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_J ítulo~

as_ origens

D csc1c os começos. nas manifestações mais primárias e.


elementares, a História tem tido sempre uma função social - geral-
mente a de legitimar a ordem estabelecida-, ainda que tenha tendi-
do a mascará-Ia. apresentando-se com a aparência de uma nanação
objetiva de acontecimentos concretos. O próprio corpo de ,tmdi-
ções oiais das sociedades que nio conhecem a C5crita, tem sido ela-
borado para justificar e transmitir o que se· considen. importante
para a sua C:Ítabilidade.Todos os cl.cmcatos deita ttadição - gmealo-
gi:as, poemas, fórmulas riCuais, provérbios, etc. - têm uma finalidade
dccerminada e, reciprocam.ente, "cada instituição e cada grupo so-
cial possuem uma identidade própria.que se acompanha de um pas-
sado inscrito nas representações coletivas de uma ua.diçio que os
explica e justifica•. Nada pode parecer mais objetivo que uma ge-
nealogia, porém, nas sociedades pastoris as genealogias servem pua
legitimar direitos sobre a tem e Podem modificar-se, quando se mó-
dificam as necessidades a que respondem..'
Tumbén as representações .figuradas nos monumentos públi-
cos guardam objetiV05 semelhao.tcs. Os relevos do Egito fiuaõnico
ou as pinrutas maias não só estav:am datimdos a pCipctuar a me-
mória dos sobennos, como também ~ uma função didática: a
de recoroar os fu?damcntos religiosos e pmfimos do sistcmà social
vigente, tlill como deviam aplicá-los vcrbalmcntc os sacerdotes.As
cenas de triunfos militares, em que nunca !alta a representação dos
mortos e dos vencidos, serviam de advertência de que qualquer in-
tento de subverter a· ordem cstabalecida seria reprimida duram.en-
te, mnto se procedesse de inimigos de for.a como de <lissidentcs de
-dentro.Noutro ~do, a colocação no forum romano de uma sc!ri.C
· de está~ de·grandes homens. ordenadas numa seqüencia tempo-
Jal, pretendia moscn.r a continuidade da história de Roma desde
Enéias até Augusto ou, o que dã. no mcsmo,sugcrir que a política de
Augusto era a culminação "natural~ de toda uma evolução bistória, _
capitulo l

enquanto que a coluna Trajana, erigida para comemorar as guerras


dácias, tem podido ser qualificada como um qdocumcnto político• _J
·os· inícios da história escrita estão ligados à justificação do
Estudo monárquico, pelo duplo processo de assinalar sua origem
sagrada e de identificá-lo com Opovo. Os mais antigos catos hislt>
ricos conhecidos si.o as listas de rejs, como as que os saccidotcs su-
m&ios guanlavam nos templos, onde se contava como a realeza
descendeu dos céus, no começo, de wna etapa de ICi.s divinos, se-
guida por outn de monarcas sobre-humanos - como esse Gilga-
mesh, quinto rei da dinastia de Uruk, cujas façanhas os poetas per-
petuaram - até entrelaçar-se coai os sobctanos coctineos. O mito se
fundia assim com a história e completava a gcó.ealogia do Estado
monirquico: associava aos ICi.s as divinc1adcs, reforçava o prestígio
da casta sacCldotal e contribuía pata explicar as fonnas de organi-'
zação do presente. Obscrve-.se,por exemplo, que o mito do dilúvio
se encontn originariamente cm diversas sociedades que comparti-
lham o fato de basear sua economia na regulamentação social do
aproveitamento dos rios: o caos do dilúvio, sugerido ou não por
inundações históricas, aiava um contnponto que fazia iasaltar OS
bcncúdos do atado hidráulico. Como na Mesopotâmia, no Egito~
mais antigos docwnentos históricos si.o listas de reis, como a pedra
de Palenno, que data de uns 4.500 anos, e que contém além disso
uma relação de acontecimentos importantes, como a altwa alcança-
da anualmente pela inundação do Nilo.-• · ·
Costuma-se pensar que entre estas formas primitivas de ex-
ploração do passado - que não occl.uem, cómo se vê, uma sclcção e
ordenação dos fatos, destinadas a apoiar uma inteJpretação do pre-
sente - e as grandes obras históricas da Grécia clissica haja um sal-
to no vazio: que a História, tal como a entendemos hoje.foi inventa-
da pelos gregos no. século V antes da nossa era. Porém, !USim com9
nos consta que os sac:erdotcS maias liam nos hieróglifos muito mais
do que hoje podemos deduzir de seu significado estrito e literal, há
motiV05 para suspeitar que este coipo de •nanaçõcs e crônicas, ins-
crições de conteúdo histórico, compilações de oriculos e profecias,
e listas de reis", que .forma a putc conservada da historiografia egíp-
cia ou m.csopocimic:a, poderia servir de base a um saber mais am-
plo, tn.nsmitido oralmente pelos escribas e sacerdotes. Heródoto
nos disse, por exemplo, que os sac:Cldotcs egípcios •enumer.mun
segundo seus papiros os nomes de outros trezentos reis" depois de
Menés. Poiém acrescenta que wnbém se aplicavam de maneira
as origens

muito unifonnc no rckccntc "às coisas hqmanas", e podem muito


bem ter sido Cst1lS icfle:xõcs as que inspiraram a parte do seu texto
cm que se cntrclaçam as formas de organização social, a regulação
do entorno .físico e a sucessão das dinastias a partir de Mcnés, cm
cujo tempo o F,gito era wn ''tcneno pantanoso" e ele mandou scc.ar '- ·
as tcrnLs alaga.das pelo rio, fundou Mênfis sobre elas e mandou es-
cavar wn lago junto ~ cidade.• Se é licito pensar que o .saber histó-
rico deste& povos pode ter ido mais além do que revelam hoje os •
tcstcmuohos arqueológicos. resulta pla~vcl supor que puderam.
Influir ncs1t terreno sobre os gregos, como o fizeram cm tantos ou-
tros da ciCllcia e da arte.~
Um consenso quase universal faz a hLstoriografia grega _nas-
cer com os •1ogógrafosn d.a Ásia Menor, que tinham recolhido '- ln-
formação dos manuais cm que os .mar:inhciros anomwm. os po'nos
e povos das c.osta.S mcditcrrincas, com observações sobre seus cos-
tumes e sobre a história. local.A mesma palavra "hist6rian deriva de
um verbo que significa "aploI31', descobrir", o q~ viria a corrc!-
pondcr ao fato de que a primitiva historiografia grega cta, antes de
tudo, uma exposição de "descobrimentos" sobre tcms e povos es-
tranhos.A figura mais destacada entre estes logógrafos é a de Hcca-
tcu de Mileto (c. 500AC.), cujas obras se referem à descrição da tcl'-
ra e à história, e de qucn;i. se destaca a "90l1tadc expressa de analisar
.racional:mcntc os mitos do passado, "porque as tradições dos gregos
são contraditórias e, cm minha opinião,ridículas", se bem que ê acu-
sado de ter querido fazê.lo com a simples apliação do senso co-

1 • N"'ao lui que e s ~ que os sacudoteS comp.(Cenclesscm pclfeitame.a~


as "coisa.s humanas", além das divinas, se cemos em. coDta que no Egito o
controle dos &J5tcma5 de m:igação paJea: ta« organizado localmente,
com a participação tios templos. a quem tfflll comspon<lido arbitrar os
conflitos que surgis5c:m, na aplicação de uma ordeuação consuetudiniria
aio escrita, do uso das águas, e que p:ova-relmeDte tenh:tm ddo também
uma importaDl:Í55ima função redistributiva,~ paraiiw:r freme às
iDccctcza5 provocadas pelas Yariações no TO!ume das c:bew do Nilo, que
podiam criardiliculdDdcs no mtcma de ilripção,quando enm accs&iws,
e Come, quando ei:a.m iDsullcicDl:cs. Observe-se, elltR:l"Ulto, que os sacerdo-
tes tlatlm de lig:u-a origem do co.atro1c das águas à figura do primeira so-
benoo, Mená;, o que puecc falsa, e l: provivc:1. que eles soube!ssem que o
era, pORDJ. cumplia a finalidade de lcprimar uma mormquia sagmda e,
com iao, toda uma estrurUl3. poü"tic:a e sodal,m. qual ç.s ptóprios sacctdo-
ta acupawm. uma pollçâa p1iYilcgiada (.Karl W. Bu~ Eady H'ydr,a.ulic
Cl•llizatlan ia .Egypt. A Study 1D CUltwal Ecology, Chicago UniYemty
Pias, Chicago, 1976, pp.107-108 J passim).
capitwo.1 _____ _

mum - limitando-se a escolher o mais verossi'.mil-, o que o teria con-


duzido. ao .fracásso ..Auis de Hecatcu viria o grande salto adiante rc-
prcscn~o por dois homens., Heródoto e Tucídides, com quem a
historiografia grcga chegaria ao seu ãpice e, por sua vez, se esgota-
ria, para entrar numa larga decadência de "muitos séculos de quan-
tidade sem qualidadcn.1
Esta visão culturalista tem sido enriquecida por François Chi-
tdct, que insistiu na estreita relação que existe entre este floresci-
mento da História e o aparecimento ele uma nova consciência poU:-
tica, e, sobretudo, por Santo Mazzarino, que expôs uma visão reno-
vadora das origens da historiografia grega, que se entrelaça com ns
mudanças ocorridas na sociedade helênica entre 650 e 550 aC.Ao
mesmo tempo em que se difundia uma economia monetária, no in-
terior de algumas cidades-estado, ocorria uma ruptura do equilíbrio
existente, cm prejuízo da velha aristocracia fundiária e cm favor dos
seto«s ma.is ligados à atividade marítima e ao comércio. Isto moti-
vou uma série de mudanças políticas, que se dirigiram inicialmente
contra os reis, paca dar lugar à.s tiranias, e, fi:halm.ente, às revoluções,
que penniti.ram. aparecer regimes democráticos controlados pela
nova aristocracia, como aconteceu em Atenas, ao redor do ano 600
AC. Estas modificações foram acompanhadas de mudanças religio-
sas, que podem exemplificar-se com o odismo, e que significaram a
introdução de motivos ligados a idéias de purificação e às cosmogo-
nias orientais. Do impulso dado pelos poetas e pdos esc~ores pro-
féticos nasceu a tendência a revisar Criticamente os mitos gregos,
que encontramos cm Hecateu ou em Heródoto. Da fusão de revolu-
ção política e mudanças religiosas surgiu a inteipretação histórica
da idade cÍássica: uma interpretação aristocrática, porém favorável à
democracia e hostil aos velhos mitos cm que se assentava a socie-
dade da realeza e da oligarquia. 6
O primeiro dos grandes historiadores da fpoca clãssica é He-
ródoto de Halicamasso (c. 485 • c. 424 aC.), que continua os logó-
gcafos e combina os conhecimentos recebidos deles com os adqui-
ridos pessoalmente cm suas viagens, que lhe permitiram conversar
com os escribas persas e os sacerdotes egípcios. Pela primeid. vez,
o historiador não se contenta em nanar, assinala as causas dos acon-
tecimentos e bwca o sentido profundo da evolução histórica. Ain-
da que siga mantendo uma caUS2lidade "divina" para aqueles acon-
tecimentos que parecem sobrenatuan.is, propõe antes de tudo ex- _
plicaçõcs •humanas e laicas,e,em puticular,políticas". Convém dcs-
as origens

tacar também o fato de que se at[CVCU a construir uma história •Wli-


vcrsal", quc não só se ocupava dos gregos, como também de outros
povos, e que fom capaz de obter um rico caudal de notícias sobre
estes.A investigação histórica contemporânea cem reivindicado o
valor das informações que nos oferece, contm as acusações tradicio-
nais, de que era wn narrador crédulo e pouco vcraz. Contra a habi-
tual valorização acadêmica, que faz dele um predecessor e de Tucí-
dides, o autêntico mcsuc, hoje tende-se a destacar cm Heródoto,·
não só a amplitude de uma concepção, que leva a incluir na história
a totalidade da atividade hwnana, sua preocupação antropológica e
a curiosidade e interesse que mostrou pelos aspectos econômicos
e sociais.Assim como, principalmcn.tc, o fato de que rclacion&Ia to-
dos estes dados, com o fim de buscar uma explicação pam determi-
nados acontecimentos, o que faz com que, nas palavras de Momi-
gliano, possa considerar-se que foi Heródoto quem "converteu
numa regra que os historiadores explicassem os acontecimentos
que contavam".'
Tucídides (c. 460 - c. 400 aC.), político frustrado por um fra-
casso militar que o obrigou a macchar ao cxllio, dedicou-se a inves-
tigar "as férreas leis que regulam o predomínio entre os estados e
a intapretar com dura frieza o mundo político que havia destroça-
do sua. vida•. Estudou a guemi do Peloponeso,porquc estava con-
vencido de que se tratava da maior da história e que era de conhe-
cimento mais seguro que as antigas - "os acontecimentos anterio-
res a estes, e os ainda mais antigos, resultou-me impossível, na ver-
dade, conhecê-los exatamente, devido ao longo tempo transcorri-
do, porém, a julgar pelos indícios cm que tenho con.6ança quando
olho o mais longe possível, não acredito que foram de importân-
cia, nem quanto às gucms nem quanto ao resto" -, porém também
porque acreditava que um estudo exato do passado servia para
descobrir as regras com que mover-se no presente - •conformar-
mc-ia com que quantos queiram inteirar-se da verdade do sucedi-
do e da verdade das coisas, que alguma vez tenham de ser iguais ou
semelhantes segundo a lei dos acontecimentos humanos, a jul-
guem útil". DeTucididcs tem-se valorizado solxcrudo seu ali de do-
cumentação exata, apregoado por ele mesmo - "quanto aos acon-
tecimentos que tiveram lugar na guerra, não achei oportuno escre-
vê-los inteirando por qualquer um nem guiando-me por minha opi-
nião, somente relatei coisas nas que eu estive plCSCntc ou sobre
elas intelI'Oguei a outros com toda a exatidão possivel"-, o que não
capítulo 1

impede que, cm assuntos que o afetam pessoalmente, deforme de-


liberadamente os fatos. Elogia-se igualmente sua maior precisão
cronológica e o caráter mais laico - mais político - de suas interpre-
tações. Comparando esses dois pontos com Heródoto, explica-se
cm boa medida pela limitação, no espaço e no tempo, do tema tn.-
tado e por 5ua proximidade de participante direto. Cwta com-
preender, cm troca, que FIR.ley o elogie por "sua concentração na
guerra e na política com exdurio de todo o resto", ou que se che-
gue a falar da dmodernidade dcl'ucídidc5". Parece difícil qualificar
de "moderno" a um historiador que nos conta a fuga de vinte mil
escravos de Ateou como um incidente desafortunado, e mais.sem
expor u circun5tinciu do fato. Tucídides é, simplesmente, o cor-
respondente de Ranl«: e dos historiadores acadêmicos de qualquer
época, a que serve mais de justificativa que de modelo. De modo
que não deve surpreenclcr que o velho e ingênuo Heródoto come-
ce a parecer-nos mais próximo, nós que pensamos que a História
não pode reduzir-se ao relato dos fatos de governo e de guerra das
cla.55cs dominantes.K
A linha de análise da sociedade que encontramos nos gran-
des historiadores do século V aparece também cm boa parte dOS so-
fisais desces anos: cm homens como Protágoras (e. 490- c. 420),que
afirmava. que •o homem é a medida de todas as caias", como.Gor-
giu ou como Trasímaco, a quem Platão nos mostra, defendendo a
tese de que "a JustiÇa não é outra coilia que o interesse dos mais for-
ces•. Homens para quem as leis e os preceitos morais são um produ-
to da sociedade - e não dos deuses ou de alguma outra origem n.uts-
ccndcntc -, que desenvolvem uma concepção do progresso huma-
no, anugônica à visão religiosa dominante e que cultivam a retóri-
ca como uma arte indispensivcl paxa a vida política da democracia.
Pretendendo desqualificar o sofista, Platão fez o seu melhor elogio,
ao dizer que "não ensina outra coisa, seaão os mesmos princípios
que o vulgo expressa nas suas reuniões". Porque as preocupações
dos so&tas, a visão da história de Heródoto e de Tucídides, o teatro
de Sófocles e de Eurípides ou a medicina de Hipócrates, aspectos di-
versos do que Momigliano chama "a revolução intelectual do .sc!cu-
lo V", não só estão relacionados enttc si, por uma série de traços cul-
turais que lhes 5ão comuns, como também pelo fato de com:spon-
derem às fonnas de democracia que fizeram a grandeza da Atecas
de Péricles.~
as origens

Tudo isto mudou com a crise do século rv. A historiografia


decaiu, não porque fitltasscm figuras geniais ou porque se produzi-
ra uma •reação contra Tucídides", senão porque, nas lutas sociais
que tiveram por cenário principal Atenas, acabou predominando
uma tendência conservador.!, que propunha novos métodos de anã•
lisc da sociedade, para fundamentar a reconstrução da polis, já que,
os aplicados anteriormente tinham conduzido ao triunfo de tendên-
cias populaics e haviam lcv.tdo ao poder a uma nova classe de lide- •
rcs de origem bwgucsa. O fundamental desta mudança nos méto-
dos de análise consistiu cm separar da História a reflexão generali-
za.dom, convertendo-a na ci~cia política de Platão e Aristóteles.
Para a História propriamente dita ficou somente o estudo do parti-
cular, e assim acabou identificada com a poesia ou submetida à ação
de uma retórica decadente, par.a. engendrar a chamada "história trá-
gica•, cheia de fábulas e de acontecimentos man.vilhosos, ao gosto
do grande público, que se transformaria finalmente cm um gênero
literário sem nenhum ponto de contato com a rcflcxiio sobre aso-
ciedade. Se o impulso anterior conservou-se nos sofistas radicais ou
cm outras escolas, como a de Epicuro, é quase impossível sabê-lo,
devido à perda da maior parte de suas obras, que contrasta com
tudo o que se conservou de Platão e Aristóteles, o que nos parece
dever-se apenas ao acaso. Em todo caso, e par.a. o nosso propósito,
convirá agor.1. determo-nos um tanto nestes homcns,mais do que se-
guirmos alguns historiadores menores, que pouco contribuíram
par.a. a tarefa. de elabor.açio de um projeto social.'º
O pensamento político de Platão (427-347) e de Aristóteles
(384-322) • prescindiremos aqui da problemática dccifraçio daque-
le de Sócrates • coincidem na sua oposição à dcmoaacia ateniense
posterior a l'tricJ.cs• e cm propor formas de governo alternativas,
que se apresentam. como mistas • associando oligarquia e democra-
cia•, porém nas quais sempre prevalece uma minoria defensor.a de
princípios aristocratizantes. N"ao quer isto diZcr que sentiram repug-

1 • Poucas vezes terá se expi;cssado mais cloqiicntcmcntc o dcspiczo pela


democracia do que na RcpllblicL "Nasce, pois, a democracia, creio, quan-
do, tendo os pobres vencido, matam a alguns de seus contrários, destcn-am
a OUtrO.S e aos demais 05 fazem igUaJmen[C p:utici.pantcs do governo e dos
cargos".Ao lim, e "pOl" caun ela licença. que hí, e escraviza a democracia",
surge dcsra a tirania. "A demasiada libcrdadc,pa,:cce,pois, que não termina
cm outra coisa senão cm um excesso de escravidão, valendo o mesmo para
o particular que para a cidade"' (la República, 5571 e 563e e 564 a).

_2lf----
capitulo 1___ _

nância por formas mais autoritárias de governo, senão que as jul-


gavam menos. viáveis.A prova está em que, na pri.tica, ambos cola-
boruam com tuanos aspirantes ao papcl de reis-filósofos - Dionísio
de Siracusa e Hemtlas • e que Aristóteles acabou como amigo e co-
laborador dos ocupantes macedônios de Atenas, o que lhe custou
morrer no exílio. Ambos orientaram sua reflcxã.o na direção de uma
ciência política, que, na definição de Arlstóteles, deve aplicar
"quantas classes de constituição há,quais são os meios mais adequa-
dos para a sua manutenÇão e quais as causas, internas ou externas,
pclas quais cada fonna pode ser di:struída" - e o livro quinto da sua
Política, dedicado a estudar as caUS2S das revoluções em cada sis-
tema e os modos de preveni-las, faz dele um antecessor da social
history do século XX. No caso de Platão, a elaboração é menos si&-
temática e tem-se prestado aos mais estranhos equívocos. A Repú-
blica não é uma utopia socialista, como já se chegou a dizer, senão
uma proposta reacionária da sujeição da comunidade a uma classe
governante aristocrática. Os detalhes dessa proposta eram demasia-
do radicais para pe.r:mitir uma cômoda implantação, e o próprio fi-
lósofo mudou-os emAs Leis,onde se propõe uma nova estruturação
social, com uma comunidade dividida em proprietários fundiirios
que gm-emam e trabalhadores sem terra, que se aproxima. mais do
feudalismo que de um suposto comunismo.Aristóteles, por su;t vez
em troca, faz um projeto mais pragmãtico e se apóia nas realidades
existentes, cm especial na escravidão.• O primeiro núcleo da socie-
dade é a fiunília, integrada pelo marido e pela mulher, a.mo e escra-
vos (só os camponeses pobres substituem o escravo por um boi).
Acima da família está o povoado, ou associação de lamílias, e sobre
este, a polis, ou reunião de povoados. O sistema ideal de governo
para a polis é uma.forma mista- a poli teia ou timocra.cia,de cuja de-
generação surge a democracia- que se apresenta como uma mescla
de democracia e ol.igarquia,sem predomínio dos ricos nem dos po-
bres, mas o das pessoas de furtuna mediana. Porém o modelo é am-
bíguO, sem precedentes _históricos cm que exemplificá-lo, e o caso

• Ari&tôtcles racionaliu a escravidão com uma intcqnuaçio claramcmc ra-


ci5ta, que vem a fuer de sua Política uma cspttic de ·economia politk:a"
do esaavismo. O escravo • que, por dcfiDição. não é giego • difere de xu
amo •como um animal de um homem•, de modo que esta esplc:ie de ani-
mais iDCcriolCs "sio por natureza csaavo5 e é melhor para eles(...) que se-
jam governados por um dono•(Po!ítica, I, v, 8-9).
as origens

é que, na única vez cm que se tratou de pôr cm prática as idéias po-


líticas de Aristóteles, dur.tnte a ditadwa "ilustradan de Demétrio de
Falcro, entre 317 e 307, o resultado foi um regime opressor, de con-
seqüências nefastas paca as camadas mais humildes. De modo que,
os atenJcnscs, retomados à democracia cm 307, abolliam quase to-
das as reformas introduzidas naquclcs anos. 11 •

O que tem mais interesse com relação à teoria da história é a


concepção das formas de governo como etapas da evolução huma-
na.Para Platão,há cinco formas de governo: uma boa- que se chama-
rá rcino,se um só manda,ou aristocracia,quando são muitos- C qua-
tro riiás, que se escalonam. e sucedem através de algwJS processos
que nem sempre são claros - como nas complexas elucubrações nu-
méricas que pretendem ocplicar como do seio da forma aristocráti-
ca,a mais perfcita,pode swgira condenável timocracia,primciro dos
sistemas viciosos e degenerados. As quatro .fomtas más são: a timo-
aacia, identificada com o sistema de Creta e de Esparta, "tão exalta-
dá pelo vu1go•;a oliguquia, nrcgime cheio de inwnerávcis vícios•; a
democracia, da que já vimos que opinião ele tinha; e, finalmente, sur-
gindo como algo natural da evolução do regime democrático, a tira -
nia, •quarta e última enfermidade do estado".• ParaArlStótclcs, dife-
taitemente, há três pares de formas de governo, integrados por uma
variante boa. - quando predomiDa o interesse da comunidade - e ou-
tra má- quando se impõem os interesses dos que mandam.O primei-
ro par corresponde ao governo de um; sua variante boa é a realeza,
e a má, a timnia. O segundo, ao governo de Wllii poucos, ou dos ri-
cos, e nos dá a aristocracia, como forma boa, e a oliguquiJ., como
sua degeneração. O terceiro e último corresponde ao governo dos
demais e será wna politcia ou timoaacia - essa forma ideal de gov-
erno, que .em outruj:.ocasiões nos pinta como uma combinação de
oliga[quiae democracia- ou,em sua forma viciosa, wna democracia,
situação que se produz quando os pobres não só mandam, como
também impõem os seus interesses.'!

• Se aa República predomina a aaáli5c: comparada. das formas de governo,


nas Leis temos um esquema evolutivo, putiDdo de alguma catásuoíe na.ru-
ral, depois da qual os bomcns se cncooaam sem organização social algu-
lDll. Começam n:Wlindo-sc no:; mo.ota, formam clb, mais adiante agrupa-
ç6a de cl:is. que elegem alguns para que os governem, até que, tendo pro-
gredido suficicntemc.11tc, atreYCm-se a descer is planíci.a para fundar cida-
dcs (As Lcis, 676-682).
capitulo 1

DcstcS esquemas, que são ao mesmo tempo classificações e


propostaS um tanto vagas ele um sistema de etapas históricas.passa-
mos ao último dos grandes historiadores gregos que nos interessa
aqui• e que, como se verá, vincula-se diretamente com esta proble-
mática. Políbio (c. 200 - c. 125) escreveu sobre Roma e para os ro-
manos,ainda que o fizesse na língua grega. Quando, no ano 168 aC.,
os romanos venceram os macedõnios em Pidna, tomaram diversas
medidas para assegurar o controle da Grécia, entre elas, a de obri-
gar a LlgaAquéia a enviar mil jovens das classes dominantes pua vi-
ver na Itilia, como reféns que iriam passu ali dezessete anos da sua
vida. Um desces reféns era Políbio, que se destacaria como gcógla-
fo, historiador das conquistas ele Roma, educador de Cipião Emilia-
no e, inclusive, como agente a serviço ele alguns grupos scnatoriais.
Continuav:a. na Itália quando,no ano de 146,os romanos esmagar.un
a tentativa de rebelião dos gregos, e parece ter tr.acado de melhorar
a sorte dos derrotados. Sua condição ele cronista do imperialismo
romano visto ele dcntt0 • como amigo da aristocracia governante-,
porém com a experiência de um vencido, converte-o num testemu-
nho de valor considcri.vcl. Pela primeira vez, aliás, um historiador
podia ocupar-se ele um tema nunivc:rsaJn, sem a dispersão da obra de
Heródoto nem os limites do âmbito estudado porTucídides. Pob'bio
rccusav:a. a nhistória trágica•, porém não se contentava tampquco
com a erudição livresca. Devolvendo à História seu velho propósito
~ne.ralizador - rcinccgrando-lhc a ciência política destacada por Pla-
tão cA.riscótclcs - queria que oão só fosse investigação sobre o pas-

r ::::::1:oq:=~~:c~-==~::.,a=::
leçio que se opm atn.vés da perda dos livros de muitoS autOres, do.s qUiWi
não c011SCrvamos maiS que: os dtulos do que cscrcvcram. ou pcqucll05 frag-
menios, que llio pc:nnitcm formar dele; uma idéia adequada.• nc:m que te-
nham fe:i10 alguma co.alribulção miovadora para o pc:rummc:nco bislÓrico.
O único hist0riador do século IV AC. do qual nos chegou uma obra suficien-
te: foi Xenofonte:, "polígrafo• a quem se deve desde: um tratado de equitação,
11é liVIOS que Finlc:y qualiflc:a como Tllo5olia popular (num sentido pcjon.-
tivo)", e que se iornau fam050 pela. narração de suas própria5 façaDba.s na
An11buis - livi:o que atnbuiu a um ral de Tcmisiógcnc:s de: Siracusa, com o
fim de COJ'nar mais confiáveis 06 eloglo5 de .si mcffllQ que faz em suas pági-
nas - e: por sua contribuição à biografia de Sócrates. De sua Hc:Uenica, uma
história da Gtt:ci:i, de 411 11. 362AC., que p,etc:ndia ser algo como uma con-
tinuação de Tucídides, dcvc-sc miar numa história da historiografia, pOl' seu
valor como fome de notícias, poráa. não num livro como este.
as origens

sado, como também, e sobrecuclo, um meio de formação política -


daí que se tenha falado de Rhistória pragmáticag, ainda que o termo
seja muito controvertido·,• o que explica que consider.a.-se necessá-
rio acrescentar o conhecimento direto dos lugares e dos homens à
fria relação das notícias sobre pactos e batalhas.'·'
O aspecto de Polibio que iria influir no pensamento histórico
posterior- de maneira indittta, posto que sua obra foi desconhecida
no Ocidente europeu durante a Idade Média e só cm parte se coo- ,
servou - fo1 sua formulação de uma teoria cíclica dos governos, que
fecha e completa as elaborações de Platão e Aristóteles, incorporan-
do-as a um marco histórico - o que, além disso, livrava a ciência J;ris-
tórica. de sua condenação de ocupar-se somente do singular, e volta-
va a convertê-la cm ferramenta de análise social. Pollbio nos desccc-
ve as diversas formas de governo e nos mostra as razões que condu-
~ a seu apogeu, primeiro, e a sua decadência, depois, até engen-
drar uma rcaçio que fará que sejam substituídas por outras. O ciclo
se inicia quando os homens, ao término de uma catástrofe natural,
vivem como os animais e se reúnem cm tomo dos mais valorosos e
forres de seus semelhantes, criando a monarquia primitiva ,que se
converte em. uma autl.:ntica realeza.quando o motivo par.a. a adesão
passa a ser a estima pela superioridade intelectual do chefe.A deca-
dência da realeza engendra a tirania.e a reação contra ela de gru-
pos cscoJhidos da sociedade dá lugar a que esta seja substituída pela
aristoaacia,cuja degenC12Ção é a oligarquia. A pugna contra o go-
verno oligbquico não é obra já de um setor limitado da sociedade,
mas se faz com a participação de WD1J ampla massa do povo, e seu
resultado é a instauração da democracia, que tamb&n acaba por de-
generar-se e se transfonna _cm oclocracia ou governo das turbas.
Neste momento a sociedade chega a um grau de dissolução, cm que
os ho.meos voltam a viver como animais, como havia sucedido após
o catadisma oanual, e volta-se a iniciar-se o ciclo de monarquia pri-
mitiva, realeza, tirania, aristocracia, oligatquia e oclocracia.Ainda que

1• -Que homem scri. tio néscio ou ncgllgentc que não qucin conhecer
como e mediante que tipo de organização política quase todo o mundo
l;dbitado, domloado cm cinquenta e três anos nãocomplctos, caiu sob um
úaic:o império,o dos romano&l ( ...)Assim como,com vistas a este domioio,
será possível, através da nossa história. comprccndcr c:lanmcntc t0dos os
acoutedmentos, do mesmo modo, também,quamas e quão grandes vanra-
geos propcm:iona aos cstudi050$ o tipo de história pragmática" (Pob'bio,
Hisforia&,1,1-2)
capítulo 1
. .
seja possível assinalar muitos antecedentes intelcc[Uajs a estes es-
quemas, corno vimos ao &lar de Platão e Aristóteles, tampouco se
pode esquecer .que os gregos tinham vivido a experiência de se
verem Sllbmetidos succssiwmente à pressão de uma série de impé-
rios - Pérsia, laccdcnÍônia, Macedônia e Ronia - e eram conscientes
da transitoriedade de tais construções políticas.•~
Quando passamos dos historiadores gregos aos romanos, a
dificuldade P'[8 interpretar o pensamento que anima as suas obras
- para pôr em relação sua visão do pas511do com sua "economia po-
lítica" - aumenta. Temos, cm primeiro lugar, o problema dos proê-
mios: seguindo um costume que deriva dos retóricos gregos, os his-
toriadores latinos fazem precesla suas obras de exposições filosófi-
cas, onde se insiste cm sua preC>cupa.ção pela imparcialidade e cm
seu propósito moralizador, exposições que pouco ou nada têm a ver
com a obra cm si. Pelo que se refere à imparcialidade,é difícil admi-
tir encontrá-la nos grandes historiadores da etapa final da Repúbli-
ca e do primeiro século do Império, cujos vínculos com a política
eram claros. É dilicil atribuir objetividade e propósitos moralizaclC>
rcs a Salústio (87- c.35 aC.),político nubulcnto,acusaclo de crimes
e abusos; a um Tito Uvio (59 aC. - 17 dC.), a quem se considen.va
como um defensor do regime implantado por Augusto, ou a um Tá-
cito (c. 58 - c. 120 dC.), que expressava o r.lnCOr da classe senato-
rial, reduzida a um papel político secundário pelos imperadores, o
que explica que nos tenha deixado uma imagem hostil e deforma-
da dos reinados de Tibério, Clíudio e Nero."
Uma obra como a de Tito livio pode integrar-se perfeita-
mente dentro do esforço de construção de wn passado histórico,
levado a cabo nos tempos de Augusto, com o propósito de legiti-
mar o fim da República e o estabelecimento de um novo sistema
político. Um esforço que se manifestou na política de restauração
de monumentos, de colocação de estãtuas e inscrições, ou no
apoio dado à composição da Eneida, que havia de criar um mito
nacional romano, de acordo com os propósitos de Augusto, de
quem Virgílio havia anunciado que "faria renascer o século de
ouro". Não se trata de reduzir os motivos dos historiadores a seus
interesses políticos imediatos, nem de supô-los como sim.pies por-
ta-vozes de um partido, mas sim de situar sua obra numa pcrspcc·
tiva mais ampla, cm termos de elaboração pela classe dominante
de wna hegemonia cultural, um de cujos clcmcntos básicos era o
que se tem chamado de o •historicismo romano", segundo o qual,
as origens

as formas sociais estabelecidas e a estrutwa política destinada a


pICServi-las seriam a obra de muitas gerações de romanos.atuando
ao longo dos séculos, numa linha de evolução única e predetermi-
nada. À elaboração desta hegemonia - cuja necessidade ia além das
diferenças que pudessem implicar os interesses políticos de grupo
- contribuiriam os poetas, os tcorizadorcs da política (e cm lugar
muito destacado, Cícc"ro, cujas clucubrações acerca da história não
passam de retórica) e os historiadores, fossem scnatoriais, partidá- ,
rios do Império ou republicanos nostálgicos de um passado mais
ou menos inventado, que, ao fim, resultava secundário ante o que
estava cm jogo. Como disse Walsh, falando das vinculações atribuí-
das anto Lívio, este não era um partidário dcAugwto "cm nenhum
sentido significativo•. O que sucedia era que "as atitudes fundamCn-
tais de Ltvio - seu arraigado sentimento religioso, seu patriotismo,
sua preocupação com a moralidade- se nutriram do clima que pre-
valecia nos primciros anos do Principado"."
Para compreender isto, tem-se que ter cm conta a profunda
crise social que comoveu os últimos tempos da República, no sécu-
lo I aC. Não se trata somente de fatos como a revolta dos escravos
liderada por Espártaco, que chegou a contar com 150.000 homens
cm armas, como também de sinais mais graves de dissolução social,
ainda que representassem uma ameaça militar imediata muito me-
nor, como a insurreição de catilina., que uniu nobres romanos arrui-
nados com camponeses pobres da Etrúria.A crise da classe dirigen-
te podia abrir o caminho às reivindicações dos camponeses e da
plebe urbana, e engendrar um foco rcvolucioru\rio. Para evitá-lo não
havia outra saída a não ser pôr fim aos abusos dos de cima e ofcrc..
cer aos de baixo a possibilidade de expressar o seu protesto dentro
da ordem estabelecida, sem recorrer à violência. Esta saída é a que
irá oferecer o Império, que garantirá a paz social com o apoio dos
soldados e da plebe urbana, ainda que, cm contOl.putida, não tenha
melhorado a sorte dos camponeses. Graças ao novo regime, escre-
verá Hon\cio,não hã que temer as comoções públicas nem a morte
violenta. O preço pago pelas classes dominantes por esta paz social
fui alto, e se compreende que haja sérias diferenças de apreciação
entre um. Tito LíviO, que não perdeu nada, e um membro da classe
senatorial postcigada, como Tácito. Porém, na tarefa de contribuir
para a cocstrução de uma História que servisse de justificação da or-
dem estabelecida - de uma "economia política• que racionalizasse a
pobreza dos camponeses e a sujeição dos escravos • as diferenças
capítulo l

desapareceriam para dar lugar a um empenho compartilhado. O


próprio Tácito reconhecerá que, depois de vinte anos de discótdias
civis e de cx:ccssos,Augusto •nos deu com uma constituição a paz
sob um príncipe: desde esse momento, os laços se fizeram sentir
mais duramente''.''
EntreTácito e Santo Agostinho (354-430) há uma larga coe-
xistência de uma historiografü1 romana pagã e outra cristã,como há
entre as instituições políticas de um império que se desmorona e
uma Igreja que vai ocupando progressivamente o lugar da •débil or-
ganização estatal romana". Por wn lado, autores pagãos "menores•,
como Ariano, Dion Casio,os escritores da Historia Augusta,ou esse
Amiano Marcelino (c. 330- c. 397), contcmpo:rineo de Santo Agos-
tinho, cuja obra está na linha de uma historiografia laica, preocupa-
da com a.s causas externas e internas da decadência do império. Por
outro, uma historiografia cristã que, ainda que escrita cm latim, não
surge da romana dãssica por"um processo de evolução ou degene-
ração, mas antes responde a uma nova concepção da .sociedade - à
necessidade de justificar um novo Sisccma de relações entre os ho-
mens. Assim se explica que os historiadores clássicos caiam gra-
dualmente no esquecimento. Só Salústio será amplamente lido du-
rante toda a Idade Média, na medida cm que se acomoda aos obje-
tivos moraliuntes perseguidos pelos historiadores cristãos. Tito Lí-
vio será admirado de longe - não se tornari. a lê-lo até o século XII -
e Tácito pemwicceria ignorado até que o redescobrissem. os hwna-
nistas. A história romana servia, sobretudo, como compêndio de
acontecimentos e anedotas usadas como e:ic:cmplos de moral, o que
explica o êxito de compilações, como a de Valério Máximo,que ser-
virão em certo modo de modelo para as de milagres cristãos, às que
se unem para formar o repertório de argumentos para uma socieda-
de que empregava quase exclusivamente métodos orais de comuni-
cação, como a leitura em voz alta e a predicação. Isso duraria até
que, nos SttUlos finais da Idade Média, e cm conexão com "a cria-
ção de instituições centralizada.s caiacceristicas do estado feudal",
.voice a difundiHe o conhecimento da escriCUra e se multipliquem
de novo os livros.'"
O que mais distingue o esquema da historiografia cristã do
da clássica não é,como se costuma dizer, a contraposição entre um
modelo cíclico e outro linear - da criação do mundo ao fim dOS
tempos-, mas sim o fato de que a greco-romana buscava a aplica-
ção dos fenômenos históricos no interior da própria sociedade, fa.
as origens

~ndo uso de uma causalidade fundamentalmente tcrrcna,enquan-


to que a cristã supõe que existe um csquc;:ma determinado vindo
de fora da sociedade hwnana,por desígnio divino,que macca o cur-:
so indutável da evolução histórica. O estudo da história serve ao
criStianismo para confirmar a fé • base em que se sustenta a nova
ordem social - com a seqüência dos milagres e a comprovação do
cumprimento das profecias. Se nem tudo do anunciado pelas pro-
fecias já se cumpriu, do seu estudo podem-se deduzir também
orientações sobre o que sucederá no futuro.·o passado se estuda,'
além disso, para induir toda a história não-criStã dentro c1as·pautas
marcadas pelo esquema bíblico, do mesmo modo que se aspira in-
duir a todos os homens vivos na comunidade dos fiéis: à catolici-
dade da Igreja corresponde a universalidade da história cristã. E
para as duas tarefas • decifrar as profecias e coordenar os diversos
relatos históricos - necessita-se de um bom conhecimento da cnr
nologia. 19
Preocupação com a universalidade e fixação de uma crono-
logia generalizável combinam« na obra de Eusébio de Ccsarca (c.
265 -330), que, nas suas Crônicas, conhecidas no Ocidente através
da versão latina de São Jerônimo, csfocça-se por entrelaçar o relato
bíblico com a história dos povos do Oriente Próximo e com agre-
co-romana. Dedica a maior parte do seu trabalho na construção de
uma tabela sinctônica para determinar a con:cordincia dos fatos re-
latados na Bíblia com as listas de soberanos assírirni, medas, persas e
egípcios, com a periodização grega por olimpíadas ou com as listas
dos magistcados romanos, assentando as bases de um sistema que
chegará até a Cronologia emendada dos antigos reinos, de New-
ton, inspirada ainda pelo intcrcssc no deciframento das profecias.A
preocupação com a cronologia tem também dimensões mais mo-
destas, porém de origem igualmente religiosa. Para começar, a que
se refere à fixação da data da Páscoa, que condiciona a de outras fes-
tividades rcllgiosas, e que exigia um complicado csfoIÇO de relacio-
namento de dois :sistemas de calendários distintos. Foi precisamen-
te nos brancos que .ficavam entre um ano e outro das tábuas pas-
cais, que os monges começanm a anotar os acontecimentos máis
notáveis do ano • cometas, tormentas, mortes de grandes persona-
gens•, iniciando uma forma de anualidades que não demoraria em
emancipar-se desse marco estreito.Por outro Iado,foram também os
monges que começaram a preocupar-se com a determinação mais
precisa das hoC3S do dia, cujo emprego estava estreita.mente fixado
capítulol

na éegrade São Bento.o que conduziu na clircção que haveria dele-


var à consuução dos primeiros relógios meclnicos, no século XDP'
A concepção cristã da história,* por outro lado, contempla a
evoluçio da humanidade como algo necessariamente passivo, mo-
vido desde fora, tal como observamos nwn manuscrito catalão do
século XIY, que nos apresenta as seis idades da história, figuradas
numa roda, cm cujo interior está o anjo encarregado de movê-la:
•por este anjo se mudam os tempos e as idades", nos adverte uma
legenda. Isso não impecle, entretanto, que, em seu afã por apreciar o
futuro, os historiadores-teólogos buscassem pautas e ciclos no inte-
rior desta seqüência, guiando-se pelas profecias. Havia, em especial,
~ grandes modelos proféticos de interprccaçio histórica, que se
empregavam complementariamence,já que não poderia haver con-
tradição entre clcs. O primeiro derivava de Daniel que havia visto
sair do mar quatro grandes bestas; a quarta tinha dez chifres, entre
os quais desponta um décimo-primeiro - com •pequenos olhos
como de homem e uma boca que proferia coisas grandes ou jactan-
ciosas"-, cujo nascimento produziu-se ao mesmo tempo que a que-
da de ,:rês dos anteriores. Quando apareceu o ancião dos dias, a
quana besta foi morta e lançada ao fogo, e o velho •sentou-se para

-1 • Convém lnslstir cm que Rio se fala aqui da hiscória acrita durante a Ida-
de M&ila, mas sim apenas da que cOtICSponde ao muodo feudal europeu.
N""ao no5 rcícrimos nem à rtca liten.run. hisr:órica do Império bizantino,
nem à hiscoriogiafia i;calizada no imbi10 culturlll. islimico,com um concci-
lO mais amplo do universo e uma visio social mais rica. Scguk, co1t10 se fu
neste livro, o lio condutor que leva até ;u; nossas concepções, obriga a pies-
cindir de tendl:ncias e liguras que ficam à margem desta linha genélica,por
R1lli' valiosas que sejam. O exemplo mais notivcl é o de lbo JaldlÍn (1332
• 1382), historiador JlOttC.afrlcano de asccmlcncJa sevilhana, que nos seus
Mukaddima nos ofereceu WJl3. inuoduçio à metodologia da história,con-
cebida como "ID!ormação acerca da oq:u,iZlçio social", e que acertou czn
cstabclcccr um vasto esquema cíclico, que bita de explicar como 05 pó-
voi; da.s csicpci; e cios dc:scrtos conquistam a.s tenas aráveis cio$ sedcnthios
e fundam vuto5 imp&ios, que são, por sua vez, dcstruídos por novas inva-
sões nômades, p,:occdcnra de 5Wlll mesmas terras de origem, ao fim de al-
gumas gerações, quando os novos reinos "bárbaros" pcrdcn.m já a sua Vita-
lidade. De t0clo modo, lbn Jaldún é uma figura solitária, sem pieccdcotes
na cultwa iSlãmica nem influencia consklcrávcl nela. Descoberto cm JIIC2.-
clos do século XIX, foi um predecessor genial, porém sua iniportáncia pua
a história da História é escusa. (Há uma lnduçio de Ibn Jald6n publicada
recentemente pelo Pondo de Cultura Econõmica, México, com o dtulo de
Jnt10ducc:ión a la bi510ria universal. Veja também:Yves l.aco:ite, EI nacl-
lllicnco dei tercct mundo: lbn JaldlÍn, Península, Batcelona., 1971).
as origens

ju1gar e foram abertos os livros". A interpretação habitual sustenta-


va que as quatro bestas representavam os quatro grandes impérios.
conhecidos pelos judeus • babilônico, meda, persa e macedônio - ,
depois dos quais viria o fim do mundo. A necessidade de atualizar
uma profecia que, entendida assim, não se havia cumprido, levou a
refundir num só os impéiros meda e persa, e a Jazer que o papel do
quarto passasse ao romano. O problema, como se verá, reproduziu-
se com a queda do império romano, momento em que houve que
se acrescentar que os dez chifres eram dez reinos, como os surgidos •
das ruínas do império, que podiam durar tanto como conviesse, até
que aparecesse o décimo-primeiro chifre: o Anticristo, anunciador
do fim iminente do mundo. O segundo modelo é o do Apocalipse
de São João, que se encadeia em alguns aspectos com a visão de Da-
niel - há uma besta saída do mar com sete cabeças e dez chifres co-
roados, por exemplo -, porém que acrescenta um novo e enigmáti-
co elemento, que estava destinado a ter um papel muito importan-
te na história profética medieval: haverá um período de mil anos cm
que, encerrado o diabo no abismo, produzirá uma primeira ressur-
reição, limitada aos eleitos, e Cristo reinará em pa2 com eles no
mundo. Ao final desse milênio feliz, voltará a se soltar por um cur-
to tempo o dragão infcrnal,para que engane "as nações",e logo vi-
rão a segunda ressurreição • a de todos os mortos • e o juízo final. O
terceiro modelo, que deriva da litccatua patóstica, é o da chamada
•semana cósmica". Semelhante aos seis dias da criação.mais o séti-
mo de descanso, a história do mundo se divide cm seis épocas.que
correspondem também às seis idades do homem,da infância à seni-
lidade. A sétima idade da história seria a do final deste mundo, tal-
vez a do milênio anunciado por São João.Acontecia acreditar-!e, ba-
seando-se nos textos bíblicos, que os dias da semana cósmica eram
de mil anos, de modo que ao fim de se.is mil, depois da criação, co-
meçaria a fase final dos tempos."
Os modelos proféticos acomodaram-lie à história do Império,
e os cristãos, que viviam nwna perpétua espera do fim do mundo,
que iria tra:zcr-lhcs os anos felizes do milênio, perscrutaram. as evi-
dências da decadência de Roma para ler nelas os signos do tempo
que aguardavam.Entretanto, o .làto de ligar o cumprimento das pro-
fecias a um acontecimento terreno, tinha.o grave inconveniente de
colocá-las à prova e de pôr cm perigo a fé se as previsões não se rea-
lizassem. Dai que um homem como Santo Agostinho, bispo de Hipo-
na (354-430), combatesse tal identificação, em especial depois do
capftulo l

ano 410, quando Roma foi conquiStada e saqueada por Alarico, o


que parecia anunciar o momento esperado. Desse estimulo surgiu
A cidade de Deus, que não se limitava a c~nar as especulaçijcs
proféticas, como ia além: rcintCiprctava a história, 5':pat2ndo a de
Roma da do cristianismo, a ncidadc terrena" da •divina•, que era
aquela a que pertencia legitimamente o cristão: a única a que se re-
feriam as profecias, e cuja história não tinlta nada a ver com os acon-
tecimentos políticos dos reinos e dos impérios. Agostinho confiou
a seu discípulo Paulo Orósio (+ c. 418) a tarefa de escrever uma
nova história do mundo que partisse dessa mesma idéia. Nas suas
Histórias contn. os pagãos, Paulo Orósio voltava a imbricar o rela-
to bíblico com a história profana, para passar por- cima do saque de
Roma pelos bárbaros,como mais um incidente pemtitido por Deus
•para a correção da cidade soberba, lasciva e blasfema", ao mesmo
tempo que falava pela primeira vez do romano-cristão como de algo
singular e especifico, diferenciado do Império."'
Depois dessa ruptur2, no transcurso dos séculos VI ao JX, os
historiadores cristãos se dedicaram a restabelecer o enlace entre o
relato bíblico e a rcalidaclc política cm que viviam, porém, desta vez,
referindo-se aos reinos que haviam swgido da destruição do Impé-
rio do Ocidente,para reafirmar o papel da Igreja na nova ordem po-
lítica, ao mesmo tempo que a legitimavam apresentando os novos
estados como continuadores clc Roma imperial. Gregório dcTours
(530-594),arcebispo e membro clc uma rica família scnatorlal,cscrc-
veu uma História dos francos,que partia da criação do mwido,po-
rém detinha-se com especial atenção no período do ano de 575 a
591, para referir-se sobre uma série de acontecimentos vividos pes-
soalmente. Seu livro é um .des.6.lc de digoitãrios laicos e eclesiásti-
cos, onde o povo aparece como vítima passiva de uma idade de cri-
mes, peste, fome, prodígios - "alguns diziam que tinham visto cair
serpentes das nuvens, outros sustentavam que um povoado inteiro
tinha Sido destruído e havia se dissolvido no ar, com as casas e os
homens que viviam nele" - e falsos apóstolos, relatado com toda a
fidelidade por cscc "Heródoto da barbãric", que não pretendia outra
coisa, segundo a.6.rmav.l, que •põr as coisas de mao.eiia ordenada
pan. descrever os acontecimentos", num tempo cm que ninguém
era capaz de "csacvc::r um livro .sobre o que sucede hoje". Isidoro
de Sevilha (560-636) é importante, antes de tudo, por suas Etimolo-
gias, compilação enciclopédica daquela parte do saber antigo que
parecia útil integrar no ensino da Igreja, enquanto que suas Hiscó-
as origens

rias dos godos, vândalos e suevos, destinadas a cumprir a mesma


função política que a obia de Gregório dcTours, ~ um interesse
muito menor. Só que o Estado goelo, para o que havia escrito Jsick).
ro,Coi destruído pela invasão muçulmana,e a historiogiafia hispano-
cristã tcVC que refazer a tarefa, para acomodar a legitimação à mo-
narquia asturiana, fingindo uma continuidade cio reino godo ao a,s.
turiano, às custas de falsear a verdade histórica e de inventar genea-
logias .fantásticas, que faziam cios caudilhos montanheses dcscen- ,
dentes de príncipes godos refugiados nos penhascos cantábricos.
Bcda (673-735),mongc do mosteiro dcjarrow, escreveu uma Histó-
ria da igreja e do povo da Inglaterra,ondc nos fala,sobrctudo, da
Inglaterra saxona e celta, fragmentada cm reinos, e da expansão do
cristianismo romano por ela. Em Bcda, tem sido elogiado o seu
interesse cm expor suas Contes de informação, "para tirar qualquer
dúvida(...) sobre a exatidão do que cscrevift, o que não obsta que
seu relato esteja cheio de prodígios ingênuos e de milagres estupen-
dos. Paulo Diácono (+ c. 800), de uma família da nobreza bárbara,
educado na corte de Pávia, refugiou-se no mosteiro de Montccassi-
no, depois da queda do reino longobatdo. Escreveu umas Historiac
longobardorum, que neste caso eram uma justificação.póstuma do
Estado desaparecido. Passou,.finalmcnte, à corte de Carlos Magno, e
com ele se encena, de certo modo, este ciclo de recomposição do
relato histórico cm função da necessidade de legitimar uma nova
ordem política, na qual o papel da Igreja resultava decisivo. u
A destruição das monarquias bárbaras, com a chamada nrcvo-
lução feudal• do século Xl, que pôs cm perigo a posição da lgrefa,
abriu caminho a uma grande mudança no pensamento social cris-
tão, da qual sucgiu uma economia política. - a teoria du três ordens
- que serviria de fundamentação ideológica à sociedade feudal, até
o triwúo do capitalismo. Na .origem destas mudanças sociais está •
como mostrou Pierre Bonnassie, analisando o caso da Catalunha •
um crescimento econômico que quebrou, por volta do ano mil, os
·velhos equilíbrios da Europa cristã, ao suscitar as cxações dos ban-
dos armados instalados nos castelos, que se apoderaram do exce-
dente dos camponeses, com o pretexto de defendê-los de sua pIÓ-
pria violência, e os submcccram. a uma série de obrigações, que to-
lhiam sua liberdade, ao mesmo tempo que lhes arrebatavam boa
parte de suas tcnas.Assim consolidou-se a nova servidão, enquanto
que desaparecia a csciavidão antiga. Dos bandos auxiliares da velha
nobreza surgiria uma nobreza menor, a caw.taria,num processo que
cap[tulo l

significava a consagração da posição de privilégio dos expoliadores. ·


O poder político do conde e seus ingressos &cais ficavam ameaça-
dos; e este SÓ pôde recobrá-los, aceitando uma parte do fato consu-
mado, mediante o reconhecimento do direito elos cavaleiros a sub-
meter e explorar os camponeses.Assim foi como o sistema fcuclal,
nascido da decomposição do Império romano, chegou a sua crista-
lização, numa fonna que BoMassie descreveu corretamente - supe-
rando a falsa dicotomia de Ccudalismo e senhorio -, ao defini-lo
como •um regime que se funda no confisco.freqüentemente brural,
dos benefícios (do sobreproduto) do trabalho camponês, e que as-
segura, por um sistema mais ou menos complexo de redes de de-
pendência (vassalagem) e de gra.tificações (feudos), a redistribuição
no seio da classe dominante•. 1-1
Muitas coisas iriam modificar-se nesta sociedade, desde a~
trutura familiar, que tenderá agora à linhagem, até o papel da Igreja,
que corria o risco de perder a sua posição como legitimadora das
monarquias bárbaras. A reação eclesiástica se manifestará cm distin-
tas direções. Por um lado, por exemplo, ttatari de manter o contro-
le social, com uma nova e mais estrita regulamentação do matrimô-
nio; por outro, e esta é talvez a sua base fundamental, ofcrcccri. uma
nova interpretação da sociedade, a teoria das três ordens ou esta-
dos, que justifica a swa função no seio da nova sociedade fcugal. Esta
visão propõe uma "economia politican com wna divisão social do
tn.balho entre trfs grupos distintos: os cavaleiros, que lutam para
dc!cndcr o conjunto da sociedade de seus inimigos internos e ex-
ternos; os eclesiásticos, que rezam e mantêm a relação com a divin-
dade, com o fim de propiciar bens e evitar castigos à sociedade de
que formam parte; e a massa dos que trabalham, os trobalhadotCS,
que mantêm aos outros grupos, cm pagamento dos serviços que re-
cebem dcles.Duby mostrou que esta visão consolidou-se pollCO de-
pois do ano mil, fruto tardio do renascimento cultural carolíngio•,
6

e que SUige da operação de introduzir a Igreja no velho esquema


dual dos que mandam e dos súditos.A Igreja reagia assim contra a
sua marginalização na nova ordem feudal, oferecendo-lhe uma legi-
timação, ao mesmo tempo que a dcfcndia e se defendia contr.a. um
inimigo comum: a heresia popuJar igualitária.2'
Os esforços que a Igreja havia n:alizado para combater o uso
de moddos proféticos como chave pata intcq>retar o futuro imedia-
to tinham sido inúteis.Sua influência é evidente cm toda a historio-

T
asoligens

grafia medieval, e inclusive mais além, nas próprias ações polítieas.


Tem-se observa.do, por exemplo, que a coroação imperial de Carlos
Magno, teve lugar na data em que, segundo alguns dos cômputos
mais difundidos, iniciava-se o sétimo dia da história do mundo e,
com ele, um.'l nova época. Quem contribuiu para potenciar esse uso
dos m.oclelos proféticos foi o abade calabr!s Joaquim de Fiori (c.
I 132 - 1202), com conseqüências que iriam tomar-se tmnscenden-
tais. Joaquim era homem de saber e virtude reconhecidos, escúta-'
do com respeito por reis e pa.pas. Se o quarto concílio de Latrio
condenou, ainda que matizando sua sanção com elogios.algumas de
suas idéias trinitárias, foi sobretudo por r.t2Ões políticas, posto que
Joaquim estava relacionado com o partido da paz, inclinado a uma
transação com o Império.No terreno da doutrina, opunha-se à esco-
L"istica e patrocinava um estudo mais profundo das F.scriruras, como
o que lhe serviu para formular uma série de paralelismos entre o Ve-
lho e o Novo Testamento. Sua visão da história enlaçava o esquema
da semana cósmica com outro, de três períodos ou status, detenni-
nado pela intervenção da nindade nela. Daí swgiu o universo com-
plexo do Livro das figuias, com dois jogos de sete etapas cósmicas
paralelas (Côrrcspondentcs aoAntigO e ao Novo Testamento), a que
se sobrepunha o dos tds status. Esses períodos ou status corres-
poncliam a uma idade do Pai - a da velha lei -, outra do Filho - a do
Evangelho, que havia durado até o presente •, e urna tcreeira idade,
a do Espírito Santo, que tinha começado já a partir dos tempos de
São Bento, porem cuja culminaçio se produzida assim que o Anti-
cristo fosse denotado e uma Igreja renovada, integrada por monges,
reinasse em paz e contemplação sobre a tem, e sob o império de
uma lei nova, a de um Novíssimo Testamento, que oão seria escrito,
como os anteriores, mas que se apresentaria à percepção imediata
do espírito.• O que havia de reahnente novo neste esquema, deixan-
do de lado a fascinação que puderam cxeccer as especulações e as

1 •"O.primeiro dos tres períodos de que b.lamosfoicm. tempos da Lei,quan-


do o povo do Senhor serviu como um menino por wn tempo sob os ele-
mentos do mundo. N"ao estavam capacitados paza alcançar a Uberdadc do
Espúito.até q_ueveioo qucdisse:'Sc o Filho os libc,;asc:rcisccrtamcntc li·
vrcs'Oo3o, 8, 66). O segundo periodo foi sob o Ewngclho e dUIZ até o pre-
sente, com libeldade CIJ'I cornpamçio com o passado, porêm sem ela cm
comparação com o futuro( ... ) O tctcciro período virá alé o fim do mundo,

4-
cap.(tulo 1__ .......

figuras de Joaquim, era que antecipava um futuro iminente de fdi- ·


cidadc,quc os homens podiam ajudar a construir:um programa que
seria recolhido com entusiasmo pelas novas ordens religiosas, e cm
especial pelos .frmciScanos, e que alguns empregariam pata fazer
uma critica da Igreja de seu tempo, tão af.lstada da contemplação e
da pobreza. JI,
A influência do joaquinismo e da mensagem que afirmava
que cca possível consb'Uir um mundo melhor e mais justo, como es-
tava anunciado cm seu modelo profético, será ampla e duradoura.
Animou aos grupos que propugnavam a reforma da Igreja, como os
flagelantes, e a heresias populares de conteúdo radical, como a dos
•irmãOS apostólicos" de Frei Dolcino. Hcrcs.ias que têm um conteú-
do mais terreno que celeste e cujo segredo • o de seu último senti-
do e o da audiência que conseguiram entre o povo - consiste cm
que expressam cm termos culturaiHcligiosos - os que têm ao seu
alcance o homem medieval - umas aspirações de reforma social,
como diria Labriola, ao comentar a ibrma cm que Frei Dolcino
•transfigurava" os problemas políticos do momento "cm tipos já
simbolizados pelos profetas e pelo apocalipse•, medindo •os tem-
pos da providência•. Ao que acrescentava: •Porém foste um herói, o
qual demonstra que essas fantasias não foram a causa do teu traba-
lho, mas o envoltório ideal em que davas conta a ti mesmo, como fi.
zeram tantos outros um século antes que cu, incluído Francisco de
Ass.is, do desesperado movimento das plebes contra a hierarquia pa-

i já não sob o vl:u ela lcua, mas cm pie.Da libcnladc do Espírito, quando, dc.-
pWS da dcsuuiçlo e cancelamento do falso evangelho do Filho de Pcrdi-
ç!o e de seus profetas, m que ensinam a muitos acerca da justiÇ:l sedo
como o csplcrl!1or do firmamento e como u estrelas pam sempre. O pri-
mcuo pcriodo, que floresceu. sob a Lei e a circuncisão, começou com
Adão. O segundo, que floresceu sob o Evanaclho, começou com Qzias. O
1crcciro, no que se pode entender a panir do nümcro das gcraç3cs, come-
çou cm tempos de Sio Bento. ( ...)A letra do Amigo TcstamcnlO parece, por
wna cena propriedade de semelhança, pcnenccr ao Pai.A letra do Novo
Tcs1amcnro pertence- ao filho.Assim,a comptt;cnsão cspirirual que proce-
de de ambos pertence ao Espírito Santo. De maneira semelhante, a on:lcrn
dos casados que floresceu no primeiro icmpo parece pcncnccr ao Pai, por
urna propriedade de semelhança, a ordem dos que predicam no segundo
tempo.ao Fdho, e assim a ordem d05 moogcs, a quem os últimos grandes
tempos tem sido conccdklos, pertence ao Espírito Santo" (da b:positio in
Apocalypsitn, f. 5 i:-v, tomado da tradução publicada in Bernud McGinn. Vi-
sinos oi thc End, Columbia University Press,NovaYork, 1979,pp. 133-134).
as origens

pai, cont,;a a burguesia já forte nos municípios e contia a nascente


monarquia•. A mensagem do joaquinismo,C da ~ção herética po-
pular, minsfonnou-sc com os hussitas na base ideológica de uma
primeira revolução antifeudal, e tomou, nos movimentos dos cam-
poneses alemães, nos começos do século XVI, o caráter de uma san-
ção religioSa ao direito dos homens à igualdade. Por este desvio, um
jogo de doutrinas criado inicialmente para assegurar a estabilidade
de uma o.«lcm social, havia se transfonnado cm subversivo e se.cm,.
pregava para combatê-la. A revisio ttistórico-proll:tica do joaquinis-
mo, na medida cm que pwiha em discussão a autoridade da hierar-
quia eclesiástica - imaginando uma Igreja melhor em uma socicd•
de maJs justa-, minav.a. a economia política do sistema. Os campone-
ses ingleses dos século XIV ou os alemães dos começos do século
XVI tinham deixado de acreditar que a estrutwa trinitária dà socie-
dade estamcntal fosse •wn reflexo divino da divisão funcional do
trabalho na sociedade".!~
As mudanças sociais destes séculos da baixa Idade Média
preparariam a transformação do tipo de História que St:rvia de su-
ponc à economia política do feudaüsmo. Na mesma medida cm
que a Igreja foi perdendo wna parte essencial da sua função orga-
nizadora da sociedade, que passou aos novos Estados que agora se
constituíam - às monarquias feudais, consolidadas a partir do sécu-
lo XIII, foi preciso construir uma nova História.Abandonou-se pn>
gressivamcntc a velha História universal cristã, com sua identifica-
ção de •a Igreja do povon, à maneira de Gregório de Tours ou de
Bcda, para dar lugar à aõnica cavaleiresca, de V-illehardouin a Mun-
taner; justificadon de uma classe social e de seu predomínio, e sur-
giram, junto com ela, outros tipos de crônica laica que, se faziam
uso da tcOria das três ordens, cm boa medida a secularizavam. Des-
taca-se entre estes tipos a crônica •reat", que tinha a finalidade de
legitimar o papel das monarquias - sancionado até então pela con-
sagração-, ao identificá-las com seus povos, e que,por isso mesmo,
abandonaria o latim, língua universal da Igreja, para expressar-se
nas falas populares. Porém a transformação da História iria ainda
mais além, de modo que junco à crônica cavaleiresca ou à da nmo-
narquia e·o povo" vemos florecer oucros gêneros - crônicas de ci-
dades, diários de instituições laicas, üvros de recordações pessoais,
etc.- que nos &lam simplesmente dos homens e de seus tni.balhos,
como antecipações toscas de novas formas de entender a história.
Estes antecedentes tinham de frutificar sobretudo na Itália, onde a
cal.)ftulo 1

·ascensão da comune levou à constituição das cidades-estados re- ·


publicanas, nas que haveria de swgir um pensamento político que
se ~pressli.ria fundamentalmente cm termos civis, como corres-
pondia às preocupações clc uma sociedade democrática, gradual-
mente orientada para o comércio. No apogeu desta etapa, tem-se
que situar fenômenos culturais diStintos, porém paralelos, como o
primeiro humanismo de Pádua, o pensamento político de Dante -
que "queria superar o presente, porém com os olhos voltados ao
passado• - ou a arte realista de Giotco - que: "ganhou a confiança cm
si mesmo, e o caráter prático dos que viviam do comércio estavam
à frente ela comune e estendiam um agressivo controle sobre o
campo". Quando a aisc do século XIV abalou este mundo e pôs
cm evidência suas limitações, foi precisamente quando, do intento
de transfonná-lo para evitar seu desmoronamento, surgiu a refle-
xão critica dos humanistas florentinos. 211
Chegamos com isso ao ponto cm que a crise da sociedade
feudal aponta, pela primeira vez, na direção que acabará conduzin-
do, depois de uma longa. e complicada evoluçio,ao triunfo do capi-
talismo e da burguesia, e à conseguinte elaboração de uma nova in-
terpretação da história e de uma economia política distinta. :Esse
"tdnsito" é o que vamos rastrear nos capítulos seguintcS.Porém,an-
tcs de fazê.lo, gostaria de deter-me por uns momentos na caracteri-
zação que deve dar-se aos movimentos antifeudais, aos quais. temos
nos referido de passngem. É freqüente qualificar-se os mais primiti-
vos de "utópicos" - o que significa,simplesmente,que não tmt lugar
em nossos esquemas das etapas da evolução social - e aos mais ma-
duros, de "prato-burgueses• - isto é, anunciadores das futuras revo-
luções burguesas da Holanda, Inglatcm ou França. É natural que
numa coalizão de homens que lutam contxa o feudalismo haja ele-
mentos protoburgu.escs, podm parece-me difícil admitir este qua-
lificativo para os traços igualitários que aparecem na revolução bus-
sita ou em outros movimentos radicais. .ll lógico que a historiografia
acadêmica reconheça como um signo de progresso - "antecipado• a
seu tempo, se se quer, porém nunca "utópico• - rudo o que anuncia
o mundo do capitalismo triunfante- a genealogia do sistema que.lhe
dá de comer-, e que rechace, e inclusive condene, o que não se en-
caiD nesta. evolução. Porém., se não se participa da economia polí-
tica que aceitam nossos cientistas acadêmicos, e não se comparte
de sua preocupação por legitimar o presente, não há por que acei-
as origens

tar sua csttcita visão histórica, entrando em seu jogo de sobrevalo-


rização do proto-bwguês e de dcsquali.ficaçio simplista de tudo o
mais. É necessário tratar de desvelar a lógica incrente a algw1s pro-
jetoS sociais, que não podemos contentar-nos com adjetivar como
milenaristas, o que equivale a situá-los fora da ordem "natun.1" da
evolução histórica.""
!lotas

_capítulo 1 - as origens
I.J. Yansina, "La t.radition ocal.c et sa méchodologiC", em Histoire g6-
nerale de l'Afriquc, I, M&hotlologic et préhistoirc africainc,
Unesco, Paris, 1980,pp. 167-190; a citação textual de p. 173. ca-
rolinc Humphrcy,~The uses of gen!!alogy:A historical srudy ofthe
nomadic and sctlentarised Bury:at•, em Pasto mi production and
society, Crunbridge University Press, Cambridge, 1979, pp. 235·
260. Sobre o sentido das genealogiaS medievais e as mudanças
que experimentaram, L. Genicot, Lcs généalogics (I'ypologic dcs
sources du moyen ãgc ocCidental, fase. 15), Brcpols, Thmhout,
1975, pp. 35-44.
2. Alcjanclro Lipschutt, Los muros pintados de Bonampak. Ensc-
ii.anzas sociológicas, Editorial Univcrsicaria, Santiago do Chile,
1971.N.A. Maschin, EI principado de Augusto, Akal, Madri, 1978,
pp. 310-315. Sobre a coluna Tmjana: R. Bianchi Bandinclli, "UI co-
lumna Trajana: documcnco artístico y documento político (o ela la
libcrtad clcl artista)", cm Dei helenismo a la Edad Media, Akal,
Madri, 1981,pp. 113-127;c Lino Rossi, fujan 's Columns and chc
Dacian Wk rs, Thamcs and Hudson, Londccs, 1971 (dcscriçio de-
talhada de seu conteúdo cm pp. 130-l56).Algo parecido podcr-
sc-ia dizer dos programas iconográficos das igrejas cristãs medie-
vais, interpretando-os no contexto de sua realidade social.
3. Sobre as listas de reis sumérios: Gcorgcs Roux, Ancicnt haq, Pcn-
guin, Harmondsworth, 1966, pp. 104-106; Hartmut Schmõkcl, El
país de los siímcros, Eudcba, Buenos.Aires, 19n2,pp.158-162.
Sobre Gilgamesh: Rouz, Ancicnt lraq, pp. I 14-l I7;H.Frankfort et
ai., Befi:Jre Philosophy. Toe lntcllcctual Advcnturc of Ancient
Man, Penguin,Harmondsworth, 1964,pp. 223-227;y Herbert Ma-
son, Gilgamesh, Houghton Mifflin, Boston, 1971,pp. 89-96.Sobrc
a função social da religião e do mito nas sociedades mesopotãmi-
cas:Tholtild Jacobscn, em frankfort et ai., Beforc Philosophy, pp.
200-216 (e 165-ln). Sobre a instituição divina da rcaleza:Hcnri.
frankfort, La royallté et Ies clieux, Payot, Paris, 1951, pp. 309-329.
Sobre a identificação inicial de ."poder secular• e •poder sacerdo-
"º""
tal", sua diferenciação posterior e: necessária aliança:JoscfKlím~
Sociedad y cultura en la antigua Mcsopotamia, Akul, Madri'
e
1980, pp. 171-174; E. Dhonne, MI.cs rcligions de Babylonie e;
d'Assyricw, cm Lcs ancienncs rcligions orientales, II, PUF, Paris,
1949, pp. 198-203. Sobre o mito do dilúvio: Edmond Solbetgcr,
Toe Babylonian Lcgcnd of thc Flood, British Muscum, Londres,
19713,Ch'ao-Ting Chi,Key EconomicArcas in Chincsc History,
Allen and Unwin, lonclres, 1936 (citado pela reimpressão de Kel-
lcy, Nova York, 1970), pp. 46-53; e sobre inundações de deitas
quase diluvianos: Karl W. Butzcr, Early Hydmulic Civili:z:ation in
Egypt: A Study in Cultural Ecology, Chicago Univcrsity Piess,
Chicago, 1976, pp. 51-56. Sobre Egito, também: Stcphcn Toulmin
e Junc Goodfield, Thc Discovcry of Tum~:. Penguin, Harmonds-
worth, 1967,pp. 26-32. Uma visão distinta da tI2<.licional, que nos
oferece o panorama de uma evolução que iria desde as listas de
reis e autênticos ~anais", aparece na obra póstuma de Hcrbcn
Buctcr:fidd, Toe Origins of History,Eyre Mcthuen, Londres, 1981,
ainda que &.Item nela as justificatiws a suas colocações (sobre as
listas de reis,pp. 23-38;sobre as crônicas religiosas e laicas mcso-
pori.micas, pp. 29-43; sobre os "anais dos impérios pré-clássicos·
- cgípicios, hititas e mcsopotim.icos -, pp. 44-79). N""ao se fulará
aqui das antigas crônicas chinesas, que versavam sobre o primei-
ro soberano que trouxe a concórdia a uma sociedade turbulenta
e dividida, e reordenavam o pasaado com a finalidade de mostrar
que a monarquia era fundamento imprescindível para a paz so-
cial Qcan I.agcrwcy, "La cosmologic ancicnnc de Ia Chinc", cm
François Châtelct, org., HistoiIC eles idéologics, Hachcnc, Paris,
1878, 1, pp. 61-62; há tradução cm espanhol, publicada por Zyx).
Ver também Buttedidd, Origins of History, pp. 138-151.
4. Sobre a lcicuca dos hicroglifos maias pelos sacerdotes, J. Eric S. ·
Thompson, Maya Hicroglyphs without Tcars, British Muscum,
1980, pp. 63-64 (fato que não se veria substancialmente afetado
se adotássemos a interpretação alternativa clcsscs hicroglifos por
Y. Knórozov).A descrição do conteúdo dessa literatura histórica.
aqui citada é ele Santo Mazzarino,11 pcnsiero storico classico, La-
tcrza, Bari, 19744, I, p. 167. Sobre uma ªliteratura política" mcso-
podmica:"Klíma., Socicda.d y cultura cn Ia antigua Mcsopotamia,"
pp. 250-251- Os textos de Heródoto que se utilizam para funda-
mentar esta lcitur.1. são de Historia, II, lO0;Il,3 e 4,c Il,99,quc
na edição que uso - a traduzida e anotada por Carlos Schradcr,

--f-
.....
Grcdos, Madrid, 1977-1981 -, encontram-se nas pp. 280-284 e
388, respectivamente, do tomo 1. Sobre a transmissão da escrita
da Mcsopod.mia à Grécia:]. D. Hawkins, ~Toe Origin and Disscmi-
nation ofWriting inWestcm.Asian, cm P. R.S. Moorcv, org., lbe
Origins of Civilization, aarendon Press, Oxford, 1979, pp. 128-
166; sobre a influência dessas culmra.s orientais no nascimento
da cii!:ncia e filosofia jônicas, por meio dos magos: M. L. Wcsc,
Early Grcek Philosophy and the Oricnt, CJarendon Prcss, Ox-
ford, 1971.Arnaldo Momigliano afirma que uma influência direta
da cultura oriental, especialmente da persa, no nascimento da
história grega C-Easccm clements in Pos-ExilicJcwish,and Greek,
Historiography", cm Essays in Ãncicnt and Modem Historio-
graphy, Basil Blackwell, Oxford, 1977,pp. 25-35).Sobre a influên-
cia na artc:John Boardman, Toe Grccks Ovcrscas, Pcnguin, Har-
mondsworth, 1968, pp. 80-101 (há trodução em espanhol pela
Alianza Editorial).
5. Uma boa visão de conjunto da historiografia clãssic:a pode se en-
contrar,por exemplo,em Stephen Usher, Toe Historians of Grec-
ce nnd Rome, Hamish Hamilton, Londres, 1969, ainda que dema-
siado limitada ao escudo individual dos grandes autores, defeito
comum à antologia comencacla de M. I. F'mley, Toe Greek Hisco-
rians: the cssence of Herodotus, Thucydides, Xenophon, Poly•
bius, Chacto andW"mdus, Londres, 1969, e ao livro,muito inferior
a estes, de Denis RoUSStl, Los historiadores griegos, Siglo XXI,
Madri, 1975, ou ao capítulo sobre fontes de V.V. Struvc,Historia
de la antiga Grecia, Akal, Madrl, 1979, pp. 699-765. Tocalmence
inútil é o trabalho de A. Toynbee, El pensamiento histórico grie-
go, Sudam.ericana, Buenos Aires, 1967, em que se mistura ataba-
lhoadamente, de Heródoto ao Evangelho.Acerca do que se tratou
neste parágrafo, ver Gian Franco Gianotti, Mito e storia ncl pen-
siero grcco, Loescher, Turim, 1976, texto que nos permite acom-
panhar desde os momentos em que o mito se insere na história,
justificando-a - o que pode ser visto, por exemplo, na história das
cinco raças de homens que se encontra em Hesíodo, Los tmba-
jos y los dias, versos 166-201 -, passando por sua critica, pela
obra cm boa pane dos historiadores, até sua continuidade em
Platão - ver, sobtc este assunto,John E Callahan, •Diatectic, myth
and history in the philosophy of Plato•, em H. F. North, org., ln-
terprctations of Plato, Brill, Lciden, 1977, pp. 64-85 - e seu uso
deliberado comà•história ideológica•, por Isócratcs.Também, M.
notas

1. Finlcy, Toe Ancient Grecks, Pt:aguin, Ha.rmomh.-wonh, 1966,


pp. 111-114 (há tradução cm espanhol, publicada por Labor), e
Antbony Andrcwes, Grcck Society, Pcnguin, Harmomlswonh,
1971,pp. 287-288. Uma das melhores visões de c:onjunto da his-
toriogr.úía grega, da qual fizemos uso nas páginas seguintes de al-
gumas idéias, é a breve e lúcida análise de Arnaldo Momigliano,
"Grcck Historiogrophy", cm History anti Thcory, XVII (197,8), 0 u
l,pp.1-28.
6. De Chii.telec uso canto La naissance de l'histoire, Les Editions de
Minuit, Paris, 1962, 2 vols., como"L'idéologie de la Cité grecque·,
cm François Châtelec, org. Histoirc des i<leologies, Hachecce, pa-
ris, 1978, I.A síntese das idéi,,s c.le Santo Mazzarino foi feita a p.ar-
tir cJe passagens muito divers-JS do como I c1c II pensiero storico
classice, mesmo que seja preciso reconhecer que uma obrc1 "flu-
vial" como esta presta-se mal a tal g!nero de redução, que trai a
riqueza de suas complex.1s colocações, ao simplificarmos esque-
maticamente o autor <lestas linhas assume a rcsponsabilidac.le
pela violência a que submeteu as kléias de Mazzurino, somente
pela ncce.ssic.lade de resumi-las em breve espaço.
7. Os principais tcxtOS c1e Heródoto - que uso na tracluçio da Histo-
ria de Schn.cler, jã citada - empregados para compor este parágra-
a,
fo são I, 140, sobre seu conhecimento da história persá. pp. 206-
207); os de n, 34, já citados, sobre suas conversas com os sãceruo-
ces egípcios: n, 65, aa:rca de sua clcsconfiança em relação às"ques-
tões divinas" (pp. 354-356) e n, 123, pelas rabulas egípcias (p.
414). Sobre Heródoco:W.W. How e}.Wells,A Commcnta.ry on He-
roclotus, Clarerulon Press, Oxford, 1967 (a ecJiçio original é ele
1912), 2 vols. (cm especial, I, pp. 24-27, 32-33, 46, etc.); CharlesW.
Fomars, Heorodorus. An Interprctativc Essay, Clarcnclon Press,
Oxford, 1971 (um tentativa de análise da composição. da Hi:iito-
ri a); E Chãtelec, La naissance c1e l'histoirc, especialmc:ncc i, pp.
99-129;Santo M3222rino, II pcnsiero storico classice (pp. 127-128,
155-157, 186, etc.). Par:a sua revalorização: Herwann StrdSburger,
"Ili storia secando i greci: due modelli storiografici", e Giuseppe
Nenci, uEconomia e società in Erodoto•, ambos em D. Mu:;tl, org.,
La scoriografia greca. Guida storica e critica, Laterza,Bari, 1979,
pp. 1-32 e 123-132, respectivamente; Fraçois Hartog, Le miroir
d'Hérodote. Essai sur la représentation de l'autrc, Gallimar<l, Pc1-
ris, 1980, de enfoque essencialmente antropológico, e, sobrctuclo,
A. D. Momigliano, "lhe Place of Heroclotus in the Historiograplty",

-1286
.....
cm Studies ln Historiography, WcinfcW and Nicolson, Londres,
1969, pp. 127-142, e ~Grcck Historiogn.phy~, pp:3-4.
8.As citações de Tucídides procedem e.la tradução da Historia de la
gucm dei Peloponeso realizada por F1211Cisco Rodíguez Adrados
(Hemando, Madri, 1952-1967),1,pp.87, 106-107, e lli,p.147 (que
correspondem a I, 1, 22 e vn, 27). Sobre os falseamentos de fatos:
Santo Mazzarino, U pcnsiero storico classico, I,pp. 247 e 253-257.
Sobre os propósitos preditivos: Châtclct, Naissance de l'histoirc,
l,pp. 202-205. Os elogios de Finlcy enconttam-sc cm "Tucidides el
moralista", cm Aspectos de la antigüedad, Aricl, Ban::clona, 1975,
pp. 6:H9 (a citação é da p. 79), e Uso y abuso de la historia, Cri-
tica, Barcelona, 1977, pp. 40-44. Elogios semelhantes cm Struvc,
Historia de la antigua Grccia, p. 711. O da "modernidade~ é de
Roussel, Los historiadores griegos, pp. 100-104. Uma valomção
positiva, não demasiado convincente, cm L Cánfora, "De Ia logo-
grafia jonia a la historia ática~, em Ranuccio Bianchi Bandinelli,
org., Historia y civflización de los griegos, m: Grccla cn la q>o-
ca de Pericies.Historia, literatura, filosofia, Icar:ia-Bosch,Barcelo-
na, 1981,pp.371-407 (no tomo V da mesma obra: La crisis de la
polis.Historia, 'literatura, filosofia, pp. 51-52, C.Mossé nos &.la da
fuga de escravos atenienses e de sua b'2n5Cendência). Uma wlora-
ção mais equilibrada, com uma história da evolução de Tucídides
como mestre de historiadores, que chega a seu auge com o ro-
mantismo, em A. D. Momigliano, "Historiography on Written Tradi-
tion and Historiography on Oral Tradition•, em Studies in Histo-
riogra.phy, pp. 211-220.Corno complementos,!oram usados clivcr-
506 estudos de H. D. Westlake, Greek Historians and Greek His-
tory, Manchester University Press, Manchester, 1969, e Nicole Lo-
raux, •To11cyclide n'est pas un coll.cgueª, em Quademi di Storia,
Bari,n" 12 (juJ.-dez. 1980),pp. 55-81.
9. Sobre a relação entre todos estes aspectos: Momigliano, uGreek
Historiographyª, pp. 6-7 (que chega a afinnar que uTucídides, Hi-
pócrates e Eurípides se assemelham fortemente•), e George
Thomson, La filosofia de Esquilo, Ayuso, Madri, 1970. Sobre os
sofistas:W. K. e. Guthrie. Toe Sofists, Cambridge University Press,
Cambridge, 1971; Ellen Meiksins Wood e Neel Wood, Class Ideo-
logy and Ancient Political lheory. Socrates, Pia to and Aristotle
in Social Contexc, Basil BJackwell, Oxford, 1978, pp. 87-94; Maria
Untersteiner, I sofisti, lampugnani Nigri, Milão, 19673,etc.A cita-
ção de Platão é de A República, 493 a, tomada da tradução de J.
··1·
~-
notas

bón e M. Fcrnández. Galiano, Insituto de Estudios Políticos,


M ri, 1969~.II.p.188.Sobre o sentido político e mcto<lológico
que tinha o uso da retórica por Tucídides: Colin W. Macleod, "Jlc..
thoric and history (111ucydides,VI, l6-IBr,cm Quadcmi disto-
rla, 2 (jul.-tlcz. 1975), pp. 39-65. O tono de G. B. Kcrfortl, Tiic so-
phistic Movement, Cambridgr: Univcrsity Press, Cambridge,
1981,apareccu quando estas páginas já estavam escritas.
10. Sigo cm parte a argumentação de Santo Mana.ri.no, li pcnsiero
storico classice, I, pp. 471-494.As reflexões sobre a reação contra
Tucídides são de Wnlbank. Sobre a crise do século IV empreguei
sobretudo os capítulos de Mossé, Moretti e Borza no tomo y de
Historia y civilización de los griegos, de Bianch.i Bandinclli,
acrescentando alguns elementos de outra procedência, como de
M. I. Finley, ~Demagogos atenienses", cm Flllley, org., Estudios so-
bre historia antigua, AkaJ,Madri, 1981,pp. ll-36.Sobre a dege-
neração da retórica e elos historiadores influenciados por ela, A.
Barigazzi, no mesmo tomo de Historia y civiliHción cle los grie-
gos. pp. 34-46. No que se refere a Epicuro, basta consultar qual-
quer edição dc suas obras conservadas - uso a dc Etcorc Bignone,
Latcna, Bari, 19808 - para ver a fragilicladc das especulações so-
bre suas kléias sociais, como as de Gcorgcs Cognioc, Lc macéri a-
lisme gréco-romain, Éditions Socialcs, Paris, 1964, pp. 164-168,ou
Benjamin Farrington, La rcbclión de Epicuro, Edicioncs cle CUitu-
ra Popular, Balcelona, 1968, pp. 109-122. Os estudos sobre o pen-
samento de Epicuro não se rckrcm a tais aspectos - por exem-
plo, Norman Wcncwonh De Wict, Epicurus and bis Philosophy,
Grccnwood Prcss, Wcscpon, 1976, reimpressão da edição de 1954
-, e o que os fazem, falam cm realidade de Lucrttio Oames H. Ni-
chols, Epicurcan Political Philosophy, Thc"Dc rcrum natura n of
Lucrctius, Comell UniVCISity Press, Ithaca, 1976).
11. Éstc extenso parágrafo baseia-se csscncialm.cntc numa leitura
direta de A República (na edição Já citada), de As Leis (edição e
tradução de José Manuel Pab6n e Manuel Fcmánclcz Gallano,
Instituto de Estudios Políticos, Madri, 1960) e da Política de Arls-
tótclcs, na edição inglesa. de Erncst ~cr (Oxford Univcrsity
Prcss, Nova York, 1977).A definição de ciência política foi toma-
da da Retórica, I, [V (1.360 a), de Toe "tlrks of Aristotle, ediçilo
organizada por Sir David Ross, XI; Clarcndon Prcss, Oxford,
1971.Da amplíssima litcratu.ra complementar furam usados:V. de
Magalhães-Y-dhena, Lc problCmc de Socratc. Lc Socrate histori-
notas

que et lc Socrate de Placon, PUF.Paris, 1962;Lco Strauss, 1heAr-


gument p.nd rhc Action of Plato's •taws~, Chicago University
Press, Chicago, 1975; E. M. Wood e N. Wood, Qass lcleology and
Ancient Political Thcory, já citado; Platonc: il filosofo e il pro-
blema politico. La lcttera VII e l'cpistolario, organiza.do por
Aclriana cavarcro,SEI,Turin, 1978;Alicc Swift Riginos, Platonica.
Toe Anccdoces concerning the Life and Writings of Plato, Brill,
Leiden, 1976 (sobre suas estâncias na Sicilia,pp. 70-95);John Fer-
guson, Utopias of thc Classical'Wbrld, Thames and Hudson,lon-
dres, 1975;Wcrner Jaeger, Paideia, Fonc1o'de Culrura Económi-
ca, México, 1971, pp. 1015-1077 (sobre As Leis); Sir David Ross,
Aristoclc, Methuen, Londres. 1971, e G. E. R. Uoyd, Aristotle.1be
Growth and Structurc of his Thoughc, Cambriclgc Univcrsity
Prcss, Cambridge, 1968.
12. Os textos de Platão citados procedem de A República, 445-d e
544-c e seguintes (na c"dição já citada, ll,•P· l 10, e Ili, pp. 51 ss.).
Os de Aristóteles de Política, especialmente o livro m, cap. VII.
Acerca de sua confusa definição de Kpolitcia", R G.Mulgan, Aris-
totlc's Policitical Thcory, Clarcmlon Prcss, Oxford, 1977, pp. 76-
n (e 145-146).
· 13. F.stc parãgtm, foi redigido com base em F.W.Walbank, A Histori-
cal Commcnta.ry on Polybius, Clarcndon Prcss, Orlord, 1957-
1967, 2 vols. (cm especial a intto<lução, 1, pp. 1-37); Paul Padcch,
La méchode historique de Polybc, I.cs Bclles I.cttrcs, Paris, 1964;
Domenico Musci, Polibio e l'impcrialismo romano, Liguori, Ná-
poles, 1978;). Martínez Gásquez, KConsidcracioncs sobre la objcti-
vidad histórica en Polibio",cm Boletim dei Instituto de Estudios
Helénicos, Universidad de Barcclona,X (1976), pp. 3-l 4, e Amaldo
Momigliano, •Toe Historian's Skin" e •Poiybius' Reappcarancc in
Westcm Europc•, cm Essays in Ancient and Modem Historio-
graphy, pp. 67-77 e 79-98, ~Polybus anel Posidonius", cm Alien Wis-
dom. Toe Limits of Hellenization, Cambridge University Press,
Cambridge, 1975, pp. 22-49, y •Grcek Historiography", p. 15.
14. Para este ponto da anaciclOSis segui sobretudo as reflexões de
G. W. Trompf, Toe Idea of Historical Rccurrence in Wcstcm
Thought. from Antiquity to Rcfonnation, Ullivcrsity of Califor-
nia Press, Berkeley, 1979, cm especial pp. 4-115, matizando-o com
Walbank,A Historical Commentary on Polybius, I,pp. 16-26 (so-
bre o conceito de •tyche•) e Pedcch, La méthode historique de
Polybc, pp. 308-317, em que se considera a anaciclosis no cstu-
ções e íormas de governo.
15. Foram usadas visões gerais como a de Jean Marie André eAJain
·-
do da causalidacle históricc1.,em relação com o tema dns constitui-

Hus, La historia en Roma, Siglo XXI, Buenos Aires, 1975 (que faz
pouco mais que colecionar tópicos e levar a sério os textos retó-
ricos dissimuladores); a de M. L. W.: Laistner, The Grcat Roman
Historians, Univcrsity of catifornia Prcss, Berkeley, 1971 (que cni
no tratumcnto dos historiadores como autores a estudar indivi-
duabnente); os capítulos de Kovaliov sobre historiografia em His-
toria de Roma, Akal, Madri, 1979-' (cujas colocações são muito
superficiais, aferradas tão-somente aos problemas da sociedade
escravista); e o volume coletivo deT.A. Oorey, org., Lacin Histo-
rians, Rotlcdge and Kegan Paul, Londres, 1966.Sobre o tema dos
proêmios.Anconio La Penna, Sallustio e la "rivoluzione~ roma-
na, Fcltrindli, Milão, 197:Y, pp.15-67.
16. Sobre a política ~historicisca~ de Augusto, N.A. Maschin, E1 prin-
cipado de Augusto, pp. 28-336. Sobre a formação do histc>ricis-
mo, nwna visão mais ampla,Antonio La Pcnna,"Potcre politico cd
egemcnoia culwrale in Roma antica dall'ctà dellc guerre puniche
all'età. degbiAntonini" ,em Aspetti dei pensiero storico latino, Ei-
naudi,Turin, 1978, pp. 5-41, e o volume de Luca Ganali, org., Po-
tere e consenso nella Roma diAugusto.Guida storica e critica,
Latcrza, Bari, 1975, e em especial: Luca Canali, "li 'manifesto' dei
regime augustc0N, em pp. 233-256. Sobre Livio e sua influência
posterior. T. A. Dorcy, org. Llvy, Routlcdgc and Kcgan Paul, Lon-
dres, 1971 e sobretudo P G. Walsh, Livy. His Historical Aims and
Methods, Clmbridge Univcrsity Prcss. Clmbridge, 1970.As cita-
ções específicas que se fazem são das pp. 287 e 271.
17. Este parigrafo se baseia sobretudo no esplêndido esrudo de An-
tonio La Pcnna, Sallustio e la "rivoluzzione" romana, já citado,
em seu "Storiografia di senatori e storiografia di letterati", em As-
petti dei pensiero storico latino, pp.43-U>4.Também - em rela-
ção aos aspectos históricos, mas não historiográficos - em P.A.
Brunt, Social Conflicts in the Roman Republic, Chatto and Win-
dus, Londres, 1971. Sobre Tácito, foi usado Ronald Symc, 'Illcito,
I,Paideia,Brescia, 1967.O texto citado éTácito,Anales, m,28.
18. Sobre os "historiadores menores~, Stcphen Usher, Toe Hi5to-
rians of Greccc and Rome, pp. 235-257;paraAmiano Marcelino,
R. C. Blockcy, Ammianus Marcellinus. A Study of his Histori~
graphy a.nd Political Tooughc, l.atomos., Bruxelas, 1975 (por
notas

exemplo, pp. 137-143). Evito, em compensação, a problemática


bibliografia sobre a Historia Augusta. A citação sobre a Igreja
como sucessora da ocganização estatal romana é de Alain Guer-
reau, Lc Féodalismc. Un horizon théoriquc, Lc Sycomorc, Paris,
1980, p. 205.A respeito da influência dos autores clássicos sobre
os historiadores medievais, e sobre a transmissão, esquecimento
e recuperação de sais tc(tos, foram úteis sobretudo R. R. Bolgar,
Toe Classical Heritagc and its Bcncficiarics, Gunbridgc Univer-
sity Press, Cambridge, 1977, p. 193 e listas das pp. 508-541; L. D.
Reynolds e N. G. W-dson, Scribcs and Scholars. A Guide to the
'Iransmission of Grcek and Latin Litcraturc, Clarcndon Prcss
Oxford, Oxfonl, 197&'. Sobre Tácito, seu desaparecimento e sua
reaparição: Kenneth C.ScheWuase, 'làcitus in Rcnaissancc Politi-
cal Thought, Chicago Univcrsicy Prcss, Chicago, 1976, pp. 3-30;A.
Momigliano, "Thc First Political Commcntary on Tacirus~, em An-
cient and Modem Historiography, pp. 205-229; Wallace K. Fer-
guson, "Toe Reviva! of Cl:issicalAntiquity in the First Ccntury of
Humanism. A Reappraisal", em Renaissancc Studics, Harpcr
Torchbooks, Nova York, 1963,pp. 93-110. Sobre a difusão da es-
critura. e o nascimento de uma cultura escrita:M.T.Cland1y,From
Mcmory to Written Rccord. England 1066-1307, Edward Ar-
nold, Londres, 1979.A citação que se faz, no entanto, procede ela
crítica deAlain Guerrea.u a este livro em Annales,36 (1981),11•
2,pp. 234-235. Sobre o conteúdo religioso da historiografia roma-
na. tardia: A. Momigliano, "Popular Rcligious Bclicfs and the Late
Roman Historians", cm G.J. Cumming e D. Baker, orgs., Popular
Belief and Pratice (Studies in Chui:ch History,8), Cambridge Uni-
versity Prcss,Cambridge, 1972, pp.1-29. Bernard Guenéc, no livro
que se cita na nota seguinte, mostra que o de Yalerio Máximo era
de longe o livro de história mais difundido ela Idade Média - 419
exemplares conservados frente a: 245 de Paulo Orosio,em segun-
do; 164 de Beela; 50 de Grcgorio de Tours e 20 da Primeira Cn>
nica Geral da Espanha. É cena que este fato combina mal com a
suposição de uma continuidade entre a historiografia. medieval e
moderna que sustenta Gucnéc (pp. 250-252).
19.Optou-sc aqui por supor que há uma contraposição entre o cris-
tão e o pagão, segundo a diferença ela imagem que dão Hcnri-lré-
née Marrou, Décadence romaine ou antiquité tardivc, 111•-IV"
sicclc, Scuil, Paris, 1977, e Pctcc Brown, lhe Making of Late An-
tiquity, Harvard Univcrsity Prcs&, Cambridge (Mass.), 1978 (além
nolas

de Louis Roger, Celse contre les chreciens. Ln réaccion paienne


sous l'cmpi~ romain, e Lc conflit d11 christianismt: primitif ec
de la-civilisation romaine- ambos,Copcrnic,Paris, I9n-,e M.
L l.aistner, Christianity and Paga.o Cultun: in the La ter Roman
Empire, Corncll Uni'Versity Press, Ithaca, 1967). Quisemos tam-
bém dar uma imagem evolutiva da historiografia cristã mctliCVíll
evitando o habitual escudo tipológico - com clcmasiada freqüên:
eia a fúria classificatória esconde a incapacidade: de: análise - de
obras como o conjunto de fa.scículos publicados sob a direção de
L. Gcnicot, Typologlc dcs sources du moycn ãge occklcnca.l, Brc-
pols, Turnhout, ou, em menor escala, Herbert Grundmann, Ges-
chichtschreihung im Mittelalter; Vandenhoeck & Rupn:cht, Gõt-
tingcn, 1965:_ To.mpouco parece convincente o crac.1.mcnto glo-
bal ele Bernard Gucntt, Histoire cc culture historiqut: clans l'Oc-
cident médiéval, Aubicr Montaignc, Paris, 1980, em que,além de
~acidenten ser consider.i.do como pouco mais que a França, vol-
ta-se a cair na inadmissivcl redução da idade média a um todo
global, e isso com muita erudição, para limitar-se a assinalar ova-
lor da historiografü1.mctlievnl - estudada em suas lontes,métoclos
e ambiente cultutal. - e insistir na continuidade entre a idade mé-
dia e a modema, renunciando expressamente a ocupar-se das
~idéias dos historiadorcsn, e usando como justificativa o :ugu-
mento surpreendente de que, ainda que as tivessem, ~as conipar-
tilhavam com seu tempon - Com que tempo? Com o tempo des-
sa intenninável"ldadc Média"? (p.7). Mais útil mostrou-se o tr-.a-
baho de Denis Hay,Annalists and Historians, ~tem Historio-
graphy from theVIIth to the XVIIlth Century, Thames and Hud-
son, Londres, 1974. Comprender-se-á que num tratamento como
este foi possível fazermos pouco uso de contribuições eruditus
pontuais como as de La storiografia altomedievalc (Scttimanc
di studio dei Centro italiano cli srudi sull'alto mediocvo, 17), Spo-
Ieto, 1970, 2 vc:ils., ou de Antonia Grandsen, cujo Historical Wri-
ting in England, e. 550 to é:, 1307, Routlcdgc and Kcgan Paul,
Londres, 1974, é pouco mais que um catálogo ilustmc.lo que nos
leva a superar o tratamento individual cios autorc~ sem nenhuma
generalização.
20. Uso as Crónicas de Euscbio de Ccsarca na versio latina de São
Jerônimo, tal como se publica cm J. P. Mignc, Pa.trologiae cursus
complctus, series latina, XXVII (San Jerónimo, t. VID), Paris,
1866. Sobre tábuas pascuais e analíticas: Michael McCormick, Les

----r-
"ºcos
Annales du Haut Moycn Ãgc, Brcpols,Turnhout, 1975 (L Gcni-
coc, org., Typologic dcs sourccs du moycn ãge occidcntal, fase.
14) e SmaJlcy, Historians in thc Middle Ages, PP- 56-68. Sobre
monges e regulação do tempo horário: H. E. Hnllam, •nic Medie-
val Social Piccurc", cm E. Ka.mcnka e R.S. Ncalc,orgs., Fcudalism,
Capitalism and Bcyond, Edward Arnold, Londres, 1975, pp. 2~
49. Sobre a regro de Sio Bento e uma ~Regula Magistri• anterior:
Gilcs Constablc, ªThe Study é,f Monastic History Tociay•, em Vil-
clac Munloch e G. S. Cousc, orgs., Essays on the Reconstruction
of Medieval History, McGriU-Queen's Uniw:rsity, Montreal/Lon-
dres, 1974, pp. 19-51 (em resumo, pp. 33-35). Sobre os relógios
medievais: H.Alan Uoyd, ~McchanicalTimckcepcrs", cm C.Singer
et ai., A History of Tuchnology, m, Clrucndon Press, Oxfotd.,
1957, pp. 648-675, e Lynn White Jr., Technologie médievale ct
transformations sociales, Mouton, Paris/La Haya, 1969, pp. 129-
134. Sobre cronologia, em geral, Gucnée, Histoire ct culture his-
toriquc, pp. 51-53, 147-165.
21. O texto de Daniel usado é 7: 1-9. Pua sua interpretação •roma-
na6vcr o comentário de São Jerônimo em Migne, Patrologia, se-
rie latina, XXV (Obras ele San Jerónimo, V. Gamier, Paris, 1884),
530, e Santo Mazzarino, El fin dei mundo antiguo, Uteha, M6ci.-
co, 1961,pp. 35-39.O torto elo Apocalipse de São João é 20: 1-15.
Sobre os modelos proféticos, Smalley, Historians in che Middle
Ages, pp. 29-38, e Trompf, Toe ldca of Rccurrcnce in \lbccm
Thougth, pp. 207-221 e 335.337. A ilustd.Çio da roda das idades
a que se alude é de Londrcs,Britlsh Musewn,MSYatcsThompson
31, f. 76 r., e se reproduz cm Smallcy, ainda que sem uma leitura
adequada dos textos. Sobre o tema dos quatro impérios e as seis
idades elo mundo, Karl Heinrich Krügcr, Dic Universalchroni-
lren, Brepols,Tumhout, 1976, pp. 24-27 (Gcnicot, org., 'fypologie
des sources du moyen âge occidental, &se. 16), e Abilio Barbcro
e Marcelo Vigil, La formación dei feudalismo en la Península
Ibérica, Critica, Barcelona, 1978, pp. 249-258.
22. Sobre ~ renCXão cristã acerca da decadência do Império e do fim
do mundo: H. I. Marrou. Décadence rof!laine ou antiquité cardi-
ve'l, pp. 120-125, e Santo Mazzarino, E1 fin dei mundo antiguo,
pp. 26-39. Sobre o pensamento histórico de Santo Agostinho: Pe-
ter Brown, Augustine of Hippo, Univcrsicy of Califomia Press,
Berkeley, 1969, p. 306 e passim; R.A. Marlrus:, uAugustinc. Man in
history and society~cmA. H.Annstrong,org., Toe Cambridge His-
tory of La ter Grcck and Early Medieval Philosophy. Cambridge
University Press, Cambridge, 1970, pp. 406-419;José Oroz, "L'atti-
tude de SaintAugustin à l'égartl de Rome" ,em I:idéologie de J'im-
perialisme romain, Les BeUes Letrres-Université de Dijon, Paris,
1974, pp. 146-157; John Ferguson, Utopias of the Classic:11
World,Thames and Hudson, Londres, 1975, pp. 181-188. O texto
de La cidad de Dios usado foi o da edição de la Patrologi n de
Migne, serie latina, XIJ (Gamier, Paris, 1900), Obras de San Agus-
tín, tomo VII, em que a crítica às interpretações da semana cósmi-
ca, por exemplo, encontram-se em 666-669. Sobre Paulo Orósio:
Santo Mazzarino, EI findei mundo antiguo, pp. 51-56. O texto
das Historiae adversus paganos, em Migne, Patrologia, serie Ja-
tina,XXXI,Paris, 1846, 663-1174. O capítulo sobre a tomada e sa-
que de Roma, de onde extraímos a citação textual, 1163-1165.
23.A obra de Gregório deTours foi usada na versão inglesa,TI1e His-
tory on the Franks, Penguin, Harmondsworth, 1974, tradução e
estudo introdutório de LewisThorpe;este estudo introdutório foi
usallo como fonte de informação. A citação textual de IX-5 (p.
483 desta edição).A obra histórica de Isidoro de Sevilla em Cri:;.
tóbal Rodriguez Afonso, Las historias de los godos, vándalos y
suevos de Isidoro de Sevilla, estudo, edição crítica e tradução de
C. R.A., C. E. I. San Isidoro, León, 1975; Paul Merritt Basset, "1111:
Use of History in the 'Chronicon' of Isidore of Seville", em.His-
tory and Theory, XV (1976), n" 3, pp, 278-292:A. H.Armstrong,
org., TI1e Cambridge History of Later Greek and Early Medie-
val Philosophy,pp. 555-564.Sobre a historiografia asturiana e sua
interpretação política, A. Barbeiro e M. Vigil, La fonnación dei
feudalismo en la Península ibérica, pp. 236-247 e 263-278. Para
uma visão muito mais acadêmica da evolução desta historiogra-
fia medieval hispânica, até chegar ao trabalho totalmente anacrô-
nico.já que inútil do ponto de vista social.que é a "GeneraJ esto-
ria" deAlfonso X,Francisco Rko,Alfonso e! Sabia e la "General
estoriaH, Ariel, Barcelona, 1972, em especial pp. 15-44. Sobre
Beda:Antonia Granclsen, Historical Writting in England, c. 550-
c. 1307, pp. 13-28 (apesar de apresentar uma trivialidade tão in-
compreensível como a afirmação de que "Becla foi influenciado
por três disciplinas acadêmicas fundamentais, historiografia, cro-
nologia e hagiografia", que, logicamente, não podiam ser conce-
bidas por Beda como "disciplinasH separáveis, senão como carac-
terísticas da história). O texto empregado foi o da edição de Leo
no"5

Shcrlcy-Price:Bc<lc,A Histocy of the English Church and Pcople,


Pcnguin, Hcrmondsworth, 1968; a citação textual de p. 33. Tam-
bém, Rogcr Ray, "Betle's Vera Lcx HiscoriacM, em Speculum, 55
(1980), n" 1, pp. 1-21. Para o quadro geral: Ph. Wolff, L'évcil intel-
lcctuel de l'Europe,Seuil,Paris, 1971.
24. Este parágrafo se baseia cm Gcorgcs Duby, Guerrcros y campe-
sinos, dcsarrollo inicial de la economia curopea, 500-1200,Si-
glo XXI, Maclri, 1976, pp. 199-227;Alain Guerrcau, Le féodaliS!JlC.
Un horizon théoriquc,LeSycomore,Paris, 1980 passim,e,sobre-
tudo, no esplêndido estudo de Pierre Bonnassic, La Catalogne
du milicu du X• à la fim du XI• sicclc. CroiSs11.nce ct mucations
d'unc société, UniVCISité de Toulouse-Le Mirail, TouloU5e, 1975-
1976, 2 vols.A definição de Ccu<lalismo foi tomada de Piem: Bon-
nassie, Les cinquance moes clcfs de l'histoire médiévalc, Privat,
Toulouse, 198 l, p. 86. Sobre o desaparecimento da escravidão an-
tiga: Pierre Dockês, la libération médiévalc, Flammarion, Paris,
1979, y Emily R. Colcrnan, •Medieval Marriagc Charactcristics:A
Ncglccccd Factor in thc History of Medieval Scrfdom•, cn R. I.
Rotbcrg yT.L Rabb,cds., Maniagc and Fcrtiliry.Studics in Intcr-
disciplinary History, Princcton Univcisiry Press, Princeton,
1980,pp. 3-17. (Convém combiná-lo,no cntanco,com}. Hccrs, Es-
davcs ct domestiques au MoycnAgc dans lc monde médiccrra-
nécn, Fayard, Paris, 1981). O &to de tomar a problemática da so-
ciedade feudal neste ponto de sua cristalização, não Significa ig-
norar suas origens e sua lenta maturação. Remeto, nesse sentido,
às colocações ele Abilio Barbcro e Marcelo Vigil cn La formación
dei feudalismo cn la Península Ibérica, cm que se cnconuará,
~m do mais, uma vasta inlonnação bibliográfica.
25. Este parágrafo se baseia, sobretudo, cm duas obras de Gcorgcs
Duby, que foram utilizadas amplamente: Los trcs órdc:ncs o lo
imaginario dei feudalismo, Pctrel, Batcclona, 1980, e lc: chcva-
licr; la femmc ct 1c pd:trc. Lc mariagc dans la Francc féodalc,
Hachcttc,Paris, 1981.
26. Bernard Mdiinn, Visions of thc Encl.Apocalyptic Traditions in
thc Middlc Ages, Columbia Univcrsity Prcss, Nova York, 1979, pp.
126-141; Marjoric Rcevcs anel Bcatricc Hirsch-Rcich, 1bc Figurae
of Joachim of Fiorc, Clarendon Press, Oxford, 1972; Malcolm
Lambert, Medieval Hcresy, Popular Movemcn~ from Bogumil
to Hus, Edward Arnold, Londres, 1977, pp. 101-102 y 186-197;
Trompf, Toe ldca of Historical Rccurrcnc:c, pp. 216-220.
27. Foram consultados, sobretudo, os livros tlc McGinn C de Mal- ·
colm Larpbert, citados na nota anterior: Menos utilizado foi o atra-
~vo, porém um tanto simplista e supedicial, trabalho de Norman

fv!n;!et~u;~ :~he::~~;n;:~::ad~d~;~:.~~~iu:
grafia a ser citada sobre a influência do joaquinismo é intenniná-
vcl: Rccvcs e Hirsch-Rcich, 1he Figurnc of Joachim of Fiore (pp.
297-329, por exemplo, sobre Dante); sobre Campanclla, FranCCII
A. Yates, Gionlano Bruno et la tradizione ermetica, Latcna.,
Bari, 1969, p. 417; sobre a heresia do espírito livre, Robert E. Lcr-
ner, 1he Heresy of d1c Frcc Spirit in thc la ter Middlc Ages, Uni-
vcISity of California Prcss, Berkeley, 1972; sobre os hussitas, Ro-
bert Kalivoda, Husitská idcologic, NCAV, Praga, 1961, pp. 232-
240, 282-284; sobre a periodização nos primeiros humanistas e
cm Petrarca,Trompf, 1hc Itlca ofHistorical Rccurrcnce, pp. 335-
337, etc.; Marjoric E. Rccvcs, ~Some Popular Prophccies from thc
Fourtccnth to d1c Scvcntcenth Ccnturics", cm G.J. Cuming e D.
Baker, cds., Popular Belicf and Practicc, pp. 107-138. Não vejo a
utilidade de distinguir entre a profecia herética e a profecia
como critica do presente, como faz Robert E. l.crncr, ~Medieval
Prophecy and Rcligious Disscntft, en Past and Prcscnt n" 72
(agosto 1976), pp. 3-24. O problema da influência de Joaquim foi
largamente debatido. Uma avaliação completa cm MarjÕrie Rec-
vcs, ªTilC Originality and Influcnce of Joachim of Aorcft, e11 Tra-
ilictio, XXXVI (1980), pp. 269-316. Uma visão distinta e mais res-
tritiva, em E. Ranfolph Daniel, ªToe Double Proccssion of the
Holy Spirit in Joacbim of Fiorc's Understanding of Historyft, cn
Spcculum, 55 (1980), nD 3, pp. 469-483. Um estado da qUCSG.O
dos escudos sobre Joaquim e o joaquinismo, cm M. W. Bloom.fiel,
~Rcccnt Scholarship on Joachim of Piore and his lnfluence~, cn
Anna Williams, org., Prophecy and Millenarianism. Essays in
Honour of Marjorie Rccvcs, l.ongman, Londres, 1980, pp. 221-
52. Convém defender-se, em contrapartida, os CXCC$0$ que co-
metem Cohn o Harry Lcvin (Thc Myth of the Golden Age in the
Renaissancce, Oxford Univcrsity ~ . Nova York, 1969, p. 151),
na interpretação das escolas do joaquinismo, levando-as arbitra-
riamente até Comtc,Tolstoi ou Marx. Para a Itilia há supões in-
teressantes em Dclio Cantimori, Eretici italiani dcl cinqucccnco.
Ricerchc storiche, Sansoni, Florencia, 19783. Os franciscanos
pcnsanm que a sociedade do milênio podia surgir nas novas ter-
notas

rJ.S descobertas na América; sobre i:iso:John L. Phclan, EI reino


miknario de los franciscanos cn cl Nucvo Mundo, UNAM, Mé-
xico, 1972. Na Cataluiia há influências daras de joaquinismo cm
Arnau de Viinnova (na ~canfcssió de Barcelona", Obres catala-
nes. l: cscrits religiosos, Baccino, Barcelona, 1947), ecos das pro-
posms de reforma da Igreja em Blanquem a de Ramon Llull, em
que um papa angélico reproduz a história de Celestino V (1294),
que renunciou ao pontificado para seguir vivendo na pobreza
(Obres csscncials,Sclecta, Barcelona, 1957, vol. I). Por outro lado,
os anúncios de um fim do mundo iminentt: que encontr.unos na
prcdicaçio de São Viccnt Fcrrcr (por exemplo, Sermons, IU, Bar-
cino, Barcelona, 1957, p. 24), situam o fim do mundo e o juízo fi-
nal imcdiatamcncc depois da morte do Anticristo, com o que eli-
minam toda esperança do milênio e dcir.im o crente passiva-
mente submetido ao seu destino e à direção da Igccja. A citação
de Antonio Labriola é de Saggi s1.1I materialismo storico, org. de
V. Gerrotarut e: A. G1.1erra, Eclitori Riuniti, Roma 1968, pp. 272-273
(ver também seus comentários em pp. 258-260). Sobre as icléias
dos camponeses ingleses do século XIV: Rotlney Hilton, Bond
Men Made Frtt.Medieval l'casant Movements and the English
Rising of 1381,Temple Smith, Londres, 1973,em que há um ca-
pítulo dedicaclo à análise gt:ral elos movimencos de massa na bai-
xa ida.ele média (pp. 96-1134) e complementa admiravelmente
textos como os de Lambert y McGinn que foram citados anterior-
mente, escricos sob o ponto de vista das idéias religiosas.A cicu-
ção final foi tomada de Jürgen Bücking, ·Toe Peasant Wnr in the
Habsburg Lands as a Social Systems-Conflict", em Boob Scribner
y Gcrhard Beneckc:, eds., TI1e German Pcasant w.tr of 1525.
NewViewpoints,Allen and Unwin, Londres, 1979,pp. 160-173; ci-
tação literal da p. 163. Há uma vasta literatur.t sobre a estruturo
triplice ela sociedade. Para a sociedade espanhola, por exempl0,
· · Lucianda de Stefuno, La socieda.cl estamental de la baja Eclad
Media espaiiola a la luz de la. literatura de la época, Universi-
elade Central de'Vcnezuela,Car.tcas, 1966.
28. Sobre a aparição de uma lite"ratU.ra histórica en línguas wlgares,
Charles Homcr Haskins, 111e Renaissance of the 'I\vclfth Cen-
tury, Harvard Universicy Prcss, Cambridge (Mass.), 19766, pp.
274-275. Sobre a ascese e crise ela Itália comunal, seguimos Lau-
ro Manines, Power and Imagination. City-States in Rcnaissan-
ce ltaly,A.A. Knopf,NovaYork, 1'1'79 (a caracterização ela ane de
no1,s

Giotto, em pp. 249-250), e J. K. Hyde, Society and Policies in Me.


dicval It11.ly. The Evolution of che Civil Llfe, 1000-1350, Macmil-
lnn, Londres, 1973.A w.loração do pensamento político dê Dame
procede de Antonio Gramsci, II Risorgimcnto, Einaucli, Torino,
1949,p. 7.
29. Sobre o problema da caracterização das revoluções Mprotobur-
guesas", ver o wlumc editado por Manficd. Kossok, Studien zur
vcrgleichcndcn Revolutionsgcschichtc, 1500-191 7, Akademie-
Vcrlag, Berlim, 1974 (cm especial a contribuição de Gcrhard
Brencller, MZur Problcmatik des frühbürgerrlichen Revolutioons-
zyklus", pp. 29-52); Manfred Kossok, MObcr l'yp um\ l'ypologie
biirgerlichcr Rcvolutionen•, cm E. Engelberg y W. Kilttler, eds.,
Probleme der geschichtwissenscha!tlichcn Erkennimis. Akacle-
mie Verlag, Berlim, 1m, pp. 59-71, e, do mesmo autor, •Verglei-
chcnde Rcvolutionageschichte der Ncuzciit: Forschungsproble-
mc und Kontnoverscn", en Zeitsschrift für Gcschichtswi$-
senschfc, XXVI (1978), cad. l, pp. 5-34. Uma acelentc tentativa
de dar conta da composição social de alguns destes movimentos,
e cios motivos que conduzem a semelhantes a1ianças, tt:mQs no
capítulo VIII, "TheAllies of the RebeJs•, cio livro de Hilton citaclo:
Bond Mt:n Made Frce (pp.186-213). Uma mostra de como a ~ob-
jetividade acaclêmicn•se comporta, quanclo advém alguma forma
de ameaça à ordem estabelecida, temos en McGinn. Visions of
the End,que justifica a cruel execução de Frei Dokino com o ar-
gumento de que, se tivesse vcnciclo, teria feito o mesmo a seus
inimigos (p. 227), ou se tranquiliza, ao comprovar que o chama-
cio Revolucionário do alto Reno ~afortunadamente não encon-
trou scguiclores· cpp. 271-272).

capitulo 2 - do renascimento à
ilustração
1. Felix Gilbert, Machiavclli e Guiccianlini. Pcnsiero politico e sto-
riografia a Fircnzc ncl Cinqueccnto, Einaudi, Turin, 1970 (cita-
ção textual da p. 175). O grande livro cio conjunto sobre o tema •
é. sem dúvida, o ele Rich Cochrane, Historians and Historio-
graphy in the Icalian Renaissance, Chicago Univcrsity Press,

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