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1 INTRODUÇÃO
Instalada no primeiro piso do Museu de Arte do Rio Grande do Sul desde maio
deste ano, e com estadia prevista até agosto, está a exibição ‘’Presença Negra no
MARGS’’. Apresentando aproximadamente 200 obras de autoria negra, o projeto da
exibição tem como foco os apagamentos e conceitos errôneos em relação à arte afro-
brasileira e pretende questionar a ausência de sujeitos negros no cenário e na história
da arte local.
Além disso, as obras que acabam ganhando relevância, são reduzidas a temas
e pautas sociais, reconhecidas pelos rótulos redundantes, e não por serem,
essencialmente, obras de arte feitas pela parcela negra da população.
Outras obras trabalham com essa ideia da diáspora representada pela literal
travessia pelos mares, como ‘’Travessia’’ de Momar Seck. Onde dez barquinhos de
madeira são instalados pintados com nomes de vários países com histórico de tráfico
negreiro. Ou como a representação de um navio negreiro de Leandro Machado feito
em lona de algodão.
A Diáspora Negra, ou africana, que muitas vezes vem parasitada com a ideia –
equivocada – de inferioridade do povo negro, foi fundamental para construção de uma
identidade nacional brasileira, estruturada com a contribuição de uma cultura rica de
um povo que reorganizou sua identidade através da expressão artística. E que, até os
dias de hoje, é submetida a preconceitos, marginalização e falta de valorização pelo
estatuto da arte.
Um assunto que ainda é pouco comentado pelo público e que deveria receber
mais atenção é a forma como muitas pessoas encaram as obras de artistas negros.
As pessoas estão sempre procurando um significado relacionado ao racismo ou à
negritude. Precisa-se entender que o artista negro é um artista como qualquer outro
e, portanto, ele pode criar obras relacionadas a diferentes assuntos. Na segunda sala
do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) estão expostas obras de artistas
negros com os mais diversos temas, como: cenas do cotidiano, feminismo, quadros
feitos por encomenda para a elite da época, entre outros. Esperar de artistas negros
apenas obras relacionadas à negritude e ao racismo é uma ideia estereotipada e que
incomoda diversos artistas.
Maria Lídia Magliani foi uma importante pintora, além de desenhista, cenógrafa
e figurinista. Magliani era uma mulher negra, gaúcha e sempre afirmou que não
gostava de “rótulos”, seu amigo Renato Rosa, marchand da casa de leilão Bolsa de
Arte, escreveu “Em vida nunca se pretendeu negra, amarela, mulher, afro, nada disso,
nada dessas bandeiras. Sua luta foi a de afirmar-se como um ser normal, queria ser
reconhecida como pintora, como artista” e Tina, sua amiga e incentivadora afirma que
“ela era sua própria bandeira: um ser digno e honesto como poucos”. Maria Lídia
criava obras neoexpressionistas com temas relacionados à situação política do país e
ao corpo da mulher, pintando mulheres com corpos volumosos questionando as
imposições ao corpo feminino.
Na mesma sala também encontramos objetos como, uma cama sem colchão e
plugs anais, tais obras nos fazem questionar o que é Arte. Segundo Gombrich "uma
coisa que realmente não existe é aquilo a que se dá o nome de Arte. Existem somente
artistas", com isso, Gombrich está dizendo que não existe a Arte com A maiúsculo,
pois não há uma definição exata para tal palavra, visto que a arte pode ter significados
diferentes dependendo do tempo e do lugar. Já os artistas, que antigamente eram
pessoas que pintavam animais nas paredes de uma caverna, hoje em dia usam tintas
para pintar telas. Afirmar que algo não é arte não passa de uma conclusão precipitada
e possivelmente preconceituosa, Gombrich escreve em seu livro História da Arte que
acredita que não existe qualquer razão errada para se gostar de um quadro ou
escultura, porém “existem razões erradas para não gostar de uma obra de arte”.
2.3.2 Diferença entre quadros que aparecem pessoas negras e que aparecem
pessoas brancas
Algo que chama a atenção e que perdurou por muitos anos é a diferença entre
pinturas que aparecem pessoas negras e pinturas que aparecem pessoas brancas.
Os quadros com pessoas brancas geralmente contêm famílias bem estruturadas,
homens e mulheres bem vestidos, crianças com suas mães ou brincando, imagens
mais positivas, entretanto, pinturas com pessoas negras geralmente eram homens
fazendo algum trabalho braçal, mulheres no papel de empregadas domésticas ou
escravizadas e mulheres nuas, imagens que apenas reforçavam estereótipos. Na
terceira sala encontramos pinturas que vão contra essa situação, pinturas de famílias
negras bem estruturadas, de uma mãe negra amamentando seu filho, crianças negras
brincando, e um quadro de uma criança feliz com seu boneco negro, chamado
Representatividade aos olhos de uma criança, do artista Triafu, reforçando como é
importante a representatividade negra.
2.3.3 Religiosidade
3 CONCLUSÃO
Com base na análise feita acima pode-se inferir que a presença negra no
mundo das artes é fraca, por isso se dá necessária o trabalho de revisão crítica ao
acervo do museu, mesmo com isso, o número de obras feitas por artistas
afrodescendentes ainda é ínfimo.
Logo conclui-se que o racismo e preconceito pode ser apontado como uma das
causas principais, onde múltiplas obras possuem valor artístico fora desses temas,
um artista negro deve ser tratado como um artista qualquer e sua produção deve ser
observada com a perspectiva de qualquer outra, pois segundo Jorge Coli, "os
discursos que determinam o estatuto da arte e o valor de um objeto artístico são de
outra natureza, mais complexa, mais arbitrária que o julgamento puramente técnico”.
Com isso em mente, a exposição procura representar a arte feita por mãos e
mentes negras. Trata-se de uma colocação estritamente política referente graças a
necessidade de mudar a perspectiva da arte afro-brasileira não como um tema, um
estilo ou conteúdos preestabelecidos, e, sim como parcela da arte brasileira produzida
por sujeitos negros.
4 REFERÊNCIAS
PRESENÇA Negra no MARGS. MARGS | Museu de Arte do Rio Grande do Sul,
2022. Disponível em: <https://www.margs.rs.gov.br/midia/presenca-negra-no-
margs/>. Acesso em: 16 jul. 2022.
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<https://movimentorevista.com.br/2020/05/a-identidade-negra-como-busca/>.
Acesso em: 16 jul. 2022.
BENACHIO, Ana Laura; BECK, Diego Eridson; COSTA, Rafael Machado; VARGAS,
Rosane. Considerações sobre a representação do negro na arte do Brasil, 1850-
1950. 19&20, Rio de Janeiro, v. IX, n. 1, jan./jun. 2014. Disponível em:
<http://www.dezenovevinte.net/obras/negro_representacoes.htm>. Acesso em: 17
jul. 2022.
CAETANO, Ester. A trajetória de Maria Lídia Magliani, artista pioneira que
questionou as imposições ao corpo feminino. 2021. Disponível em:
<https://www.nonada.com.br/2021/11/a-trajetoria-de-maria-lidia-magliani-artista-
pioneira-que-questionou-as-imposicoes-ao-corpo-feminino/>. Acesso em: 17. jul.
2022.
DALTRO, Luana Mendes. A Ideologia do branqueamento: tudo que você precisa
saber. 2019. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/a-ideologia-do-
branqueamento-tudo-que-voce-precisa-saber/> Acesso em: 17 jul. 2022.
SANTOS, Anna Alleska Silva. A Estética Afro-diaspórica: a análise da auto
representação dos negros nas artes visuais contemporâneas no Brasil. 2021.
Disponível em: <https://eventos.set.edu.br/al_sempesq/article/view/15188>. Acesso
em 17 jul. 2022.
GOMBRICH, Ernst. A História da Arte.
COLI, Jorge. O que é Arte – Coleção primeiros passos.