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conceitos, t r a d i ç õ e s e práticas
W 1
t
c
* ° intersaberes
Conselho editorial Dr. Ivo José Both (presidente) | Dr* Elena Godoy | Dr. Neri dos
Santos | Dr. Ulf Gregor Baranow || Editora-chefe Lindsay Azambuja || Gerente
editorial Ariadne Nunes Wenger || Analista editorial Ariel Martins || Preparação
de originais Bruno Gabriel \\ Edição de texto Palavra do Editor |Tiago Marinaska |
Camila Rosa \\Capa e projeto gráfico Sílvio Gabriel Spannenberg (design) | Kovalov
Anatolii eOnly background/Shutterstock (imagens) WDiagramação Cassiano
Darela || Equipe de design Sílvio Gabriel Spannenberg | Iconografia Sandra Lopis
da Silveira | Regina Claudia Cruz Prestes
Bibliografia.
ISBN 978-85-227-0279-4
19-32185 CDD-294.5
I edição, 2020.
a
7 | Apresentação
12 | Como aproveitar ao máximo este livro
15 | Introdução
16 | 1 E m busca de definições
16 | 1.1 O que é o hinduísmo?
23 | 1.2 Quem pode ser considerado u m hindu?
31 | 1.3 Vários deuses ou um?
36 | 1.4 Do vegetarianismo à carnificina?
42 | 1.5 Hinduísmo ou hinduísmos?
COMO A P R O V E I T A R
AO M Á X I M O E S T E LIVRO
EM BUSCA DE DEFINIÇC
Introdução do capítulo
Qu ando estudamos o hinduísmo, precisamos lembra
de uma religião que, a peitar de ter vida própria, foi m; Logo na abertura do capítulo,
temente por intrusões e abusos por parledo mundood
aconteceu especialmente durante n período de domii
informamos os temas de estudo e
nobre o «incontinente indiano, entre 1757 c 1«>47, qu os objetivos de aprendizagem que
alcançou a independência politica. Percebemos que
dMM tempo ainda permanecem, assim como algui serão nele abrangidos, fazendo
ION (•slubcht idos naquele contexto, que devem sei i considerações preliminares sobre as
reconhecidos, mus também superado». Pensando
jjnmeiro^ca^ituJo^D^e^^ temáticas em foco.
P R E S T E ATENÇÃO!
De acordo com Olivelle (2018b), em sua o r i g e m , o I
tem uma evidente relação com o ascetismo, que fica
comparação desse t e r m o com smma, "trabalho ase
significa que está originalmente ligado ao novo mot
sidade, vinculado ao ascetismo.
Preste atenção!
Mas quais eram as quatro fases originais? Difc
d o que se poderia esperar, o Ãpastamba Uhunnasutra Apresentamos informações comple-
por Olivelle, 2018b, p. 80, tradução nossa) afirma qu
Afamo* a vida de chefe de casa, vivendo na família d(
mentares a respeito do assunto que
de u m sábio, e • vida de vanapraslha". fnverte-se, ap. está sendo tratado.
ATIVIDADES DE A U T O A V A U A Ç Ã O
1 Os três caminhos da libertação (friniãnyn) são os s
- Karnuimaruu. Atividades de
it. Inãnamáiya.
M, Hliaktimaryu. autoavaliação
Indique qual das alternativas a seguir faz uma rei
entre o caminho mencionado, conforme a n u m e
Apresentamos estas questões obje-
lada, e seu significado: tivas para que você verifique o grau
A] I - c a m i n h o da ação; II c a m i n h o do conhe< de assimilação dos conceitos exa-
c a m i n h o da devoção.
Bl I - c a m i n h o da devoção; II - c a m i n h o d o co minados, motivando-se a progredir
III - c a m i n h o da ação. em seus estudos.
r i I i iniinliniliniinbnnimniilinll rniminhn
14
ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM
Q u e s t õ e s para r e f l e x ã o
1 Liste cada u m dos t r ê s c a m i n h o s da l i b e r t a ç ã o !
explique de que f o r m a eles aparecem e m c a d a u i
etapas d a h i s t ó r i a do h i n d u í s m o , a fim de eviden
v o l v i m e n t o h i s t ó r i c o dessa religião c o m base ness
B I B L I O G R A F I A C O M E N T A D-
B I A N C H I N I . P. A g r a n d e d e u s a n u í n d i a u m a br
C u r i t i b a : P r i s m a s , 2016.
Flavia Bianchini é uma pesquisadora brasileira que]
cado ao estudo do hinduísmo e, t s p t c i a l m i n t c , do
escrituras indianas. S e u livro e fruto do mestrado
da Religião pela Universidade Federal da Paraíba I
a autora apresenta a história de desenvolvimento
Bibliografia comentada
da grande deusa pelo shaktismo, u m a das prlncip| Nesta seção, comentamos algumas
obras de referência para o estudo
hinduísmo. Trata-se de leitura Importante para todo
querem ter uma visão mais profunda sobre essa linl
1 1
0 que é o hinduísmo?
O termo hinduísmo (no inglês, hinduism) é, em grande medida, fruto
da colonização inglesa, que criou as circunstâncias dentro das quais
a palavra foi cunhada e fundamentada. Era entendido como "uma
religião mundial, comparável a outras 'grandes' tradições como
o cristianismo, o budismo e o Islã, emergindo não somente como
uma ideia, um retrato composto de várias e às vezes contraditórias
tradições, mas também como uma realidade incipiente", como
lembra Pennington (2005, p. 5, tradução nossa). Nesse sentido,
17 Em busca de definições
IMPORTANTE!
PRESTE ATENÇÃO!
Conforme Martins (2006, p. 23), a forma mais correta de descrever
o hinduísmo, na concepção ocidental de religião, é "como u m con-
junto de religiões com uma linguagem em c o m u m , pois tem pouca
ou nenhuma organização central, ou base teológica compartilhada".
IMPORTANTE!
um hindu?
O termo hindu, como afirma Jawaharlal Nehru, provém do termo
sânscrito sindhu, que é "o antigo e atual nome indiano para o [Rio]
Indo", de modo que desse termo provém "as palavras hindu e hindus-
tan, assim como Indo e índia" (Nehru, 1994, p. 74, tradução nossa).
Antes de se relacionar a uma religião, portanto, dizia respeito a
uma localidade geográfica: a região do Rio Indo. A f i n a l , segundo
Nehru, o termo era utilizado pelas populações do oeste e do centro
da Ásia para se referir à índia, assim como ao povo que vivia "do
outro lado do Rio Indo" (Nehru, 1994, p. 74), sendo adaptado para
Hendu, entre os persas e os iranianos, e para Indus, entre os gregos
(Frias, 2003). O termo hindu era, pois, em sua origem, u m "conceito
geográfico", na expressão de Correa (2012, p. 47, tradução nossa),
ganhando sentido religioso somente com o passar do tempo.
Em algumas definições mais recentes, procura-se manter o
aspecto geográfico do termo. É o caso da explicação de Vinayak
Damodar Savarkar, citado p o r Klaus Klostermaier (2009, p. 5),
que "definiu a pessoa h i n d u como alguém cuja Terra Santa é a
índia". Apesar da permanência do sentido geográfico, porém, há
uma mudança importante: se antes a definição dependia de uma
24 Em busca de definições
PRESTE ATENÇÃO!
r e s u l t a r i a e m u m a i m e n s a facilitação n o t r a n s p o r t e e c o m é r c i o da
índia. Acontece, p o r é m , que m u i t o s h i n d u s t r a d i c i o n a l i s t a s t ê m
t o m a d o t a l projeto, n u m a leitura religiosa, como u m atentado
c o n t r a a e s t r u t u r a geográfica sagrada que liga o s u l da í n d i a ao
Sri L a n k a , a q u a l é vista c o m o o c a m i n h o p e r c o r r i d o pelo deus
Rama na famosa história conhecida c o m o Rãmãyana (Pinto, 2007).
C o m esse e x e m p l o , fica claro c o m o a sacralidade da geografia
da índia é marca da r e l i g i o s i d a d e i n d i a n a , ao m e s m o t e m p o que
n e m todos os i n d i a n o s a t o m a m da m e s m a f o r m a . A f i n a l , o fato
de alguém ter u m a visão m a i s m o d e r n i s t a e m e s m o p r e t e n s õ e s
de t r a n s f o r m a ç ã o da geografia i n d i a n a , isto é, p r o p o r ou m e s m o
c o n c o r d a r c o m o p r o j e t o d o canal, n ã o s i g n i f i c a q u e esse alguém
n ã o possa ser considerado não somente u m i n d i a n o , mas t a m b é m
um hindu.
IMPORTANTE!
PRESTE ATENÇÃO!
É no processo de cremação que a alma se liberta do corpo, saindo
do crânio do esqueleto quando este estrala e racha, isto é, pelo
mesmo local da cabeça que havia entrado no corpo ao nascer
(Kiing, 2004), seja para se libertar, alcançando o moksha, seja para
renascer, permanecendo no samsãra. Como se d i z no Satapatha
Brãhmana (2.2.4), "quando alguém morre e é colocado sobre o fogo,
ele renasce do fogo, porque o fogo queima somente o seu corpo"
(Stella, 1971, p. 29). De acordo com a f o r m a como os hindus ado-
ram o Rio Ganges, considerado encarnação da deusa (devi) Ganga,
acredita-se que, durante o processo de cremação, o próprio Shiva
sussurra u m m a n t r a redentor aos mortos (Kiing, 2004), cujas c i n -
zas são imersas nas águas do r i o pelos parentes da pessoa m o r t a .
29 Em busca de definições
13
Vários deuses ou um?
No que diz respeito ao hinduísmo como religião, naquilo que tem
de presença, e não de ausência, os próprios hindus tendem a se
definir não tanto em relação às suas crenças, tais como os cristãos
e os muçulmanos, mas em relação às suas práticas (Doniger, 1991).
Segundo Lorenzen (2006, p. 80, tradução nossa), a religião h i n d u
é "mais 'ortoprática' que ortodoxa", ou seja, preza mais pela prática
correta do que pela crença correta - ou ainda, mais pela prática
do que pela crença, pura e simplesmente.
IMPORTANTE!
PRESTE ATENÇÃO!
IMPORTANTE!
iA
Do vegetarianismo à carnificina?
M u i t a s vezes, o que p o s s i b i l i t a que u m h i n d u "veja" n ã o é t a n t o
u m a estátua, m a s u m ser v i v o , p o d e n d o ser u m a pessoa o u até
m e s m o u m a n i m a l . N o caso de a n i m a i s , eles s ã o v a l o r i z a d o s
p r i n c i p a l m e n t e p o r duas razões:
IMPORTANTE!
A vaca é tida como mais pura do que o brâmane, o mais puro entre
os homens. Ela não somente purifica quem a toca, mas também
carrega consigo elementos sagrados que vão do leite, fonte de vida,
ao excremento, utilizado como fertilizante e como combustível
38 Em busca de definições
PRESTE ATENÇÃO!
E m 2014, p o s s i v e l m e n t e e m v i r t u d e de críticas i n t e r n a c i o n a i s ,
o f e s t i v a l teve u m d e c r é s c i m o n o n ú m e r o de m o r t e s : no caso dos
búfalos, o n ú m e r o c a i u de a p r o x i m a d a m e n t e 10.000, e m 2 0 0 9 ,
para 5.000 cabeças, e m 2014 (Pattisson, 2014). E m 2015, p o r é m ,
f o i d a d o u m passo o u s a d o : o s e c r e t á r i o d o G a d h i m a i T e m p l e
Trust, M o t i l a l Prasad, a n u n c i o u a decisão de se " p a r a r a prática do
sacrifício a n i m a l " (Jones; P h u y a l ; Pandey, 2015, t r a d u ç ã o nossa)
durante o festival.
Além dos casos de c a r n i f i c i n a , há t a m b é m inúmeros h i n d u s que,
apesar de se c o n s i d e r a r e m pertencentes ao h i n d u í s m o , c o m e m
carne. E m geral, n ã o são seguidores de K r i s h n a , cujo c u l t o e r e -
ligiosidade c o s t u m a m i n c l u i r o v e g e t a r i a n i s m o e i n t e n s i f i c a r a m
essa prática d e n t r o da c u l t u r a h i n d u ( D a v i d s o n , 2003). Trata-se,
p o r t a n t o , de pessoas que, a despeito de sua dieta, i d e n t i f i c a m - s e
c o m a religião h i n d u . Dessa f o r m a , deve-se a d m i t i r , c o n f o r m e
D a v i d s o n (2003, p. 115, tradução nossa), que " m u i t o s h i n d u s hoje
e no passado c o m e r a m " e a i n d a c o m e m carne.
O u seja, a d e f i n i ç ã o de hindu do Censo de 1910 c o m o sendo
a l g u é m v e g e t a r i a n o , que n ã o c o m e c a r n e , d e i x a de f o r a dessa
classificação muitas pessoas que, embora se a l i m e n t e m de animais,
a d o r a m os deuses próprios do hinduísmo e c o m p a r t i l h a m práticas
e c r e n ç a s com o h i n d u í s m o t r a d i c i o n a l .
42 Em busca de definições
IMPORTANTE!
15
Hinduísmo ou hinduísmos?
Entre a possibilidade de adorar milhões de deuses ou apenas u m ,
entre o vegetarianismo h i n d u da índia e a carnificina das festas
no Nepal, é possível perceber que o hinduísmo é marcado não
somente por uma pluralidade de crenças, mas também de práticas.
No âmbito de uma mesma definição (hinduísmo), encontram-se
43 Em busca de definições
2 Muitas das citações nesta obra são de textos sagrados editados por outros autores. As refe-
rências de tais textos serão feitas no padrão autor-data e, em seguida, serão acrescentadas
informações adicionais relativas ao próprio texto. Essas informações dizem respeito ao titulo
do texto e a divisões como capítulos, seções, hinos, versos e versículos. Por exemplo, nesse
caso, a notação Rig Veda 1.164.46 indica que o texto é retirado da obra Rig Vedo, livro 1, hino
164, verso 46.0 Rig Veda é uma obra dividida em 10 livros, conhecidos como mandatas, nos
quais se inserem os hinos, constituídos por versos, também chamados de montras.
44 Em busca de definições
IMPORTANTE!
O grande número de "hinduísmos" é resultado do grande número
de hindus, que vivem das tradições herdadas, mas que, em cada
lar e em cada cidade, têm suas diferenças e, na vida de cada re-
ligioso, apresentam-se de novas formas. Podemos afirmar que a
essência do hinduísmo está, em grande medida, em sua própria
multiplicidade.
SÍNTESE
Hinduísmo é u m termo que se desenvolve principalmente a partir
da relação dos indianos com os britânicos, durante o período de
dominação na índia, servindo como a forma de os estrangeiros
entenderem e se referirem à religião dos hindus. Os hindus, porém,
referem-se à sua religião principalmente como Sanãtana dharma,
expressão que significa "religião eterna", mas cujo termo dharma vai
muito além da ideia ocidental de "religião", significando também
"ordem", "lei" e tendo um sentido bastante prático e abrangente, en-
globando a cultura e a própria vida dos hindus. Não tendo fundador
ou dogma, o hinduísmo costuma ser definido com base em suas
ausências, o que dificulta a percepção de que ele tem profundas
presenças que não existem nas demais religiões.
Se o termo hinduísmo é difícil de definir, também o é o termo
hindu, que, tendo como significado original um sentido geográfico,
identificando quem vivia na região do Rio Indo, acabou ganhando,
com o tempo, u m sentido religioso, conforme se delineava não
somente a identidade hindu, mas também a identidade indiana,
vinculada a ela. Desse modo, ainda hoje é complicado separar o
hinduísmo da índia, que não é somente seu "berço", mas também
sua "morada". E a região geográfica onde o hinduísmo é praticado,
mas é também u m local que, para muitos hindus, deve ser consi-
derado sagrado e até mesmo divinizado como a Mãe índia.
47 Em busca de definições
ATIVIDADES DE AUTOAVALIAÇÃO
D] Atman.
E] Trimurti.
c] u m a pedra.
D] uma árvore.
E] u m rio.
ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM
21
Uma longa história
A maioria dos livros que tratam do hinduísmo indica o início dessa
religião com a invasão do subcontinente indiano pelos arianos (ou
indo-europeus), por volta de 1500 a.C. Segundo tal teoria, os cha-
mados arianos teriam invadido a região da índia e levado consigo
"crenças e saberes partilhados com outros povos indo-europeus",
marcando "uma nova fase cultural" naquela região (Frias, 2003,
p. 180). Porém, como afirma Klostermaier (2014), o que os livros
52 Desenvolvimento histórico do hinduísmo
A religião védica
Antes de se tornar a designação de uma raça, sendo utilizada para
a f i r m a r ideologias e teorias, a palavra ãrya, em sânscrito (airya,
em avéstico), t i n h a o sentido de " h o m e m nobre". Até hoje não
57 Desenvolvimento histórico do hinduísmo
1 Essa referência, Atharva Veda 6.4.3, diz respeito à obra AtharvaVeda, livro 6, hino A, verso 3.
Trata-se de uma obra dividida em 20 livros, conhecidos como mandatas, nos quais se inserem
os hinos, constituídos por versos, também chamados de mantras.
59 Desenvolvimento histórico do hinduísmo
céu, o soma sobre as montanhas" (Rig Veda 7.85.1-2, citado por Eliade,
2010, p. 195). A ordem, contudo, não implica uma situação de inércia,
mas de estabilidade. Afinal, muitos elementos dessa ordem cósmica
envolvem u m a mudança constante, tal como a alternância entre
o dia e a noite ou entre o sol e a chuva, de maneira que, para além
do rta, Varuna dispõe de maya, qualidade mágica que possibilita a
mudança, seja positiva, seja negativa (Eliade, 2010). E o senhor da
estabilidade, portanto, a qual é gerada tanto pela ordem quanto
pela mudança inerente a essa ordem e presente nela.
IMPORTANTE!
IMPORTANTE!
Indra é, como lembra Eliade (2010, p. 199), o "mais popular dos
deuses" da religião védica. O mais i m p o r t a n t e dos textos védi-
cos, o Rig Veda, tem como mito principal o combate contra Vrtra,
a serpente. Tal m i t o é relevante também na explicitação da t r a n -
sição entre Varuna e I n d r a como divindade suprema, uma vez
que, posteriormente, Varuna chega a ser associado a Vrtra, sendo
apresentado como uma "víbora" (Atharva Veda 12.3.57).
P R E S T E ATENÇÃO!
Mas o que exatamente é o somai Segundo Robert Gordon Wasson
(1971), u m banqueiro e pesquisador amador, o soma védico seria
u m cogumelo que c o n f e r i r i a experiências extáticas a q u e m o
consumisse. De fato, mais de u m cogumelo já foi cogitado como
o verdadeiro soma, assim como algumas plantas com seiva leitosa.
Tais teorias, porém, não passam de especulações, de modo que
não se sabe ao certo que planta era denominada soma na religião
védica, permanecendo ainda hoje u m mistério.
64 Desenvolvimento histórico do hinduísmo
IMPORTANTE!
Se "os próprios deuses, em comparação com o sacrifício, são secun-
dários", como a f i r m a Frias (2003, p. 182), certamente A g n i terá
importância fundamental na religião védica, já que é o deus dos
sacrifícios e está necessariamente presente.
P R E S T E ATENÇÃO!
Essa primeira crença na permanência dos antepassados em diá-
logo com os vivos implica a ausência da crença na reencarnação,
segundo a qual os mortos não permanecem como "almas" errantes
após a morte, mas reencarnam para uma nova vida.
66 Desenvolvimento histórico do hinduísmo
A religião bramânica
Assim como a religião védica, também a religião bramânica foi
marcada pelo sacrifício. Afinal, normalmente situada entre 1000 e
600 a.C., a religião bramânica é, em grande medida, o desenvolvi-
mento da religião védica, de 1500 a 1000 a.C., por meio de rituais
adaptados e textos védicos reinterpretados.
Observamos, contudo, que a forma dos sacrifícios muda com-
pletamente com o desenvolvimento interno da religião hindu. No
contexto védico, o culto não conhecia santuário (Eliade, 2010) -
não havia templos, uma vez que a religião era primordialmente
familiar, de modo que os sacrifícios eram domésticos (griha) ou,
67 Desenvolvimento histórico do hinduísmo
r e i n t e r p r e t a ç ã o de u m t e x t o védico c o n h e c i d o c o m o purusasukta,
o h i n o de n ú m e r o 90 no l i v r o 10 do Rig Veda, o p r i n c i p a l dos es-
c r i t o s védicos, dedicado a Purusa. Nesse texto, fala-se de Purusa,
"o h o m e m " , sendo u m a espécie de personificação de todo o cosmos,
u m a vez que é " t u d o o que há, e t u d o o que há de ser" ( G r i f f i t h , 1897,
p. 517, tradução nossa, Rig Veda 10.90.2). Ele é oferecido pelos deuses
c o m o sacrifício e de seu c o r p o i m o l a d o r e s u l t a m n ã o somente os
a n i m a i s e os elementos litúrgicos para os sacrifícios, mas t a m b é m
as classes sociais. " Q u a n d o eles i m o l a r a m Purusa, e m q u a n t a s
partes eles o d i v i d i r a m ? C o m o a sua boca era chamada, c o m o seus
braços, c o m o suas coxas, c o m o f o r a m chamados os seus p é s ? Sua
boca t o r n o u - s e o brâmane, seus braços t o r n a r a m - s e o rãjanya, suas
coxas se t o r n a r a m o vaisya; o sudra nasceu de seus pés" ( W i l s o n , 1888,
p. 252-253, t r a d u ç ã o nossa, Rig Veda 10.90.11-12, W i l s o n ) .
69 Desenvolvimento histórico do hinduísmo
70 Desenvolvimento histórico do hinduísmo
PRESTE ATENÇÃO!
Mas quem é Prajãpati? Mais que u m deus, é a indicação de um
entre vários deuses como origem de todas as coisas, inclusive
dos deuses. Assim, é associado principalmente com Purusa, de
71 Desenvolvimento histórico do hinduísmo
A religião upanishade 2
2 Nesta obra, adotamos a grafia upanishade para nos referirmos à perspectiva religiosa, isto
é, ao contexto da religião, e a forma Upanishad para nos referirmos aos livros sagrados do
hinduísmo com esse título.
73 Desenvolvimento histórico do hinduísmo
IMPORTANTE!
O sacrifício, que antes t i n h a caráter p r i m o r d i a l , sendo inclusive
razão de si mesmo, como elemento praticado por homens e por
deuses, passa a ser visto sob uma nova percepção, que será mantida
e aprofundada dentro do hinduísmo ao longo dos séculos seguintes.
Trata-se do samsãra, ou seja, a "lei da transmigração", convertida
na crença de que as almas, após a morte, são transmitidas para
uma nova vida.
P R E S T E ATENÇÃO!
É possível afirmar que, de certo modo, os Upanishads são "os p r i -
meiros textos filosóficos do hinduísmo, nos quais se pretendia
descobrir o significado secreto dos ritos" (Solis, 1992, p. 76, t r a d u -
ção nossa), relendo não somente os textos védicos, mas também
as interpretações bramânicas sobre eles. Nessa reinterpretação,
alteram-se não somente perspectivas, mas também valores.
IMPORTANTE!
Mas, se a meditação é o caminho, como, por meio da meditação,
é possível alcançar moksha? Segundo a compreensão teológica
desse contexto, a meditação possibilita a superação dos problemas
espirituais por m e i o de jfiãna, "conhecimento", "compreensão",
o conhecimento secreto, gnóstico (gnose). Afinal, é a próprioavidya,
"ignorância", que faz com que os homens vivam vidas irresponsáveis,
ignorando que seus atos (karman) têm consequências.
PRESTE ATENÇÃO!
Tal como o sacrifício, também ayoga se relaciona à unificação do
ser humano, utilizando-se da concentração e de posições do corpo
para isso. Segundo Werner (1977), é possível identificar u m hino
do Rig Veda (10.136) com ayoga. Além disso, há algumas técnicas
desse método no Mãndukya Upanisad, no Svetãsvatara Upanisad e no
Maitrãyaniya Upanisad (Eliade, 2010), o que evidencia sua impor-
tância nesse contexto religioso.
25
A religião devota
Durante o período upanishade, surgiram, dentro da religiosidade
h i n d u , diversos movimentos que passaram a criticar, conforme já
apresentado, a religião tradicional, tendo em vista interpretações
diferentes a respeito dos deuses e da própria religião. Em grande
medida, os textos Upanishads são fruto de tais movimentos, os quais
foram incorporados pela tradição religiosa, que se renovou. Porém,
alguns deles se afastaram tanto das antigas religiões védica e b r a -
mânica, que acabaram por criar as próprias religiões, deixando
de ser o que se considera hoje como hinduísmo.
U m desses m o v i m e n t o s ocorreu por volta do século IV a.C,
fundamentando-se nos ensinamentos de u m príncipe xátria que
abandonou seu palácio e assumiu a condição de monge. Ele viveu
por volta do século V I a.C. e chamava-se Siddhãrtha Gautama,
mas ficou conhecido dentro do m o v i m e n t o como Buda (Buddha),
80 Desenvolvimento histórico do hinduísmo
t a m b é m teria i d o c o n t r a a i n t e r p r e t a ç ã o u p a n i s h a d e , negando a
existência do ãtman. Não era, porém, u m a adesão ao extremo oposto
daquela r e l i g i o s i d a d e . E i m p o r t a n t e observar que Buda se p o s i -
c i o n o u c o n t r a esse sassata, "eternalismo", próprio dos Upanishads,
mas t a m b é m c o n t r a o seu oposto, o uccheda, " a n i q u i l a c i o n i s m o " .
A f i r m o u a existência da r e e n c a r n a ç ã o e, e m certa m e d i d a , a seme-
l h a n ç a e n t r e as vidas, m e s m o que não haja, de fato, c o n t i n u i d a d e
da a l m a c o m o r e a l i d a d e i n t e r n a e pessoal do ser h u m a n o .
E m o u t r a s palavras, Buda d e f e n d i a a r e e n c a r n a ç ã o , mas e n -
tendia que "o ser que experiência os f r u t o s dos atos de u m a v i d a
n ã o é o m e s m o , assim c o m o n ã o é d i f e r e n t e daquele que r e a l i z o u
esses atos e m u m a experiência passada" ( M c D e r m o t t , 1980, p. 166,
tradução nossa). O u seja, e n t r e u m a v i d a e o u t r a não há c o n t i n u i -
dade, mas t a m b é m n ã o há completa separação - o ser h u m a n o não
permanece, de fato, e m sua i n t e g r i d a d e , a s s i m c o m o n ã o deixa
c o m p l e t a m e n t e de e x i s t i r .
A s s i m c o m o Buda, o u t r o príncipe que se t o r n o u m o n g e , cha-
mado Vardhamana, mais conhecido como Mahãvira, "grande
herói", s e r v i u de base para a f o r m a ç ã o de o u t r o m o v i m e n t o que
t a m b é m c u l m i n o u e m u m a n o v a religião, d e n o m i n a d a j a i n i s m o .
De m o d o semelhante ao b u d i s m o , o j a i n i s m o nega os f u n d a m e n t o s
da religião h i n d u , tais c o m o a a u t o r i d a d e dos Vedas, a v a l i d a d e
dos r i t o s e as castas (Stella, 1971), m a r c a n d o u m d i s t a n c i a m e n t o
considerável. No e n t a n t o , t a l d i s t a n c i a m e n t o v a i além, a f i r m a n -
do-se, p a r a l e l a m e n t e ao h i n d u í s m o , c o m o u m a religião "eterna",
d e n o m i n a d a Jain Dharma, da q u a l M a h ã v i r a seria o 2 4 ° e último
tirthankara, ou seja, o último de u m a c o n t i n u i d a d e de profetas que
a l c a n ç a r a m moksha e e n s i n a r a m o c a m i n h o à h u m a n i d a d e .
A grande diferença e m relação ao h i n d u í s m o , c o n t u d o , parece
ser a concepção jainista a respeito da a l m a , ãtman. D i f e r e n t e m e n t e
dos budistas, os j a i n i s t a s n ã o n e g a m a existência da a l m a . Porém,
d i f e r e n t e m e n t e d o s h i n d u s , eles e n t e n d e m a a l m a c o m o u m a
82 Desenvolvimento histórico do hinduísmo
IMPORTANTE!
De certo modo, a religião devota não se contrapõe à religião upa-
nishade, mas lhe dá continuidade, uma vez que a devoção, mesmo
que direcionada para os deuses, é consciente da unidade divina,
expressa não somente na Trimurti, mas também na compreensão
de que há somente u m deus de fato.
A religião purânica
Entre os séculos IV e V I d.C., a devoção presente na religiosidade
h i n d u acaba se transformando em uma verdadeira disputa entre
os vários deuses. Tal mudança pode ser percebida nos Purãnas: se
os textos mais antigos equivalem e relacionam diferentes deuses,
tais como Vishnu e Shiva, os textos posteriores, pelo contrário,
"tendem a ter uma ênfase mais polémica, exaltando uma divindade
acima das demais como suprema" (Sullivan, 1997, p. 13, tradução
nossa). Assim, a religião oriunda da leitura da religião h i n d u , com
base nos Purãnas, f o i marcada pela disputa divina.
Soma-se a isso uma identificação profunda de cada pessoa com
este ou aquele deus, cuja adoração era marcada não somente por
85 Desenvolvimento histórico do hinduísmo
uma escolha, mas por uma vida religiosa que passou a incorporar,
inclusive, aspectos mágicos e, principalmente, o uso do próprio
corpo como veículo para se alcançar a divindade (Solis, 1992). Tais
aspectos v i e r a m a marcar esse m o m e n t o da religiosidade h i n d u
pelos tantras, que são as tradições esotéricas que s u r g i r a m no
contexto de devoção.
Nesse período, a ideia de que toda d i v i n d a d e é p u r a e s i m -
plesmente uma manifestação do uno divino, o Brahman, acabou
dando lugar a uma compreensão - ou pelo menos u m modo de
apresentação - de que cada divindade é concorrente na condição de
"deus supremo", devendo ser considerada como superior às demais.
A própria Trimurti pode ser pensada como uma espécie de passo
nesse processo de relação entre Brahman e os deuses que, de certo
modo, acabou por d i v i d i r o uno e exaltar u m a parte do todo. Isso
resultou, aliás, na formação das quatro linhas principais do h i n -
duísmo, que permanecem até hoje: o vaisnavismo, shaivismo (ou
shivaísmo), o shaktismo e o smartismo. Cada uma dessas linhas
tem seus próprios textos canónicos, não somente pela escolha
de determinados Purãnas, mas também pela formação de seus
próprios ãgamas, ou seja, seus cânones.
O v a i s n a v i s m o , também denominado Vaishnava dharma, é a
linha que adora o deus Vishnu como Svayam Bhagavãn, "o próprio
senhor", ou seja, como o próprio deus supremo. Ele é o Criador,
o Preservador e o Redentor. A veneração é dividida entre seus dasã-
vatãra, "dez avatares", entre os quais os mais adorados são Rama e
Krishna, mas pode incluir o próprio Buddha, Siddhãrtha Gautama,
considerado por muitos como a nona encarnação do deus Vishnu.
Tal veneração, diferente dos demais grupos, dá pouca ênfase ao
ascetismo, de modo que a religiosidade se concentra mais na ve-
neração de u m avatar em cada templo e no estudo das escrituras
que falam de Vishnu. A t u a l m e n t e , este é o maior segmento do
hinduísmo, u m a vez que cerca de 70% dos hindus são vaisnavas,
86 Desenvolvimento histórico do hinduísmo
GANESHA HoldsCourt. [ca. 1800]. Aquarela: color.; 51,12 x 38,58 x 3,18 cm.TheWaltersArt Museum,
Baltimore, Estados Unidos.
89 Desenvolvimento histórico do hinduísmo
IMPORTANTE!
Podemos afirmar que a religião purânica, que estabelece os f u n -
damentos da religiosidade vivida até hoje, centra-se "não mais no
sacrifício ritual, nem na introspecção filosófica", tal como ocorre
na religião védica, bramânica e upanishade, mas "na devoção e
adoração a u m deus pessoal com quem é possível ter uma relação
direta" (Solis, 1992, p. 77, tradução nossa).
SÍNTESE
u m ser supremo que na realidade não tem forma e não pode ser
plenamente compreendido.
E claro que a divisão estabelecida neste capítulo não é a única
forma de "catalogar" as etapas da história do hinduísmo. Podemos,
por exemplo, denominar bramanismo a religiosidade não apenas dos
textos bramânicos, mas também dos próprios Upanishads, perce-
bendo certa unidade entre estes, como o faz Stella (1971). Também
podemos denominar a religiosidade formada a partir das várias
linhas, cada qual adorando u m deus supremo, como tântrica, em
vez de purânica, como o faz Benjamin Preciado Solis (1992), enfa-
tizando o caráter esotérico dessas novas perspectivas religiosas.
Desse modo, mais i m p o r t a n t e do que as denominações é a
compreensão do caminho pelo qual o hinduísmo se desenvolveu,
indo de u m culto de divindades ligadas à natureza ao atual sistema
de adoração a uma divindade que, em si mesma, representa o ser
d i v i n o como u m todo, na condição de personificação do uno da
realidade divina e do próprio Universo.
ATIVIDADES DE AUTOAVALIAÇÃO
1. Qual é o nome do deus mais adorado no período védico, cujo
m i t o principal é a vitória sobre a serpente Vrtra?
A] Varuna.
B] Indra.
c] Agni.
D] Soma.
E] Shiva.
B] A c e l e b r a ç ã o do casamento.
C] O sacrifício pelo fogo.
D] A l e i t u r a dos textos sagrados.
E] A c i r c u n c i s ã o dos m e n i n o s .
3 Q u a l destas f o r m a s históricas da r e l i g i o s i d a d e h i n d u f o i m a r -
cada pela interpretação filosófica dos textos anteriores, a f i m de
c o m p r e e n d e r a existência de u m a d i v i n d a d e única e s u p r e m a ,
Brahman, que é i d e n t i f i c a d a c o m a a l m a , ãtman?
A] A religião védica.
B] A religião b r a m â n i c a .
C] A religião u p a n i s h a d e .
D] A religião devota.
E] A religião purânica.
5. U m a das q u a t r o l i n h a s p r i n c i p a i s do h i n d u í s m o a t u a l a f i r m a
que a d i v i n d a d e s u p r e m a , Brahman, n ã o pode ser p l e n a m e n t e
c o m p r e e n d i d a c o m base s o m e n t e e m u m a de suas r e p r e s e n -
t a ç õ e s , c o m o u m dos deuses. De a c o r d o c o m essa visão, t a l
d i v i n d a d e s u p r e m a não t e m f o r m a n e m pode ser p l e n a m e n t e
c o m p r e e n d i d a pela m e n t e h u m a n a . Q u a l é a d e n o m i n a ç ã o
dessa l i n h a ?
A] V a i s n a v i s m o .
B] Shaivismo.
94 Desenvolvimento histórico do hinduísmo
c] Shaktismo.
D] S m a r t i s m o .
E] Jainismo.
A T I V I D A D E S DE A P R E N D I Z A G E M
A T I V I D A D E A P L I C A D A : PRÁTICA
1. Elabore u m p l a n o de aula sobre a história d o h i n d u í s m o , n o
q u a l sejam apresentadas as várias etapas de seu d e s e n v o l v i -
m e n t o , t a l c o m o descritas neste capítulo, e as características
p r i n c i p a i s de cada u m a .
TEXTOS SAGRADOS DO
HINDUÍSMO: O QUE É OUVIDO
E O Q U E É LEMBRADO
do hinduísmo
Os textos sagrados do hinduísmo são inúmeros e estão divididos
em uma série de coleções, as quais foram compiladas ou escritas
em diferentes momentos da longa história dessa religião. Cada
96 Textos sagrados do hinduísmo: o que é ouvido e o que é lembrado
IMPORTANTE!
Os Smrti são o que os h u m a n o s pensaram e m relação ao Sruti
(0'Flaherty, 1988a), assim como derivações dessas interpretações,
tais como leis, histórias ou mitos importantes a respeito dos deuses.
32
Os Vedas: as revelações
O termo Veda, cujo significado é "conhecimento" ou "sabedoria",
costuma ser aplicado a quatro textos escritos em sânscrito. Juntos,
eles são denominados Vedas ou samhita, "coleção", que é o conjunto
de textos mais antigo da religião h i n d u . Considera-se que o Veda é
"a palavra divina, formulada por Brahma, desde toda a eternidade"
(Cintra, 1981, p. 27).
97 Textos sagrados do hinduísmo: o que é ouvido e o que é lembrado
Tanto a terra como o céu não (são) iguais à metade de mim, pois
eu frequentemente bebi o soma.
Ah! Eu vou colocar esta terra (onde quiser), aqui ou lá, pois eu
frequentemente bebi o soma.
Uma de minhas asas está no céu; a outra arrastei para baixo, pois
eu frequentemente bebi o soma.
Esse Purusha é tudo que até agora já foi e tudo que será,
Todas as criaturas são uma quarta parte dele, três quartas partes
são a vida eterna no céu.
Daí saiu para todos os lados por sobre o que come e o que não come.
Q u a n d o os d e u s e s prepararam o Sacrifício c o m P u r u s h a c o m o
sua oferenda,
a madeira.
no t e m p o mais antigo.
giram disso.
e pés?
Rajanya.
m a r a m os m u n d o s .
101 Textos sagrados do hinduísmo: o que é ouvido e o que é lembrado
Sete bastões de luta tinha ele, três vezes sete camadas de com-
bustível foram preparadas,
IMPORTANTE!
E n t r e os v á r i o s t e x t o s d o Rig Veda, p o d e m o s a f i r m a r que o pu-
rusasukta está e n t r e os m a i s i m p o r t a n t e s . E, e n t r e os q u a t r o Vedas,
o m a i s i m p o r t a n t e é o Rig Veda, do q u a l os demais parecem d e r i v a r .
IMPORTANTE!
E m vez de escrituras ou textos, os Vedas são chamados pelos h i n d u s
de Sruti, que significa "o que é ouvido", n ã o somente p o r serem as
palavras que os sábios o u v i r a m da parte dos deuses, mas t a m b é m
por ainda hoje se c o n s t i t u í r e m de u m texto cuja t r a n s m i s s ã o se dá,
p r i n c i p a l m e n t e , pelo que é o u v i d o , por m e i o da r e c i t a ç ã o feita de
geração e m geração ( 0 ' F l a h e r t y , 1988a).
33
Os Brahmanas, os Aranyakas
e os Upanishads: os comentários
Em u m sentido mais abrangente, podemos designar como Vedas
não somente os quatro textos védicos, mas também seus comentá-
rios (Ponraj, 2012), que muitas vezes são considerados como parte
integrante do Veda. Eles são divididos em três tipos: os Brahmanas,
os Aranyakas e os Upanishads. Cada carana, ou seja, cada escola de
estudo dos textos védicos, tem seu próprio sãkhã, "seu galho", "sua
linha", ou seja, uma seleção de textos védicos que utiliza, assim
como seus próprios textos interpretativos; dessa forma, escolhe os
Brahmanas, os Aranyakas e os Upanishads que devem ser utilizados.
Os Brahmanas são as "interpretações dos brâmanes" e, em
geral, trazem comentários dos Vedas que enfatizam a importância
do sacrifício, tendo um caráter sacerdotal evidente. Cada Brãhmana
está vinculado a u m dos quatro Vedas, de modo que existem um ou
mais Brahmanas que interpretam cada Veda, dependendo da linha
seguida pelo devoto hindu. Trata-se das mais antigas interpretações
dos textos védicos, as quais lhes dão uma aplicação ritualística e
uma significação aprofundada (Witzel, 2003).
O sacrifício, para além de u m ritual religioso, é elevado à ca-
tegoria de fonte da imortalidade, tal como se pode perceber em
um texto do Satapatha Brãhmana, o qual apresenta como os deuses
105 Textos sagrados do hinduísmo: o que é ouvido e o que é lembrado
a l c a n ç a r a m a i m o r t a l i d a d e , p o r m e i o do s a c r i f í c i o r e a l i z a d o d a
forma correta:
[...]
E aqueles que sabem isso, ou aqueles que fazem essa obra sa-
grada, voltam à vida novamente quando morreram e, voltando à
vida, chegam à vida imortal. Mas os que não sabem isso, ou não
executam essa obra sagrada, voltam à vida novamente quan-
do morrem, e tornam-se o alimento da Morte repetidamente.
(Satapatha Brãhmana 10.4.3, citado por Renou, 1964, p. 60-61)
P R E S T E ATENÇÃO!
Os Aranyakas carregam consigo a ideia de que os Vedas seriam mais
bem compreendidos em reclusão, sendo estudados por indivíduos
na solidão das florestas (Rosen, 2006), a fim de buscarem o signi-
ficado mais p r o f u n d o dos textos e, em especial, do r i t o sacrificial.
Rig-Veda 21
Yajur-Veda 102
Sama-Veda 1.000
Atharva-Veda 50
"Assim seja".
"Assim seja".
"Assim seja".
Por isso, na verdade, Indra se acha acima dos demais deuses, pois O
tocara de mais de perto, pois soube primeiro que Ele era Brahman.
Agora, com relação a nós próprios - aquilo que vem, por assim
dizer, à mente, pela qual repetidamente nós lembramos - esta
concepção é Brahman! (Kena Upanishad 3.1-12; 4.1-5, citado por
Renou, 1964, p. 73-75)
34
Os Dharmasãstras: as leis
Apesar de t e r e m relações c o m os Vedas, os Upanishads também
devem ser entendidos como uma mudança radical na compreensão
de inúmeras questões teológicas. Eles diferem das interpretações
védicas anteriores não somente pela interiorização, mas também
pelo desenvolvimento de conceitos que, se antes eram secundários,
passam a ser primários na compreensão teológica do hinduísmo.
Um exemplo disso é o termo dharma, que, apesar de não ser u m
termo central no vocabulário teológico védico, veio a ser essencial
no período upanishade, principalmente no sentido de diferenciar
a religião h i n d u (ou bramânica) das seitas budista e jainista. Tal
valorização e redefinição do termo f o i u m dos principais fatores -
mesmo que não seja o único - para o surgimento de u m a nova
literatura, que ficou conhecida como Dharmasãstra (Olivelle, 2018c).
O género Dharmasãstra é a literatura escrita em sânscrito que
apresenta tratados (Èãstra) a respeito do dharma. Faz parte de u m a
linha de literatura mais abrangente (Rocher, 2003), que aborda, por
meio de tratados (Sãstra), e temas variados, tais como rituais p r i n -
cipais da religião h i n d u (srautasútras) ou ainda rituais domésticos
115 Textos sagrados do hinduísmo: o que é ouvido e o que é lembrado
Por ter vindo da parte mais alta do corpo, por ser o primogénito,
e por ser o detentor do Veda, o brâmane é, de acordo com o
dharma, o senhor de toda a criação. [...] Somente o nascimento
de um brâmane já representa a eternidade física do dharma;
pois, nascido do dharma, alguém é apto a ser brâmane. Pois,
quando um brâmane nasce, um nascimento preeminente t e m
lugar na Terra - um soberano de todas as criaturas, que guarda
o depósito do dharma. Todo este mundo - seja o que houver no
mundo - é propriedade do brâmane. Por conta de sua eminência
e nascimento, o brâmane tem um claro direito sobre este mundo
todo. O brâmane come somente o que lhe pertence, veste o que
lhe pertence, e concede o que lhe pertence; [mas] é pela bondade
do brâmane que as outras pessoas comem. (Mãnava-Dharmasãstra
1.93; 98-1.101, citado por Olivelle, 2018c, p. 25, tradução nossa)
P R E S T E ATENÇÃO!
De acordo com o que é apresentado por M a n u , cabe a cada pessoa
tomar não somente os textos védicos, mas também os demais, como
fonte de preceitos práticos e regras, os quais devem ser aplicados
em sua vida a fim de que a religião seja a fonte da legislação e da
vivência cotidiana.
[...]
Nem drogas, nem fórmulas mágicas, nem oferendas queimadas,
nem orações, poderão salvar quem está nos laços da morte ou
na velhice.
[...]
35
Os Itihãsas: as histórias épicas
Se os Dharmasãstras e, e m especial, as Leis de Manu estão r e l a c i o -
nados c o m a classe dos b r â m a n e s , os épicos p a r e c e m estar, e m
c o n t r a p a r t i d a , v i n c u l a d o s à classe dos xátrias, a classe g u e r r e i r a
da índia A n t i g a . A s s i m , e m vez do sacrifício de fogo, e n f a t i z a d o
nos textos anteriores, os textos épicos e n f a t i z a m o "sacrifício da
batalha", pela guerra, de m o d o que a c u l t u r a dos b r â m a n e s fica e m
segundo p l a n o d i a n t e do m u n d o m a r c i a l e g u e r r e i r o dos xátrias
(Rosen, 2 0 0 6 ) .
De fato, a própria o r i g e m de c o m p o s i ç ã o dos textos pode ser o
a m b i e n t e de corte de soberanos xátrias, no qual teria surgido u m a
tradição de b a r d o s que d e r a m o r i g e m a histórias a respeito das
120 Textos sagrados do hinduísmo: o que é ouvido e o que é lembrado
P R E S T E ATENÇÃO!
Quando o canal de televisão do governo indiano, Doordashan,
decidiu p r o d u z i r séries televisivas que tivessem valor cultural,
o Rãmãyana foi escolhido por primeiro, tendo grande popularidade
naquele contexto da década de 1980 (Sullivan, 1997).
[...]
123 Textos sagrados do hinduísmo: o que é ouvido e o que é lembrado
3 6 Os Purãnas e os Tantras:
as lendas e os mitos
O termo Purãna, cujo significado é "antigo", "antiguidade", é u t i l i -
zado em referência aos textos que, apesar de tratarem de aconteci-
mentos do passado, tais como os Itihãsas, não recebem necessaria-
mente a mesma valorização destes. São muitas vezes considerados
como lendas, as quais foram preservadas de tempos imemoriais,
mas que não relatam necessariamente a verdade histórica. Em
alguns casos, são indicados somente 18 Purãnas, também deno-
m i n a d o s de Mahapuranas, "grandes Purãnas". E m outras vezes,
é possível que seja apresentado u m número bem maior, chegando
a 82 livros (Matchett, 2003).
P R E S T E ATENÇÃO!
Muitos Purãnas terão imenso valor para determinadas linhas do
hinduísmo, porém não são considerados sagrados como u m todo,
tal como ocorre com os Vedas. Podemos falar dos Purãnas, nessa
perspectiva, como "lendas baseadas em tradição antiga" (Tagare,
1960, p. 5, tradução nossa, Vãyu Purãna 1.21).
125 Textos sagrados do hinduísmo: o que é ouvido e o que é lembrado
Apesar de n ã o s e r e m n e c e s s a r i a m e n t e textos c a n ó n i c o s , os
Purãnas p r e s e r v a m d e n t r o de s i elementos da sabedoria d o pas-
sado, t r a n s m i t i d o s o r a l m e n t e ao l o n g o do t e m p o e, p o r fim, r e d i -
gidos e m textos de c a r á t e r enciclopédico. Por t a l r a z ã o , c o n f o r m e
M a t c h e t t (2003), são considerados dotados de valores védicos, até
porque, sendo resultantes de u m a tradição o r a l que i n t e r a g i a c o m
as t r a n s f o r m a ç õ e s ao l o n g o da história d o h i n d u í s m o , " i n c l u e m
u m a vasta v a r i e d a d e de m a t e r i a i s de é p o c a s bastante d i s t a n t e s "
( B r o w n , 1990, p. 3, tradução nossa).
Na verdade, o valor dos Purãnas, na prática, pode ser considerado
m a i o r que o dos Vedas. A f i n a l , apesar de os Vedas serem aceitos por
todos os grupos h i n d u s , cada g r u p o estabelece aqueles Purãnas que
lhes servem c o m o textos n ã o s o m e n t e c a n ó n i c o s , m a s t a m b é m
f u n d a m e n t a i s , o c u p a n d o u m papel c e n t r a l , de m o d o c o n s i d e r a -
v e l m e n t e p a r e c i d o c o m a Bíblia para os cristãos.
U m a v e z q u e a i m p o r t â n c i a d e u m Purãna d e p e n d e de sua
valorização p o r d e t e r m i n a d o g r u p o d e n t r o d o h i n d u í s m o e que
podemos considerá-lo ou não como parte de seu ãgama, seu c â n o n ,
u m dos Purãnas m a i s i m p o r t a n t e s é o Visnu Purãna. Trata-se de u m
texto i m p o r t a n t í s s i m o para o v a i s n a v i s m o , que é a m a i o r entre as
q u a t r o l i n h a s d o h i n d u í s m o . Nesse l i v r o , V i s h n u n ã o somente é
exaltado, como t a m b é m é apresentado como a f o r m a m a i s elevada
de Brahman, j u s t i f i c a n d o - s e o c u l t o dedicado a esse deus sobre os
demais:
IMPORTANTE!
M e s m o e m textos p r ó p r i o s do s h a k t i s m o é possível perceber
relações profundas c o m os Vedas. Isso indica que, apesar da d i -
versidade entre os textos das diferentes é p o c a s da história do
132 Textos sagrados do hinduísmo: o que é ouvido e o que é lembrado
SÍNTESE
Neste capítulo, f o r a m apresentados os vários textos sagrados do
hinduísmo, que normalmente se d i v i d e m entre os Sruti e os Smrti.
Os p r i m e i r o s se referem "ao que é ouvido", sendo textos conside-
rados como as verdades eternas vistas e escutadas pelos rishis, os
"sábios". Eles têm, por isso, valor principal. Os Smrti, por sua vez,
fazem referência "ao que é lembrado". São textos cuja autoridade
é derivada d o Sruti, sendo p r i n c i p a l m e n t e interpretações e co-
mentários sobre ele.
O único conjunto de textos que é considerado por todos os
grupos hindus como Sruti é o dos Vedas, que inclui quatro textos,
entre os quais três são bastante semelhantes, apresentando hinos
a divindades que personificam as forças da natureza. O quarto se
constitui em uma espécie de compêndio com fórmulas mágicas
e encantamentos para finalidades bastante práticas, tais como
vencer em algum jogo ou conquistar o amor de uma pessoa.
Como Os Vedas são bastante enigmáticos e acabaram sendo
reinterpretados ao longo da história da religião h i n d u , receberam
comentários denominados Brahmanas, Aranyakas e Upanishads, que
procuram explicitar aspectos pouco evidentes, mas presentes nos
textos védicos, a fim de lhes aprofundar o significado.
133 Textos sagrados do hinduísmo: o que é ouvido e o que é lembrado
ATIVIDADES DE AUTOAVALIAÇÃO
1. Qual é o principal texto védico, do qual os demais em grande
medida são derivações?
A] Rig Veda.
B] Sãma Veda.
cl Yajur Veda.
D] Atharva Veda.
E] Purana Veda.
D] Dharmasãstras.
E] Purãnas.
A T I V I D A D E S DE A P R E N D I Z A G E M
A T I V I D A D E A P L I C A D A : PRÁTICA
1. C o m base no que você estudou neste capítulo, elabore u m breve
q u e s t i o n á r i o c o m cinco questões sobre os textos sagrados h i n -
dus. As questões d e v e m ser criadas p o r você, e n ã o copiadas
de o u t r a f o n t e .
DIFERENTES CAMINHOS
A SEREM TRILHADOS
NO HINDUÍSMO
P R E S T E ATENÇÃO!
Foi por meio do sacrifício que os deuses alcançaram sua superiori-
dade, sendo que eram mortais, e o que lhes concedeu a imortalidade
f o i o fato de terem realizado o sacrifício apropriado.
IMPORTANTE!
Conforme já indicado em outros capítulos, é nos textos dos Upa-
nishads que se apresenta, de forma explícita, a doutrina do karma,
segundo a qual as ações (karman) são a causa de os seres h u m a -
nos estarem presos ao samsãra, a prisão da sucessão de mortes e
renascimentos.
IMPORTANTE!
O que fica claro é que, m e s m o n o Bhagavad Gitã, o karma aparece
c o m o u m c a m i n h o (karmamãrga) de elevação. Porém, t a l c a m i n h o
é r e s t r i t o a u m t i p o específico de ação: a ação c o m desapego.
PRESTE ATENÇÃO!
Tal percepção do karmamãrga, espiritualizado, pode encontrar
suas bases já nos textos Brahmanas, os quais afirmam que, pelo
143 Diferentes caminhos a serem trilhados no hinduísmo
« Jnãnamãrga: o caminho
do conhecimento
Da mesma f o r m a que hoje, apesar do claro destaque à devoção
(bhakti), podemos perceber a importância do "caminho da ação",
144 Diferentes caminhos a serem trilhados no hinduísmo
IMPORTANTE!
Conforme Klostermaier (2007), é comum a classificação da religião
upanishade como jfiãnamãrga, em contraste com as religiões védica
e bramânica, consideradas karmamãrga. Se as religiões védica e
bramânica foram as etapas que devam maior destaque às ações e
ao karmamãrga, a religião upanishade foi, com certeza, o período
de maior destaque do conhecimento (jnãna) e do jfiãnamãrga.
P R E S T E ATENÇÃO!
A associação da sílaba Om com a meditação não é à toa. As letras
a + u + m, assim como o próprio som "Om", eram relacionados à
realidade de Brahman a ser experimentada pela meditação. De
acordo com Hume (1921), no Prasnopanisad, por exemplo, afirma-se
que, meditando no Om, que é "tanto o baixo como o alto Brahman"
(Hume, 1921, p. 387, tradução nossa, Prasnopanisad 5.2), alguém
poderá alcançar o " m u n d o de Brahman". O que se entende é que,
"assim como uma cobra é liberta de sua pele, do mesmo modo, se é
livre do pecado" (Hume, 1921, p. 388, tradução nossa, Prasnopanisad
5.5) e, libertando-se do pecado, o devoto pode alcançar aquilo que
"é pacífico, imutável, i m o r t a l , destemido, e supremo" (Hume, 1921,
p. 388, tradução nossa, Prasnopanisad 5.7), ou seja, pode alcançar a
libertação espiritual.
147 Diferentes caminhos a serem trilhados no hinduísmo
recordar de todos eles, mas você não" (Bhagavad Gitã 4.5, citado
por Prabhupãda, 1985, p. 100). Assim, mesmo que o ser humano
não possa se l e m b r a r de suas vidas passadas, tal como Krishna
pode, deve acreditar nessa realidade - que é a realidade da qual o
h o m e m deve buscar a libertação (moksha).
Em segundo lugar, é o reconhecimento de Krishna como encar-
nação da divindade. No Bhagavad Gitã, Krishna é u m a encarnação
de Vishnu, que não é considerado u m entre vários deuses, mas
a realidade divina, Brahman, em si mesma. Tal realidade divina,
porém, apesar de não ter nascimento em si, por ser eterna, "desce"
ao mundo a cada milénio, encarnando por meio de u m nascimento,
a fim de "salvar os piedosos e aniquilar os canalhas, bem como para
reestabelecer os princípios da religião" (Bhagavad Gitã 4.8, citado
por Prabhupãda, 1985, p. 105). Mesmo assim, contudo, Krishna não
deixa de ser o "senhor de todas as coisas", de modo que "todos os
seres vivos" são parte dele e estão nele (Bhagavad Gitã 4.35).
Em terceiro e último lugar, é o reconhecimento da verdade a
respeito da ação. Mais importante do que as ações, que devem ser
realizadas com desapego, é a consciência, ou seja, o conhecimento
experimental a respeito do direcionamento espiritual dessas ações.
Como lembra Krishna a Arjuna, "estando livres de apego, medo
e ira, estando completamente absortas em M i m e refugiando-se
em M i m , m u i t a s e m u i t a s pessoas no passado se p u r i f i c a r a m
através do conhecimento de M i m " (Bhagavad Gitã 4.10, citado por
Prabhupãda, 1985, p. 107).
Todavia, tal conhecimento é o c o n h e c i m e n t o a respeito da
f o r m a correta de agir, que deve ser direcionada para K r i s h n a ,
sendo este o conhecimento pelo qual alguém "estará liberado de
todos os pecados" (Bhagavad Gitã 4.16, citado por Prabhupãda, 1985,
p. 113). E nesse sentido que Krishna afirma que "o trabalho de u m
h o m e m que está desapegado dos modos da natureza material e
que está completamente situado em conhecimento transcendental,
149 Diferentes caminhos a serem trilhados no hinduísmo
IMPORTANTE!
O conhecimento transcendental quebra a corrente de "causa e
efeito" que prende os seres humanos no ciclo de reencarnações.
43
Bhaktimãrga:
o caminho da devoção
Se o karmamãrga e o jfiãnamãrga estão presentes no Bhagavad Gitã,
o bhaktimãrga, "o caminho da devoção", está muito mais! Afinal,
o Bhagavad Gitã é escrito dentro de um contexto de desenvolvimento
da devoção a Vishnu, cuja encarnação como Krishna é destacada
e exaltada no texto.
Na verdade, na apresentação dos caminhos pelo Bhagavad Gitã,
a devoção é o elemento central, de modo que, sem ela, o karmamãrga
150 Diferentes caminhos a serem trilhados no hinduísmo
P R E S T E ATENÇÃO!
A ausência de referências à devoção vinculadas ao termo bhakti
não implica, necessariamente, uma ausência de qualquer t i p o de
devoção a uma divindade.
"Os inícios de bhakti podem ser traçados nos hinos do Rig Veda",
uma vez que os hinos védicos "estão repletos de sentimentos de
piedade e reverência" (Suresh, 2009, p. 31, tradução nossa), ele-
mentos centrais na posterior concepção de bhakti. Nesse sentido,
geralmente se fala dos hinos dedicados a Varuna. Porém, até
mesmo em alguns hinos dedicados a Indra é possível perceber
certo aspecto de devoção e proximidade entre o deus e a h u m a -
nidade (Miller, 2013).
E o caso de seu epíteto "amante" (Rig Veda 10.42.2), ou ainda
da ideia de que é u m amigo do devoto (Rig Veda 1.4.7), que deseja
sua amizade (Rig Veda 1.133.26) etc. Apesar de não se apresentar
como u m claro caminho de "libertação", a devoção parece ser u m
c a m i n h o pelo menos de aproximação entre a h u m a n i d a d e e a
divindade, já nos tempos védicos.
E óbvio que, com o desenvolvimento da religião devota e purâ-
nica, a devoção se intensificou e ganhou ênfase como caminho
de libertação. Um exemplo clássico é a história da libertação de
Gajendra (Gajendra Moksha), que é contada no Bhãgavata Purãna (8)
e pode ser resumida da seguinte forma: havia u m elefante chama-
do Gajendra, que vivia em u m j a r d i m criado por Varuna. Em u m
dia de intenso calor, o elefante decidiu entrar em u m lago para se
refrescar. Subitamente, porém, u m crocodilo chamado Makara
abocanhou sua perna, prendendo-o. Gajendra tentou escapar e
seus amigos tentaram ajudá-lo, mas ninguém conseguiu. C o m a
morte iminente, seus amigos o deixaram, mas Gajendra, tendo
esperança, orou para Vishnu, que veio em seu socorro montado
em Garuda, o rei das aves. Vishnu se aproximou do elefante ferido,
154 Diferentes caminhos a serem trilhados no hinduísmo
IMPORTANTE!
^ Apesar da importância de moksha na religião h i n d u , quando se
observa a vida humana, ela é apenas uma entre quatro direções
que a vida das pessoas costuma tomar.
quatro metas: "No que diz respeito a dharma, artha, kama e moksha,
o que não puder ser encontrado aqui não existe em lado n e n h u m "
(Sharma, 1999, p. 227, tradução nossa). Porém, mesmo no Kama
Sutra (1.2.1-4), moksha aparece relacionada às metas h u m a n a s ,
as quais, em conjunto, são conectadas às fases da vida humana,
ashramas (tema que será aprofundado no próximo capítulo):
IMPORTANTE!
Cada h o m e m deve, ao longo de sua v i d a , saber perceber n o
que deve investir, a f i m de não deixar de viver plenamente os
159 Diferentes caminhos a serem trilhados no hinduísmo
SÍNTESE
ATIVIDADES DE AUTOAVALIAÇÃO
1. Os três caminhos da libertação (trimãrga) são os seguintes:
i. Karmamãrga.
n. Jfiãnamãrga.
in. Bhaktimãrga.
ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM
Questões para reflexão
1. Liste cada u m dos três caminhos da libertação (trimãrga) e
explique de que forma eles aparecem em cada uma das cinco
etapas da história do hinduísmo, a f i m de evidenciar o desen-
volvimento histórico dessa religião com base nesses elementos.
2. A religião h i n d u apresenta três c a m i n h o s possíveis para a
libertação espiritual, que envolvem a ação, o conhecimento
e a devoção. Conforme apresentado neste capítulo, apesar de
cada etapa da história do hinduísmo dar ênfase a u m desses
caminhos, cabe a cada crente escolher qual caminho seguir
em sua vida. Refletindo sobre sua própria vida, que caminho
você diria que tem sido sua escolha (seja ele religioso ou não)?
Considerando-se a importância dos três caminhos, de que modo
você poderia incorporar os outros dois caminhos em sua vida ?
3. Tal como apresentado neste capítulo, o hinduísmo indica que
há quatro objetivos na vida humana, a saber: dharma, a virtude
religiosa e m o r a l ; artha, o sucesso material; kama, o prazer e a
alegria; e moksha, a libertação espiritual. Em qual desses obje-
tivos você t e m investido mais tempo e m sua vida? Em qual
desses objetivos você t e m depositado seu coração, a f i m de
alcançá-lo? Note que as perguntas são diferentes, a primeira
faz referência ao tempo investido e a segunda, ao direciona-
mento de u m desejo.
n a l e g i s l a ç ã o , os h i n d u s m o d e r n i s t a s c o s t u m a m n e g a r o v a l o r
da l e i h i n d u t r a d i c i o n a l , de m o d o que m u i t a s vezes acaba sendo
criada u m a oposição e m vez de u m a síntese e n t r e as duas partes
(Rocher, 2012).
Neste c a p í t u l o , a n a l i s a r e m o s especificamente as c a r a c t e r í s -
ticas dos elementos sociais que e n v o l v e m o h i n d u í s m o , c o m o o
casamento, a visão acerca da m u l h e r e o sistema de castas, assim
c o m o as questões legais que os p e r m e i a m .
0 casamento:
51
PRESTE ATENÇÃO!
^ A t r a d i ç ã o de os pais decidirem sobre o casamento dos filhos é
tão forte que, em u m artigo de 1977, que depois foi republicado,
Doranne Jacobson (2006) indicava que somente nos círculos mais
ocidentalizados é que os jovens podem escolher os próprios c ô n -
juges. Isso figurava menos de 1% dos casos. O u seja, em m a i s de
99% dos casos, eram os pais que decidiam com quem cada pessoa
iria casar.
IMPORTANTE!
Apesar de ser proibido que homens com menos de 21 anos e m u -
lheres com menos de 18 anos se casem (Child Marriage Prohibition
Act, § 13), os casamentos infantis continuam acontecendo, a ponto
de, segundo cálculo do Fundo das Nações Unidas para a Infância
(UNICEF), em 2014, 47% das meninas indianas se casarem antes
de completarem 18 anos de idade ( D h i l l o n , 2015). C o m tal p o r -
centagem, a índia é o local onde se encontra u m terço de todas as
"noivas-crianças" do m u n d o (Maia, 2017).
PRESTE ATENÇÃO!
A c u l t u r a do casamento de c r i a n ç a s acabou a b r i n d o certa "brecha"
para a e x p l o r a ç ã o sexual i n f a n t i l , e m u m c o n t e x t o no q u a l " n o i -
vas-crianças" são exploradas por viajantes que, depois de algumas
semanas, vão e m b o r a e as a b a n d o n a m .
A s o l u ç ã o e n c o n t r a d a pela S u p r e m a C o r t e i n d i a n a p a r a as
i n ú m e r a s d i f i c u l d a d e s decorrentes da c u l t u r a do casamento i n -
f a n t i l f o i a definição do sexo c o m " n o i v a s - c r i a n ç a s " c o m o e s t u p r o
( G e t t l e m a n ; K u m a r , 2017), m e s m o e m caso de casamento. O sexo
169 O hinduísmo além da religião
Por uma menina, uma moça ou mesmo uma mulher idosa, nada
deve ser feito independentemente, nem mesmo em sua própria
casa. Na infância, a menina deve estar submetida a seu pai, na
mocidade a seu marido; quando seu senhor morre, a seus filhos;
uma mulher jamais deve ser independente. Ela não deve buscar
separar-se do pai, marido ou filhos; deixando-os, ela tornaria tanto
sua própria família quanto a de seu esposo dignas de desprezo.
{Mãnava-Dharmasãstra 4.147, citado por Renou, 1964, p. 90)
A ambiguidade em relação
52
às mulheres
A razão dada para a supervisão "eterna" das mulheres é, em certa
medida, o fato de elas terem uma natureza corrupta e corruptível,
como indicam textos como: "é da própria natureza das mulheres
c o r r o m p e r os homens" (Olivelle, 2005, p. 105, tradução nossa,
Mãnava-Dharmasãstra 2.213). As mulheres se t o r n a r i a m perigosas
até mesmo para homens instruídos que estejam sob influência da
luxúria ou da raiva - ou melhor, elas se t o r n a r i a m u m perigo para
si mesmas quando se colocam perto de pessoas em tais estados.
Nessa perspectiva, qualquer ato de violência de u m h o m e m
contra uma m u l h e r poderia acabar sendo considerado culpa da
própria mulher que sofreu tal ato. O h o m e m não seria o culpado,
pois qualquer h o m e m (até o mais instruído) pode ser desviado
pelos poderes sensoriais causados pelas mulheres, a ponto de se
recomendar que n e n h u m h o m e m fique sozinho em u m deserto
com uma mulher, mesmo que ela seja sua mãe, sua irmã ou sua
filha (Mãnava-Dharmasãstra 2.214).
Paradoxalmente, portanto, a afirmação da "falta de indepen-
dência" das mulheres, que poderia ser vista como uma falta de
responsabilidade legal sobre suas ações, acaba culminando, inver-
samente, na afirmação de culpa e responsabilidade das mulheres
sobre ações que nem mesmo são cometidas por elas. Para a lei,
conforme se a u m e n t a m as afirmações de dependência de uma
m u l h e r em relação ao h o m e m , mais aparição elas têm no caso
(Jamison, 2018b).
IMPORTANTE!
A despeito da religiosidade presente na índia, há u m forte machis-
mo, que muitas vezes resulta na desvalorização das mulheres ou
mesmo na violência contra elas.
173 O hinduísmo além da religião
IMPORTANTE!
Há claros contrastes e ambiguidades nas atitudes e ideias hindus a
respeito das mulheres, que não podem ser ignorados ou apagados
para se afirmar este ou aquele elemento (Rambachan, 2001).
177 O hinduísmo além da religião
IMPORTANTE!
A variedade e a pluralidade de religiosidades próprias do hinduís-
mo se refletem, também, na pluralidade de concepções sobre a
mulher e seu papel. Essas diferentes especificidades aparecem,
igualmente, no que diz respeito às atitudes das próprias mulheres,
na interpretação e na prática, seja nos vilarejos, seja nas cidades
(Patton, 2002). Nesse sentido, há uma busca por afirmar uma
independência, assumindo-se o papel de serviço e obediência ao
marido, ou viver em uma síntese entre a submissão e a revolução.
178 O hinduísmo além da religião
53
O sistema de castas
e os intocáveis
De m o d o semelhante à relação c o m as mulheres, t a m b é m a relação
c o m os pobres é bastante c o m p l e x a na índia. Lá, os pobres s ã o
pessoas desfavorecidas não apenas economicamente, mas t a m b é m
socialmente - e isso se m o s t r a ainda m a i s i m p o r t a n t e . Para grande
parte dos h i n d u s , os dalits, os "intocáveis", o u seja, as pesssoas que
n ã o f a z e m p a r t e de u m a das castas do h i n d u í s m o , n ã o são s o m e n -
te pobres - eles n ã o são, de fato, h i n d u s . D i f e r e n t e m e n t e do que
se pode pensar, os "intocáveis" não são vistos, t r a d i c i o n a l m e n t e ,
c o m o a p a r t e m a i s baixa da sociedade h i n d u , mas c o m o pessoas
que n e m mesmo fazem parte dela. A visão t r a d i c i o n a l pode ser a de
que, se as castas s ã o decorrentes do sacrifício do h o m e m , Purusa,
c o n f o r m e o t e x t o védico, n ã o h a v e n d o m e n ç ã o aos dalits no texto,
n ã o há e s p a ç o para eles na o r d e m social.
Segundo o sociólogo M a x Weber, o sistema de castas, assim
c o m o "os d i r e i t o s e deveres r i t u a i s que este impõe", é, nada m a i s
nada m e n o s , que "a instituição f u n d a m e n t a l do hinduísmo", de
m o d o que "sem casta, não há n e n h u m h i n d u " (Weber, 1958, p . 29,
tradução nossa). Da mesma f o r m a , outros autores a f i r m a m que ser
h i n d u " i m p l i c a ter nascido d e n t r o de u m a das castas reconhecidas"
(Solis, 1992, p. 75, tradução nossa), ou seja, é necessário fazer parte
desse sistema e adequar-se a ele para ser parte da religião como u m
todo. Tais perspectivas seguem a visão t r a d i c i o n a l , a qual nega que
os dalits possam ser considerados c o m o p a r t e da mesma religião
ou do m e s m o corpo social.
IMPORTANTE!
Ao contrário do que se pensa, os dalits n ã o são u m a pequena parcela
da sociedade. Apesar de serem considerados como não pertencentes
179 O hinduísmo além da religião
(jati). O cão que "cresce" e muda para outras formas pode servir
como analogia aos dalits que crescem socialmente.
IMPORTANTE!
Levando-se em consideração a relação entre os cães e os pobres,
ou seja, não somente os dalits, mas também os sudras, podemos
entender que o relato serve como u m aviso social: aqueles que
p r o m o v e m o desenvolvimento e a valorização das classes mais
baixas não devem esquecer que a posição destas não é algo à toa,
mas resultado de uma necessidade da própria ordem cósmica, do
dharma.
IMPORTANTE!
Na índia atual, a divisão entre as castas não está tão evidente
quanto costumava ser há séculos, de modo que, hoje, de acordo
com Klostermaier (2009, p. 6), "os brâmanes podem ser homens
de negócio ou produtores rurais, e sudras podem ocupar posições
elevadas no governo".
PRESTE ATENÇÃO!
Os c a s a m e n t o s e n t r e castas d i f e r e n t e s m u i t a s vezes s ã o a p r e -
sentados pelo Estado c o m o u m e l e m e n t o de interesse n a c i o n a l ,
s e r v i n d o c o m o f a t o r de unificação do país.
IMPORTANTE!
Apesar de as castas estarem presentes na religiosidade dos h i n d u s ,
é possível pensar o h i n d u í s m o de f o r m a a deslocar o sistema de
castas a u m caráter s e c u n d á r i o .
190 O hinduísmo além da religião
SÍNTESE
^ A o c o n t r á r i o de p r a t i c a m e n t e todas as o u t r a s religiões - c o m ex-
ceção de algumas, a e x e m p l o do Islã -, o h i n d u í s m o não é somente
u m a religião, mas t a m b é m u m sistema social. C o m a f o r m a ç ã o do
Estado da índia, essa c o m p r e e n s ã o f o i necessária para a definição
dos l i m i t e s de a t u a ç ã o do g o v e r n o e m r e l a ç ã o à v i d a dos i n d i a -
nos. M e s m o assim, i n ú m e r o s c o n f l i t o s a i n d a o c o r r e m e n t r e a lei
secular, d e f i n i d a pelo Estado, e o d i r e i t o t r a d i c i o n a l , t r a n s m i t i d o
pela família e pelas lideranças religiosas.
U m exemplo disso é o casamento. Na índia, é u m a tradição que
os pais d e c i d a m c o m q u e m seus filhos deverão casar. Tal tradição,
m e s m o que r e s t r i n j a de certo m o d o a l i b e r d a d e dos indivíduos,
193 O hinduísmo além da religião
ATIVIDADES DE AUTOAVALIAÇÃO
1. Legalmente, qual é a idade mínima, hoje, para uma m u l h e r se
casar na índia?
A] 13 anos.
B] 15 anos.
c] 18 anos.
D] 21 anos.
E] 10 anos.
2. Como se chamava a prática na qual as viúvas eram sacrificadas
na pira funerária de seus maridos?
A] Rishikas.
B] Varna.
c] Jati.
D] San'.
E] Purusa.
3. Como se chama o grupo de excluídos indianos, que não fazem
parte de nenhuma das quatro castas?
A] Brâmane.
B] Dalit.
C] Sudra.
D] Xátria.
E] Vaixá.
195 O hinduísmo além da religião
A T I V I D A D E S DE APRENDIZAGEM
6.1
Ãsramas: as fases da vida
Atualmente, para além da constituição da sociedade em diferentes
castas, varnas, o hinduísmo também propõe, de modo mais prático,
a divisão da vida de cada crente em diferentes estágios, denomi-
nados ãsramas. Na concepção tradicional hindu, tais elementos
estão relacionados de tal forma que são, conjuntamente, o pró-
prio coração da constituição social do hinduísmo, denominada
varnãsramadharma, ou seja, "dharma das varnas e ãsramas" (Olivelle,
2018b). Chega-se ao ponto de se afirmar, no Visnu Purãna (3.8.9), que
"A Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Vishnu, é adorada
198 Os princípios de vida no hinduísmo
PRESTE ATENÇÃO!
O próprio t e r m o brahmacarya significa "procurar ou praticar o
Brahman", indicando o caráter religioso desta primeira fase da vida
de u m h i n d u , a qual é marcada, para além do estudo dos Vedas,
pela adesão a u m a série de regras disciplinares, incluindo o celi-
bato - de modo que o termo brahmacarya chegou a ser equivalente
a "celibato" em alguns contextos (Lubin, 2018a) -, mas também
201 Os princípios de vida no hinduísmo
IMPORTANTE!
Cabe ao h o m e m , nesse segundo período da v i d a , grhastha, f o r m a r
sua família c o m o u m todo, m a n t e r sua casa p o r m e i o de seu t r a -
b a l h o e p a r t i c i p a r da v i d a social.
IMPORTANTE!
A ideia do vãnaprastha, a terceira fase da v i d a , é que se busque rea-
l i z a r u m processo de ascetismo, d i s t a n c i a n d o - s e dos elementos
frívolos da v i d a , no c u i d a d o n ã o s o m e n t e c o m o l u g a r o n d e se
m o r a , mas t a m b é m c o m o que se veste e, p r i n c i p a l m e n t e , c o m o
que se come.
Tal c o m o d e s c r i t o , a i n d a h á pessoas q u e , a s s u m i n d o e m s i
esta ú l t i m a fase d a v i d a , se t o r n a m a n d a r i l h o s , s e m h a b i t a ç ã o
o u q u a l q u e r posse, p e r a m b u l a n d o pelas cidades e c a m p o s , v i -
v e n d o das e s m o l a s que r e c e b e m . E o t e m p o final p a r a se p e n s a r
na r e a l i d a d e e na d i v i n d a d e (Brahman), a fim de se a l c a n ç a r a
r e a l i d a d e e s p i r i t u a l após a m o r t e . T r a t a - s e , p o r t a n t o , de u m a
verdadeira preparação para a m o r t e , ou m e l h o r , para o p ó s - m o r t e ,
na q u a l o d e v o t o se t o r n a u m a pessoa " s e m p r e r e n u n c i a d a " , t ã o
d i s t a n t e d a v i d a c o t i d i a n a que " n ã o o d e i a n e m deseja os f r u t o s
de suas a t i v i d a d e s " (Bhagavad Gitã 5.3, c i t a d o p o r P r a b h u p ã d a ,
1985, p . 133).
207 Os princípios de vida no hinduísmo
PRESTE ATENÇÃO!
De acordo com Olivelle (2018b), em sua origem, o termo ãsrama
tem u m a evidente relação com o ascetismo, que fica clara com a
comparação desse t e r m o com srama, "trabalho ascético", o que
significa que está originalmente ligado ao novo modo de religio-
sidade, vinculado ao ascetismo.
IMPORTANTE!
Os r i t u a i s servem para que cada h i n d u perceba que a vida t e m
seus diferentes momentos dentro de seu ciclo e que cada momento
tem também suas particularidades que devem ser enfatizadas e
valorizadas. Os "sacramentos" nào c o n t r a r i a m a natureza - antes,
em certa medida, o que é natural é recriado, tornando a natureza
em cultura sacramental (Michaels, 2018) e levando o devoto a ver
a própria vida como algo sagrado.
62
Saddarsanas: as seis filosofias
• m
Nyãya Budismo
Vaisesika Jainismo
Mimãmsã Cãrvãka
Sãmkhya Ajivika
Yoga
Vedãnta
213 Os princípios de vida no hinduísmo
IMPORTANTE!
Quando se fala em fluidez, entendemos que ela é em parte decor-
rente do próprio fato de que as seis darsanas não são exatamente
filosofias concorrentes. Antes, são aproximações intelectuais ao
m u n d o que, e m grande medida, não tratando necessariamente
das mesmas coisas, podem confluir, resultando nas mencionadas
influências.
63
Prãyascitta: expiações
e peregrinações
Se levarmos em consideração a importância das seis visões do
hinduísmo (saddarsanas), poderemos acabar caindo na ilusão de
que temos uma religião com ênfase no aspecto teórico em lugar do
prático. Na realidade, a vitalidade do hinduísmo está, para além
das teorizações, justamente em sua prática cotidiana, envolven-
do e direcionando a vida de milhões de devotos. Quando visto
em seu conjunto, o hinduísmo tende a ser percebido como uma
religião na qual se destacam muito mais a fluidez e o movimento
do que a teorização e a estática. Afinal, mesmo entre as filosofias
do hinduísmo, ou seja, suas teorizações, as ações e a devoção têm
espaço e, até mesmo, considerável importância, tal como indicado
anteriormente.
IMPORTANTE!
Muitas vezes, as ações e a devoção não são plenamente compreen-
didas, especialmente quando se observam somente os aspectos
"positivos" delas, ou seja, aquilo que deve ser realizado em con-
formidade com o dharma, a ordem cósmica. Afinal, para além
dos aspectos "positivos", a vida religiosa do hinduísmo envolve
ações (karman) e meios de devoção (bhakti) de caráter "negativo",
ou seja, que servem como mecanismos de expiação e anulação
219 Os princípios de vida no hinduísmo
IMPORTANTE!
As duas consequências do pecado, na visão hindu, são a "queda"
espiritual, levando o h o m e m a ir para o inferno ou reencarnar
em u m a situação pior, e o impedimento de interação social, que
implica uma espécie de "bloqueio" de sua condição social.
PRESTE ATENÇÃO!
Em muitos casos, os lugares que fazem parte das jornadas dos
deuses principais nos textos épicos, a exemplo de Rama, são con-
siderados sagrados. E o caso do ãtãm pãlam, "ponte de Adam", que
é uma passagem natural entre a índia e o Sri Lanka, considerada
como a passagem feita pelo exército de macacos (vãnara) de Rama
para que ele pudesse resgatar sua esposa Sitã.
1 Segundo outra perspectiva, as sete cidades sagradas para peregrinação são: Banares
(Varanasi), Kashi (perto de Varanasi e por vezes confundida com esta), Haridwar, Rishikesh,
Kadarnath, Badrinath e Gangotri. Uma vez que o Rio Ganges nasce em Gangotri e desce até
Banares, as pessoas c o m e ç a m a peregrinação em Banares e vão até a nascente do Ganges,
em Gangotri.
224 Os princípios de vida no hinduísmo
SÍNTESE
Neste capítulo, apresentamos como o hinduísmo concebe as dife-
rentes fases da vida humana, dividindo-a em quatro fases distintas:
a fase do brahmacarya, na qual o j o v e m se dedica ao estudo dos
textos védicos com u m mestre (guru); a fase do grhastha, o "chefe
de família", que tem como objetivo f o r m a r e sustentar sua família;
a fase do vãnaprastha, o eremita que se dirige a u m local retirado,
a f i m de meditar e se afastar da sociedade e; por f i m , o eremita
renunciante, samnyãsa.
Também abordamos as seis filosofias (darsanas) do hinduís-
mo, que são: Nyãya, u m racionalismo que buscou estabelecer as
pramãnas, que são formas apuradas de obtenção e verificação dos
conhecimentos; Vaisesika, uma espécie de atomismo que buscava
pensar com base nas visesas, partículas eternas das quais todas as
coisas são formadas; Mimãmsã, uma espécie de l i t e r a l i s m o que
defende a apauruseya dos Vedas, ou seja, a ideia de que não f o r a m
compostos, sendo eternos; Sãmkhya, uma espécie de metafísica
ateista que apresenta a realidade partindo de uma visão dualista,
d i v i d i d a entre purusa ("consciência") e prakrti ("matéria"); Yoga,
uma prática de meditação que intenciona a samãdhi, "meditação
225 Os princípios de vida no hinduísmo
ATIVIDADES DE AUTOAVALIAÇÃO
1. As quatro fases da vida humana, segundo o hinduísmo, são
as seguintes:
i, Brahmacarya.
li. Grhastha.
in. Vãnaprastha.
iv. Samnyãsa.
D] U m cinturão de b r o n z e .
E] U m a m e d a l h a de o u r o .
ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM
Questões para reflexão
1. A l g u n s t e ó r i c o s d o c a m p o da sociologia t ê m i n d i c a d o que, e m
m u i t o s países ocidentais, e n t r e os quais o B r a s i l , pode-se p e r -
ceber u m a tendência de m u i t o s adultos v i v e r e m vidas c o m p l e -
tamente direcionadas para a diversão e o prazer, o que t e m sido
caracterizado como "adolescência prolongada" ou "adolescência
tardia". L e v a n d o esse fato e m conta, r e f l i t a sobre o seguinte:
Será que esse c o m p o r t a m e n t o n ã o é, e m p a r t e , c o n s e q u ê n c i a
da falta de u m a clara s i s t e m a t i z a ç ã o das fases da v i d a e de suas
p a r t i c u l a r i d a d e s no que d i z respeito a f u n ç õ e s e objetivos, t a l
c o m o há n o h i n d u í s m o ? Justifique sua resposta.
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Curitiba: Prismas, 2016.
Flávia Bianchini é uma pesquisadora brasileira que tem se dedi-
cado ao estudo do hinduísmo e, especialmente, do feminino nas
escrituras indianas. Seu livro é fruto do mestrado em Ciências
da Religião pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Nele,
a autora apresenta a história de desenvolvimento da adoração
da grande deusa pelo shaktismo, uma das principais linhas do
hinduísmo. Trata-se de leitura importante para todos aqueles que
querem ter uma visão mais profunda sobre essa linha religiosa.
F L O O D , G . U m a i n t r o d u ç ã o ao h i n d u í s m o . Juiz de Fora: E d . da
UFJF, 2014.
O livro do antigo professor da Universidade de Oxford é uma re-
ferência mundial no estudo do hinduísmo. Tendo sido publicado
originalmente pela Cambridge University Press, foi traduzido para
o português por Dilip Loundo, professor da Universidade Federal
de Juiz de Fora (UFJF). É uma obra de ponta, fruto de pesquisa
profunda e atualizada, que apresenta ao leitor o hinduísmo con-
siderando pontos fundamentais, tais como conceitos-chave, a
formação histórica da religião, sua abrangência, as tradições lite-
rárias e, principalmente, as diferentes realidades culturais atuais.
O destaque são as grandes linhas do hinduísmo atual. Apesar de
o título indicar que se trata de uma introdução, não é uma leitura
superficial, afinal, acompanha a complexidade do próprio tema.
É uma leitura recomendada para qualquer pessoa que queira
conhecer mais sobre o hinduísmo.
R E N O U , L. H i n d u í s m o . R i o de Janeiro: Zahar, 1964. (Biblioteca
de Cultura Religiosa).
O livro, publicado no Brasil no âmbito da Coleção Biblioteca de
Cultura Religiosa, da Editora Zahar, é tradução da obra Hinduism,
de Louis Renou, publicada como um dos volumes da Coleção Great
Religions of Modern Man, da Editora George Braziller (New York,
1962). Trata-se de uma obra célebre, escrita por um autor que foi
professor de Sânscrito e Literatura Indiana naSorbonne, em Paris,
sendo produzida, portanto, por uma das grandes autoridades
no estudo do hinduísmo do século passado. Apesar de antiga,
permanece como um clássico no estudo sobre essa religião no
contexto brasileiro, sendo uma obra cujo aspecto principal é a
apresentação de excertos de diversos textos do hinduísmo, sele-
cionados e explicados, a fim de possibilitar um contato do leitor
com a vasta literatura dessa religião. É uma leitura que possibilita
uma aproximação geral com a pluralidade literária do hinduísmo.
S I L V E S T R E , R. S.; T H E O D O R , I. (Org.). F i l o s o f i a e t e o l o g i a d a
B h a g a v a d - G i t ã : hinduísmo e o vaishnavismo de Caitanya -
Homenagem a Howard J. Resnick. Curitiba: Juruá, 2015.
Composto por textos de vários autores, esse livro é considerado
um avanço académico importantíssimo no estudo do hinduísmo
no Brasil. Ele oferece ao público brasileiro a apresentação e a
análise do Bhagavad Gitã com base em uma leitura de autores
internacionais e nacionais, em um trabalho conjunto extraordinário,
com textos de grandes referências no estudo dessa religião no
Brasil e no mundo. Trata-se de uma leitura recomendada a todos
que desejam conhecer o Bhagavad Gitã com mais profundidade
e a todos que intencionam dedicar-se academicamente ao estudo
do hinduísmo.
T I N O C O , C A . A s U p a n i s h a d s . S ã o Paulo: Ibrasa, 1996. (Coleção
Gnose).
O livro foi escrito por Carlos Alberto Tinoco, professor das Facul-
dades Integradas Espírita, e é u m trabalho de referência no Brasil
a respeito dos Upanishads. Para além de uma introdução consi-
derável a respeito desse conjunto de textos, oferece a tradução
de alguns deles, com comentários elucidativos. É uma excelente
leitura para quem deseja conhecercom profundidade as escrituras
e a própria religião upanishade.
T I N O C O , C A . H i s t ó r i a das f i l o s o f i a s d a í n d i a . C u r i t i b a : A p p r i s ,
2017. (Selo Artêra). 2 v.
O livro é um trabalho de análise histórica e filosófica do pensamento
na índia, realizado porCarlos AlbertoTinoco, que dispõe de amplo
conhecimento sobre o assunto.Trata-se de uma leitura importante
para todos aqueles que desejam aprender mais sobre o hinduísmo,
especialmente por uma perspectiva filosófica.
Capítulo 1 Capítulo 4
A T I V I D A D E S DE A T I V I D A D E S DE
AUTOAVALIAÇÃO AUTOAVALIAÇÃO
1. c 1. a
2. d 2. b
3. a 3. c
4. c 4. b
5. d 5. d
Capítulo 2 Capítulo 5
A T I V I D A D E S DE A T I V I D A D E S DE
AUTOAVALIAÇÃO AUTOAVALIAÇÃO
1. b 1. c
2. c 2. d
3. c 3. b
4. a 4. a
5. d 5. d
Capítulo 3 Capítulo 6
A T I V I D A D E S DE A T I V I D A D E S DE
AUTOAVALIAÇÃO AUTOAVALIAÇÃO
1. a 1. c
2. c 2. d
3. a 3. c
4. b 4. b
5. c 5. a
SOBRE O AUTOR
AVA EDITORA
QS& intersaberes