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Comunicação
e Formação
do Pensamento
Clínico I
Fernando Antônio Brandão Suassuna | Katiane Fernandes Nóbrega
Paula Adriana Borba Rodrigues | Armando Otávio Vilar de Araújo
Francisco Alves Bezerra Neto | Tásia de Albuquerque Falcão Feitosa
Nancy Cristina Baumgartner Fernandes de Barros | Giovanna Dantas Fulco
Diego Henrique Brilhante de Medeiros | Weranna Morena Vale Castro
Comunicação
e Formação
do Pensamento
Clínico I
EDUNP
NATAL/RN
2018
© 2018 Universidade Potiguar/Laureate International Universities
ISBN: 978-85-8257-020-3
E book
PARTE 1............................................................................................................................................................................... 10
1 O CONHECIMENTO E TIPOS DE CONHECIMENTO........................................................................ 12
1.1 TIPOS DE CONHECIMENTO................................................................................................................... 13
EXERCÍCIOS............................................................................................................................................................... 17
SUGESTÕES DE LEITURA................................................................................................................................ 18
2 COMPETÊNCIAS CULTURAIS, CONFIGURAÇÕES SOCIOCULTURAIS E
LINGUÍSTICAS............................................................................................................................................................... 19
2.1 COMPETÊNCIAS CULTURAIS................................................................................................................ 19
2.2 CONFIGURAÇÕES SOCIOCULTURAIS E LINGUÍSTICAS................................................. 23
2.2.1 O modelo explicativo............................................................................................................................... 24
2.2.2 Sistemas de crenças, representação e linguagem........................................................ 25
EXERCÍCIOS .............................................................................................................................................................. 27
SUGESTÕES DE LEITURA................................................................................................................................ 28
3 ALTERIDADE E PAPÉIS SOCIAIS................................................................................................................ 29
EXERCÍCIOS .............................................................................................................................................................. 34
SUGESTÕES DE LEITURAS............................................................................................................................ 34
4 PADRÕES DE COMPORTAMENTO: MÉDICO X PACIENTE.................................................... 36
4.1 PADRÕES DE COMPORTAMENTO DOS MÉDICOS.............................................................. 36
4.2 PADRÕES DE COMPORTAMENTO DOS PACIENTES........................................................ 39
EXERCÍCIOS .............................................................................................................................................................. 44
SUGESTÃO DE LEITURAS............................................................................................................................... 45
5 IDEOLOGIA E COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS..................................................................... 46
5.1 IDEOLOGIA NA COMUNICAÇÃO MÉDICO-PACIENTE........................................................ 46
5.2 COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS............................................................................................... 48
EXERCÍCIOS............................................................................................................................................................... 50
SUGESTÃO DE LEITURAS............................................................................................................................... 51
6 PRÁTICA: SIMULAÇÃO...................................................................................................................................... 53
PARTE 2 ............................................................................................................................................................................. 58
7 A COMUNICAÇÃO MÉDICA CENTRADA NO PACIENTE........................................................... 60
EXERCÍCIOS............................................................................................................................................................... 64
SUGESTÃO DE LEITURAS............................................................................................................................... 65
8 ENTENDENDO A ESTRUTURA DE UMA ANAMNESE................................................................ 66
8.1 IDENTIFICAÇÃO............................................................................................................................................... 66
8.2 QUEIXA PRINCIPAL..................................................................................................................................... 67
8.3 HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL (HDA).......................................................................................... 67
8.4 INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO.................................................................................... 68
8.5 ANTECEDENTES PESSOAIS E FAMILIARES............................................................................. 68
8.5.1 Antecedentes pessoais (fisiológicos).......................................................................................... 68
8.5.2 Antecedentes pessoais (patológicos)...................................................................................... 68
8.5.3 Antecedentes familiares..................................................................................................................... 69
8.6 HÁBITOS DE VIDA........................................................................................................................................ 69
8.7 CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS E CULTURAIS............................................................... 69
EXERCÍCIOS............................................................................................................................................................... 71
SUGESTÃO DE LEITURAS............................................................................................................................... 72
9 COMUNICAÇÃO MÉDICA: TERMINOLOGIA E ESCRITA MÉDICA...................................... 73
EXERCÍCIOS............................................................................................................................................................... 77
SUGESTÃO DE LEITURAS............................................................................................................................... 77
10 ELABORAÇÃO DE PRONTUÁRIO CLÍNICO..................................................................................... 78
EXERCÍCIOS............................................................................................................................................................... 82
SUGESTÃO DE LEITURAS............................................................................................................................... 82
11 PRÁTICA: SIMULAÇÃO................................................................................................................................... 83
PARTE 3.............................................................................................................................................................................. 90
12 O QUE É A CIÊNCIA? ......................................................................................................................................... 92
12.1 MEDICINA E FORMAS DE RACIOCÍNIO...................................................................................... 96
12.1.1 Dedução........................................................................................................................................................... 98
12.1.2 Indução............................................................................................................................................................ 100
12.1.3 Abdução.......................................................................................................................................................... 102
EXERCÍCIO................................................................................................................................................................... 103
SUGESTÃO DE LEITURAS............................................................................................................................... 103
13 MÉTODO CLÍNICO............................................................................................................................................... 105
13.1 MÉTODO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO................................................................................................. 105
13.2 RACIOCÍNIO CLÍNICO............................................................................................................................... 108
EXERCÍCIOS............................................................................................................................................................... 110
SUGESTÃO DE LEITURAS............................................................................................................................... 110
14 COMUNICAÇÃO ENTRE O MÉDICO-COM-SEUS-PARES .................................................. 111
EXERCÍCIOS............................................................................................................................................................... 113
SUGESTÃO DE LEITURAS............................................................................................................................... 114
15 PRÁTICA: SIMULAÇÃO................................................................................................................................... 115
REFERÊNCIAS............................................................................................................................................................... 119
Comunicação e Formação
do Pensamento Clínico I
INTRODUÇÃO
O leitor encontrará aqui uma discussão sobre as formas de raciocínio empregadas na
comunicação médica, tanto na comunicação médico-paciente, quanto na comunicação
do médico com seus pares e demais profissionais de saúde nos espaços ambulatoriais,
hospitalares e acadêmicos. A proposta é fazer com que o discente tome consciência dos
modelos e estruturas de raciocínio que o médico emprega na apresentação e resolução
de problemas nessas diferentes situações e oferecer um exercício coletivo e de base multi-
disciplinar que evidencie as relações existentes entre ciência e medicina e, particularmen-
te, discuta as questões referentes à produção do conhecimento, metodologias científicas
e processos cognitivos empregados pelos médicos na clínica. Mas o que queremos exa-
tamente? Queremos responder a questões como: Como se forma o pensamento médico?
Como acontece o processo dialógico-discursivo entre médico-paciente e médico-com-
-seus-pares? Existe investigação científica na medicina? Qual a relevância do pensamento
crítico e sistemático para o raciocínio médico? O entendimento de como se estruturam os
raciocínios dedutivo, indutivo, abdutivo, hipotético-dedutivo nos conduz a uma melhor
tomada de decisão sobre casos clínicos? E quais são as relações possíveis entre raciocínio
com base empírica e medicina?
Embora a elaboração de um diagnóstico a ser adotado em uma determinada situa-
ção-problema não se reduza aos modelos apresentados pela Ciência (o que por sua vez
nos conduz a uma discussão sobre a medicina como ciência, ou como uma aplicação da
ciência ou como arte), a garantia de um diagnóstico correto e, por conseguinte, a escolha
de um tratamento adequado parecem estar relacionadas ao tipo de raciocínio emprega-
do – uma vez que o pensamento médico não se reduz aos processos de enquadramento
de casos particulares a padrões memorizados de conteúdos, mas tem como fundamento
o desenvolvimento de complexos raciocínios científicos.
O livro é produto dos nossos exaustivos, instigantes e ricos debates sobre conteúdos e
conhecimentos necessários para que a comunicação médica ocorra de forma eficiente e
que acompanhe as mudanças tecnológicas e paradigmáticas promovidas pelo Curso de
Medicina da Universidade Potiguar/Laureate International Universities.
No currículo atual do nosso curso, os conhecimentos referentes à linguagem, à comu-
nicação e à semiologia médica estão concentrados no Eixo de Comunicação e Habilida-
des Clínicas.
O Eixo se organiza em três fases: a Fase I (Fundamentos da Comunicação Médica) que
corresponde às 1ª. e 2ª. séries do curso e contempla dois blocos de conhecimento: Comu-
nicação e Formação do Pensamento Clínico I e Comunicação e Formação do Pensamento
Clínico II; a Fase II (Comunicação de Habilidade Médica) que corresponde às 3ª, 4ª e 5ª sé-
ries e abrange três blocos de conhecimento: Comunicação e Exame Clínico Diferenciado,
cansado e que o “goto” não funciona direito e, por isso, eles a levaram,
duas vezes, para uma benzedeira muito famosa da região. Desde então,
a criança vem tomando “lambedor” de casca de abacaxi com cenou-
ra. Ao solicitar o cartão de vacinação da criança, você observa que ele
está incompleto. Depois de um criterioso exame físico na criança, você
comunica aos pais que ela está com coqueluche. Vocês conversam um
pouco sobre a doença, mas nenhum deles questiona sobre as evidên-
cias e formas de raciocínio que o levaram a chegar ao diagnóstico. Em
seguida, prescreve 4 doses diárias de eritromicina. Depois de finalizada
a consulta, a mãe agradece e vai embora.
elementos de discussão para inúmeros debates. Contudo, não é a nossa intenção neste
livro. O professor ou o aluno que desejar um aprofundamento dessa temática deve fazer
uma leitura minuciosa do livro de Dutra.
Caso você esteja um pouco preocupado ou se sinta angustiado, lembre-se que a pri-
meira coisa a fazer é acalmar o seu espírito; a segunda é compreender que toda e qual-
quer definição, que você venha a encontrar, sobre conhecimento e verdade, estará presa
a uma corrente teórica construída por uma determinada escola de pensamento. E o que
fazer? Optar por uma definição que pareça a mais adequada ou conveniente.
De todo modo, essa é uma discussão necessária para que você, enquanto futuro médi-
co, possa compreender a forma de pensar e agir do seu paciente.
Assim, seja como for, não podemos sair por aí afirmando que conhecimento popular,
com base no bom senso, não tem valor e validade. Afinal, o bom senso (definido cultural-
mente e, por isso, legítimo para o grupo e possuidor de autoridade) é uma categoria im-
portante para qualquer sistema e forma de aplicação do conhecimento, o que bem cabe
para o exercício da medicina. De todo modo, você deve saber que o conhecimento advin-
do do senso comum é um conhecimento presumido e não um conhecimento metódico.
Não seria o conhecimento popular um conhecimento mítico? Não. O senso-comum
pode até ter traços mitológicos, mas não pode ser confundido com conhecimento míti-
co. Além disso, o conhecimento popular reelabora todas as informações que surgem da
experiência empírica não sistematizada do cotidiano do homem. Por isso, ele é fragmen-
tado e se impõe pela autoridade.
Diferentemente, os mitos se valem de um conhecimento que narra a origem das coisas
a partir de uma ação ordenadora de vários deuses ou de um só Deus. Eles falam da criação
e origem do mundo (cosmogonia) e falam da origem e vida dos deuses (teogonia). De um
modo geral, podemos dizer que o mito é uma narrativa de caráter arquetípico e simbó-
lico (Marc Girard, 1997), atemporal, que acaba não só por justificar as crenças, os usos e
as normas básicas de convívio dos grupos, mas por explicar o sentido e as dinâmicas da
vida e da morte. Embora traga uma explicação, a narrativa está sempre aberta a novos
significados.
Se fizermos uma análise cuidadosa dos textos religiosos ou, ainda, das transcrições da
tradição oral, sejam elas de origem grega, judaico-cristã, indiana, tibetana, africana, in-
dígena etc., encontraremos narrações de criação do mundo, de geração e hierarquiza-
ção dos deuses, semideuses ou santos e dos infinitos combates entre heróis ou tribos ou
ainda entre deuses e demônios. Enfim, nos depararemos com narrativas que enaltecem,
codificam e justificam uma determinada crença, impõem valores e princípios morais, que
acabam por dar sentido à vida.
E o que dizer do conhecimento religioso? Tomando como base Durkheim (2000), po-
demos afirmar que o conhecimento religioso é produto de um sistema de crenças e práti-
cas coletivas referentes às realidades sagradas, o sobrenatural, e fruto de uma comunhão
moral; comporta a narrativa mítica, mas não se restringe a ela. Revela sentimentos, ideias
e atitudes padronizadas pelos rituais e expressa um caráter adorador e persuasivo.
Marconni e Prezotto (1992, p. 165) apresentam quatro categorias de seres sobrenatu-
rais imaginados pelos homens: os seres (deuses, anjos, demônios, fadas), as entidades
(espíritos, almas), as forças (mana, espírito santo) e as almas dos mortos ou espectros.
Os ritos podem ser propiciatórios, de passagem (nascimento, puberdade, matrimônio
e morte) e de iniciação. Além disso, podem ter as formas de oração (prece), oferenda ou
manifestações. Como para as religiões a vida é sempre um retorno a Deus ou aos Deuses
ou simplesmente ao sagrado, o conhecimento religioso é por excelência um conhecimen-
to que prima pela mitificação.
Enfim, por meio do seu método dialogal, estruturado a partir da refutação e da mai-
êutica, que Sócrates abre novos caminhos de acesso e exploração do mundo metafísico
que, como bem afirma Newton da Costa (1997, p. 30), alicerça a indagação científica. Em
suas palavras: “Sem postulados de índole metafísica, amplos e gerais, muitas vezes aceitos
implicitamente, não há ciência”.
O conhecimento científico resulta de uma investigação sistemática e metódica da
realidade. É, fundamentalmente, racional, crítico e autocorretivo. Ele, em geral, refere-se
ao mundo físico, o mundo empírico, portanto, ao mundo factual. Busca por meio da expe-
riência controlada e da observação atenta da realidade construir sistemas de explicações
que revelem leis gerais.
No que se refere à medicina, sabemos que foi a partir das experiências de Hipócrates
(460 a.C) que ela adquiriu um estatuto de ciência. Hipócrates substitui o modelo de ex-
plicação pautado nos deuses, pelo modelo dado a partir da observação clínica de seus
pacientes. A medicina, com isso, torna-se autônoma e passa a ser praticada por médicos
EXERCÍCIOS
1. Faça um quadro que resuma as semelhanças e diferenças entre os
tipos de conhecimento. Debata com os seus professores e colegas
de sala de aula, o que significa cada uma das características e rela-
ções possíveis. Em seguida, faça uma análise dos diferentes tipos de
conhecimento empregados nos casos n.º 1 e n.º2.
2. Discuta com seus colegas de grupo os tipos de conhecimento que o
filme The Physician (Direção de Philipp Stölzl) apresenta ao abordar
as doenças e os processos de cura. Selecione algumas cenas e de-
pois, em grupo, escrevam uma resenha crítica.
3. Assista ao filme Sócrates, dirigido por Roberto Rossellini e produzido
em 1971. Em seguida, responda as seguintes questões:
a. Para Sócrates, a consciência da ignorância representa no ho-
mem uma verdadeira sabedoria: “Só sei que nada sei”. Em So-
fista, Platão afirma que a ignorância mais perigosa é a que não
sabe e crê saber, pois esta dá origem a todos os erros que
cometemos com a nossa inteligência. Agora responda: o que di-
zem essas premissas a respeito do conhecimento, da verdade
SUGESTÕES DE LEITURA
BAZARIAN, Jacob. O problema da verdade. São Paulo: Símbolo, 1980.
CALDER, Richie. O homem e a medicina: mil anos de trevas. São Paulo:
Hemus, 2000.
CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a
Aristóteles. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
DA COSTA, Newton Carneiro Affonso da. O conhecimento científico. São
Paulo: Discurso Editorial, 1997.
DUTRA, Luiz Henrique de Araújo. Verdade e Investigação. O problema
da verdade na teoria do conhecimento. São Paulo: E.P.U., 2001.
DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa: o sistema
totémico na Austrália. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
GEERTZ, Clifford. O saber local: novos ensaios em antropologia interpre-
tativa. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1997.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Cien-
tífica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
MARCONI, Marina de Andrade; PREZOTTO, Zélia Maria Neves Antropo-
logia: uma introdução. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1992.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: Antiguidade e
Idade Média. São Paulo: Paulinas, v. 1, 1990.
2 COMPETÊNCIAS
CULTURAIS, CONFIGURAÇÕES
SOCIOCULTURAIS E LINGUÍSTICAS
2.1 COMPETÊNCIAS CULTURAIS
Você já parou para pensar o quanto a saúde é modelada pela cultura? Veja por exem-
plo quanto dos problemas relacionados à obesidade, ao consumo de bebidas alcoólicas,
de cigarros e anabolizantes, diarreia, desidratação e estresse têm relação direta com o
estilo de vida, as formas de se comportar e pensar (sistema de crenças) específicos das
pessoas e dos grupos, portanto, com a cultura.
O que você entende por cultura? Se consultarmos a literatura científica, nos deparare-
mos com inúmeras definições que obedecem aos parâmetros estabelecidos pelas dife-
rentes vertentes teóricas e escolas de pensamento.
Seguindo uma vertente mais funcionalista, Betancourt (2014) define cultura como um
sistema de crenças, valores, regras e costumes que são compartilhados por um grupo e
é usado para interpretar experiências e padrões diretos de comportamento. O autor de-
fende que a cultura desempenha um grande papel na formação dos valores relacionados
com a saúde, crenças e comportamentos de cada indivíduo, e influencia diretamente os
cuidados clínicos.
Você concorda com esse pensamento? Assim, até que ponto as influências econômicas,
sociais e linguísticas devem ser consideradas no atendimento médico? Seriam elas gerado-
ras de diferentes emoções e atitudes? Poderiam afetar o processo de saúde e cura? Vejamos
o famoso caso clássico da menina Lea Lee apresentado por Anne Fadiman no livro The Spirit
Catches You and You Fall Down (1997). A jornalista narra como os conflitos culturais e de-
sastrosas consequências produzidas pelos constantes desentendimentos no processo de
comunicação entre médicos, equipe de saúde do Merced Country Hospital (Califórnia, EUA) e
a família da criança, levaram Lia Lee a um estado vegetativo permanente.
grupos no interior do Nordeste do Brasil em que a seca é uma realidade? E o que significa
ter saúde para um determinado grupo pertencente à classe média que vive na capital e
tem acesso a um programa de nutrição e exercícios físicos?
Assim, quanto mais o médico conhecer e for sensível às diferentes realidades culturais,
mais ele poderá obter sucesso no encontro clínico e no processo de cura dos seus pacientes.
A competência cultural, ou seja, a capacidade de lidar eficazmente com as diferenças
culturais, permite que você consiga:
1. facilitar as relações entre as culturas de pacientes e instituições, como por exemplo,
desenvolver políticas e programas de saúde voltados para a população e que sejam
culturalmente sensíveis;
2. melhorar a eficácia da prática clínica na saúde do indivíduo, da família e da comunidade;
3. ter uma melhor compreensão da vida pessoal e social do paciente em relação ao
plano de tratamento;
4. garantir uma comunicação mais eficaz, passando a utilizar recursos adequados à
realidade que se apresenta, favorecendo as chances dos tratamentos serem bem-
-sucedidos.
Observe que a cultura modela tanto a percepção do paciente quanto a do médico
sobre as condições de saúde e tratamentos adequados. Assim, vale a pena uma breve
discussão sobre os conceitos de etnocentrismo e relativismo cultural (GEERTZ, 1997).
O etnocentrismo é o termo que se refere ao conceito que corresponde a uma postura
de interpretar todo e qualquer fato, toda e qualquer realidade a partir dos seus próprios
parâmetros culturais. Tal postura leva o sujeito a pensar que as outras pessoas ou cultu-
ras se comportam e pensam de forma diferente porque são inferiores ou nunca tiveram
instrução. Uma visão etnocêntrica implica na negação das diferenças culturais como algo
saudável e possível de ocorrer e afirma a ideia de superioridade.
Já o relativismo cultural é um termo que se refere ao conceito correspondente a uma
tentativa de compreender o diferente, portanto, o outro, tomando como base os valores
adotados por esse outro. O observador ao adotar uma perspectiva relativista, apreciando
as diferentes formas de pensar e agir, consegue ter uma visão mais objetiva da realidade.
Retomando o caso de Lea Lee, podemos considerar que os diversos conflitos e mal-en-
tendidos gerados pelo choque dado entre o modelo de saúde produzido por este grupo
étnico (fundamentado na crença animista) com o modelo biomédico amplamente aceito
e valorizado pelo mundo ocidental são, em parte, resultados de posturas etnocêntricas
adotadas pelos médicos e pela equipe de saúde que cuidavam de Lea Lee.
Caso os médicos tivessem considerado os sistemas diferentes de representação, a assu-
mido a perspectiva do relativismo cultural, bem como superado as barreiras linguísticas,
Uma vez que um potencial problema é reconhecido, o médico pode explorá-lo per-
guntando sobre a crença ou preferência do paciente, o que pode ser bem diferente do
esperado. Desse modo, o médico deve ter consciência de que suas crenças podem diver-
gir das do paciente.
Betancourt ainda destaca que as diferenças de estilos de comunicação e até mesmo da
linguagem utilizada podem levar ao desconforto e a falta de comunicação. Assim, alguns
cuidados devem ser tomados mais especificamente no campo da comunicação verbal
e não-verbal e isso inclui o contato visual direto (em algumas culturas deve ser evitado,
enquanto em outras é um sinal de respeito) e o toque.
Parece óbvio, mas aqui vão algumas dicas: apresente-se ao seu paciente e o cumpri-
mente com um aperto de mão; pergunte ou confirme o nome do paciente; faça uso da
linguagem formal, use o pronome de tratamento Sr. ou Sra; evite chamá-lo por querido/a,
pai/mãe ou paizinho/mãezinha, dentre outros. Lembre-se, o paciente tem nome e não
deve ser tratado de forma infantilizada.
Além disso, olhe nos olhos do paciente e, especialmente, evite atender o celular duran-
te a consulta. Uma comunicação apropriada envolve também outros elementos como:
postura correta, vestimenta adequada, distância de pelo menos 50 cm entre você e o
paciente, cuidado com os gestos e com o tom de voz, dentre outros.
Winkelman (2009, p. 77) argumenta que o modelo explicativo foi concebido pelo an-
tropólogo Kleinman para examinar como os pacientes interpretam as causas e o progres-
so da sua doença e como eles pensam como deve ser o tratamento. Ele é estruturado em
função dos cinco 5 elementos:
1. a etiologia do problema (causa da doença, isto é, o que ele tem, como e porque);
2. a duração e características dos sinais e dos sintomas iniciais;
3. a fisiopatologia do problema;
4. a história natural da doença e prognóstico;
5. o tratamento esperado e indicado para o problema.
Assim, o modelo explicativo acaba por revelar o “significado da doença” para o pacien-
te, ou como ele compreende e explica a sua condição de saúde-doença. Afinal, a concep-
ção de saúde, como bem afirmam Alves at al (2009, p. 88), “é pensada e produzida na rela-
ção entre o simbólico e o concreto, o natural e o tecnológico, o mítico e o empírico que se
complementam e constituem o sentido de integralidade vivido” pelos sujeitos e grupos.
Tomando como base o Módulo do UnaSUS, Saúde Integral da População Negra, o en-
contro clínico (CRUZ, 2016), percebemos que para ter acesso e compreender os diferentes
modelos explanatórios, se faz necessário partir dos pressupostos de que o modelo bio-
médico não é único e nem hegemônico; para conduzir adequadamente uma anamnese
devemos nos valer de estratégias capazes de romper com as barreiras culturais; e que se
faz necessário ouvir o paciente por meio de roteiro(s) de entrevista clínica e culturalmente
orientado(s).
Note que não existe um único modelo explicativo, eles variam conforme o sistema de
crenças de cada um. Recomendamos que você leia o material disponibilizado pelo Una-
SUS sobre saúde integral da população negra (CRUZ, 2016) e faça uma comparação entre
os seguintes modelos explanatórios apresentados: ADERE; ESFT; ETHNICS e HOPE. Em se-
guida, discuta com os colegas se é possível haver conciliação entre diferentes modelos
explanatórios sobre saúde e doença.
não tem forma de evitá-lo, pois a lombriga é mais forte e tem poderes que
permitem dirigir a vontade da pessoa. Obriga-a a comer terra, pois gosta
muito desta – nela se originou e nunca perde o desejo incontrolável de a
ela retornar. As crianças, até certa idade não devem ser impedidas de comer
terra, pois isso pode levá-las à morte provocada pela insatisfação da lombri-
ga, que preferiria morrer a sentir-se contrariada em suas vontades (FEISHER;
SAUTCHUK, 2012, p. 134).
e foi realizado na região Noroeste de Minas Gerais. Ibánez-Novión discorre sobre a per-
cepção e a representação social do corpo humano. O autor destaca que o anatomista
popular faz parte do subsistema intermediário da “medicina popular” que utiliza meios
mecânicos e simbólicos de tratamento. Os outros dois subsistemas são: o subsistema da
medicina imitativa e um subsistema da medicina de base. A percepção anatomofisiológi-
ca é bastante complexa. Por exemplo, o corpo humano contém 22 órgãos principais, são
eles: juízo, goto, ouvidos, nariz, guela, amigas, bofe, bucho, roda do bucho, coração, tatela
do coração, figo, fel, passarinha, rins, imbigo, tatelas do imbigo, tripa, pêndis, hemorroia
e arca da espinhela.
Provavelmente, você já deve ter ouvido falar em “espinhela caída”. Imagine os proble-
mas gerados pelo desconhecimento dos termos utilizados na medicina popular no en-
contro clínico. Uma investigação sobre os termos mais comuns utilizados na região em
que você irá atender, é algo que deve ser feito.
Por fim, o quarto estudo, O conceito de farmácia doméstica e suas implicações no estudo
de sistemas de cuidados de saúde, data de 1986 e foi realizado no noroeste de Minas Gerais
e Distrito Federal. O autor chama de farmácia doméstica o conjunto de fármacos utilizado
nos grupos domésticos, com caráter prioritariamente preventivo e ocasionalmente cura-
tivo. Ibánez-Novión elenca as categorias diagnósticas de dor e os fármacos comumente
utilizados, tais como: para dor no corpo, é indicado casca de sucupira, tipi e batata-de-tiú;
para dor no peito, gergelim; para dor nas cadeiras, velame-branco, douradinha, ri-quem-
-quer; para dor nas costas, endro ou amarelinha; para dor na cabeça, tipi, quitoco, puejo,
erva-cidreira-de-capim, hortelã-pimenta, boldo, buta, marcelão e para dor no estômago,
marcela, alecrim, amarelinha.
EXERCÍCIOS
1. A “síndrome frio-quente” apresentada no segundo capítulo na disser-
tação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Antropolo-
gia Social do Museu Nacional (UFRJ), intitulada El cuerpo humano, la
enfermedad y su representación: un abordaje antropológico em So-
bradinho, ciudad satélite de Brasília (O corpo humano, a enfermidade
e sua representação: uma abordagem antropológica em Sobradinho,
cidade satélite de Brasília) por Ibánez-Novión, revela uma relação
entre a temperatura dos alimentos e o aparecimento de doenças
e consumo terapêutico. Assim, leia esse trabalho e faça um mapa
conceitual explicitando o sistema de representação e linguístico dos
moradores de Sobradinho/Brasília. Lembre-se de elencar os tabus
alimentares. Além disso, adote uma das técnicas de construção de
modelos exploratórios (ADERE; ESFT; ETHNICS ou HOPE) e monte
SUGESTÕES DE LEITURA
ADAM, Philippe. Sociologia da doença e da medicina. Bauru, SP: EDUSC,
2001.
ARAÚJO, Iaperi. A medicina popular. 5. ed. Natal: Fundação José Au-
gusto, Coleção Cultura Popular, n.º 13, 2011.
______. Ingrisia: A medicina na língua do povo. Natal: Offset Gráfica e
Editora, 2011
BETANCOURT, Joseph; GREEN, Alexander, CARRILLO, Emilio. Cross-cul-
tural and communication. UpToDATE, jan. 2014.
CULHANE-PERA, Kathleen. Healing by Heart: Clinical and Ethical Case
Stories of Hmong Families and Western Provides. Nashville: Vanderbilt
University Press, 2003.
CRUZ, Isabel Cristina Fonseca da. O encontro clínico [Política Nacional de
Saúde Integral da População Negra]. 2016. Disponível em: <https://ares.
unasus.gov.br/acervo/handle/ARES/2982>. Acesso em: 25 jun. de 2017.
FADIMAN, Anne. The Spirit Catches You and You Fall Down. Nova York:
Farrar, Strauss, & Giroux,1997.
FLEISHER, Soraya, SAUTCHUK, Carlos Emanuel. Anatomias populares: a
antropologia médica de Martén Alberto Ibáñez-Novión. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 2012.
GOULART, Eugênio Marcos Andrade. O viés médico na literatura de Gui-
marães Rosa. Belo Horizonte: Faculdade de Medicina da UFMG, 2011.
WINKELMAN, Michael. Culture and health: applying medical anthropolo-
gy. São Francisco/EUA: Jossey-Bass, 2009.
1 Por cultura entenda “um sistema complexo e integrado de pensamento e comportamento compartilhados por membros
de um grupo – um sistema cujo conjunto padrão nos permite entender os significados que as pessoas atribuem aos fatos
e observações específicas” (KIEFER, 2007, p. 3), tradução nossa.
2 Uma boa discussão sobre o sentido da troca, do presente, você vai encontrar em O Ensaio sobre a dádiva, texto de Marcel
Mauss, escrito em 1923. Nele, Mauss desenvolve a ideia central que em muitas sociedades, “as trocas e os confrontos
fazem-se sob a forma de presentes, teoricamente voluntários, mas na realidade obrigatoriamente dados e retribuídos”.
O texto nos ajuda a entender o que faz com que o presente recebido seja obrigatoriamente retribuído e que força há na
coisa dada que faz com que o donatário a retribua. Além disso, o texto nos permite entender que toda dádiva faz parte de
um sistema de reciprocidade no qual a honra do doador e do receptor estão envolvidas.
3 O tabu é uma proibição ou um alerta de cuidado a certos atos, especialmente, mágico-religiosos. A infração de um deles
acarreta sanções, castigos e penalidades previstas – o que acaba por ter importantes consequências sociais.
O grande desafio hoje é perceber o paciente; enxergar no paciente algo além da do-
ença, isto é, algo que vai além dos processos biológicos definidos em termos de identi-
ficação e mensuração de vírus, bactérias etc.; tentar entender que o paciente está mer-
gulhado num sistema complexo que acaba, por meio de diversos caminhos, por delinear
diferentes resultados de saúde.
Um outro ponto que deve ser considerado na discussão da alteridade e do outro é o
dos papéis sociais.
Os papéis sociais são modelos de comportamento que não são definidos pelo indiví-
duo, mas pela sociedade em que ele está inserido e que orientam suas ações dentro de
padrões de regularidades. Assim, qual é o papel do médico? Qual é o papel do pacien-
te? Se adotarmos uma perspectiva histórica, constataremos que esses papéis têm muda-
do significativamente e têm implicações diretas com questões referentes à autoridade
médica, relações de poder e identidade profissional. Você vai encontrar elementos in-
teressantes para essa discussão nos textos de Max Weber (1991, 2001) e Michel Foucault
(2007) (referências completas nas sugestões de leitura). Certamente, eles proporcionarão
elementos esclarecedores para as seguintes indagações: A autoridade médica está fun-
damentada na tradição ou ela nasce dos processos carismáticos? O que legitima e como
se substantifica o poder nas ações e nos comportamentos dos médicos? Uma medicina
centrada na doença é menos ou mais autoritária, menos ou mais legítima que a medicina
centrada no paciente? Qual seria a melhor e a mais adequada proposta?
Talcott Parsons (1996) considerou a noção de “papel” como um dos componentes es-
truturais do sistema social e que poderia ser compreendido como a ação desenvolvida
por uma determinada pessoa em sintonia com a sua personalidade. Essas ações (conjun-
to de comportamentos) seguem cursos padronizados (prescritivos ou proibitivos) que se
integram aos sistemas sociais.
A noção de papel se liga ao conceito de status. Contudo, o status diz respeito à posição
que a pessoa ocupa no desempenho de cada papel. Discuta com seus colegas, a relação
entre papéis e status, na posição que o médico ocupa ao exercer a medicina na atenção
primária, na atenção secundária ou terciária.
SUGESTÕES DE LEITURAS
AARAÚJO, Iaperi. Ingrisia: A Medicina na língua do Povo. Natal: Ed. Off-
set gráfica, 2011.
DURAND, Gilbert. Ciência do homem e tradição: o novo espírito antropo-
lógico. São Paulo: TRIOM, 2008.
EKSTERMAN, Abram. Relação médico-paciente na observação clíni-
ca. Rio de Janeiro, 1977. Disponível em: <http://dc415.4shared.com/doc/
FXVU9\_o0/preview.html>. Acesso em: 22 set. 2012.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal,
2007.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guana-
bara Koogan, 1989.
GOULART, Eugênio Marcos Andrade., O viés médico na literatura de Gui-
marães Rosa. Belo Horizonte: Faculdade de Medicina da UFMG, 2011.
GROSSMAN, Eloísa; CARDOSO, Maria Helena Cabral de Almeida. As
narrativas em medicina: contribuições à prática clínica e ao ensino mé-
dico. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 30, n.º 1,
jan./abr. 2006.
KIEFER, Christie. Doing Health Anthropology: Research Methods for
Community Assessment and Change. Nova York/EUA: Spring Publishing
Company, 2007.
LAPLANTINE, François. Antropologia da doença. 4 ed. São Paulo: Mar-
pelo encontro da família e eu até entendi. Sei que vocês só se encontram uma vez
por ano, mas a senhora é diabética e está passando dos limites!
No padrão de comportamento paternalista, o médico precisa identificar o limite para
o princípio da autonomia do paciente que cabe, por vezes, na restrição de autonomia do
médico de exercer sua autoridade. É preciso estar atento ao fato de que um comporta-
mento paternalista no sentido de se omitir para ser agradável ou protetor do paciente
pode colocar a vida do paciente em risco. Por outro lado, pode ser justificado em situa-
ções específicas, o médico manter um padrão paternalista, caso não haja nenhum bene-
fício para o paciente saber de determinada noticia ou se submeter a determinado pro-
cedimento. Podemos citar o caso de uma senhora com câncer de mama e que também
sofria de uma síndrome depressiva muito intensa, com passado de tentativas de suicídio.
A possibilidade de que ela possa vir a cometer suicídio por conta do médico lhe informar
o diagnóstico de câncer, pode-se justificar a ação de uma conduta paternalista.
O médico agressivo se caracteriza por realizar um péssimo atendimento, desrespeitan-
do o paciente. Isso acontece na medida em que demonstra problemas pessoais, insatis-
fação no trabalho ou incapacidade de suportar uma carga de estresse. Para exemplificar,
podemos imaginar um cenário em que um médico de plantão recebe uma mulher em
trabalho de parto e declara “Na hora de fazer não gritou”; ou que prescreve um medica-
mento por via injetável, quando podia fazê-lo pela via oral.
O médico inseguro denota conhecimentos insuficientes, o que é facilmente percebido
pelo paciente quando manifesta dúvidas quanto à conduta ou, ainda, realização de um
exame clínico de baixa qualidade. A insegurança surge diante de uma situação em que
o indivíduo considera que suas competências são insuficientes, o que lhe impede de as-
sumir uma conduta assertiva. A relação médico-paciente fica bastante fragilizada nessa
situação, sendo uma solução para tal comportamento o aprimoramento técnico do médi-
co, bem como o autoconhecimento e trabalho interno, uma vez que a insegurança pode
ser um traço da personalidade. Por exemplo, um médico que precisa consultar, a todo
momento, um colega ou mesmo a internet para responder questionamentos básicos de
um paciente.
O médico frustrado se destaca pela frieza, pessimismo e má vontade. Mostra-se desin-
teressado pela história clínica do paciente e indiferente aos desfechos (positivos ou não)
que possam surgir de suas condutas. É o profissional que não estuda ou não se atualiza
por falta de interesse.
O médico especialista não percebe o paciente como um todo, prescindindo de uma vi-
são generalista. Interessa-se somente pelo seu objeto de especialização, ignorando todo
o resto, muitas vezes direcionando todas as queixas do paciente para um único órgão
ou sistema. Com um interesse direcionado, este tipo de comportamento pode provocar
A mãe do paciente afirmou antes da consulta que seu filho tinha comprado 31 pares de
sapatos e 15 camisas na noite anterior.
– Ótimo, Marcos, que o senhor está se sentindo bem. Mas vamos conversar e
entender juntos se sua mãe está certa em trazê-lo aqui – Dr. Marcos tenta descon-
trair e construir empatia com o paciente.
EXERCÍCIOS
1. Elabore um mapa conceitual, utilizando a ferramenta Cmaps, sobre
os padrões de comportamento dos médicos.
2. Faça um quadro resumindo os tipos de pacientes e, ao final, discuta
com seu professor como conduzir cada um deles (cada grupo pode
propor o manejo de um tipo de paciente).
3. Qual a relação existente entre papéis sociais e tipos de comporta-
mento do médico e do paciente?
4. Você concorda que o doente tem um papel a desempenhar definido
socialmente? Justifique a sua resposta e compartilhe em sala de aula.
SUGESTÃO DE LEITURAS
KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer. 8.ed. Martins Fon-
tes. São Paulo, 1998.
PORTO, Celmo Celeno. Semiologia Médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guana-
bara-Koogan, 2014.
HELMAN, Cecil. Cultura, Saúde & Doença. 4. ed. Porto Alegre. Artmed,
2003.
BRAGHIROLLI, Elaine Maria et al. Psicologia geral. Petrópolis: Vozes,
1995. 235p. Reimp. 2010.
Se, por um lado, temos o dever de fazer o paciente entender a condição pela qual está
passando, por outro lado, devemos compreender a situação de vulnerabilidade e hipossu-
ficiência que a informação (má notícia) causará, impactando diretamente o futuro de quem
cuidamos. A confiança conquistada nos primeiros contatos é o que estabelecerá o processo
de aceitação da má notícia, sendo crucial para as estratégias terapêuticas futuras.
Ter um vasto conhecimento sobre as características da doença é uma outra forma de
obter êxito na comunicação de más notícias, favorecendo o profissional a estar apto a
responder as perguntas que possam surgir dentro do contexto vivenciado. Além da do-
ença, deve-se compreender os aspectos psíquicos e sociais em que está contextualizado
o receptor das más notícias, tentando prever as dificuldades que irão surgir a partir da-
quele momento. Haverá suporte suficiente? Quais são as alternativas no enfrentamento
das novas condições? É importante aplicar diretrizes ou protocolos que possam orientar a
comunicação de más notícias. Um desses instrumentos é o protocolo SPIKES.
O Protocolo SPIKES, proposto por Baile et al. (2000) traz seis passos para a comunicação
de más notícias. Trata-se de um mnemônico cujas iniciais revelam o que fazer:
1. setting up: constitui o primeiro passo e diz respeito à preparação do médico (co-
nhecimento da doença e das novas perspectivas) e do local, que deve ser, de prefe-
rência, silencioso e possibilitar a privacidade a fim de evitar interrupções.
2. perception: caracteriza o segundo passo e tem como objetivo buscar entender
o quanto o paciente sabe sobre sua condição, observando seu estado emocional,
como ele encara o adoecimento e a que nível de linguagem técnica ele está habitu-
ado.
3. invitation: designa o terceiro passo e procura entender o quanto o paciente deseja
saber sobre sua doença.
4. knowledge: define o quarto passo. É a forma como se dá a transmissão da infor-
mação, utilizando-se uma expressão neutra, comunicando-se através de linguagem
simples, clara e direta. Recomenda-se, neste ponto, a utilização de tom de voz suave
e pausado, sempre se certificando de que o paciente compreendeu o que lhe foi
passado.
5. emotions: configura o quinto passo e consiste em identificar, reconhecer e respeitar
as emoções do paciente através de sua reação – que, num primeiro momento, pode
não refletir o que de fato sente.
6. strategy and summary: é o sexto e último passo. Relaciona-se ao seguimento e o
traçado das alternativas de plano terapêutico. A continuidade de cuidados garante
ao paciente o conforto de que não será abandonado pela equipe de saúde, conse-
guindo forças para passar por aquela condição.
EXERCÍCIOS
1. Classifique as tendências ideológicas citadas abaixo em dois campos
paradigmáticos:
SUGESTÃO DE LEITURAS
ABREU, José Luís Pio. Comunicação e Medicina. Coimbra, Virtualidade,
1998.
BAILE, Walter F. et al. SPIKES – A six-step protocol for delivering bad
news: application to the patient with cancer. The Oncologist, Houston, n.
5, p. 302-311, 2000.
BARATA, Rita. Epidemiologia Clínica: nova ideologia médica?. Caderno
de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 12, n. 4, p. 555-560, out-dez, 1996.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização. Huma-
nizaSUS. Documento Base. Brasília; 2006. Disponível em: <http://portal.
saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/DB_PNH.pdf>. Acesso em: 27 jun. 2017.
BUCKMAN, Robert. How to break bad news: a guide for health care pro-
fessionals. Baltimore: The Johns Hopkins University Press; 1992. 240p.
CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: São Paulo, 1981.
FOUCAULT, Michel. O nascimento da clínica. trad. Roberto Machado. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
_____. A microfísica do poder. 12 ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1996.
LAPLANTINE, François. Antropologia da Doença. 4 ed. São Paulo: WMF
Martins Fontes, 2010.
LEITE, Álvaro José Madeiro; CAPRARA, Andréa.; COELHO FILHO, João
Macedo. (Org.). Habilidades de comunicação com pacientes e famílias.
São Paulo: Sarvier, 2007.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã: crítica da mais recente
filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e
do socialismo alemão em seus diferentes profetas. São Paulo: Boitempo
Editorial, 2015.
NEVES, Claudia Abbês Baeta; ROLLO, Adail. Acolhimento nas práticas
de produção de saúde. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização.
Série B. Textos básicos em Saúde, v. 2, 2006.
NOGUEIRA, Roberto Passos. Do físico ao médico moderno: a formação
social da prática médica. São Paulo: UNESP, 2007.
RICOEUR, Paul. Interpretação e ideologias. Rio de Janeiro: F. Alves, 1977.
ROGERS, Carl. A Terapia Centrada no Paciente. Lisboa: Moraes Editores,
1974.
______. Sobre o Poder Pessoal. 3. Ed. S. Paulo: Martins Fontes, 1989.
6 PRÁTICA: SIMULAÇÃO
Objetivo da simulação:
Desenvolver habilidades de comunicação: a escuta ativa e o respeito as escolhas religiosas.
Objetivos da simulação:
1. Discutir os tipos de conhecimento envolvidos no cenário;
2. Discutir posicionamentos ideológicos;
3. Treinar a comunicação de má notícia a paciente.
Objetivos da simulação:
1. Desenvolver habilidades de comunicação: escuta ativa e competência cultural;
2. Discutir padrões de comportamentos de médicos e de pacientes.
2010, p. 66). É nesse momento que você deve fazer perguntas que busquem saber o que o
paciente entende que seja a doença, como ela afeta sua vida e quais são as respostas em
termos de técnicas e rituais terapêuticos que ele julga adequado.
A paciente MBX do caso clínico n.º 6 foi diagnosticada com bursite. Considerando o
que está escrito no caso, você acha que a doença foi explorada de maneira correta?
Se você apreciar o caso com atenção, constatará que não. A história clínica foi bem
investigada, com caracterização da dor bem descrita, além de antecedentes fisiológi-
cos, patológicos e hábitos de vida, mas o exame físico não foi relatado e nem tampouco
exames complementares foram solicitados, o que mostra que a exploração da doença foi
realizada de maneira incompleta. Assim como a exploração da doença, a percepção da
paciente quanto à sua condição não foi demonstrada durante o relato do caso clínico. A
experiência da doença não está contemplada na descrição do caso. A compreensão e a
leitura que o paciente faz do seu processo de adoecimento são fundamentais para aceita-
ção da terapêutica e para a construção de uma relação médico-paciente próspera.
O entendimento da pessoa como um todo integrado parte da consciência dos múltiplos
aspectos da vida do paciente e que podem ser agrupadas em três eixos: (1) a pessoa (per-
sonalidade, história de vida e desenvolvimento pessoal); (2) contexto proximal, como fa-
mília, educação, trabalho, lazer e rede de apoio social (3) contexto distal ou remoto, como
cultura, comunidade, economia, sistema de atendimento à saúde, fatores sócio-históri-
cos, fatores geográficos e ambientais, meios de comunicação (STEWART, 2010, p. 71- 98).
No caso clínico mencionado, o contexto distal ou remoto relacionado ao entendimento
da pessoa como um todo integrado parece não ter sido contemplado. Para que o profissio-
nal de saúde alcance detalhes sobre esse ponto é preciso que o mesmo se debruce sob a
história da paciente, amplie seu campo de visão e parta da perspectiva de que o paciente
é um sujeito inserido em um contexto social, familiar e cultural e que se constrói numa
relação dialética com o mundo.
A elaboração de plano conjunto (em comum) de manejo dos problemas consiste em iden-
tificar e definir o problema, estabelecer metas e prioridade de tratamento e/ou manejo da
doença e identificar os papéis a serem assumidos por ambos. Stewart ressalta que a ideia
de “elaboração de um plano conjunto considerando a participação da pessoa no proces-
so de tomada de decisão não necessariamente implica que ela assumirá um papel ativo”
(STEWART, 2010, p. 110). O nível de participação será definido em função das condições
emocionais e físicas do paciente, o que exige do médico a característica de flexibilidade.
No Caso Clínico n.° 6, o médico precisará junto à paciente manejar melhor as atividades
domésticas, já que sua dor tem o esforço físico repetitivo como o fator desencadeante de
sua queixa. O médico deve conduzir a entrevista clínica de modo a estabelecer uma rela-
ção com o paciente fundamentalmente autêntica, horizontal e de negociação para que
em conjunto cheguem a uma compreensão do problema e uma pactuação em relação à
4 Reatividade é a capacidade de estabelecer a comunicação no ritmo do outro (paciente), sem atropelá-lo ou abandoná-
lo em um monólogo (cf. CERON, M., 2010, p.32).
5 Assertividade é a capacidade do médico atuar com decisão, clareza e sabendo o que pretende em cada momento, com
atitude ativa, mas sem ser rude.
EXERCÍCIOS
1. Com base nos seis componentes interativos do processo de atendi-
mento centrado na pessoa, proposto por Moira Stewart, discuta com
seus colegas como deveriam ser conduzidos os atendimentos clínicos
nos casos n.o 1 e n.o 2.
2. Discuta com seus colegas quais são e como é possível abordar as
dimensões da doença em um atendimento médico.
3. Em grupo, crie um caso clínico para ser encenado em sala de aula
que contemple no processo de comunicação: a exploração da do-
ença e da experiência da doença; o entendimento da pessoa como
um todo integrado; a elaboração de plano conjunto de manejo dos
problemas; as orientações sobre prevenção e promoção de saúde; a
intensificação do relacionamento entre pessoa e médico e a capaci-
dade de ser realista.
SUGESTÃO DE LEITURAS
BARDES, Charles. Defining “Patient-Centered Medicine”. The New En-
gland Journal of Medical, v. 366, n.º 1, mar. 2012, p. 366:782-783.
CERON, Mariane. Habilidades de Comunicação: Abordagem centrada
na pessoa. São Paulo: UNA-SUS, UNIFESP, 2010. Disponível em <http://
www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/1/modulo_psicossocial/
Unidade_17.pdf>
STEWART, Moira; Wayne, et al. Medicina centrada na pessoa: transfor-
mando o método clínico. 2. ed. São Paulo: Artmed, 2010.
______. The impact of patient-centered care on outcomes. The Journal
of Family Practice, v. 49, n.º 9, 2000, pp. 796–804.
MAGUIRE. Peter; PITCEATHLY, Carolyn Key communication skills and how
to acquire them. British Medical Journal, 28 set., v. 325, n.º 7366, 2002,
pp 697–700.
8.1 IDENTIFICAÇÃO:
Por que é importante a identificação do paciente? Porto (2014, p. 51) defende que na
identificação do paciente estão incluídas as seguintes informações: nome, idade, sexo,
cor/etnia, naturalidade, procedência, residência, estado civil, profissão (atual e anteriores),
c) Cirurgias;
d) Traumatismos;
e) Transfusões sanguíneas;
f) História obstétrica;
g) Imunizações;
h) Medicamentos em uso.
Identificação:
1. NOME: JPCR
2. IDADE: 25 anos
3. EST. CIVIL: Casado
4. PROF: Auxiliar de serviços gerais limpeza (Hosp. Giselda Trigueiro)
5. ESCOLARIDADE: Ensino Fundamental Completo
6. NAT/PROC: Cerará-Mirim, RN
7. RELIGIÃO: Católico
Interrogatório sintomatológico:
Sem outras queixas.
Antecedentes Familiares:
Pais vivos ambos hipertensos.
Tem um irmão com epilepsia e um tio que teve tuberculose.
Hábitos de vida:
Etilismo social usa cerveja nos fins de semana cerca de quatro latas.
Tabagista de 05 cigarros ao dia há 07 anos.
Relata que se alimenta mal, pois não tem muito tempo para as refeições.
Trabalha no horário diurno e frequentemente no horário noturno, com escalas de 12
horas. Tem uma folga de 24 horas na semana. Circula em enfermarias e recolhe lixeiras.
EXERCÍCIOS
1. Por que a identificação presente na estrutura da anamnese é corri-
queiramente relacionada à epidemiologia das doenças?
2. Crie uma situação em que sintoma-guia e queixa principal sejam di-
ferentes.
3. Em grupo, elabore uma lista de perguntas que permitam a investiga-
ção adequada e sistematizada da História da Doença Atual.
4. Cite 2 exemplos que demonstrem a importância dos antecedentes
pessoais e familiares, hábitos de vida e condições socioeconômicas
para a hipótese diagnóstica.
9 COMUNICAÇÃO MÉDICA:
TERMINOLOGIA E ESCRITA MÉDICA
Duas questões merecem ser levantadas no que diz respeito à comunicação médica:
uma, diz respeito à terminologia empregada pelos médicos e outra, diz respeito à escrita.
Vejamos cada uma delas.
Embora a terminologia médica se faça necessária entre os profissionais de saúde para
um bom andamento dos problemas postos, ela é muitas vezes incompreensível para os
pacientes. Termos tais como, acianótico, anictéricos, normotensos etc., que garantem co-
municação dentro da profissão, de um modo geral, não permitem uma boa comunicação
com os pacientes. É bem verdade, que eles nos permitem entender muitos dos processos
e procedimentos complexos do exercício médico. É o caso, por exemplo, do termo abdo-
minocentese que significa “punção do abdome para esvaziar líquido ou pus”. Ou abdo-
minoplastia que significa cirurgia plástica do aparelho abdominal. Ou ainda, laparoscopia
que significa exame endoscópico da cavidade abdominal.
Contudo, uma comunicação eficaz entre médico e paciente requer que o médico apre-
sente os termos de forma inteligível e que os adeque aos contextos apresentados.
Para você dar início a esse exercício (que nada mais é que um exercício de tradução)
com segurança, você primeiramente precisa ter um bom entendimento não só do signi-
ficado dos termos médicos, mas dos processos de formação das palavras: processos de
derivação e composição.
A derivação ocorre quando acrescentamos a um radical um ou mais afixos (prefixos e/
ou sufixos). A derivação pode ser: prefixal (quando acrescentamos um prefixo ao radical);
sufixal (quando acrescentamos um sufixo ao radical); parassintética (quando acrescenta-
mos prefixo e sufixo ao radical); regressiva (quando subtraímos o sufixo da palavra) e im-
própria (quando a palavra é usada fora de sua função normal).
O processo de composição ocorre quando se unem dois ou mais radicais para formar outra
palavra com sentido próprio. Pode ser por justaposição (quando os radicais não sofrem alte-
ração fonética ao se unirem) ou por aglutinação (quando um elemento perde alguma parte).
Os termos médicos são, em sua grande maioria, formados através do processo de deri-
vação prefixal ou sufixal, sendo os prefixos e os sufixos mais comuns os de origem grega
e latina. Alguns livros e sites na internet trazem listas desses termos. Uma boa seleção é
a apresentada por Joffre M. de Resende em Linguagem Médica (2004) – texto que você
pode consultar e discutir em grupo. De todo modo, apresentamos abaixo exemplos dos
principais prefixos e sufixos gregos e latinos mais encontrados em gramáticas de língua
portuguesa e livros da área da saúde.
6 Por etnocêntrico entenda “uma visão do mundo onde o eu ou “o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo
e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a
existência” (ROCHA, 1984, p.7).
EXERCÍCIOS
1. Pesquise e discuta com seus colegas termos que contenham prefixos
e sufixos gregos e latinos de interesse da área de saúde.
2. Faça uma leitura de um dos seus portfólios produzidos na disciplina
Atenção Integral à Saúde. Observe como se dá a construção do pa-
ciente no texto e a perspectiva por você assumida diante da relação
médico-paciente. Em seguida, compartilhe suas observações com os
demais colegas de sala de aula.
3. Elenque 10 elementos ou condutas que poderiam garantir uma boa
comunicação na relação médico-paciente.
SUGESTÃO DE LEITURAS
CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. O trabalho do antropólogo. Brasília:
Paralelo 15; São Paulo: Editora Unesp, 2006.
GEERTZ, Clifford. Estar lá, escrever aqui. São Paulo: Diálogo, v. 22, n. 3,
p. 58-63, 1989.
GREENHALGH, Trisha; HURWITZ, Brian. Narrative based medicine. Dia-
logue and discourse in clinical practice. London: BMJ Books, 1998.
KLEINMAN, Arthur. The illness narratives. Suffering, healing and human
condition. New York: Basic books, 1988.
MAYEROVICH, Benjamin. Dicionário médico Blakiston. 2. ed. São Paulo:
Andrei Editora, 2001.
RESENDE, Joffre Marcondes de. Linguagem Médica. 3. ed. Goiânia: AB,
2004.
ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1984.
Precisamos entender que a Medicina é exercida com prestígio secular que lhe é inerente
e, para que tenha continuidade, os médicos devem atentar para uma postura ética e moral
em atitudes intrínsecas à prática médica. Um dos pilares da Medicina é a retidão de conduta
dos profissionais que a exercem, razão pela qual todos os atos e documentos relativos ao
exercício da profissão são revestidos de credibilidade. O médico, ao expedir qualquer docu-
mento relacionado ao exercício da lex artis, deve observar os preceitos éticos.
Mas o que é um prontuário clínico? Podemos entender por prontuário clínico, ou
prontuário do paciente, como sendo o conjunto ou acervo documental padronizado,
organizado e conciso, na forma de documento único, constituído por informações, si-
nais e imagens registradas a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde
de um paciente e a assistência a ele prestada, que possibilita a comunicação entre os
membros da equipe multiprofissional de saúde e a continuidade da assistência presta-
da a um indivíduo.
Esse documento é útil para a análise da evolução da doença para fins estatísticos e
também como meio para a defesa do profissional, caso venha a ser responsabilizado por
algum resultado indesejado ou atípico. Se perguntarmos: A quem pertence o prontuário?
Ora, como é sabido, os dados do prontuário pertencem ao paciente, mas a guarda, ou
posse, pertencem ao médico, no caso de prontuários de consultório médicos e a institui-
ção de saúde nos demais casos, que tem o direito de guarda.
Não existe nenhum dispositivo ético ou jurídico que determine ao médico ou diretor
clínico de uma instituição de saúde entregar os originais do prontuário, a quem quer que
seja. Afirmamos que o prontuário clínico é de propriedade do paciente de forma perma-
nente e quaisquer informações que possam ser objeto da necessidade social ou de outro
profissional que venha a tê-lo, dentro do interesse que a informação mereça. O direito de
guarda será sempre do médico e da instituição.
O Código de Ética Médica caracteriza como infração ética revelar o conteúdo do
prontuário de paciente à pessoa que não possui o dever de guardar o segredo profissio-
nal. Em decorrência da necessidade de se manter o prontuário nas instituições, existe,
portanto, o dever de preservação dos documentos integrantes do prontuário em local
não acessível ao público.
Qualquer tratamento administrado ao paciente deve ser justificado pela observação
clínica e registrado no prontuário, o qual deve ser organizado de modo a permitir a fácil
leitura e interpretação por médicos e outros profissionais que o manuseiem e possibilite
a fácil interpretação por auditores e autoridades relacionadas ao controle da medicina.
posse e guarda. O médico perito tem inclusive o direito de examinar o paciente, para con-
frontar o descrito no prontuário, porém, em hipótese alguma pode retirar o prontuário
das dependências da instituição que o guarda. Os médicos legistas igualmente podem
compulsar o prontuário, especificamente para a coleta de resultados de exames com-
plementares. Pode também obter informações junto ao médico assistente, para melhor
desempenhar sua missão.
Nosso Código de Ética Médica sustenta que o médico não pode deixar de fornecer lau-
do circunstanciado do paciente quando de sua transferência ou encaminhamento para
fins de tratamento, ou alta, se solicitado. O fornecimento de tais documentos não se cons-
titui em mera cortesia ou favor, mas um direito que tem o paciente de solicitá-los, pois
isso é parte integrante do ato médico.
Quando um médico é chamado a depor, perante qualquer autoridade, pode quebrar o
sigilo, quando autorizado pelo paciente e, quando para sua própria defesa, pode revelar
dados, solicitando a autoridade que aquelas informações sejam mantidas em sigilo pro-
cessual. O segredo profissional deverá ser rigorosamente cumprido, mesmo após a morte
do paciente, inclusive com relação à família. Não nos esqueçamos que em um hospital
universitário de ensino, durante o período de uma internação hospitalar média de oito
dias, pelo menos setenta e cinco diferentes pessoas podem lidar com o prontuário de um
único paciente.
A utilização de registros de atendimentos, através de imagens, áudio e vídeo, deve ser ex-
pressamente autorizado pelos pacientes. As gravações devem ter sua finalidade previamen-
te estabelecida, inclusive com a indicação do destino a ser dado ao material após esse uso
(autorização para uso de imagem semelhante a um Termo de Consentimento Informado).
Durante a execução de projetos de pesquisa, devem ser mantidas todas as propostas
contidas no mesmo, ou seja, a não identificação dos indivíduos pesquisados, a preserva-
ção de suas imagens e o uso específico para a finalidade do projeto. Na divulgação, o im-
portante é a garantia de que todos os participantes pesquisados tiveram suas identidades
preservadas na íntegra. Reforçamos a informação de que um prontuário corretamente
preenchido é, e efetivamente tem sido, a principal peça de defesa do médico nos casos de
denúncias por mal atendimento com indícios de imperícia, imprudência ou negligência,
ou na presunção da existência de erro médico.
A confidencialidade pressupõe que o paciente revele informações diretamente ao mé-
dico, que passa a ser o responsável pela preservação dos mesmos. Confidencialidade tem
origem na palavra confiança, que é a base para um bom vínculo terapêutico e não é uma
prerrogativa dos pacientes adultos, pois se aplica a todas as faixas etárias. Não tenhamos
receio nem preguiça de escrever e registrar todas a s informações pertinentes ao nosso
paciente e recordemos um provérbio chinês que afirma: “Mais vale uma pálida tinta que
uma boa memória”.
SUGESTÃO DE LEITURAS
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA. Conselho Federal de Medicina. Resolução
CFM nº 1.931, de 17 de setembro de 2009. Brasília: Conselho Federal de
Medicina, 2010.
MEIRA, Afonso Renato. Código de ética Médica: comparações e refle-
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DANTAS, Eduardo. Comentários ao Código de Ética Médica. 2. ed. Rio de
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FRANÇA, Genival Veloso de. Direito Médico. 11. ed. Rio de Janeiro: Editora
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KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade Civil do Médico. 7. ed. São Pau-
lo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.
11 PRÁTICA: SIMULAÇÃO
Objetivos da simulação:
Estimular e treinar o aluno na coleta da identificação e queixa principal.
Objetivos da simulação:
Estimular e treinar o aluno na coleta da história da doença atual.
Objetivos da simulação:
Estimular e treinar o aluno na coleta dos antecedentes pessoais fisiológicos, patológi-
cos e familiares.
Objetivos da simulação:
Estimular e treinar o aluno na coleta dos Hábitos de vida e Condições socioeconômicas
e culturais.
Objetivos da simulação:
Estimular e treinar o aluno na coleta da anamnese completa, isso é, considerando to-
das as etapas.
7 Número de cigarros fumados por dia x tempo de tabagismo em anos e divida por 20. Se o cigarro for artesanal, usar
seguinte proporção: 6 cigarros artesanais correspondem a 20 cigarros industrializados.
8 O dualismo mente-corpo, mente-matéria, ou espírito-corpo tornou possível o estudo do corpo humano morto, o que
era impensável nos séculos anteriores, já que o corpo era considerado sagrado pela Igreja, por ser sede da alma.
Um outro lado dessa discussão diz respeito à advertência de Galileu: devemos deixar
de ler os livros para ler o mundo. Isso implicava em partir da observação dos fatos para se
chegar a uma lei geral. Desse modo, Galileu (LAKATOS, 1986, p. 43) introduz no método
indutivo a ideia de experimentação, estruturada em função dos seguintes passos:
1. observação dos fenômenos;
2. análise dos elementos constitutivos desses fenômenos;
3. indução de certo número de hipóteses;
4. verificação das hipóteses por intermédio dos experimentos;
5. generalização do resultado das experiências para casos similares;
6. estabelecimentos de Leis Gerais.
Para Bacon (apud LAKATOS, 1986, p. 43), o método científico contempla os seguin-
tes passos:
1. a experimentação (caracterizada pela observação, coleta de dados e realização de
experimentos);
2. formulação de hipóteses (com base nos experimentos realizados);
3. repetição dos experimentos (com finalidade de acumular dados e melhor formular
as hipóteses);
4. teste de hipóteses;
5. formulação de generalizações e leis.
veis para extrair delas consequências, de modo a obter uma nova informação ou base
para uma nova decisão. Assim, argumentar é raciocinar e uma vez que o raciocínio acon-
tece, ele se torna um processo mental, no caso, um pensamento. Para Jenicek & Hitchcok
(2005, p. 18), “o raciocínio é o pensamento iluminado pela lógica”. (tradução nossa)
Vejamos um exemplo citado por Jenicek & Hitchcok (2005, p. 29):
Premissa A (p1): Todo cirurgião é médico. [Considere cirurgião-médico]
Premissa B (p2): Pedro é cirurgião.
Conclusão (c): Então, Pedro é médico.
Analisemos esse exemplo. Você dispõe da informação de que todo cirurgião é médico.
Sabe que Pedro é cirurgião (isso está escrito em seu cartão de visita ou você se encontrou
com ele operando na sala de cirurgia). Mesmo que você não tenha visto o diploma de
medicina de Pedro, ou visto seu CRM, com certeza, você sabe que ele é médico. Essa nova
informação decorre das informações que você tinha anteriormente. Você raciocinou ou
argumentou para saber que Pedro é médico sem perguntar a ninguém sobre isso.
Desde antigamente, Aristóteles sabia que as pessoas raciocinam e argumentam, mas
escreveu Tópicos para “encontrar um método de investigação, graças ao qual possamos
raciocinar [...] sobre qualquer problema que nos seja proposto” (ARISTÓTELES, 100a 18 –
20) e atender a três fins: “o adestramento do intelecto, as disputas casuais e as ciências fi-
losóficas” (idem, 101a 25). Lembre-se que “ciências filosóficas” significa na antiguidade to-
das as ciências e práticas, isso inclui, não só a física e a biologia, mas também a medicina.
Então, veja como fica claro: você precisa conhecer alguma coisa sobre argumentos e
formas de argumentar para melhorar suas condições intelectuais e se tornar mais capaz
de discutir com seus pares e fazer toda a ciência e arte necessárias ao exercício da medici-
na. Além disso, como bem afirmam Rubinelli & Schultz (2006), Jenicek & Hitchcok (2005),
o conhecimento das condições lógicas e ontológicas de construção dos argumentos me-
lhora o processo de tomada de decisão.
Contemporaneamente, a medicina (uma amálgama formada por arte e ciência) é vista
como medicina baseada em evidências., isto é, os fatos que são fundamentais à constru-
ção e validação da ciência geram a evidência que a prática médica necessita para decidir
sobre diagnósticos, tratamentos e prognósticos. Como a evidência é usada no raciocínio
médico? – Como informação disponível, usada na obtenção de novas informações (con-
clusão) através de raciocínios e argumentos.
As principais formas de raciocinar ou argumentar9 são: dedução, indução e abdução.
9 Segundo Cruz e Moura (2004, p. 11), o argumento é a expressão do pensamento inferencial ou o raciocínio em alguma
linguagem. Sendo o raciocínio formado por juízos e o argumento formado por sentenças.
12.1.1 Dedução
No raciocínio ou na argumentação dedutivamente válida, a conclusão necessaria-
mente (sem exceção) segue do conjunto de premissas verdadeiras. Portanto, uma de-
dução válida depende da forma do argumento, não do seu conteúdo. Examine o clás-
sico argumento:
Argumento n.º1:
p1: Todo homem é mortal.
p2: Pedro é um homem.
c: Logo, Pedro é mortal.
Você concorda que não temos muitas dúvidas que a conclusão (C) está adequadamen-
te justificada pelas premissas (p1 e p2)? Enfim, pensemos na teoria matemática de conjun-
tos. A premissa p2 afirma que Pedro é um elemento do conjunto dos homens. A premissa
p1, afirma que que todo elemento do conjunto dos homens é elemento do conjunto dos
mortais. Veja como fica claro o que afirma c: Pedro é elemento do conjunto dos mortais.
Esse argumento válido pode ser escrito na seguinte notação lógica:
p1: Todo H é M.
p2: p é um H.
c: Logo, p é M.
É essa forma que faz esse argumento ser um argumento válido e não suas premissas
serem verdadeiras. Quando as premissas são verdadeiras, a conclusão é, necessariamente,
verdadeira. Contudo, um argumento pode ser válido mesmo que suas premissas e con-
clusão sejam falsas.
12.1.2 Indução
Os argumentos e explicações indutivos são tão antigos quanto os dedutivos. Apare-
cem já nos textos de Aristóteles como “argumentação por exemplificação”, “argumen-
tação por enumeração (completa)” e outros. Mas quando e em quais circunstâncias se
utiliza a indução? Você usa indução em diferentes situações: quando dá conselho, quando
faz recomendação; quando indica um restaurante, uma oficina de carro, um cabeleireiro;
quando escolhe um produto que viu outros consumindo etc.
As formas de argumento indutivos mais usadas são: a indução por enumeração, a indu-
ção por eliminação e a indução por analogia.
Um raciocínio/argumento indutivo muito utilizado é o argumento por enumeração. A
forma mais comum dele é o que leva a generalizações a partir de amostras observadas.
Você já ouviu falar em pesquisa eleitoral, controle de qualidade, IBOPE e coisas tais. Quan-
do um instituto de pesquisa diz que, se a eleição fosse hoje, o candidato X seria eleito com
60% dos votos, você pensa que esse instituto entrevistou o eleitorado todo para saber a
opinião dos votantes? Claro que não. Você sabe que umas tantas pessoas foram ouvidas,
a amostra, e os resultados dessa enquete foram generalizados para todo o eleitorado. Da
mesma maneira aqueles que ficam controlando o resultado de um processo produtivo
qualquer não examinam todos os produtos, mas apenas uma amostra deles, ou o IBOPE,
que ouve alguns telespectadores.
Observe como isso é comum e como todos têm confiança que o resultado desse ar-
gumento (a conclusão) é muito provavelmente verdadeiro, quando as premissas são ver-
dadeiras. É claro que se a amostra que você examinou é muito pequena, em relação ao
universo considerado, ou a amostra não é representativa do universo, o argumento por
enumeração fica mais fraco, isto é, a probabilidade de a conclusão ser verdadeira diminui.
Procure informação adicional sobre isso. As tabelas que estabelecem a normalidade
de resultados de exames ou as faixas de variação possível dos valores de um exame são,
em geral, montadas a partir de amostras, aquela amostra que foi utilizada pelos pesqui-
sadores para estabelecer os exames ou a validade dos resultados de testes. Pergunte-se
porque sua taxa de glicose, seu colesterol, seu hormônio tal ou qual deve apresentar valor
entre x e y para ser normal.
O raciocínio ou o argumento por eliminação explicita todas as hipóteses e busca es-
tabelecer as relações entre o condicionante e o fenômeno, portanto, relações de causas.
Segundo Cruz e Moura (2004, p. 20), para decidir qual delas estabelece relação causal,
adotam-se dois princípios básicos de eliminação:
1. Uma condição necessária de um fenômeno não pode estar ausente quando o fenô-
meno está presente;
2. Uma condição suficiente de um fenômeno não pode estar presente quando o fenô-
meno está ausente.
Lembre-se: esses argumentos são chamados indutivos, a conclusão deles é provavel-
mente verdadeira. Por isso mesmo, muitas vezes eles são chamados de ampliativos, uma
vez que a conclusão diz mais do que está informado nas premissas. Isso nos conduz a
alguns problemas que iremos discutir em tempo apropriado.
Por fim, o argumento indutivo por analogia, também conhecido como raciocínio por
semelhanças, é uma forma de argumento que deixa bem claro que o que é semelhante
12.1.3 Abdução
A abdução aqui não tem nada a ver com a imaginação ou declarações sobre levar hu-
manos em naves extraterrestres para os anéis de saturno. No raciocínio abdutivo, o que
está em discussão não é aquela relação entre premissas e conclusões verdadeiras dos
argumentos dedutivos e indutivos, mas antes uma relação de causalidade.
Vejamos como Pierce, CP 5.189 (2017, p. 3794), apresenta uma estrutura correspondente
a uma abdução:
EXERCÍCIO
1. Qual a distinção fundamental entre dedução, indução e abdução?
2. Quais os principais tipos de indução?
3. Qual a diferença entre verdade e validade?
4. Elabore pelo menos dois exemplos de argumentos dedutivo, indutivo
e abdutivo.
SUGESTÃO DE LEITURAS
BACON, Francis. Novum organum. Oxford: Clarendon press, 1878.
CRUZ, Ângela Paiva; MOURA, José Eduardo. A lógica na construção dos
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PEIRCE, Charles Sanders. [CP]. Collected Papers of Charles Sanders
13 MÉTODO CLÍNICO
O método clínico diz respeito ao modo de elaboração do raciocínio e tomada de de-
cisão clínica. Ao fazer um breve levantamento sobre o assunto, nos deparamos com uma
literatura bastante vasta e que obedece a diferentes paradigmas (HIGGS, 2000, p. 156): o
paradigma empírico-analítico (que dá ênfase às relações de causa-efeito), o paradigma
interpretativo (de base hermenêutica, que valoriza o significado e o sentido das coisas) e
o paradigma crítico (de natureza emancipatória, capaz de transformar estruturas e rela-
ções).
Segundo Rea-Neto (1998), um dos elementos fundamentais do raciocínio clínico é o
método hipotético-dedutivo definido pelo paradigma empírico-analítico. Mas o que é o
método hipotético-dedutivo?
Minha resposta a esta objeção é que minha principal razão para rejeitar a
lógica indutiva é precisamente que ela não proporciona um traço discrimina-
dor apropriado do caráter empírico, não metafísico, de um sistema teórico;
ou, em outras palavras, que ela não proporciona um “critério de demarcação”
apropriado.
Depois disso, Popper faz uma apresentação rápida e uma crítica das formas positivistas
Problema
Hipótese
Testagem de hipótese
Essa visão da ciência tem sido muito criticada e foi suplantada por outras formulações
que privilegiam a função crítica da comunidade científica e a persistência de teorias e
modos de investigação como fontes de novos conhecimentos sob a ciência paradigmáti-
ca. Contudo, na medicina contemporânea, o método hipotético-dedutivo é reconhecido
como um dos processos cognitivos fundamentais para a elaboração do raciocínio clínico.
Por isso, vale a pena estudá-lo.
SUGESTÃO DE LEITURAS
HEMPEL, Carl Gustav. Filosofia da Ciência Natural. Rio de Janeiro: Zahar,
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Acesso: 02 Feb. 2017.
14 COMUNICAÇÃO ENTRE O
MÉDICO-COM-SEUS-PARES
A comunicação do médico-com-seus-pares pode ser definida como a comunicação
verbal ou escrita entre profissionais de saúde. A comunicação normalmente envolve troca
de pontos de vista sobre o caso. Quem nunca ficou empolgado com as fervorosas discus-
sões entre a equipe de saúde do seriado Dr. House? Vários elementos estão envolvidos:
riscos, diagnósticos, tratamentos e prognósticos.
A comunicação na equipe deve ser a mais objetiva e clara possível. Deve-se valer de
evidências científicas. Uma provável discussão deve mencionar estudos que incluam re-
visões sistemáticas, metanálises, ensaios clínicos randomizados, estudos coorte e/ou ca-
so-controle.
Um outro cuidado que você deve ter é o de respeitar o colega mesmo numa situa-
ção de uma discussão calorosa. Você não deve assumir o modelo de médico arrogante
e insensível de Dr. House. É preciso estar aberto ao debate, ao confronto. Lembre-se que
a ciência só avança se houver o embate de ideias. Uma postura dogmática implica em
prejuízo científico. Além disso, se sua hipótese diagnóstica resistir ao debate, significa que
ela é a resposta mais plausível para o problema.
Dr. Jorge:
– É uma hipótese, sim, Fernando. Mas lembre-se que para se pensar e fechar o diag-
nóstico dessa síndrome, é preciso excluir todas as causas orgânicas. A síndrome do
intestino irritável é diagnóstico de exclusão. Ao meu ver, intoxicação alimentar é
uma melhor hipótese diagnóstica para o caso, já que há uma relação entre a alimen-
tação da paciente (relata ingestão de picado) e os episódios de diarreia.
Dr. Fernando:
– Bem pensado, Jorge. Parasitose intestinal é outra causa muito comum que desen-
cadeia quadros semelhantes, principalmente para esse caso em específico, já que a
paciente relata não haver saneamento básico em seu bairro.
Dr. Jorge:
– Pode realmente haver uma associação com uma parasitose intestinal. Infelizmente,
nosso país ainda vive essa realidade, demonstrando o quão pouco eficiente é o seu
sistema sanitário. Grande parcela da população ainda vive em condições precárias e
expostas a doenças que poderiam ser evitadas através de um simples saneamento
básico.
Dr. Fernando:
– Triste realidade, Jorge. Vamos investigar melhor as causas da diarreia para decidir-
mos diagnóstico e a conduta mais adequada.
Como você pode perceber, no diálogo acima entre os dois médicos, o Dr. Fernando
solicitou a opinião do seu colega Dr. Jorge, que discordou de sua opinião, justificando os
motivos que o fizeram pensar em outras hipóteses diagnósticas. No entanto, Dr. Jorge fez
suas considerações de forma cuidadosa e elegante. Não descartou totalmente a hipótese
do colega, supondo haver uma associação de patologias corroborando a ocorrência das
queixas apresentadas pela paciente, pautando sua argumentação em dados clínicos e
epidemiológicos, relevantes ao caso. A postura do profissional foi ética e respeitosa com seu
colega que, não se sentindo agredido ou desrespeitado, prontamente, acatou a opinião do
facultativo, acrescentando algumas hipóteses à sua estratégia heurística rumo à descoberta
do diagnóstico de sua paciente, para, enfim, eleger a melhor opção terapêutica.
EXERCÍCIOS
a) Leia o caso clínico abaixo. Em seguida, responda as questões:
JPSS, sexo masculino, 2 anos, natural de Gov. Dix-Sept-Rosado-RN e
procedente de Mossoró/RN. Foi admitido na enfermaria pediátrica do
Hospital Giselda Trigueiro, em 13 de janeiro de 2012, com história de
febre contínua de moderada intensidade que se iniciara há 05 dias,
acompanhada de tosse produtiva e rinorreia purulenta. Nas últimas
24 horas, apresentou episódio convulsivo generalizado tônico-clônico.
Foi diagnosticado com pneumonia e iniciada antibioticoterapia. Ha-
via relato outras duas internações prévias por pneumonias, sendo a
última há menos de 06 meses com alta hospitalar há 03 meses. A
despeito do uso do Imipenem, mantinha-se com bastante secreção
no 7º dia de internação, apresentando, inclusive cianose central com
queda da saturação e necessidade de uso de suporte de oxigênio,
devido o desconforto respiratório. No 8º dia de internação, necessitou
realizar entubação oro-traqueal e foi instalada ventilação mecânica,
sendo, então transferido para a Unidade de Terapia Intensiva. Evoluiu
com piora do quadro, progredindo para choque séptico seguido de
insuficiência renal aguda, sendo, então, submetido a hemodiálise. Foi
iniciada Linezolida com melhora clínica e radiológica importante 48
horas após. Os exames de cultura do sangue (hemoculturas) e cul-
tura de ponta de cateter foram positivos para Enterococcus faecium
resistente à vancomicina. O menor permaneceu entubado sob ven-
tilação mecânica por aproximadamente 15 dias, além de ter perma-
necido com cateter intravascular central por dificuldade de acesso
periférico. Evoluiu com negativação da cultura de corrente sanguínea
após sete dias do início do tratamento. Recebeu alta hospitalar após
45 dias da internação.
SUGESTÃO DE LEITURAS
OLIVEIRA, Ana Maria de; LEMES, André Moreira; MACHADO, Carolina
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TEIXEIRA, José A. Carvalho. Comunicação em saúde: relação técnicos
de saúde–utentes. Análise Psicológica, p. 615-620, 2004.
15 PRÁTICA: SIMULAÇÃO
Objetivos da simulação:
Simular uma discussão do caso clínico numa sala de apoio matricial com uma equipe
multiprofissional.
Objetivos da simulação:
Simular uma discussão do caso clínico com uma equipe médica.
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