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O Malhete

Informativo Maçônico, Político e Cultural


Linhares - ES, Setembro de 2021 - Ano XIII - Nº 149 - E-mail: omalhete@gmail.com
02 Agosto 2021 O Malhete

Indice
Ano XIII - Número 149 - Setembro de 2021

Masmorras Não Tem Portas ......................................................03

O Mercenarismo e Mercantilismo na Maçonaria Atual ................04

Independência do Brasil ...........................................................06

Tronco de Beneficência ............................................................08

O Pensamento Mítico-Filosófico da Antiga Grécia e a Maçonaria


(Parte 2) ...................................................................................10

O Poder do Agora ......................................................................13

Adoradores do Demônio? .........................................................14

Além dos Muros do Vaticano ......................................................16

Os Usos e Costumes na Maçonaria Moderna ..............................19

O Que é o Tolerâncialismo .........................................................20

Um Maçom no Inferno – Uma Fábula........................................... 23

Rosacruz, O Mistério Chega ao Fim ............................................24


Adriana Lopez
Violência Sem Rosto .................................................................26
Bruno Ribeiro
Carlos Guilherme Mota Maçonaria à Brasileira ..............................................................28
Carolina Bataier
Dário Angelo Baggieri
Érika Alfaro
Gabriele Alves
José Ronaldo Viega Alves
Marcelo Artilheiro
Sérgio F. Barbosa
Sergio Quirino
Tiago Cordeiro
Valdir Massucatti

CAPA DESTA EDIÇÃO


Artista Greg Stewart
Collection MasonicTracingBoards
Descrição: As pranchas de rastreamento de pri-
meiro grau foram criadas como recursos visuais
criados para ilustrar os significados e princípios
da Maçonaria conforme ensinados nos graus. O
simbolismo é muito ocidental, mas o simbolismo
foi adaptado para o maçom moderno. Na imagem
há muitas pistas simbólicas. Na adaptação desta
peça, a mudança mais significativa é a substitui-
ção da Bíblia Sagrada pelos principais símbolos
religiosos do mundo. Esses símbolos de fé, em
minha opinião, representam o Maçom moderno.
O Malhete Setembro 2021 03

MASMORRAS NÃO TEM PORTAS


quando o caminho se torna difícil. Diga- Encontrar a resposta dos nossos questio-
mos que alcançar as condições para rece- namentos na fala do Irmão Primeiro Vigi-
ber a certificação de ISO, será ainda mais lante, sobre os motivos de nossas reuniões.
difícil. Entender a invocação do Venerável Mes-
Precisamos estar permanentemente vigi- tre após a abertura do Livro da Lei como

A Maçonaria tem como missão trans-


formar a “Pedra Bruta” em “Pedra
Polida”. Este simbolismo traduz o
movimento de evolução do básico e sim-
ples em direção ao elaborado e complexo.
lantes quanto a perda da qualidade do pro-
duto final (Maçom) com o passar dos anos.
Não se trata de mera crítica, mas de exercí-
cio de autoconsciência.
E o primeiro passo é compreender a rea-
um mantra para subjugarmos paixões e
intransigências.
Lembrarmos dos limites de nossa natu-
reza humana e das possibilidades de desvi-
os e devaneios. O processo de corrupção se
Compreendemos a evolução individual lidade de que nunca estaremos completa- instala lentamente. Por isto, somos estimu-
como ponto de partida para uma atuação mente “polidos”. Vivemos sempre expos- lados à vigilância e à reflexão: Orai e Vigiai
coletiva. Esses são os fundamentos da pos- tos a agentes de obsolescência e deteriora- !!! .
tura do Maçom como um construtor social. ção. Portanto, retornemos sempre às Instru-
Ele converte suas energias em ações para ções e às práticas que elas nos propõem.
tornar feliz a humanidade. As masmorras que retém nossos víci-
Assim como existe na atividade de pro- os não têm portas. Não há necessidade se ser o melhor,
dução um longo processo a ser percorrido Nossa vigilância é que os mantém lá mas, de necessariamente fazer o melhor.
entre a matéria prima e o produto final, na embaixo. Atingimos quinze anos de compartilha-
evolução individual há uma graduação pro- Os vícios estão ávidos para virem à mento de instruções maçônicas. Nosso pro-
cessual, onde se realiza a interação e a puri- tona. pósito fundamental é incentivar os Irmãos
ficação passando por algum dos quatro Quais são os sinais indicadores de estar- ao estudo, à reflexão e tornar-se um ele-
elementos (fogo, terra, água, ar). mos abrindo a guarda? mento de atuação, um legítimo Construtor
Em nossa “cadeia de produção” encon- Questionamentos de tudo e de todos. Social.
tramos a matéria prima intitulada “profa- (Falta de Tolerância) Sinto muito, me perdoe, sou grato, te
no”. Selecionado, se torna “candidato” e Comparações descabidas, tais como: amo. Vamos em Frente!
pelas tortuosas “esteiras fabris”, vai se “no meu tempo”. (Soberba)
transformando em neófito, até que o consi- Frequentar reuniões somente quando Fraternalmente,
deramos Iniciado. lhe interessa o tema. (Falta de amor frater-
Daí até receber a etiqueta de “produto nal) Sérgio Quirino
acabado”, ou seja, o título de Maçom é O que devemos fazer? Grão-Mestre - GLMMG 2021/2024
04 Setembro 2021 O Malhete

O MERCENARISMO E MERCANTILISMO NA MAÇONARIA ATUAL


(*) O autor, Irmão Dario Angelo Baggieri é médico, é Mestre Instalado; membro da Academia Maçônica
de Letras do Espírito Santo onde ocupa a cadeira nº 1, cujo patrono é o Alferes Tiradentes.

cultos nem raízes, não foram talhados para 8).


serem amados e fraternais e, a cada gesto que 6. A vaidade da fama: "O número de pes-
os alçam à glória, cometem outros que os soas que um rei governa é muito grande; no
depreciam – talvez para lembrar suas humani- entanto, quando deixa de ser rei, ninguém é
dades imperfeitas, que não busca a melhoria a agradecido pelo que ele fez" (4:16).
INTRODUÇÃO cada dia. 7. A vaidade das riquezas: "Quem ama o
Tema polêmico dissociativo, desagregador e Outros preferem mercantilizar, títulos, dinheiro nunca ficará satisfeito; quem tem a
ratificado até como consuetudinário, por medalhas, cargos tanto como moeda de com- ambição de ficar rico nunca terá tudo o que
alguns irmãos mais “eruditos”, que traz à pra, como de “venda” e está se tornando cada quer". (5:10).
baila profundos debates em alguns círculos dia mais, corriqueira e trivial situação viven- 8. A vaidade da cobiça: "É muito melhor
maçônicos, que chegam às raias de uma dele- ciada em eleições de lojas, de Grão –Mestra- ficar satisfeito com o que se tem do que estar
téria e pernóstica discussão contenciosa que a dos o que está trazendo cismas, cada vez mais sempre querendo mais." (6:9).
cada dia, desmotiva mais e mais irmãos, a con- frequentes em todas as Potências Maçônicas, 9. A vaidade da frivolidade: "A risada dos
tinuarem praticando a arte real de maneira ditas regulares. Salomão nos mostra no livro tolos é como os estalos de espinhos no fogo -
regular. Em uma live, agora nos tempos de da lei as As 10 Vaidades que enodoam o vulgo não quer dizer nada" (7:6).
pandemia, presenciei um irmão aprendiz ques- profano, a saber: 10. A vaidade dos elogios: "Eu vi o enterro
tionar reiterados pedidos e solicitações de 1. A vaidade da sabedoria: "No futuro, de pessoas más. Na volta do cemitério, notei
irmãos nas redes sociais, que não tinham, por todos nós seremos esquecidos. Todos morre- que eram elogiadas, e isso na mesma cidade
assim dizer: “SENTIDO JUSTO, PERFEITO remos, tantos os sábios como os tolos" (2:15 e onde haviam feito mal" (8: 10).
OU DE NECESSIDADE REALMENTE 16). De fato a palavra vaidade é muito frequente
INQUESTIONÁVEL.” E também ponderou 2. A vaidade do trabalho: "A gente traba- no texto de Eclesiastes. Ela aparece mais de
a comercialização de produtos e serviços de lha... para conseguir alguma coisa e depois trinta vezes. Na maioria das vezes fica claro
uma maneira QUESTIONÁVEL em termos tem que deixar tudo para alguém que não fez que no contexto do livro, vaidade quer dizer
de Ética, Moral e bons costumes. Terminou nada para merecer aquilo" (2:19-21) basicamente inutilidade. Por vezes reiteradas
sua fala com uma alusão de impacto alegando 3. A vaidade dos objetivos humanos: Salomão conecta a ideia de vaidade com a toli-
que essa é a característica geral do país em "Deus faz que os maus trabalhem, economi- ce de “correr atrás do vento” (Eclesiastes
que vivemos hoje, camuflamos nosso merce- zem e ajuntem a fim de que a riqueza deles 1:14,17; etc.).
narismo com singelos diminutivos. O Ir Poli- seja dada às pessoas de que Ele gosta mais" Mas o autor de Eclesiastes emprega essa
cial, para manter as aparências, nunca cobra (2:26). palavra não apenas num único sentido. Ele
um suborno, mas uma “cervejinha”. O Ir Fis- 4.Vaidade do sucesso: "Também descobri usa-a para denotar que a atividade humana
cal da prefeitura leva uma “caixinha”. O Ir por que as pessoas se esforçam tanto para ter sobre a face da terra é: 1) efêmera, isto é, tão
Político dá uma “ajeitadinha”. Ninguém se sucesso no trabalho: é porque elas querem ser transitória quanto à neblina; 2) fútil, no con-
corrompe de forma direta, metódica, profissi- mais do que os outros" (4:4). texto da condição amaldiçoada do universo
onal. Muitos irmãos são imprecisos e diletan- 5. A vaidade da avareza: "Descobri que na por causa do pecado; e 3) incompreensível, no
tes até para “angariarem vantagens”. Certos vida existe mais uma coisa que não vale a que diz respeito às questões inexplicáveis da
irmãos não entram para a história: apenas pena: é o homem viver sozinho, sem amigos, vida.
usam-na, a fim de colecionar façanhas. São sem filhos, sem irmãos, sempre trabalhando e >>>>>>
ídolos somente para si mesmos. Não criam nunca satisfeito com a riqueza que tem" (4:7 e
O Malhete Setembro 2021 05

Pieter Claeszoon- Vanitas - Still Life

Assim, frequentemente Salomão fala da Assim, em termos de Brasil, vemos que diretores e chefes e nossos trabalhos, políti-
vaidade ao enfatizar a incompreensão humana desde a descoberta, já se praticava o Mercanti- cos, autoridades dos mais diversos setores,
diante dos propósitos soberanos do Grande lismo, mas onde entra o mercantilismo e de alguém que possa nos trazer vantagens,
Arquiteto do Universo. Ele observa a sabedo- quebra, o mercenarismo na maçonaria? etc...etc...etc.
ria e as obras dos homens e percebe como tudo Resposta simples, desde sempre, ou seja a Concluímos esse ensaio, com questiona-
isso é frágil, vazio e transitório diante Daque- nossa Sublime Instituição, apesar de ser UMA mentos da grande maioria dos debatedores,
le, que governa todas as coisas debaixo do sol PERFEITA ORDEM de Inspiração Divina, é que podem ser elencadas em três: 1) As Lojas
de acordo com o seu plano eterno. constituída por HOMENS IMPERFEITOS, Necessitam com extrema urgência se reade-
Esse tema, em debate em um seleto grupo sendo que muitos nunca evoluirão na senda quarem a Globalização, mantendo seus prin-
de irmãos formadores de opinião, fomentou as das virtudes e ficarão à margem da estrada, cípios, normas e leis dentro de um contexto
mais variadas colocações e ponderações que leva a verdadeira luz. revisado.
inclusive nos remetendo a história como exe- A depuração é natural e diuturna. Hoje as 2) Maiores critérios nas Sindicâncias e na
gese para o tema em questão. O mercantilismo nossas Sindicâncias, são um pálido reflexo do escolha dos futuros irmãos, priorizando sem-
chegou ao Brasil por meio dos portugueses. que foram em outrora. Simples, Prolixas, Irre- pre à qualidade e nunca a quantidade
Desde a chegada de Pedro Álvares Cabral, em levantes, chegando muitas mesmo à beira do 3) Priorizar a ritualística dos graus simbóli-
1500, os colonizadores buscavam encontrar ridículo de tão vazias e sem substanciamento cos com formação de futuros mestres compro-
ouro no litoral brasileiro. A notícia de que os técnico que permitam nos Escrutínios Secre- missados e QUALIFICADOS COMO TAIS,
espanhóis encontraram metais preciosos fize- tos, a certeza de estarmos fazendo escolhas e não a grande maioria de Mestres mal prepa-
ram com que os portugueses aumentassem a dignas para ingressarem em nossa colunas. Aí rados e sem conhecimento da doutrina como
procura no Brasil. Como não encontraram de entra outra face nefasta do Mercantilismo e do presenciamos na atualidade.
imediato esses metais, eles resolveram explo- Mercenarismo, a de “permitirmos o ingresso ALEA JACTA EST- A sorte esta lançada!!!
rar outras mercadorias que também tinham de profanos, que não possuem os predicados
valor no mercado externo. para serem iniciados, devido a serem amigos,
06 Setembro 2021 O Malhete

INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
Foi dentro de lojas maçônicas que os planos para libertar a colônia do domínio português acabaram sendo traçado
mados e movimentos de bastidores, que a maçônica chamada Cavaleiros da Luz já esta-
maçonaria assumiu um papel fundamental na va em atividade no ano de 1797. A existência
transformação da colônia em império. Quan- desse templo, supostamente localizado na
do voltou das margens do Ipiranga, em São povoação da Barra, em Salvador, jamais foi
Paulo, para o Rio de Janeiro, no dia 12 de outu- comprovada. Mas existe um documento data-
Por Tiago Cordeiro bro de 1822, Pedro foi recebido com festa e do de 1798 que parece fazer referência a ela.
aclamado o primeiro imperador do Brasil. A Trata-se de uma carta de Rodrigo de Souza

N o dia 9 de janeiro de 1822, o presidente celebração ocorreu na mesma loja Comércio Coutinho, então ministro da Coroa portugue-
do Senado da Câmara, José Clemente e Artes. Àquela altura, os principais líderes da sa, enviada a Fernando José de Portugal e Cas-
Pereira, pronunciou um eloquente dis- nova nação eram integrantes da maçonaria. O tro, governador da Bahia: “Sua Majestade [a
curso. Pediu ao príncipe regente, dom Pedro Grande Oriente do Brasil — entidade à qual rainha de Portugal, dona Maria I] manda
de Alcântara, que ignorasse o chamado da até hoje está subordinada a maioria dos tem- remeter (...) a inclusa denúncia de várias pes-
metrópole, exigindo seu regresso a Lisboa, e plos maçônicos brasileiros — havia sido fun- soas que parecem infectas de princípios jaco-
ficasse no Brasil. Clemente era maçom. E dado apenas quatro meses antes. binos; e ordena (...) que Vossa Senhoria,
agia de acordo com dois manifestos lançados tomando todo o conhecimento do fato, proce-
em dezembro do ano anterior. Um deles tinha ORIGEM NEBULOSA da contra elas com a maior severidade”. O
a assinatura de José Bonifácio. O outro, do A primeira loja maçônica de que se tem denunciante, Manoel Antonio de Jesus, dizia
frei Francisco de Jesus Sampaio. Bonifácio, notícia por aqui é a Reunião, fundada no Rio que, ao pé do Forte de São Pedro, havia uma
um dos maiores expoentes da vida política da de Janeiro em 1801. Alguns pesquisadores casa onde um grupo se reunia para falar de
colônia, também pertencia à maçonaria. maçons, no entanto, acreditam que a história liberdade e promover banquetes — dois
Assim como frei Francisco, orador da loja da irmandade no Brasil talvez seja ainda mais conhecidos hábitos maçônicos.
maçônica Comércio e Artes. Era na cela do antiga. O problema é que não existem regis- Pode ser, ainda segundo historiadores liga-
religioso, no Convento de Santo Antônio, que tros da suposta atividade anterior a 1801, já dos à ordem, que a maçonaria brasileira tam-
se reuniam os líderes do movimento pela per- que a ordem vivia na clandestinidade. Naque- bém já estivesse relativamente organizada
manência de dom Pedro — e pela libertação les tempos, a maçonaria brasileira não só era em outras localidades do Nordeste. “Existi-
do domínio português. secreta como precisava fugir da perseguição am agrupamentos secretos, em moldes mais
Algumas horas mais tarde, o regente anun- portuguesa. “Muitas das informações e dos ou menos maçônicos, funcionando como clu-
ciou que desobedeceria a seu pai — o rei de segredos (...) eram transmitidos apenas oral- bes ou academias, mas que não eram lojas”,
Portugal, dom João VI — e permaneceria mente, não existindo documentos para uma afirmam José Castellani e William Almeida
deste lado do Atlântico. Aquela data, 9 de jane- melhor fundamentação dos fatos”, escreve de Carvalho em História do Grande Oriente
iro, entraria para a história como o Dia do Celso Ávila Júnior no livro A Maçonaria Baia- do Brasil. “É o caso, por exemplo, do famoso
Fico. Oito meses depois, no dia 7 de setem- na e Sua História. Aerópago de Itambé, fundado por Arruda
bro, dom Pedro declararia nossa independên- Ávila defende a tese de que a ordem, Câmara, ex-frade carmelita, em 1796, na raia
cia. naquele momento, atuava nos porões de asso- das províncias de Pernambuco e da Paraíba.”
Foi assim, com discursos públicos infla- ciações literárias. E acredita que uma loja >>>>>>
O Malhete Setembro 2021 07

José Bonifácio de Andrada Joaquim Gonçalves Ledo


Seja como for, é certo que a maçonaria já uma distância segura dos olhos da polícia e depoimento reproduzido no livro História da
estava presente em outras grandes cidades da procurar o apoio ao movimento em outras Independência do Brasil (do também maçom
colônia quando, em 1815, a loja Comércio e províncias, especialmente Minas Gerais. Adolfo de Varnhagen). “Foram nomeados os
Artes começou a funcionar no Rio de Janei- Também faziam parte do grupo, entre gene- emissários, que deviam ir tratar a aclamação
ro. A influência da irmandade talvez não rais, juízes, funcionários públicos, fazendei- nas diferentes províncias — entre eles,
fosse muito sentida fora de centros urbanos ros, artesãos e padres, os maçons Antônio Januário Barbosa, designado para ir a Minas;
como Ouro Preto, Salvador e Recife, mas era Vasconcelos de Drummond, Luiz Pereira da João Mendes Viana, para Pernambuco; e
crescente. E revelava-se cada vez mais incô- Nóbrega e José Mariano de Azevedo Couti- José Gordilho de Barbuda, para a Bahia. Vári-
moda para as autoridades portuguesas. Prova nho. O clube contatou José Gordilho de Bar- os maçons ofereceram as somas necessárias
da preocupação da Coroa com o movimento buda, simpatizante da maçonaria e camareiro para as despesas de viagem.” Duas semanas
dos maçons aqui instalados é um ofício envi- de dom Pedro I, para uma sondagem. A res- mais tarde, o Brasil se tornava independente.
ado por João Inácio da Cunha, intendente- posta do príncipe, por intermédio de Barbu- E, graças a arranjos políticos habilmente cos-
geral da polícia do Rio de Janeiro, ao minis- da, empolgou os maçons: “No caso de virem turados por Ledo, dom Pedro I assumiu,
tro do Reino. Datado de setembro de 1821, o as representações pedindo-me para não par- quase que ao mesmo tempo, os papéis de
documento alertava para uma suposta cons- tir, ficarei”. Depois do Dia do Fico, o Clube imperador e grão-mestre da maçonaria brasi-
piração: “(...) o movimento da independência da Resistência sentiu-se mais seguro. Tão leira. Há indícios de que o próprio lema pro-
é por demasia generalizado pela obra maldita seguro que mudou até de nome: virou o ferido no momento da proclamação —
dos maçons astuciosos, sob a chefia de Gon- Clube da Independência. “Independência ou Morte” — já vinha sendo
çalves Ledo”. Com a vitória do movimento pela perma- repetido pelos irmãos de fraternidade duran-
nência de dom Pedro no Brasil, a maçonaria te suas reuniões.
AUTORIDADE MAÇOM teve mais facilidade para vir à tona. O maçom Mas um desentendimento interno entre
O jornalista e político Joaquim Gonçalves Domingos Alves Branco Muniz Barreto, em José Bonifácio e Gonçalves Ledo, somado à
Ledo, acusado de conspirar contra a Coroa sessão da loja Comércio e Artes, propôs que dificuldade de dom Pedro em lidar com um
portuguesa, realmente era uma autoridade se desse ao príncipe o título de Defensor Per- grupo esclarecido e crítico com relação as
entre os maçons. Editor do Vérbero Constitu- pétuo do Brasil. Dom Pedro aceitou. E mais: suas decisões, acabaria provocando o fecha-
cional Fluminense, um jornal lançado em recebeu a honraria a 13 de maio, dia do ani- mento do Grande Oriente ainda em 1822.
setembro de 1821 para defender a indepen- versário de seu pai, dom João VI. Pouco Pouco importava: a maçonaria já tinha ajuda-
dência, ele foi um dos grandes articuladores tempo depois, surgiria o Grande Oriente do do a escrever a história da independência. Ao
do processo que transformaria a colônia em Brasil. Em 20 agosto de 1822, durante uma retornar à ativa como grupo organizado, em
um novo império. Atuou em parceria com o reunião presidida por Gonçalves Ledo, deci- 1831, estaria pronta para influenciar os
capitão José Joaquim da Rocha, que, além de diu-se que a maçonaria apoiava Pedro como rumos do país pelo restante do século 19.
participar das reuniões na cela do frei Fran- imperador.
cisco de Jesus Sampaio e dentro da loja maçô- “No dia 23, em outra sessão, ainda presi- Fonte: Aventura na História
nica Reunião, criou, em sua própria casa, na dida por Gonçalves Ledo, continuou-se a dis-
rua da Ajuda, o Clube da Resistência — onde cussão”, descreveria mais tarde outro irmão
era possível planejar os passos seguintes a de fraternidade, o barão do Rio Branco, em
08 Setembro 2021 O Malhete

TRONCO DE BENEFICÊNCIA
O Irmão Marco Antonio Peres é membro da ARGBLS Estrela do Rio Claro Or\ de Rio Claro - SP

DESTINO DO TRONCO
SIMBOLISMO DO TRONCO O tronco não faz parte do patrimônio das
Toda árvore é sustentada pela robustez de Lojas. Desde as antigas “guildas”, a tradição é
seu tronco, de cujo interior sobe a seiva ali- de socorro e assistência a irmãos necessitados
mentadora. O tronco é mais forte à medida e a viúvas e órfãos de irmãos. Isso deve ser
que se lhe acrescerem as voltas ou camadas, cumprido em primeiro lugar. Para esse fim,
Tronco: esta palavra deriva do francês
aumentando seu diâmetro – seu volume. deve haver sempre uma reserva.
“tronc”. Só é empregada nos rituais de fontes
A função do Tronco de Beneficência é cres- Não se concebem propostas que pretendem
francesas. Surgiu nos tempos do Papa Inocên-
cer pelos giros, que apenas são suspensos, em auxílios a instituições profanas. Supletiva-
cio III, que exerceu o pontificado de 1198 a
cada sessão, porém continuam nas reuniões mente, menor parte do Tronco pode ser desti-
1216. Tomou a iniciativa da 4ª Cruzada. Criou
seguintes. É o giro que é suspenso, e não o nada a entidades assistenciais maçônicas ou
o “tronco dos pobres”, atualmente ainda exis-
Tronco. paramaçônicas. Por outro lado, não se divide
tem, à entrada das igrejas católicas. Quem via-
um tronco para dois ou mais fins estranhos ao
jar pela França e pelos países que adotam o
Há expressões: correr, giro e trajeto. seu rigoroso destino. Troncos para constru-
francês, encontrará, nas igrejas, caixas de cole-
Correr: percorrer; viajar; andar as pressas ções de Templos não devem ser admitidos.
ta com o dístico “tronc de pauvres”, expressão
por.
que passou aos primeiros rituais maçônicos
Giro: volta; rotação, pequena excursão. RITUALISMO DO TRONCO
dos países latinos e católicos. Posteriormente
Trajeto: espaço que alguém ou alguma As dádivas para o Tronco são sigilosas.
surgiram as expressões “Tronco de Benefi-
coisa tem de percorrer, para ir de um lugar Cada irmão contribui com o que pode dar e, se
cência” e “Tronco de Solidariedade”. Ainda,
para outro. desprovido, não dará nada, mas, como todos,
no século passado, havia rituais que conserva-
O trajeto do Tronco de Beneficência segue deve introduzir a mão direita fechada no reci-
vam a expressão “Tronco dos Pobres” (ver o
regras determinadas! piente e retirá-la aberta, pois ninguém pode
antigo Manual de Andrés Cassad, no vocabu-
A doutrina original é a de existir igualdade servir-se das importâncias depositadas, cujo
lário).
entre todos os irmãos, sem distinção ou privi- total ou “medalha cunhada” é revelado e cre-
Ritos de outras fontes preferem “Caixa de
légios, mas certos enxertos existem no “traje- ditado a Hospitalaria. Um mau costume, feliz-
Caridade”, ou de Assistência, ou ainda, de
to”. De Aprendiz a Grão-Mestre, todos são mente abolido, foi o de apregoar dádivas de
Socorro, cuja existência deriva das antigas
irmãos iguais, na hora do Troco, porém cum- Lojas ou irmãos ausentes. O giro de Tronco
“guildas”, de origem teutônica e, mais antigas
prindo o ritualismo conforme mandam os ritu- deve ser praticado em silêncio ou ao som de
que as da igreja católica. Era costume das
ais oficiais, devemos observar que na Maço- música suave, cujos temas sejam de amor e de
“guildas” recolher contribuições dos que podi-
naria estes enxertos, funções maçônicas, amizade. (Os maçons Mozart e Franz Lizt
am prestá-las, para socorrer os congregados,
resultam da necessária divisão para se manter compuseram peças com esses temas – do pri-
entre os quais se encontravam todos os tipos
a disciplina e a ordem do Trabalho da Sublime meiro: “Das Lob der Freudschat” e “Die Mau-
de homens: senhores, trabalhadores e servos.
Instituição. rerfreude”, do segundo: “Sonho de Amor”).
A proteção se estendia às viúvas, órfãos invá-
lidos e servia até para defesa judicial dos agre-
miados. Essa tradição passou à Maçonaria. >>>>>
O Malhete Setembro 2021 09

FILOSOFIA E MORAL DO TRONCO dora do Tronco é como a seiva de uma planta. a estas plantas.
Nos ritos maçônicos teístas, deístas e joani- Os vegetais, sejam eles simples arbustos ou Problema da mesma monta é o da distribui-
tas, a lição é do Evangelho. “Quando, pois, frondosas árvores, necessitam da seiva. Cada ção, por todos os tecidos vegetais, das subs-
dás esmola, não toques a trombeta diante de ti, fruto que amadurece, cada folha que cai, cada tâncias fabricadas pelas folhas.
como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas raiz que desponta, constitui parte interdepen- Notamos que na natureza, o retorno é natu-
ruas, para serem louvados pelos homens. Em dente da vida. Vida que se renova a todo ins- ral e não forçado, enquanto que o ser humano,
verdade, vos digo: já receberam sua recom- tante, através da ação conjugada dos órgãos da demonstra pelos seus atos, estar em descom-
pensa. Quando deres esmola, que tua mão planta. passo com o universo.
esquerda não saiba o que fez a direita; assim a É fácil perceber a importância, para um TUDO O QUE SE TEM E NÃO SE DÁ,
tua esmola se fará em segredo, e teu Pai, que eucalipto de 33 metros de altura, de um siste- SE PERDE NO RENOVAR DA VIDA!
vê o escondido, recompensar-te-á.” (Mateus 6 ma de comunicação eficiente, capaz de levar a
– 2,4) todas as folhas a água e os sais minerais, Marco Antonio Peres – Rio Claro - SP
Meus caros irmãos, esta “seiva” alimenta- absorvidos dos solos pelas raízes e necessárias
10 Setembro 2021 O Malhete

O PENSAMENTO MÍTICO-FILOSÓFICO
DA ANTIGA GRÉCIA E A MAÇONARIA (PARTE 2)

a total intervenção dos deuses na vida huma- sofos daquele período, aqueles que também
na e na natureza. foram chamados de “filósofos da natureza”,
No entanto, acabou chegando aquele sendo que, alguns nomes citados foram:
momento em que as velhas explicações que Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímenes,
até então vigoraram sobre a própria interpre- Heráclito, Parmênides e outros mais.
Resumo da Parte 1 tação da natureza e para muitas questões que A partir do momento em que aqueles
Vimos anteriormente que na Grécia antiga, no fundo ainda eram inexplicáveis, já não homens sábios se dedicaram a observar e
num primeiro momento, surgiu o pensamen- podiam mais ser aceitas. As respostas credi- especular a respeito das contínuas manifes-
to mítico. Para caracterizar melhor o que foi tadas aos deuses, essa mitologia a qual pode- tações da natureza, estavam buscando um
o pensamento mítico, dois grandes nomes mos nos referir como uma religião de massa, outro tipo de respostas e descartando aquelas
daquele período bem representaram através já não estava mais dando conta, e para enten- que eram produzidas por intermédio dos
das suas obras o que seria essa linha de pen- der o mundo que os rodeava, assim como, mitos e dos deuses. Eles buscavam explica-
samento denominado mítico: Homero, autor para pensa-lo se fazia necessária uma nova ções racionais.
da “ilíada” e da “Odisseia”, Hesíodo autor de matriz de pensamento, a qual, começava a Nesse período pré-socrático (século VII
“Os trabalhos e os dias” e “Teogonia”. emergir: a filosofia. ao V a.C.), cada um dos filósofos está enqua-
As duas primeiras obras, creditadas a Os primeiros filósofos procuraram se drado dentro de uma das tantas escolas de
Homero, estão constituídas de lendas, narra- libertar dos deuses, da religião. Num período pensamento, Escola de Mileto, Pitagórica,
ções de viagens marítimas e referências às em que a Grécia começava a assimilar altera- Eleática, Pluralista, Atomista, Sofista e
culturas de outros povos com os quais o ções sociais importantes, esses aconteci- outras, em virtude da maneira própria com
mundo grego se relacionou. mentos a exemplo do advento da Polis, da que cada um enfrentou as questões e deu solu-
Quanto às duas últimas, as de Hesíodo, “O assembleia, da ágora e da praça pública ção, sendo que esse período que ficou marca-
Trabalho e os dias” trata dos seres humanos, influíam, sobretudo, na mentalidade das do pelos problemas de ordem cosmológica.
das suas necessidades e das suas limitações pessoas, criando assim o ambiente propício Chegando ao término desse período, o
como seres mortais. Foca ainda no trabalho para que a filosofia viesse a se desenvolver. qual corresponde ao dos filósofos pré-
agrícola e na relação deste com as estações Os primeiros filósofos preocuparam-se socráticos e que assim eram chamados por-
do ano. A outra, a “Teogonia”, é considerado em saber a origem das coisas, os processos que em sua maioria antecederam em vida a
o mais antigo tratado de mitologia grega que que originavam e davam fim às coisas, assim Sócrates, alguns já podem ter percebido a
chegou até nós, fala sobre a origem dos deu- como, se algo iria permanecer, por isso, uma ausência de um nome, o nome justamente
ses e, por isso, também é conhecida por “Ge- reflexão desse tipo, a qual denominaram de daquele filósofo que é um dos mais citados
nealogia dos Deuses”. phisis. (6) na literatura maçônica: Pitágoras. Em razão
As obras pertencentes a estes autores, Ainda, no capítulo anterior, também tive- disso, é que reservamos algumas linhas a
foram desenvolvidas na forma de poemas, mos a oportunidade de conhecer alguns dos mais para a sua biografia.
revelando uma maneira de pensar onde havia nomes que mais se destacaram dentre os filó- >>>>>>
O Malhete Setembro 2021 11
sobre Pitágoras, seja em função das suas idei-
as, das suas descobertas, da doutrina que fun-
dou, enfim. Por conta dos seus estudos
envolvendo os números, a Geometria, assim
como, pelos métodos utilizados para o ensi-
no dos discípulos do pitagorismo e da pró-
pria difusão da sua doutrina, são nítidas as
influências recebidas na Maçonaria. Sobre
essas influências veremos muito mais no
desenvolvimento deste trabalho.

COMENTÁRIOS:
Quando se fala a respeito da filosofia
clássica grega estamos falando de um perío-
do da história da filosofia considerado riquís- O Irmão Raimundo Rodrigues, nosso maior
simo que certamente produziu mais ideias do estudioso de filosofia, afirma em um dos seus
que qualquer outro, portanto, muito abrangen- livros que a história do pensamento grego está
te em seu conteúdo. Mesmo tentando dissecar organizada ao derredor de Sócrates. E á a par-
Pitágoras (570?-480? a.C.) e o Pitagoris- uma parte desse conhecimento vindo à luz, tir dos escritos do citado Irmão sobre Sócrates,
mo representado no pensamento e nas ideias de que extraio o seguinte trecho:
Comecemos usando da seguinte passagem tão grande número de filósofos, das escolas “Com ele, o pensamento se encaminha
de um capítulo referente aos pitagóricos reti- que fundaram, dos movimentos e de doutri- para a aprendizagem do conhecer mediante
rada do livro “O Tesouro Arcano” de autoria nas, enfim, seria um trabalho hercúleo tentar conceitos. Duas coisas são atribuídas a
do Irmão João Anatalino Rodrigues: uma compactação disso tudo, além de que, Sócrates: a indução e o conceito. Isto é impor-
“A doutrina desenvolvida por Pitágoras e demandaria todo o tempo do mundo. Escolher tante porque está provado que o entendimento
seus discípulos sempre foi rotulada de esotéri- entre tantos filósofos e buscar uma síntese de imediato ou mediato da coisa depende da cla-
ca. Em razão disso ela ficou relegada a um cada um, visando proporcionar ao leitor uma reza maior ou menor do conceito.” (Rodri-
plano secundário pelos filósofos e estudiosos ideia geral do período, contemplando um gues, págs. 133-134, 1999)
acadêmicos da Antiguidade e da Idade Média, pouco da essência ou das origens do pensa- Sócrates desenvolveu um método próprio,
só ganhando notoriedade e importância a par- mento filosófico grego, é o que tentamos o qual consistia em fragmentar uma grande
tir da Renascença, movimento intelectual.” mostrar até aqui, quando partimos das raízes pergunta em várias outras menores. E assim,
(Rodrigues, págs.100-101, 2013) mitológicas e fomos até o início da filosofia respondendo às pequenas, criar condições de
Em alguns dicionários de filosofia consul- propriamente dita, onde vimos se destacarem melhor entender e responder à pergunta maior.
tados, em virtude da elaboração deste traba- muito dos pré-socráticos (século VII a.C.), Em outras palavras: era procurar a verdade
lho, não encontrei os verbetes relativos ao filó- sendo que, esse período se estenderá até o sécu- através da discussão. Esse método é uma das
sofo Pitágoras e ao Pitagorismo. É possível lo VI d.C. bases do pensamento filosófico e se estendeu
que ainda esteja sendo um pouco relegado? O filósofo Sócrates, um dos maiores lumi- até os dias de hoje. Sócrates o batizou com o
No “Dicionário Filosófico”, da autoria de nares da filosofia da Grécia antiga empresta nome de maiêutica.
Regina Schöpke, aí sim, deparei-me com os seu nome para servir de uma espécie de divi- Pertence a Sócrates a conhecida frase “Só
referidos verbetes, os quais transcrevo na ínte- sor de águas, isso permitirá que, mediante sei que nada sei”.
gra a seguir: uma subdivisão se consolide a fórmula aquela Mas, Sócrates não deixou nada escrito,
“PITÁGORAS: filósofo e matemático que nos ajuda a estudar e gravar melhor onde sendo que, praticamente todos os seus ensina-
grego, nascido em Samos. Desenvolveu um inserir cada um deles. Estamos falando do que mentos vieram à luz posteriormente por obra
sistema, ao mesmo tempo místico, matemático ficou estabelecido como o pré- socrático, o dos seus discípulos: Platão, principalmente, e
e filosófico, baseado na ideia de que a 'essên- clássico e o pós-socrático. ainda, Xenofonte e Aristóteles.
cia de todas as coisas é o número'. Para ele e Ainda com relação ao que foi dito, a título
seus seguidores, os números e suas combina- Sobre a filosofia clássica e sobre o perío- de ilustração, extraio a seguinte passagem do
ções tinham poderes mágicos e estavam na do pós-socrático “Vade-Mécum Maçônico”:
base de todo o conhecimento. Esse sistema, No período esse que chamamos de clássico “Quando Platão dá a palavra a Sócrates,
transformado em uma seita religiosa que man- é que viveram alguns dos filósofos, dos quais a não podemos afirmar com toda a certeza que
tinha seus ensinamentos cobertos por um pro- maioria de nós, no mínimo, já ouviu falar algu- foi Sócrates quem realmente disse tais pala-
fundo mistério, influenciou profundamente a ma vez: Sócrates, Platão e Aristóteles. Certa- vras. Por isso não é fácil separar os ensina-
filosofia posterior, principalmente a de Pla- mente, os três mais conhecidos. Ainda, nesse mentos de Sócrates dos de Platão.” (Girardi,
tão. período floresceu uma escola filosófica pág. 579, 2008)) >>>>>>>
PITAGORISMO: nome dado ao conjunto formada de contemporâneos de Sócrates e Pla-
de doutrinas atribuídas ao filósofo Pitágoras tão, os quais foram chamados de sofistas.
de Samos, embora não seja possível distinguir Quanto aos três filósofos citados, nem é
suas ideias das de alguns dos seus discípulos preciso dizer que suas ideias influíram direta-
(especialmente Filolau e Arquitas de Tarento) mente na criação e na formação do pensamen-
pela falta de documentação. A filosofia dessa to ocidental. Na sequência, teremos uma mos-
escola se baseava totalmente na ideia do tra do pensamento desenvolvido por cada um
número como fator constitutivo de tudo o que deles, assim como, as ideias principais.
existe, dando uma grande ênfase ao estudo da
matemática e da geometria. Ao mesmo tempo, Sócrates (469-399 a.C.)
e paradoxalmente (ou nem tanto assim, já que Sócrates deu início à reflexão filosófica
os matemáticos são profundamente abstra- voltada para o estudo do homem, da sua moral
tos), sua moral tinha um caráter místico tão e das suas ações. Com o propósito de ir a fundo
pronunciado que levou o pitagorismo a cons- nas questões ligadas ao homem, dedicou-se à
tituir-se quase como uma religião.” (Shöpke, procura da verdade, sendo ela identificada
págs. 193-194, 2010) com o bem moral. Platão
Evidentemente há muito mais para ser dito
12 Setembro 2021 O Malhete
Platão (427-348 a.C.) 2. Princípio de não contradição; mundo romano, tanto que, os deuses romanos
Platão, que já conhecemos como o mais 3. Princípio de terceiro excluído. eram os mesmos dos gregos, com a única dife-
famoso discípulo e divulgador da obra de No primeiro caso, uma coisa é idêntica a si rença de que tiveram seus nomes mudados.
Sócrates, era também um apreciador do estudo mesma: aquilo que é, é; logo, A é A. Em 476 d.C. o Império Romano acabou por
do Conhecimento e afirmava que as ideias são No segundo caso, a verdade salta aos olhos: sucumbir, e com isso, a filosofia entrou em uma
o próprio objeto do conhecimento intelectual. uma coisa não pode ser e, ao mesmo tempo, fase de declínio. A partir da cristianização de
Quem não ouviu qualquer menção ainda não ser: logo, A não é não A. Roma, em 313 d.C., surgiram pensadores inde-
sobre o “mito da caverna”? O princípio de terceiro excluído é aquele em pendentes, assim como, surgiu o Escolasticis-
Platão se utilizou dessa alegoria para expor que se constata que, quando nos defrontamos mo para defender a filosofia cristã. Mas, aí já
sua teoria acerca do “mundo das ideias” ou com duas possibilidades contraditórias, não era a Idade Média.
“mundo da realidade” e o “mundo das aparên- pode haver lugar para uma terceira possibilida- Aqui termina esse que foi um resumo da his-
cias”. Para fazer uma separação entre um de”. (Rodrigues, pág. 137, 1999) tória da mitologia e da filosofia na Grécia
mundo e outro, e servindo-se em parte de estu- Já o silogismo (7), era uma forma de raciocí- antiga. Relacionados à maioria dos filósofos
dos anteriores de Parmênides, o seu objetivo nio também apresentada por Aristóteles que é que foram elencados, às suas ideias, às suas
com essa alegoria é deixar implícito que deve- composta de três orações, duas premissas e escolas filosóficas, é que conheceremos a partir
mos nos afastar do mundo das imagens, do uma conclusão, o que pode ser exemplificada de agora de que forma esse verdadeiro cabedal
mundo das aparências e ir ao encontro da luz, da seguinte maneira: de conhecimentos contribuíram e influíram na
que é o mundo da realidade, e portanto, onde Todos os homens são mortais (premissa 1) construção da própria doutrina e do simbolis-
reside o conhecimento verdadeiro. Aristóteles é homem. (premissa 2) mo maçônico.
De uma outra forma, é possível dizer que: a Logo, Aristóteles é mortal. (conclusão)
caverna simboliza uma prisão, de onde somen- Aristóteles destacou-se também pelo seu NOTAS:
te se podem perceber as sombras das coisas. interesse em várias áreas do conhecimento, (6) Phisis: termo criado pelo filósofo Herá-
Segundo o nosso Irmão Raimundo Rodri- sendo que seus textos abrangem estudos de clito de Éfeso (500-450 a.C.) e comum a todos
gues, para Platão o Bem não pode ser a causa biologia, lógica, física, poética, ética, metafísi- os primeiros filósofos da Grécia antiga. Cor-
do mal, porém, o mal existe. Importa mesmo ca, astronomia... responde ao “emergir” das coisas, assim como,
que todas as ideias se inclinem para essa ideia Ainda uma outra informação, a qual deixa tudo o que brota, nasce, cresce e perece. As coi-
que é superior às demais: a ideia do Bem. (Ro- transparecer a enorme importância de Aristóte- sas (os entes) emergem continuamente ao
drigues, pág. 136, 1999). les: a sua Lógica foi que possibilitou em muito, nosso redor. Todos nós nascemos, crescemos,
Quanto ao método do qual Platão se servia a Revolução Científica ocorrida tempos depo- nos modificamos e morremos, pois, somos
em seus estudos, o grande filósofo chamou-o is, em pleno século XVI. parte da physis. (netmund.org)
de dialética.
Os sofistas (7) Silogismo: Palavra de origem grega
Os sofistas pertenciam a uma escola de filo- (syllogismos) que significa conclusão ou infe-
sofia, na qual era ensinado, entre outras coisas, rência. Argumento dedutivo que vai do geral
que a verdade não era única e tampouco defini- ao particular, ou seja, a partir de uma totalidade
tiva, portanto, que ela podia ser moldada con- de atributos, extrai-se a verdade que é aplicada
forme o momento. Eles foram contemporâne- a todos os seus componentes. Forma de racio-
os de Sócrates e Platão, havendo, inclusive, cínio que tem como base a dedução.
embates diretos com Sócrates, já que este últi- (8) Epicurismo: Doutrina de Epicuro (341-
mo defendia a ideia de uma verdade imutável 271 a.C.) e dos Epicuristas. Os epicuristas não
que estava baseada na razão. estavam interessados por política e pela socie-
Os sofistas que mais se destacaram foram dade, e um dos conselhos de Epicuro dado aos
Protágoras (487-420 a.C.) que afirmou que o seus discípulos era: “Vive em reclusão”.
homem é a medida de todas as coisas, e Górgi- Tinham como alvo a pesquisa dos prazeres
as (485-380 a.C.) que atribuiu grande impor- naturais e necessários. O objetivo maior da dou-
tância à linguagem. Os sofistas se ocuparam trina era alcançar a ataraxia ou a paz da alma.
principalmente com a retórica, a eloquência e a (9) Estoicismo: Escola filosófica que teve
gramática. Foram críticos também com rela- entre os seus maiores representantes: Zenão de
ção à mitologia tradicional. E no tocante às Cício, Epicteto, Marco Aurélio, Sêneca... Os
Aristóteles (384-322 a.C.) questões filosóficas, acreditavam na impossi- estoicos viam na virtude o único bem da vida.
Aristóteles aperfeiçoou as descobertas e os bilidade de encontrar respostas que pudessem A moral defendida pelo estoicismo preparou o
métodos criados por Sócrates (maiêutica) e por ser consideradas definitivas no tocante aos advento e a vitória da ética cristã, e foi a último
Platão (dialética). Com base nesses dois, que grandes mistérios que povoam a natureza e o ramo da filosofia antiga de caráter religioso. O
não aceitava tal como se apresentavam ainda, universo. Foi a partir daí que se originou o Ceti- estoicismo também influiu bastante no direito
criou um terceiro método. Aristóteles aperfei- cismo, que é uma outra corrente filosófica. romano.
çoou as descobertas e os métodos criados por (Girardi, pág. 580, 2008) (10) Ceticismo: Doutrina segundo a qual o
Sócrates (maiêutica) e por Platão (dialética). espírito humano seria incapaz de atingir qual-
Com base nesses dois, que não aceitava tal Império Romano, Mitologia e Filosofia quer certeza a respeito da verdade. O filósofo
como se apresentavam ainda, criou um terceiro Grega grego Pirro (318-272 a.C.) foi o seu maior
método. As principais correntes filosóficas do representante.
Desenvolveu a lógica dedutiva, a qual mundo romano, eram todas provenientes da (11) Neoplatonismo: Mais importante cor-
requer o encadeamento das proposições e liga- tradição filosófica grega: o Epicurismo (8), o rente filosófica do final da Antiguidade
ções, o que significou partir de conceitos mais Estoicismo (9), o Ceticismo (10) e o Neoplato- inspirada em Platão. Seu filósofo mais impor-
gerais para os menos gerais. nismo. (11) tante foi Plotino. Plotino (205-270 d.C.) estu-
Recorro novamente ao sábio Irmão Rai- Todas surgiram no rastro de Aristóteles. dou filosofia em Alexandria, no Egito, e mais
mundo Rodrigues, que nos dá uma explicação Após a morte de Alexandre, o Grande (ex- tarde levou para Roma uma doutrina de salva-
sobre a lógica aristotélica, da maneira mais aluno de Aristóteles), o Império Romano assu- ção que exerceu extrema influência na teologia
mastigada possível: miu o poder e o controle no Mediterrâneo, cristã.
“Toda a força da lógica aristotélica se fun- sendo que os gregos passaram a ser considera- CONTINUA NO PRÓXIMO
damenta em três princípios que são evidentes dos cidadãos comuns, mas, a mitologia, a filo- NÚMERO...
por si mesmos: sofia e a cultura da Grécia por estar de há muito
1. Princípio de identidade; consolidadas, acabaram por influir bastante no
O Malhete Setembro 2021 13

O PODER DO AGORA
(*) Irmão Valdir Massucatti. Eminente Grão-Mestre adjunto da Grande Loja Maçônica do Estado do E. Santo

nhã será. Hoje é. Ontem experiência Temos que aprender a viver no agora,
adquirida. Amanhã lutas novas. Hoje, Não é fácil, mas devemos tentar sempre.
porém, é a nossa hora de fazer e de cons- Para exemplificar, vamos exemplificar.
truir”. Imagine você indo almoçar e a tarde tem
No quadro traduzimos a frase de Chico uma reunião de trabalho. Você no momento
Queridos Irmãos!!! Xavier, para melhor ilustrar e interpretar do almoço não se desliga da reunião, ou
seus efeitos. Nós vivemos no presente, seja, você não esta vivendo aquele momen-
Tenho refletido no mais íntimo do meu neste momento é que agimos e somos ener- to AGORA, sua mente lhe transporta para o
Ser sobre os momentos difíceis que estamos gia, e através das ações e das nossas esco- futuro. Resultado, você vai almoçar, mas,
atravessando. lhas e que vamos caminhando para o futuro. não vai viver intensamente aquele momen-
to, sequer talvez saiba o tempero da comida.
Busquei aproveitar o momento e tentar Futuro? Quando ele chega? ... Nunca!!!
compreender um pouco mais sobre nossas O Futuro é HOJE. Não vivemos no futuro – Nós precisamos trabalhar nossa mente
vidas. O que é a Vida? Como ela é? Nosso Futuro sempre será o PRESENTE. para aproveitar intensamente o momento
Quando o amanha chegar ele será HOJE. em que estamos vivendo, para melhor apro-
Já publicamos neste espaço um artigo Não vivemos no amanhã, sempre vivere- veitar e dar o melhor de nós naquele
específico sobre os altos e baixos da Vida mos no hoje, mais exatamente, no Agora. momento, desligar do passado e do futuro e
(como ondas no mar), o que nos mostra a viver o PRESENTE.
instabilidade dela, lição tantas vezes ensi-
nada e sempre desprezada. O AGORA é a coisa mais importante que
existe, porque é a única coisa que existe.
Nesta busca, encontrei um livro fantásti- Então: Sinta Agora. Faça Agora. Fale Ago-
co que nos ensina muito sobre a Vida. “O ra. Viva Agora.
Poder do Agora – Um Guia para a Ilumi-
nação Espiritual”, de Eckhart Tolle. Nunca se esqueça porque do nome
PRESENTE.
O autor nos mostra a importância de
viver o único momento que efetivamente Saudações Fraternais!!!
existe, o Agora. Procura nos demonstrar
como nos desligar do passado e parar de Valdir Massucatti.
pensar e querer viver no futuro. Nosso tem- Eminente Grão-Mestre adjunto da
po, nosso momento, é Agora. Grande Loja Maçônica do Estado do E.
Santo.
Tem uma frase de Chico Xavier que diz
muito sobre isso: “Ontem passado. Ama-
nhã futuro. Hoje agora. Ontem foi. Ama-
14 Setembro 2021 O Malhete

ADORADORES DO DEMÔNIO?
Como os maçons passaram a ser acusados de adorar Bafomé
O caráter secreto da Maçonaria, com práticas mantidas em sigilo e reservadas apenas para os escolhidos pela
Ordem, e sua independência política e religiosa levou as forças da ordem vigente a combatê-la. Por meio de per-
seguições e de propaganda, as monarquias e o clero procuraram neutralizar a força maçônica em sua busca
para transformar o mundo. Dessa forma, os maçons acabaram tendo a reputação de subversivos e, até mesmo,
de perigosos.
dos sacrifícios rituais que realizavam. A Igreja só vez mais de 600 dos três mil templários no
Católica já havia dedicado várias obras ao país
estudo do satanismo, catalogando diversas Esses prisioneiros foram interrogados sob
cerimônias satânicas de invocação, todas tortura e produziram confissões que
manipulando energias vitais poderosas, como corroboraram as superstições que pairam
s Igrejas, particularmente, procuraram sangue e sexo. Baseando-se nesses rituais e na sobre a ordem maçônica até hoje. As

A instilar em seus fiéis um verdadeiro origem templária da Maçonaria, Roma acusou


temor pela ordem maçônica. Já nos os maçons de serem adoradores de um ídolo
primeiros momentos da moderna Maçonaria, peculiar: Bafomé.
no século 18, as autoridades religiosas de
informações arrancadas foram resultado do
uso de força, da dor e da imaginação dos
inquisitores.
Os templários foram acusados de forçar
todas as vertentes cristãs se esforçaram para Origem do mito seus iniciados a cuspir na cruz e a se tornarem
detê-la através de uma intensa campanha de Depois de pouco mais de dois séculos de homossexuais. Isso, porém, não corresponde
desinformação. existência, os precursores dos maçons, os à realidade. Uma antiga cópia da Regra
Afirmaram que a nova ordem mundial dos Cavaleiros Templários, adquiriram grandes Templária relata um caso de sodomia entre
maçons seria o reino do demônio. Em pouco conhecimentos e riquezas materiais durante o membros num castelo da Terra Santa. A
tempo, eles foram considerados “hereges” e, período em que defenderam a Terra Santa. punição foi dura: o grupo inteiro foi
mais veementemente, “satanistas”. Seus ritos Uma das atividades adotadas e desenvolvidas dispensado, e os acusa- dos, executados.
secretos foram estereotipados, exagerados, pelos templários foi a bancária. Aprendendo Trinta e seis dos templários de Paris
fantasiados. com os judeus e muçulmanos, a Ordem do morreram torturados poucos dias depois da
A acusação de satanismo envolve a idéia de Templo de Salomão se tornou o primeiro sua prisão, e os que sobreviveram não
um pacto diabólico ou a invocação de banco europeu. Financiando as guerras dos resistiram às torturas e confessaram a
espíritos malignos – daí o termo. De acordo reis do continente, logo os templários tinham a miscelânea de fantasias diabólicas e sexuais
com a Enciclopédia Católica, num senso monarquia endividada em suas mãos. que os inquisitores criaram. O último grão-
restrito, o satanismo é compreendido como Acabaram se tornando mais poderosos do que mestre templário, Jacques de Molay, também
“uma interferência no curso natural da o Papa. Dessa forma, atraíram sobre si a fúria confessou heresias e abominações sob tortura.
natureza física através de recitação de de Roma e de seus devedores. Confirmou que os templários adoravam o
fórmulas, gestos, poções etc., cujo O rei da França estava extremamente diabo na forma de um gato, na presença de
c o n h e c i m e n t o é o b t i d o a t r a v é s d a endividado e se aliou ao Papa Clemente V jovens virgens e de demônios femininos.
comunicação com forças latentes do universo para derrubar os templários. O golpe foi
(Deus, o Diabo, a Alma do Mundo)” extremo. Na sexta-feira 13 de outubro de >>>>>
A força dos maçons viria, segundo o clero, 1307, o rei Felipe, o Belo, aprisionou de uma
O Malhete Setembro 2021 15

Cabeça sagrada
Parte da condenação dos templários foi
devida ao suposto culto a crânio santo dentro
de um relicário de metal precioso – uma cren-
ça mágica, comum em vários lugares. Em seus
interrogatórios, os cavaleiros templários con-
fessaram a adoração à cabeça mágica, conhe-
cida como Bafomé, cujo nome talvez combine
o do deus pagão Baal e do profeta Maomé.
Quando interrogado em 1307, o templário
Hugues de Payraud declarou que tinha senti-
do, adorado e beijado uma cabeça em Montpe-
lier, e que ela tinha dois pés na frente do pesco-
ço e dois atrás. Alguns templários afirmaram
sob tortura que o ídolo parecia um diabo, e que
os iniciados gritavam “Iah Alá”, quando o bei-
javam, palavras que sugeriam uma crença em
Iavé, ou Jeová, e no Islã. Todas as testemunhas
confessaram honrar a cabeça como o Salvador
com poder regenerativo de fazer as árvores
verdes e as plantas crescerem.
A Figura do “Homem Verde”, um ser mito-
lógico com esse poder regenerativo, remete à
cabeça sagrada. Ela está entre as primeiras
imagens maçônicas gravadas em pedra pelas
guildas de construtores escocesas. A associa-
ção entre templários e maçons levou, então,
séculos depois, também à crença de que a
moderna Maçonaria adorava o mesmo ídolo.
Assim, a Igreja acusou os maçons de cultua-
rem o ídolo Bafomé.
A associação dos maçons ao culto à cabeça
também se deve ao seu simbolismo. Em mui-
tos romances medievais ligados ao Santo Gra-
corpo mundano adquiriam a capacidade de Trata-se de um dos santos importantes, cul-
al, a cabeça decepada aparece. Acredita-se
enxergar outra realidade, uma dimensão míti- tuado pela Ordem. No entanto, isso não impli-
que ela poderia falar, como o deus celta Bran,
ca. ca que revivam nesse interesse o culto a Bafo-
ou era venerada sobre um prato, como a cabe-
Os celtas também acreditavam que se cra- mé. A verdade sobre o suposto culto maçônico
ça de São João Batista – tida algumas vezes
vassem a cabeça decepada em um mastro ou à cabeça tem a ver, de fato, com a iluminação
como outra manifestação física do Santo Gra-
na cerca de sua casa, ela começaria a gritar que a Maçonaria busca promover em seus
al. A cabeça falante era uma coisa necessária
quando um inimigo estivesse se aproximando. membros. A cabeça é a sede do conhecimento
para o ofício dos alquimistas, cuja mistura de
Se o crânio fosse de um inimigo considerado que ilumina o homem e o transforma em um
astrologia e conhecimento hermético passou
particularmente importante, era colocado ser humano melhor. Essa “cabeça” de cada
para a história como a ciência da Idade Média.
num santuário e venerado. Para os antigos cel- indivíduo é que precisa ser cultuada e treinada
A origem do mito remonta aos celtas, cuja
tas, a cabeça decepada era uma fonte de contí- por meio de iniciações que levam à verdade
cultura permeia os ensinamentos dos antigos
nuo poder espiritual. Como a cabeça era a sede contida no interior de todos nós.
cavaleiros medievais, preservados pela Maço-
da alma, possuir a cabeça de um inimigo, hon- Uma verdade adormecida que só pode ser
naria. O pesquisador Paul Jacobsthal afirma
radamente ganho em batalha, era um grande alcançada no mais profundo silêncio. Certa-
que “entre os celtas, a cabeça humana é vene-
troféu para qualquer guerreiro. mente, este conhecimento não está em
rada acima de tudo, pois para eles a cabeça é a
A história do suposto culto maçônico a nenhum ídolo externo, mas na própria pessoa.
alma, o centro das emoções e a própria vida;
Bafomé é um exemplo de como os rumores se Conforme reza um velho ditado inglês, “Deus
um símbolo do divino e dos poderes sobrena-
transformam em lendas e estas, em supersti- está na minha cabeça, e na minha compreen-
turais.” O culto da cabeça está documentado
ção. Conforme a sua tradição gnóstica, os são”.
em mitos como o de Brân. Os heróis dessas
maçons certamente têm São João Batista em
histórias têm suas cabeças decepadas. Mas,
alta conta. Fonte: Conhecer Fantástico
longe de morrer, as cabeças separadas do
16 Setembro 2021 O Malhete

Texto Érika Alfaro - Fonte: História em Foco

ALÉM DOS MUROS DO VATICANO


A instituição de maior poder também é a parte mais misteriosa da Igreja Católica
que se dedicam integralmente aos afazeres
religiosos, sendo sustentados pela instituição
e vivendo em um regime fechado e de castida-
de. Eles são, por exemplo, padres e monges –
homens e mulheres são separados. Os supra-
numerários levam a vida normalmente: são

U
ma instituição, duas visões. De um
lado, os ideais de “obra de Deus” e vida livres, casados e têm suas profissões.
santa. Do outro, autoflagelação, rituais Acusada de ultraconservadora e de guardar
obscuros e a busca por poder e influência. Esse segredos, os críticos da organização também
é o contexto que cerca o Opus Dei, instituição afirmam que os “recrutados” são pessoas que
católica criada pelo sacerdote espanhol José possuem posições importantes. Com isso, o
Maria Escrivá Balaguer, em 1928, que até os Opus Dei buscaria manter seu poder, sua
dias atuais é alvo de polêmicas e críticas. influência e defender os interesses do Catoli-
Segundo a história da Ordem, o religioso cismo mediante o Estado – diz-se que os mem-
não planejou sua fundação, mas foi o que acon- bros têm papel importante em discussões de
teceu quando fez um retiro em Madri, por ins- determinados temas, como a legalização do
piração de uma mensagem divina. O livro 12 aborto e a questão das células tronco, por
perguntas sobre o Opus Dei, de autoria do pró- exemplo. Apesar dessas alegações conferirem
prio fundador, afirma que a instituição se pro- um ar de mistério à instituição, a maior polê-
põe a promover, entre pessoas de todas as clas- mica que a envolve é a prática chamada de
ses da sociedade, o desejo da plenitude de vida mortificação da carne. O livro do escritor
cristã no meio do mundo. Essa é a ideia princi- americano Dan Brown, O Código da Vinci, e
pal desse braço da Igreja Católica: oferecer sua adaptação cinematográfica trouxeram
aos seguidores, que não precisam ser clérigos, com ainda mais força essa discussão.
uma vida próxima a Deus. Entretanto, muita Rituais que envolvem golpear as próprias
José Maria Escrivá Balaguer,
coisa está por trás dessa missão sagrada. pernas, costas e nádegas com chi- cotes cheios fundador do Opus Dei
de nós, chamados de “disciplina”, e o uso do
Para conquistar o mundo cilício – uma corrente de metal com pontas
Os integrantes da Ordem são divididos em que é amarrada em volta da coxa – são práticas >>>>>
duas categorias. Os numerários são aqueles regulares entre os membros.
O Malhete Setembro 2021 17

Motivado pela repercussão da obra de


Dan Brown, Michael Barrett, sacerdote
do Opus Dei, teve uma entrevista divul-
gada no site oficial da Ordem. Na oca-
sião, Barrett afirmou que a penitência e a
mortificação constituem uma parte
pequena, mas essencial, da vida cristã:
“A mortificação ajuda-nos a vencer a
nossa tendência natural à comodidade
pessoal, que tantas vezes nos impede de
corresponder à chamada cristã de amar a
Deus e servir o próximo por amor de
Deus”. Sobre o cilício, ressaltou que o
instrumento causa incômodo, porque, de
acordo com ele, do contrário, não teria
razão de ser, mas que de modo nenhum
atrapalha as atividades normais de uma
pessoa, e muito menos causa sangramen-
tos.

Uma importância sem precedentes


O Opus Dei foi reconhecido como pre-
lazia pessoal (uma estrutura institucional
da Santa Sé) pelo papa João Paulo II –
diz-se que o mesmo chegou a essa função
por estar relacionado à Ordem. A posição
de prelado confere funções particulares.
Dentro da Igreja Católica, o grupo só res-
ponde ao próprio papa.
Para ilustrar a dimensão e a influência
que o Opus Dei adquiriu, basta observar o
processo de canonização de Escrivá, um
dos mais rápidos da história. Além disso,
a cerimônia da sua beatificação, ocorrida
em 2002, na Praça de São Pedro, contou
com 250 mil pessoas.

Um relato feminino
Rosidalva Julião tinha 20 anos quando estava em um ponto apenas mulheres ocupam) e suas tarefas eram limpar,
de ônibus e tinha acabado de chegar a São Paulo, vinda de lavar e produzir os instrumentos de mortificação da carne.
Salvador. Nesse momento, uma mulher se aproximou e Sua carteira de trabalho foi assinada, mas o salário “ia
explicou a ela que trabalhava em um lugar maravilhoso, todo para Deus” — mesmo ela tendo que assinar recibos.
onde poderia fazer o que desejava – terminar os estudos e Rosidalva não podia casar, muito menos namorar e fazer
arrumar um emprego. Foi assim que ela entrou para o sexo, ela raramente saia do centro e só podia ler o que per-
Opus Dei e acabou se tornando personagem dos livros O mitissem. Semanal- mente, acontecia uma espécie de con-
Opus Dei e as Mulheres (Editora Panda Books) e Sob o fissão, na qual devia revelar à “diretoria espiritual” tudo o
Jugo do Opus Dei (Editora Betty Silberstein). que havia feito, sentido ou pensado.
Rosidalva era uma numerária auxiliar (único cargo que
18 Setembro 2021 O Malhete
O Malhete Setembro 2021 19

OS USOS E COSTUMES NA MAÇONARIA MODERNA


comunidade maçônica. Trata-se assim, de uma nicos, que consistem nas funções de:
manifestação cultural e ritualística do povo maçô- (a) Servirem como fontes e parâmetros de
nico que, por se repetirem sem grandes alterações interpretação.
ao passar do tempo, acabaram por se constituírem (b) Servirem como norma supletiva na ausên-
regras de observância obrigatória. cia de lei e disposição ritualística expressa.
Deve-se ainda considerar que, os usos e costu- (c) Integrarem o ordenamento normativo maçô-

N a “evolução” da Maçonaria pode-se con- mes, na antiguidade, desfrutava de ampla proje-


cluir que os usos e costumes transforma- ção dada a escassa produção legislativa (escrito).
ram-se de fonte natural e primária no pas- De fato, tanto direito maçônico primitivo como os
sado (Maçonaria operativa), à fonte secundária na Rituais têm natureza eminentemente consuetudi-
contemporaneidade (Maçonaria especulativa), nária e por muito tempo, tanto os Rituais como o
nico (Ritual e Normas).
Assim, a medida em que função administrativa
e jurisdicional das corporações foram absorvidas
pela Potências Maçônicas, por meio das codifica-
ções dos Rituais e Normas, os usos e costumes
subordinados à lei/ao Ritual (conjunto de regras Direito maçônico consistiam em uma combina- foram quase que totalmente, incluídos nestes tex-
maçônicas). Assim, faz-se necessária uma refle- ção de usos e costumes sedimentados. tos, quer expressamente previstos ou de forma
xão sobre a aplicação dos usos e costumes na “Ma- Em regra, pode-se elencar como condições subjetiva, inexistindo assim, em tese, usos e cos-
çonaria Moderna”, bem como qual a sua relevân- indispensáveis para a verificação dos usos e cos- tumes não previstos no conjunto normativo posi-
cia enquanto suplentes de normas ritualísticas e tumes os seguintes elementos: tivado da Maçonaria.
legais ainda não aplicáveis/prontas. (a) a constância da repetição dos mesmos Não obstante os singelos apontamentos acima
Na Idade Média, as corporações de ofício atos/comportamentos e etc. elencados, convém destacar que na maçonaria, as
desempenharam a função de consolidação dos (b) a convicção de que a observância dos usos e Normas (Ritualísticas e jurídicas) e os usos e cos-
usos e costumes, dos quais os comerciantes, costumes (prática costumeira) corresponde a uma tumes constituem fontes de juridicidade autôno-
pedreiros, artesões e outros participantes podiam necessidade ritualística e ou normativa. mas, todavia, de igual valor e dignidade, ou seja,
se valer amplamente para todos os fins. Assim, a (c) a recepção e reconhecimento por toda a na Maçonaria as normas escritas e as normas nãos
influência dos usos e costumes pode-se concluir maçonaria dos usos e costumes (não existe usos e escritas (usos e costumes) possuem idêntico
maior em sua formulação e a adoção quando das costumes de uma Loja ou Potência). valor, variando tão somente o momento de sua
corporações de ofício, e menor a sua formulação e (d) o decurso do tempo (não há referência ao aplicação, a matéria, o objeto ou a aplicação de
adoção após a escrita. decurso mínimo de tempo necessário, todavia, ambas, por meio da técnica de interpretação con-
Esta mudança, de fonte natural e primária no não há se admite como usos e costumes as práticas forme.
passado, à fonte secundária na atualidade e subor- locais e modernas). A superação dos eventuais antagonismos exis-
dinados à Lei/Rito (Normas), deve-se em grande Os usos e costumes como matéria prima dos tentes entre Normas, Usos e Costume e Ritos deve
parte, à tradição positivista da Maçonaria Brasile- rituais e normas jurídicas maçônicas podem se resultar da utilização de critérios objetivos que
ira, que optou por restringir, moderadamente, os apresentar de diversas formas em face aos rituais e permitam a Maçonaria (a Potência; não a Loja ou
espaços de aplicação das regras consuetudinárias às normas maçônicas: Irmãos) avaliar e sobrepesar, em função de deter-
(usos e costumes), todavia, tal condição (positi- (a) Como normas consuetudinárias podem minado contexto e sob uma perspectiva axiológi-
vista=escrito) fornece um ambiente seguro e pre- coincidir totalmente com o conteúdo da norma ca concreta, qual deva ser o direito (norma, usos e
visível relacionados a segurança ritualística e a legal e Ritual (secundum legem). costumes ou Rito) a preponderar no caso em con-
segurança jurídica maçônica. (b) Podem corroborar com o sentido da norma creto, isso considerando a situação de conflito
Os usos e costumes na maçonaria são legal e ou do Ritual e ampliar o alcance de ambas existente e desde que, no entanto, a utilização do
regras/comportamentos sociais e ritualísticos normas (praeter legem). método de ponderação não acarrete o esvazia-
maçônicos que tiveram suas gênesis em razão da (c) Podem se opor ao disposto na norma legal e mento do conteúdo essencial da Maçonaria e da
o c o r r ê n c i a r e i t e r a d a d e c e r t o s no Ritual (contra legem). Potência.
atos/fatos/comportamentos que, com o decurso Mostra-se ainda importante ressaltar as fun- Ir.´. Marcelo Artilheiro
do tempo, se tornam generalizados e aceitos pela ções desempenhadas pelo usos e costumes maçô- Joinville (SC), 07 de julho de 2021
20 Setembro 2021 O Malhete

O QUE É O TOLERÂNCIALISMO Tendo a celebração da amizade entre as pes- busca da amizade entre as pessoas e do conhe-
soas, o aprendizado através da experimenta- cimento para o seu crescimento.
ção, a fraternidade e o combate ao etnocentris- Os ensinamentos do tolerâncialismo visam
mo religioso, como os principais ensinamen- espalhar a Tolerância e a caridade, por todos
tos do Tolerâncialismo. os credos religiosos, mas independentemente
de você ter ou não uma religião, esses ensina-
Por Sérgio F. Barbosa
Várias Portas: mentos podem ser incorporados desde o reli-
Movimento filosófico, que propõe a união de
Cada religião, sistema filosófico, e diferen- gioso até o ateu, não havendo a necessidade de
religiosos e irreligiosos, à partir da amizade
tes escolas de aprendizado, são portas, que lhe nenhuma interferência religiosa.
entre as pessoas, tendo a religião e a irreligião
conduzirá ao caminho da busca do conheci- O tolerâncialismo visa o entendimento
como algo secundário.
mento, cada porta lhe trará uma resposta ou entre os povos, o respeito e liberdade de pen-
Primeiramente deve ser celebrada a amiza-
mesmo uma nova dúvida, dúvida essa que lhe samento, um sistema de não agressão física ou
de entre as pessoas, e depois o convite para
conduzirá a novas portas, novos caminhos, verbal, uma grande escola de filosofia, aonde
que ambos se visitem em suas religiões ou no
novas procuras e quando você achar que sabe todas as experiência devem ser contadas,
local, aonde possam estreitar os laços de fra-
tudo, haverá uma nova porta que lhe mostrará aonde mestres e alunos frequentemente inver-
ternidade, tolerância, amizade e trocas de
que você não sabe nada. tem seus papéis, ora o mestre ensina ora o mes-
experiências e conhecimentos.
tre aprende com o aluno.
Tendo a ampla experimentação, como fonte
Missão. Todos nós temos algo a ensinar, como
perene de aprendizado, sendo está uma das
A reforma do pensamento sobre o diálogo temos muito a aprender, no Tolerâncialismo
lições principais do Tolerâncialismo, que
inter-religioso, aonde as palavras e as argu- todos ao mesmo tempo são mestres e alunos.
busca a evolução ao grau de ELTIR,
mentações, se transformem em troca de visi- Só é possível a criação de um mundo
ESPÍRITO LIVRE TOLERANTE INTER-
tas entre religiosos de diferentes credos. E que melhor, aplicando a tolerância e a caridade
RELIGIOSO, sendo que após essa conquista,
todas as religiões trabalhem juntas para o bem entre os povos, acredito ser esse objetivo de
o tolerante passa a pensar por si próprio, se
de seus irmãos terrenos, tendo a tolerância e a todas as principais religiões, sinto que se adi-
tornando seu próprio líder espiritual, estando
caridade, como as principais colunas, que sus- cionarmos esses dois ingredientes, tornaría-
livre dos sistemas, mandos e desmandos, não
tentam a perfeita harmonia, entre todas as mos o processo mais rápido.
sendo obrigado a mais a nada, fica e vai aonde
raças e credos religiosos. Tolerância religiosa, devemos ter a cons-
quiser, sem sentimentos de culpa, quebrando
Nenhum de nós é obrigado a nada, só deve- ciência que ninguém deve tentar mudar a reli-
assim as correntes do Etnocentrismo Religio-
mos ficar aonde nos sentirmos bem. A entrada gião de seu irmão, a fé de cada um deve ser
so.
em determinado local, jamais deverá ser impe- respeitada, achar que sua religião é superior e
Continua amigo do pastor, rabino, sheik,
dimento para adentrar em outro, o sagrado tentar a conversão a força, é desrespeitoso e
babalorixá, de todos os líderes religiosos, fica
direito de ir e vir, seja da igreja para o terreiro, deve ser evitado, seja tolerante, convide a pes-
porque gosta, não por ser obrigado, sempre se
do terreiro para a igreja, da mesquita para a soa para vir conhecer sua religião, mas não
guiará pelos caminhos da tolerância e da cari-
sinagoga ou da sinagoga para a mesquita, o insista.
dade.
tolerante trânsita em todos os ambientes, em >>>>>
O Malhete Setembro 2021 21
Depois que convidou o seu irmão para vir
conhecer a sua religião, esteja de mente aber-
ta, e vá conhecer a religião dele também, quem
convida deve estar preparado para ser convi-
dado.
O Tolerâncialismo nada mais é que o início
de uma revolução nos pensamentos dos prati-
cantes de todas as religiões do mundo, que
visa o amplo diálogo inter-religioso.
O Toleran é o livro do diálogo e um ponto
de encontro, entre todos os religiosos, prati-
cantes, não praticantes, pessoas em geral, que
queiram expandir suas mentes, sem preconce-
ito ou etnocentrismo religioso.
Este livro visa o encontro de pessoas, que
estariam separadas pelo véu intransponivel de
suas religiões, propõe que os religiosos se visi-
tem em seus templos, que os judeus vão a mes-
quita, que os mulçumanos vão a sinagoga, que
o cristão visite centros e terreiros e que estes
também visitem o cristão, formando assim
uma inter culturalidade religiosa, aonde todos
se visitem.
A única religião verdadeira é a união de
todas elas, a verdade está micro fragmentada,
e seus pedaços esparços em vários templos
pelo planeta.
Alguns livros de algumas religiões afirmam
ser a verdade absoluta, sendo que essa pseudo gião, deve se absorver o que nos faz bem, e par de todas as religiões, escolas filosóficas e
verdade nada mais é que um ponto de vista de deixar aquilo que nos faz mal, quem dirá se iniciaticas das quais quiser, ficando mais ou
cada religião. você está certo ou errado, sempre será o seu menos tempo, quando e como quiser.
Poderia aqui afirmar que a verdade absoluta coração. O Tolerâncialismo combate o fanatismo
está no livro de Toleran, pois ele prega que a Sempre mantenha em sua vida aquilo que te religioso, e qualquer tentativa de controle
verdade se encontra partida em milhares de alegra, você pode fazer o que quiser, desde aonde pessoas sejam obrigadas, a se submeter
pedaços, nos livros, rituais, sociedades filosó- que não prejudique o seu próximo. aos desmandos e proibições, de pessoas que
ficas e religiões de todo o mundo, e a união de O Tolerâncialismo é uma fraternidade aber- visam apenas seus interesses, e não o bem
tudo formaria a verdade como um todo. ta, de cunho filosófico religioso, baseada na estar da coletividade.
Mas seria mera presunção, pois a verdade é crença de cada um, respeitando todos os pon- O verdadeiro tolerante, não está preso a dog-
algo sagrado, e a sociedade diviniza não a ver- tos de vista, incentiva que seus praticantes, mas, a iluminação da experimentação o liber-
dade mas sim seus líderes religiosos, e esses conheçam o máximo de credos religiosos que tará, não importa as religiões que siga, ele sabe-
últimos, tem o poder de influenciar as pessoas, puderem, para que através da experimentação, rá receber a verdadeira luz, independente de
tornando o profano em sagrado, e o sagrado desenvolvam experiências agradáveis, que quem seja o portador.
em profano conforme o uso de suas necessida- absorvam aquilo que agradar ao seu coração, e O Toleran prega o livre trânsito entre os
des. deixar nos templos que visitaram aquilo que membros de todas as religiões em seus tem-
Uma vez recebida a luz do verdadeiro não gostaram. plos, que se visitem mutuamente, e que ambos
entendimento, torna-se o religioso, líder espi- Dessa forma formarão a sua religião pesso- respeitem os usos e costumes de cada local.
ritual de si mesmo, essa luz iluminará suas al, com aprendizados das mais diversas das O objetivo maior não é apenas a miscigena-
decisões daqui por diante, se tornando um ser quais visitaram, e quando se sentirem plenos, ção religiosa, mas sim a experiência humana
espiritual, que domina suas paixões, e exerce felizes e satisfeitos, ali terá nascido a verdade- de envolvimento entre seus adeptos, aonde
amplo domínio sobre sua própria materialida- ira luz da tolerância. ambos partilhem suas culturas, se conheçam e
de. Sendo o Tolerâncialismo a disruptura do estreitem os laços de fraternidade, para que
Toda a religião estará certa para alguns, e pensamento tradicional religioso, é pleiteada haja paz entre todas as religiões primeiramen-
errada para outros, a ideia do Toleran, é que a a quebra da tradição, aonde a pessoa é forçada te deve haver paz entre as pessoas.
pessoa adquira o conhecimento em outras fon- a praticar apenas um tipo de fé, líderes religio-
tes, para que possa decidir, sob vários pontos sos não são proprietários dos membros de seu (*) Sérgio F. Barbosa
de vista, se está feliz em seu caminho, ou credo. Fundador do Tolerâncialismo.
mesmo se quer trilhar outros ou ambos. O Tolerante é livre de amarras religiosas, é
O Tolerâncialismo é um pouco de cada reli- um cidadão liberto, que pode ir e vir e partici-
22 Setembro 2021 O Malhete

UM MAÇOM NO INFERNO – UMA FÁBULA


Fonte: Grupo de Diario Masónico

para ir ao Inferno. Quando o Sábio Mestre Maçom ter-


Disse-lhe: “No inferno, você sabe minou de contar esta história olhou cari-
como é, ninguém exige carteirinha com nhosamente e disse:
CIM, qualquer um é convidado a Viva sempre com tanto amor no cora-
entrar”. ção que se, por engano, você for parar
Certa vez, perguntaram para um sábio Assim o Irmão foi resignado, entrou e no inferno, o próprio demônio lhe trará
Mestre Maçom: ficou lá. de volta ao Paraíso.
Por que existem Irmãos que saem Alguns dias depois Lúcifer chegou Problemas fazem parte da nossa vida,
facilmente dos problemas mais compli- furioso às portas do Paraíso, para tomar porém não deixe que eles o transfor-
cados, enquanto outros sofrem por pro- satisfações. mem em uma pessoa amargurada. As
blemas muito pequenos, morrem afo- Isto não é Justo nem Perfeito! “Nunca crises vão estar sempre se sucedendo,
gados num copo de água? imaginei que fossem capazes de uma testando nossa natureza e às vezes você
O sábio Mestre Maçom sorriu e con- coisa como essa.” não terá escolha.
tou esta estória…. Lúcifer, transtornado, desabafou: Enfrente de coração aberto, com
Era um Irmão que viveu toda sua “Vocês mandaram aquele Maçom amor e doçura, empregue seu conheci-
vida, fiel às palavras do GADU, quando para o inferno, ele está fazendo a maior mento, seu estudo, se você não tiver
passou para o Oriente Eterno, todos os bagunça lá. Ele chegou escutando as estudo nem conhecimento, reveja seus
Irmãos disseram que ele iria para o céu. pessoas, meditando e refletindo numa conceitos e se for necessário retorne ao
Um Irmão tão bondoso, caridoso, tal pedra bruta, olha nos olhos delas, processo onde você teve que morrer
estudioso, cumpridor dos seus deveres fala sobre vigilância e perseverança, para renascer e comece a construir o seu
só poderia ir para o céu e ficar ao lado cavar masmorras aos vícios, agora esta templo interior novamente, nunca é
do GADU. todo mundo dialogando, se abraçando, tarde demais para recomeçar.
Mas houve um erro em sua chegada dizendo coisas horríveis como fraterni- _____________________________
ao céu. dade, igualdade, liberdade, o Inferno ____
O Anjo Irmão da secretaria que o rece- está parecendo o paraíso”. Fonte: Grupo de Diario Masó-
beu, deu uma olhada rápida em suas Então fez um apelo: nico
pranchas, e como não viu o nome do “Por favor, pegue aquele Maçom e
Irmão na lista de Obreiros, lhe orientou traga-o para cá!”
O Malhete Setembro 2021 23

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24 Setembro 2021 O Malhete

ROSACRUZ, O MISTÉRIO CHEGA AO FIM


Texto Gabriele Alves – Fonte: História em Foco
cultural, formada por homens e mulheres cruz em que se baseou, inclusive, no ocultis-
dedicados à busca das mais sublimes verda- mo, prática que está relacionada ao conheci-
des universais. Tem por objetivo despertar e mento daquilo que é oculto socialmente, o
desenvolver no ser humano o seu potencial saber daquilo que é paranormal, por exem-
interior para uma vida equilibrada, de acordo plo. Ainda, abriu a Casa do Espírito Santo ao
om uma origem repleta de questiona- com as leis da natureza e do universo”, escre- lado de oito monges. Era um início. Christian

C
assim.
mentos, a sociedade se mantém firme ve. Mas, afinal, como ela surgiu.
por todo o mundo – e não tão secreta

Não conseguimos apontar com exatidão a


O fundador de tempos e tempos atrás
Um nome emblemático das origens da
Rosenkreuz morreu com 106 anos, em 1484.

Destaque no século XVII


O nome completo da sociedade Rosacruz é
época em que o movimento Rosacruz surgiu, Rosacruz é Christian Rosenkreuz, cuja seme- Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis, cuja
mas quando suas bases começaram a apare- lhança entre o som de seu nome e o da socie- sigla é AMORC. A partir do século XVII, ela
cer, eram caracterizadas por um misto de cam- dade revela que ele influenciou de alguma ganhou mais destaque principalmente pelo
pos religiosos e do saber. Sempre estiveram forma a existência da organização. Christian contexto da época, já que a Europa passava
em busca da sabedoria (a iluminação), ainda nasceu na Alemanha e, apesar da limitação por uma crise política marcada por confron-
que por meio do mistério. E isso instiga pes- de posses de sua família, sempre teve uma tos também de cunho econômico como: as
quisadores e historiadores por toda parte. O educação sólida. guerras em nome da religião, a situação mise-
Instituto de Pesquisas Projeciológicas e Bioe- Acompanhado de monges na adolescên- rável de fome e pobreza e a transformação da
nergéticas divulgou uma entrevista com o cia, viajou pelo mundo visitando lugares ciência que, cada vez mais, adquiria uma ori-
mestre Charles Vega Parucker, na qual ele como Egito e Marrocos e teve contato com os entação materialista. Nessa época, a Rosa-
esclarece que “a Ordem Rosacruz (AMORC) conceitos das artes ocultas. Ao retornar para cruz publicou três manifestos.
é uma fraternidade místico-filosófica e a Alemanha, ele fundou A Fraternidade Rosa- >>>>>
O Malhete Setembro 2021 25
1. Manifesto Fama Fraternitatis
Destinado aos líderes políticos religiosos e
também aos cientistas. Era um manifesto que
fazia um apelo universal para a situação instá-
vel da Europa. Revelou também a história de
Christian Rosenkreuz desde sua viagem ao
redor do mundo até a descoberta de seu túmu-
lo.

2. Manifesto Confessio Fraternitatis


Esse foi o complemento do primeiro mani-
festo que, além de reforçar a ideia reformista,
indicou que a Rosacruz tinha uma ciência filo-
sófica para modificar a instabilidade que
pretendia. O texto desse manifesto tinha um
aspecto profético e foi questionado por muitos TEMPLO ROSACRUZ
estudiosos da época. Homens e mulheres frequentam as Lojas da sociedade.
Também não há restrições quanto à classe social ou à religião
3. Manifesto O Casamento Alquímico de
Christian Rosenkreuz leis da vida, a cura metafísica, aos centros psí- escolas do Antigo Egito. Nelas, o estudo sobre
Diferente dos outros manifestos, o terceiro quicos, aos sons vocálicos, à concepção de os mistérios do universo era incentivado para
apresentou a história de uma viagem que tinha deus, à alma universal, à alma do homem e à desvendar a natureza e o ser humano. Por isso,
por finalidade representar a busca pela ilumi- sua evolução. Além da morte, reencarnação, surgiu a expressão Escolas de Mistérios den-
nação. O simbolismo ali presente pretendia carma, simbolismo universal e a alquimia espi- tro da Ordem Rosacruz. A unificação dessas
descrever como deveria ser a jornada daqueles ritual”. Eles treinam a concentração, a visuali- escolas veio por meio da iniciativa do Faraó
que queriam ser iniciados na Rosacruz ao con- zação e a meditação e estão próximos de práti- Tutmés III, que estabeleceu as mesmas regras
sumarem a união entre sua alma e Deus. cas como a telepatia, intuição e percepção para todas elas.
além dos cinco sentidos. O objetivo dos rosa- Cruzando as fronteiras do Egito, a Ordem
A estrutura hoje cruzes é que as pessoas tomem conhecimento desembarcou na Grécia, depois, na Europa.
Dividida em Grandes Lojas, subordinadas à da dimensão interior que possuem. Ali, a expansão atingiria os povos do Ocidente
Suprema Grande Loja que estabelece todos os Quanto à estrutura financeira, a Ordem até se consolidar com a estrutura que conhece-
princípios fundamentais de atuação das dema- Rosacruz não tem fins comerciais e se sustenta mos hoje.
is, a Rosacruz é uma organização que tem por por meio das doações de seus integrantes. O
objetivo promover a evolução da humanidade que é arrecadado cobre os gastos das deman- Curiosidades:
e propiciar uma vida mais harmoniosa a todos. das da instituição. Além do planeta Terra
Seus membros respeitam a liberdade indivi- Entre as curiosidades sobre essa sociedade,
dual, o espírito de fraternidade e pregam a paz, O perfil dos membros destaca-se a crença na existência de outras
saúde e felicidade para todas as pessoas. No Para ingressar, não há restrições quanto ao humanidades fora do planeta Terra. Com níve-
passado, ela teve um caráter bem mais secreto, sexo, cor, classe social ou profissão. Porém, é is de evolução diferentes dos nossos, a Rosa-
porque a liberdade que incentivava era algo necessário informar as razões que levam o can- cruz acredita que confirmar essa suposição é
reprimido e perseguido, portanto, optaram por didato a participar dessa sociedade. Há ainda um grande enigma, mas que isso não pode ser
manter suas atividades em sigilo por muito pessoas de diversas religiões como o Cristia- considerado algo falso ou fantasioso.
tempo. Nos dias de hoje, os componentes se nismo, Judaísmo e Budismo. Contudo, é
reúnem nos Organismos Afiliados e seguem necessário estar atento: na Rosacruz, o traba- Rosacruz em território verde e amarelo
um calendário de reuniões semanais estabele- lho procura despertar o interesse de seus mem- No Brasil, a Rosacruz passou a exercer sua
cido ali. bros para o misticismo, a cultura e a espiritua- influência em 1956. É na cidade de Curitiba
Entre as atividades, estão o estudo de mono- lidade. que funciona a sede da Grande Loja de Jurisdi-
grafias toda semana e, como o próprio Charles ção de Língua Portuguesa, cujo Grande Mes-
Vega Parucker comenta na entrevista, “os Uma outra origem... tre é Hélio de Moraes e Marques.
temas estão relacionados à origem da matéria, Podemos ir mais longe na história da
às diferentes fases da consciência humana, às AMORC. Isso porque suas origens estão nas
26 Setembro 2021 O Malhete

VIOLÊNCIA SEM ROSTO


A Ku Klux Klan tornou-se símbolo de intolerância
Se hoje vivemos em uma sociedade onde negros e brancos têm os mesmos direitos, pelo menos no papel, a parcela de
negros que vivem marginalizados (sem acesso a direitos básicos como saúde e educação) e o racismo ainda presente
nos lembram que nunca estivemos legalmente no mesmo patamar.
deles eram brancos e um era negro. Agentes tentada pela exploração do trabalho escravo,
do FBI foram enviados à cidade para investi- com o cultivo de milho, tabaco, cânhamo,
gar a morte e se depararam com uma organiza- cana-de-açúcar, arroz e algodão.
ção que pregava a segregação racial, e defen- No estado da Virgínia, o trabalho escravo
dia a separação entre negros e brancos a qual- era empregado também em fábricas e ferrovi-
Liberdade privada quer custo, mesmo que para isso tivesse que as. De norte a sul do país, os negros faziam a
Este triste capítulo da história começou nos utilizar métodos violentos. Essa organização é produção fluir e garantiam os lucros dos donos
tempos da escravidão, quando negros eram conhecida como Ku Klux Klan – o nome de das terras e empresários. Não é difícil imagi-
retirados à força de sua pátria, transportados difícil pronúncia, mas marcante, tem origem nar o quanto a ideia da liberdade dos escravos
por dias dentro de porões de navios e tratados na palavra grega “kuklos”, que significa círcu- incomodava muita gente naqueles tempos. E
como mercadoria. Apesar de ter seus desdo- lo. poderia incomodar ainda hoje.
bramentos no final do século 19, com o fim da O primeiro capítulo deste violento enredo Começaram a surgir por lá as primeiras idei-
escravidão e a libertação dos escravos, o refle- já foi forte o suficiente para ser retratado no as abolicionistas, apoiadas por grupos religio-
xo é latente ainda hoje. Para os escravocratas cinema. A história do embate entre FBI e Ku sos. Em 1865, a escravidão nos Estados Uni-
(aqueles que se diziam “donos” dos escravos), Klux Klan deu origem ao filme Mississipi em dos foi abolida por meio da 13ª Emenda à
o fim da escravidão simbolizava uma ameaça Chamas, gravado em 1998 e dirigido por Alan Constituição, deixando por terra um dos maio-
aos seus lucros, já que muito dinheiro vinha da Parker, e também foi retratada no documentá- res sistemas de produção escravistas registra-
exploração da mão de obra escrava. Afinal, era rio Ataque ao Terror: o FBI versus a Ku Klux dos pela História e o início de uma guerra des-
muito fácil enriquecer sem ter que pagar salá- Klan. Apesar de não ser tão secreta assim e ser leal entre brancos e negros recém-libertos. Foi
rios aos homens que trabalhavam na terra e mantida por membros em pleno século 21, a neste mesmo ano que um grupo de jovens
colocavam a mão na massa, simples assim, – sociedade é a prova de que a subjugação do moradores do sul dos Estados Unidos decidiu
ironicamente falando, claro. Mesmo com o negro não está tão distante dos dias atuais, e atacar violentamente os negros livres. E o que
fim da escravidão, para grande parte da socie- mostra que há não só pessoas, mas organiza- os destacava estava bem à vista: roupas bran-
dade o negro se- guia sendo visto como ser ções por trás destes atos de violência e exclu- cas, capuzes e montados a cavalos, estes
inferior, uma vez que foi essa a ideia implanta-são. jovens perseguiam negros libertos e seus
da por quem detinha o poder financeiro e polí- defensores. Não demorou para que o movi-
tico àquela época. A história, infelizmente, se Raiz da burrice mento iniciado pelos sulistas tomasse propor-
repete em diversos países. Nos Estados Uni- Mas a história da Ku Klux Klan começa ções maiores. Jovens racistas de todas as
dos houve resistência contra a liberdade e os muito antes de 1964. Os primeiros sinais de regiões dos Estados Unidos ouviram falar do
direitos dos negros, quando um episódio fatí- racismo surgiram ainda no final do século clã e passaram a se filiar. Imagine ter como
dico marcaria o início da guerra declarada. XIX, quando os escravos norte- -americanos principal diversão aterrorizar os negros... Uti-
foram libertos e passaram a ter seus primeiros lizando para isso métodos diversos, como xin-
Pólvora acesa direitos legalmente assegurados. Assim como gamentos e violência física, chegavam a atear
Em 1964, três ativistas que lutavam em no Brasil, não interessava à grande parte da fogo em casas onde viviam ex-escravos.
favor dos direitos civis foram assassinados no sociedade ver o negro como um semelhante.
estado norte – americano do Mississipi – dois Por anos, a economia norte-americana foi sus- >>>>>
O Malhete Setembro 2021 27

ticados pela seita. Existe alguma dúvida de


que a organização já deteve um grande poder Diga-me com quem andas...
de persuasão? Pena que usado para tamanha A violência deste grupo não ficava restrita aos
burrice... negros. Os integrantes da Ku Klux Klan ataca-
vam também os brancos que protegiam os
Longe do fim escravos libertos, principalmente os professo-
Foi aí que a Ku Klux Klan retornou mais res que lecionavam em escolas para negros,
forte, desta vez perseguindo, além de negros, temendo que os ex-escravos se instruíssem,
judeus e estrangeiros. Estima-se que, a partir tornando impossível a volta à escravidão.
desse momento, o número de klanistas tenha Neste caso, o raciocínio é fácil: um homem
chegado a cinco milhões. Com a crescente, o branco que não se posicionasse como tal, não
grupo se fortaleceu e ganhou mais simpati- poderia ser considerado um aliado da KKK.
zantes, estes mesmos que se julgavam os O argumento usado pelos klanistas (membros
defensores da moral. Os membros da Ku da Ku Klux Klan) para justificar tal violência era
Klux Klan mostraram não ter limites para o que os negros seriam “preguiçosos, inconstan-
ódio. Conforme as ideias da seita foram se tes e economicamente incapazes e, por natu-
expandido e atraindo mais adeptos, o grupo reza, destinados à escravidão”. Por trás deste
A seita foi se espalhando e uma filial foi
passou perseguir também médicos charla- argumento estava, certamente, a mágoa pelo
montada no estado do Alabama, introduzin-
tões, prostitutas e marginais. Suas vítimas fim do lucro fácil e a incerteza quanto ao futuro
do pela primeira vez o castigo físico aos
eram marcadas à fogo com três letras K na econômico sem a mão de obra da qual os fazen-
negros. Além da prática racista, os integran-
testa. deiros e empresários estavam habituados.
tes da Ku Klux Klan faziam visitas-surpresa
aos negros, obrigando-os a votar nos candi- A situação chegou a um ponto tão extremo
datos democratas. Para convencê-los e humi- que o governo norte americano interveio, Sem identidade, sem integridade
lhá-los, os klanistas agrediam seus alvos com aprovando a lei antimáscara, que proibia o
chibatadas. Demorou, mas o governo norte- uso de máscaras fora do Dia de Todos os San- Os trajes usados pelos membros da organiza-
americano se atentou à crueldade e em 1871 tos e do carnaval. O clã foi perdendo forças, ção auxiliavam na preservação das suas identi-
considerou o Ku Klux Klan uma organização alguns integrantes foram amadurecendo, e a dades. Durante as ações violentas, todos man-
ilegal. Muitos racistas foram presos e, para mentalidade foi mudando até que se desfez tinham os rostos encobertos pelos capuzes.
novamente. Restaram pequenos grupos que Quem desejava fazer parte da Ku klux Klan pre-
escapar da lei, fundaram outros clãs com a cisava passar por um ritual de iniciação bas-
mesma proposta e alcunhas diferentes: White vez ou outra tentam disseminar suas ideias tante peculiar e que nos remete às cenas de
League, Shot Gun Plan, Rifle Club, entre racistas. Felizmente, cada vez mais estas idei- desenhos animados: o candidato era fechado
outros. A Ku Klux Klan foi desfeita, mas o as estão pertencendo a um passado que, olha- em um tonel e empurrado ladeira abaixo.
fim do grupo durou pouco e retornou com do de longe, parece absurdo.
força total. Anos depois, o cineasta norte ame- um elemento sempre presente nas sessões de
ricano D.W. Griffith dirigiu um filme “O VESTINDO A CARAPUÇA tortura e nas reuniões, como o ritual da quei-
Nascimento De Uma Nação”. Na obra, o dire- Não precisa ser expert para reconhecer o ma da cruz.
tor não escondeu sua simpatia pela Ku Klux mais famoso ícone da ordem. O chapéu de _________________________________
Klan, o que fez com que muitos racistas rapi- burro – que, convenhamos, cai muito bem Por Carolina Bataier
damente se identificassem com o filme e se para a ocasião, servia para proteger a identi- Fonte: Momentos da História
reunissem para retomar os atos violentos pra- dade dos membros. Além disso, o fogo era
28 Setembro 2021 O Malhete

MAÇONARIA À BRASILEIRA
Com as raízes fincadas em solo tupiniquim, a Maçonaria teve papel decisivo no
processo de independência do país.
Já no ano seguinte, a partir de 1818, que a
Organização fraternidade agiu concretamente no sentido de
A loja maçônica Reunião é considerada a organizar os “patriotas” – quase sempre em
primeira no Brasil, criada em 1801, no Rio de caráter reservado, é claro, pois a organização
Janeiro. É importante ressaltar que, bem como de uma instituição paraestatal configurava
a Inconfidência Mineira, outros movimentos subversão. Mas, vale lembrar: o destino de

H
á quem diga que o maior segredo da
Maçonaria é, justamente, não ter segre- de contestação à dominação portuguesa e à quem o tentasse poderia ser o mesmo de Tira-
do algum. Mas, convenhamos: mesmo estrutura política, social e administrativa da dentes.
com mistérios atados pelos juramentos impos- colônia baseadas ainda no Antigo Regime tam-
tos aos maçons, é impossível ignorar as teorias bém estão de algum modo ligados à Maçonaria Dilema
que envolvem práticas ocultas, favorecimen- e seus membros. Os irmãos, como se chamam A situação de Dom Pedro era complexa:
tos e jogos de interesses. Verdades ou lendas, a entre si, estiveram presentes em eventos externamente, o príncipe regente era visto
complexidade por trás da sociedade secreta foi importantes tais quais a Conjuração Baiana como um insubordinado em relação às cortes
capaz não somente de consolidá-la ao redor do (1798-1799), a Revolução Pernambucana de Lisboa. E, no Brasil, um repressor, pois não
mundo, mas também de exercer influência nos (1817), a Confederação do Equador (1824) e a poderia deixar espaço aos republicanos, nem
campos político, social e religioso – no Brasil, Revolução Farroupilha (1835-1845). às teses de monarquias demasiado reformistas,
a história não foi diferente. Do ponto de vista organizacional, não exis- como as do próprio José Bonifácio. Foi aí que a
Ainda sob jugo lusitano, a fraternidade tiam ainda partidos políticos, mas facções ou loja d'O Grande Oriente Brasileiro – situada na
alcançou terras tupiniquins nos idos finais do tendências. O “partido brasileiro” ou dos “pa- antiga Rua do Conde e pautada no modelo fran-
século XVIII, integrando-se à efervescência triotas”, por exemplo, era infiltrado pela Maço- cês “moderno”, com seus ritos, uniformes e
intelectual de grupos essencialmente aristocrá- naria. No clima das Luzes, a Razão “ilumina- símbolos – teve papel importante na articula-
ticos de uma região vasta e tipicamente coloni- ria” as sombras criadas pelo absolutismo e, ção das províncias a favor da independência e
al. Em meio ao Ciclo do Ouro na região das nesse sentido, era instrumento útil no processo da constituição de um novo império
Minas Gerais, surgia um círculo social que não de libertação colonial. Com Bonifácio como Grão-Mestre, Gon-
possuíam os mesmos vínculos com a terra Não por acaso, os autores Adriana Lopez e çalves Ledo como 1º Vigilante e Padre Januá-
como os senhores de engenho. Carlos Guilherme Mota contam no livro Histó- rio Barbosa como Grande Orador, os debates
Simultaneamente, nasciam comércios, tea- ria do Brasil: Uma Interpretação que “Francis- sobre a independência aconteciam aos montes.
tros e toda uma relação de maior proximidade co de Miranda, considerado o precursor da E, com a inegável aproximação entre eles e
com questões culturais que praticamente ine- independência da América Latina, e o capixaba Dom Pedro, sobretudo José Bonifácio, foi ine-
xistiram no Brasil antes deste período. Porém, Domingos José Martins, líder da insurreição vitável que o futuro imperador – um jovem
a organização em lojas regulares – e a conse- nordestina de 1817, encontraram-se em Lon- inexperiente de 24 anos, em posse do trono,
quente atuação em episódios históricos como a dres para conspirar com o militar português cercado de pensadores influentes – saísse de
independência – só se daria no raiar do século Gomes Freire de Andrade, líder do levante em cima do muro.
XIX. Portugal”. >>>>>>
O Malhete Setembro 2021 29
Ao tornar-se um “irmão”, o príncipe regen- ca intensa e estreita com as demandas da soci-
te adotou o nome Guatimonzim, em referên- edade do Brasil Império. Seria um erro afirmar
cia ao último imperador asteca, por sugestão que a Maçonaria enquanto instituição adotou
do próprio José Bonifácio. Naquele mesmo um posicionamento oficialista a favor de um
ano, em 1822, o herdeiro foi elevado a Mestre movimento republicano no Brasil. Como dito,
em agosto e, meses depois, tornou-se Grão- a fraternidade divergia entre lojas e grandes
Mestre com propósitos puramente políticos – orientes, que abrigavam desde liberais e aboli-
fato que explica (e muito!) sua decisão poste- cionistas, até os mais conservadores monar-
rior de romper em definitivo os laços com quistas e escravistas. Desta forma, é muito
Portugal. mais relevante demonstrar a preponderância
da Maçonaria enquanto difusora de propostas
Futuro republicano que inspiraram importantes membros a apoia-
Apesar da relevância obtida durante o pro- rem movimentos determinantes não só para o
cesso de Independência, em 1822, a Maçona- fortalecimento do republicanismo no Brasil,
ria em breve iria mergulhar em um período de mas para a própria queda da monarquia e o fim
obscuridade no Brasil. D. Pedro I, que logo do Segundo Reinado, já sob a égide de Dom
atingiria o posto mais alto da fraternidade, aca- Pedro II, no ano de 1889.
bou proibindo e banindo as suas práticas do No âmbito da história do Brasil, é muito
Império. Seu retorno seria gradual, partindo recorrente ilustrarmos o fim do governo de D. ve presente em todos estes âmbitos.
da clandestinidade a partir do Período Regen- Pedro II a partir de três questões: a escravista,
cial (1831 - 1840) e chegando ao seu apogeu a religiosa e a militar – todas pilares que, ao FONTES
durante o reinado de Dom Pedro II. ruírem, levaram consigo a monarquia –, além Artigo A Maçonaria e a independência do
Seu crescimento e difusão seriam marcados do movimento republicano. É interessante Brasil, de Márcio Maciel Bandeira; Livro His-
também por uma grande divisão entre lojas, notarmos que a presença e a atividade maçôni- tória do Brasil: Uma Interpretação, de Adriana
ritos e ideais, o que proporcionou uma dinâmi- ca, ainda que não hegemônica ou central, este- Lopez e Carlos Guilherme Mota
30 Setembro 2021 O Malhete

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