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MATERIAL DE ESTUDO

SOBRE ESTÉTICA E FILOSOFIA DA ARTE


JORNADAS FILOSÓFICAS 2018

ESTÉTICA E FILOSOFIA DA ARTE

Escrito por:
Camila Sant’Ana Vieira Ferraz Milek
Revisado por:
Eloyluz de Sousa Moreira
Everton Marcos Grison
Jonas José Berra
Lucas Lipka Pedron
Marcos Antonio de França
Murilo Luiz Milek

ESTÉTICA

A reflexão do ser humano sobre o que sentimos ao ver ou ouvir algo é


muito antiga, mas só foi nomeada de estética por Baumgarten, no Séc. XVIII.
Quando surgiu, o termo designava o estudo da sensibilidade – estética vem do
grego αἴσθησις (aistésis) que significa sensação –, mas ela ganha um
panorama maior na filosofia como um todo.

As questões principais da estética são: o que é o belo? O que é uma


obra de arte? Delas se seguem uma série de questionamentos que se referem
a como o ser humano se coloca frente a arte e a beleza e como ela pode refletir
a sociedade.

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As pinturas rupestres, as mais antigas encontradas, datam do período Paleolítico, 40.000 a.C.
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A BELEZA

A pergunta sobre a beleza está na filosofia desde a Grécia antiga, na


representação de divindades míticas, por exemplo. Cotidianamente,
respondemos quase que automaticamente ao olhar ao nosso redor se algo é
belo ou não. Mas talvez não tenhamos a mesma facilidade quando pensamos
no motivo de considerarmos determinadas coisas lindas ou feias. Por exemplo,
se consideramos uma roupa bonita e alguém nos pergunta o motivo disso,
mencionamos características físicas dela, como a cor, o formato, o tecido, etc.,
mas isso não nos diz o porquê dessas características nos agradarem.

Em Hípias Maior, Platão escreve um diálogo no qual Sócrates e seu


interlocutor questionam o que é o belo. Hípias, num primeiro momento, não
entende a questão e acaba por responder com um exemplo: uma bela jovem.
Sócrates o interroga: a bela jovem não teria uma propriedade que faz com que
a consideremos bela? Hípias é obrigado a concordar. Sócrates chama a atenção
para a existência de uma beleza que independe das coisas belas, pois pertence
ao mundo inteligível e não ao mundo sensível. É a beleza em si, ideal que estaria
de alguma forma presente nos objetos que consideramos belos. É a essa beleza
que a questão “o que é o belo?” se reporta. É como se perguntássemos: o que
há de comum em um quadro, uma bela música e no pôr do sol, para que
possamos chamá-los de belos?

Esta é uma das formas de se considerar a beleza. Uma beleza que


reporta a um ideal compartilhado pelos objetos belos e, se lembrarmos do legado
de Platão, ela se conecta com a verdade com o bem. Como no conceito
καλοκαγαθία (kalokagathia) que deriva expressão καλός καi αγαθός (kalos
kai agathos), literalmente belo e bom, e para Platão seria o ápice da virtude, ou
a soma de todas as virtudes. Agora, se a beleza existe em si, ligada de tal forma
ao bem e a verdade que não é separável deles, como é que nós seres humanos,
pertencentes ao mundo físico podemos percebê-la e ainda reconhecê-la em
diferentes objetos? Platão poderia nos responder que é necessária a ascensão
ao mundo inteligível para a compreensão da beleza, mas houveram outras
formas de responder a esta questão.
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OBJETIVISMO E SUBJETIVISMO

Mais à frente na história da Filosofia, veremos duas correntes diferentes


de pensamento sobre o belo, que pensam em como nós chegamos a achar algo
belo ou feio. A teoria objetivista diz que são características presentes no próprio
objeto que fazem com que ele seja belo. No período renascentista, por exemplo,
a simetria é a característica que garante a beleza de algo. Logo, pessoas,
paisagens e obras de arte eram julgadas como belas por refletirem uma
ordenação simétrica, que refletiria a própria natureza.

Por outro lado, como podemos justificar que tantas pessoas tenham
gostos diferentes? A teoria subjetivista dirá que a beleza depende da sensação
da pessoa ao experienciar algo. Filósofos como Hume e Locke entendiam que,
se ao ouvir ou ver algo a pessoa sente prazer, ela considera o objeto de
apreciação belo. Nesse sentido, a causa da beleza é subjetiva, ou seja, a beleza
“estaria nos olhos de quem vê”. Essa teoria pode responder o que o objetivismo
não respondia, porém, ainda fica uma questão: como podemos identificar alguns
padrões de gosto? Por que algumas coisas parecem feias ou repugnantes para
grande parte das pessoas se o critério é apenas subjetivo?

OBJETIVISMO - SUBJETIVISMO, JUÍZOS E EXPERIÊNCIA


ESTÉTICA

O filósofo Imannuel Kant procura ultrapassar essa querela ao “unir”


ambos os posicionamentos: a beleza estaria na relação entre o sujeito e objeto
ao invés de estar apenas em um dos polos. A beleza se expressa quando ao
olhar ou ouvir algo sentimos prazer. Este prazer não pode se reduzir a um prazer
físico, mas é um prazer estético. Quando isso ocorre, temos uma experiência
estética, ou seja, quando sentimos um tipo de prazer que não se explica por fins
físicos ou quando apreciamos algo não por sua utilidade ou porque ela pode
servir de instrumento. O prazer estético é um prazer desinteressado.
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Desse modo, podemos então emitir juízos estéticos. O juízo estético,


diferente do juízo moral ou do juízo técnico por exemplo, se refere a esse
maravilhamento desinteressado que sentimos ao ver algo. É o que explica
porque os seres humanos, apesar de terem muito compromissos, de se
preocuparem em suprir suas necessidades passam horas vendo um filme, ou
ouvindo música.

A ARTE

A estética não se resume a reflexão sobre o belo, mas ela reflete sobre
a percepção humana. Nisso, a arte tem grande valor. Cotidianamente, podemos
considerar que não há muita diferença entre pensar sobre a beleza ou sobre a
arte, pois talvez o objetivo de um artista seja de criar uma obra de arte bela. No
entanto, nem sempre a arte desempenha esse papel e entre nossos próprios
gostos artísticos podemos talvez identificar obras de arte que não são belas, mas
mesmo assim nos fazem sentir algo diferente. Por exemplo, ao vermos um filme,
uma foto, ou uma música sobre uma tragédia ou uma situação dramática. A arte
ultrapassa a beleza e pode trazer consigo outros significados, já que é uma forma
de expressão e que pode se utilizar de símbolos.

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Laocoonte e seus filhos, c. 200 a.C., Museus Vaticanos. As esculturas da Grécia antiga
procuravam retratar os mínimos detalhes do físico. Na arte mimética, elas se relacionam à
teoria de Platão ou Aristóteles?
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Voltemos um pouco para a concepção de beleza de Platão. Há espaço


para a arte como conhecemos que se ligue à beleza? Na República, Platão fará
várias críticas aos artistas de sua época – em especial aos poetas e pintores.
Por apenas imitarem a natureza. Para ele, a imitação (μίμησις ou mímesis) da
natureza só nos afastaria da verdade, do bem e da beleza. Se relembrarmos a
teoria das ideias, o mundo físico é apenas uma sombra, uma cópia do mundo
das ideias. Por isso, a imitação da natureza é a imitação de uma imitação. As
artes que devem ser incentivadas são as que tentam ligar-se a um sentido
verdadeiro, como a composição musical, por exemplo.

Aristóteles, seu discípulo, discordava. Para ele, a mímesis feita pelos


artistas não era apenas uma cópia. Pelo contrário, para ele a sabedoria poderia
partir do mundo físico e por isso, o artista ao representar (imitar e representar
são ambas traduções possíveis de mímesis) a natureza estaria deixando-a mais
próxima da perfeição. A arte, ao invés de afastar as pessoas da verdade,
aproximava, pois poderia fazer com que as pessoas ultrapassassem suas
limitações físicas e atingissem uma experiência mais elevada.

ARTE NO DECORRER DA HISTÓRIA

Como vimos, o que entendemos por arte influencia as sociedades desde


os primórdios. Por exemplo, conhecemos muito da história de alguns povos
através de sua arte, como veremos em breve. Além disso, a relação entre arte e
sociedade nos faz pensar no papel da arte: a arte tem uma função? E se tem,
como definir que obras de arte cumpririam essa função? Quem ou o que define
o que é arte?

Segundo Platão, a função da arte deveria ser de aproximar as pessoas


da verdade ao invés de afastá-las. Por isso em seu projeto de sociedade ideal,
as artes consideradas miméticas – imitativas, para ele – deveriam ser banidas
para o aprimoramento da sociedade. No entanto, Aristóteles considera que tais
artes podem ser benéficas ao auxiliarem o processo de conhecimento do ser
humano, por aproximar o ser humano da perfeição.
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De todo modo, em ambos os casos podemos considerar que a mímesis


está relacionada a arte. Entendida como imitação ou representação nos casos
acima, essa continua a ser uma característica da arte no decorrer de parte da
história. A arte representativa tem uma longa relação com a natureza mas nem
sempre essa natureza foi vista da mesma forma.

Por exemplo, a arte renascentista, conhecida por nomes com


Michelangelo e Leonardo Da Vinci tinha como objetivo representar a ordem da
natureza.

Além disso, a arte poderia prestar glórias às criações divinas, sendo utilizada
como um canal de contato entre os homens e suas divindades. Posteriormente,
a arte tem como tema, de um lado, a natureza a partir das leis físicas e de outro,
os costumes frívolos da alta sociedade. As obras de arte maximizavam a fruição
dos participantes das festas galantes. Neste período, surgem os Salões, que
lembram as galerias de arte e permitem uma avaliação da obra de arte. Diderot
foi um dos primeiros a escrever sobre crítica de arte. Com isso, surgem regras
da academia que selecionavam os quadros que seriam condizentes com o que
se considerava belo e tecnicamente adequado. Já no período do romantismo, a
natureza é retratada por sua força e imponência, como ela escaparia aos ditames

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Homem Vitruviano. 1490, Leonardo Da Vinci.
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humanos, incluindo elementos do fantástico e do sobrenatural tanto na literatura


quanto nas artes plásticas.

Após esse período, em que a arte poderia ser considerada


representativa, ela se transforma em resposta a regras da academia e com o
advento tecnológico de novas técnicas como a fotografia e a filmagem.

Não era mais necessária uma representação exata dos objetos retratados, já
que a tecnologia poderia fazer isso com excelência, e ainda mais: a
representação não era considerada suficiente. Disto, surgem, por exemplo, o
impressionismo, que pretendia captar as alterações de movimento e luz no que
era observado e o expressionismo que não procurava captar um momento
externo, mas sim expressar uma experiência que conecta o indivíduo ao objeto,
a percepção do artista, que não se resume apenas ao olhar, por exemplo. Nestes
períodos as normas e as técnicas são deixadas de lado em prol da liberdade do
artista.

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Primeira fotografia.1826, Joseph Nicéphore Niépce.
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Noite estrelada, 1889, Vincent Van Gogh.
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Mesmo assim, a arte ainda é representativa de algo e, mesmo que se


ligando ao sujeito, ela tem como fim representar um objeto. No entanto, isso não
é- suficiente para designar a arte como um todo. Um marco de seu movimento
histórico é A Fonte, de Duchamp, de 1917.

Trata-se de um mictório comum, retirado de um metrô de Nova York. A


obra, que enfrentou relutância para entrar em galerias de arte, nos choca por
colocar alguns questionamentos: Qual é a diferença deste mictório e um outro
mictório qualquer? Por que ele está em uma exposição? Ele pode ser
considerado uma obra de arte?

Não mais a arte se liga à beleza. Não é essa a preocupação do artista.


Tampouco ele exerce uma técnica elaborada para executar a obra e também
não representa nenhum objeto, pois a obra de arte é o próprio objeto deslocado
do seu lugar costumeiro. Ela tem como objetivo expressar uma ideia que surtirá
uma reflexão, e não mais o deleite do observador. Se inicia a arte conceitual.

ARTE E SOCIEDADE

Nessa brevíssima história da arte, podemos constatar algumas coisas: a


arte nem sempre remete à beleza e à simples fruição; a arte é capaz de

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A Fonte, 1917, Marcel Duchamp.
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estabelecer ou quebrar padrões; a arte é capaz de expressar uma visão de


mundo; ela é mutável e reflete transformações sociais.

Por tais características, não é possível que a arte como um todo


permaneça desligada do que ocorre ao seu redor. Se por vezes ela é utilizada
como fuga da própria realidade ela pode ser veículo de uma imersão maior ainda
no mundo que nos cerca. Ela expressa de forma diferente e atinge os
espectadores de forma diferente, podendo fazer com que ele capte sua própria
realidade de outra forma.

Mesmo com o enfrentamento da avaliação das obras de artes por


normas ou pela técnica que ela apresenta, ainda existe o costume de, ao se
julgar uma obra de arte como ruim, ouvirmos as frases: “isso não é música”, ou
“aquilo não é arte, é apenas um rabisco mal feito”. Ao retirar o título de obra de
arte, pensa-se desvalidar determinadas obras. Um exemplo disso, são algumas
artes urbanas como o rap ou o graffite.

Estas formas de arte procuram denunciar, através da expressão artística


livre do cotidiano, o abismo existente na sociedade e garante que a arte não
precisa estar apenas nas galerias ou partir das mãos de um artista renomado e
versado em regras complexas. Pelo contrário, a força desses trabalhos está em
deslocar a arte para o cenário cotidiano. Quando, ao passarmos pelo centro da
cidade olhamos para uma parede cinza não temos a mesma experiência ao
passar por um muro grafitado. Ela transforma a percepção das pessoas sobre a
própria cidade e pode tematizar os problemas sociais, dando espaço à discursos
que talvez não tivessem outro espaço garantido. O RAP, ao mesclar a música
com a poesia traz as vozes da vivência na periferia e dá lugar a um conhecimento

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Grafitte ou pichação? Kissing Coppers. 2004, Banksy.
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que não é valorizado pelo status quo. Estes dois exemplos de arte urbana
relacionam as pessoas e as aproximam da realidade de sua sociedade, elas são
capazes de mover sentimentos, e gerar atitudes.

Não é por acaso que no período da ditadura havia um setor muito bem
equipado de censura, que garantia que nenhuma peça artística que contrariasse
o sistema, que denunciasse a falta de liberdade, os homicídios, as condições
precárias de vida. Pois até os ditadores reconheceram a arte como um veículo
de transformação.

A arte também pode ser veículo de denúncia, pois pode escancarar os


preconceitos arraigados aos nossos valores e nos fazer olhar para o mundo de
forma diferente. Também não é por acaso que tenhamos visto muito
recentemente a volta da censura de exposições ou performances artísticas que
rompe com uma visão antiquada de mundo. A rejeição a uma obra de arte ou a
apreciação dela pode nos dizer muito sobre nossos próprios ideais. O artista e o
observador podem fazer uma escolha política a partir da arte. É o caso, por
exemplo dos cartunistas que, ao retratar parte do contexto social podem escolher
modifica-lo ou continuar a disseminar preconceitos.

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Avaliação da censura durante a ditadura militar brasileira da música Cálice, de Chico
Buarque.
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Exposição feita com as roupas que vítimas de estupro usavam quando foram atacadas. 2018,
Bélgica.
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ARTE E CULTURA

Se a arte pode ser transformadora ela também pode ser vista como arte
da cultura de um povo e ligar as pessoas a suas tradições e costumes. Por isso
conhecemos exemplos de obras de arte que são próprios de um determinado
povo, como a cerâmica chinesa, as bonecas polonesas, os cestos indígenas, as
carrancas africanas, etc. Mas nesse sentido, a arte não se coaduna com o
conceito de experiência estética de Kant. Como vimos, a experiência estética
para Kant ocorre quando contemplamos algo, sem que isso lhe traga utilidade.
No nosso cotidiano também temos o costume de separar em grupos diferentes
o que consideramos arte e o que consideramos artesanato. Porém, os diversos
povos utilizam técnicas milenares para o desenvolvimento de sua arte que não
é sem função, seja uma função prática e imediata, seja uma função social. A
própria prática artística ou artesanal, que é tão individualizada na sociedade
ocidental, é feita de forma coletiva, proporcionando aprendizado e integração.

A própria palavra arte se origina o termo latim ars, que designa o mesmo
da τέχνη (ou techné) grega. Neste período não havia divisão entre o que hoje
chamamos de arte e o que chamamos de técnica e é o mesmo que ocorre em
outras culturas. Por exemplo, na arte indígena temos os instrumentos de caça
cobertos de adornos, os cestos que possuem um uso das cores e a técnica de
trançar a palha, temos em alguns povos as tatuagens e as perfurações faciais.

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Instrumentos musicais, ornamentos e armas indígenas.
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Estes elementos refletem uma estreita ligação com as tradições e a


crença desses povos. O adorno, seja no material de caça seja no corpo não é
sem intenção, mas religa a pessoa a seus deuses e à estrutura de sua
sociedade. Por isso, os rituais de passagem que denotam o amadurecimento de
alguns dos membros da tribo contam com uma mudança estética.

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Nas tribos africanas como nas indígenas, contamos com a presença de


elementos que remetem aos animais que os cercam, que são signo de força ou
sabedoria e o uso de elementos naturais. A inserção na arte de tais elementos
mostra como ela é também um canal de ligação entre o ser humano e o mundo
que o cerca ao redor, sem divisões. A admiração pelas características dos
animais é signo da equidade de consideração entre os seres que ali convivem.

Nos três exemplos acima, podemos notar que a noção de “belo” destes
povos difere da ocidental. Historicamente, as reflexões sobre o belo apontavam
para a arte como uma ligação com algo imaterial e perfeito, o regramento natural,
etc. Contudo, a arte foi considerada de alguma forma um afastamento do mundo
físico, seja momentâneo, seja pela busca de um ideal. Essa visão da arte
também se relaciona com a negação do corpo em prol do espírito. Nestas
culturas temos uma ligação com este mundo, com os seus semelhantes através
da cultura e com suas crenças, sem saltos. Ela faz partes das práticas cotidianas
e denota a hierarquia os ritos de um povo. Desde os instrumentos, passando
pela ornamentação do corpo e da dança, todos os sentidos são valorizados pela

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Ornamentos das tribos Surma e Mursi no Vale do Omo. 1938, Hans Sylvester.
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arte. Não por acaso essas características estão muito presentes na constituição
do que se entende por ser brasileiro e em nossas produções artísticas.

PROBLEMÁTICAS SOCIAIS E A ESTÉTICA

Os padrões de beleza.

No decorrer do tempo, surge, a partir da ideia de belo um ideal de beleza


que gera determinado padrão. Por isso, podemos identificar períodos que
compartilham características (romantismo, expressionismo, impressionismo...).
No entanto, isso ocorre também com as pessoas. Parece haver uma exigência
tácita nas sociedades que classifica os indivíduos entre feios e bonitos. Mas essa
classificação, apesar de ser feita de forma subjetiva leva em consideração o
gosto de sua sociedade, do qual, sem perceber, todo indivíduo em maior ou
menor medida participa.

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A isso chamamos de padrão de beleza, onde um estereótipo do que é


considerado belo qualifica todas aparências, e o que não atende aquele padrão
é considerado feio. Este padrão se modificou no decorrer do tempo de várias
formas, mas em cada época o padrão de beleza se instaura com tamanha força
que vários indivíduos fazem de tudo para se enquadrar a esse padrão. Isso
ocorre principalmente entre as mulheres. Historicamente as mulheres foram
consideradas inferiores cognitivamente sendo vistas como um mero artigo de

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Alusão à cirurgia plástica em comparação à boneca Barbie.
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embelezamento. Nesse cenário, se você não é esteticamente aceitável perde o


único valor que lhe restou. Várias mulheres ainda hoje praticam uma “auto
aniquilação” para a construção de um novo ser que estaria adequado aos
padrões de beleza. Além disso, nas últimas gerações temos passado a enxergar
determinados padrões de beleza como suposto signo de saúde. Mesmo que o
corpo magro ou atlético é buscado por ser símbolo de “qualidade de vida”, ele
não se distancia de uma exigência estética social.

Se a situação não poderia ficar pior do que como a descrevemos, muitas


indústrias lucram com a baixa auto-estima gerada pelo padrão de beleza. Toda
a indústria estética que passa dos cosméticos de uso diário a pílulas de
emagrecimento até a cirurgia plástica, se alimentam do padrão de beleza
imposto por uma sociedade.

A indústria cultural.

Não só dos padrões de beleza para o corpo se alimentam as grandes


indústrias. Adorno e Horkheimer desenvolveram a teoria da indústria cultural que
mostra a perda de valor da arte com o advento de uma indústria de produção em
larga escala de produtos culturais a serem consumidos.

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Para eles, a arte – que, como vimos, pode nos aproximar dos que nos
cercam e transformar a realidade – é utilizada desde sua época de forma a
massificar, equalizar e neutralizar os espectadores. Se antes a obra de arte era

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Le Voyage dans la Lune (Viagem à Lua). 1902. Filme de Georges Méliès, um dos pioneiros do cinema
internacional, e primeiro a criar e exibir filmes coloridos. O filme A Invenção de Hugo Cabret (2011) do
diretor Martin Scorsese conta um pouco da ascensão e declínio de Méliès.
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única e expressava uma visão ou um sentimento, na indústria cultural a arte se


torna veículo de consumo.

O objetivo da indústria cultural é a repetição de padrões estéticos, éticos,


sociais, econômicos, políticos, epistemológicos, históricos, etc. De forma
imediata, a repetição de padrões impede uma reflexão ou um deleite para além
do consumo; mas para além da forma imediata de sua dominação ideológica, a
indústria cultural coíbe e destrói a possibilidade do novo, isto é, daquilo que foge
aos seus padrões acima citados, e permitem uma transformação da ordem
social.

No cinema, a mesma “obra de arte” é capaz de atingir um grupo enorme


de pessoas em várias épocas e em todos os continentes, podemos pensar em
grandes franquias de filmes e na arrecadação pela bilheteria.

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Ao invés de promover a reflexão ou mostrar um estranhamento do mundo que


promova a ação do espectador, a indústria cultural procura dar ao indivíduo uma
forma de se entreter e se afastar da realidade, tornando-o assim apático a suas
próprias condições de vida. Além disso, ela procura passar um discurso
hegemônico que defende os interesses de uma classe privilegiada, parte ínfima
de nossa sociedade. Assim, o consumidor da indústria cultural toma os ideais ali
representados como seus, mesmo que eles não tenham nenhuma relação com

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Cartaz de Velozes e Furiosos 8.
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sua vida e assim perde aos poucos sua capacidade reflexiva e crítica da
sociedade.

A indústria cultural produz objetos de fácil entendimento e pouco


aprofundamento. Passa a impressão de apresentar produtos novos, mas que na
realidade repetem o mesmo modelo padrão apresentado anteriormente, tendo
sempre uma fórmula de sucesso. Ligam-se a outras áreas do consumo, fazendo-
se presentes em outros produtos.

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Mas não só o cinema faz parte da indústria cultural. A comercialização


de objetos dos mais variados, como meias, canecas, etc., com grandes obras de
arte do passado e a música são exemplos disso. Vemos a fabricação de
celebridades muito semelhantes entre elas, que lançam músicas igualmente
semelhantes e repetitivas, de fácil apreensão e que são ouvidas em larga escala.
Esse processo pode formar indivíduos que irão consumir arte para se entreter
ao invés de refletir.

No entanto, Walter Benjamin não vê esse processo da mesma forma que


seus colegas da Escola de Frankfurt. Ele reconhece que o período em que a arte
passa a ser reproduzida por novas técnicas (fotografia e filmagem) provoca uma
grande mudança no que se considera arte. Anteriormente ao período aqui
analisado, Benjamin diz que a obra de arte possui uma aura, que faz com que o
espectador esteja de certo modo afastado dela. A aura é a autenticidade e
unicidade de uma obra de arte, que ocorre por causa do trabalho particular de
um artista e toda a história da construção e da experiência que a obra representa.
Assim, para o observador, a aura se coloca como uma barreira que o afasta da

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Críticos de cinema debatendo a história e construção estética da franquia cinematográfica
Velozes e Furiosos.
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obra e o deslumbra, ela se torna sagrada, ritualística. Sua apreciação é sempre


individual e subjetiva.

Com o advento da fotografia e da filmagem, a arte se transforma. Ela é,


como Adorno e Horkheimer colocaram, massificada. Isso faz com que ela perca
sua aura. Não é mais sagrada, pois é facilmente acessada por qualquer um, não
é mais autêntica e única, pois é repetida e pode ser feita e ter seu conteúdo
compreendido por um maior número de pessoas. Não é mais ritualística pois se
insere mais facilmente no cotidiano e não se liga a processos culturais que fogem
da padronização da vida na sociedade capitalista.

Walter Benjamin vê a perda a aura por um viés dúbio, pois, apesar de


que a arte perca em autenticidade e profundidade, ela pode também
potencializar seu viés transformador da sociedade. Ela poderia se ligar a práxis
e tornar-se política. Se consideramos o materialismo presente na obra do autor,
essa ressalva mostra que a perda da aura aproxima o observador da obra de
arte e pode relacioná-la com sua vida cotidiana. Assim, a arte guardaria o
potencial de tornar-se veículo não de emburrecimento das massas, mas de
politização, se utilizada pela classe operária para mostrar e criticar sua própria
realidade.
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MATERIAL COMPLEMENTAR
Reproduzimos aqui alguns fragmentos de textos que podem ajudar na
fixação de alguns conteúdos trabalhados neste texto.

Fragmento de TEORIA DA ESTÉTICA

A arte não reage à perda da sua evidência apenas através de


modificações concretas do seu comportamento e dos seus
procedimentos, mas forçando a cadeia que é o seu próprio conceito: o
de que ela seja arte. Na arte menor ou no divertimento de outrora, hoje
administrados, integrados e qualitativamente desfigurados pela
indústria cultural, pode isto constatar-se de modo muito claro. De facto,
essa esfera nunca se conformou ao que só mais tarde se tornou no
conceito de arte pura. Projectou-se sempre nesta como o testemunho
do fracasso da cultura, tornou-se por movimento próprio testemunha
do seu fracasso, cultivando o humor de uma harmonia serena entre a
sua forma tradicional e a sua forma actual. Os ingênuos da indústria
cultural, ávidos das suas mercadorias, situam-se aquém da arte; eis
porque percebem a sua inadequação ao processo da vida social actual
- mas não a falsidade deste - muito mais claramente do que aqueles
que ainda se recordam do que era outrora uma obra de arte.
Impelem para a Entkunstung da arte. A paixão do palpável, de não
deixar nenhuma obra ser o que é, de a acomodar, de diminuir a sua
distância em relação ao espectador, é um sintoma indubitável de tal
tendência. A diferença humilhante entre a arte a vida que eles vivem e
na qual não querem ser perturbados, porque já não suportariam o
desgosto, tem de desaparecer: tal é a base subjectiva da classificação
da arte entre os bens de consumo mediante vested interests. Se,
apesar de tudo, ela não for simplesmente consumível, a relação com
ela pode pelo menos apoiar-se na relação com os bens de consumo
propriamente ditos. O que é facilitado pelo facto de que, numa época
de superprodução, o seu valor de uso se torna também problemático e
se submete finalmente ao deleite secundário do prestígio, da moda e
do próprio caracter de mercadoria: paródia da aparência estética. Da
autonomia da arte, que suscita a cólera dos consumidores da cultura,
pelo facto de considerarem as obras algo melhor do que eles crêem
ser, resta apenas o caracter feiticista das mercadorias, regressão ao
feiticismo arcaico na origem da arte: nesta medida o comportamento
contemporâneo perante a arte é regressivo. Nas mercadorias culturais
consome-se o seu ser-para-outro abstracto, sem que elas sejam
verdadeiramente para os outros; na medida em que lhes estão ao
serviço, enganam-nos. (Teoria estética, Adorno. T. Edições 70, Lisboa,
1970)
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Griot

[...]
E eles dizem que eu sou louco, ainda acredito em movimento
Mais que gravar, quero semear algo de valor pro tempo
Mas a pista é São Tomé Marecha, a pista é que é exemplo
As batalhas falavam merda, eu fiz a do conhecimento
Porta voz de quem trabalha, Malcolm X nós por nós da
forma que for necessária
Em breve coleta de livros nos evento em várias áreas
Incentivos pra ter mais bibliotecas comunitárias
Depois das bibliotecas um centro de estudo avançado
Substituir as escolas, métodos atrasados
Nos preparam pra ser escravos, não incentivam o raciocínio
Deviam mostrar marcos da história mais parecidos com Plínio
Explicam o domínio de quem fabrica o dinheiro
Faz quem produz seu sonho e suborna seu travesseiro
Faz tu acreditar que só sobreviver já tá maneiro
O jogo é sujo, segundo grau pra ser lixeiro
Geral ta sem dinheiro, eu to bolado
Que volte a época que os MC's eram mais politizados
[...] (MC Marechal)

A REPÚBLICA
LIVRO X

III – Depois disso, continuei, precisamos estudar os trágicos e seu


principal guia, Homero, visto dizer-nos muita gente que eles conhecem
todas as artes e todas as coisas humanas em suas relações com a
virtude e o vício, e também as divinas. Porque um bom poeta, para
desenvolver a contento qualquer assunto terá forçosamente de
conhecê-lo a fundo, ou não será poeta coisa nenhuma. O que
precisamos, por conseguinte, verificar é se esses tais não se deixaram
enganar por imitadores, por não perceberem como suas obras estão
distanciadas três graus da realidade, sendo que todas elas são muito
fáceis de fazer, por isso mesmo que seus autores não conhecem a
verdade. Só criam fantasmas, não o verdadeiro ser; e também se o que
dizem tem alguma substância e se os bons poetas conhecem, de fato,
as coisas a respeito das quais o povo acha que eles
falam bem.
– Perfeitamente, disse; examinemos esse ponto.
– Pois achas mesmo que se alguém fosse capaz de fazer as duas
coisas: o objeto a imitar e o seu simulacro, aplicar-se-ia com afinco na
confecção de simples imagens, vendo nisso o fim precípuo de sua
atividade e o que de mais elevado poderia alcançar?
– Acho que não.
– Se possuísse, de fato, o conhecimento daquilo que ele imita, poria
muito mais empenho na criação das próprias coisas do que na sua
imitação, e se esforçaria por deixar um mundo de obras maravilhosas,
outros tantos monumentos de sua glória, como preferiria ser elogiado,
a fazer o elogio do que quer que fosse.
– Sem dúvida, observou; a honra e as vantagens não estão no mesmo
nível.
(...)
– Sendo assim, firmemos desde logo este ponto: todos os poetas, a
começar por Homero, não passam de imitadores de simulacros da
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virtude e de tudo o mais que constitui o objeto de suas composições,


sem nunca atingirem a verdade, o que também se dá com o pintor, a
que já nos referimos, o qual, sem nada entender da arte de fazer
sapatos, é capaz de pintar um sapateiro que lhe pareça bom e a
quantos desconheçam essa profissão e só percebam as cores e o
desenho.
– Perfeitamente.
– A mesma coisa, creio, podemos afirmar do poeta que com palavras
e frases reveste as diferentes artes das cores que lhes são próprias,
sem entender nada mais além da imitação. Como consequência, os
ouvintes, que apreciam os assuntos apenas pelo efeito das palavras,
ficam convencidos de que ele fala com muita propriedade, quer o
ouçam discorrer com metro, ritmo e harmonia acerca da arte de fazer
sapatos, quer sobre a estratégia militar ou o tema que for, tal o natural
fascínio que exerce com seus recursos. Porém, se despirmos as
criações dos poetas desse colorido musical e as apresentarmos em
expressões comuns, bem sabes, tenho certeza, a que ficam reduzidas.
– Sem dúvida.
– Não é verdade, perguntei, que se parecem com esses rostos jovens,
porém sem beleza, quando vistos depois de perdido o frescor original.
– Perfeitamente, respondeu.
– Muito bem; considera agora o seguinte: esse fabricante de
simulacros, esse imitador, dizíamos, nada entende do que realmente
existe, mas apenas de aparências, não é isso mesmo?
– Certo.
– Não deixemos esse argumento por acabar; examinemo-lo até o
fim.
– Podes falar, me disse.
– O pintor, digamos, pode pintar rédeas ou freios?
– Sem dúvida.
– Porém o seleiro e o ferreiro é que são fabricantes desses
instrumentos?
– Perfeitamente.
– E saberá porventura o pintor como a rédea e o freio devem ser feitos?
Ou nem mesmo o saberão aqueles fabricantes, o ferreiro e o seleiro,
senão apenas quem souber usá-los, isto é, o cavaleiro?
– É muito certo.
– E não será também certo afirmar isso mesmo de todas as coisas?
– Como assim?
– É que para cada coisa correspondem três artes: a que se serve delas,
a que a fabrica e a que a imita.
– Muito bem.
– Mas, a que tendem as propriedades, a beleza e a perfeição de um
móvel ou de um ser vivo ou de qualquer ação, se não for ao uso em
vista do qual todos foram feitos, quer o tenham sido pelo homem, quer
pela natureza?
– Certo.
– Logo, é de necessidade absoluta que o usuário de cada coisa seja o
mais experimentado e mostre ao respectivo fabricante os defeitos ou
excelências desse objeto, revelado pelo uso. Assim, o tocador de flauta
apresentará ao fabricante de flautas os espécimes que provaram bem
na prática, explicando-lhe como deve prepará-las, indicações que o
fabricante precisará aceitar.
– Sem dúvida.
– Desse modo, é o perito na matéria quem se manifesta acerca das
qualidades e defeitos das flautas, dando-lhe o outro inteiro crédito,
quando se dispõe a fabricá-las.
– Certo.
– Vemos, assim, que a respeito de um mesmo objeto o fabricante só
forma opinião verdadeira sobre sua excelência ou seus defeitos por
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privar com quem sabe e ser obrigado a acatar-lhe a opinião, porém a


ciência desse objeto só a possui quem faz uso dele.
– Perfeitamente.
– E o imitador? Adquirirá pela simples prática o conhecimento do que
ele pinta, se é belo e está certo, ou formará opinião justa pela
convivência forçosa com o entendido na matéria, que lhe daria
instruções de
como deva proceder?
– Nem uma coisa, nem outra.
– Nesse caso, o imitador não disporá nem do conhecimento, nem da
opinião certa com respeito à beleza ou à utilidade daquilo que ele
imita?
– Parece que não.
– Quão extraordinária, nesse caso, deve ser a sabedoria do imitador
sobre os temas de sua composição!
– Não é das maiores, realmente.
– De qualquer forma, continuará a imitar, muito embora não saiba
a razão de ser útil ou imprestável alguma coisa. Ao que tudo indica, o
que parece belo às multidões que nada entendem de coisa nenhuma,
isso
é o que ele imita.
– Nem poderá ser de outra maneira.
– Então, como parece, ficamos mais ou menos de acordo que não é
digno de referência o que o imitador conhece daquilo que ele imita, e
que a imitação não é coisa séria, mas simples brincadeira, e também
que
as pessoas que se ocupam com a poesia trágica em versos épicos ou
iâmbicos, sem exceção, são imitadores por excelência.
- Perfeitamente.
(Platão, Livro X. in: Antologia de Textos Filosóficos / Jairo Marçal,
organizador. – Curitiba: SEED – Pr., 2009.)

BIBLIOGRAFIA
Adorno. T. Teoria estética. Edições 70, Lisboa, 1970.
Araújo B. S. R. O conceito de aura, de Walter Benjamin, e a indústria cultural.
Pós v.17 n.28, São paulo, 2010
Aranha, M. L. de A.. Filosofando - Introdução À Filosofia - Vol. Único - Ensino
Médio. Ed. Moderna. 2009.
Aristóteles. Poética. São Paulo. Ed. Ars Poética. 1993.
Kant, Immanuel. Crítica da faculdade do juízo. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1993.
Murcho, D. e Teixeira, C. 50 Lições de Filosofia, 10.º Ano. Didáctica Editora,
Lisboa, 2013. Platão. Hípias Maior. In: Antologia de Textos Filosóficos / Jairo
Marçal, organizador. – Curitiba: SEED – Pr., 2009.
Platão. Livro X, fragmento de A República. In: Antologia de Textos Filosóficos /
Jairo Marçal, organizador. – Curitiba: SEED – Pr., 2009.
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EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

1. A dança é importante para o índio preparar o corpo e a garganta e


significa energia para o corpo, que fica robusto. Na aldeia, para preparo físico,
dançamos desde cinco horas da manhã até seis horas da tarde, passa-se o dia
inteiro dançando quando os padrinhos planejam a dança dos adolescentes. O
padrinho é como um professor, um preparador físico dos adolescentes. Por
exemplo, o padrinho sonha com um determinado canto e planeja para todos
entoarem. Todos os tipos de dança vêm dos primeiros xavantes:
Wamarĩdzadadzeiwawẽ, Butséwawẽ, Tseretomodzatsewawẽ, que foram
descobrindo através da sabedoria como iria ser a cultura Xavante. Até hoje existe
essa cultura, essa celebração. Quando o adolescente fura a orelha é obrigatório
ele dançar toda a noite, tem de acordar meia-noite para dançar e cantar, é
obrigatório, eles vão chamando um ao outro com um grito especial. WÉRÉ' É
TSI'RÓBÓ, E. A dança e o canto-celebração da existência xavante. VIS-Revista
do Programa de Pós-Graduação em Arte da UnB. V. 5, n. 2, dez. 2006.
A partir das informações sobre a dança Xavante, conclui-se que o valor
da diversidade artística e da tradição cultural apresentados originam-se da

A. iniciativa individual do indígena para a prática da dança e do canto.


B. excelente forma física apresentada pelo povo Xavante.
C. multiculturalidade presente na sua manifestação cênica.
D. inexistência de um planejamento da estética da dança, caracterizada
pelo ineditismo.
E. preservação de uma identidade entre a gestualidade ancestral e a
novidade dos cantos a serem entoados.

2. (UNIVERSIA) Sobre a arte indígena e da tecelagem, assinale a


alternativa incorreta:
A. O trançado e a tecelagem são linguagens artísticas através das quais
esses povos relatam seus valores, tradições e costumes.
B. O trançado indígena pode ser feito com fibras variadas e cipó
encontrados na natureza.
C. A arte do trançado resulta na produção de cestos, abanos e objetos
decorativos.
D. Os trançados indígenas produzem mantas e redes que são utilizadas
na vida diária das tribos.
E. A arte do trançado feita pelos índios não se relaciona às tradições
desses indivíduos.

3. (Unesp 2013) Uma obra de arte pode denominar-se revolucionária se,


em virtude da transformação estética, representar, no destino exemplar dos
indivíduos, a predominante ausência de liberdade, rompendo assim com a
realidade social mistificada e petrificada e abrindo os horizontes da libertação.
Esta tese implica que a literatura não é revolucionária por ser escrita para a
classe trabalhadora ou para a “revolução”. O potencial político da arte baseia-se
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apenas na sua própria dimensão estética. A sua relação com a práxis (ação
política) é inexoravelmente indireta e frustrante. Quanto mais imediatamente
política for a obra de arte, mais reduzidos são seus objetivos de transcendência
e mudança. Nesse sentido, pode haver mais potencial subversivo na poesia de
Baudelaire e Rimbaud que nas peças didáticas de Brecht.(Herbert Marcuse. A
dimensão estética, s/d.)
Segundo o filósofo, a dimensão estética da obra de arte caracteriza-se
por:

A. apresentar conteúdos ideológicos de caráter conservador da ordem


burguesa.
B. comprometer-se com as necessidades de entretenimento dos
consumidores culturais.
C. estabelecer uma relação de independência frente à conjuntura política
imediata.
D. subordinar-se aos imperativos políticos e materiais de transformação
da sociedade.
E. contemplar as aspirações políticas das populações economicamente
excluídas.

4. A peça Fonte foi criada pelo francês Marcel Duchamp e apresentada


em Nova Iorque em 1917. A transformação de um urinol em obra de arte
representou, entre outras coisas:

A. a alteração do sentido de um objeto do cotidiano e uma crítica às


convenções artísticas então vigentes.
B. a crítica à vulgarização da arte e a ironia diante das vanguardas
artísticas do final do século XIX.
C. o esforço de tirar a arte dos espaços públicos e a insistência de que
ela só podia existir na intimidade.
D. a vontade de expulsar os visitantes dos museus, associando a arte a
situações constrangedoras.
E. o fim da verdadeira arte, do conceito de beleza e importância social
da produção artística.

5. (UEL 2010) Leia o texto de Aristóteles a seguir:


Uma vez que o poeta é um imitador, como um pintor ou qualquer outro
criador de imagens, imita sempre necessariamente uma das três coisas
possíveis: ou as coisas como eram ou são realmente, ou como dizem e parecem,
ou como deviam ser. E isto exprime-se através da elocução em que há palavras
raras, metáforas e muitas modificações da linguagem: na verdade, essa é uma
concessão que fazemos aos poetas. (ARISTÓTELES. Poética. Tradução e
Notas de Ana Maria Valente. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2004. p. 97.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a estética de Aristóteles,
considere as afirmativas a seguir:
I. O poeta pode imitar a realidade como os pintores e, para isso, deve
usar o mínimo de metáforas e priorizar o acesso às ideias inteligíveis.
II. O poeta pode imitar tendo as coisas presentes e passadas por
referência, mas não precisa se ater a esses fatos apenas.
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III. O poeta pode imitar as coisas considerando a opinião da maioria e


pode também elaborar fatos usando várias formas de linguagem.
IV. O poeta pode imitar as coisas ponderando o que as pessoas dizem
sobre os fatos, mesmo que não haja certeza sobre eles.
Assinale a alternativa correta:

A. Somente as afirmativas I e II são corretas.


B. Somente as afirmativas I e III são corretas.
C. Somente as afirmativas III e IV são corretas.
D. Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
E. Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

7. (UNB 2011) Platão avalia o valor das produções da escultura e da


pintura em função do conceito de um conhecimento verdadeiro, isto é, de uma
conformidade com a ideia e acaba, necessariamente, delimitando, de maneira
bastante restrita, o círculo das produções artísticas que ele podia, de seu ponto
de vista, aprovar. Relacionando essa interpretação de Platão ao que propõe
Augusto Boal no texto precedente, é correto afirmar que:

A. Boal segue Platão, pois as artes são ligadas ao conceito de ideia, e


ambos os autores valorizam a pintura e a escultura produzidas por várias
culturas e classes.
B. Boal restringe o conceito de estética na tentativa de evitar que tudo
seja considerado arte e cultura.
C. a partir da perspectiva de que não existe uma só estética, Boal propõe
que se pense em um círculo bastante abrangente de formas culturais e artísticas.
D. Boal expande seu conceito de estética ao formulá-lo com base em
amplas discussões de temas relacionados à pintura e à escultura.

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