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29 Maio 2018

Hilma af Klint: Mundos Possíveis


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É notável que esta pintora sueca tenha entrado em


contato com um campo magnético superior, um
campo puro e elevado.

Texto: LOGON Autorengruppe Brasiliens Imagem: Hilma af Klint: Altarpiece

Exposição na Pinacoteca de São Paulo de 3 de março a 16 de julho de 2018

A Pinacoteca de São Paulo exibe, pela primeira vez na América Latina, uma mostra
individual da pintora sueca Hilma af Klint (1862-1944). Seu trabalho vem sendo
reconhecido, no âmbito cultural, como pioneiro no campo da arte abstrata, porém
permaneceu em segredo durante grande parte do século XX. 

Em 1907, ano em que Hilma af Klint trabalhava na série “Pinturas para o Templo” (que
consiste de 193 obras classificadas, realizadas entre 1906 e 1915), Picasso pinta “Les
Demoiselles d’Avignon”, Gustav Klimt, "O Beijo” e Frida Kahlo, “Mexico City”. Pouco
depois, surgem nomes como Kandinsky, Munch e Mondrian. Artistas que marcaram a
história da arte, exceto Hilma af Klint, que não participou dessa história, pois sua obra
abstrata é revelada somente vinte anos após sua morte, a seu pedido. Ainda assim, é
apenas em 1986 que poucas pessoas puderam apreciá-la pela primeira vez na
exposição “The Spiritual In Art: Abstract Painting 1890–1985” no LACMA (Los Angeles
County Museum of Art).

Seu trabalho explora o caminho para um plano mais elevado. Hilma af Klint sabia que
o público ainda não estaria pronto para receber sua obra, que ainda hoje não é
plenamente compreendida. Hilma propõe uma viagem de autoconhecimento que diz
respeito a todos nós. Aos poucos, a humanidade está se abrindo para ela, pois devido
aos impulsos da Era de Aquarius, as pessoas estão mais receptivas a novas ideias. No
entanto, as ideias registradas por Hilma não são novas, elas sempre existiram e
continuam existindo.

Hilma af Klint não era apenas uma artista e sim uma pessoa em busca do
desenvolvimento spiritual. No início ela foi apenas um instrumento de registro do
imaterial para o material, do invisível para o visível. Segundo Johan af Klint, sobrinho-
neto da artista, herdeiro de sua obra e presidente da Fundação Hilma af Klint, “sua
obra é uma representação física do mundo espiritual”.

Mais tarde, af Klint revela o desenvolvimento de sua própria consciência.   

Duas pessoas do grupo de autores do LOGON visitaram a exposição, e eis a nossa


impressão.

Quando contemplamos o trabalho de Hilma af Klint percebemos sua grandiosidade e


que há algo ali que não se consegue colocar em palavras, onde ela se expressa, ora a
partir de formas geométricas, ora orgânicas. Nesse sentido, sua arte é abstrata
porque ela nos toca de uma forma quase impossível de ser compreendida apenas pela
mente concreta. É preciso vivenciá-la, vivenciá-la a partir de nosso estado de ser e
permitir que ela penetre no imo, no coração, e faça vibrar algo que ressoa e que entre
em sintonia com a vibração. O trabalho de Hilma af Klint não é para o intelecto, para a
interpretação, é possível sentir isso assim que entramos em contato com suas telas,
principalmente as que foram pintadas para o templo. Para que templo Hilma pintou? A
resposta para o buscador da verdade é: Hilma não pintou para um templo; ela
mostrou o caminho para a construção do templo interior. 

Suas telas conseguem fazer reverberar tudo isso que percebemos com nossos olhos
para dentro de nós, é o reconhecimento! Esse é o caminho espiritual percorrido por
ela, que existe, que está aí e qualquer pessoa que o busque verdadeiramente poderá
encontrá-lo. É um presente para o presente, pois é agora que ele está sendo
mostrado, para a humanidade com a consciência atual, no momento cósmico atual,
que tem a abertura para aceitá-lo e a inquietação interior, a sede do buscador, a
insatisfação com o estado atual das coisas. Notamos quão magnéticas suas pinturas
são e como os visitantes da exposição sentem-se completamente tocados pelas telas,
muitos deles com menos de 10 anos de idade. Existe prova melhor do que essa para
mostrar o quão íntima e para todos sua arte é?

Influenciada por movimentos espirituais como a Rosa-Cruz, a Teosofia e, mais tarde, a


Antroposofia, Hilma af Klint faz registros de dimensões que vão além da compreensão
dos sentidos. Ela representa cientificamente e cataloga em inúmeros registros escritos
as energias invisíveis do mundo. Vale notar que em sua época surgia o interesse pelo
invisível, com descobertas cientificas como as do Raio-X e das ondas
eletromagnéticas. Conseguimos notar como a separação, na verdade, não existe e
tudo é interconectado, porém revelado para cada um de modo diferente. Assim, Hilma
af Klint descobria essas mesmas coisas artisticamente. No campo do ocultismo, as
sessões espíritas ganhavam destaque.  Hilma fez suas experiências espíritas com o
Círculo das Cinco, grupo integrado por ela e mais quatro amigas, fazendo registros
automáticos durante as sessões e conectando-se com espíritos elevados. Porém é
notável que a pintora sueca tenha entrado em contato com um campo magnético
superior, um campo puro e elevado, do qual ela falava com Rudolf Steiner. Um campo
que não pertence ao mundo dialético (do mundo dos opostos, do claro e do escuro, do
bem e do mal): o campo do Espírito.

Hilma af Klint ganhava a vida como pintora de retratos e paisagens, ela era
extremamente detalhista, e em suas obras espirituais sobre a botânica, ela fez
inúmeros registros da organização dos átomos e de campos magnéticos, bem como
da Geometria Sagrada.

No livro Geometria Sagrada: bases naturais, cientificas e pitagóricas (Jesus Zaton),


lemos: "A Geometria Sagrada não se limita a simples medidas, mas busca explorar os
padrões energéticos através dos quais todas as formas foram criadas a partir da
Unidade ou do Todo metafísico: desde o desenvolvimento de um embrião até os
padrões que seguem a formação e os ritmos dos planetas, as galáxias, as manchas e
as linhas na pele dos animais, ou a maneira na qual as moléculas de DNA estão
estruturadas. De maior ou menor, tudo é regido pela Geometria Sagrada."

As obras desta artista percorrem todo o caminho da Genesis, do Caos ao princípio, o


Verbo. “As dez maiores” contam a história do desenvolvimento da consciência (em
espirais), das fases do ser humano desde a infância até a velhice. As "Pinturas para o
Templo" culminam com a “Série Retábulos” que é o seu próprio caminho espiritual, o
processo alquímico que transmuta o chumbo em ouro, Outra série linda é "A árvore da
sabedoria", na número 1 Hilma coloca o coração ( o centro do ser humano) na base do
trance da árvore. O coração é o portal para as outras dimensões que levam ao cálice
do Santo Graal, que irradia (12 raios) A separação é maior quanto mais longe da taça,
do Espírito. Isso é retratado pelas pombas branco e preto. Na dimensão superior, as
pombas se unificam. O Uno, o indivisível, o eterno.

Esse caminho de busca, de autoconhecimento percorrido por Hilma af Klint é a sua


arte: uma arte capaz de transformar a vida espiritual das pessoas que entram em
contato com ela. Uma vida que flui do seu coração, que quer oferecer-lhes a
eternidade, que não é uma imagem, mas sim uma força, um acontecimento infinito,
sem começo nem fim, agora, no presente.

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