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MATERNIDADE NO CÁRCERE:
SEGUNDO A LEI DE EXECUÇÕES PENAIS
Nova Iguaçu - RJ
2022
DAYANE SILVA DE CARVALHO
MATERNIDADE NO CÁRCERE:
SEGUNDO A LEI DE EXECUÇÕES PENAIS
Nova Iguaçu – RJ
2022
Dedico este trabalho primeiramente a
Deus por ter me dado forças, ter me
sustentado nos dias mais difíceis, por ser
a minha fortaleza, agradeço a minha
família por todo apoio, e pela
compreensão do quanto este curso é
importante para minha vida pessoal e
profissional, e aos meus amigos por todo
carinho.
LISTA DE ABREVIATURAS SIGLAS E SÍMBOLOS
ART- Artigo
CF- Constituição Federal
CNPCP – Conselho Nacional de Política e Penitenciário
CPP- Código de Processo Penal
DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
HC – Habeas Corpus
IFOPEN – Levantamento Nacional de Informações Penitenciarias
LEP – Lei de Execução Penal
STF – Supremo Tribunal Federal
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..............................................................................................................7
1 A MATERNIDADE NO CÁRCERE.............................................................................8
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................17
REFERÊNCIAS...........................................................................................................18
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RESUMO
O presente trabalho busca analisar os avanços legais para a proteção à maternidade
e da infância no ambiente do cárcere. Para isso, mostra a evolução no tocante ao
encarceramento feminino brasileiro, com o estudo dos primeiros estabelecimentos
prisionais femininos, na década de 1940, por ocasião da promulgação do Código
Penal, naquele mesmo período. A pesquisa mostra, também, as principais práticas
delitivas e as práticas punitivas no decorrer da história, aborda as Leis que
regulamentavam no passado, bem como as modificações legais no tocante a essa
questão, alcançando as mais recentes inovações trazidas pela Lei 13.769/18. Este
trabalho apresenta algumas razões que podem ser apontadas como causas para
aumento considerável do encarceramento feminino nas últimas décadas e, ainda,
quais os delitos que mais incidem sobre a criminalidade feminina. Desse modo,
buscamos desvendar a historicidade e avanços das mulheres presas e,
consequentemente, os aspectos que envolve o gênero, como por exemplo, ser mãe.
Atentando-se aos direitos das mulheres presas, as condições que lhes são inerentes
no tocante ao estado gestacional e as dificuldades para desempenhar o papel de
mãe no ambiente do cárcere.
RESUMEN
El presente trabajo busca analizar los avances legales para la protección de la
maternidad y la infancia en el ámbito penitenciario. Con este fin, muestra la
evolución con respecto al encarcelamiento femenino brasileño, con el estudio de las
primeras cárceles femeninas en la década de 1940, en el momento de la
promulgación del Código Penal, en ese mismo período. La investigación también
muestra las principales prácticas delictivas y punitivas a lo largo de la historia,
aborda las leyes que se regularon en el pasado, así como los cambios legales con
respecto a este tema, llegando a las últimas innovaciones traídas por la Ley
13.769/18. Este trabajo presenta algunas razones que pueden señalarse como
causas de un aumento considerable del encarcelamiento femenino en las últimas
décadas y, también, qué delitos afectan más a la delincuencia femenina. Así,
buscamos desvelar la historicidad y los avances de las mujeres privadas de libertad
y, en consecuencia, los aspectos que involucran el género, como ejemplo, ser
madre. A la luz de los derechos de las reclusas, las condiciones inherentes a ellas
en relación con el estado gestacional y las dificultades para desempeñar el papel de
madre en el entorno penitenciario.
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GRADUANDA DO DÉCIMO PERIODO DE DIREITO
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INTRODUÇÃO
Não há como tratar do encarceramento feminino e o direito a maternidade
sem antes fazer uma abordagem e reflexão do princípio da dignidade da pessoa
humana e da condição da política carcerária adotada no Brasil. A mola mestra da
existência humana é sua dignidade. Os direitos humanos são indispensáveis para a
existência humana e seu aperfeiçoamento não cabendo ao Estado desconsiderá-los
em nenhuma de suas políticas públicas, principalmente quando diz respeito ao
sistema criminal. O direito tem como finalidade a realização dos valores mais
essenciais do ser humano, também é possível entender a necessidade da
efetividade de direitos e garantias assegurados na Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988.
Sendo a dignidade da pessoa humana requisito essencial para a existência
tornando igual os desiguais, entende-se que não é possível sua vinculação a
autonomia da vontade, pois, se assim fosse, não decorreria da própria condição
humana. Dessa forma, não é cabível falar em maior ou menor dignidade, em mais
ou menos direito à dignidade, pois, o conjunto de direitos existenciais que a
compõem pertence a todos em igual proporção. Portanto, a dignidade pressupõe
igualdade, liberdade, valorização do ser, respeito e vida, pois não é possível viver
sem o mínimo de dignidade humana.
Nesse entendimento, na atual sociedade, a dignidade da pessoa tornou-se
um consenso ético, jurídico e legal, pois está presente, implícita ou explicitamente,
em inúmeros documentos nacionais e internacionais, bem como em decisões
judiciais. Porém, mesmo com essa amplitude, ainda é possível constatar os
desrespeitos e as dificuldades de efetivá-la através de políticas públicas que
valorizem o ser humano acima das diferenças sociais e da discriminação figurando
muitas vezes como mera referência usada conforme o entendimento individual de
dignidade. Com base no princípio basilar da dignidade da pessoa humana, a
maternidade no cárcere engloba não só uma questão de saúde pública, mas,
também, de construção da cidadania e respeito ao humano, bem como da
desconstrução de preconceitos baseados em uma cultura machista e patriarcal que
estabelece “punições” sociais e legais as mulheres que não se comportam
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1 A MATERNIDADE NO CÁRCERE
Diante de todas as dificuldades enfrentadas pelas mulheres
encarceradas no sistema prisional feminino brasileiro, é inevitável o debate
acerca das mulheres gestantes presas e a amamentação na prisão.
Podemos observar claramente o descaso do sistema no nosso pais em
relação a situação dessas mulheres, com tudo diante do encarceramento, por
diversas vezes não conseguem realizar a amamentação do seu próprio filho,
acontecem assim um desmame de forma mais rápida.
O leite materno é importantíssimo para o desenvolvimento do bebê
pois ele serve para proteção de doenças na primeira infância, além disso é
uma conexão amor entre a mamãe e o seu bebê, criando afeto e muito carinho
que ajuda no psicológico de ambos.
Observamos o perfil social de mulher criminosa que é o de uma jovem, pertencente
a Ivonete Reinaldo da Silva - Matos, de baixo nível socioeconómico, com pouca ou
nenhuma escolaridade, emprego ou trabalho precário, solteira e mãe solteira
separada e morando na periferia. Normalmente, os crimes cometidos tendem a estar
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Por exemplo, o segundo e terceiro trimestres gestacionais integram uma das etapas
da gestação em que as condições ambientais vão exercer influência direta no estado
nutricional do nascituro. O ganho de peso adequado, a ingestão de nutrientes, o fator
emocional e o estilo de vida serão determinantes para o crescimento e
desenvolvimento normais do nascituro. (VITOLO, 2003, p. 4.).
No relatório elaborado por Lemos Brito, entre os anos 1923 e 1924, o qual tratava da
situação prisional brasileira, que havia poucas informações sobre as mulheres. No
entanto, os dados da pesquisa de Brito mostravam o número de presidiárias em
alguns estados. Na Capital da Paraíba, havia um total de 175 detentos, dentre os
quais 173 eram homens. Já em São Luís do Maranhão, havia um total de três
mulheres e 143 homens presos. Especificamente, sobre os estabelecimentos
prisionais da cidade do Rio de Janeiro, então capital do país, na Casa de Detenção
havia uma ala separada para as mulheres. (ANGOTTI, 2018, p.18).
D’Angers, Instituto fundado na França em 1829, cujo objetivo era acolher jovens e
mulheres com ou sem filhos, em situação de risco, e torná-las ativas na instituição,
como voluntárias na busca de famílias e mulheres em situações de risco. Com isso,
a administração da Congregação em presídios gradativamente foi sendo finalizada e
as atividades foram encerradas primeiro em Bangu no ano de 1955, depois em São
Paulo em 1977 e, por fim, em Porto Alegre até 1981. Essa estatística revela os
índices da população carcerária feminina no Brasil cresceram 656% em 16 anos. O
gráfico a seguir indica com mais clareza a proporção deste aumento gráfico
(BRASIL, 2018.P.267)
O estudo desses órgãos, revela ainda que o estado de São Paulo concentra
36% de toda a população prisional feminina do país, com 15.104 mulheres presas,
seguido pelos estados de Minas Gerais com 3.279, Paraná com 3.251 e Rio de
Janeiro com o número de 2.254 mulheres presas, que juntos somam 20% da
população prisional feminina. Observa-se que, posterior a estes quatro estados
segue o estado do Rio Grande do Sul com 1.967 mulheres presas, o Amazonas com
1.829, Pernambuco com 1.672, Mato Grosso do Sul com 1.512, Santa Catarina com
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1.506. Logo depois o Goiás com 842, Rio Grande do Norte com 776, o estado do
Pará com 740, seguindo o estado do Mato Grosso com 727, o estado de Rondônia
com 721, e o Distrito Federal com o número de 681 mulheres presas. Ao tempo do
levantamento da pesquisa do INFOPEN (BRASIL,2016).
Ainda de acordo com o levantamento do INFOPEN, em junho de 2016, 45%
das mulheres presas no Brasil ainda não haviam sido julgadas e condenadas pelos
seus crimes. Cerca de 19.223 (45%) estavam presas sem condenação, Cerca de
19.223 estavam presas sem condenação, e 13.536 estavam sentenciadas em
regime fechado, e cumprindo o regime semiaberto 6.609 mulheres, no regime aberto
o número de 2.755. É notável também o baixo índice de reincidência das mulheres
criminosas, uma vez que, geralmente, atuam por indução ou, mais uma vez, por
paixão. Esses números são justificados pelo comportamento delitivo feminino
encontrar-se com mais frequência nos crimes contra o patrimônio, tráfico de drogas
e na corrupção de menores, pelo menos os que são etiquetados (BRASIL,2016).
Esta Lei inclui os incisos IV, V e VI ao art. 318 do Código de Processo Penal,
para estabelecer que “poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar
quando o agente for: IV, gestante; V mulher com filho de até 12 (doze) anos de
idade incompletos; VI homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho
de até 12 (doze) anos de idade incompletos”.
Com aumento dos números de mulheres presas, o STF em agosto de 2017,
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deu seguimento ao pedido de Habeas Corpus coletivo (HC 143.641) que pretendia
libertar todas as mulheres gestantes, puérperas (que deram à luz em até 45 dias) ou
mães de crianças com até 12 anos de idade, sob sua responsabilidade que estejam
presas provisoriamente.
Destarte, contra a concessão desse benefício, a Lei dispõe na parte final do art. 318-
A que, “desde que a presa: I não tenha cometido crime com violência ou grave
ameaça a pessoa; II não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente”.
(BRASIL,2018)
De acordo com § 3º introduzido ao art. 112, que trata da progressão de
regime, serão cumulativos os requisitos para a progressão de regime da mulher
gestantes mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiências, sejam
eles: não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa; não ter
cometido o crime contra seu filho ou dependente; ter cumprido ao menos 1/8 (um
oitavo) da pena no regime anterior; ser primária e ter bom comportamento
carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento e; não ter integrado
organização criminosa.
O § 3 introduzido pela Lei modificou a fração da pena, conforme o caput do
art. No entanto, há outros requisitos que conjuntamente devem ser analisados para
a benesse, como a primariedade e a inexistência de violência ou grave ameaça. 112
pela Lei 13.769/18, trata da revogação do benefício previsto do § 3 gerando a
regressão de regime quando praticado um novo crime doloso ou falta grave,
resguardando o princípio da presunção de inocência.
Por fim, a Lei, no inciso VII ao art. 72 da LEP, determina o Departamento
Penitenciário Nacional (DEPEN) acompanhar a execução da pena das mulheres
beneficiadas pela progressão especial correspondente ao § 3º de art.112,
monitorando a ressocialização e a ocorrência de reincidência, mediante avaliações
periódicas e de estatísticas criminais. Tendo como objetivo garantir que as
finalidades da pena sejam cumpridas e que a execução penal seja moderada
visando que a mulher detenha cuidados com a gestação, com o filho ou a pessoa
dependente, sejam efetivamente alcançadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho traçou a trajetória de progresso da criminalidade feminina e do
encarceramento, mostrando as dificuldades da maternidade encarcerada e
apresentando aspectos da criminalidade feminina e a ocorrência de comportamento
criminoso. O estudo constatou que as leis vigentes, em especial a LEP, o HC
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143.641 e a lei 13.769/18, que incluiu novos artigos na lei de execuções Penais
(LEP), tiveram o cuidado de valorizar as relações das meninas com suas famílias no
mundo fora da prisão, pois não aplicando a pena privativa de liberdade, a mulher
pode reaver sua vida familiar. O estudo também mostrou que entre os crimes que
muitas vezes levam as meninas à prisão A participação no tráfico de drogas é mais
proeminente. A maioria das meninas presas no Brasil hoje cumpre pena por tráfico
de drogas e, na maioria das vezes, a pedido de seus companheiros, que vendem
pequenas quantias para consumo próprio. A pesquisa traz outros semblantes
relevantes, como o perfil dessas meninas, faixa etária, escolaridade e raça. Os mais
jovens são os que mais cometem crimes, assim como as meninas que não concluir
a formação fundamental e as pessoas de cor. Além disso, destaca a ausência de
políticas públicas de manutenção das detentas, que não contam com atendimento
médico adequado, nem acesso à higiene pessoal, sobretudo por sua condição de
mulher, em total desconhecimento das garantias constitucionais, em especial o
princípio do pundonor humana. Análise da lei 13.769/18, que oferece o benefício de
substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar para puérperas e mães de
menores de 12 anos, surge como um alento para mães e gestantes encarceradas,
como uma forma de o Estado compensar a falta de condições assistenciais
garantidas na Constituição e em leis infraconstitucionais a mães e filhos.
REFERÊNCIAS
MIN.LEWANDOWSKI,RICARDO.HABEUSCORPUS143641.portal.stf.jus.br/processos/
detalhe.asp?incidente=5183497>SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 2017 Acesso
em: 15 nov. 2022
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