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PERCURSOS SENSÍVEIS
CLAUDIA MARINHO
PATRÍCIA CAETANO
WALMERI RIBEIRO
(ORGS.)
•
CONSELHO EDITORIAL
Vincent M. Colapietro (Penn State University)
Daniel Ferrer (ITEM/CNRS)
Lucrécia D’Alessio Ferrara (PUCSP)
Jerusa Pires Ferreira (PUCSP)
Amálio Pinheiro (PUCSP)
Josette Monzani (UFSCar)
Rosemeire Aparecida Scopinho (UFSCar)
Ilana Wainer (USP)
Walter Fagundes Morales (UESC/NEPAB)
Izabel Ramos de Abreu Kisil
Jacqueline Ramos (UFS)
Celso Cruz (UFS) – in memoriam
Alessandra Paola Caramori (UFBA)
Claudia Dornbusch (USP)
José Carlos Vilardaga (Unifesp)
M338 Marinho, Claudia, Org.; Caetano, Patricia, Org.; Ribeiro, Walmeri, Org.
Das artes e seus percursos sensíveis / Organização de Claudia Marinho,
Patricia Caetano e Walmeri Ribeiro. – São Paulo: Intermeios; Brasília:
Capes; CNPq, 2016.
278 p. ; 16 x 23 cm.
ISBN 978-85-64586-040-5
1. Arte Moderna. 2. Cinema. 3. Teatro. 4. Dança. 5. Performance. 6. Artes
Visuais. 7. Território. 8. Curadoria. 9. Processo Criativo. 10. Metodologia.
I. Título. II. Metodologia(s) de processos de criação em artes. III. Fratura
romântica-positivista: um ensaio sobre a epistemologia da poiésis. IV.
Algumas experiências de arte em rede dos anos 80/90. V. Acaso e arte
computacional: tensões entre irregularidade e ordem. VI. A poética hacker.
VII. Documento de projeto e construção de referência de pesquisa. VIII. Da
filosofia e da arte contemporânea: para uma crítica diagramática da estética.
IX. A dimensão performativa do soma: metodologia somática e pesquisa. X.
Sintonia somática e meio ambiente: a abordagem somático-performativa de
pesquisa em artes cênicas. XI. Corpo em crise. XII. Tramar uma metodologia
de pesquisa indisciplinar. XIII. Pesquisas performativas e seus diálogos
possíveis. XIV. Deixe que o lugar determine. XV. Telebiosfera: abrigo sensível.
XVI. S.H.A.S.T.: processo investigativo em biotelemática. XVII. Reinvenção da
vida com sistemas enativos afetivos por pesquisa de arte e tecnociência dos
‘‘Novos Leonardos’’. XVIII. Marinho, Claudia, Organizadora. XIX. Caetano,
Patricia, Organizadora. XX. Ribeiro, Walmeri, Organizador. XXI. Intermeios
– Casa de Artes e Livros.
CDU 7.036
CDD 700i0
Catalogação elaborada por Ruth Simão Paulino
SUMÁRIO
Introdução
4. Com efeito, atividades que, após o Positivismo, seriam entendidas como ciências – tais
como astronomia, geografia e medicina – eram consideradas “Artes” no período clássico,
salientando-se sua dimensão produtiva.
5. Também se entende que as Artes Liberais são próprias do “homem livre”, e que as Artes
Servis estariam relacionadas com o trabalho manual (provavelmente escravo), mas essa
é uma noção complementar à noção transcendental da liberdade em relação à carne e ao
mundo. Inclusive a própria ideia de “liberdade” no mundo clássico e medieval está embutida
na noção de liberdade praticada naquele momento, e ainda hoje em algumas culturas, sendo
tradicionalmente transcendentalista. Para uma introdução rigorosa ao assunto, ver o verbete
12 das artes e seus percursos
dedicado à elevação da alma a um mundo espiritual, e aquilo que cede aos desejos
e tentações do corpo, foi se aprofundando nos séculos seguintes – afirmando de
modo notavelmente longevo a dicotomia ancestral entre Alma (artes liberais)
e Corpo (artes servis). E encontra, ao longo dos anos entre o Renascimento e
a Revolução Industrial, uma terminologia que estabeleceu claramente campos
socio-econômicos de produção, de Poiésis: aquilo que promove essa elevação
passa a ser mais comumente designado como Arte, enquanto aquilo que
sustenta a vida cotidiana vai sendo gradualmente denominado “artesanato”,
e a palavra grega Techné começa a designar o saber fazer, desvinculado de
qualquer intenção criativa consciente: saber misturar a tinta, saber preparar a
mistura de argamassa ou gesso, saber gramática e entonação vocal – a “técnica”,
independentemente de tratar-se de Arte ou de artesanato.
A Revolução Industrial, assessorada por diversos movimentos filosóficos
e sociais de fins do século XVIII e início do XIX – como o Empirismo e o
Utilitarismo, mas principalmente o Positivismo –, promove uma cisão explícita
entre o que seria do domínio da Arte, por um lado, e do artesanato, de outro:
o artesanato deveria ser completamente automatizado e eficientizado pela
indústria, por meio do estudo científico dos métodos e produção, enquanto a
Arte passou a ser vista como curiosidade, perda de tempo ou mesmo depravação.6
Por um lado, aquilo que é útil e aumenta o conforto deveria ser tratado como
objeto da ciência, do estudo científico da técnica, ou seja, “Tecnologia”;7
enquanto aquilo que seria especificamente a pura expressão ou questionamento
a partir da profundidade da alma passou a ser visto como algo perigoso, que
poderia questionar a ordem sociopolítica instituída. No entanto, esse campo de
expressão foi acolhido pela filosofia Romântica, que lhe abriu uma dimensão de
questionamento profundo da vida emocional, espiritual e cultural. A partir do
Romantismo, a Arte passa a designar um campo de impressão estética intensa,
que poderia pôr em xeque nossa percepção do real – e não apenas confirmá-
la, como foi comum na Arte pré-romântica. Não é por acaso que a categoria
estética mais valorizada por esse movimento foi o Sublime: a expressão de algo
“Arte” em: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
6. A carga moral de tais movimentos filosóficos e sociais era notável, e ecoavam as categorias
clássicas que opunham elevação da alma, por um lado, e subjugação desta aos desejos do
corpo, por outro. A Arte, desde Platão, estaria relacionada ao perigo da perpetuação da ilusão
do mundo.
7. “Tecnologia” foi um neologismo a partir da união das palavras para a “Arte” (Techné) e o
estudo científico (Logos). Do ponto de vista clássico, essa seria uma união, no mínimo,
inusitada, já que expressariam categorias opostas do pensamento. Mas, certamente, pode-se
fazê-las dialogar, como o faz o complexo tecno-científico contemporâneo.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 13
muito maior do que os meios disponíveis para tal.8 Surge ali a ideia do gênio
criativo, de sua dimensão “monstruosa”, da expressão do “Outro” filosófico nas
obras de fruição estética. E também ali se estabelecem as funções da Arte: a
mimese (imitação, simulação), a catarse (descarga emocional ou purificação)
e a educação (ampliação do repertório do público). Tais funções excluem
completamente qualquer participação ativa no cotidiano, e são desempenhadas
na fruição estética pura da obra em um museu, sala de concerto, galeria ou
apresentação pública etc. E tais funções aceitas para a Arte se manifestam no
cotidiano apenas mediadas pela fruição estética “desinteressada”.9
Em resumo, de um lado, o Positivismo toma para si a produção do
cotidiano, por meio da tecnologia e da indústria. Por outro, o Romantismo toma
para si a produção da psique, da cultura e da expressão estética. Em um sentido
muito rigoroso, a Arte passa a ser entendida como a expressão de conteúdos
que não se deixam reduzir ao que a Ciência e a Técnica podem expressar. Isso
implica questionar os limites filosóficos da percepção e do Real – pois, se a
Arte passa a fazer presente à percepção aquilo que não pode ser representado
enquanto conhecimento racional previamente estabelecido, as categorias em
operação em uma determinada episteme10 são postas em xeque pela obra de Arte.
Isso significou uma nova liberdade para um aspecto que, em certa medida, já era
intrínseco à Arte: a produção de um ente novo é, comumente, entendida como
algo que escapa à intelecção racional, mesmo que de uma entidade que possa,
a posteriori, ser racionalmente analisada. Por isso que, na Antiguidade e ainda
hoje, distingue-se entre Logos e Techné, como campos opostos e complementares
de entendimento e ação: o Logos trata do necessário, entendido como racional e
descritível de modo formal; e o Techné trata do possível, entendido como o que
pode existir de modos diversos, com autonomia à racionalidade e a múltiplas
descrições possíveis.
11. Esse aspecto de minha pesquisa está sustentado pela fenomenologia da percepção em Merleau-
Ponty (1975 e 1996), pela ecologia da percepção em J. J.Gibson (1977), na Ecologia da Mente
em Bateson (2000), e na teoria da mente de Searle (2002 e 2006). Gibson e Bateson são
influenciados por Korzybski (1994), que propõe o entendimento do Real como “construção
útil”, e não como “realidade última”, ou seja, como concretude.
12. Um último aspecto do Real, que não é de interesse intrínseco para esse ensaio, seria que ele
é parte do Concreto, já que as múltiplas representações que compõem o Real são entidades
que estão presentes no mundo Concreto: desenhos, imagens, pinturas, diagramas, mapas,
textos, arquivos digitais, tecnologias e toda a parafernália representacional é um complexo
de entidades concretas. Mas há uma ideologia muito presente no mundo contemporâneo
que nos vende a ideia de que as representações estariam em algum mundo “imaterial”, e ela
é parte do que chamo “ideologia da informação” (ver VASSÃO, Metadesign: ferramentas,
estratégias e ética para a complexidade. São Paulo: Blucher, 2010), que é pautada pela dualidade
corpo-espírito, e seus desdobramentos.
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13. Tassinari apresenta uma notável sumarização desse processo em que a obra de Arte Pós-
romântica engendra sua própria realidade em sua tese quanto ao “Espaço Moderno” (2001).
Tassinari não utiliza a terminologia que utilizo aqui e, diferentemente da minha abordagem,
acredita que o papel da obra de arte seja mesmo o de pura fruição outorgado pelo Romantismo.
16 das artes e seus percursos
creio que sejam. E afirmar que sejam seria dizer que há uma ontologia fixa, à
qual se recorre sempre que os três campos alheios à Arte são acionados: desse
modo, o artesanato, a técnica e o artificial em nada questionariam o que já se sabe
de acordo com a Ciência – podem apenas ilustrar o que é o “Real” segundo ela.
Talvez, a delimitação da Arte não se faz tanto por delimitar territórios
ou áreas de competência, e sim por meio de entender processologias diferentes,
algumas próprias da Arte, e outras próprias de outras formas de ação: não se trata
de conhecimentos diferentes, mas de modos diferentes de colocá-los em operação.
É por isso que se pode reconhecer a mesma mobilização ontológica que a Arte
empreende em um campo que se considera, em geral, bastante estável enquanto
forma de conhecimento: a Tecnologia. Ela não é muito diferente da Ciência,
enquanto forma e conteúdo de conhecimento. No entanto, ela é profundamente
diferente no sentido em que se aceita como criadora de novos mundos: cada
Tecnologia engendra uma nova Realidade, exatamente porque mobiliza novos
conceitos e novas ações, novas atualidades na práxis concreta de sua utilização
e adoção. Para entender isso, pode ser interessante tratar o assunto de modo
quase mitológico: O rei-Logos – do sonho positivista de dominação e controle a
partir de um cógito de verdades absolutas, de uma ontologia estabilizada porque
verdadeira e perene – convidou sua inimiga e complementar, a Techné-artesã – do
devir tempo-sonho,14 um devir-fluxo da mutação constante, que só se entende
como força motriz de realidades múltiplas, desprovidas de um chão constante –
para compartilhar de seu domínio, e queria desposá-la entendendo-a como uma
esposa obediente. Em outras palavras, o dominus positivista baniu a Arte como
alteradora do cotidiano, aceitando apenas o campo social de sua produção, e
circunscrevendo esse a um sistema controlado e debelado em sua potência de
alteridade. E acreditou que a Techné – controlada pelo Logos (tecno-logia) –
estaria circunscrita, por princípio, ao que este ditaria como verdade. E o que
sucedeu foi uma procissão de numerosas ontologias, cada uma motivada por uma
mudança profunda no “Real”, motivação que tinha origem na mudança de usos e
hábitos criados a partir de novas tecnologias em circulação livre pela sociedade.
“torna reais” conceitos banais hoje em dia – morar longe do trabalho, cidades
de baixa densidade populacional, bairros habitacionais semirrurais. Creditam-se
ao automóvel, e à sua popularização, mudanças de grande escala na natureza
das cidades, mas essas não ocorreram imediatamente após o surgimento da
indústria automobilística. O automóvel não cambiou completamente, e da
noite para o dia, os usos e práticas das cidades. Sua ontologia não apenas não
foi explicitada de início, como também não era inteiramente explorada por seus
próprios criadores.15
No caso de cada tecnologia, há, em sua proposta inicial, uma
visão simplificada do papel que ela terá para a sociedade e a cultura, que
invariavelmente se revela parcialmente correta, mas de um impacto muitíssimo
menor do que aquilo que de fato emerge de seu alastramento pela sociedade.16
A ontologia de uma nova tecnologia se revela aos poucos, à medida que sua
operação convida a sociedade a novos hábitos.
20. Dentre eles: Art Déco, Art Nouveau, o proto-modernismo holandês etc. O movimento Crafts
and Arts, que se declarava anti-industrial, valorizava a produção manual e os conhecimentos
a ela associados, o que também contribuiu diretamente para a criação do currículo tecno-
lógico da Bauhaus, assim como viabilizou a produção de itens domésticos em escala industrial
baseados nos achados estéticos do movimento.
21. Corolário necessário tanto da fenomenologia da percepção (MERLEAU-PONTY,
Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1996), como da noção “ecológica” da
percepção e pensamento, em Bateson (Steps to an Ecology of Mind. Chicago: University of
Chicago Press, 2000) e Gibson (“The Theory of Affordances”, 1977).
22 das artes e seus percursos
22. VENTURI, Complexidade e contradição em arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2004;
ARGAN, História da arte como história da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
23. É claro que não é assim que Design, ou Arquitetura e Urbanismo são explanados pelo
establishment acadêmico. Mas parte da proposta desse ensaio é exatamente o de explicitar
esse processo subterrâneo da interpenetração entre Arte e a “cultura de projeto” que está
subjacente no desenvolvimento do currículo acadêmico do projeto e do Design.
24. Certamente, essa noção de que o Design tem embutida, em sua prática, a mobilização
ontológica não é parte da autoconsciência da maioria dos Designers. No entanto, ela está,
sim, presente em suas práticas – fala-se muito de “educar os clientes”, criando neles o senso
do papel profundo que o Design teria para alterar o modo de perceber-se das empresas e
das linhas de produto. E uma das presenças mais notáveis no cenário empresarial atual é o
alastramento de técnicas de “Design Thinking”, que seriam capazes de alterar radicalmente
a operação das empresas, a partir de câmbios de percepção e novas categorias de ação no
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mercado (VIANNA e SILVA et al., O que é design thinking: inovação em negócios, 2011).
25. Vide a produção filosófica desde Schopenhauer, passando por Nietzsche, Husserl, Heidegger,
Deleuze e tantos outros.
26. Vide os dois teoremas de Gödel, que demoliram o sonho de formalização completa da
matemática, que seria a base para as outras ciências, segundo o Positivismo. Se a própria
matemática não pode ser elucidada enquanto projeto formal, o que dizer do restante das
ciências? Isso não significa que as ciências de nada valem, como se chega a afirmar, mas sim
que elas não podem aspirar a deter a única e completa explicação de todos os conteúdos
e assuntos, como se afirma tacitamente em boa parte dos discursos laudatórios quanto às
ciências.
27. Vide a lista de disciplinas como categorizadas pelo CNPq. http://www.cnpq.br/
documents/10157/186158/TabeladeAreasdoConhecimento.pdf.
28. Idem.
24 das artes e seus percursos
29. Deleuze e Guattari apresentam um entendimento das questões sócio-técnicas a partir de uma
coleção de conceitos renovadores. Contando com: as oposições entre “Árvore” e “Rizoma”,
Espaço Estriado e Espaço Liso, Ciência Régia e Ciência Nômade, código e sobrecodificação,
desterritorialização e “mecanosfera”. (DELEUZE e GUATTARI, Mil platôs: Capitalismo e
esquizofrenia. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995).
30. KOREN, Wabi-Sabi for Artists, Designers, Poets & Philosophers. Point Reyes: Imperfect
Publishing, 2008.
31. DELEUZE e GUATTARI, op. cit.
32.. PEIRCE, 2003. Mesmo que Peirce entenda a semiose como, inclusive, a semântica, adoto o
ponto de vista de Deleuze e Guattari, Derrida e outros representantes da chamada “Filosofia
26 das artes e seus percursos
Pós-Estruturalista”, em que a linguagem não é vista como a natureza do significado, mas sim
um processo de representação que pode, comumente, converter-se em prisão. (DELEUZE
e GUATTARI, op. cit., e O que é filosofia? Rio de Janeiro, Editora 34, 1991; DERRIDA,
Gramatologia. São Paulo: Perspectiva, 2004.)
33. Um bom exemplo é o ativismo do biólogo Richard Dawkins, que empreende uma cruzada
contra o fundamentalismo religioso, a qual tem os contornos gerais de uma postura, em si,
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religiosa – dogmática, agressiva e segregacionista (DAWKINS, The God Delusion. New York,
Bantam, 2006). Outro exemplo é o astrônomo e biólogo Carl Sagan, que acreditava que a
única chance de redenção civilizatória da humanidade reside na Ciência – notável reprodução,
provavelmente sem o saber, da ideologia positivista (SAGAN, O mundo assombrado pelos
demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. São Paulo: Companhia das Letras, 1997).
34. KUHN, A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 2001.
35. SHAPIN e SCHAFFER, Leviathan and the Air-Pump: Hobbes, Boyle, and the Experimental Life.
Princeton: Princeton University Press, 1985; LATOUR, 1998.
36. Latour desenvolve uma análise antropológica do contexto tecno-científico que desnuda
muito dessa ideologia. (LATOUR, Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. São
Paulo: Editora 34, 1998, e Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora.
São Paulo: Editora Unesp, 2000.)
37. MOLES, A criação científica. São Paulo: Perspectiva, 1998.
28 das artes e seus percursos
38. Provavelmente, é desse modo que os cientistas-ativistas, como os citados Sagan e Dawkins,
devem entender sua contribuição sociocultural: como uma subversão da opressão do Estado
por meio da elucidação de verdades tão profundas e imóveis que não podem ser solapadas
nem mesmo pela ordem totalitária. Uma visão estranhamente romântica.
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39. Deste modo, inclusive a própria filosofia foi reclusa a uma posição secundária em relação
à ciência, o que é uma fabricação epistemológica positivista, amplamente conhecida e
denunciada (vide publicações introdutórias à história do conhecimento e da filosofia,
como em ABAGNANO, op. cit., e CHAUÍ, Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000).
Para compreender-se, historicamente, a ciência com uma das modalidades da filosofia, ver a
origem das ciências positivistas nas “filosofias naturais”, como entendidas e classificadas pelo
Iluminismo (Idem).
40. DELEUZE e GUATTARI, O que é filosofia?, 1991.
30 das artes e seus percursos
41. Talvez as abordagens mais distintas dentro do campo conhecido como “Complexidade” sejam
a do filósofo Edgar Morin (MORIN, Introdução ao pensamento complexo, 2005) e a do grupo
sediado no Santa Fe Institute (BETTENCOURT et al., “Growth, Innovation, Scaling, and
the Pace of Life in Cities”, 2007): tratam do limite das ciências, e se suas cegueiras inevitáveis;
e da complexidade enquanto objeto de simulação computacional, respectivamente. Isso não
impede que se façam pontes e diálogos entre os dois, como este pesquisador já o fez (VASSÃO,
2008 e 2010).
42. MERLEAU-PONTY (Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1996).
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43. GIBSON, “The Theory of Affordances”, 1977; BATESON, Steps to an Ecology of Mind, 2000.
44. McLUHAN, O meio são as massa-gens: um inventário de efeitos, 1969; MERLEAU-PONTY, “A
linguagem indireta e as vozes do silêncio”, 1975.
45. BATESON, op. cit.; DELEUZE e GUATARRI, Mil platôs: Capitalismo e esquizofrenia, 1995.
46. Interessantemente, temos uma explosão demográfica iniciando-se no mesmo período em que
ocorre a Fratura Romântico-Positivista, o início do século XIX – é óbvio que em decorrência
das grandes descobertas da ciência médica. Mas, certamente, há uma correlação que vai
além disso, possivelmente a composição do aparato biológico-produtivo que é a sociedade
industrial. Assim como o período das grandes reformas urbanas modernas inicia-se no mesmo
momento em que nasce a teoria da informação – a álgebra binária, ou lógica booleana
(proposta pelo matemático inglês George Boole), é contemporânea às reformas de Hausmann
em Paris: a emergência da lógica de Estado formalizada.
47. EAGLETON, Marx e a liberdade. São Paulo: Editora Unesp, 1999.
32 das artes e seus percursos
da Arte, e seu papel em uma vida integral; enquanto que o velho Marx parece
ter-se alinhado com o Positivismo e suas categorias, em especial com a mal-
desenvolvida ideia de “materialidade”.48 Concretamente, os povos nômades/
selvagens produzem integralmente sua vida, todos seus artefatos, utensílios
e mitos – não há divisão do trabalho no meio social e quanto a ‘classes’; em
especial, não há divisão entre estética/poética versus função/utilidade, como se
torna patente no mundo pós-Fratura, divisão que já se prenunciava e articulava
desde a fundação das instituições e da divisão social do trabalho.49 Não se está
propondo aqui que voltemos a uma vida aborígene, e sim que percebamos que
a construção do cotidiano nos é alheia porque ela, de fato, não é uma obra
nossa. Ela é, concretamente, uma obra coletiva da qual somos todos autores, e
nenhum de nós a conhece, ou a entende. O processo industrial, como queria o
velho Marx, é de fato um sistema de alienação, mas, contradizendo-se, o jovem
Marx diria que não é a posse dos meios de produção pela classe trabalhadora
que resolveria a questão da alienação (materialismo positivista) – como se fez
nas nações socialistas, com pouca consequência para essa questão – mas sim a
capacidade de construir-se a própria vida de modo intencional e consciente,
portanto estética e poética (idealismo estético); além de racional e funcional (em
uma possível integração que superaria a Fratura). A construção do cotidiano, de
modo integrado, envolveria a construção das próprias ferramentas de produção,
se não diretamente, pelo menos de sua apropriação cognitivo-simbólica pela ação
criativa. Do ponto de vista cognitivo, trata-se da necessidade do Metadesign:
um campo de considerações criativas a respeito da própria criatividade, também
chamado de “Meta-Arte”.50 O que se observa atualmente é a popularização
48. Pode-se entender como o ponto de clivagem na obra de Marx a passagem do idealismo
hegeliano para o materialismo positivista. A categoria do “material” é um grande problema
para a epistemologia moderna, porque é, de fato, uma categoria profundamente abstrata,
e cravejada de contradições, e pautada mais pelo senso comum do que pelas próprias
descobertas da física, da química e da ciência pós-positivista. O entendimento da “realidade
objetiva” como sendo de caráter “material” é altamente questionável (INNES e BOOHER,
Planning with Complexity: an Introduction to Callaborative Rationality for Public Policy. London,
Routledge, 2010; BATESON, op. cit.; KORZYBSKI, Science and Sanity: an Introduction to
Non-Aristotelian Systems and General Semantics. New York, Institute of General Semantics,
1994).
49. CLASTRES, A sociedade contra o Estado: pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac
Naify, 2003; DELEUZE e GUATTARI, Mil platôs: Capitalismo e esquizofrenia, 1995.
50. De fato, em um nível de abstração que considere o Design como forma de ação concreta
e integral sobre o cotidiano, ele se aproxima das operações da Arte pré-Fratura, e da
“Ciência Nômade” de Deleuze e Guattari. Alguns autores da Arte Conceitual cogitaram e
desenvolveram o conceito da “Meta-Arte”, ainda na década de 1970, propondo compreender
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Referências bibliográficas
as condições da criação da Arte elas próprias como uma obra de Arte (ALBERRO e
STIMSON, Conceptual Art: A Critical Anthology. Cambridge: Massachusetts, 2000).
34 das artes e seus percursos
Gilbertto Prado
1. A respeito de mail-art, ver: POINSOT, Jean-Marc. Mail Art: communication à distance concept.
Paris: Éditions Cedic, 1971; FISCHER, Hervé. Art et Communication Marginale: Tampons
d’artistes. Paris: Balland, 1974; GHINEA, Virgile. Dada et néo-dada. Luxemburgo: Édition
Renaissance, 1983; CRANE, Mike; STOFFLET, Mary. Correspondence Art: Source Book for
the Network of International Postal Art Activity. San Francisco, USA: Contemporary Art Press,
1984; ESPINOZA, César. Signos Corrosivos: Seleccion de Textos Sobre Poesia Visual Concrete –
Experimental – Alternative. México: Ediciones Literarias de Factor, 1984; LASZLO, Jean-Noël.
“Le timbre c’est la message”. In: Timbres d’artistes. Paris: Musée de la Poste, 1993, pp. 13-16;
38 das artes e seus percursos
HELD JR., John. A World Bibliography of Mail Art. Texas, USA: Dallas Public Library, 1989;
ZANINI, Walter. Catálogo Prospectiva’74, São Paulo, MAC-USP, ago./set. 1974; ZANINI,
Walter. “A arte postal na busca de uma nova comunicação internacional”, O Estado de S.
Paulo, 27/03/1977; BRUSCKY, Paulo. “Arte Correio”. Jornal Letreiro, n. 2, Natal, UFRN, ago.
1976; PLAZA, Julio. “Mail-Art: Arte em Sincronia”, Catálogo de Arte postal, XVI Bienal
de São Paulo, out./dez. 1981. PRADO, Gilbertto. “Um toque sobre a mail art”. Wellcomet
Boletim, n. 10, Dap-Ia-Unicamp, Campinas, jun. 1989, p. 12.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 39
Fig. 1 – Gilbertto Prado: 1. Arte Postal, XVII Bienal de São Paulo – Núcleo de Arte Postal
(foto do catálogo), 1981; 2. Venus, Mond, Mund, 1981; 3. Carimbo “Welcomet Mr. Halley,
1984; 4. Carimbo “Depois do Turismo vem o Colunismo” 1986/1998; 5. Carimbo e chancela,
1982; 6. Postal da série Circuito Impresso, 1985.
40 das artes e seus percursos
Fig. 2 – Gilbertto Prado: série Caixas Sedex, 1986; exposição individual “Par e Impar”, Centro
Cultural São Paulo, 1987.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 41
No final dos anos 70, começo dos anos 80, havia em Campinas uma rica
atividade de manifestações em arte postal com a forte participação de alguns
artistas como Hélio Leite e João Proteti, entre vários outros. Entre as exposições
locais, as de cunho estudantil também integravam trabalhos de arte postal,
como a I Mostra de Arte, em outubro de 1978 organizada por Décio Chiba
e outros no Centro Acadêmico da Faculdade de Engenharia de Alimentos e
Agrícola da Unicamp, assim como a revista ARTO4 e outras manifestações,
que serviam de nucleadores de contatos e de experiências entre jovens artistas
plásticos, poetas, fotógrafos e pessoas interessadas no campo das artes e das
2. Sobre textos selecionados do prof. Zanini, ler Walter Zanini: Escrituras críticas. Org. Cristina
Freire. São Paulo: Annablume/Mac USP, 2013.
3. Ocorria com frequência o revezamento do papel de “organizador”, e/ou da indicação “projeto
de”, em que esse papel do idealizador era uma das chaves, que junto com o tema ou proposta
trazia as participações mais elaboradas, específicas, um ponto de encontro e diálogos.
4. Equipe formada por Caio Glauco Sanchez, Elisabete Maria Saraiva, Eva Maria Botar, Flávio
Teixeira da Silva, Gilbertto Prado, José Colucci Jr., Juan Marcos Rossi, Marcelo Martino
Jannuzzi, Rubens Stuginski Júnior e Silvia Oberg, entre outros colaboradores. As reuniões
aconteciam na Casa dos Centros Acadêmicos da Unicamp, 1977/78.
42 das artes e seus percursos
5. Inicialmente, não me coloco como curador, que para mim é atividade bissexta, porém a
questão é interessante e tem relação com o meu percurso de artista também. Entre outras
participações pontuais além das de arte postal que estão apontadas neste texto, Emoção Art.
ficial II: Divergências tecnológicas – Itaú Cultural, São Paulo (2004); Exposição de Arte
Eletrônica do XII Simpósio Brasileiro de Computação Gráfica e Processamento de Imagens –
SIBIGRAPI, Unicamp (1999); Arte e Tecnologia no MAC-USP (1995).
6. Em 31 dezembro de 1983, Nam June Paik realiza o evento Good Morning Mr. Orwell,
transmissão interativa via satélite entre Nova York – WNET – e Paris – FR3. O projeto faz
uma homenagem/referência ao romance 1984, de George Orwell (1949).
7. http://www.gilberttoprado.net/projetos/halley/index.html.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 43
Fig. 4 “Babel Torre de Bambu”, Gilbertto Prado e Lucia Fonseca, Unicamp, 1987.
8. Com minha ida para a França em dezembro de 1989 para realizar o doutorado, Lucia Fonseca
assume integralmente o Welcomet Boletim e o Núcleo de Arte Postal da Unicamp.
9. http://vimeo.com/25872924http://www.youtube.com/watch?v=-hw8Uj_u5_o&feature=fvsr
http://www.gilberttoprado.net/projetos/babel/index.html.
10. http://vimeo.com/25873348http://www.youtube.com/watch?v=FafbLTxckfA
http://www.gilberttoprado.net/projetos/terraqueos/index.html.
44 das artes e seus percursos
Fig. 5 “A terra e seus terráqueos em 88”, Gilbertto Prado, com participação do Grupo Ô-Koto,
Clube de Criação de São Paulo, 1988. Selo Marcel Duchamp, Artpolice, 1987.
Fig. 6 Mesa redonda sobre Arte Postal e Propostas Contemporâneas, Clemente Padin, Gilbertto
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 45
Prado, Hudinilson Jr., João Pirahy, Leon Ferrari, Lúcia Fonseca, Maurício Villaça, Paulo Bruscky e
Paulo Klein, Instituto de Artes, Unicamp, 1987.
11. Os vídeo-encontros no período foram feitos com: Brasil: Paulo Bruscky, Maurício Villaça,
Lucio Kume, Ana André, Paulo Klein, Hudinilson Jr., João Pirahy, Ozéas Duarte, Roberto Keppler,
Célia Borato Carvalho, Orlando Guereiro;
Argentina: Edgardo - Antonio Vigo, Suzana Lombardo, Hilda Paz, Alfredo Manduel;
Uruguai: Clemente Padin, Antonio Ladra, Jorge Caraballo, A. Costa Bento, Ruben Tani;
Alemanha: Klaus Groh, Henning Mittendorf, Angela Mittendorf, Jo Kofflei (Joki);
Itália: Ruggero Maggi, Emilio Morandi, Denti, Dario Bozzolo;
Espanha: José Luis Mata, Antonia Payero, Victor Nubla, Anton Ignorant, Fransec Vidal, Carmem
Muntané, Ibirico, David Castillo, Montserrat Cortadellas, Verdin, Xavier Sabater;
França: Daniel Daligand, Caren;
Inglaterra: John Furnival
http://www.gilberttoprado.net/projetos/videoscopio/index.html.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 47
Fig. 8 Videoscópio: vídeo-encontros na rede de arte postal, Gilbertto Prado e Lúcia Fonseca,
1987-1989.
19. DONGUY, Jacques. “Fax, slow-scan, télématique, minitel, modems, esthétique des nouvelles
technologies de la communication à travers la décennie 1980 ou les jardins électroniques de
l’esprit”. In: O’ROURKE, Karen (Coord.). Art-Réseaux. Paris: Cerap, 1992, pp. 15-19.
20. MATUCK, Artur. “São Paulo cidade planetária: breve história do slow scan em São Paulo”.
São Paulo, Sem data. [Texto inédito]. Ver também MATUCK, Artur. “Telecommunications
Art and Play: Intercities São Paulo/Pittsburgh”. Leonardo, San Francisco, v. 24, n. 2, pp. 203-
206, 1991.
52 das artes e seus percursos
21. Posteriormente foi incluído no artigo “Desert Sun/Desert Moon”, de Elizabeth Goldring,
publicado na revista Leonardo, n. 4, de 1987.
22. FADON, Vicente. “Still Life/Alive”. Leonardo. Abstracts, San Francisco, v. 24, n. 2, pp. 234-
235, 1991.
23. Para a relação completa de cidades e participantes, assim como textos sobre o projeto, ver
O’ROURKE, Karen (org.). Art-Réseaux. Paris: Cerap, 1992.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 53
Fig. 11 Intercâmbio de imagens via fax. Unicamp, 1989 (nas fotos, Artur Matuck, Gilbertto Prado,
Milton Sogabe e Paulo Laurentiz).
4 - Considerações finais
24. Sobre essa questão: PRADO, Gilbertto. “Algumas experiências de arte em rede: projetos
wAwRwT, colunismo e desertesejo”, Porto Arte, v. XVII, n. 28, maio 2010. Porto Alegre:
Instituto de Artes/UFRGS, pp. 71- 83. Outra importante referência é KAC, Eduardo.
Telepresença e bioarte: humanos, coelhos e robôs em rede. São Paulo: Edusp, 2013.
25. PRADO, Gilbertto. “Experiências artísticas em redes telemáticas”. Ars (São Paulo), São
Paulo, v. 1, n. 1, 2003. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1678-53202003000100005&lng=pt&nrm=iso>. Acessos em 17 ago. 2012.
http://dx.doi.org/10.1590/S1678-53202003000100005. Ver também: PRADO, Gilbertto.
“Experimentações artísticas em redes telemáticas e web”. In: Interlab: labirintos do pensamento
contemporâneo. Coord. Lucia Leão. São Paulo: Iluminuras, 2002, pp. 115-125. DONATI,
Luisa Paraguai; PRADO, Gilbertto. “Artistic Environments of Telepresence on the World
Wide Web”. Leonardo, vol. 34, n. 5, pp. 437-442, MIT Press, USA, out. 2001.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 55
Além do endereço desses sites (ULR), esses espaços podem ser localizados
por ferramentas de busca, ou seja, disponíveis a qualquer pessoa que tenha
acesso à rede, em contrapartida aos eventos anteriores onde para se formar
o grupo da ação artística, os contatos eram muito mais longos e mediados
por cartas, telefones, fax e contatos pessoais, ou seja, ficavam mais restritos a
grupos de atuação específicos. Evidentemente, na internet esses grupos acabam
também se formando por simetrias e/ou interesses precisos mas a veiculação e
a informação dessas possibilidades para possível participação são muito mais
“abertas” e dirigidas a todos os interessados. Igualmente o grau de facilidade
para reunir esses grupos e disponibilizar a criação de um evento em rede, assim
como sua divulgação são enormemente agilizados: o grau de virtualização desses
contatos é muito maior ao mesmo tempo que a disponibilidade dos equipamentos
e a utilização dos mesmos são crescentes e se banalizam.
É importante remarcar que todos esses novos processos que atestam
presença e a influência da tecnologia da comunicação informatizada no cotidiano
do cidadão contemporâneo representam novos contextos para a reflexão e o
fazer artístico, ganhando inclusive um enorme espaço com o público leigo. É
todo um imaginário social e artístico que está em jogo e em transformação.
Espaços de transição, eles funcionam como ativadores ou catalisadores de
56 das artes e seus percursos
Referências bibliográficas
1. Entendo por fenômeno qualquer coisa que se apresente à mente, seja ela real – objetual –,
advinda do campo da ficção ou da própria mente, conforme conceituou Charles Sanders
Peirce: “Eu proponho o uso da palavra Phaneron como um nome apropriado para denotar o
conteúdo total de qualquer consciência […], a soma de tudo que temos em mente do modo
como for, a despeito de seu valor cognitivo” (“I propose to use the word Phaneron as a proper
name to denote the total contente of any one consciousness […], the sum of all we have in mind in
any way whatever, regardless of its cognitive value”). (EP 2, 362).
Todas as traduções utilizadas neste trabalho foram realizadas livremente por mim.
Como mostrarei a seguir, minhas concepções teóricas sobre o acaso são baseadas centralmente
no pensamento de Charles Sanders Peirce. Entretanto, devo alertar de antemão que uma
parte da concepção peirciana sobre o acaso tem como fonte reconhecida a teoria das causas
acidentais de Aristóteles, à qual Peirce se dedica a partir de 1890 (“O que Peirce quer dizer
por violação das leis da natureza pelo acaso?”. Cognitio: Revista de Filosofia. São Paulo, v. 10,
n. 1, p. 131, jan./jun. 2009c).
60 das artes e seus percursos
2. LOPES, Dominic McIver. A Philosophy of Computer Art. New York: Routledge, 2010, p. XIII.
3. NUNES, Benedito. Introdução à filosofia da arte. São Paulo: Ática, 2002, p. 19, os grifos são do
autor.
4. LOPES, Dominic McIver. Op. cit., p. 1.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 61
5. Idem, p. 3.
6. Ibidem.
7. MASON, Catherine. A Computer in the Art Room. The Origins of British Computer Arts 1950-
80. Hindrigham, Norfolk: JJG Publishing, 2008, p. IX.
62 das artes e seus percursos
8. SANTAELLA, Lucia. Matrizes da linguagem e pensamento. Sonora visual verbal. São Paulo:
Iluminuras, 2005, p. 23.
9. Ibidem.
10. Idem, p. 28.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 63
Portanto o ser acidental que se forma por si só não tem algo, um outro,
que diga como ele deve cristalizar-se. Por isso ele não pode ser apanhado.
Ele também não se corrompe por sua causa finalv ser indeterminada, em
constante construção. Portanto, ele não possui um relativo “não ser”, porque
já é por si algo próximo ao não ser, ou seja, aproxima-se do que Aristóteles
considerou como sendo o ser enquanto potênciavi. Tratamos de algo cuja
necessidade não pode ser determinada, pois seu ser é contingencial, livre, já
11. REALE, Giovanni. Aristóteles. História da filosofia grega e romana, vol. IV. São Paulo: Edições
Loyola, 2007, p. 43, os grifos são do autor.
12. Met., E2, 1026b 4.
64 das artes e seus percursos
que “de fato, das coisas que são ou que se produzem por acidente também a
causa é acidental”.13
O acidental é o que acaba por escapar. Entretanto, é esse escapar que
possibilita a emergência do que é necessário, pois é impossível que tudo seja
necessário:
Dado que nem tudo se gera necessariamente e sempre, mas a maior parte é
ou advém na maioria das vezes, é necessário que exista o ser por acidente.
Por exemplo, nem sempre nem na maioria das vezes o [homem] branco
é músico; mas, posto que às vezes ocorre, então será por acidente. Se não
fosse assim, tudo seria necessariamente.14
outra causa do seu produzir-se”.17 O particular não pode ser redutível à razão,
da qual a ciência é representante. O objeto do pensamento racional deve ser o
geral, o que apresenta um padrão de comportamento definido, que pode ser, ou
deveria ser em grande parte, predizível. Não é o caso da arte, do ser acidental
prenhe de significados que escapam à generalização.
Trato, pois, da arte e do acaso como correlatos, como formas anteriores
à generalização que se apresenta predizível. O caráter mágico, fortuito, da arte
é essencial para o entendimento de suas mensagens livres e para a construção
de seus métodos. Minha intenção não é tratar especificamente desses métodos,
mas tentar dar alguma legibilidade a esse caráter através do acaso.
A autora ainda nos alerta para o fato de que “se o acaso é ontologicamente
real , ele é possibilidade que pode se transformar em ocorrência a qualquer
vii
Tento uma análise do que aparece no mundo. Aquilo com que estamos
lidando não é metafísica: é lógica, apenas. Portanto, não perguntamos o
que realmente existe, apenas o que aparece a cada um de nós em todos
os momentos de nossas vidas. Analiso a experiência, que é a resultante
cognitiva de nossas vidas passadas, e nela encontro três elementos.
Denomino-os categorias.23
23. PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 2005, p. 22, grifos do autor.
24. EP 2, p. 272.
68 das artes e seus percursos
25. SILVEIRA, Lauro Frederico Barbosa. Curso de semiótica geral. São Paulo: Editora Quartier
Latin, 2007, p. 41, os grifos são do autor.
26. LESTIENNE, op. cit., p. 20.
27. SANTAELLA, Matrizes da linguagem e pensamento. Sonora visual verbal, 2005, p. 121.
28. ENTLER, Ronaldo. Acidentes e encontros na criação artística. São Paulo: ECA-USP, 2000. 202
p., Tese (Doutorado) – Escola de Comunicação e Artes, USP, São Paulo, 2000, p. 36.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 69
29. SANTAELLA, Matrizes da linguagem e pensamento. Sonora visual verbal, 2005, p. 122.
30. SANTAELLA, Lucia. “Sinequismo e onipresença da semiose”. Cognitio: Revista de Filosofia.
São Paulo, v. 8, n. 1, pp. 141-149, jan./jun. 2007, p. 141.
31. Idem, p. 143.
70 das artes e seus percursos
lado, a lei do hábito prescreve que os eventos atuais não podem escapar do
governo das leis. Entretanto, a regularidade das leis está constantemente
sendo violada em algum grau infinitesimal por um elemento de acaso
arbitrário.32
38. NÖTH, Winfried. “Máquinas semióticas”. In: QUEIROZ, João; LOULA, Ângelo; GUDWIN,
Ricardo (orgs.). Computação, cognição, semiose. Salvador: EDUFBA, 2007.
39. Ibidem, p. 164.
40. Ibidem, p. 166.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 73
Em todas as artes, o uso dos meios eletrônicos traz uma ampla possibilidade
de manipulação dos códigos que estimula a presença do acaso. O
computador, não obstante seja útil pela precisão de seu processamento,
será frequentemente usado pelos artistas para reciclar informações, para
simular o acaso e para permitir o intercâmbio de intenções entre o artista
e o público. Tudo isso leva a um campo muito vasto de experimentações
que tem em comum a mobilidade e a imprevisibilidade de seus produtos.41
resultado = 0.0
resultado = rand (1.0..6.0)
resultado.to_int
contato com outros artefatos ou com a mente humana. Se assim fosse, não
teríamos mais acidentes com aviões, por exemplo, pois estes são controlados
e monitorados por computadores. Pelo fato de estarem imersos na cultura, os
computadores só não erram nos contos de ficção científica que trazem ambientes
idealizadamente perfeitos. A afirmação de que o computador “não tem jogo”
também soa ficcional, visto que programar e executar programas é estabelecer
um sofisticado jogo de permutações icônicas, um jogo de distribuição de dados
que estão contidos nas voláteis memórias computacionais e nos processos de
comunicação com as mentes humanas. Outro índice determinista do texto é
a afirmação de que “basta repetir a mesma semente e o mesmo algoritmo para
obter o mesmo resultado”.
Ora, mesmo em computadores que estejam programados para tal, para
executar a mesma operação quando seu relógio interno marcar os mesmos
numerais do sorteio anterior, ou ainda se retrocedermos o relógio do computador
para que este reflita o momento anterior, ainda assim o acaso se faz presente, por
dependermos de uma ação humana. Sendo o próprio aparato computacional
fruto da mente humana, o acaso é também elemento substancial da essência
dos computadores, evidenciado ainda mais em nosso trato com eles. Um
exemplo da semente de indeterminação que rege os aparatos computacionais
pode ser evidenciado mais efetivamente com uma simples modificação em
nosso programa de sorteio de dados. Se retirarmos a terceira linha obteremos
resultados ainda mais heterogêneos, como “1.3513477”, “3.3524456”,
“4.8460064”, “3.6884344”, “5.463128” e assim infinitamente. Ora, temos então
no computador o acaso tecendo uma rede mais fina e mais sensível do que no
clássico exemplo de jogo de dados físico. Como conclusão, observo o seguinte
trecho de Flusser:
As teogonias visuais
44. FLUSSER, Vilém. O universo das imagens técnicas. Elogio da superficialidade. São Paulo:
Annablume, 2009, p. 25.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 77
Referências bibliográficas:
i Como mostrarei a seguir, minhas concepções teóricas sobre o acaso são baseadas centralmente
no pensamento de Charles Sanders Peirce. Entretanto, devo alertar de antemão que uma parte
da concepção peirciana sobre o acaso tem como fonte reconhecida a teoria das causas acidentais
de Aristóteles, à qual Peirce se dedica a partir de 1890 (“O que Peirce quer dizer por violação das
leis da natureza pelo acaso?”. Cognitio: Revista de Filosofia. São Paulo, v. 10, n. 1, p. 131, jan./jun.
2009c).
ii O termo “Estagirita” se refere a Aristóteles, pois o filósofo nasceu em Estagira, “cidadezinha
obscura da Macedônia oriental colonizada originalmente por jônicos” (LUCE, John Victor. Curso
de filosofia grega. Do séc. VI a.C. ao séc. III d.C. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994, p. 113).
iii Os significados do ser, para Aristóteles, são quatro: O ser segundo as diferentes figuras de
categoria; o ser segundo o ato e a potência; o ser como verdadeiro e falso e o ser como acidente ou
ser fortuito.
iv As categorias, ou tábua das categorias, de acordo com Aristóteles, compreendem o grupo de
significados do ser per si, por tratarem dos significados originários do ser. As categorias delineadas
pelo filósofo são: 1. A substância ou essência; 2. Qualidade; 3. Quantidade; 4. Relação; 5. Ação ou
agir; 6. Paixão ou padecer; 7. Onde ou lugar; 8. Quando ou tempo, 9. Ter e 10. Jazer.
v Sobre a causa final, esta “constitui o fim ou o propósito das coisas e das ações; ela indica aquilo
em vista de que ou em função de que cada coisa é ou advém ou se faz; e isso, diz Aristóteles, é o
bem de cada coisa” (Reale, 2005:54).
vi A distinção entre ato e potência se faz necessária para a compreensão do processo de criação a
partir do acaso. De acordo com Reale, “a experiência diz, com efeito, que além do modo de ser em
ato, há o modo de ser em potência: isto é, o modo de ser que não é ato, mas capacidade de ser em ato:
quem nega a existência de outro modo de ser além daquele em ato, acaba fixando a realidade num
imobilismo atualístico que exclui qualquer forma de devir ou de movimento” (2007:41). De modo
mais completo, é possível afirmar que “por exemplo, dizemos que vê, seja quem tem a potência para
ver, isto é, quem pode ver (isto é, o que tem a capacidade de ver, mas, momentaneamente, digamos,
tem os olhos fechados), seja quem vê em ato; ou dizemos que é sábio, seja quem pode fazer uso do
próprio saber (por exemplo, quem sabe aritmética, mas não está no momento contando), seja quem
dele faz uso em ato. Analogamente, dizemos também que é em ato uma estátua já esculpida e, ao
invés, que é em potência o bloco de mármore que o artista está esculpindo; e nesse sentido dizemos
que é trigo a muda de trigo, no sentido que é trigo em potência, enquanto da espiga madura dizemos
que é trigo em ato” (ibidem:38, grifos do autor). Ou ainda, nas palavras do próprio Aristóteles: “De
fato, dizemos que vê tanto quem pode ver como quem vê em ato; e de maneira semelhante dizemos
que sabe, tanto quem pode fazer uso do saber como quem faz uso dele em ato; e dizemos que está em
repouso tanto quem já está em repouso como quem pode estar em repouso. Isso vale também para as
substâncias: de fato, dizemos que um Hermes está na pedra e que a semi-reta está na reta, e dizemos
que é trigo também o que ainda não está maduro” (Met., ∆ 7, 1017b 2-8).
vii Sobre o conceito de real, devo deixar claro a posição que este ocupa no sistema filosófico de
Peirce. O autor adota um posicionamento ao qual denomina “idealista objetivo”, onde “o real é
entendido não como independente do pensamento em geral, mas do pensamento de um individual.
Há aqui duas definições. Na primeira, real é aquilo que permanece independente do que possa ser
pensado a respeito dele. Por exemplo, posso pensar o que quiser a respeito de alguma coisa, o que
não a torna um objeto necessariamente real. Pode ser apenas um sonho ou uma ficção. Objeto real
é aquele que vai resistir ao que o indivíduo pense de sua existência. Na segunda definição, real é
uma opinião final do curso de investigações sobre o objeto. Uma comunidade de investigadores
(dado o ser humano possuir a capacidade de adivinhar leis) é portadora de uma tendência para
atingir uma verdade a respeito desse real – verdade sempre aproximativa e provisória – no curso de
testes e confirmações empíricas. Realidade, portanto, é algo que independe do pensamento de um
indivíduo, mas possui um componente geral, uma mesma matriz conforme a lei compartilhada pela
natureza e pelo homem. De outra forma, como seria possível conhecer algo de natureza diversa?”
(Salatiel, 2009b:110).
viii Para um detalhamento maior a respeito destas colocações, ver PRIGOGINE, Ilya. O fim das
certezas. Tempo, caos e as leis da natureza. São Paulo: Editora Unesp, 1996.
ix Para uma discussão profunda a respeito da interatividade, consultar meu trabalho em
Poltronieri, 2009.
x De maneira breve, o nominalismo é uma doutrina filosófica que “sustenta que as coisas
denominadas pelo mesmo termo nada tem em comum exceto isso; o que todas as cadeiras tem em
comum é serem chamadas de ‘cadeiras’. Essa doutrina é habitualmente associada à tese de que tudo
que existe são individuais particulares, não existindo portanto ‘universais’. […] No entanto, é difícil
enunciar essa doutrina de modo peremptório, porque se as cadeiras podem partilhar a característica
de se chamaram ‘cadeiras’, então também deverão poder partilhar outras características. A questão
não deveria ser colocada em termos de quantas características em comum existem, mas sim em que
consiste ter uma característica em comum e se a linguagem desempenha um papel fundamental na
criação desse fenômeno. O nominalismo é uma versão extrema da noção sempre atraente de que
as características comuns das coisas são uma espécie de criação das idéias humanas” (Blackburn,
1997:268). Em oposição ao nominalismo, Peirce adota uma forte posição realista, onde a natureza
se autodetermina, independente da vontade ou das linguagens humanas.
xi Peirce estabeleceu uma hierarquia a respeito do acaso. Podemos, em seus textos, “apreender
até três concepções diferentes de acaso […] que progridem de um ‘fraco’ ou subjetivo para uma
posição mais ‘extrema’, de acaso objetivo” (Salatiel, 2009c:106). Os três tipos de acaso identificados
por Peirce são, a saber: “1) Acaso matemático: A principal característica é a independência de fatos
ou eventos, prescrita pela teoria das probabilidades. 2) Acaso absoluto: Responde pela variedade
e diversidade do mundo, originadas por um princípio de espontaneidade e novidade que viola
as leis da natureza, e uma condição de dependência (causalidade). 3) Acaso criativo: Se o acaso
absoluto interrompe uma lei pré-existente, e se as leis nascem de um acaso original (de acordo com
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 83
a cosmologia peirciana), então deve haver uma função criativa que opere antes da existência das
leis” (ibidem:108).
xii É por ser fruto direto do pensamento matemático e por operar por cálculos que os jogos
computacionais são icônicos. Vejamos: “Nas ciências exatas, em que a matemática é a linguagem
subjacente, embora a hierarquização dos fenômenos ou objetos e o uso em larga escala de conceitos
e definições reforcem a aparência de um caráter simbólico, persiste na verdade um jogo interno e
estrutural de signos matemáticos que se dá por semelhança […] a matemática, na sua composição
intrínseca, opera através de similaridades. Daí a possibilidade de obtenção de resultados imprevistos
a partir de outros previamente conhecidos” (Campos, 2003:137).
xiii http://www.ruby-lang.org/
xv Entler não leva nem em conta a existência de mecanismos sofisticados para a geração de
números pseudo-randômicos. Para um aprofundamento maior sobre o assunto, acessar http://
en.wikipedia.org/wiki/List_of_random_number_generators
A poética hacker
Fred Paulino
1. – Será possível admitir que homens com certas habilidades, dotados de inteligência, talento ou
genialidade, e que são indispensáveis para a sociedade, ao invés de se sentirem paralisados,
sejam livres para desobedecer às leis em certos casos?
– Isso seria difícil. E perigoso.
– A sociedade só ganharia com isso.
– Quem identificaria esses homens superiores?
– Eles mesmos. Suas consciências.
Diálogo do filme Pickpocket – O batedor de carteira, de Robert Bresson, 1959.
86 das artes e seus percursos
2. MACKENZIE, A. Cutting Code: Software and Sociality. New York: Peter Lang, 2006.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 89
esse acento lúdico fica claro quando observamos que muitos hackers são,
profissionalmente, programadores de jogos). Da mesma forma, o poeta, por sua
vez, é aquele que “reprograma” o vocabulário, criando novos significados, não
necessariamente lineares. O artista joga com os materiais do mundo; o poeta
manipula livremente as palavras, para além das normas gramaticais. Ambos
transfiguram linguagens, subvertendo-as.
Pois voltamos a Aristóteles, que, junto a Platão, foi pioneiro na
investigação da poesia enquanto criação estética. Várias de suas anotações
foram organizadas posteriormente no livro Poética, em que reflete sobre a
poiesis, ou seja, “fazer, compor, realizar, converter pensamento em matéria” – o
que curiosamente, diga-se, nos faz remeter à figura do maker e, por que não,
do hacker. Dentre diversas possíveis interpretações sobre sua obra, podemos
reconhecer a poesia como o processo criativo em si, que pode ter um viés lúdico
ou não, mas sempre resulta em uma experiência de prazer.
Pino Parini, por sua vez, afirma que “no campo das artes, poiesis se refere
à fascinação provocada no momento em que, mediante múltiplos fenômenos
associativos alcançados pela percepção, os diferentes elementos de um conjunto
se interrelacionam e integram-se para gerar uma entidade nova, denominada
estética”.3 Trata-se, literalmente, do próprio processo de hackeamento definido
como poesia e, portanto, como arte.
3. “En el campo de las artes, poiesis refiere a la fascinación provocada en el momento en que, mediante
múltiples fenómenos asociativos aportados por la percepción, los distintos elementos de un conjunto
se interrelacionan e integran para generar una entidad nueva, denominada estética.” – PARINI,
Pino. Los recorridos de la Mirada: del estereótipo a la creatividad. 2001. Disponível em: http://
es.wikipedia.org/wiki/Poiesis. Acesso em: 24/03/2015.
90 das artes e seus percursos
Referências bibliográficas
MACKENZIE, A. Cutting Code: Software and Sociality. New York: Peter Lang,
2006.
MANIFESTO “A Consciência hacker”, publicado por O Mentor em 1986.
PARINI, Pino. Los recorridos de la Mirada: del estereótipo a la creatividad. 2001.
Disponível em: http://es.wikipedia.org/wiki/Poiesis. Acesso em: 24/03/2015.
Claudia Marinho
1. Apresentação
1. WILSON, Stephen. “Arte como ciência: A importância cultural da pesquisa científica e o
desenvolvimento tecnológico”. In: Arte e vida no século XXI. São Paulo: Editora Unesp, 2013,
p. 149.
92 das artes e seus percursos
2. LADDAGA, Reinaldo. Estética da emergência. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 93
interno, por maior que seja a rede comercial ou acadêmica para a sua
implementação, a única coisa que conta é o que se põe nela e o que dela
se tira. 3
3. LATOUR, Bruno. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São
Paulo: Editora Unesp, 2000, p. 14.
4. Idem, p. 16.
94 das artes e seus percursos
2. Contexto da pesquisa
5. O que separa serious games do restante [dos jogos] é o foco em um resultado de aprendizado
específico e intencional para alcançar mudanças de performance e comportamento sérias,
mensuráveis e continuadas. (CARRYBERRY, 2008, apud ARAÚJO, Maicon Hackenhaar
de. “Jogo e serious games: conceito e bons princípios para análise do jogo SpaceCross, da
Volkswagen”. Anais: XI SBGames – Brasília – DF – Brasil, nov. 2012).
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 95
2.2 Inventário
Cada uma dessas fases é constituída por capítulos, estas, por sua vez, das
missões. Essa estrutura, descrita pelo viés de um gráfico, tem servido de parâmetro
para conectar as ferramentas oferecidas pela plataforma e os conteúdos gerados
e disponibilizados no Inventário, mas também como um meio de refletir sobre as
estratégias do design no desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares.
A produção do conteúdo do GDD partiu de ações colaborativas ancoradas
no uso de diagramas tendo em vista a possibilidade que oferece de colocar frente
aos olhos conceitos, formas e ideias ainda não partilhados e aqueles a serem
construídos. A opção por essa ferramenta fundamenta-se no caráter metaprocessual
do diagrama, como descrito por David Sperling (2013), ao afirmar que por ser
um ícone, representa por semelhança e provê um mapeamento (representação)
do processo que investiga.
Consideramos também a definição de diagrama trazida por Hoffmann
(2013), como estratégia de construção de representações externas do
pensamento baseadas em regras e convenções de um sistema de representação
e sua função de “facilitar processos de pensamento individual ou sociais em situações
que são complexas demais para serem conduzidas exclusivamente por meios cognitivos
internos”.9
10. SCHNEIDER, B. “Design: pesquisa e ciência”. In: Design uma introdução. São Paulo: Blucher,
2010, p. 274.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 99
11. FLUSSER, Vilém. O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunicação. São Paulo:
Cosac Naify, 2007.
12. ARGAN, Giulio Carlo. Projeto e destino. São Paulo: Ática, 2000, p. 22.
100 das artes e seus percursos
13. SALLES, Cecilia Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo: Intermeios,
2013, p. 26.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 101
14. LATOUR, Bruno. A esperança Pandora: Ensaios sobre a realidade dos estudos científicos. Bauru:
Edusc, 2001, p. 42.
102 das artes e seus percursos
6. Referências bibliográficas
Eric Alliez
Tradução de Cíntia Vieira da Silva
1. AGAMBEN, G. Qu’est-ce que le contemporain ?, trad. franç., Paris: Payot, 2008, p. 37.
2. DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Qu’est ce que la philosophie ?, Paris: Éditions de Minuit, 1991,
p. 188. [G. Deleuze, F. Guattari. O que é a filosofia?, São Paulo: Editora 34, 1997 (2ª edição),
p. 255. Tradução de Bento Prado Jr. e Alonso Muñoz.]
3. Cf. ALLIEZ, E.; BONNE, J.-Cl. La Pensée-Matisse. Portrait de l’artiste en hyperfauve, Paris, Le
Passage, 2005.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 107
4. Nota da tradutora: A pronúncia da sigla que dá título à tela de Duchamp com a Monalisa de
bigode seria próxima da frase elle a chaud au cul, que é uma gíria de baixo calão e poderia ser
traduzida como “ela dá para todo mundo”, segundo sugestão do autor.
5. DELEUZE, G. Différence et répétition. Paris: PUF, 1968, p. 4 [DELEUZE, G. Diferença e
repetição. 2. ed. revista e atualizada. Tradução de Luiz Orlandi e Roberto Machado. Rio de
Janeiro: Graal, 2006, p. 18.]
108 das artes e seus percursos
* * *
9. Cf. É. Alliez (com a colaboraçãode J.-Cl. Martin), L’Œil-Cerveau. Nouvelles histoires de l’art
moderne, Paris: Vrin, 2007.
10. Nota da tradutora: Em outro lugar assim como em qualquer outro lugar.
110 das artes e seus percursos
* * *
Mas é preciso dizer enfim qual é o traço maior dessa descontinuidade que
se desdobra em síntese disjuntiva da arte contemporânea. Eu o reagrupei sob a
ideia de regime ou de agenciamento diagramático para distingui-lo do regime estético
da arte e da análise formal que sustenta sua por demais genérica indeterminação
constitutiva. A estética é, com efeito, em Jacques Rancière esse momento
15. RANCIÈRE, Jacques. “Deleuze, Bartleby ou la formule littéraire”, in: idem., La chair des mots.
Politiques de l’écriture. Paris: Galilée, 1998, p. 187.
16. Sobre o paradigma literário do “regime estético” (e da estética rancièriana estritamente), ver
antes de mais nada Jacques Rancière, La parole muette, Paris, Hachette Littératures, 1998 (em
particular pp. 106-115 sobre a “metafísica da literatura” flaubertiana – e a conclusão em que o
avanço da literatura sobre as artes plásticas se torna o fato de uma “arte cética” capaz de viver
suas contradições).
17. Nota da tradutora: a expressão francesa para “senha” é mot de passe. O autor utiliza a
expressão mot de passe et de passage, que contém um jogo de palavras impossível de reproduzir
em português sem cair numa artificialidade extrema.
18. DELEUZE, G.; GUATTARI, F. L’Anti-Œdipe. Paris : Éditions de Minuit, 1972, p. 92.
[DELEUZE, G & GUATTARI, F. O anti-édipo: capitalismo e esquizofrenia 1. Tradução de Luiz
B. L. Orlandi. São Paulo: Editora 34, 2010, p. 108.
19. Nota da tradutora: a expressão em francês é tête chercheuse, um dispositivo de localização do
alvo utilizado em mísseis.
112 das artes e seus percursos
20. RANCIERE, Jacques. Aisthesis. Scènes du régime esthétique de l’art. Paris: Galilée, 2011, p. 306.
21. Idem, pp. 14-19.
22. BADIOU, A. “Troisième esquisse d’un Manifeste de l’affirmationnisme”, in: Idem,
Circonstances 2, Paris, Lignes – Éditions Léo Scheer, 2004, p. 95.
23. “ […] a arte trata o sensível região por região”: o motivo modernista é aqui solidamente
reafirmado (idem, p. 99).
24. Cf. A. Badiou, Petit Manuel d’inesthétique, op. cit., p. 22. [BADIOU, A. Pequeno manual de
inestética. Tradução de Mariana Appenzeller. São Paulo: Estação Liberdade, p. 23.]
25. A. Badiou, Le Siècle, op. cit., p. 218.
26. Idem., p. 219.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 113
* * *
de poder levado à sua forma ideal”.31 Mas a “forma ideal” é riscada por Deleuze
para substituí-la pelo princípio de uma “máquina abstrata [...] coextensi[va]
a todo o campo social”32 que não sela a diferença de natureza entre “micro”
e “macro” sem se ver rapidamente afetada por uma dupla direção ou por dois
estados opostos: o “diagrama do poder” regulado por um princípio de integração
das forças que é um plano de organização ligado ao Estado (enquanto regulador
molar dos “microdados” do diagrama); e o “diagrama das linhas de fuga [...]
ligado a uma máquina de guerra animando o “campo de imanência coletivo33”.
É em função dessa dupla instanciação que Deleuze opõe aos dispositivos de
poder foucaultianos sua própria concepção de um “agenciamento de desejo”
elaborado com Guattari. Ela afirma o primado do desejo (sempre agenciado: um
construtivismo desejante) e das linhas de fuga sobre o poder34 cujos dispositivos,
por mais abstratos que sejam, são sempre de reterritorialização no horizonte
de um capitalismo que não cessa de recodificar e de axiomatizar o que ele
desterritorializa em primeiro lugar.
Convocada por essa revolução copernicana em desejo/poder, a função
micropolítica de desterritorialização experimental da qual a arte se tornará
o laboratório reconduzindo as “Ideias” às relações de forças mais materiais
confirma-se pela argumentação desenvolvida por Deleuze: “se [se estabelece
que] os dispositivos de poder são de alguma maneira constituintes, só pode
haver contra eles fenômenos de ‘resistência’”.35 No lugar dos quais se afirmará
a existência de fenômenos de criação passando por um pensamento tornado
máquina de guerra, máquina de desterritorialização absoluta, positiva, e se
definindo por um diagramatismo cujo regime Deleuze antecipava em seu artigo
sobre Foucault: “o diagrama não funciona nunca para representar um mundo
objetivado; ao contrário ele organiza um novo tipo de realidade. [...] O diagrama
não é uma ciência, é sempre assunto de política [...] desfazendo as realidades e
as significações precedentes, constituindo outros tantos pontos de emergência
ou de criacionismo, de conjunções inesperadas, de contínuos improváveis”.36
31. FOUCAULT, M. Surveiller et punir. Paris: Gallimard, 1975, p. 207. [FOUCAULT, M. Vigiar e
punir. Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 170.]
32. DELEUZE, G. “Écrivain non: un nouveau cartographe”, op. cit., pp. 1216-1217.
33. DELEUZE, G. “Désir et plaisir” (1977), repris dans Idem, Deux régimes de fous, Paris: Minuit,
2003, pp. 121-122. [Há uma tradução de Luiz B. L. Orlandi, publicada em Cadernos de
Subjetividade, São Paulo, PUC-SP, n. especial, junho de 1996, pp. 15-25. Não foi possível ter
acesso à edição para localizar as citações.]
34. Idem, p. 116.
35. Idem, p. 117.
36. DELEUZE, G. “Écrivain non : un nouveau cartographe”, op. cit., p. 1223.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 115
“Ele duplica a história com um devir”, conclui Deleuze,37 pelo mapa de forças,
ou intensidades (um mapa intensivo), que ele pilota. O próprio diagrama está
aí submetido a uma desterritorialização que o desliga de seu uso científico
mais comum para participar de uma “arte” cartográfica indissociável de uma
distribuição de afetos subjetivando o conjunto do processo qualificando-o como
“desejante”. Se o princípio de um pensamento diagramático se extrai assim da
compreensão “esquematizante” do diagrama prolongando seu uso foucaultiano
até reverter sua lógica, ainda é preciso que sua desterritorialização se inscreva no
exercício do diagrama que confunde, per se, até sua etimologia em desenho-escrita,
espaço de visibilidade e campo de legibilidade, sem se limitar mais, portanto, ao
formalismo experimental de uma coadaptação abstrata entre forma de expressão
e forma de conteúdo38. É, com efeito, “o conteúdo mais desterritorializado e
a expressão mais desterritorializada que o diagrama retém, para conjugá-los.
E o máximo de desterritorialização vem ora de um traço de conteúdo ora de
um traço de expressão, que será denominado ‘desterritorialização’ em relação
ao outro, mas justamente porque ele o diagramatiza, arrastando-o consigo,
elevando-o à sua própria potência”.39
Trata-se das virtualidades reais de um “diagrama revolucionário de onde
decorrem a um só tempo um novo fazer e um novo dizer”40 em condições que,
para atingir “matérias não formadas, não organizadas, e funções não formalizadas,
não finalizadas”,41 e recolher consequentemente o elemento informal das forças
que banha o visível e o enunciável, poderão produzir “a exposição das relações
das forças que constituem o poder”.42 Pois é sobre essas relações de forças que
estão em jogo entre o conteúdo e a expressão que se determina “a estabilização
das relações de desterritorialização”43 do ponto de vista de sua formalização e
das formações de poder (estratificação) ou, ao contrário, a montagem de uma
máquina de desterritorialização intensiva que se coloca sobre os fluxos de signos
37. DELEUZE, G. Foucault, op. cit., p. 43. [DELEUZE, G. Foucault, op. cit., p. 45.]
38. Tal como sua formalização peirceana do diagrama, que mantém, no nível mais formal da
semiótica que engaja, a articulação em significante/significado.
39. DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mille Plateaux, op. cit., p. 177. [DELEUZE, G. & GUATTARI,
F. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia, vol. 2. Sobre alguns postulados da linguística. Tradução
de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão. São Paulo: Editora 34, 1995, p. 100.]
40. DELEUZE, G. “Écrivain non: un nouveau cartographe”, artigo citado, p. 1227.
41. DELEUZE, G. Foucault, op. cit., p. 42. [DELEUZE, G. Foucault, op. cit., p. 43].
42. Idem, p. 44. [DELEUZE, G. Foucault, op. cit., p. 46]
43. GUATTARI, F. “Échafaudages sémiotiques”, in: Idem, La révolution moléculaire. Paris:
Encres-recherches, 1977 (1e édition), p. 243. [Este artigo não consta da edição brasileira de
A revolução molecular.]
116 das artes e seus percursos
* * *
54. É aos trabalhos de Philippe Boudon que a gente deve o desenvolvimento da noção de “escala”.
Cf. Philippe Boudon, Sur l’espace d’architectural. Essai d’épistémologie de l’architecture. Paris:
Dunod, 1971; idem, Architecture et architecturologie. Paris: AREA, 1975.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 119
esticamento que a alarga até o solo em que ela está ancorada em torno do
pêndulo de Foucault. A estrutura reticulada e estática da cúpula – anamorfose
da grade ortogonal que comanda a reforma de todo o plano do Panteão como
um princípio de racionalização more geométrico – é assim capturada por um
jogo de forças deformantes e potencialmente dilacerantes que poderia assim
dar a perceber a estranha analogia formal da cúpula de ornamentos ocos
com o frontispício desenhado pelo Leviatã de Hobbes por Abraham Bosse.
A disposição dos ornamentos ocos não invocaria a dos sujeitos anônimos
apresentados de costas e cujas cabeças convergem em direção ao soberano
segundo uma perspectiva de assujeitamento “igualitário”, rigorosamente
calculada? Como se sabe, é sem dúvida a imagem mais constituinte do Poder por
ser a apresentação da protofundação política da Modernidade. A política aí se
afirma capaz de unificar o corpo do povo pela representação de todos os seus
“membros” em um organismo consentido, em paz consigo mesmo, que não é
outro além do “Estado”. Mas o Leviatã está igualmente depositado no título da
contrainstalação de uma maneira tal que a sintaxe significada-significante, que
de início se supõe atar em um mesmo “enunciado” o Leviatã bíblico ao in situ
de sua metaforicidade política hobbesiana, é logo perturbada pelo acoplamento
de um misterioso Toth – outro ou duplo mensageiro dos signos e dos gráficos
abrindo uma improvável linha de fuga que passa entre as duas figuras “míticas”
submetendo-as à posição em a-significância de suas cadeias significacionais. A
montagem rítmica do enunciado (than-thot)55 é também combinada à estranha
ortografia adotada por Neto para o deus egípcio Thot,56 que ele escreve Toth:
o que reforça ainda o registro da alteridade discursiva na qual está tomado “o”
Leviatã: uma D-enunciação, com efeito, submetendo a enunciação a essa função
de desterritorialização que Deleuze e Guattari anotam como D na conclusão de
Mil platôs.
Clínica – na medida em que essa posição em tensão é ela mesma
sustentada pela natureza fundamentalmente energética do processo de
apropriação ambiental: toda instalação repousa com efeito sobre a diferença
de potenciais e sobre os graus de intensidade entre os elementos (elasticidade
e resistência, leveza e ponderabilidade da poliamida extensíveis, estiramento
em longos feixes estreitos, em volumes expandidos ou em planos suspensos).
A tomada de ser virtual-real de sua alteridade física (um Corpo sem órgãos, diz
Referências bibliográficas
57. Sobre a “potente vida não orgânica” reportada ao Corpo sem órgãos, cf. G. Deleuze, Francis
Bacon, op. cit., p. 33-34 [DELEUZE, G. Francis Bacon: lógica da sensação. Tradução brasileira
de Roberto Machado (coordenação), Aurélio Guerra Neto, Bruno Lara Resende Ovídio de
Abreu Paulo Germano de Albuquerque e Tiago Seixas Themudo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 2007, pp. 35-37].
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 121
Patricia Caetano
modo pelo qual nos colocamos a abordar aquilo que nos atrai ao ato de pesquisar
pressupõe, concomitantemente, uma disponibilidade para ser abordado,
envolvido pelo que também nos espreita no ato de pesquisar. Ao propor um
acompanhamento dos processos da pesquisa em oposição à representação
de um objeto da pesquisa previamente dado, observamos alguma afinidade
entre a cartografia e os modos de pesquisar da Educação Somática. Campo de
conhecimento iniciado em fins do século XIX, a Educação Somática, ainda
hoje, se mostra um campo fértil para as possíveis construções nos territórios
da pesquisa em artes. Mas antes de adentrarmos nesta reflexão, será preciso
reconhecer que ao aproximarmo-nos da cartografia, já estamos tocando nas
discussões a respeito dos alicerces paradigmáticos envolvidos no fazer pesquisa.
De modo geral, podemos citar aqui o paradigma positivista e o paradigma pós-
positivista.
O surgimento da ciência moderna no século XVII inaugurou o paradigma
positivista que se tornou predominante na produção do conhecimento pela
comunidade científica. Segundo o paradigma positivista, haveria um mundo
preexistente ao sujeito do conhecimento, passível de observação e medição
por parte desse sujeito. O paradigma positivista estabelece o conhecer por
meio de uma abordagem do mundo que privilegia a abstração e a objetividade
distanciada, assim como também os modelos hipotéticos e dedutivos. Aqui
a pesquisa é concebida como representação de um objeto e caracteriza-se
principalmente pela separação entre o objeto e o sujeito da pesquisa. A partir
de então, “abordagens mais perceptivas e/ou intuitivas foram mais ou menos
ignoradas pelo menos na comunidade científica que foi construída”.2
Para Virgínia Kastrup, toda atitude investigativa opera uma política
cognitiva determinada, “um tipo de atitude ou de relação encarnada que se
estabelece com o conhecimento, com o mundo e consigo mesmo”.3 Seguindo
a perspectiva do paradigma positivista, o sujeito cognoscente opera uma
atitude realista, idealista e individualista atuando como centro do processo do
conhecimento e tomando-o como uma questão de representação.4 Pelo viés
positivista, o pesquisador atua no processo de construção do conhecimento a
2. COESSENS, Kathleen. “A arte da pesquisa em artes: Traçando práxis e reflexão”. Art Research
Journal/Revista de Pesquisa em Arte, vol. 1/1, p. 6, jan./jun. 2014. Disponível em: http://www.
periodicos.ufrn.br/artresearchjournal/issue/view/354.
3. KASTRUP, op. cit., p. 34.
4. KASTRUP, “Políticas cognitivas na formação do professor e o problema do devir-mestre”.
Sociedade & Educação. Campinas, vol. 26, n. 93, set./dez. 2005. Disponível em: http://www.
cedes.unicamp.br.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 125
partir de uma política cognitiva realista. É possível reconhecer que ainda nos
dias atuais, muitas pesquisas em diversos campos do conhecimento, inclusive
nas artes, balizam-se pelo paradigma positivista de pesquisa. No entanto,
para além dessa política cognitiva, Kastrup nos apresenta ainda uma segunda
atitude investigativa que aponta para uma política cognitiva construtivista,
ou inventiva, na medida em que o agente do conhecimento toma o mundo e
a si próprio como invenção, ambos coengendrando-se mutuamente. Aqui, o
pesquisador desenvolve uma atitude cognitiva e atencional disponível ao plano
processual das forças moventes. O sujeito que se coloca em atitude de conhecer
desloca-se de um lugar centralizado no fazer da pesquisa. Aqui o sujeito deixa
de ser o único agente da pesquisa, aquele que age e passa a exercer, ele também,
um papel receptivo. Nessa abordagem, sujeito pesquisador e elemento a ser
pesquisado tornam-se ambos agentes e receptores do processo de pesquisar.
Nessa trilha, a política cognitiva inventiva nos faz atentar para
o paradigma pós-positivista, que compreende a existência de múltiplas
realidades engendradas pelos diferentes pontos de vista e abordagens dos
pesquisadores e seus contextos. Nesse paradigma os processos de produção
de subjetividade fazem parte dos processos da pesquisa, e, portanto, sujeito e
objeto de investigação não se encontram distanciados, mas atravessando-se e
cocriando-se constantemente. O paradigma pós-positivista aponta caminhos e
norteia reflexões para possíveis criações de outros modos do fazer pesquisa em
diversas áreas do conhecimento. Nos últimos anos, metodologias de pesquisa
emergentes e férteis se tornam cada vez mais presentes nas pesquisas em artes
tais como a Prática como Pesquisa, a Performance como Pesquisa, a Pesquisa
Somático-Performativa,5 a Prática guiada pela Pesquisa, entre outras. Sem falar
nas escritas de artista que cada vez mais contagiam os formatos de dissertações
e teses no meio acadêmico.
No campo de conhecimento das artes a pesquisa se apresenta em
sua complexidade. Vemos aqui uma abordagem de pesquisa orientada
fundamentalmente pela experiência, na qual sujeito e objeto da pesquisa se
mesclam e muitas das vezes se confundem. Assim, no contexto da pesquisa
acadêmica, o artista-pesquisador é aquele que possui todos os predicativos que
o podem levar a romper, se não definitivamente, pelo menos parcialmente, com
a objetividade distanciada e a abstração racional. A prática artística é pautada
pelos percursos experienciais do artista que desenvolve ao longo de toda uma
8. GIL, José. Movimento total. O corpo e a dança. São Paulo: Iluminuras, 2004.
128 das artes e seus percursos
Referências bibliográficas
Ciane Fernandes
Temos mantido que o termo sintonia é descritivo da relação obtida
na bilateralidade fluida entre corpo pessoal e ambiente vivo. Isto
significa que distanciamos o lócus da investigação epistemológica
tradicional tanto da mente como um sujeito epistemológico e a
coisa formada como um objeto epistemológico. [...] conhecimento
somático é uma fruição da sintonia. [...] o lócus do conhecimento
somático reside no corpo pessoal.
Shigenori Nagatomo, Attunement through the Body,
1992, pp. 200-201
8. BARRETT, Estelle; BOLT, Barbara (orgs.). Practice as Research: Aproaches to Creative Arts
Inquiry. Londres: I. B. Tauris, 2007.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 135
9. DAVIES, Eden. Beyond Dance. Laban’s Legacy of Movement Analysis. New York: Routledge,
2006, p. 92.
10. HANNA, Thomas. “The Field of Somatics”. Somatics, Novato, The Novato Institute for
Somatic Research and Training, v. I, n. 1, pp. 30-34, Autumn, 1976.
11. FERNANDES, Ciane. “Quando o Todo é mais que a Soma das Partes: Somática como campo
epistemológico contemporâneo”. Revista Brasileira de Estudos da Presença, v. 5, n. 1, pp. 9-38,
jan./abr. 2015.
12. CLAVEL, Joanne; GINOT, Isabelle. “Por uma ecologia da somática?”. Revista Brasileira de
Estudos da Presença, v. 5, n. 1, pp. 85-100, jan./abr. 2015.
13. HANNA, op. cit.
14. AUSTIN, John Langshaw. How to Do Things with Words. Oxford: Clarendon Press, 1962.
136 das artes e seus percursos
O centro de tudo que ele [Laban] fez era que tudo muda. [...] todas estas
coisas baseadas em variação e motivação – por isso é verdadeiramente
uma teoria do movimento. Ele fala sobre uma pessoa indo de um estado
de maior estabilidade para um estado de maior mobilidade – mas é uma
questão de fluxo.16
19. LALVANI, H. “An Exploration of Hyper-Space”. Movement News. New York: Laban/
Bartenieff Institute of Movement Studies, n. 6, v. 2. December, 1983, p. 7.
20. LABAN, Rudolf. The Language of Movement: A Guidebook to Choreutics. Boston: Plays, 1976,
pp. 97-98.
138 das artes e seus percursos
Fig. 05. Sete símbolos da Análise Laban/Bartenieff de Movimento para Corpo e Padrões
Neurológicos Básicos, em ordem de crescente complexidade: Corpo; Respiração Celular;
Irradiação Central; Espinhal (Cabeça-Cauda); Homólogo (Parte de Cima-Parte de Baixo);
Homolateral (Metade do Corpo); Contralateral (Lados Cruzados) (Fernandes, 2006, pp. 57-61).
21. GIL, José. Movimento total: O corpo e a dança. Lisboa: Relógio D’Água, 2001, p. 202.
22. Robert Dunn apud Sally Banes, “Choreographic Methods of the Judson Dance Theater”. In:
DILLS, Ann; ALBRIGHT, Ann Cooper (orgs). Moving History / Dancing Cultures. A Dance
History Reader. Middletown, CT: Wesleyan University Press, 2001, p. 351.
142 das artes e seus percursos
23. Laban and Doerr, Das choreographische Theater: die erste vollstaendige Ausgabe des Labanschen
Werkes. Norderstedt: Books on Demand, 2004.
24. Prevots, “Zurich Dada and Dance: Formative Ferment”. Dance Research Journal, pp. 3-8,
Spring/Summer, 1985.
25. Preston-Dunlop, 2005.
26. Jackie Hand apud Ciane Fernandes, “Quando o Todo é mais que a Soma das Partes: Somática
como campo epistemológico contemporâneo”, cit., pp. 46-47.
27. SCHMIDT, J. “Learning what Moves People”. In: SCHMIDT, J.; FISCHER, E-E.; REGITZ,
H.; GINOT, I.; BILSKI-COHEN, R.; LECHNER, G. Tanztheater Today: Thirty Years of German
Dance History. Seelze/Hannover: Kallmeyersche, 2000, pp. 6-15.
28. SERVOS, Norbert. “Entrevista”. Salvador, ago. 2013; HARDT, Yvonne. “Corpo político:
Dança expressionista e protesto. Palestra”. Conexão Dança Alemanha-Bahia. Escola de Dança
da UFBA, Programa de Pós-graduação/GP Corponectivos em Dança. 13 a 18 de agosto de
2013.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 143
29. KAMPER, Dietmar. “Incorporation and Mimesis: Primordial Patterns of Imagination”. In:
HARTEN, Jürgen; ROSS, David A. (orgs.). Binationale: German Art of the Late Eighties,
American Art of the Late Eighties. Köln: DuMont Buchverlag, 1988, p. 46.
144 das artes e seus percursos
Fig. 08. “O processo criativo, imaginativo e improvisacional de iniciar pesquisa: vendo o que é e
o que pode ser” (Fraleigh e Hanstein, 1999, p. 29).
Fig. 09. Modelo curricular em forma de DNA entrelaçando conhecer e fazer em estética de
dança (Christina Hong-Joe apud Fraleigh e Hanstein, 1999, p. 76).
30. FRALEIGH, Sondra Horton; HANSTEIN, Penelope (orgs.). Researching Dance: Evolving
Modes of Inquiry. Pittsburg: University of Pittsburg Press, 1999, p. 28.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 145
36. CANÁRIO, Tatiane. “15 Anos com o A-FETO Grupo de Dança-Teatro da Universidade
Federal da Bahia, 1998-2013. Entrevista com Ciane Fernandes”. Repertório Teatro & Dança,
Salvador, n. 21, pp. 149-171, 2013.2.
148 das artes e seus percursos
38. Fernandes, “Como se move o que nos move? Variações autênticas, padrões cristal, e pesquisa
somático-performativa”. In: Movement News. Edição bilíngue inglês/português. New York:
Laban/Bartenieff Institute of Movement Studies, Fall 2012, pp. 68-73.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 151
39. Idem.
152 das artes e seus percursos
43. HARTLEY, Linda. Wisdom of the Body Moving: an Introduction to Body-Mind Centering.
Berkeley: North Atlantic Books, 1995.
154 das artes e seus percursos
Fig.18. Diagrama das direções da pesquisa de doutorado Gestos Cantados: Uma proposta
em dança-teatro a partir de princípios rituais (Araújo, 2008), em que cada capítulo reflete um
percurso (e suas implicações temáticas) entre duas direções dos rituais xamânicos.
Fig.19. Diagrama dos vários níveis temáticos – processos, técnicas, abordagens, instrumentos,
estéticas etc. – da dissertação de mestrado “Ventos que Animam a Terra: Voz e Criação na
Trajetória do Espetáculo Rosário” (Menezes, 2012).
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 155
Referências bibliográficas
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York, 1992, pp. 200-201.
45. Irmgard Bartenieff apud Peggy Hackney. Making Connections: Total Body Integration through
Bartenieff Fundamentals. Amsterdam: Gordon and Breach Publishers, 1998, p. 3.
156 das artes e seus percursos
MOTA, Júlio César. A poética em que o verbo se faz carne: um estudo do teatro
físico a partir da perspectiva coreológica do sistema Laban de movimento. Tese de
doutorado. Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, Universidade
Federal da Bahia, 2006.
NAGATOMO, Shigenori. Attunement through the Body. New York: State
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PALLARO, Patrizia (org.). Authentic Movement: Essays by Mary Starks
Whitehouse, Janet Adler and Joan Chodorow. Londres: Jessica Kingsley Publishers,
1999.
PIRET, Suzanne e BÉZIERS, Marie-Madeleine. A coordenação motora. 2. ed.
São Paulo: Summus Editorial, 1992.
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RUBENFELD, Llana. “Interview with Irmgard Bartenieff”. Bone, Breath &
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SERVOS, Norbert. Entrevista. Salvador, agosto de 2013.
SCHMIDT, J. “Learning what Moves People”. In: SCHMIDT, J.; FISCHER,
E-E.; REGITZ, H.; GINOT, I.; BILSKI-COHEN, R.; LECHNER, G. Tanztheater
Today: Thirty Years of German Dance History. Seelze/Hannover: Kallmeyersche,
2000, pp. 6-15.
Corpo em crise1
Julie Barnsley
1. O motivo pelo qual escrevi o meu primeiro livro, uma exploração sobre como certos territórios
do corpo têm sido tradicionalmente infundamentados e subdesenvolvidos na cultura ocidental
foi a minha necessidade de entender mais a respeito dos obstáculos que eu constantemente
encontrava e sofria como uma bailarina, professora de movimento e coreógrafa. Naquele
mesmo livro, e para estabelecer ainda outro terreno necessário à expressão verbal da
experiência do movimento, também escrevi a respeito de vários experimentos de movimento
e criações coreográficas que eu dirigi em minha companhia de dança durante muitos anos de
pesquisa e prática.
Minhas criações coreográficas podem ser vistas, e meu livro, Cuerpo Como Territorio de la
Rebeldía, pode ser baixado do blog ou da página da minha companhia de dança, Aktion
Kolectiva: www.facebook.com/aktionkolectiva ou www.aktionkolectiva.com
Como continuação da pesquisa, atualmente estou escrevendo um livro que trata de como
ajudar a remediar o problema de como nos aproximarmos do corpo. Desta vez fora do domínio
de meus interesses estéticos particulares que são amplamente explorados no trabalho que
tenho feito com a companhia Aktion Kolectiva. O texto a seguir foi extraído dessa investigação
recente.
162 das artes e seus percursos
Microcosmo e Macrocosmo,
Ciência e sensibilidade, estética e ética
Vamos começar do começo.
Fazendo as Conexões
Fisiologia e espiritualidade
receberão a química necessária que precisam para prover energia para otimizar
o funcionamento do corpo. Sinais de alerta serão enviados ao cérebro e isso
o afetará em diversos níveis; emocionalmente ele se sentirá irritado, ansioso,
até mesmo furioso, fisicamente ele pode perder a coordenação e a energia,
e mentalmente seus pensamentos se fixarão em imagens e ideias negativas
provocadas por um corpo à beira do colapso e o senso de impotência que isso
acarreta.
Essa equação também funciona inversamente. Se conscientemente
criamos condições em que estamos emocional, física e mentalmente contentes,
o estado fisiológico do corpo melhorará. Com um corpo relaxado, sem qualquer
ameaça, os músculos terão um tônus natural e o coração baterá calmo e
regularmente, o oxigênio que se respira entra no sangue e então nos tecidos
do corpo, sem qualquer problema, e depois os processos eletroquímicos e os
sistemas corporais também trabalharão otimizados. Nesse estado, a mensagem
que chega ao nosso consciente é de que tudo está bem, nossos sentidos
estarão mais abertos e uma grande quantidade de informações será recebida
do ambiente e transformada em imagens e ideias que poderemos comunicar
e compartilhar com outros. Não sentir medo ou repressão provavelmente fará
com que nos aventuremos a nos expressar integralmente e um sentimento de
conforto e tranquilidade permeará o corpo. Tudo isso promove mais abertura
física, relaxamento e pensamentos mais criativos e benignos.
Da mesma forma, se estou em uma situação em que sinto medo ou
hostilidade, eu provavelmente me retrairei e me recolherei dentro de mim
mesmo, meu corpo ficará rígido e meus músculos tensos e contraídos. O oxigênio
agora entrará no meu corpo com mais dificuldade e os processos fisiológicos
estarão sob pressão, a pressão sanguínea e a tensão aumentarão, exercendo,
assim, pressão extra sobre o coração. A tensão nos músculos também bloqueará a
comunicação dos estímulos neurais dentro do corpo; tudo isso enviará mensagens
de alarme para o cérebro. Eu posso ficar cansado, incomodado, nervoso e sentir
a necessidade de fugir. Provavelmente, sentimentos de impotência, ansiedade,
raiva e paranoia acompanharão esse estado físico e químico em particular.
Também podemos aprender com os processos biológicos de homeostasia.
Mesmo durante o sono o corpo está se ajustando, reparando e regulando,
para que, ao acordarmos, funcionemos de forma otimizada. O conhecimento
intrínseco e fundamental contido no DNA mantém o corpo funcionando cada
segundo de nossas vidas, frequentemente em níveis inconscientes. Mesmo
quando maltratamos nosso corpo, o que fazemos com frequência, a inteligência
orgânica trabalhará para seu reparo.
170 das artes e seus percursos
Reflexões na consciência
Ser ou não ser
Sobre saber que eu sei… e sobre por que nada fazemos a respeito do corpo
em crise. O homem é a única espécie que supostamente sabe como observar
e refletir a seu próprio respeito enquanto vive. O cérebro levou milhões de
anos para alcançar esse nível altamente complexo. Antropólogos ainda se
questionam sobre quando exatamente no processo evolutivo o neocórtex
– a parte do cérebro com as funções cerebrais mais complexas e sofisticadas,
incluindo a auto-observação – começou a se desenvolver. Quando nos
transformamos de homo erectus para homo sapiens. As últimas teorias dizem
que o cérebro expandiu para adquirir essa nova autopercepção durante um
período de mudanças climáticas muito intensas e rápidas. Certamente, se nos
referirmos à nossa própria experiência, veremos que em tempos de grande crise,
instintivamente nos tornamos mais capazes para a sobrevivência e podemos
resolver problemas mais rápida e efetivamente do que o fazemos geralmente.
O elemento de aprendizado consciente é um dos fatores-chave do
curso. Quando nos tornamos conscientes da terrível injustiça a que o corpo foi
submetido ao longo da história, é difícil entender por que o próprio corpo, que
parece estar sempre buscando otimizar suas possibilidades, tem sido tão dócil e
facilmente manipulado.
É difícil não perguntar: por que historicamente não houve uma rebelião
mais generalizada contra essa repressão e abuso de seus poderes naturais? E por
que, ainda hoje, se o corpo/mente é mais capaz do que qualquer outra espécie
de observar e corrigir a si mesmo, não prestamos mais atenção nisso? Por que
nós – provavelmente – cuidamos muito mais de nossos carros e casas do que de
nossos corpos?
Em parte, nossa própria biologia nos dá uma certa resposta... Vejamos:
Por motivos de sobrevivência, nosso corpo sabe como mentir para
si mesmo. Nossa consciência pode ignorar e bloquear certos sinais que o
corpo produz; por exemplo, quando experimentamos excessiva dor física ou
emocional, o cérebro pode focar automaticamente em outro alvo, real ou
imaginário, permitindo assim que certos impulsos e informações permaneçam
fora do alcance da percepção. Desse modo uma pessoa tem uma habilidade
maior de resistir e lutar contra grandes adversidades. Um maravilhoso atributo
do sistema nervoso para ajudar o corpo em sua luta pela sobrevivência!
Infelizmente, em nossa cultura – nossa educação e tradições – esta
habilidade natural do corpo, que existe para beneficiar nossa saúde mental
172 das artes e seus percursos
entra pelo nariz ou pela boca? Posso visualizar a rota que ele faz até alcançar
os pulmões? Quando eu inalo sinto mais do que os pulmões expandindo-se
embaixo das costelas? Talvez eu também sinta algum movimento nos órgãos
da parte de baixo do abdômen, ou talvez não haja sentimento ou expansão
visível na verdade, mas então outras imagens chegam a minha mente. Não há
julgamento, nenhuma obrigação de fazer isto ou aquilo de uma certa forma, há
apenas tarefas e cada corpo vai encontrar sua própria maneira e também seu
próprio jeito de tornar o momento consciente. A tarefa agora é chegar ao chão
em três estágios, ainda com os olhos fechados, ainda conscientes da respiração.
Tenho que abaixar o corpo lentamente. Como farei isso? Que movimentos eu
faço para chegar lá? É mais fácil descer quando inspiro ou quando expiro? Agora
estou no chão. A tarefa é relaxar, liberar todas as tensões. Onde sinto meu
corpo mais tenso? Eu ajusto minha posição, a respiração também ajuda a liberar
a tensão. Eu me vejo ouvindo os sons fora do meu corpo, o som abafado da
cidade, um alarme de carro. Eu volto à minha própria respiração. Pedem-me
para que eu me vire sobre minha própria barriga. Então, como me sinto agora,
respirando de barriga para baixo e não deitado de costas.
Após aproximadamente trinta minutos de tarefas guiadas com o
corpo, pegamos nosso diário e simplesmente escrevemos sobre a experiência.
Poeticamente, de maneira prática, metafórica, sob qualquer ângulo que venha
à mente... uma mente informada pela experiência de incorporar o conceito do
dia. E então, talvez falemos sobre experiência em pequenos grupos ou todos nós
juntos. Se alguém quiser compartilhar alguns pensamentos sobre o que acabou
de acontecer, pode fazê-lo.
Depois de uma breve pausa, agora vamos nos reunir para continuar o
estudo do principal foco do dia: oxigênio e o sistema respiratório. Dessa vez, a
partir de um ponto de vista científico informado, podemos nos referir a livros,
vídeos ou cartazes. Alguém pode ter preparado uma exposição detalhada. No
final dessa parte da aula, um dos músicos fala sobre sua experiência de usar o ar
para cantar, ela se oferece para nos guiar em alguns exercícios vocais na próxima
aula. Eu peço a outro grupo para pesquisar e trazer material sobre como o corpo
emite sons. A fisiologia e a prática de vocalização serão parte da próxima sessão.
Aqui vemos como as teorias científicas se transformam em uma realidade
vividamente vital e conscientemente explorada, e como o simples ato de respirar
pode se tornar o ponto de partida para o movimento criativo e a exploração
vocal e pode igualmente provocar e articular escritos científicos ou poéticos.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 175
Referências bibliográficas
Videography
A pesquisa criação
how e novos conhecimentos. Isso significa que artistas como nós experimentam
o in situ, o in socius e tantas matérias primas, tangíveis, compósitas ou abstratas,
como práticas artísticas em uma relação arte e vida. Eles observam, e se auto-
observam, teorizam seu processo de criação, utilizam a ciência como material,
definem sua abordagem metodológica e, ocasionalmente, até escolhem seu
público. De maneira geral, visto que há cada vez mais artistas detentores de
doutorados ou, em última instância, diplomas de estudos superiores, as formas
que tomam atualmente os processos de criação, as metodologias e as práticas
artísticas alimentam-se igualmente tanto dos domínios científicos quanto dos
domínios artísticos. Encontramos, portanto, as Bioart, Genetic Art e Artificial
Life Art ao lado dos Art & Mathematics, Space Art e Telecommunications Art
nas compilações de práticas artísticas inovadoras efetuadas, por exemplo, por
Stephen Wilson em Information Arts (2002) e em Art + Science Now (2010).
Entretanto, o artista pesquisador também reivindica um parentesco com os
pesquisadores práticos das ciências sociais e humanas, visto que tanto de uma
parte quanto de outra demanda-se gerar saberes oriundos da prática bem como
da teoria.
De fato, nossa metodologia de pesquisa indisciplinar instaura-se entre
a autorracionalização de nossos processos de criação e de valores conceituais
correspondentes à pesquisa universitária. Mas o que é feito dessas auto-
observações traduzidas em valor universitário? Se não é, justamente, racionalizar
a capacidade de iniciar uma problematização de primeira orientação, sem
forma efetiva, depois de traçar, por observação e distinção, as operações de
distanciamento e aproximação levando à realidade de uma obra. Também,
dentre os ganhos dessa autorracionalização, é importante destacar sua
contribuição tanto ao conhecimento do trabalho do artista pelo e para o artista,
quanto à produção de saberes universitários, notadamente, buscando responder
à questão: “Como se cria?”. Dessa feita, esses processos de auto-observação e
autorracionalização aplicam-se entre outros ao nosso hábito de realizar o que
não é a partir do que é.
Ademais, a auto-observação das operações constituintes de nosso
processo de criação contribui à nossa autodefinição enquanto artistas
indisciplinares. Entretanto, quem diz autodefinição diz também estrutura de
recepção necessária à sua reprodução7 no tempo. Essa estrutura de recepção
7. Neste texto reprodução é utilizado em seu sentido didático: “O fato de perpetuar, de perpetuar-
se, por uma produção análoga. A reprodução do saber, dos modelos ideológicos.” Le Petit Robert
(2014).
180 das artes e seus percursos
Indisciplinares
8. Este último exemplo é interessante visto que a biologia molecular foi criada em resposta a
inovações na descoberta da estrura do DNA, um problema de pesquisa complexa. É apenas na
recolha das competências e dos conhecimentos de geneticistas, de físicos, de bacteriologistas,
de zoólogos, de botânicos e de cientistas da computação que podem ser resolvidos os problemas
(Sewell, “Some Reflections on the Golden Age of Interdisciplinary Social Psychology”. Annual
Review of Sociology, vol. 15, p. 14, August 1989). Não se trata aqui, portanto, de responder a
um problema disciplinar.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 181
mais, nos é adequado conforme o bom senso. Não resta menos disto em nosso
procedimento indisciplinar, de que a interdisciplinaridade é parte integrante,
terá sido necessário aguardar 1999 para encontrar uma definição oficial que
correspondesse, mesmo que um pouco, à nossa realidade. É nesse momento que
the Inter-Arts Office of the Canada Council for the Arts definia as práticas não
disciplinares sob o título de “novas práticas”:
10. SCHRYER, C. Rapport final — Examen du Programme d’aide aux œuvres interdisciplinaires et de
performance. Ottawa: Bureau Inter-arts, Conseil des Arts du Canada, 1999. O negrito é nosso.
11. Ver: http://canadacouncil.ca/inter-arts-office/find-a-grant/grants/inter-arts-office-grants-to-
artists.
12. Ver: http://canadacouncil.ca/council/news-room/news/2015/new-funding-model. The publi-
cation of detailed programs is planned for fall 2015.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 183
14. SCHUTZ, A. Le Chercheur et le quotidien. Phénoménologie des sciences sociales. Paris: Meridiens
Klincksiek, 1987, p. 12.
15. A poiética não se encontra no dicionário Le petit Robert (2014) nem no site do Centro nacional
de recursos textuais e lexicais (CNRTL, 2012). Entretanto, o Dictionnaire de français Larousse
(2012) lhe propõe, contudo, a etimologia (sem o trema, em francês): “poiética, adjetivo
(grego poiêtikos). Diz-se, em Aristóteles, daquilo que é à obra na atividade artesanal de quem
produz um objeto material (em oposição à teórica).” Nos mais importantes dicionários da
língua inglesa, tais quais Meriem-Webster, Canadian Oxford e Collins, a palavra poiesis ganha
o sentido amplo de produção e criação. Poietic figura em sua definição como adjetivo, mas não
como substantivo, e isto, mesmo se os especialistas do assunto a utilizam da mesma forma que
heuristics ou hermeneutics.
16. “Poïétique” (OQLF, 2003), on-line: http://www.granddictionnaire.com/ficheOqlf.aspx?Id_
Fiche=8360266.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 185
17. CRAIG, P. E. The Heart of the Teacher, A Heuristic Study of the Inner World of Teaching. Boston:
Boston University, 1978, p. 1.
18. Ela supõe também momento de planificação e de método (como eu me atenho à questão,
seguindo objetivos visados), mas não abandonaremos este aspecto na totalidade deste texto.
186 das artes e seus percursos
Para retornar à poiética valeriana, Conte (2014) sinaliza que ela concerne,
de fato, à autocompreensão pelo artista de seu processo de criação. E que, assim,
pela reflexão e a escrita, o estudo de seu processo de criação é reintroduzido
em seu próprio procedimento de criação:
Sabe-se que ele fez o prefácio da edição dos Carnets de Léonard; que ele
admirou em Poe, Wagner e Mallarmé mas também em Delacroix e Degas, a
capacidade de alimentar pela reflexão e escrita o processo de sua própria
criação. Os Cahiers de Valéry, seriam, a esse respeito, uma autopoiética
estendida a todos os domínios do pensamento. Sem jamais ser um diário
privado, eles são uma análise do espírito em ação.19
19. CONTE, R. La poïétique de Paul Valéry, p. 10, 26 maio 2014. Disponível no endereço: http://
www.wikicreation.fr/upload/Richard_conte_fr.pdf. Os negritos são nossos.
20. LUHMANN, N. Ecological Communication. Chicago: The University of Chicago Press;
Cambridge: Polity Press, 1989, p. 145.
21. LUHMANN, N. Art as a Social System. Stanford, CA: Stanford University Press, 2000, p. 54.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 187
22. VON FOERSTER, H.; ZOPF, G. (dir.) Principles of Self-Organization. New York: Pergamon,
1962; Observing Systems: Selected Papers of Heinz von Foerster. Seaside, CA: Intersystems
Publications, 1981; MATURANA, H. R.; VARELA, F. J. Autopoiesis and Cognition: The
Realization of the Living. Boston: Boston Studies in the Philosophy of Science; Dordecht: D.
Reidel Publishing Co, 1973/1980.
23. LUHMANN, N. Social Systems. Stanford, CA: Stanford University Press, 1984/1995, p. 60.
188 das artes e seus percursos
Metodologia indisciplinar
espera
observação
encadeamento
reflexão
distinção
indicação
seleção
integração
realinhamento
distanciamento e aproximação
repotencialização do não sentido
potencialização do sentido
autoprodução
reprodução
Referências bibliográficas
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endereço: http://newfundingmodel.canadacouncil.ca.
______. Inter-Arts Office: Grants to Artists, 2015. Disponível no endereço:
http://canadacouncil.ca/inter-arts-office/find-a-grant/grants/inter-arts-office-
grants-to-artists.
CONTE, R. “Édito”, Revue Plastik Arts/Sciences numéro 1 [archive], 2002. Site
de Plastik. Disponível no endereço: http://art-science.univ-paris1.fr/plastik/.
______. La poïétique de Paul Valéry, 26 maio 2014. Disponível no endereço:
http://www.wikicreation.fr/upload/Richard_conte_fr.pdf.
CRAIG, P. E. The Heart of the Teacher, A Heuristic Study of the Inner World of
Teaching. Boston: Boston University, 1978.
GADAMER, H.-G. Vérité et Méthode: les grandes lignes d’une herméneutique
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KAPROW, A. “The Education of the Un-Artist”, Part I, II and III (1971, 1972
et 1974), In: J. Kelley (dir.), Essays on the Blurring of Art and Life (Expanded
Edition). Berkeley, CA: University of California Press, 1993/2003, pp. 97-147.
OECD. Interdisciplinarity: Problems of Teaching and Research in Universities. Paris:
Organization for Economic Cooperation and Development, 1972.
LUHMANN, N. Social Systems. Stanford, CA: Stanford University Press,
1984/1995.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 191
Walmeri Ribeiro
autor, PaR (Pratice as Research) não é constituída por uma adição entre prática
e pesquisa, mas sim a prática é igual a pesquisa.1
O pesquisador australiano Brad Haseman lançou em 2006 o manifesto
intitulado “A Manifesto for Performative Research”. Nesse manifesto, ao fazer
uma diferenciação entre uma pesquisa qualitativa e quantitativa, o autor propõe
que o diferencial de uma pesquisa performativa é que estas partem de uma
prática que leva às questões da pesquisa e desta resultam outras possibilidades
de apresentação dos resultados de pesquisa. Pois, para Haseman, as pesquisas
performativas são experienciais e, portanto, podem nos levar a novas formas
artísticas tanto para a criação quanto para a exibição.
No entanto, para além de pensarmos as PaR(s) apenas como uma validação
metodológica da prática artística como pesquisa, parece-nos importante refletir
sobre os pensamentos que baseiam essas proposições e seus desdobramentos,
não com o intuito de criar métodos ou metodologias aplicáveis, como nos alerta
Annette Arlander em seu texto “On Methods of Artistic Research” (2014),
mas sim de olhar a potencialidade das pesquisas performativas para além das
investigações e criações somente no campo das artes performativas.
Nessa publicação, escrita como uma forma de reflexão sobre o Seminário
Internacional Das Artes e Seus Territórios Sensíveis, mas também uma
apresentação das questões e proposições que balizaram a própria concepção e
realização do seminário, proponho uma discussão em torno dessas possibilidades,
iniciando com uma reflexão sobre o conceito de performance e a potencialização
gerada por este se associado a pesquisas de base transdisciplinar, como, por
exemplo, entre as artes, as ciências e a tecnologia.
1. SPATZ, Ben. What a Body Can Do: Technique as Knowledge, Practice as Research. Londres:
Routledge, 2011, p. 233.
2. CARLSON, Marvin. Performance: uma introdução crítica. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2010, pp. 11/12.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 197
3. Idem, p. 12.
4. Idem.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 199
Referências bibliográficas
At that point, I was still not sure what shape my work of art would take. I
thought of making an island, with the help of boats and barges, but in the end I
would let the site determine what I would build.2
A primeira frase aponta para o sentimento de incerteza do artista, típico
de momentos de questionamento profundo, que também provoca rachaduras
em uma postura afirmativa. A segunda, inicialmente, nos coloca quais eram os
planos que tinha em mente: construir uma ilha. No entanto, a vírgula propõe
uma reversão metodológica radical. O artista não mais pensaria o lugar como um
suporte neutro para realizar a sua ideia, mas deixaria que o lugar determinasse
o que ele iria construir. É nesse exato momento que Smithson identifica uma
voz no local e estabelece uma posição que é de escuta, construindo um estado
colaborativo entre lugar, obra e artista. O que frequentemente resulta desse
1. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p.
31.
2. “Naquele ponto, eu ainda não tinha certeza de qual forma meu trabalho de arte assumiria. Eu
havia pensado em fazer uma ilha com a ajuda de barcos, mas no final eu deixaria que o lugar
determinasse o que eu iria construir”. STILES, Kristine; SELZ, Peter. Theories and Documents
of Contemporary Art: A sourcebook of Artist’s Writings. Berkeley: University of California Press,
1996, p. 531.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 203
Sucos específicos
1. Ilha de Anhatomirim
3. A pesquisa iniciou-se em março de 2014, com término previsto para abril de 2015. Com apoio
do Programa PNPD-CAPES, acontece no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da
UDESC, Florianópolis, SC. Tutoria da Professora Doutora Regina Melim.
4. Mais sobre o projeto: http://acoescuratoriais.wix.com/florianopolis#!acoescuratoriais/
mainPage.
204 das artes e seus percursos
5. Programação: http://www.31bienal.org.br/pt/events/1849.
206 das artes e seus percursos
Referências bibliográficas
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.
STILES, Kristine; SELZ, Peter. Theories and Documents of Contemporary Art: A
Sourcebook of Artist’s Writings. Berkeley: University of California Press, 1996.
6. Em português: “Eu deixaria o lugar determinar o que eu iria comer”, propondo assim uma
ressignificação da frase “I would let the site determine what I would build”, de Robert Smithson,
mencionada no texto acima.
Telebiosfera. Abrigo sensível
Carlos Augusto Moreira da Nóbrega (Guto Nóbrega)
1. Introdução
1. NÓBREGA, C. Art and Technology: Coherence, Connectedness, and the Integrative Field. 2009.
297 f. Tese de doutorado em Artes Interativas. Planetary Collegium, School of Art and Media,
University of Plymouth, Plymouth – UK, 2009.
208 das artes e seus percursos
2. Motivações conceituais
2. Idem.
3. Tradução livre do original: to inject human intentions into the apparatus program, […] to force
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 209
Com base no exposto, nós nos orientamos pela ideia de que apenas quando
tais sistemas técnicos são percebidos em seu processo de devir (individuação),
sua essência, sua tecnicidade, vem a ser amplamente revelada. Partindo desse
princípio o presente trabalho investiga modos de concretização/individuação
de objetos técnicos através dos processos de criação artística (prática) e suas
reverberações conceituais (teoria). Tal articulação se mostra estratégica aos
processos de experimentação poética com tecnologias, seu pensamento crítico
e justifica dessa maneira pesquisas como a presente.
Tais pressupostos orientam a criação do projeto “Telebiosfera”, plataforma
para experimentos em hibridação de organismos naturais (plantas) e artificiais
em contexto telemático. Trataremos a seguir dos principais norteadores deste
projeto que encontra suporte teórico-prático no NANO – Núcleo de Arte e
Novos Organismos – EBA/PPGAV/UFRJ.
the apparatus to produce something impossible to see in advance, something improbable, something
informative, […]. FLUSSER, V. Towards a Philosophy of Photography. Germany: European
Photography, 1986, p. 58.
4. SIMONDON, G. On the Mode of Existence of Technical Objects. English translation of Du mode
d’existence des objets techniques. London: University of Western Ontario, 1980.
5. Idem.
210 das artes e seus percursos
3. Breve histórico
4. Telebiosfera
4.1 Conceito
4.2 Funcionamento
4.2.1 Sistema
7. Cf: http://paulbourke.net/dome/arrangement.pdf.
214 das artes e seus percursos
4.2.4 Climatizador
A interface de interação entre os ambientes dos dois domos tem por base
um sistema híbrido. Na base desse sistema encontra-se uma planta (ou grupo)
cujos sinais eletrofisiológicos são monitorados por um circuito customizado
8. Pure Data (Pd) é uma linguagem de programação de código aberto, com interface visual
desenvolvida por Miller Puckette na década de 90, para criação de música em computadores.
9. Open Sound Control é um protocolo para comunicação entre computadores e outras
fontes de dados numéricos através do uso otimizado de estruturas de redes (Cf. http://
opensoundcontrol.org/introduction-osc).
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 215
5. Objetivos gerais
6. Metodologia
Fig. 3: O primeiro quadro apresenta o domo montado com o terrário em primeiro plano.
No segundo quadro podemos ver os “hiperbots” conectados às plantas.
11. Hiperbots são criaturas robóticas criadas pelo autor, que combinam em sua funcionalidade
sensores de luz, umidade, temperatura e resposta galvânica. São o coração do terrário, visto
que todo o fluxo de dados oriundos das plantas e seu ambiente são gerenciados por eles.
12. Programa de código aberto construído inicialmente por Casey Rears e Benjamin Fry do MIT,
voltado ao ambiente das artes visuais, especialmente para que não programadores pudessem
iniciar na programação.
218 das artes e seus percursos
Fig. 4: Teste de calibragem do Kinect com esqueleto em primeiro plano. Na segunda imagem
teste com partículas.
Reconhecimento
Referências bibliográficas
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River Edge, NJ: World Scientific, 1993.
MATURANA, H. R.; VARELA, F. J. Autopoiesis and Cognition: the Realization
of the Living. Dordrecht: Springer, 1980.
NÓBREGA, C. Art and Technology: Coherence, Connectedness, and the Integrative
Field. 2009. 297 f. Tese de doutorado em Artes Interativas. Planetary Collegium,
School of Art and Media, University of Plymouth, Plymouth – UK, 2009.
POPP, F. A. “On the Coherence of Ultraweak Photonemission from Living
Systems”. In: C. W. Kilmister (Ed.). Disequilibrium and Self-Organization.
Dordrecht: D. Reidel Publishing Co., 1986, pp. 207-230.
SIMONDON, G. On the Mode of Existence of Technical Objects. English
translation of Du mode d’existence des objets techniques. London: University of
Western Ontario, 1980.
______. Du mode d’existence des objets techniques. Paris: Aubier: Editions
Montaigne. 1989.
S.H.A.S.T. : processo investigativo em
biotelemática como prática artística
Apresentação
1. ROBBINS, Jeffrey (org.). The Pleasure of Finding Things Out. The Best Short Works of Richard
Feynman. New York: Basic Books, 1999.
222 das artes e seus percursos
2. THOMAS, Sue. Technobiophilia – Nature and Cyberspace. New York: Bloomsbury Academic,
2013.
3. Núcleo de Arte e Novos Organismos, criado em 2010 dentro da Escola de Belas Artes da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, atua no Programa de Pós-Graduação em Artes
Visuais, linha de pesquisa Poéticas Interdisciplinares.
4. Projeto S.H.A.S.T. tem o apoio de edital APQ1 FAPERJ-2013/2014.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 223
5. Hiperorgânico, termo cunhado pelo artista pesquisador Guto Nóbrega, também coordenador
do NANO.
6. A manutenção das medidas padrões para nosso módulo foi essencial para que este possa
ser adaptado à melgueiras de diferentes apicultores. Isto porque o projeto visa não apenas a
criar uma obra interativa mas sim um sistema que pode ser distribuído e compartilhado entre
apicultores ou amadores amantes das abelhas.
224 das artes e seus percursos
Fig. 4 Esquema eletrônico interno Mod. 1 Fig. 5 Imagem dos componentes fixados no
interior da caixa.
7. CAC.4 Congresso Internacional de Arte Computacional – Exposição sob o título “Arte
Computacional & Design para todos ”realizado no Prédio da Reitoria da UFRJ, Rio de Janeiro,
pelo NANO em parceria com LAMO 3D (FAU/UFRJ), Planetary Colleguim (University
of Plumouth, UK), Artshare (PT), e apoio da CAPES, CNPq, FAPERJ, EBA/CLA/UFRJ e
Reitoria da UFRJ, 1-3 setembro 2014.
8. Exposição “EmMeio.5” realizada durante o #13.ART Encontro Internacional de Arte e
Tecnologia, Museu Nacional da República, Brasília (DF), 2014.
226 das artes e seus percursos
11. Idem.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 229
12. Tradução livre da autora: And that is what science is: the result of the discovery that is worth-while
rechecking by the new direct experience, and not necessarily trusting the race experience from the
past. […] There is the beauty and the wonder of the world that is discovered through the results of
these new experiences. ROBBINS, Jeffrey (org.). The Pleasure of Finding Things Out. The Best
Short Works of Richard Feynman. New York: Basic Books, 1999, p. 185.
13. Tradução livre da autora: […] it teaches the value of rational thought, as well as the importance
of freedom of thought; the positive results that come from doubting that the lessons are all true. As a
matter of fact, I can also define Science another way: Science is the belief in the ignorance of experts.
Idem, pp. 186, 187.
230 das artes e seus percursos
14 Tradução livre da autora: I have a friend who’s an artist and he’s sometimes taken a view, which
I don’t agree with very well. He’ll hold up a flower and say, “look how beautiful it is”, and I’ll agree,
I think. And he says – “you see, I as an artist can see how beautiful this is, but you as a scientist,
oh, take this all apart and it becomes a dull thing.” And I think tat he’s kind of nutty. First of all, the
beauty that he sees is available to other people and to me, too, I believe, although I might no be quite
as refined aesthetically as he is; but I can appreciate the beauty of a flower. At the same time I see
much more about the flower than he sees. I can imagine the cells in there, the complicated actions
inside which also have a beauty. I mean it’s not just beauty at this dimension of one centimetre; there
is also beauty at a smaller dimension, the inner structure. Also the process, the fact that the colours
in the flower evolved in order to attract insects to pollinate it is interesting – it means that insects can
see the colour. It adds a question: Does this aesthetic sense also exist in the flower’s forms? Why is
it aesthetic? All kinds of interesting questions, which show that science knowledge, only adds to the
excitement and mystery and the awe of a flower. It only adds; I don’t understand how it subtracts.
Idem, p. 2.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 231
Eu não sinto medo por não saber das coisas, por estar perdido em um
universo misterioso, sem ter qualquer finalidade, que é a forma como ele
realmente é até onde posso afirmar.15
15. Tradução livre da autora: I don’t feel frightened by not knowing things, by being lost in a mysterious
universe without having any purpose, which is the way it really is so far as I can tell. Idem, p. 25.
232 das artes e seus percursos
Emparelhamentos intuitivos
16. VIEIRA, Jorge A. “Teoria do conhecimento e arte”, Palestra proferida durante o XIX
Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música - ANPPOM,
ocorrido em agosto de 2009 na cidade de Curitiba, sediado pelo DEARTES – UFPR.
17. THOMAS, Sue. Technobiophilia – Nature and Cyberspace. New York: Bloomsbury Academic,
2013, p. 3.
18. LOUV, Richard. The Nature Principle: Reconnecting with Life in a Virtual Age. Workman
Publishing. Kindle Edition, 2012, p. 5.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 233
exemplos que não considero necessário citar aqui já que iniciamos o artigo
com dois exemplos produzidos no nosso laboratório. Optamos por sistematizar
os conceitos que a autora nos oferece e relacioná-los com os experimentos
descritos anteriormente.
Seu primeiro capítulo tem como título “um lugar tão novo que ainda não
tem nome”. Acredito que esse lugar é onde a conjunção entre natural e artificial
se encontra e se recria. Essa concepção de lugar está muito próxima das propostas
conceituais promovidas pelos projetos do NANO citados no início do artigo por
diversos aspectos, inclusive no que se refere ao emparelhamento de interesses entre
arte e ciência na exploração de questões sobre a integração entre organismos vivos
e sistemas inteligentes. Thomas oferece um grande leque de abordagens sobre esse
lugar híbrido, como pesquisas realizadas por psicólogos ambientalistas; o papel
da cultura californiana do vale do silício com seus encontros acampamentos; a
metáfora do ciberespaço como um complexo ecossistema de redes aplicado ao
conceito de biofilia; e a vida selvagem do ciberespaço. S.H.A.S.T. procura recriar
o lugar da colmeia, ao mesmo tempo que constrói um espaço entre lugares para
que haja uma conexão entre seres vivos via internet. Essa conexão pode acontecer
entre abelhas, quem saberia dizer se é possível ou não? Não interessa comprovar
mas sim especular de forma sistemática.
Notas conclusivas
Referências bibliográficas
1. MOSS, Frank. The Sorcerers and their Apprentices: How the Digital Magicians of the MIT
Media Lab Are Creating the Innovative Technologies That Will Transform Our Lives. PUB
Random House: GROUP, 2011.
2. LATOUR, Bruno. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São
Paulo: Editora Unesp, 2000.
3. http://www.fapesp.br/en/8437, http://www.comunitexto.com.br/escience-tecnologias-
revolucionam-a-ciencia/#.VSFASfnF9xw, http://agencia.fapesp.br/escience_e_tema_de_
seminario_organizado_pela_fapesp_e_pela_microsoft_research/17246/. Idem, op. cit.
236 das artes e seus percursos
4. MALINA, Roger. “Leonardo olhando para frente: Fazendo a história e escrevendo a história”.
In: DOMINGUES, Diana (org.). Arte, ciência e tecnologia: passado, presente e desafios. São
Paulo: Editora Unesp, 2009.
5. Disponível em: http://pt.slideshare.net/rmaliina/roger-malina-for-diana-dominguez-09.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 237
Network: Artists and Scientists collaborating on the burning issues of our time.
Em Conferência, via Skype, no auditório da UnB do Centro Internacional
de Física da Matéria Condensada, pôde-se dar ao público a oportunidade de
discutir essas questões com Malina, presidente das Organizações Leonardo.
Naquele dia, o cientista, inclusive, anunciou, ao vivo, lá do Laboratório da
NASA, terem descoberto vida fora do planeta Terra! Em sua palestra e discussões
com os artistas e cientistas brasileiros assinalou entre outras modalidades
de Arte e Tecnociência:6 Climate Art, New Corporality, Immersion in Extreme
Environments, Embedded in Peta-Data Sets, NanoArts, Hacker and Ubiquotous
micro science and culture. São abordagens sobre formas contemporâneas de arte,
fundidas ao ambiente científico que chegam a inventos tecnológicos de impacto
para a inovação em ciência e tecnologia e modificam a cena cultural digital.
O cientista também, em seu texto “Leonardo olhando para frente: fazendo a
história e escrevendo a história”, publicado na antologia, sob minha organização
aqui no Brasil, para celebrar os quarenta anos das Organizações Leonardo, assim
se manifesta:
6. Roger Malina pronunciou em 17 de setembro de 2009 a conferencia por Skype com tradução
de Flavia Saretta. A palestra fez parte do lançamento da antologia publicada pela EDUNESP,
em comemoração aos quarenta anos do Leonardo Journal. DOMINGUES, Diana (Org.).
Arte, Ciência e Tecnologia: Passado, presente e desafios. São Paulo: Editora UNESP, 2009.
DOMINGUES, Diana ; LUCENA, Tiago ; HAMDAM, Camila ; SARETTA, Flávia . Skype
Conference: Science as a territory for Artistic Experimentation – Roger Malina – Leonardo
OLAST - coord. geral: Diana Domingues. 2009.
7. MALINA, Roger. “Leonardo olhando para frente: Fazendo a história e escrevendo a história”,
cit. Leonardo é uma Organização fundada em 1967 por Frank Malina em Paris, França. Seu
primeiro projeto foi o lançamento do Leonardo Journal, o primeiro periódico internacional
de impacto no campo das novas tecnologias, ciências e artes interdisciplinares. Todos os
quarenta anos do periódico podem ser encontrados on-line. A organização opera através de
duas organizações sem fins lucrativos; ISAST em São Francisco e OLATS em Paris, França.
As organizações são responsáveis pelo Leonardo Journal e a Série de Livros Leonardo no
238 das artes e seus percursos
MIT Press, e organizam premiações, workshops, residências para artistas e outros projetos.
Informações adicionais e sua história podem ser encontradas em http://www.leonardo.info.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 239
formas de pensar e agir que abordam problemas sociais dessa civilização que se
tornou insustentável.10
No LART, criatividade e invenção são a tônica do ambiente de pesquisa.
Discussões sobre riscos e desafios implícitos no tema abordado em cada
projeto são sempre colocados na pauta para definir os objetos de estudo e sua
metodologia. As prioridades são sempre: Saúde, Ambiente e Bioversidade e
Educação que demandam diferentes temáticas e abordagens. Para estruturar a
ação do projeto, os participantes se tornam parte de uma rede sináptica onde
ninguém detém o saber total. Tenta-se, de forma coletiva, num time ou grupo,
num saber neuronal, sintetizar o monolítico Leonardo (Domingues, 2009): ao
indivíduo como gênio, surge a equipe como gênio (idem). Leonardo da Vinci é,
portanto, a figura emblemática dessas investigações em medicina, engenharia,
artes, inventos de todo tipo, para atender questões ardentes que abalam a
sociedade.
10. MALINA, Roger. “Leonardo olhando para frente: Fazendo a história e escrevendo a história”,
cit.
11. Presidida internacionalmente pelo astrofísico Roger Malina.
12. Para consultar as linhas de Pesquisa do GRUPO ARTE E TECNOCIÊNCIA, veja: http://
dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/2525421178592155.
242 das artes e seus percursos
13. Referência ao livro Arte no século XXI: a humanização das tecnologias (São Paulo: Editora
Unesp, 1997), para teorias recentes da naturalização das tecnologias relacionadas aos sistemas
enativos.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 243
REENGENHARIA DA VIDA
Reengenharia dos sentidos
Reengenharia da natureza
Reengenharia da cultura
14. NOË, Alva. Action in Perception. Cambridge, MA: MIT Press, 2006; VARELA et al. The
Embodied Mind: Cognitive Science and Human Experience. New Edition. Cambridge, MA: MIT
Press, 1992; KRUEGER, Ted. Redefining Human, 2004.
244 das artes e seus percursos
15. LATOUR, Bruno. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São
Paulo: Editora Unesp, 2000.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 245
16. MOSS, Frank. The Sorcerers and their Apprentices: How the Digital Magicians of the MIT
Media Lab Are Creating the Innovative Technologies That Will Transform Our Lives. PUB
Random House: GROUP, 2011.
17. Idem.
18. Idem.
246 das artes e seus percursos
19. Passa-se a falar dos campos de pesquisa do Expanded sensorium and mhealth ou Sensório
expandido e Saúde e tecnologias móveis.
20. WEISER, Mark; BROWN, J. S. Designing Calm Technology. Xerox PARC, 21. dez. 1995.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 247
21. Varela et al, The Embodied Mind: Cognitive Science and Human Experience, cit.
22. MASSUMI, Brian. Parables for the Virtual. Movement, Affect, Sensation. Durham, NC: Duke
University Press, 2002, p. 194.
248 das artes e seus percursos
24. COUCHOT, Edmond. La Nature de l’art: Ce que les sciences cognitives nous révèlent sur le plaisir
esthétique. Paris: Éditions Hermann, 2012.
25. BERNARD, Michel. Le Corps. Paris: Éditions du Seuil, 1995.
250 das artes e seus percursos
27. A professora Dr. Maria Aparecida Donato de Mattos fez pós-doutorado no LART tendo
como supervisora a Profa. Dra. Diana Domingues. Título do projeto de pesquisa: Do Corpo
Biocíbrido Ao Corpo-Sensorial: os Geografismos e a identidade do Corpo-Arte no contexto
da Cibercultura.
252 das artes e seus percursos
28. Equipe LART: Arte e Tecnociência em 2012, CNPq FGA/ GAMA – Universidade de
Brasília, UnB, PVNS CAPES Brasil – Coordenação artística e científica do projeto: Profª
Dra. Diana Domingues; Profª Dra. Cida Donato – Instituto Superior de Educação do Rio
de Janeiro. Pós-doutorado CNPq no LART. Prof. Dr. Cristiano Jacques Miosso e Prof. Dr.
Adson Rocha – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica; Prof. MsC André
Gonçalves de Oliveira UNOESTE, PhD candidate IDA, MsC Carine S Turelli, Henrique de
Barba, Alexandre Almeida Barbosa, Tiago Franklin Lucena, Phd Candidate -UnB LART
– Laboratório de Pesquisa em Arte e Tecnociência FGA/GAMA, UnB-Universidade de
Brasília, Brasil.
254 das artes e seus percursos
29. CidadePathia é um dos projetos integrantes do projeto Reengineering Life: Creative Technologies
for the Expanded Sensorium MIT/CNPq/UnB/Lart, em execução pelo Program MIT International
Science and Technology Initiatives, MIT-Brazil Seed Fund/CNPq, coordenado por Adson
Rocha e Diana Domingues e executado no Camera Culture Media Lab, sob coordenação do
Dr. Ramesh Raskar. Está vinculado ao projeto da Profa. Dra. Suélia Rodrigues em biomaterais
e ao de biossensores dos professores doutores, Adson Rocha e Cristiano Jacques Miosso, e ao
projeto de Arte e Tecnociência da Profa. Dra. Diana Domingues.
256 das artes e seus percursos
30. TIKKA, Pia. Enactive Cinema: Simulatorium Eisensteinense. PhD dissertation. Helsinki:
University of Art and Design Publication Series, 2008.
31. FLEURY ROSA, Projeto Reengineering Life: Creative Technologies for the Expanded Sensorium,
2013.
32. Na mitologia grega, são as sandálias do deus Hermes. Confeccionadas com biomateriais
(ramas de mirtilo e tamareira), são descritas como belas, douradas e imortais e feitas com uma
arte sublime capaz de levar o deus Hermes com a rapidez do vento. Em grego “périla”, e em
romano “talaria”.
33. ROCHA e MIOSSO, FLEURY ROSA, LUCENA e DOMINGUES, 2013.
34. TORRES, 2013.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 257
de transporte que foi utilizado durante algum tempo. Nas caminhadas, a vida e
os sinais do corpo em suas affordances geram a CidadePathia como biogeografias
afetivas (Domingues, 2014), que mostram o páthos na relação corpo-cidade.35
CITYPATHIA
Tiago Franklin Lucena – PhD fellow CNPq at MIT Media Lab Camera Culture
SUPERVISOR Diana Domingues LART UnB, Ramesh Raskar / MIT Media Lab
Visual analytics:
Mobilidade, locatividade, e variáveis de velocidade- acelerômetro:
Sinal do acelerômetro nos três eixos: x, y e z.
(tempo normalizado) Acervo Pessoal e
Gerado por Ricardo Torres (Unicamp)
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 259
36. CAPRARA et al., Ecossaúde, uma abordagem eco-bio-social: percursos convergentes no controle
do dengue. Fortaleza: EdUECE, 2013.
37. PENTLAND, apud GREENE KATE, 2008.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 263
38. Projeto Bolsa PDJCNPq-Pós-Doutorado Júnior – Supervisora: Drª Diana Maria Gallicchio
Domingues, Bolsista: Profa. Dra. Ana Paula Machado Velho - 2013/2014 O Drama da Dengue:
jornalismo e artivismo nos softwares sociais – Universidade de Brasília (UnB), Faculdade Gama
(FGA), com atividades no Laboratório de Pesquisa em Arte e Tecnociência – LART, expert
em mhealth, Prof. Dr. Tiago Franklin Rodrigues Lucena. Data visualization: Profa. Dra. Sara
Diamond – Colaboração internacional do Ontario College of Art and Design University/Toronto
(OCADU), e parcerias nacionais com a Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP,
pesquisas do Prof. Dr. Ricardo Torres, do Departamento de Informática, Pesquisador PQ,
Nível 1D, e com equipe do Centro Universitário UniCesumar, de Maringá, Programa de Pós-
Graduação em Promoção da Saúde, onde foi realizado o estudo de caso.
264 das artes e seus percursos
39. Consultem-se vídeos pequenos: aplicativos móveis que definem as coordenadas geográficas
de todos os locais percorridos pelos integrantes do grupo. Os vídeos foram alocados em um
Canal no Youtube: http://www.youtube.com/channel/UCIRaxl0HRT-Uaclj1Q94rMw. O
Facebook como plataforma que tem possibilidade de dar apoio a ações de promoção da saúde.
No endereço www.midiamania.com/agencia, textos jornalísticos de cunho antropológico
estão disponíveis em produção de webjornalismo.
266 das artes e seus percursos
Placas produzidas para ação no bairro do Borba Gato – Maringá-PR, inspiradas nas propostas
dos alunos do Colégio Tomaz Edson durante ação contra a dengue.
Referências bibliográficas
MOSS, Frank. The Sorcerers and their Apprentices: How the Digital Magicians
of the MIT Media Lab Are Creating the Innovative Technologies That Will
Transform Our Lives. PUB Random House: GROUP, 2011.
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estética naturalizada Paisagens Sonoras Enativas : por uma estética naturalizada
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handle/10482/17108.
PICARD, Rosalind e HEALEY, J. “Affective Wearables. Personal Technologies”,
vol. 1, n. 4, pp. 231-240, December, 1997. http://vismod.media.mit.edu/pub/
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DAUBNER, d’ Ernestine e POISSANT, Louise (orgs.). Bioart: Transformations
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Reengineering Life: Creative Technologies for the Expanded Sensorium, no Camera
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SHOUSE, Eric. “Feeling, Emotion, Affect”. M/C Journal 8.6 (2005). 11 May
2013 <http://journal.media-culture.org.au/0512/03-shouse.php>.
TIKKA, Pia. Enactive Cinema: Simulatorium Eisensteinense. PhD dissertation.
Helsinki: University of Art and Design Publication Series, 2008.
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VARELA, Francisco J.; THOMPSON, Evan; ROSCH, Eleanor. The Embodied
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WEISER, Mark; BROWN, J. S. Designing Calm Technology. Xerox PARC, 21.
dez. 1995. Disponível em: http://www.ubiq.com/wesier/calmtech/calmtech/htm
- Acessado em julho de 2009.
Sobre os autores
Caio Vassão
Doutor em Design pela FAUUSP (2008), pesquisa abordagens de ponta
em design e sobre as relações entre a tecnologia digital e a vida urbana. Em
especial, Vassão pesquisa técnicas de design que transitem entre as artes, a
tecnologia, a poética e a epistemologia. Docente há quinze anos em cursos de
graduação e pós-graduação, e consultor em projetos de inovação, em que utiliza
o Metadesign, sobre o qual publicou um livro em 2010. Atualmente pesquisa o
Design de Ecossistemas e sistemas de alta complexidade, em especial os sistemas
interativos e suas relações com modos emergentes de vida urbana.
Ciane Fernandes
Performer, professora do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas
da UFBA desde sua fundação, e da Escola de Teatro da UFBA; M.A. e Ph.D.
em Artes e Humanidades para Intérpretes das Artes Cênicas pela New York
University, pós-doutora pela Faculdade de Comunicação da UFBA, Analista
de Movimento (Certified Movement Analyst/C.M.A.) pelo Laban/Bartenieff
Institute of Movement Studies (New York), de onde é pesquisadora associada.
Autora de dois livros esgotados no Brasil, também publicados no exterior
(Estados Unidos e Inglaterra), além de oito revistas acadêmicas sobre educação
somática, dança-teatro e análise de/em movimento. Fundadora e diretora do
Coletivo A-FETO de Dança-Teatro da UFBA desde 1998.
Claudia Marinho
Artista e designer, mestre e doutora em Comunicação e Semiótica
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com pós-doutorado em
design na Faculdade de Arquitetura, Design e Urbanismo da Universidade de
274 das artes e seus percursos
Diana Domingues
Pesquisadora Visitante Nacional Sênior – CAPES UnB 2010-2014.
Pesquisadora CNPq, PQ 1 A. Fundadora e Diretora do LART – Laboratório de
Pesquisa em Arte e Tecnociência. Professora colaboradora Senior do Programa
de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica (desde 2010). Pesquisadora
do Camera Culture Media LabMIT International Science and Technology
Initiatives/CNPq. Pós-doutora pelo ATI – Art & Technologies de l’Image,
Université Paris VIII e Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC/
SP. Ações internacionais com o OCAD, Toronto. Membro do International
Advisory Board do CIV/DDD – Centre for Innovation in Information
Visualization and Data Driven Design, York University e Toronto University.
Membro do Editorial Board da Digital Creativity, University of Plymouth,
Pesquisadora associada e Membro do International Advisory Committee for
the 2015 conference Media Art Histories 2015 _ RE-CREATE, Université
du Québec à Montréal. Membro do LEAF, Leonardo Education Art Forum,
e de outros comitês científicos e editoriais. Projetos voltados à reengenharia
da vida sob três eixos: reengenharia do sensório, reengenharia da natureza
e reengenharia da cultura. Tratam da expansão sensorial e perceptiva em
sistemas enativos afetivos e inovações tecnológicas disruptivas. Voltam-se à
sinestesia, por interfaces sensórias, mineração da realidade, e à biodiversidade
e ecossistema com softwares sociais e visualização de dados por locatividade
e sentido de presença ampliado em mapas vivos de narrativas humanas e
cuidados com paisagens enfermas em geografias afetivas. Publicou e organizou
livros seminais para a pesquisa como: Arte, ciência e tecnologia: passado, presente
e desafios, 2009, Arte e vida no século XXI: tecnologia, ciência e criatividade, 2003
(Editora Unesp), e cerca de cem capítulos em livros e artigos em journals.
Artista com mais de cinquenta exposições individuais e mais de 130 coletivas
em Bienais como de São Paulo e Bienais do Mercosul. Exposição na House of
Culture of the World HKW, Berlin, Maison Européenne de la Photographie,
Paris, MN Belas Artes RJ, MAM e MAC SP, e em Galerias de diversos países.
Curadora de eventos internacionais. Sua obra está em muitos livros de
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 275
referência como: Bruce Wands, Digital Art, 2004, no Latin American Art in the
20th Century, de Edward Lucie-Smith, Thames and Hudson, 2003.
Éric Alliez
Professor de Filosofia e Criações Contemporâneas em Arte no
Departamento de Filosofia da Université Paris 8 e professor destacado de
Filosofia Contemporânea Francesa no Centre for Research in Modern
European Philosophy (Kingston University, Londres). Publicou, entre outros,
Les Temps Capitaux (prefácio de G. Deleuze), La Signature du monde, ou Qu’est-
ce que la philosophie de Deleuze et Guattari?, Paris, Cerf, 1993 [trad. Brasileira:
Rio de Janeiro, Editora 34, 1995]; De l’impossibilité de la phénoménologie. Sur
la philosophie française contemporaine, Paris, Vrin 1995 [trad. brasileira: Rio
de Janeiro, Editora 34, 1996]; Gilles Deleuze. Une Vie philosophique (direction
scientifique), Paris, Synthélabo, 1998 [trad. brasileira: Rio de Janeiro,
Editora 34, 2000]; Capitalism and Schizophrenia and Consensus. Of Relational
Aesthetics, Istambul, Baglam Publishing, 2010; Spheres of Action: Art and
Politics (ed. com P. Osborne.), Londres, Tate Publishing, 2013. Seus livros mais
recentes fazem uma crítica da estética numa trilogia dedicada à arte moderna e
contemporânea, como L’Œil-Cerveau. Nouvelles Histoires de La peinture moderne
(em colaboração com J.-Cl. Martin), Paris, Vrin, 2007; Défairel’ image. De l’art
contemporain (em colaboração com J.-Cl. Bonne), Dijon, Les Presses du réel,
2013. No Brasil, foi fundador e diretor do Colégio Internacional de Estudos
Filosóficos Transdisciplinares (1988-1996), bem como editor da Coleção Trans
(Editora 34).
Fabrizio Poltronieri
Artista e pesquisador, doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-
SP com uma tese sobre o papel do acaso na arte computacional. Atualmente
seus esforços de pesquisa estão focados na compreensão de como os códigos
pós-históricos podem ser utilizados para a produção de conhecimento. Essa
pesquisa é realizada no Gamification Lab, da Leuphana Universität Lüuneburg,
Alemanha, em parceria com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Seus artigos têm sido publicados com frequência em livros internacionais, sendo
o mais recente um capítulo do livro Von Begriff zum Bild: Medienkultur nach
Vilém Flusser, ed. Michael Hanke and Steffi Winkler (Tectum Verlag Marburg,
2013). Fabrizio também é coeditor do livro The Permanence of the Transient:
Precariousness in Art (Cambridge Scholars, 2014).
276 das artes e seus percursos
Fred Paulino
Cientista da Computação pela UFMG, pós-graduado em Arte
Contemporânea na UEMG, vive e trabalha em Belo Horizonte. Realiza obras
em suportes diversos – desde experimentações gráficas, vídeo e intervenções
urbanas até eletrônica e programação de sistemas. Foi diretor criativo do
Estúdio Osso e um dos fundadores do Coletivo Mosquito. Ministrou oficinas
e participou de diversas mostras, exposições e festivais no Brasil e exterior,
dentre eles: TEDx Belo Horizonte (2013), ZERO1 Biennial (San Jose, Estados
Unidos), ISEA2012 (Albuquerque, Estados Unidos), Tecnofagias – 3ª Mostra
3M de Arte Digital (Instituto Tomie Ohtake – São Paulo, SP), CREAM –
International Festival for Artsand Media (Yokohama, Japão), Videobrasil
(Brasil), Arte.Mov – Festival Internacional de Arte em Mídias Móveis (Brasil)
e FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (Brasil). Coordena o
projeto Gambiologia. Foi idealizador e curador das exposições Gambiólogos – A
Gambiarra nos Tempos do Digital (2010 e 2014) e é editor da Facta – Revista
de Gambiologia.
Gilbertto Prado
Artista multimídia, professor do Departamento de Artes Plásticas
da ECA-USP e coordenador do Grupo Poéticas Digitais. Tem realizado e
participado de inúmeras exposições no Brasil e no exterior. Recebeu o 9º
Prix Möbius International des Multimédias, Beijin, 2001 (Menção Especial),
Prêmio Transmídia Itaú Cultural (2002) e o 6º Prêmio Sergio Motta de Arte e
Tecnologia, (Grupo Poéticas Digitais), 2006, entre outros. Trabalha com arte
em rede e instalações interativas. Publicou em 2003 o livro Arte telemática: dos
intercâmbios pontuais aos ambientes virtuais multiusuário, pelo Itaú Cultural. www.
gilberttoprado.net, www.poeticasdigitais.net.
Guto Nóbrega
Doutor (2009) em Interactive Arts pelo programa de pós-graduação
Planetary Collegium (antigo CAiiA-STAR), University of Plymouth UK,
onde desenvolveu pesquisa sob orientação do Prof. Roy Ascott durante quatro
anos com bolsa de doutorado pleno pela CAPES. Sua pesquisa de caráter
transdisciplinar nos domínios da arte, ciência, tecnologia e natureza investiga
como a confluência desses campos (em especial nas últimas décadas) tem
informado a criação de novas experiências estéticas.
claudia marinho | patrícia caetano | walmeri ribeiro (orgs.) 277
Hélène Doyon
Professora na UQAM, onde ministra o seminário de metodologia, Le
performatif, em níveis de graduação e doutorado. Ministra ainda Espace social et
politique de l’art: Art et vie confondus, um seminário de mestrado inicialmente
desenvolvido por Jean-Pierre Demers, ex-palestrante que atualmente é
doutorando no Études et pratiques des arts program (UQAM). O trabalho da
dupla Doyon/Demers tem sido apresentado no Canadá, Europa, Brasil, Cuba e
Japão.
Julie Barnsley
Dançarina britânica, coreógrafa, professora e pesquisadora em corpo/
movimento, com Bachalerado de Artes em Dança. Como dançarina trabalhou
com os neoexpressionistas Reinhild Hoffman e Gerhard Bohner na Alemanha,
Lloyd Newson (DV8) na Inglaterra e Poppo Shiraishi (Butoh) em Nova York.
Em Caracas foi membro fundadora do Danzahoy e CLADA, Centro Latino-
americano de Dança. Foi professora de coreografia e investigadora de métodos de
ensino em dança moderna e pós-moderna no IUDANZA, Instituto Universidade
de Dança. Atualmente é professora de coreografia, além de coordenadora e
principal autora do Programa de Educação Somática Consciência Explanatória
Corporal na UNEARTE, Universidade Nacional Experimental das Artes. Por
seu trabalho no Aktion Kolectiva, Barnsley, recebeu o prêmio The Critven,
Críticos da Venezuela, Municipal Dance Awards (seis vezes), Casa del Artista.
Tornou-se professora honorária da UNEARTE em 2011.
Walmeri Ribeiro
Walmeri Ribeiro é artista-pesquisadora, professora do Programa de
Pós-graduação em Artes da Universidade Federal do Ceará, coordenadora
do laboratório de pesquisa <BRISA LAB>, onde desenvolve a pesquisa
“Territórios Sensíveis: uma investigação performativa em Artes, Tecnociências
e Natureza”.