo pouco tempo mais tarde. Como principais artistas, se destacaram os
pintores Albert Eckhout e Frans Post, acompanhados do
31
UNIDADE II │ ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX
Para além destes, pode-se citar ainda a chegada dos pintores Gillis Peeters,
Bonaventura Peeters e Abraham Willaerts que se destacaram pelas suas pinturas com
temática marinha representando a costa brasileira composta normalmente pelo mar,
embarcações e o céu.
Mas esta não foi a temática mais explorada nos registros artísticos da missão de Nassau.
Utilizando técnicas como pintura a óleo, aquarelas, desenhos e gravuras, o tema
mais abordado foi a natureza morta com a representação de flores, frutos, buscando
representar todos os detalhes particularidades de cada objeto.
Essa temática e a forma como foi representada naquela época no Brasil, estava
intimamente ligada com as artes que eram produzidas nas várias cidades da Holanda
no mesmo período. De acordo com Scharf (2019, p. 52), tinham como principais
características “a tendência ao realismo da representação, o gosto pela descrição
minuciosa dos seres e das coisas e uma paleta brilhante e luminosa”.
Associada à função de descrever, a natureza morta representada nas artes também foi
muito utilizada como meio decorativo já que era feita em dimensões menores, tornando
mais acessível a sua aquisição.
Albert Eckhout
Albert Eckhout foi um dos artistas holandeses que acompanhou Nassau desde sua
chegada até seu retorno à Holanda. Durante sua estadia e mesmo após seu retorno,
Eckhout se tornou um dos mais notáveis pintores, linguagem na qual produziu inúmeras
obras elaboradas a partir da técnica de pintura a óleo.
Como temática, ele explorou desde naturezas mortas compostas por flores, frutos,
legumes e vegetais da flora local, a paisagens e retratos representando os usos e os
costumes das pessoas que habitavam no Brasil colonial.
No que tange aos retratos, em várias das suas pinturas podem ser encontrados
retratados índios e negros escravizados, apresentando diferentes cenários onde
estão detalhadas atividades cotidianas como a caça, o transporte de objetos e
32
ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX │ UNIDADE II
Vale frisar que este artista se utilizou de ícones simbólicos para representar questões
econômicas ou políticas associadas à figura central da composição. A título de exemplo,
na representação do negro africano, aparece dentes de marfim; junto da representação
do índio, encontra-se a mandioca e ladeado ao mulato está representado pé de cana-de-
açúcar (TEIXEIRA LEITE, 2015, l. 1148).
Figura 9. Pinturas de Albert Eckhout. A primeira pintura é intitulada “Frutas brasileiras”. A segunda imagem é
O nível de detalhamento e realismo registrado nas suas pinturas era tal que despertou
o interesse de estudiosos de diversas áreas, sendo, por alguns, considerados inclusive
como documentos científicos.
Por todas estas características reunidas nas obras de Eckhout, os seus trabalhos
ganharam notável relevância para o conhecimento do território brasileiro do séc.
XVII, pois, ofereceram importantes informações etnográficas que apenas informações
escritas não eram suficientes para descrever.
Frans Post
Nascido na Holanda, Frans Post veio ao Brasil na mesma viagem que trouxe Eckhout,
e juntos formavam os pintores oficiais da missão. Permaneceu no território brasileiro
apenas sete anos, porém, sua produção continuou na Holanda tendo por base desenhos
feitos durante sua estadia.
Seguindo as tradições às quais já estava familiarizado, Post teve como tema principal a
paisagem, segundo a qual, no primeiro plano, pintou a vegetação de forma exuberante
e em tons mais escurecidos, em seguida, representou outros elementos como vilas,
engenhos, casas-grandes e ruinas, frutos da obra dos colonizadores. Por meio dessa
33
UNIDADE II │ ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX
Outra importante característica presente nas suas pinturas a óleo, principal técnica
explorada por Post, é linha do horizonte ligeiramente abaixo do meio da tela, fazendo
com que o céu, sempre luminoso, ocupe grande parte da composição.
Figura 10. Pinturas de Frans Post. A primeira imagem é denominada “Vista da cidade Maurícia e do Recife”. A
34
ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX │ UNIDADE II
George Marcgraf
Zacharias Wagener
As suas obras são feitas com a técnica da aquarela onde os desenhos transparecem
grande naturalismo e riqueza de detalhes, refletindo inclusive texturas e brilho. Outra
característica própria é o acompanhamento, junto das imagens, de texto escrito,
provavelmente completando a descrição.
Por todos esses traços, as obras de Wagener são na maior parte das vezes associadas
mais a quesitos científicos do que propriamente artísticos.
35
UNIDADE II │ ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX
Figura 12. Obras de Wagener. A primeira imagem é intitulada “Arara”, a segunda imagem denomina-se “Equulús
Marinús”.
Fonte: O “thierbuch” e a “Autobiografia” de Zacharias Wagener, vol. II (CBH), 1997. IN: SCHARF, 2019.
Para além de Wagener, Post e Eckhout, podemos ainda citar contribuições de Willem
Pies, Gillis Peeters, Bonaventura Peeters e Abraham Willaerts.
Também conhecido por Willem Piso, Pies nasceu na Holanda e se formou em medicina.
Na sua estadia no Brasil, desempenhou a função de cirurgião chefe das tropas, liderando
ao mesmo tempo pesquisas sobre doenças tropicais e práticas médicas locais (SCHARF,
2019, p.68).
A partir dos registros imagéticos elaborados mediante as mais variadas técnicas,
pela colaboração de Nassau foram produzidos diversos livros importantíssimos
para a História do Brasil.
As artes se mostraram importantes aliadas na missão de registrar e dar a
conhecer as variadas espécies que havia na colônia, contribuindo igualmente
para que os povos nativos e os negros escravizados fossem conhecidos nas suas
formas de vida e seus costumes.
Então, qual ou quais teriam sido as verdadeiras funções da arte criada pela
Missão Holandesa? Quais os contributos artísticos teriam proporcionado à Arte
Brasileira?
36
CAPÍTULO 2
Arte barroca brasileira
O Barroco é um estilo artístico que surgiu na Europa, mais precisamente na Itália, por
volta do século XVI, espalhando-se para outros países do continente até o século XVIII.
Nascida em contraposição ao Renascimento que exaltava a elegância e a suavidade,
o Barroco exprimiu o exagero nas suas linhas, a dramaticidade e a teatralidade nas
expressões e o uso de cores densas.
Vale ressaltar que o Barroco não aconteceu apenas nas artes visuais e na arquitetura, ele
ocasionou mudanças na mesma intensidade na literatura, com nova escrita de poemas
e prosas. Assim sendo, o Barroco pode ser definido como um período histórico e
O seu surgimento teve por base as determinações do Concílio de Trento que ocorreu
entre os anos 1545 e 1563, onde, entre outros temas relativos à religião cristã, deliberou
sobre o uso das imagens na fé católica. No contexto da Contrarreforma, as imagens
foram reforçadas como dispositivos que seriam úteis para que a igreja conseguisse se
aproximar e persuadir os fiéis, principalmente àqueles que ainda não professavam da
mesma fé.
A execução das obras teria ficado essencialmente a cargo dos nativos e dos negros
escravizados comandados pelos próprios jesuítas que ensinavam as técnicas necessárias
para cada projeto. Contudo, o território brasileiro também se encontrava habitado por
outros povos como holandeses, italianos e franceses que carregavam consigo outras
técnicas e experiências na forma de fazer as coisas.
37
UNIDADE II │ ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX
A formação do artista incluía um processo no qual, tendo início como aprendiz, este
38
ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX │ UNIDADE II
Para além das mudanças nos elementos representativos, o Barroco feito no Brasil
apresentou adaptações técnicas devido à inexistência de materiais plásticos iguais
aos que estavam sendo utilizados na Europa. Pinheiro (2018, p. 23) afirma que a
importação de materiais nem sempre era uma opção viável e rápida na emergência
que havia na produção das obras, por isso, os pintores da época.
Devido aos materiais regionais utilizados na confecção das obras, tanto a pintura
quanto a escultura barroca no Brasil são caracterizadas pela policromia dotada de
cores fortes, sendo o vermelho e o amarelo as cores que mais se exaltam.
39
UNIDADE II │ ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX
Bahia
Como artistas que atuaram na Bahia se podem citar: José Teófilo de Jesus, Antônio
Joaquim Franco Velasco, Domingos da Costa Filgueiras, Antônio Simões Ribeiro,
Francisco Coelho, João Álvares Correia, Charles de Belleville, Manoel Álvares, Belchior
Paulo, Antônio Pinto e Antônio Dias, Manoel José de Souza Coutinho, Mateus Lopes,
José da Costa Andrade, Manuel Inácio da Costa, Francisco Manoel das Chagas, José
Rodrigues Nunes e Bento José Rufino Capinam.
De todos os artistas que revelaram suas expressões artísticas neste estado, Teixeira
Leite (2015) considera José Joaquim da Rocha como o maior pintor daquela região
no seu tempo. Para além de pintor, exerceu trabalhos como dourador e restaurador,
confirmando a excelência de suas obras.
Dessas, as que ficaram mais conhecidas foram as pinturas do forro da igreja de Nossa
Senhora da Conceição da Praia, da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos,
Igreja da Nossa Senhora da Palma e da Igreja do Convento de Santo Antônio.
Figura 14. Obra de José Joaquim da Rocha. Detalhe do forro da Igreja de Senhora de Palma.
Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra14241/nossa-senhora-da-palma-detalhe-do-forro-sob-o-coro.
Acesso em: 13/2/2020.
40
ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX │ UNIDADE II
Minas Gerais
Pode-se considerar que as obras do período Barroco produzido em Minas Gerais foram
as que ganharam maior magnitude em todo o Brasil. Desde o período colonial até o
século XIX, Minas Gerais foi palco de grande produção artística com considerável
variação nas linguagens utilizadas.
Desenvolveu-se em Minas Gerais uma Arte Colonial que prezou pela apresentação
e uso de elementos regionais apesar das propriedades trazidas pelo Barroco
Europeu, o que provocou na criação de uma arte original com características tão
particulares que ficou focou conhecida por Barroco Mineiro.
Batista (2017, p.366) sugere que, uma das grandes novidades que o Barroco
Mineiro apresentou foi, na arte sacra, ter representado novos elementos a
partir de temas locais incorporados a temas religiosos que possuíam uma
iconografia já instituída.
Não obstante estarem sujeitas à arquitetura, Teixeira Leite (2015, l. 549) observa
que, no momento inicial do Barroco Mineiro, as pinturas não se integram
totalmente às estruturas. A falta de volume, as cores densas e com pouca
variação tonal fizeram com que as pinturas feitas até o final do século XVIII
apresentassem aparência mais estática e impermeável à arquitetura.
Dos vários artistas do Barroco Mineiro, podem ser indicados Andréa Pozzo,
Antônio Rodrigues Belo, Francisco Xavier de Brito, Francisco Pedro do
Amaral, Manoel da Costa Ataíde, Silvestre de Almeida Lopes, Rodrigo Melo
Franco de Andrade e João Nepomuceno Correa de Castro.
41
UNIDADE II │ ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX
As suas obras estão registradas principalmente nos forros de várias igrejas, pelo que
podemos destacar a representação da Assunção de Nossa Senhora registrada no forro
da nave da Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto.
42
ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX │ UNIDADE II
Devido à popularidade de suas obras, praticamente todas ligadas à religião cristã, estas
se espalharam por várias cidades de Minas Gerais, maiormente em Ouro Preto, a partir
de esculturas que foram feitas sob encomenda por diversas igrejas.
Quanto à representação das figuras, estas foram esculpidas em caráter teatral dotadas
de forte expressividade incluída nas poses e nos grandes olhos esculpidos. Ao mesmo
tempo, as posturas adotadas compreendem certa discrição que armam um conjunto na
maior parte das vezes retratando alguma cena bíblica.
Figura 16. Detalhe de conjunto de obras de Aleijadinho intitulado “Soldados e Cristo coroado de espinhos”.
Rio de Janeiro
A este artista são atribuídas diversas pinturas elaboradas nos forros do Mosteiro
de São Bento da cidade do Rio de Janeiro.
43
UNIDADE II │ ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX
Figura 17. Pintura de Muzzi intitulada “Incêndio do Recolhimento de Nossa Senhora do Parto”.
Outras regiões
44
CAPÍTULO 3
Missão francesa
Assim, nas suas comitivas, traziam pessoas com as mais variadas formações a fim de
suprir toda a demanda em diversas funções que necessitava.
A Missão Francesa chegou ao Rio de Janeiro por volta de 1816, um ano depois de o
Brasil deixar de ser colônia e se tornar o principal país do Reino de D. João, composto
por Portugal, Brasil e Algarve.
D. João, então regente, tinha grande apreço pelas artes e, por isso, aceitou a ideia de
Antônio de Araújo Azevedo, o Conde da Barca, para desenvolver as artes no Brasil por
meio da criação de uma escola oficial que formasse artistas.
Então, com seu aval, esta missão teria como principal finalidade, como afirma Trevissan
(2007, pp. 14-16), a implementação de uma Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios já
que, até aquele momento, não havia a “tradição do ensino artístico no Brasil”.
45
UNIDADE II │ ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX
A comitiva
No início do ano de 1816, atracou no Brasil a comitiva organizada e comandada por
Joaquim Lebreton onde constava administradores, compositores, pintores, arquitetos,
escultores, gravador, mecânico, serralheiro e carpinteiro.
46
ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX │ UNIDADE II
A ligação entre os artistas e a corte esteve sempre permeada pelos serviços prestados por
aqueles a estes, tendo em contrapartida o apoio, no início, de D. João VI e continuada
por D. Pedro I e D. Pedro II, ao projeto da implementação da formação artística no
território brasileiro pela criação da escola oficial.
Debret
Jean-Baptist Debret foi um dos mais importantes artistas franceses que aportou no
Brasil. Chegou em 1816 na mesma embarcação que trazia outros artistas como Nicolas-
Antoine Taunay e toda a comitiva de Lebreton.
No que tange à sua escolha, Debret foi um ótimo candidato à missão artística
francesa, pois, naqueles tempos, antecedentes da viagem estaria sofrendo com várias
transformações na sua vida. A separação da esposa, a morte de seu filho e o exílio do
Imperador Bonaparte para quem havia trabalhado e construído uma série de quadros
(TREVISAN, 2007, p. 10) deixou-o sem esperanças no território francês.
Mediante esta situação, Debret se vê com poucas opções para prosseguir com seus
trabalhos artísticos e reconstruir sua vida. Então, com quase 50 anos, ele chegou ao
Brasil, onde criou diversos registros pictóricos, principalmente em pinturas e desenhos.
Como temas, Debret retratou a vida cotidiana daquela época representando índios,
negros, crianças e a corte em várias atividades como cerimônias, vida familiar, mostrando
inclusive cenas da escravidão e das mudanças culturais resultantes da miscigenação
dos vários povos que ali habitavam.
47
UNIDADE II │ ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX
Figura 18. Obra de Debret intitulada “Engenho manual que faz caldo de cana”.
Junto com Rugendas, artista alemão que chegou ao Brasil pela Expedição de
Langsdorff, escreveu e ilustrou “Uma Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”
resultante de viagem que fizeram pelo Brasil, retratando a vida no século XIX.
Figura 19. Pintura de Rugendas intitulada “Paisagem Tropical com um rio em Minas Gerais.
48
ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX │ UNIDADE II
Apesar de Rugendas não ter pertencido à Missão Francesa, faz-se necessário considerar
este artista pelas importantes obras que elaborou na sua estadia no Brasil.
Nicolas-Antoine Taunay
Assim como Debret, Nicolas-Antoine Taunay foi artista oficial da Missão Francesa,
chegando junto com toda a comitiva em 1816 ao Rio de Janeiro. Suas atividades
artísticas antes de chegar no Brasil estavam fortemente ligadas à corte da família
de Napoleão Bonaparte.
Suas obras ganharam grande notoriedade, motivo pelo qual passou a receber
diversas encomendas inclusive do próprio governo, a fim de deixar registrados
importantes fatos triunfantes do Imperador Bonaparte nas campanhas e
batalhas na Alemanha.
49
UNIDADE II │ ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX
Figura 20. Obra de Nicolas-Antoine Taunay intitulada “Entrada da baía e da cidade do Rio a partir
Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1097/entrada-da-baia-e-da-cidade-do-rio-a-partir-do-terraco-do-convento-
de-santo-antonio-em-1816. Acesso em: 13/2/2020.
Adrien Aimé Taunay e Félix Émile Taunay, eram igualmente parentes de Nicolas
Taunay, no caso filhos e, também, viajaram junto do pai integrando a comitiva da
missão. Adrien mostrou mais interesse nas paisagens do interior do país até mesmo
participando da Expedição Langsdorff.
Outro artista importante foi Thomas Ender, austríaco que veio na Missão Austro-Alemã
junto com outros artistas e cientistas. Das várias linguagens que dominava, destacou-se
pelas múltiplas obras em aquarelas nas quais retratou as cidades de São Paulo e Rio de
Janeiro.
50
ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX │ UNIDADE II
Figura 21. Obra de Thomas Ender intitulado “Kirche da Lapa. 1. Gloria (Igreja da Lapa. 1. Glória)”.
Passando um olhar geral sobre as artes desenvolvidas no Brasil no século XIX, estas
se desenvolveram especialmente em obras pictóricas feitas a partir de pinturas a óleo,
desenhos e aquarelas.
Parte dos artistas, principalmente os franceses, foi crucial não só pelas obras que
fizeram, mas também por suas atuações como professores ministrando cursos livres e
fazendo parte do corpo docente na Escola de Belas Artes.
51
CAPÍTULO 4
Arte acadêmica
O academismo no Brasil
A ideia de uma arte acadêmica no Brasil teve como mote a criação em 1816 do
decreto que autorizava a concepção da Academia Imperial de Belas Artes do
Rio de Janeiro. O projeto da Academia teria sido sugerido a D. João VI por
Antônio Araújo de Azevedo, o Conde da Barca.
52
ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX │ UNIDADE II
Até a abertura da Academia, o projeto inicial foi revisto diversas vezes sendo modificados
inclusive alguns cargos que já haviam sido definidos.
Atitudes como esta provocou revolta nos artistas franceses que buscaram
intercessão junto a D. João e posteriormente a D. Pedro. Se sentindo
prejudicados com mudanças desta natureza, alguns resistiram e continuaram
lutando enquanto outros seguiram viagem para outros países, como foi o caso
de Nicolas-Antoine Taunay que retornou para França.
Mas esta situação melhorou quando, pela morte de Silva, um dos filhos de
Nicolas-Antoine, Félix Émile Taunay, se tornou diretor da Academia. Na
ideia de Pereira (2012, p. 94), Félix e Manuel de Araújo Porto-Alegre teriam
sido os melhores diretores que a Academia de Belas Artes teve no século XIX,
nas mãos dos quais se havia vivido maior prosperidade.
53
UNIDADE II │ ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX
Com ambiente mais favorável, a Academia consegue delinear melhor sua forma de
atuação, suas disciplinas e o currículo. É imprescindível esclarecer que a pedagogia
neoclássica perdurou por certo tempo mesmo com as numeradas alterações.
Não tinha muito espaço para novidades que pudessem provocar transformações
de qualquer natureza. Este fato é reforçado pelas palavras de Zilio (1985, p.276)
que afirma que a Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro era de tal modo
reguladora que estabelece
54
ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX │ UNIDADE II
Os temas que mais ganharam distinção, sobretudo nos anos iniciais da academia
e na gestão francesa, foram as composições históricas, os retratos de pessoas da
realeza e a representação de acontecimentos festivos. Todos estes temas estavam
diretamente relacionados à historiografia do Brasil. Temas como natureza-morta
e paisagem eram considerados de menor importância.
Vale salientar que a formação oferecida pela academia beneficiou não apenas
artistas brasileiros, mas também artistas estrangeiros que viam benefícios em
55
UNIDADE II │ ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX
A esta altura, fica claro entender que a Arte Acadêmica no Brasil percorreu fases
distintas na sua existência, às quais podemos mencionar: a chegada da Missão
Francesa e a construção da Academia de Belas Artes; a formação dos primeiros artistas
e posteriormente as artes desenvolvidas no Segundo Reinado por uma segunda geração
de artistas.
Nas últimas duas fases, vários artistas passaram pela Academia e se formaram.
Cada um apresentou suas particularidades nos temas, nas suas composições e
nos seus traços.
Falaremos aqui de alguns que tiveram maior destaque na sua trajetória e criaram
obras relevantes para a História da Arte no Brasil.
Agostinho Motta foi um célebre pintor carioca que se especializou nas temáticas de
natureza-morta e paisagens, sendo a primeira a que ganhou maior notoriedade. A sua
forma de representar composições com frutas, flores e plantas lembram as pinturas
feitas na época da Missão Holandesa, traçadas pelo realismo que sugere as texturas de
cada objeto.
56
ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX │ UNIDADE II
Das suas várias obras, podemos citar “Paisagem do Rio de Janeiro”, “Melão e Ananás”
e “Fábrica do Barão de Capanema”.
Como destaque de suas obras podemos citar “Moema”, “Dom Pedro II”,
“Juramento da Princesa Isabel”, “Primeira Missa no Brasil” e “Flagelação de
Cristo”.
57
UNIDADE II │ ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX
No seu retorno ao Brasil, Amoedo participou de várias exposições. Passou a fazer parte
do corpo de professores da academia e posteriormente vice-diretor. Nas suas obras,
predominou a figura humana representada em retratos e em composições. Das suas
obras ganharam destaque “Último Tamoyo” e “Marabá”.
58
ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX │ UNIDADE II
Os cânones, a estética, os temas, entre outros assuntos, passaram a ser ditados pelas
academias que conferiam formação oficial aos artistas, e que tinham um percurso
delimitado a ser traçado. A criação de academias foi muito importante não só para
institucionalização do ensino de artes, mas também para a frequente organização e
realização de exposições que davam a conhecer as obras dos artistas.
Contudo, nos finais do século XIX e adentrando o século XX, o homem e toda a sociedade
começam a mudar, observando-se uma nova dinâmica nas relações com o mundo e
consigo mesmo.
Nas artes produzidas no Brasil, estas mudanças tiveram seu embrião ainda
dentro da Academia de Belas Artes com a formação de uma nova geração de
artistas. As principais inquietações rondavam pela rigidez formal, estabelecida
na figura de seus professores, e nas questões temáticas em que se começava a
primar pela identidade do Brasil.
59
UNIDADE II │ ARTES NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX
Figura 26. A primeira pintura é de autoria de Modesto Brocos, intitulada “A redenção de Câ”. A segunda pintura é
Como referência de artistas, podemos citar os que definem a segunda geração que
se formou na Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro. São exemplos: Modesto
Brocos, Arthur Timótheo, Simão Correia de Lima, Antônio Rafael Pinto Bandeira, João
Timótheo da Costa e Almeida Júnior.
60
ARTES NO BRASIL UNIDADE III
NO SÉCULO XX
CAPÍTULO 1
Contexto do século XX e o início do
modernismo
Este cenário que exigia a presença de ampla mão de obra culminou em uma
grande imigração, na sua maioria de diversos povos estrangeiros como alemães,
italianos, espanhóis e japoneses, trazendo consigo as mãos para o trabalho
associadas aos conhecimentos e vivências experimentadas na Europa e na Ásia.
61
UNIDADE III │ ARTES NO BRASIL NO SÉCULO XX
O grau de transformação da arte a que se queria chegar não estaria sendo pleiteada
apenas pela mudança temática, procurava-se uma renovação acentuada e completa que
revolucionasse inclusive noções de estética, de materiais expressivos, de obras de arte
e das suas linguagens.
Essa procura por transformações que levassem a uma identidade nacional não estaria
em voga apenas no Brasil. Vários países da Europa vivam a mesma procura pela
identidade nos diversos setores do país, inclusive nas artes.
Mais do que nunca, havia certa consonância nos sentimentos patrióticos que levaram
ao autoconhecimento, observando as origens do próprio povo e as influências históricas
que aconteceram.
62
CAPÍTULO 2
O cenário artístico antes da semana de
1922
Uma década antes da entrada do século XX, a Academia Imperial de Belas Artes (ou
somente Academia de Belas Artes), situada no Rio de Janeiro, passou a ser conhecida
por Escola Nacional de Belas Artes, fato que não garantiu que tivessem acontecido
grandes mudanças no ensino das artes no Brasil.
Falando sobre os artistas que saíam do Brasil para a Europa, Bopp (2012, pp. 262-269)
esclarece que estes
Esse enfrentamento teve como palco principal o estado de São Paulo, como
já referido. E pode-se notar que as transformações pelas quais se ansiavam
passavam por vias artísticas e também acarretavam em questões políticas,
fomentando uma postura diferente por partes dos artistas, não mais como
reprodutores de cânones institucionalizados, mas sim descobridores e autores
da própria identidade artística.
63
UNIDADE III │ ARTES NO BRASIL NO SÉCULO XX
É neste sentido que se inicia a Arte Moderna no Brasil, mais precisamente em São
Paulo, com a presença de artistas que enfrentaram os conservadores e começaram
a presentar uma arte totalmente diferente ao que se tinha visto até então.
Das suas exposições individuais, a que teve maior repercussão foi a que aconteceu em
São Paulo, em 1917. Realizada numa galeria de arte situada na rua Libero Badaró,
com o apoio de Di Cavalcanti, Malfatti expôs cerca de 53 obras entre pinturas e
esculturas elaboradas com cores vibrantes (de ANDRADE; SILVA, 2015, l. 111).
O seu autor foi Monteiro Lobato, naquele momento um dos mais notórios
escritores, intitulou o artigo “Paranoia ou Mistificação”, na qual ele claramente
deixa transparecer sua rejeição aos traços expressionistas da artista.
Conforme Amália e Minerini (2019), esta crítica teria sido o gatilho para que
modernistas se reunissem a fim de juntarem forças para defenderem seus
ideais. Destaca-se aqui que as reuniões em prol do modernismo no Brasil não
aconteciam apenas com os artistas, mas também com poetas, críticos entre
outros.
64
CAPÍTULO 3
Semana de 1922
Foi a partir de uma dessas reuniões que surgiu a organização do evento que marca
concretamente o início da Arte Moderna o Brasil. Bopp (2012, l. 282) relata que
65
UNIDADE III │ ARTES NO BRASIL NO SÉCULO XX
Figura 28. Pinturas de Di Cavalcanti. A primeira obra intitula-se “Pescadores”, a segunda denomina-se “Cinco
moças de Guarantinguetá”.
66
CAPÍTULO 4
Repercussões após 1922
Tarsila do Amaral, pintora e desenhista nascida em Capivari, São Paulo, tornou-se uma
importante personagem na história da arte do Brasil desenvolvendo traços e colorismo
únicos com os quais elaborou a obra pictórica símbolo da Arte Moderna no Brasil,
Abapuru.
Não tendo participado da Semana da Arte Moderna em São Paulo, Tarsila deixou sua
marca pela criação de dois movimentos que elaborou junto com Oswald de Andrade,
importante escritor, poeta e crítico daquele período.
A partir de novas referências, Tarsila elaborou várias pinturas que marcaram sua
fase denominada Pau-Brasil, compondo o nome do manifesto de 1923 (Manifesto
Pau-Brasil) a partir do qual se estabeleceram alguns princípios artísticos baseados
nos contextos rurais e urbanos que se viviam naquela época, ao mesmo tempo em
que se buscavam retratar elementos brasileiros nas figurações e nas cores usadas (de
ANDRADE; SILVA, 2015).
Figura 29. Pinturas de Tarsila do Amaral. A primeira obra intitula-se “São Paulo (135831)”. A segunda nomeia-se
“Abaporu”.
67
UNIDADE III │ ARTES NO BRASIL NO SÉCULO XX
Nas suas obras, Portinari fez retratos das pessoas brasileiras, apresentadas em
diferentes cenas do cotidiano e do trabalho nos cafezais. Dos seus trabalhos
mais importantes, destacam-se os murais pintados no prédio do Ministério da
Educação.
No caso de Ismael Nery, artista e escritor nascido no Pará, este elabora suas obras com
características essencialmente cubistas e expressionistas, inspirações que absorveu nas
suas viagens à Europa quando estavam em voga. Dessa forma, Nery apresentou uma
nova estética que até naquele momento não se tinha observado, fazendo dele um dos
artistas pioneiros nesses estilos no Brasil.
68
ARTES NO BRASIL NO SÉCULO XX │ UNIDADE III
Nas suas obras, imperaram as figuras humanas com trato mais geométrico, apresentando
poucos detalhes numa linhagem mais simplista. As cores são vivas e o contraste claro-
escuro é bastante trabalhado.
Figura 31. Obras de Ismael Nery. A primeira pintura intitula-se “Duas Amigas”. A segunda denomina-se “Figura”.
Todos estes artistas, Tarsila do Amaral, Portinari e Nery, apesar de não terem exposto
na Semana de Arte Moderna, em São Paulo, em 1922, conseguiram participar de outros
eventos oficiais como o Salão Nacional de Belas Artes. Por meio das inovações ocorridas
no Salão Nacional de Belas Artes, pelas mãos de Lúcio Costa, ampliaram a possibilidade
de participação de diversos artistas nos eventos.
Outra vertente foi a organização de diversos eventos como a Bienal de São Paulo, na
qual inúmeros artistas daquele período tinham espaço para mostrar suas obras ao
público e dar a conhecer as correntes que estavam em voga.
69
UNIDADE III │ ARTES NO BRASIL NO SÉCULO XX
A criação de diversos museus, como o Centro Cultural de Belas Artes no Ceará, o Museu
de Arte de São Paulo, o Museu de Arte Moderna de São Paulo e Museu de Arte Moderna
do Rio de Janeiro, que foram importantes instituições que ajudaram na divulgação das
artes e dos artistas da época.
70
CAPÍTULO 5
Concretismo no Brasil
É importante termos em mente que a produção artística nos tempos da Arte Moderna
praticada no território brasileiro, não permaneceu no mesmo estado como se
viu no seu início. Em consequência das diversas vanguardas e movimentos
artísticos que se desenvolveram na época, a arte viu-se em constantes propostas
inovadoras.
Nos anos de 1960, alguns destes movimentos foram os que apresentavam a arte concreta
e neoconcreta no Brasil, a partir de movimentos estrangeiros como De Stijl de Piet
Mondrian e a escola de arte Bauhaus.
71
UNIDADE III │ ARTES NO BRASIL NO SÉCULO XX
Figura 33. Obra de Hélio Oiticica intitulada “Parangolé P1, Capa 1”.
São Paulo foi palco para a exposição “Proposta 65”, realizada na Fundação Armando
Alvares Penteado. A inovação deste evento foi marcada pela participação mais expressiva
de mulheres o que, até aquele momento, não havia acontecido. Como artistas da
exposição estiveram Vera Ilce, Waldemar Cordeiro, Ubirajara Ribeiro, Judith Lauand,
Maria do Carmo Secco, Niobe Xandó, Mira Schendel, Mona Gorovitz entre muitos
outros.
72
ARTES NO BRASIL NO SÉCULO XX │ UNIDADE III
73
CAPÍTULO 6
Arquitetura moderna
A arquitetura moderna surgida no Brasil, assim como toda a arte moderna, é fruto
de profundas transformações no pensamento sobre questões de identidade nacionais
associadas a novos entendimentos sobre padrões estéticos e visuais e sobre técnicas de
criação e materiais.
74
ARTES NO BRASIL NO SÉCULO XX │ UNIDADE III
Inspirado por estes princípios, para construir Brasília Lúcio Costa se reuniu a outros que
partilhavam as mesmas ideias modernas, dentre eles, arquitetos, artistas, urbanistas,
escultores e paisagistas. São exemplos Oscar Niemeyer, Roberto Burle Marx, Athos
Bulcão, Bruno Giorgi, Marianne Peretti, Alfredo Ceschiatti e Dante Croce.
As obras mais conhecidas foram projetadas por Oscar Niemeyer que, de acordo
com Cury e Zilda (2017), teve como inspiração primária as montanhas de Minas
Gerais além da arte que marcou esta região. Dessa forma, as obras de Niemeyer
ficaram marcadas pelas curvas resultantes da arte barroca adaptadas à rigidez
do concreto, usado como novo material expressivo e construtivo.
75
UNIDADE III │ ARTES NO BRASIL NO SÉCULO XX
Figura 35. Obras arquitetônicas modernas em Brasília. A primeira imagem à esquerda é a Torre de TV, à direita e
em cima, é a Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida. Em baixo, está a imagem do Palácio da Justiça.
Em Brasília, suas obras mais distintas estão ao longo do eixo monumental para o
qual lhe coube a missão da projeção do seu paisagismo. Dessas obras, podemos
destacar os jardins do Palácio do Itamaraty, do Teatro Nacional, do Palácio da
Justiça, do Tribunal de Contas da União, além da Praça das Fontes.
Em todas essas obras, em meio ao cerrado, Marx conseguiu resgatar novas formas
vivas da natureza brasileira integrando as águas, bem tão precioso e caro a esta
parte do país.
Não somente Marx, mas igualmente Athos Bulcão buscou transmitir nas suas
obras esta integração, baseada nas formas da natureza associando esta à
abstração geométrica.
76
ARTES NO BRASIL NO SÉCULO XX │ UNIDADE III
Não obstante ter desenvolvido obras nos mais diversos materiais (mármore,
granito, ferro e madeira), Bulcão se destacou nos seus azulejos em que, a partir de
poucas variações de desenhos, compunha espécie de quebra-cabeças que resultavam e
padrões visuais diferentes.
Figura 36. Obras de Athos Bulcão localizadas em Brasília. A primeira imagem, em cima, é uma composição de
azulejos na Portaria do Bloco F da SQN 107. A segunda imagem, em baixo, é uma composição de azulejos no
Para conhecer mais padrões e obras (azulejos, pinturas, desenhos etc.) feitas por
Bulcão, acesse o site da sua fundação https://fundathos.org.br/galeriavirtual, no
qual se encontram reunidas imagens de diversas obras deste artista.
77
ARTE, MEMÓRIA E UNIDADE IV
PATRIMÔNIO
CAPÍTULO 1
Arte e cultura
A Arte, nas suas diferentes linguagens, como as artes plásticas (pintura, escultura
etc.), a arquitetura, a dança, o teatro, entre outras, tem sido mundialmente
reconhecida como importante fator para o conhecimento cultural de um povo.
Assim sendo, as artes, nas suas diversidades, revelam características específicas
de um determinado grupo, com distinta construção histórica e social formando
o que denominamos de cultura.
A partir destas duas ideias, podemos entender que a cultura só é possível devido
às ações dos homens, que, tornando-se concretas, culminam na formação de
conhecimentos que, pela sua relevância, são perpetuados por meio de seu
ensinamento ascendendo ao longo dos tempos.
78
ARTE, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO │ UNIDADE IV
A cultura material é composta por todas as realizações do homem que são possíveis de
se tatear, como, no caso da área artística, os objetos artísticos (telas pintadas, desenhos,
espaços arquitetônicos e suas decorações, cestos e jarras, gravuras, sítios arqueológicos
etc.).
79
CAPÍTULO 2
Cultura e patrimônio
Como exemplo, Funari (2006, pp. 58-66) cita as catedrais, grandes igrejas que, para
além da função de espaço de culto, reuniam diversos objetos de grande valor simbólico
e material como as obras de arte que decoravam todos os cantos.
As igrejas que antes eram pequenas, pouco decoradas e recebiam poucos fiéis
passaram a ser feitas em tamanhos bem maiores com enormes espaços para o
acolhimento de uma multidão de fiéis que surgia de vários lugares do mundo.
Associada ao crescente poder financeiro das igrejas, as decorações passaram a
serem feitas com materiais nobres como pedras preciosas e ouro acompanhando
as representações sacras.
Não obstante, com o avançar dos tempos verificou-se que a ideia de patrimônio
e os elementos escolhidos para representar determinada nação apresentavam a
ideia de homogeneidade que na realidade não existia.
80
ARTE, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO │ UNIDADE IV
Dessa forma, a expansão do seu conceito, a definição de patrimônio passou a ser pautada
não apenas no campo histórico, como também em elementos revelados no cotidiano
que apresentam igual relevância. Em consequência, cresce de forma expressiva a
quantidade de bens (referindo-se aos elementos culturais) considerados patrimônios,
de natureza material e imaterial.
81
CAPÍTULO 3
Patrimônio e legislações
Nesta conferência, segundo Funari (2006), ficaram definidos desde o que seria
considerado patrimônio mundial ou da humanidade, os critérios de seleção e inclusão
dos bens culturais e as formas de preservação.
82
ARTE, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO │ UNIDADE IV
De igual importância como patrimônio nacional do Brasil, estes bens fazem parte da
construção histórica, geográfica, artística, ambiental e social deste território.
Para tal, ficou a cargo do Iphan acompanhar todo o processo que inclui a identificação,
a catalogação, a restauração, a preservação, a fiscalização e, ainda, a difusão do
Patrimônio Cultural Nacional.
Com o passar dos anos as leis foram sendo aprimoradas mediante as inovações
e as necessidades apresentadas pelas novas criações artísticas, novos conceitos,
critérios e ferramentas de preservação. Na constituição de 1988, as ideias
83
UNIDADE IV │ ARTE, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO
I - as formas de expressão;
Dessa forma, as leis destinadas a estas e a outras comunidades têm garantido não
só o reconhecimento como também a preservação e continuidade da existência de
suas expressões culturais.
84
ARTE, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO │ UNIDADE IV
85
CAPÍTULO 4
Patrimônios históricos e culturais no
Brasil
Nestas cidades, foram identificados bens considerados de relevante valor tanto para
o Brasil quanto para toda a humanidade, sendo em razão disso, classificados ao
mesmo tempo Patrimônios Nacionais e Patrimônios da Humanidade.
Bahia
No estado da Bahia, foi considerado Patrimônio da Humanidade todo o centro
histórico de Salvador, garantindo a preservação da sua estrutura urbana datada
do século XVI.
Figura 37. A primeira imagem é a Igreja do Senhor do Bonfim e a segunda a Sacristia do Convento do Carmo.
86
ARTE, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO │ UNIDADE IV
Minas Gerais
Talvez o estado que reune maior número de bens considerados Patrimonio Mundial e
Nacional, Minas Gerais reúne, em suas diversas cidades, vários exemplares de registros
artísticos foram considerados importantes.
Segundo da Silva (2012), Minas Gerais teve seu ápice por volta do século XVIII, devido
à exploração de minérios, tendo destaque para o ouro, metal estremamente valioso.
O ouro fez-se presente nas decorações arquitetônicas das igrejas e monastérios, na
maioria no interior das extruturas, coincidindo com o período artístico denominado
barroco.
Figura 38. A primeira imagem é vista geral do conjunto do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos. A segunda
87
UNIDADE IV │ ARTE, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO
Pernambuco
No estado de Pernambuco, como patrimônio destaca-se o Centro Histórico de Olinda,
cidade que reúne grandes festejos tradicionais em que outros elementos culturais
afloram. Também conhecido por Cidade Alta, este centro histórico apresenta estrutura
urbanística colonial como diversas construções como igrejas barrocas, jardins e
conventos.
Figura 39. A primeira imagem é o Retábulo da capela-mor da Igreja do Mosteiro de São Bento. A segunda
imagem é uma casa de muxarabi na Rua do Amparo. Ambas construções se localizam em Olinda/PE.
Piauí
No estado do Piauí, assim como em outros estados, a seleção de sítios
arqueológicos como patrimônio tem sido de suma importância para preservação
dos registros artísticos encontrados neles. A essas ações de preservação se
associam por vezes o investimento em pesquisas arqueológicas fundamentais
para novas descobertas.
88
ARTE, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO │ UNIDADE IV
Figura 40. Pintura rupestre localizada no Parque Nacional Serra da Capivara – PI.
Brasília
Na cidade de Brasília, atual Distrito Federal do Brasil, foi considerado patrimônio o
seu Plano Piloto, desenho a partir da qual a cidade foi erguida. Símbolo da arquitetura
moderna, Brasília foi projetada por Lúcio Costa, pelos princípios básicos da Carta de
Atenas (da SILVA, 2012) na qual as cidades deverão ser organizadas por áreas com
funções específicas. Essas áreas correspondem ao que, no projeto de Lucio Costa,
denominaram-se de escalas, sendo, mais precisamente, a escala monumental, a
bucólica, a gregária e a residencial. A escala monumental, correspondente ao Eixo
Monumental do Plano Piloto; é onde se localizam a maior parte das construções
artísticas características da cidade.
89
UNIDADE IV │ ARTE, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO
90
Referências
A924. Plano Piloto 50 anos: cartilha de preservação – Brasília. Brasília, DF: IPHAN
/ 15ª Superintendência Regional, 2007. 103 p. : il. ; 16 cm. ISBN – 978-85-7334-052-
5. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/plano_piloto_50_
anos(2).pdf. Acesso em: 26/11/2019.
BATISTA, Eduardo Luis Araújo de Oliveira. Iconografia tropical: motivos locais na arte
colonial brasileira. An. mus. paul. [online]. 2017, vol. 25, n.1, pp. 359-401. ISSN 0101-
4714. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1982-02672017v25n0113. Acesso em:
30/10/2019.
BRACHER, Carlos. Aleijadinho 200 anos. Editor: Paulo Lemos. 2018. Edição do
Kindle.
91
REFERÊNCIAS
FREITAS, Grace de. Brasília e o projeto construtivo brasileiro (Arte +). Zahar.
2007. Edição do Kindle.
92
REFERÊNCIAS
93
REFERÊNCIAS
VELTHEM, Lucia Hussak Van. Artes indígenas: notas sobre a lógica dos corpos e dos
artefatos. Textos escolhidos de cultura e arte populares, Rio de Janeiro, v.7, n.1,
pp. 19-29, mai. 2010. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/
tecap/article/view/12052. Acesso em: 13/10/2019.
ZILIO, Carlos. Formação do artista plástico no Brasil: o caso da Escola de Belas Artes
da UFRJ. R. bras. Est. Pedag., Brasília, vol. 66, n. 153, pp. 273-85, maio/ago. 1985.
Disponível em: http://www.carloszilio.com/textos/1985-rev-de-estu-pedag-formacao-
artista-ufrj.pdf. Acesso em: 28/10/2019.
Imagens
AMÈRICO, Pedro. A Carioca. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura
Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2019. Disponível em: <http://enciclopedia.
itaucultural.org.br/obra1145/a-carioca>. Acesso em: 4 de dez. 2019. Verbete da
Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7.
94
REFERÊNCIAS
95
REFERÊNCIAS
Sites
http://portal.iphan.gov.br/.
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/.
https://fundathos.org.br/galeriavirtual.
96
REFERÊNCIAS
www.brasil500.com.br.
www.funai.gov.br.
www.museudoindio.org.br.
www.socioambiental.org.
97