Edelman, Goodman e Heinich, substituem a questão o
que é arte por quando há arte, nos remetem para o conjunto de relações sociais entre artistas, instituições, curadores, críticos, públicos e até empresas, dispositivos publicitários que constroem o reconhecimento de certos objetos como artísticos.” [segue] A troca da pergunta estética precisa se encarregar, ao mesmo tempo, de como vem se transformando a indagação pelo social.” [48/49] “Como expressão das aproximações ente disciplinas artísticas e científicas, multiplicam-se os livros escritos entre sociólogos da arte e filósofos, antropólogos e artistas, assim como os frequentes encontros entre uns e outros e sua colaboração em exposições”. [segue] “O giro transdisciplinar da arte da arte, da antropologia e da sociologia configura uma situação do saber no qual entram em conflito a análise sobre processos estéticos que realizam estas ciências como experimentações desenvolvidas por artistas e com situações interculturais.” [p. 49] “[Nesta investigação], a importância dada às obras e aos seus processos de ressignificação leva em conta seu sentido parcialmente autônomo. Examinam-se as obras como parte de processos sociais e se mostra que, ao mesmo tempo, esse sentido nãos e esgota no que a materialidade da obra diz”. [segue] “ [Artistas contemporâneos, como Muntadas, Santiago Sierra, entre outros], alguns deles leitores habituais das ciências sociais, incitam perguntas sociológicas ou antropológicas. Mas talvez seu interesse maior resida no fato de que aquilo que comporta conhecimento em suas obras exige modificar a noção de ciência e os métodos com os quais procuramos conhecer”. [50] “Os artistas se apresentam como pensadores e pesquisadores que desafiam, em seus trabalhos, os consensos antropológicos e filosóficos sobre as ordens sociais, sobre as redes de comunicação ou os vínculos entre os indivíduos e seus modos de se agrupar.”. [p. 50] “Ser escritor ou artista não seria aprender um ofício codificado, cumprir requisitos fixados por um cânone e assim pertencer a um campo onde se conseguem efeitos que se justificam por si mesmos, tampouco, seria pactuar a partir desse campo com outras práticas – políticas, publicitárias, institucionais – que dariam repercussão aos jogos estéticos.”. [segue] “A literatura e a arte dão ressonância a vozes que procedem de diversos lugares da sociedade e as escutam de modos diferentes de outros, fazem com elas algo distinto dos discursos políticos, sociológicos ou religiosos”. [segue] “O que devem fazer para transformá-las em literatura ou arte? Diz Ricardo Piglia: ‘um escritor escreve para saber o que é literatura’. Talvez, seu modo específico de dizer resida nesse não chegar a se pronunciar plenamente, nessa iminência de uma revelação. Encontro um antecedente desta postura na frase de Walter Benjamin (...) ao definir a aura da arte como ‘a manifestação irrepetível de uma distância’.”. [segue] “É necessário outro modelo no qual a arte evite se transformar em forma de vida generalizada ou criar obras totais, como certas fusões acríticas com assembleias ou movimentos de massa. Tampouco se trata de transformar espectadores em atores, como no ativismo dos anos de 1960”. [segue] “A eficácia da arte é, segundo Rancière, uma “eficácia paradoxal”: não surge da suspensão da distância estética, mas da “suspensão de toda a relação determinável entre a intenção de um artista, uma forma sensível apresentada em um lugar de arte, o olhar de um espectador e um estado de comunidade”. Observem´possível duplo sentido de “comunidade”: “coletividade humana” e, também, “irmandade entre observador e obra”. [228] O rodeio sutil de Rancière para postular a eficácia paradoxal restaura, à primeira vista, a autonomia da arte. Ele afirma que a eficácia estética é atingida quando uma virgem florentina, uma cena holandesa de cabaré, uma taça de frutas ou um ready-made se apresentam separados das formas de vida que originariam uma produção. [segue] Essas obras já não são expressão da dominação monárquica, religiosa ou aristocrática, mas significam no âmbito de visibilidade oferecido pelo espaço comum do museu. A eficácia da arte procede de uma desconexão entre o sentido artístico e os fins sociais aos quais os objetos haviam sido destinados. Rancière faz um giro e chama essa desconexão de dissenso. (...) Em suas palavras, dissenso “é o conflito de muitos regimes de sensorialidade”. [segue] “A arte forma um tecido dissensual no qual habitam recortes de objetos e frágeis ocasiões de enunciação subjetiva, algumas anônimas, algumas dispersas, que não se prestam a nenhum cálculo determinável. Esta indeterminação, essa indizibilidade dos efeitos, na perspectiva que proponho, corresponde ao status de iminência das obras ou da ação artística não agrupáveis em metarrelatos políticos ou programas coletivos.” [segue] “Os artistas contribuem para modificar o mapa do perceptível e do pensável, podem suscitar novas experiências, mas não há razão para que modos heterogêneos de sensorialidade desemboquem em uma compreensão de sentido capaz de mobilizar decisões transformadoras.” [segue] “Não há passagem mecânica da visão do espetáculo para a compreensão da sociedade e, dali, para a política da mudança. Nesta zona de incerteza, a arte é apta, mais do que para ações diretas, a sugerir a potência do que está em suspenso. Ou suspendido. ” [p. 230]