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GRANDE DO SUL
À minha família, que durante todo esse caminho esteve ao meu lado, me
apoiando e me auxiliando no que necessário fosse. A meu noivo que, do mesmo
modo, me ofereceu todo auxílio e apoio necessário, e esteve a meu lado dividindo
todos os momentos, transmitindo tranquilidade para enfrentar essa jornada.
The present work of conclusion of course makes an analysis on the origin and
evolution of the sentence, as well as a more detailed study of the constitutional
principles criminal, that base our legislation. It addresses the Criminal Execution Law,
from the concept to its origin, as well as its object and purpose, as well as the rights
and duties of prisoners. It studies some points that justify the critics to the traditional
penitentiary system. It ends by presenting an alternative method to the prison system,
which has proved to be efficient with regard to the purpose and purpose of the
sentence, exceeding the indices presented by the traditional penitentiary system, and
strictly follow the precepts established in our legal system, guaranteeing the
humanization of the prison , Known as the APAC Method.
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 76
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 79
8
INTRODUÇÃO
A partir disso, surge o problema que originou esta pesquisa: até que ponto o
atual sistema carcerário cumpre com o seu objetivo principal: a ressocialização e
reintegração do preso a sociedade.
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O presente capítulo tem como objetivo inicial explanar de modo sucinto como
se deu essa evolução, bem como inserir a pena no contexto histórico brasileiro.
Desse modo, verifica-se que o sistema punitivo se instaurou desde os primórdios da
civilização, através de penas corporais perpassando por longo período até a
Revolução Francesa, onde passou a ser admitida uma nova modalidade de pena, a
privativa de liberdade. Em que pese a pena corporal não tenha sido abolida, essa
nova modalidade de pena foi um marco para o sistema punitivo. Diante disso, com o
passar do tempo, novas sanções foram surgindo e a pena corporal foi abolida do
ordenamento jurídico.
Nesse contexto, faz-se necessária uma análise acerca dos princípios que
norteiam a legislação penal contemporânea, uma vez que servem como base para a
interpretação, integração, conhecimento e aplicação do direito positivo e, por
consequência, do sistema punitivo. Assim, as leis penais devem seguir os princípios
e garantias para não se tornarem meramente simbólicas, mas sim efetivas.
fazer uma análise acerca dos princípios constitucionais penais explícitos e implícitos
em nosso ordenamento jurídico.
No Brasil, o primeiro sistema punitivo foi trazido pelos portugueses e era tão
cruel quanto o vigente da Europa à época. Os ideais iluministas representaram um
marco no sistema punitivo, uma vez que fizeram surgir um novo modo de sanção,
que era o recolhimento penitenciário, também conhecido como pena privativa de
liberdade (BOSCHI, 2004, p. 145).
Destaca, Boschi (2004, p. 94) que “A espécie mais antiga de pena, vale dizer,
de manifestação humana carregada de reação explícita à falta sofrida, teria sido a
vingança de sangue.” Para Hauser (1997, p. 18) “a pena nasce com o homem e é
reação ou vingança contra todo e qualquer comportamento indesejado.”
1Meio usado para expiar(-se); penitência, castigo, cumprimento de pena; sofrimento compensatório
de culpa
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Este período perdurou por vários séculos, tendo ficado conhecido como “a
idade das trevas”, visto que foi um período dominado pela igreja católica, que tinha
como principal característica a crueldade e desproporcionalidade das penas
impostas, seja na imposição, seja na execução, segundo destaca o autor Boschi
(2004, p. 98).
Nesse período iniciou-se uma nova forma de punir, a pena, então, era
aplicada para demonstrar o poder e soberania do monarca, sem a mínima proporção
com o delito cometido. Contudo, conforme já destacado, mantinha a sua principal
característica, qual seja, a crueldade, de acordo com o que ensina Corsi (2016).
A Revolução Francesa foi um marco no sistema punitivo, uma vez que suas
ideias liberais e humanitárias refletiram diretamente na imposição das sanções
corporais. Em consequência, surgiu um novo modo de sanção, o recolhimento
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O direito penal instituído nas Ordenações, ficou marcado por uma ampla
gama de condutas tipificadas como crime e sua vasta forma de punição, que tinha
como característica principal a crueldade, além de seu objetivo à retribuição e à
exemplaridade. Nesse sentido, Boschi (2004, p. 146) menciona algumas sanções
dispostas nas Ordenações: a multa, o confisco, a queimadura com tenazes ardentes
e a pena capital. Essa última se divide como: pena de morte “natural” (o condenado
expiava o crime e após era enforcado), a de morte “natural pelo fogo” (eram
16
Cabe destacar que ainda no Código Penal de 1890, as prisões tinham como
estrutura ideal, de acordo com Santos (2016), “segurança dos detentos; higiene
apropriada ao recinto da prisão; segurança por parte dos vigilantes e guardas;
execução do regime carcerário aplicado; inspeções frequentes às prisões”,
entretanto, a realidade dos presídios existentes era outra. Em que pese o Código
estabelecesse o cumprimento dos quesitos acima mencionados, os presídios, devido
a sua precariedade não tinham condições de segui-los. O legislador, ciente da
realidade do sistema carcerário à época, introduziu nas disposições gerais que
“enquanto não entrasse em inteira execução o sistema penitenciário, que engloba a
pena de prisão celular e a de prisão com trabalho, por exemplo, estas seriam
cumpridas nos estabelecimentos penitenciários existentes, segundo o regime atual.”
(SANTOS, 2016).
2 XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou
restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou
interdição de direitos.
3 XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84,
Segundo Carvalho (1992, p.57), o direito penal, para ser um direito justo
numa determinada sociedade, exige adequar-se aos valores assim considerados
pela Constituição desta sociedade. Ainda, Palazzo (1992, p. 87), corrobora com este
entendimento:
Nesse sentido, a Constituição Federal de 1988 dispõe em seu artigo 5º, caput,
sobre o princípio constitucional da igualdade. Este princípio é considerado um dos
mais importantes elencados de forma explícita em nossa Constituição, disposto em
diversos artigos, serve como base essencial para o nosso ordenamento jurídico. O
princípio da igualdade perante a lei consiste em tratar os diferentes sempre como
iguais, não os eximindo das consequências civis ou penais dos atos ilícitos que
eventualmente praticou. Assim, Boschi (2004, p. 51) destaca que o princípio da
igualdade perante a lei não possui conteúdo material, mas sim formal.
Ainda, conforme destaca Luisi (2003, p. 183-184) o artigo 5º, caput, de forma
implícita, dispõem sobre o princípio da necessidade e da proporcionalidade, ao se
garantir aos brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil, “a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade”. Deste modo é
evidente que as privações ou restrições desses direitos “invioláveis” só se justificam
quando estritamente necessários.
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De acordo com Luisi (2003, p. 58), estes tipos de normas constitucionais têm
sido nomeadas “cláusulas de criminalização”, sendo algumas expressas e
inequívocas, e outras facilmente deduzíveis do contexto das normativas
constitucionais. Nesse contexto, a nossa Carta Magna de 1988, é farta, de cláusulas
que ordenam criminalização, além de outras que impõem tratamento severo e
extraordinário a certas modalidades de delitos. A título de exemplos o artigo. 5º,
dispõem no inciso XLI, “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e
liberdades fundamentais”. No inciso XLII, do referido artigo prevê “a prática do
racismo constitui crime inafiançável e imprescritível sujeito a pena de reclusão nos
termos da lei”. Já no inciso XLIII, do mesmo artigo, a lei ordena que seja punido
como crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia, a prática de tortura, o
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo, os crimes hediondos,
respondendo por eles os mandantes, executores e omitentes.
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Nesse contexto, destaca Boschi (2004, p. 52) que deve se observar que
apesar desse sentido de igualdade perante a lei, não resta inviabilizado o
reconhecimento da diferença, uma vez que as leis foram feitas para o homem e não
ao contrário. Assim, podemos analisar os artigos 29 e 59 do Código Penal, o
primeiro dispõe que, quem concorre para o crime incide nas penas a este
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Esse princípio, de acordo com Luisi (2003, p. 46-47), teve origem com as
ideias do movimento iluminista dos séculos XVII e XVIII. Os pensadores iluministas
defendiam a transformação do Estado, partido de duas ideias fundamentais, de um
lado a existência de direitos inerentes a condição humana e de outro lado a
elaboração jurídica do Estado como se tivesse origem em um contrato, no qual os
direitos humanos seriam respeitados. Nesse sentido, o direto penal vincula as leis
que limitam as sanções, sem penas degradantes.
contrato social do iluminismo. Nesse contexto, conforme o mesmo autor, esta teoria
faz do Estado um mero instrumento de garantia, fazendo com que a missão do
Estado se limite, basicamente, a proteção efetiva desses direitos. Assim, se insere o
princípio da Reserva Legal, uma vez que somente a lei pode estabelecer que
determinado fato constitui delito e a pena a ele aplicada.
Nesse sentido, destaca Luisi (2003, p. 26-27) que a partir da Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, as constituições vêm consagrando expressamente
o princípio em comento. No Brasil, a primeira constituição a consagrar esse princípio
foi a Constituição de 1934, e, desde então, constou em todas as demais Cartas. A
Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso XL, dispõe que “a lei penal
não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.” (BRASIL, 1988). Ainda, segundo
Bitencourt (2011, p. 49), as leis temporárias e excepcionais são ultra ativas,
constituindo uma exceção ao postulado da irretroatividade, ou seja, mesmo
esgotado o seu período de vigência, terão aplicação aos fatos ocorridos em sua
vigência.
ordenamento até a atual Constituição, que prevê, em seu artigo 5º, inciso XLV, que
nenhuma pena passará da pessoa do condenado.
mínimo possível no ordenamento social, ou seja, a norma penal deverá ser criada
somente quando for estritamente indispensável, quando já esgotadas todas as
demais possibilidades jurídicas de sanar o problema (LUISI, 2003, p. 46).
Ensina Bitencourt (2011, p. 52) que, para que se possa tipificar um crime,
necessário haver perigo concreto de dano a bem jurídico a ser tutelado. Em outras
palavras, se justifica a intervenção penal do Estado somente em havendo dano
efetivo e concreto a esse bem de interesse social relevante.
Para Bitencourt (2011, p. 52-53), essas duas funções não devem ser vistas
como incomunicáveis e, tampouco, inalteráveis, e sim como funções que se
complementam, visto que “quando, por exemplo, o legislador, no exercício da sua
função legislativa, criminalizar condutas ignorando a necessidade de possuírem
conteúdo lesivo, como exige o princípio em exame, essa omissão deve,
necessariamente, ser suprida pelo juiz ou interprete.”
um bem jurídico, ou seja, limita o poder punitivo do Estado, uma vez que o legislador
não pode proibir ou obrigar o indivíduo a realizar ou não condutas que não resultem
em lesão ou perigo ao bem jurídico tutelado. Ainda, destaca o mesmo autor, que o
princípio em tela, não necessita somente da dignidade formal, mas, também, a
material, isto é, o bem jurídico deve tratar-se de um valor assumido socialmente e
ser suscetível de destruição, de ser lesionado ou posto em perigo, necessitando
assim da tutela penal.
Por fim, Callegari e Wermuth (2010, p. 130) destacam ainda que para se
aplicar corretamente o direito em espécie, é necessário que se leve em
consideração os princípios da proporcionalidade, que será exposto em sequência, e
da ofensividade, no que tange ao bem jurídico para que se tenha a correta medição
da pena aplicada e, também a correta tipificação da conduta realizada.
Diante desse caráter misto e dos limites ainda não totalmente elucidados da
matéria, afirma Mirabete (2004, p. 20) que, vencida a crença de que o direito da
execução penal é predominantemente administrativo, deve-se reconhecer, em razão
de sua autonomia, a sua natureza híbrida. Nesse contexto, destaca-se a importância
da autonomia do direito de execução penal, uma vez que, conforme Nucci (2016, p.
951), essa denominação foi adotada na Exposição de Motivos da Lei Execução
Penal (Lei nº 7.210/84), com o intuito de cuidar da execução da pena aplicada,
envolvendo todos os aspectos pertinentes para tornar efetiva a sanção punitiva.
Ainda, segundo o mesmo autor, apesar de se tratar de uma ciência autônoma com
princípios próprios, jamais se desvincula do Direito Penal e do Direito Processual
Penal, por razões intrínsecas a sua existência.
Desse modo, de acordo com Avena (2015, p. 2), em 1957 foi aprovada a Lei
nº 3.274, que dispunha sobre normas gerais de regime penitenciário. Esta norma,
contudo, não prosperou, visto que carecia de eficácia por não estabelecer sanções
para eventual descumprimento das regras e princípios contidos no texto da lei.
Diante disso, no mesmo ano, foi apresentado um anteprojeto ao Código
Penitenciário, o qual, por vários motivos, também fora abandonado.
De acordo com Mirabete (2004, p. 28), o artigo 1º da LEP possui duas ordens
e finalidades, a primeira refere-se a correta efetivação dos mandamentos existentes
na sentença ou decisão criminal, com objetivo de reprimir e prevenir os delitos. A
segunda diz respeito a reintegração do condenado e do internado a sociedade,
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sociedade após o cumprimento de sua pena; e, por fim, o especial negativo, que
significa a possibilidade de ser recolher, quando for o caso, o condenado ao cárcere
para que não torne a praticar outras condutas delitiva.
Avena (2015, p. 10), afirma, que é a partir deste artigo que se percebe que a
execução penal é regida pelo princípio da jurisdicionalidade, isso significa que na
pratica a intervenção do juiz não se esgota com o transito em julgado da sentença
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autor, está disposta no artigo 3º da LEP que menciona que, tanto o condenado,
quanto o internado, terão assegurados todos aqueles direitos que não sejam
atingidos pela sentença ou pela lei. Assim, além das obrigações da própria
penalidade imposta, a LEP apresenta outras obrigações, tais como as elencadas
nos artigos 384 e 395, da LEP.
4 Art. 38. Cumpre ao condenado, além das obrigações legais inerentes ao seu estado, submeter-se
às normas de execução da pena.
5 Art. 39. Constituem deveres do condenado: I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da
sentença; II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se; III -
urbanidade e respeito no trato com os demais condenados; IV - conduta oposta aos movimentos
individuais ou coletivos de fuga ou de subversão à ordem ou à disciplina; V - execução do trabalho,
das tarefas e das ordens recebidas; VI - submissão à sanção disciplinar imposta; VII - indenização à
vitima ou aos seus sucessores; VIII - indenização ao Estado, quando possível, das despesas
realizadas com a sua manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do trabalho; IX -
higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento; X - conservação dos objetos de uso pessoal.
Parágrafo único. Aplica-se ao preso provisório, no que couber, o disposto neste artigo.
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6 Art. 91 - São efeitos da condenação: I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo
crime; II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: a) dos
instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou
detenção constitua fato ilícito; b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua
proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso. § 1º Poderá ser decretada a perda de
bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime quando estes não forem encontrados
ou quando se localizarem no exterior. § 2º Na hipótese do § 1o, as medidas assecuratórias previstas
na legislação processual poderão abranger bens ou valores equivalentes do investigado ou acusado
para posterior decretação de perda.
7 Art. 92 - São também efeitos da condenação: I - a perda de cargo, função pública ou mandato
eletivo: a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos
crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública; b)
quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais
casos; II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos,
sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado; III - a inabilitação para
dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso. Parágrafo único - Os
efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na
sentença.
8 Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que: [...] VI - inobservar os
observado pelo apenado, de acordo com Avena (2015, p. 62). Esse dever refere-se
à atuação do condenado no sentido de liderar, organizar ou participar dos
movimentos voltados à fugas, motim, tumultos, rebeliões e conflitos. A inobservância
do disposto neste inciso poderá ser considerada como falta de natureza grave,
conforme expresso no artigo 50, inciso I da LEP. Entretanto, a lei não exige que o
apenado denuncie às autoridades, e tampouco que intervenha junto aos demais a
fim de evitar que eles participem de tais movimentos.
Esse desconto não prejudica a destinação prevista na lei, para indenização à vítima
ou seus sucessores, assistência à família do apenado e despesas pessoais,
conforme artigo 29, § 1º, alínea ‘d’9 da LEP (MIRABETE, 2004).
9 Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo ser inferior a
3/4 (três quartos) do salário mínimo. § 1° O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender:
[...] d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do condenado, em
proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas letras anteriores.
10 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
Nota-se que este princípio não abrange somente a integridade física e moral
do preso, mas também estabelece, conforme ensina Mirabete (2004, p. 119), que,
em todas as dependências penitenciárias e em todos os momentos e situações, as
necessidades de higiene e segurança de ordem material devem ser satisfeitas.
Diante da importância do tema, tanto o Supremo Tribunal Federal, quanto o
Conselho Nacional de Justiça, reiteram este princípio em várias de suas decisões e
resoluções.
da pena; XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento; XIV - representação e petição a
qualquer autoridade, em defesa de direito; XV - contato com o mundo exterior por meio de
correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e
os bons costumes. XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da
responsabilidade da autoridade judiciária competente. Parágrafo único. Os direitos previstos nos
incisos V, X e XV poderão ser suspensos ou restringidos mediante ato motivado do diretor do
estabelecimento.
12 Art. 3º Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela
sentença ou pela lei. Parágrafo único. Não haverá qualquer distinção de natureza racial, social,
religiosa ou política.
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13 Art. 21. Em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada estabelecimento de uma biblioteca,
para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos.
14 Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social: [...] IV - promover, no estabelecimento, pelos
como assinala que a lei não poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário
qualquer lesão a direito. Não fosse o direito de entrevista com advogado, as
garantias constitucionais acima referidas não restariam plenamente assegurados
(MIRABETE, 2004).
como a baseada em números, alcunhas etc. Esse direito tem como objetivo
preservar a dignidade e intimidade pessoal do preso.
15 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXXIV - são a todos assegurados,
independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa
de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
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mundo exterior, seja por meio de correspondência, leituras, televisão, rádio e, até
mesmo, via internet, o que tem sido possibilitado em alguns estabelecimentos
prisionais. Entretanto, cabe à administração carcerária, em prol da segurança, da
disciplina e do objeto de ressocializar o condenado, vedar aos recolhidos o acesso a
determinados conteúdos, a título de exemplo, notícias sobre rebeliões ou motins,
filmes violentos ou relativos ao cometimento de crimes, sites pornográficos, literatura
referente a armas e bombas, entre outros.
Sobre este tema, existe uma questão bastante polêmica que, conforme o
mesmo autor, diz respeito à correspondência do preso em face da segurança do
estabelecimento e da sociedade. Sem intenção de se ater ao tema, porém para
ilustrar o que diz o autor, segue trecho do voto do Min. Celso de Melo, quando
relatando o HC 70814/SP:
Por fim, conforme ensina Avena (2015, p. 72), o último direito previsto no
artigo em comento é o atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena de
responsabilidade da autoridade judiciária competente. Este direito foi incluído pela
Lei nº 10.713 de 2003, em virtude da necessidade de fornecer ao preso, pelo menos
uma vez por ano, o atestado com o saldo da pena a cumprir, uma vez que o cálculo
da pena não pode se limitar a uma simples operação aritmética diante do sistema de
remição e da unificação de penas.
sua execução, o atual sistema penitenciário não consegue aplicar estes princípios
de forma eficaz no cumprimento da pena.
a prisão é, por sua vez, uma chaga social, uma ferida aberta, um erro
humano, talhado em concreto e adornado de grades. Como o
avestruz que esconde a cabeça na terra para não ver o perigo, o
Estado estabelece normas e regras criando dificuldades de toda
sorte para evitar a presença da sociedade dentro das prisões, de
modo que ninguém possa saber o que se passa ali dentro. Por outro
lado, a sociedade vê a prisão como um espaço de vingança. Varre o
lixo incômodo para debaixo do tapete, mantendo-se comodamente
afastada das prisões. Não toca na chaga social. Não toca nas feridas
expostas, porque sabe que ao tocá-las poderão acordar as suas
próprias feridas e assim dar-se conta de que seu lugar poderia ser o
lugar do preso. (FERREIRA, 2016, p. 23-24).
16Reportagem: Agência Brasil, TV Brasil e Rádios EBC, Teto e implementação: Líria Jade. Disponível
em: www.ebc.com.br/especiais/entenda-crise-no-sistema-prisional-brasileiro
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A crise vivida pelo sistema penitenciário brasileiro faz com que seja
necessária a busca por medidas alternativas para execução da pena privativa de
liberdade. Nesse contexto ganha destaque uma nova metodologia que tem se
mostrado mais eficaz no que diz respeito à finalidade da pena, à ressocialização do
condenado, e à reinserção do indivíduo na sociedade, e que será tema do próximo
capítulo, denominado método APAC.
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A metodologia APAC conta, hoje, com mais de 100 unidades espalhadas por
todo o país, seja em funcionamento ou em fase de implantação, além de diversas
unidades no exterior. Esse método tem se mostrado inúmeras vezes mais eficaz do
que o sistema prisional comum, em especial no que tange à finalidade
ressocializadora da pena. Os resultados podem ser visualizados analisando o índice
de reincidência dos recuperandos, que, conforme dados do Conselho Nacional de
Justiça - CNJ, gira em torno de menos de 10%, enquanto no sistema prisional
comum, esse número ultrapassa os 70% (BRASIL, 2017).
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17 FBAC – Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados - é uma associação civil de direito
privado sem fins lucrativos que tem a missão de congregar a manter a unidade de propósitos das
suas filiadas e assessorar as APAC do exterior.
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18 Centro de Reintegração Social – CRS – estabelecimento criado pela a APAC, com o objetivo de
oferecer ao recuperando a oportunidade de cumprir a pena próximo de seu núcleo afetivo, facilitando
a formação de mão de obra especializada, favorecendo assim, a reintegração social, respeitando a
Lei e os direitos do condenado.
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De acordo com Falcão e Cruz (2017), o método APAC tem como base a
valorização humana, buscando reformular a autoimagem do homem que errou. Para
tanto, 12 elementos fundamentais foram estabelecidos, sendo sua observância
indispensável para a aplicação da metodologia, uma vez que é no conjunto
harmonioso desses elementos que serão encontradas respostas positivas para o
problema. A seguir, serão apresentaremos estes 12 elementos, a fim de esclarecer a
função de cada um deles dentro da metodologia em estudo.
Destaca-se, ainda, que a APAC não nasce por decreto, ou tão somente pelo
desejo de uma autoridade. Ela é o resultado do trabalho da sociedade civil
organizada, por meio das suas diferentes instituições com o objetivo de buscar
alternativas para o problema prisional.
19Art. 4º O Estado deverá recorrer à cooperação da comunidade nas atividades de execução da pena
e da medida de segurança.
65
manutenção da unidade. O regime aberto, por seu turno, tem como finalidade a
inserção social, pois é quando os recuperandos são autorizados ao trabalho externo,
pernoitando apenas no Centro de Reintegração Social (FERREIRA, 2016, p. 36).
Nesse sentido, a APAC entende que este elemento deve ser tratado com
prioridade. Para Santos (2013, p. 48), a presença de um departamento de saúde
organizado, com rotinas de atendimento médico, odontológico e psicológico permite
a harmonia do ambiente. Salienta-se que a presença de voluntários nesses setores
dá força para a recuperação do preso, que percebe o esforço da comunidade na
esperança de sua recuperação.
e irmão, além de suas outras relações sociais. Este elemento consagra a assistência
social ao preso, pois permite que os familiares conheçam a metodologia e alterem
seu comportamento, acabando com o mal que fomentou a ação criminosa. Nesse
contexto, as APAC ministram cursos aos familiares, chamando-os à
responsabilidade com o recuperando, com o intuito de uma reflexão quanto à
mudança de valores.
De acordo com Ferreira (2016, p. 41), o preso, quando cumpre sua pena no
sistema prisional comum, passa por um verdadeiro processo de desvalorização
humana, transformando-se, na maioria das vezes, em um verdadeiro monstro.
Diante disso, ainda que se admita que a espiritualidade e a religião sejam de suma
importância e devam continuar a constituir os 12 elementos fundamentais, a
valorização humana é, com certeza, a base da metodologia apaqueana.
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Ainda, destaca o mesmo autor que o método possui três finalidades, quais
sejam: a) auxiliar a justiça, por meio de metodologia própria, preparando o apenado
para voltar ao convívio social, através da finalidade pedagógica da pena; b)
proporcionar à sociedade o convívio com o indivíduo ressocializado e c) assistir o
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20Art. 3º Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela
sentença ou pela lei.
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Em que pese a APAC ser uma entidade civil, de direito privado, sem fins
lucrativos, com personalidade jurídica própria, em que impera o voluntariado, ela
necessita da contribuição do Estado, tanto para sua criação, quanto para seu
custeio. Nesse sentido o Conselho Nacional de Justiça – CNJ –, dispõem que a
metodologia apaqueana, como já exposto anteriormente, além de cumprir com o
objetivo principal da pena, tem um custo menor ao Estado se comparado ao atual
74
Por fim, o método APAC, de acordo com Campos Filho (2013, p. 370-371),
tem seus fundamentos baseados em princípios cristãos e de solidariedade humana.
Nesse sentido, a dimensão humana é o núcleo essencial da metodologia
estabelecidas nas unidades apaqueanas, compatível com todo e qualquer regime de
cumprimento de pena.
CONCLUSÃO
Para finalizar a pesquisa, acredita-se que o método APAC pode nos levar a
uma nova realidade no que tange a execução penal, onde o objetivo da penal
realmente possa se concretizar, ressocializando e reintegrando um novo indivíduo a
sociedade, além de respeitar sempre a dignidade da pessoa humana e levar em
conta a proteção da sociedade.
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REFERÊNCIAS
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. São Paulo: Edipro, 2013.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: Parte geral 1. São Paulo:
Saraiva, 2011.
BOSCHI, José Antonio Paganella. Das penas e seus critérios de aplicação. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2004.
______. Conselho Nacional de Justiça. CNJ recomenda expansão das APACs para
a redução da reincidência criminal no país. Disponível em <
http://www.cnj.jus.br/images/imprensa/diagnostico_de_pessoas_presas_correcao.pdf>
. Acesso em: 17 maio 2017.
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