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editorial
Ao mesmo tempo, não parece haver evento, exposição ou programação que não
sejam hoje, em alguma medida, “co-curados” por essas questões, que têm sido
discutidas ou referidas por meio de termos como representatividade, inclusão,
diversidade, reparação, decolonização etc. A situação evidencia certamente uma
conquista, mas é também um sinal de que tais mudanças podem estar sendo
consumidas por uma cultura dominante, ao menos no campo da arte, sob o risco de
alcançarem um ponto de saturação, exaustão, acomodação. Afinal, trata-se de
mudanças estruturais ou de fachada? Ou de ambas, em diferentes combinações?
De que modo aqueles agentes transpõem ou restam condicionados às expectativas
sobre seus corpos, experiências e discursos? Como não reduzir a visibilidade à
mera aparição, a um discurso sem ação? Que papel as instituições culturais e outras
instâncias têm desempenhado nesse processo? De que modo as concepções e
epistemologias da arte moderna e contemporânea têm sido mantidas, reformadas ou
transformadas? Um balanço mais bem apurado desse quadro também segue
pendente.
Embora a importância daquelas mudanças seja inegável, elas ainda não parecem
ter alcançado as diretorias e conselhos das grandes instituições. Do mesmo modo,
permanece inalterado certo organograma que subalterniza os setores educativos em
face do curatorial e do expositivo. Por exemplo, reivindicar “mais mulheres” na
curadoria não tem o mesmo sentido na educação, uma área historicamente
feminizada, por sua associação às atividades de reprodução e cuidado. Também a
reconfiguração dos públicos parece muitas vezes postulada pela abertura das
exposições, com base em noções de identificação e reconhecimento, como se não
fosse necessário acompanhar o que ocorre no tempo das exposições. Além disso, a
maneira como tais mudanças são, em parte, assimiladas por valores e práticas
neoliberais, reiterando critérios baseados na singularidade, raridade e autenticidade,
a esta altura, merece ponderação. Apesar do cenário de retração do setor cultural,
não parece haver crise no mercado de arte, onde a perspectiva de uma carreira
artística para aqueles agentes tem sido apoiada por um “colecionismo ativista”,
interessado justamente na produção de “grupos minorizados”.
Editores
A partir daí o autor relata a visita a duas exposições e uma conversa sobre a
exposição da obra de uma artista iuguslava com um historiador da arte. São elas
Mining the Museum (1992), de Fred Wilson, Mimesis & Transgression (2008), de
Pedro Lasch, e Looking for a Husband with EU Passport (2005), de Tanja Ostojic.
São apresentadas fotos das exposições, assim como breve descrições das obras e
do percurso feito na visita ou no diálogo.
”In the Museum, you`re in the environment you`re supposed to understand and
you`re supposed to feel good about. All of these “supposed to`s “” – and the
artwork`s all there, but there`s all this stuff not being talked about as it relates to the
real world” (FRED WILSON, 2009)
(No museu, você está num ambiente que é pressuposto que você entenda, é
pressuposto que você se sinta bem sobre. Todos esses pressupostos – e a arte está
todo ali, mas tem todo esse monte de coisas que não estão sendo faladas quanto a
sua relação com o mundo real.)
Por sua vez, Pedro Lasch instala um conjunto de estátuas (autoria desconhecida,
pedra vulcânica, séc. XI) retiradas dos depósitos do museu, viradas de costas
encarando espelhos negros, que ao aproximar-se apresentam obras canônicas da
pintura hispânica do século XVII (Rivera, Gongora) gravadas dentro do espelho.
Esses espelhos negros agem como intermediários entre o presente e o ausente, o
visível e o invisível, o colonizador e o colonizado(Pedro Lasch, 2009). O espelho de
obsidia é o lugar onde a geografia da razão se volta, o lugar de uma mudança da
terra – Pachakuti – estético-epístemica.
Wilson, Lasch e Ostojic estão tornando visível o invisível que não queremos ver,
revelando a beleza e criatividade de civilizações que foram destruídas em nome da
civilização. A decolonização da estética imperial, baseada na representação,
consistiria em criar e fazer com que o criado não possa ser cooptada, enfraquecido e
achatado mediante o conceito de representação. Por último o autor alerta da
urgência de construir futuros globais em que não existam condições e possibilidades
para formação de sujeitos e subjetividades imperialistas.
Dizer e criar uma representação está dentro do reino da mentira e não do reino da
verdade, o que quer dizer que uma representação não é um ser, um agente, e sim
um falso dele. Mesmo que sejam agentes os que estejam enquadrados - sempre por
um outro agente – na representação suas essências se perdem e são tomadas por
suas imagens.
importância daquelas mudanças seja inegável, elas ainda não parecem ter
alcançado as diretorias e conselhos das grandes instituições. Um organograma que
subalterniza os setores educativos em face do curatorial e do expositivo.
Ponderar a maneira como tais mudanças são, em parte, assimiladas por valores e
práticas neoliberais, reiterando critérios baseados na singularidade, raridade e
autenticidade.
Mesmo com a crise geral não parece haver crise no mercado de arte, onde a
perspectiva de uma carreira artística para aqueles agentes tem sido apoiada por um
“colecionismo ativista”, interessado justamente na produção de “grupos
minorizados”.
Bibliografia