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Nome: Thaís Alves Oliveira DRE: 116082401

Período: 2022.2
Disciplina: História da Arte 4 Professora: Hellen Cabral

A arte contemporânea vem tentando trazer questões para o meio da arte além do
que se vê. A iniciação da arte abstrata através da pintura, as performances e
demais expressões inovadoras, tanto para espectadores e a sociedade no geral,
quanto para os próprios artistas, discutiram, ao longo dos anos, as diversas
formalidades do modo de se fazer arte para além de uma encomenda, um retrato ou
representação de uma propriedade através da tinta a óleo, onde até então tais
aquisições eram restritas a nobreza e à burguesia. Porém, tais motivações para
estas mudanças pareceram não abranger todas as realidades possíveis num mundo
ocidental que se diz tão moderno, construído sob diversos tipos de exploração, e
principalmente, escravidão e roubo de artigos de civilizações antigas e históricas,
despossuindo povos de sua própria cultura.
O grupo Guerrila Girl’s, composto por feministas no ano de 1985, tentam explanar
em suas obras (na maioria das vezes inseridas no meio urbano) a forma como o
mundo da arte perpetua desigualdades através da visibilidade restrita dada
majoritariamente a homens brancos, onde, artistas mulheres e artistas não brancos
são sempre deixados de lado por organizações de museus e galerias, já que
parecem não deter do saber necessário para estarem ali naquele meio. Através de
indicadores unidos a comunicação visual, as artistas buscavam a consciência dos
que liam suas mensagens, frequentadores de museus e galerias ou não, e
questionar o porquê de um corpo não ser um frequentador ou não se sentir atraído a
se tornar um espectador de arte mais “formal”.
Na obra “As mulheres precisam estar nuas para entrar no Met. Museu?” de 1989,
as Guerrilla Girls expõem o fato de corpos femininos estarem sempre representados
nus em obras realizadas principalmente por homens brancos, no Museu
Metropolitano de Arte, localizado em Nova Iorque, ao mesmo tempo que não possui
mulheres artistas expondo, na mesma proporção.
A obra é ironicamente baseada na pintura de 1814 do artista Jean-Auguste
Dominique Ingres, intitulada de “A Grande Odalisca”.

Imagem 1. GIRLS, Guerrilla. Do women have to be naked to get into the Met. Museum?,
1989. Litografia, 27,9 × 71,1 cm.

Mais do que uma discussão sobre desigualdade de gênero e raça no mercado da


arte, é necessário um aprofundamento na discussão, e se questionar em que é
baseada e estruturada a tal “História da Arte”, ou seja, ir a fundo na busca dos
pilares que estruturam tal lógica de visibilidade, e saber que tais pilares mantém não
só o meio artístico, como também toda a sociedade atual, fundada em valores
ditados por colonizadores que querem manter sua supremacia e creem que
qualquer pensamento que fuja de suas tradições possa ser considerado uma
ameaça.
Sabe-se que a cultura é a principal ferramenta para manutenção e construção de
uma sociedade, sua história tem significância, assim também como atacar a cultura
e história de um povo pode colaborar para sua destruição. Essa ferramenta é tida
como um enorme capital social que se concentra nas mãos de quem detém de
poderes políticos suficientes para delegarem quais histórias serão contadas, e quais
palavras serão usadas para passarem as narrativas escolhidas para contar a um
povo sua história, sendo ela verídica ou não, assim como quais cores de tinta serão
utilizadas para pintarem uma pele em um quadro e quais serão as paisagens e
pessoas retratadas, e quais traços serão representados em uma dada escultura.
A escolha pelo apagamento de falas e narrativas que não sejam a do homem
branco parecem ameaçar os anos de pesquisa da nossa famosa História da Arte
acadêmica e ensinada nas escolas, onde a “História” contada é somente sobre
períodos localizados unicamente no espaço físico Europa - Estados Unidos,
excluindo da história e diminuindo como arte, todo o restante. Tal lógica,
infelizmente, alcança diversas áreas de produção de conhecimento, das humanas
às exatas.
Há um termo que pode facilmente ser utilizado para resumir todo esse assassinato
contra uma(s) cultura(s) através do silenciamento de produções artísticas/científicas,
sendo elas literárias ou não, visuais ou não, a palavra “epistemicídio”. Este termo
está atrelado à invisibilidade de referências e teóricos de descendência não branca,
deixando de lado a produção de conhecimento do povo negro e indígena,
principalmente quando trazemos a questão para o território brasileiro.
A filósofa e escritora Sueli Carneiro é uma das pioneiras no estudo de
epistemicídio, onde debate:
“(...) pela negação aos negros da condição de sujeitos de
conhecimento, por meio da desvalorização, negação ou ocultamento
das contribuições do Continente Africano e da diáspora africana ao
patrimônio cultural da humanidade; pela imposição do
embranquecimento cultural e pela produção do fracasso e evasão
escolar. A esses processos denominamos epistemicídio.”
(CARNEIRO, 2005, p.324).

Em uma obra audiovisual da música “Apeshit” (2018) de autoria de Beyoncé e Jay


Z, artistas internacionais reconhecidos com mais de 10 Grammys cada um, os
músicos se utilizam de corpos em sua maioria pretos em performance no Museu do
Louvre, um dos museus tidos como mais importantes do mundo e com enorme
acervo de obras de civilizações antigas e “achados” arqueológicos. O clipe traz à
tona a ironia da presença de corpos que foram e são apagados pela cultura
ocidental em um espaço onde esse apagamento é evidente nas obras expostas, e
onde o mínimo de arte de descendências africanas são “achados” arqueológicos, na
verdade roubados e retirados de seus locais de origem, como Egito e antiga
mesopotâmia, ou mesmo civilizações antigas da América do Sul ou Oriente Médio
possuem artigos no Louvre com esse status.
Os artistas se sobressaem frente a obras como Monalisa, e dançarinos encenam
em esculturas como a Vitória de Samotrácia, uma escultura que não possui cabeça,
como também próximo a Vênus De Milo de Alexandre de Antioquia, onde os corpos
poeticamente brincam com as ausências de alguns membros dessas esculturas, se
fazendo protagonistas no espaço, ressignificando obras como Retrato de Uma
Negra (de Marie-Guillemine Benoist,1800), uma das poucas, se não única no Louvre
que não representa um negro como escravo, dentre outras ressignificações no
visual da obra, na letra e no próprio nome da música.

CARTERS, The. Apeshit, 2018. Youtube, 16 de junho de 2018.


Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=kbMqWXnpXcA

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