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“As práticas artísticas contemporâneas parecem tomar uma nova forma, impulsionadas
pela globalização atual a partir dos anos 1980 (SMITH, 2017). Pode-se dizer que “o ano
de 1989 testemunhou uma reviravolta global, resultando em uma nova era para a arte”
(ALBERRO, 2008, p. 67). [...] “A globalização superou o velho ‘internacional da arte’”
e, consequentemente, ensejou a possibilidade de muitos artistas de participarem do
contexto da arte contemporânea pela primeira vez” (BUDDENSIEG, s.d.). Esta
transformação no contexto da história da arte definida até então, pela hegemonia
europeia e norte americana, rompe fronteiras e passa a ocupar seu lugar no contexto da
‘arte global’ contemporânea, a qual delinearemos adiante.” (p. 270)
“As exposições, depois de 1989, começaram a ser organizadas não apenas pelo
ocidente, mas por aqueles que estavam fora dele, em um cenário além do seu território
'inédito'” (LAFUENTE, 2013, p. 12).” (p. 272)
“‘The Other Story’, com curadoria do artista Rasheed Araeen, procurou demonstrar e
legitimar a história suprimida de uma estética modernista entre os artistas visuais
britânicos de ascendência africana, caribenha e asiática. [...] o texto do catálogo de
Araeen não deixa dúvidas de que a ausência de artistas negros e asiáticos da história do
modernismo britânico e do patrimônio nacional só poderia ser atribuída à discriminação
racista (FISHER, 2009, p.1).” (p. 273)
“Dos vinte e quatro artistas escolhidos para esta exposição, apenas quatro eram
mulheres, uma das críticas em relação à exposição. Segundo Fisher (2009), os critérios
de Araeen para a seleção dos artistas eram: a relação deles com o modernismo nas artes
visuais e, sua etnia, africana, caribenha e/ou asiática, e ainda, que fossem residentes no
Reino Unido por pelo menos dez anos. “Um argumento fundamental é de que os
modernistas africanos, asiáticos e caribenhos apresentaram um desafio insustentável ao
sistema universalista eurocêntrico de valores, ao qual, no entanto, apenas o artista
branco (masculino) poderia reivindicar uma genealogia legítima” (FISHER, 2009, p.2).
Esse ‘universalismo’ foi definido pelo excluído, segundo Fisher (2009). No início dos
anos 1980, o modernismo ainda era definido como uma inovação europeia. Eram
reconhecidas apenas algumas ‘afinidades estilísticas’ com outras culturas (FISHER,
2009, p. 2): “outras culturas ou povos [foram removidos] da dinâmica da continuidade
histórica”, e na sua subordinação e desvalorização da diferença cultural aos seus
próprios termos privilegiados de referência.” (p. 273-274)
“O dilema de Araeen era que a demanda por inclusão em qualquer habitus, segundo
Bourdieu (1993), era como uma faca de dois gumes. Derrida (2000) aponta que a
inclusão implicava em aceitar a autoridade do ‘anfitrião’ e a submissão aos termos em
que o anfitrião possibilitava a inclusão (FISHER, 2009).” (p. 274)
“Segundo Jean Fisher (2009), Araeen, no catálogo da exposição ‘The Other Story’,
assinala ocasiões em que, tanto críticos de arte anteriores, como posteriores, movidos
por pressupostos culturais estereotipados, contextualizaram o trabalho dos artistas pelas
suas etnias e não por critérios do modernismo (apesar de eurocêntrico).” (p. 274)
“Em suma, ‘The Other Story’ foi uma exposição significativa que tentou envolver-se
com o passado colonial e pós-colonial da Grã-Bretanha no que diz respeito ao racismo,
desigualdade e ignorância de outras culturas (ARAEEN, 1989).” (p. 274)
“Na sua terceira edição de 1989, atingiu o seu auge e reconhecimento internacional,
mais tarde. A curadoria foi de Gerardo Mosquera, e a temática: “Tradición y
Contemporaneidad” (“Tradição e Contemporaneidade”).” (p. 275)
“A Bienal apresentava uma matriz variada. As obras foram produzidas não apenas por
artistas, mas também por criadores de bonecos, admiradores de Simón Bolívar, e
crianças que inventavam os seus próprios brinquedos. Houve também uma conferência
organizada que incluiu contribuições de teorias culturais e debate. Ao contrário de uma
bienal mais tradicional, o evento de Havana não foi posicionado como uma vitrine em
torno da qual giravam as outras atividades, mas consistia em atividades com estruturas
discursivas e com um alto grau de acesso e participação do público, aliás, essas foram as
características mais marcantes da Bienal de La Habana em 1989 (WEISS, 2011).” (p.
275)
“Portanto, apesar das Bienais de La Habana não terem sido as primeiras bienais a
promoverem inovações, segundo Gardner e Green (2016), conseguiram ao contrário da
Bienal de Sidney e da Bienal de São Paulo, não aspirarem, representarem nem serem
embaixadores das vanguardas da Europa e da América do Norte.” (p. 275-276)
“A chamada história da arte tem sido uma narrativa sobre a arte europeia, apesar das
reivindicações de identidade nacional de outras regiões do mundo. A hegemonia
europeia até pouco tempo permanecia incontestável. Porém, atualmente, esta imagem
provoca contradições por parte de todos aqueles que não se consideram mais
representados pela arte europeia.” (p. 276)
“A história da arte como discurso, foi criada originalmente, para uma em cultura
particular com uma história em comum. Em contraste, as minorias que emergiram em
determinadas sociedades sentem que não estão representadas nesse quadro por não
compartilharem a mesma narrativa na sua história (BELTING, 2003, 2006).” (p. 275)
“A história não vive unicamente pelos padrões de uma história linear; ela se manifesta
no uso de modelos sociais e nas tradições culturais. Assim, a exposição, ‘Magiciens de
la Terre’, revelou o esforço de Jean-Hubert Martin para reabrir o fenômeno
contemporâneo da arte mundial ou local. Segundo Belting (2003, 2006), não era a
intenção nesta exposição, desacreditar a nova convivência entre artistas ocidentais e
não-ocidentais os quais não compartilhavam de um conceito comum sobre arte.” (p.
277)
“Belting no livro, ‘O fim da história da arte’, com primeira edição publicada em 1987,
aponta limitações da história da arte como ferramenta para avaliar uma obra de arte
contemporânea.” (p. 277)