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Universidade Federal da Bahia

Discente: Vivian Cintra Grassis


Docente: Claudenilson Dias
Disciplina: Estudo das Culturas (HACA36)

Arte como discurso de resistência no campo das dissidências sexuais e


de gênero
O texto “A emergência dos artivismos das dissidências sexuais e de
gêneros no Brasil da atualidade”, do professor Leandro Colling, traz uma
temática voltada ao boom das expressões queer no meio artístico, e mostra a
importância da problemática ser tratada em lugares de grande visibilidade.
Utilizando o método genealógico de Foucault como sustentáculo, o autor busca
encontrar as raízes da explicação e o motivo dessa nova urgência no meio
público. Todo esse processo é baseado em perguntas que o autor responde ao
longo do texto – “Em termos foucaultianos, quais as condições de emergência
desse boom artivista das dissidências sexuais e de gênero no Brasil da
atualidade? Como explicar que em poucos anos tenhamos tantas coisas
sensacionais acontecendo nas artes e em suas interfaces com gêneros e
sexualidades?” – no intuito de construir uma linearidade, a qual já é quebrada
com o embasamento foucautiano, que rompe com a ideia de origem, retratando
que as coisas não se repousavam em perfeição, e por isso é difícil achar um
início delineado.

Posteriormente, o autor retrata o quão excludente e aprisionador é a


binaridade de gênero e a redução do ser uma única identidade, o que reduz
seus potenciais criativos com a ausência de multiplicidade. Sob esse viés,
Stuart Hall concebe que o ser humano contemporâneo não pode mais ser
datado com uma identidade apenas, a realidade binária é fugaz às diversas
possibilidades de “ser alguém”, que são mutáveis e diversas durante a vida.
Percebe-se que essa relação binarizada e heteronormativa, é enraizada nas
estruturas sociais e em todas as relações e expressões de poder, que norteiam
ordenamento social. Com a leitura do texto, é possível relacionar com o ensaio
freudiano, nomeado de “O mal-estar na civilização”, que evidencia como se
desenvolve a construção do medo, e como a culpa gerada pela religião cristã
infla esse medo e o torna superdimensionado. Essa conjuntura social ainda é
muito atual, no entanto, o enfraquecimento da igreja como um instrumento de
poder, juntamente com os movimentos e organização dos grupos LGBTQIA+,
possibilitaram a ocupação de ambientes hegemônicos, que antes eram
inimagináveis, e a classificação das manifestações artísticas queer como uma
arte democrática, horizontal e de larga escala de produção.

Perceber esses processos de dissidências com a heteronormatividade,


provoca em mim o sentimento de esperança, mesmo vivendo no país que mais
mata pessoas LGBTQIA+, de que essa realidade será controvertida, e que
teremos cada vez números mais significativos de expressões artísticas, mas
também a intelectual - Rita Von Hunty – a expressão política, - Erika Hilton - e
em todos os ambientes, nas ruas, nos canais fechados e abertos, nos
streamings, junto as frentes de poder e de influência no país.
Arte como discurso de resistência no combate à aidsfobia

A temática, baseada na leitura do texto “O núcleo macio da aids”, escrito


por Nathan Fernandes, foi trazida para o ambiente da sala de aula através de
uma dinâmica, que se formavam duplas, um vendado e outro não, no intuito de
que quem estivesse enxergando guiasse quem não estava. A partir disso,
tiveram muitos feedbacks sobre as relações de confiança estabelecidas, se
houve um cuidado ou não da parte que usufruía da visão e a sensação de
vulnerabilidade da parte qual não a tinha.

O texto, por si só, tem como escopo evidenciar distintas maneiras de


como a arte é um importante viés para romper com a estigmatização e a visão
preconceituosa com que se enxergam as pessoas que vivem com o vírus. “A
arte me fez enxergar que não dá pra fingir que o hiv não existe, isso atravessa
meu corpo o tempo inteiro”, essa afirmativa demonstra como a relação com a
arte pode transformar e melhorar a aceitação tanto das pessoas que vivem
com o hiv, tanto das pessoas que não vivem com o vírus a entenderem que ele
não a define. Na aula, foi retratado por um colega o termo “aidético”, termo
esse que entrou em desuso justamente por reduzir a pessoa à doença, tornar a
doença algo maior do que quem a tem. É abordado também no texto, e pode
se considerar uma outra interpretação da dinâmica em sala, sobre o “medo
cego”, algo tão forte que faz com que as pessoas não acompanhem a
realidade, e são levadas por um apelo midiático, religioso, que escandaliza e
repudia a doença, mas não se preocupa em educar e informar sobre os
cuidados e a prevenção, muito menos no acolhimento das pessoas
diagnosticadas.

Pensando sobre o viés religioso, que ainda possui um discurso


imponente e poderoso no meio social, tratamos em sala do termo
promiscuidade. Segundo a bíblia, a promiscuidade é um sintoma que a pessoa
está longe de Deus, e para vencer isso urge de obediência e arrependimento.
O discurso cristão endossa os pensamentos homofóbicos, principalmente
voltados ao homem gay, em definir que os mesmos são alvos do vírus, o que
engana e expõe a população a mais riscos. Quando mais nova, ainda fazia
parte da religião católica, via sempre o assunto promiscuidade ser tratado
como um pecado e o hiv ser uma espécie de castigo para aqueles que eram
promíscuos, nesse discurso encontrei um dos principais motivos para romper
com a religião.

Após a leitura do artigo, ficou claro para mim o conceito de “dissidências”


e “artivismos”, apresentado pelo texto do professor Leandro Colling estudado
em outras discussões em sala, uma vez que esses dois termos traduzem de
forma clara a necessidade de ativismo na área, sendo a arte o principal
sustentáculo para isso. Além disso, é de suma importância dissidir com os
estigmas sobre a doença e sobre quem a possui, justamente usufruindo destes
artivismos para alcançar os melhores resultados.
Referências bibliográficas

COLLING, L. A emergência dos artivismos das dissidências sexuais e de


gêneros no Brasil da atualidade. Sala Preta, v. 18, n. 1, p. 152-167, 30 jun.
2018.

FERNANDES, Nathan. "O núcleo macio da aids". Revista Trip, versão online,
19 de julho de 2019.

FREUD, Sigmund. (1930 [1929]) O mal-estar na civilização. Edição Standard


Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XXI. Rio de Janeiro:
Imago, 1996.

Hall, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz


Tadeu da Silva,. Guaracira Lopes Louro-11. ed. -Rio de Janeiro.

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