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Resumo
O presente trabalho possui a intenção de realizar uma investigação sobre a responsabilidade
do Estado na aplicação dos direitos do preso possuidor de necessidades decorrentes de
deficiências. Para isto se estabelece o seguinte Problema de Pesquisa: Considerando a
responsabilidade do Estado como garantidor de direitos essenciais a todas as pessoas, existem
políticas de infraestrutura carcerária para garantir acessibilidade a deficientes alocados no
sistema penitenciário brasileiro? Com a finalidade de responder tal questionamento,
apresenta-se o Objetivo Geral, direcionado a esclarecer as atitudes estatais representadas por
políticas públicas, com a intenção de realizar esta garantia essencial e como a situação se
estabelece de fato. Para alcançar o referido objetivo, estabelecem-se os seguintes Objetivos
Específicos: I – Apresentar os princípios e direitos humanos atinentes aos apenados, em
especial aos possuidores de deficiências; II – Verificar o julgamento do estado de coisas
inconstitucional, a aplicação da Lei de Execução Penal, bem como, a legislação constitucional
e internacional acerca dos direitos dos apenados deficientes; e III – Analisar os principais
problemas do sistema carcerário, as políticas públicas ou a falta delas no interesse de garantir
os direitos dos deficientes, no cenário da população carcerária atual. Atendidos os objetivos,
conclui-se que, por melhores que sejam as disposições legais acerca das garantias
fundamentais dos presos com deficiência, ainda não há políticas públicas aplicáveis, para
indicar um sistema carcerários eficiente no atendimento das necessidades dos portadores de
necessidades especiais. Por fim, utilizou-se a metodologia argumentativa, interpretativa,
dedutiva, indutiva e investigativa na pesquisa e na e produção textual.
Abstract
The present work intends to carry out an investigation on the responsibility of the State in the
application of the rights of prisoners with needs arising from disabilities, for this purpose the
following Research Problem is established: Considering the State's responsibility as guarantor
1
Acadêmica do Curso de Direito pela Faculdade Católica de Rondônia. Cursando o 9° período. RA: 20171085,
com endereço eletrônico pessoal: <anacarlacanosa@gmail.com>. Endereço eletrônico institucional:
<ana.canosa@sou.fcr.edu.br>.
2
Mestrando em Ciência Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), em convênio com a Faculdade
Católica de Rondônia (FCR). Pós-graduando em Direito Penal Econômico pela Universidade de Coimbra/PT.
Graduado em Direito pela Faculdade Católica de Rondônia (FCR). Professor auxiliar da Faculdade Católica de
Rondônia (FCR). Advogado. Coordenador-Adjunto do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais em Rondônia.
Com endereço eletrônico: <gustavo.nascimento@fcr.edu.br>.
2
of essential rights for all people, are there prison infrastructure policies to guarantee
accessibility for the disabled in the Brazilian penitentiary system? In order to answer this
question, the General Objective is presented, aimed at clarifying state attitudes, represented by
public policies with the intention of realizing this essential guarantee and how the situation is
actually established. In order to achieve this objective, the following Specific Objectives are
established: I – present the principles and human rights pertaining to inmates, in particular,
those with disabilities. II - verify the judgment of the unconstitutional state of affairs, the
application of the Criminal Execution Law, as well as the constitutional and international
legislation on the rights of disabled inmates and III - analyze the main problems of the prison
system, public policies or lack of them in the interest of guaranteeing the rights of the
disabled, in the context of the current prison population. Having met the objectives, it is
concluded that, no matter how good the legal provisions regarding the fundamental guarantees
for prisoners with disabilities, there are still no applicable public policies to indicate an
efficient prison system in meeting the needs of people with special needs. Finally, the
argumentative, interpretive, deductive, inductive and investigative methodology was used in
research and textual production.
1 INTRODUÇÃO
2 DESENVOLVIMENTO
pontos negativos que são revertidos de maneira indireta à sociedade e ao Estado, também com
a má administração e adequação dos presídios brasileiros.
Assim, nas palavras do Doutrinador Aury Lopes Junior, observa-se o entendimento do
poder e dever de punir, por meio dos quais, consequentemente, surgiu o cárcere, com vistas à
aplicação na prática desta punição do Estado em face aos delinquentes:
3
LOPES JUNIOR, Aury. Fundamentos do Processo Penal. 5º. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. p. 47.
4
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Edição eletrônica: Ridendo Castigat Mores, 1764. p. 11.
5
AQUINO, Rubim Santos Leão de. História das sociedades: das sociedades modernas às sociedades atuais.
32ª ed., Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1995 apud MISCIASCI, Elizabeth. Sistema Prisional. Revista
Eunanet. Disponível em: <http://www.eunanet.net/enn/revistaeunanet/sistema-prisional/?4/inicio-das-prisoes>.
Acesso em 19 jun. 2021.
6
GRUPO DE MONITORAMENTO E FISCALIZAÇÃO DO SISTEMA CARCERÁRIO. Histórico. Tribunal
de Justiça do Estado Do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://gmf.tjrj.jus.br/historico>. Acesso em 19 jun.
2021.
5
Anos mais tarde, em “6 de julho de 1850, houve o surgimento de prisões com celas
individuais e com arquitetura apropriada para a pena de prisão no Brasil, a qual teve início a
partir do século XIX.”7
Depois disso, o país foi se moldando conforme a necessidade. Ocorre que,
infelizmente, não se moldou como deveria, pois a criminalidade continuou a existir. Por outro
lado, as instalações públicas - sejam elas, municipais, estaduais ou federais - pararam,
estagnaram suas construções, quando na verdade deveriam crescer nas mesmas proporções
dos crimes. É claro que não se está afirmando que parou por completo, todavia não evoluiu no
mesmo nível que as punições, fazendo com que desencadeasse na superlotação, entre outras
negatividades que serão acentuadas mais adiante.
As casas de correções abrigavam um grande complexo. Houve a casa de correção de
1850, a casa de detenção de 1856 e, por fim, o calabouço, onde ficavam apenas escravos, no
ano de 1857. Estas eram as prisões daquela época e as maneiras de punir na antiguidade. Já a
pena era baseada em castigo físico, conforme disposto no antigo código criminal de 1830. 8
O mais interessante, se assim se pode dizer, são os termos ouvidos naquela época,
como “calabouço”. Mas as prisões atuais não são muito diferentes, entulhadas de presos, em
lugares úmidos, escuros, sem espaço, luz do dia, pouca ou quase zero higiene, e alimentação
muito similar aos tempos antigos. A diferença é que, atualmente, a sociedade é outra -
diferente de antes, hoje em dia não há escravos, e inúmeras são as leis protetoras de direito
dos presos; todavia, elas não são aplicadas com real resultado.
Este tipo de tratamento na antiguidade e formas de aprisionamento vigoraram até o
surgimento do código penal do império, que sofreu as primeiras influências liberais das penas
europeias e dos EUA. “Assim, ao passo que a legislação evoluía, o Código Criminal do
Império passou a ser respeitado como um monumento jurídico brasileiro, tido como um dos
diplomas legais que contribuiu substancialmente com o direito nacional e de outros países.” 9
Para fácil entendimento de como se dividem os locais de reclusão, vale citar que “O
sistema carcerário no Brasil se divide em algumas categorias: penitenciárias, presídios,
7
GRUPO DE MONITORAMENTO E FISCALIZAÇÃO DO SISTEMA CARCERÁRIO. Histórico. Tribunal
de Justiça do Estado Do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://gmf.tjrj.jus.br/historico>. Acesso em 19 jun.
2021.
8
SILVA, Marilene Rosa Nogueira da. Em foco a galeria dos condenados da casa de correção. OpenEdition
Journals. Disponível em: <https://journals.openedition.org/orda/2266>. Acesso em 19 jun. 2021.
9
VITTO, Dayonara Bardini. A atual superlotação no sistema prisional brasileiro e a possibilidade de
cumprimento de pena em regime domiciliar decorrente da ausência de vagas em estabelecimento prisional
adequado. Criciúma: UNESC, 2015. p. 14.
6
10
MESQUITA, Márcio. História das Prisões. Administradores.com. Disponível em:
<https://administradores.com.br/artigos/historia-das-prisoes>. Acesso em 19 jun. 2021.
11
CARTA CAPITAL. Encarceramento em massa: ineficaz, injusto e antidemocrático. Disponível em:
<https://www.cartacapital.com.br/sociedade/encarceramento-em-massa-ineficaz-injusto-e-antidemocratico/>.
Acesso em 19 jun. 2021.
12
G1. Com 322 encarcerados a cada 100 mil habitantes, Brasil se mantém na 26ª posição em ranking dos
países que mais prendem no mundo. Disponível em:
<https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2021/05/17/com-322-encarcerados-a-cada-100-mil-
habitantes-brasil-se-mantem-na-26a-posicao-em-ranking-dos-paises-que-mais-prendem-no-mundo.ghtml>.
Acesso em 19 jun. 2021.
13
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Painel de dados sobre as inspeções penais sobre especificações
prisionais. CNJ. Disponível em: <https://paineisanalytics.cnj.jus.br/single/?appid=e28debcd-15e7-4f17-ba93-
9aa3ee4d3c5d&sheet=985e03d9-68ba-4c0f-b3e2-3c5fb9ea68c1&lang=pt-BR&opt=ctxmenu,currsel>. Acesso
em 19 jun. 2021.
7
14
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. BNMP 2.0 Banco Nacional de Monitoramento de Prisões.
Brasília: CNJ, 2018. p. 19.
15
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. BNMP 2.0 Banco Nacional de Monitoramento de Prisões.
Brasília: CNJ, 2018. p. 53
16
PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental com
pedido de concessão de medida cautelar. Rio de Janeiro: ADPF-347, 2015. p. 36.
17
PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental com
pedido de concessão de medida cautelar. Rio de Janeiro: ADPF-347, 2015. p. 2.
8
“Contudo, é notório e sabido que o número de indivíduos por cela ultrapassa o limite
estipulado, fazendo com que haja precariedade no sistema.” 18
Assim, “A superlotação tem como efeito imediato não só a violação das normas da
LEP, mas também dos princípios constitucionais; pois, conforme determina a Constituição
Federal em seu art. 1º, parágrafo III, o Estado tem entre seus fundamentos garantir a
dignidade.”19
2.2 Direitos humanos: uma análise constitucional em face dos apenados com deficiência
e a falta de aplicabilidade da LEP – Lei de Execução Penal
18
BINOTTO, Beatriz Calvo. A evolução do sistema prisional brasileiro: reflexões jurídicas sobre os
principais problemas no cárcere na sociedade brasileira contemporânea. Prudente: Centro Universitário
Antônio Eufrásio de Toledo de Presidente Prudente. p. 34.
19
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 19 jun. 2021 apud VITTO,
Dayonara Bardini. A atual superlotação no sistema prisional brasileiro e a possibilidade de cumprimento
de pena em regime domiciliar decorrente da ausência de vagas em estabelecimento prisional adequado.
Criciúma: UNESC, 2015. p. 42.
20
MASSON, Cleber. Direito Penal – Parte Geral. 13º. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. p. 899.
9
21
TORON, Alberto Zacharias. Controle do Devido Processo Legal: Questões Controvertidas e de
Processamento do Writ. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. p. 7.
22
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. p.
80.
23
CANTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional. Coimbra: Almedina, 1993. p. 522. apud MORAIS,
Alexandre de. Direito Constitucional. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 62.
24
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. p.
129
10
portanto, fazer uso de ideais imprecisos que têm servido duplamente, em favor da dignidade
do ser humano e como fundamento para violação desta.” 25
Essa dignidade está prevista no artigo 1° inciso III da CF, no qual é reconhecido o
direito à educação, moradia, saúde, lazer, alimentação, cultura, entre tantos outros direitos.
Ocorre que esses direitos básicos, considerados mínimos para se viver em uma sociedade
digna, sequer são aplicados no cárcere. 26
Nesta senda, o doutrinador Alexandre de Morais segue explanado acerca desta
dignidade mínima em face dos presídios. O jurista afirma que, em maior ou menor grau, os
direitos negligenciados pelo Estado são enormes - nada justifica, outrossim, os apenados
condenados que já tiveram a condenação da pena privativa de liberdade e, por assim, já
enfrentarem problemas, sofrerem um enfrentamento diário da falta de dignidade,
principalmente a falta de espaço frente ao numero de presos, falta de programas de
reabilitação, de cuidados médicos e afins. E este são apenas alguns dos problemas elencados
pelos autores.27
Já o direito à igualdade é pontuado por Lenza da seguinte forma: “buscar não somente
essa aparente igualdade formal [...], mas, principalmente, a igualdade material, uma vez que a
lei deverá tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais.”28
Na legislação da LEP – Lei de Execução Penal, é assegurado, conforme o artigo
terceiro as seguintes diretrizes: “Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os
direitos não atingidos pela sentença ou pela lei. Parágrafo único. Não haverá qualquer
distinção de natureza racial, social, religiosa ou política.”29
Já o direito à vida é muito bem regulamentado pelo Doutrinador Pedro Lenza, que
conceitua e apresenta seu fundamento jurídico da seguinte forma:
O direito à vida, previsto de forma genérica no art. 5.º, caput, abrange tanto o direito
de não ser morto, privado da vida, portanto, o direito de continuar vivo, como
também o direito de ter uma vida digna. 30 (...) O segundo desdobramento, ou seja, o
direito a uma vida digna, garantindo-se as necessidades vitais básicas do ser humano
25
VALOIS, Luís Carlos. Processo de Execução Penal e o estado de coisas inconstitucional. Belo Horizonte:
D'Plácido, 2019. p. 53 apud OTHELO, Eduarda Couto Pessoa. Quantas grades prendem os encarcerados?
Empório do Direito.com.br. Disponível em: <https://emporiododireito.com.br/leitura/quantas-grades-prendem-
os-encarcerados>. Acessado em: 25 jun. 2021.
26
MORAIS, Alexandre de. Constituição Federal Comentada. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 441.
27
MORAIS, Alexandre de. Constituição Federal Comentada. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 441.
28
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 973.
29
BRASIL. Decreto nº 7.210 de 11 de junho de 1984 – Lei de Execuções Penais. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acessado em: 18 de jun. 2021.
30
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 970.
11
De acordo com o art. 5o, inciso XLIX, da Constituição Federal, “é assegurado aos
presos o respeito à integridade física e moral”. Ao proclamar o respeito à integridade
física e moral dos presos, a Carta Magna garante ao preso a conservação de todos os
direitos fundamentais reconhecidos à pessoa livre, à exceção, é claro, daqueles que
sejam incompatíveis com a condição peculiar de uma pessoa presa, tais como a
liberdade de locomoção (CF, art. 5o, XV), o livre exercício de qualquer profissão
(CF, art. 5o, XIII), a inviolabilidade domiciliar em relação à cela (CF, art. 5o, XI) e
o exercício dos direitos políticos (CF, art. 15, III). Não obstante, mantém o preso os
demais diretos e garantias fundamentais, tais como o respeito à integridade física e
moral (CF, art. 5o, III, V, X e LXIV), à liberdade religiosa (CF, art. 5o, VI), ao
direito de propriedade (CF, art. 5o, XXII), e, em especial, aos direitos à vida e à
dignidade humana. 32
Mais que integridade física prevista em lei, o que se observa é a sua falta de sua
aplicabilidade, já que inúmeros são os casos de violência de todos os gêneros dentro dos
presídios brasileiros. Manter o preso com todas as garantias fundamentais seria utopia
maravilhosa de imaginar, infelizmente a realidade rebusca a verdadeira situação carcerária
brasileira, principalmente no que tange ao direito dos presos com deficiência.
Como previsto no inciso XLIX do caput do artigo 5° da Constituição Federal,
determina-se que: “XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;” 33
assim, todos somos iguais, devendo haver um tratamento justo conservando a integridade
física e moral independente do crime cometido, e/ou a situação física, sendo deficiente ou
não.
Além desses, cita-se, ainda, a preleção acerca dos direitos humanos do preso, trazida
pela Comissão Interamericana dos Direitos Humanos: 1- “Toda pessoa tem o direito de que se
respeite sua integridade física, psíquica e moral.” 34; 2-“Ninguém deve ser submetido a
torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da
liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.”35
31
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 970.
32
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Salvador: JusPodivm, 2019. p. 933.
33
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acessado: em 23 jun. 2021.
34
COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Convenção Americana Sobre Direito
Humanos - Artigo 5. Costa Rica: Organização dos Unidos. Disponível em:
<https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm>. Acessado em: 18 de jun. 2021.
35
COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Convenção Americana Sobre Direito
Humanos - Artigo 5. Costa Rica: Organização dos Unidos. Disponível em:
<https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm>. Acessado em: 18 de jun. 2021.
12
Outro artigo de extrema relevância trazido pela carta dos direitos humanos é o 29, no
qual se apresentam os pilares de direito e dever relacionados à liberdade: todo o ser humano
deve ter direitos e deveres para com a comunidade, ser livre a vontade de personalidade,
exercer a liberdade, exercer seus direitos. Afirma-se, ainda, que todo o ser humano está
sujeito a limitar-se a certos dispositivos de lei, seguindo a normativa para o equilíbrio. Além
desses, ainda são reconhecidos o respeito, moralidade, ordem pública e o bem-estar da
sociedade democrática. “Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser
exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.”36
Outro princípio de grande relevância no ordenamento jurídico brasileiro que possui
cunho muito próximo com a relação aos presídios é o da humanidade, a qual deve emergir e
transcender entre as pessoas, principalmente aquelas que se encontram em estado de
vulnerabilidade como é o caso dos presos e dos deficientes físicos/mentais.
Nestes termos, observa-se o princípio da humanidade no entendimento do doutrinador
Bitencourt, que o pontua como sendo um dos maiores princípios adotados no direito penal.
Sustenta-se que o poder de punir do Estado não pode atingir a dignidade da pessoa humana,
ou até mesmo lesionar a constituição frente aos apenados, as penas cruéis tiveram um fim por
um motivo, elas foram e continuam proibidas. O Estado, em verdade, deve adotar
infraestrutura carcerária e recursos que proporcionam um aprisionamento correto e não cruel.
A degradação e dessocialização pelas quais os presos passam não são maneiras de se cumprir
uma pena. Não é humano! Afrontam a humanidade destas pessoas e até mesmo da sociedade,
vindo a se questionar o Estado por não conseguir cumprir o papel de ressocializar. Observa-se
que entre os motivos estão a má administração e falta de humanidade.37
Infelizmente nem todos os reclusos são devidamente tratados com respeito, valor,
dignidade, entre outros preceitos mínimos resguardados por lei. O efeito sempre é o reverso,
tratamento de tortura, penas cruéis, sendo desumanas ou até mesmo degradantes. 38
Diante de todos esses problemas que assolam o cárcere brasileiro, outra situação
chama a atenção - a tamanha extensão de falta de senso de humanidade com os presos
possuidores de qualquer tipo de deficiência, os quais necessitam do mínimo de acessibilidade
para sua vida e dignidade, sem a qual é impossível se viver.
36
ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos - Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de
dezembro de 1948. Unicef. Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-
humanos>. Acessado em: 24 jun. 2021.
37
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p. 163.
38
RESOLUÇÃO 70/175. Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Reclusos - Regra 1.
Viena: UNODC, 2015. p. 3.
13
Neste ensejo, conceitua-se deficiência perante a lei como sendo impedimento a longo
prazo observado em uma pessoa, seja este de natureza física, mental, intelectual ou sensorial.
Já as acessibilidades são formas que possibilitam estas pessoas de alcançar a utilização de
mecanismos comuns à vida, de forma mais independente, sempre com segurança, seja na
comunicação, tecnologia, serviços para adaptação às suas limitações, podendo as mesmas
gozarem e exercerem seus direitos e liberdades fundamentais como os demais. Assim, pode-
se destacar a locomoção, direito de ir e vir, previsto na Constituição Federal. Aplicando a
acessibilidade a este direito, pode-se frisar que, havendo rampas nas ruas, não apenas meio fio
e escadas, em conjunto de equipamentos como cadeira de rodas, haveria a facilitação a esse
acesso de locomoção ao indivíduo deficiente. É exatamente isso que se pretende aplicar aos
apenados com necessidades especiais.39
Ademais, o artigo 15 da Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com
Deficiência apresenta que os Estados (países) tomarão medidas de efetividade legislativa,
judicial e/ou administrativa contra infringências a pessoas com deficiência no sistema
carcerário. Isto posto, é imperioso aplicar com eficácia a lei que assegura direitos, princípios,
preceitos de tratamento de penas, a fim de abolir por completo tais ilegalidades a pessoas
vulneráveis como os deficientes.40
Já o artigo nono da anteriormente citada convenção dispõe acerca da acessibilidade a
portadores de deficiência em estado em estado de vulnerabilidade.41
39
BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acessado em: 25 jun. 2021.
40
BRASIL. Decreto nº 6.949 de 25 de agosto de 2009 – Convenção Internacional sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência e seu protocolo Facultativo. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm>. Acessado em: 18 jun. 2021.
41
BRASIL. Decreto nº 6.949 de 25 de agosto de 2009 – Convenção Internacional sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência e seu protocolo Facultativo. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm>. Acessado em: 18 jun. 2021.
42
FONSECA, Francisco de Assis Araújo da. A pessoa com deficiência e o cumprimento de pena privativa de
liberdade. JusBrasil. Disponível em: <https://assisfonseca.jusbrasil.com.br/artigos/111957701/a-pessoa-com-
deficiencia-e-o-cumprimento-de-pena-privativa-de-liberdade>. Acessado em: 24 jun. 2021.
14
encarceradas, dispostos nos arts. 82, §1°, e 83, §§2° e 3°, da LEP. Estes tratam, ainda, sobre
“gênero, cor ou etnia, orientação sexual, idade, maternidade, nacionalidade, religiosidade e
deficiências física e mental, no contexto prisional (art. 4°, II, da Portaria).” 43 (grifo nosso).
Contudo, diverso do final da citação acima acerca de deficiência física e mental, o que
ocorre na prática, o retrato do cenário do cárcere brasileiro, é bem diferente do que o
preconizado pela letra da lei.
No artigo 4°, é prevista como metas da PNAMPE, no inciso IV, a promoção de ações
voltadas aos cuidados prisionais, garantindo segurança, regramento disciplinar e escolta, bem
como diferenciar os cuidados com pessoas com deficiência.44
Compete o direito de cuidados por parte do Estado frente aos deficientes, as seguintes
diretrizes da norma: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de
deficiência;(...).”45
Recentemente, foi realizada a ADPF- Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental n° 347, a qual formulou o termo de estado de inconstitucionalidade em
decorrência de violação de direitos fundamentais aos presos, principalmente a dignidade.
Dessa forma, então, o Estado responde pela falta de aplicação das leis por ferir preceito
constitucional previsto. 46
Já os argumentos formulados pela ADPF giram em torno das graves lesões à direitos
básicos dos encarcerados. Assim, nestes termos, elucida-se que, embora não seja o papel do
judiciário envolver em políticas públicas de implementação nas cadeias, os fatores das
precariedades estão grandes, principalmente no que concerne aos deficientes, por serem um
grupo de vulnerabilidade. Devido a isso, houve a intervenção jurisdicional. Assim, verifica-se
que o cárcere brasileiro possui várias falhas, como o da violação dos direitos fundamentais
dos presos. Desta forma, é visível que o poder público não realiza seu papel de adequação
para resolvê-las e, claro, este assunto nunca desperta simpatia na opinião pública, o que
poderia melhorar a realidade da sociedade carcerária.47
43
LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação Criminal Especial Comentada. Salvador: Jus Podivm, 2020. p. 138.
44
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Portaria Interministerial nº 210, de 16 de janeiro de 2014. Brasília: Diário
Oficial, 2014.
45
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acessado em: 23 jun. 2021.
46
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Salvador: JusPodivm, 2019. p. 951.
47
PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental com
pedido de concessão de medida cautelar. Rio de Janeiro: ADPF-347, 2015. p. 19-20.
15
Continua-se afirmando que as “desculpas não faltam para se manter a prisão nesse
estado de coisas inconstitucional, como reconheceu o próprio STF, na ADPF 347, e uma delas
é o eterno argumento de que a prisão é o caos conhecido por todos por culpa do poder
executivo.”48
Até mesmo o STF – Supremo Tribunal Federal - resolveu por flexibilizar as visões de
abstrato e concreto, quando se denomina o sistema nacional penitenciário, sendo que a prática
é inconstitucional, viola a dignidade da pessoa humana, infringe os dispositivos da LEP-Lei
de Execução Penal, não aplicando as garantias essenciais do preso e, claro, violando o Estado
Democrático de Direito que, neste caso, observa-se que não há para os apenados.49
O objetivo desta pesquisa é alavancar a absoluta ilegalidade e inconstitucionalidade
existente dentro do cárcere brasileiro, deixando a incógnita dos apenados de que se a morte
seria mais digna que viver neste sistema em que abandono e violência são duas situações
muito recorrentes, seja a violência moral, física ou de direitos. Nessa realidade, as prisões
nada mais são do que um vale das sombras.50
Em sequência, o artigo 88 da LEP 51 apresenta como devem ser as instalações do
presídio dentro do dormitório. Ocorre que, conforme dados do CNJ, as situações são um
pouco diversas do disposto em lei. Nesta esteira, observa-se o seguinte trecho:
48
VALOIS, Luís Carlos. Processo de execução penal e o estado de coisas inconstitucional. Belo Horizonte:
D’Plácido, 2019. p. 16.
49
VALOIS, Luís Carlos. Processo de execução penal e o estado de coisas inconstitucional. Belo Horizonte:
D’Plácido, 2019. p. 26.
50
ABU-JAMAL, Mumia. Partido dos Panteras Negras, 1995. p. 45 apud VALOIS, Luís Carlos. Processo de
execução penal e o estado de coisas inconstitucional. Belo Horizonte: D’Plácido, 2019. p. 11.
51
BRASIL. Lei n° 7.210, de 11 julho de 1984. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acessado em: 30 jun 2021.
52
CASTRO, Bruno Ronchetti. Relatório de Gestão – Supervisão do Departamento de Monitoramento e
Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de medidas Socioeducativas DMF. Brasília:
Conselho Nacional de Justiça, 2017. p. 29.
16
deficiência sem acessibilidade, falta de humanidade, dignidade sem tamanho, direitos que
estão devidamente previstos em leis que não são aplicadas.
Em apenas 12 estados do país há alojamentos compatíveis com as condições de
deficiência e acessibilidade. “Nesses estados pode até haver vagas que se coadunem com as
facilidades inerentes à acessibilidade, mas as pessoas que se encaixam nessas vagas não estão
alocadas nessas celas.” 53
É visível uma integração íntima que liga o princípio da dignidade da pessoa humana
com o direito penal, devendo o criminoso receber essa dignidade, bem como a vítima,
abrangendo toda a sociedade, independente do que se realizou, pois todos são dignos de
direitos, respeito, cabendo ao Estado aplicar isso de forma pontuada.54
Os dados mais recentes acerca do tema, de 2018, indicam que existem atualmente
cerca de 6 (seis) mil presos com deficiência, e apenas 11% destes presos possuem de fato
alojamentos adaptáveis, o restante fica à mercê das celas insanas oferecidas pelo estado. 55
Mas esta precariedade não ocorre apenas nos presídios brasileiros, sendo muito
recorrente em outros países. Assim, na Colômbia, por exemplo, a situação não é muito
diferente, como exposto pelo trecho acerca de como se manifesta a atual situação carcerária
no referido país:
53
CASTRO, Bruno Ronchetti. Relatório de Gestão – Supervisão do Departamento de Monitoramento e
Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas DMF. Brasília:
Conselho Nacional de Justiça, 2017. p. 36.
54
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. p.
134.
55
POLETTI, Luma. Brasil tem quase 6 mil presos com deficiência e apenas 11% estão em prisões
adaptadas. Ponte. Disponível em: <https://ponte.org/brasil-tem-quase-6-mil-presos-com-deficiencia-e-apenas-
11-estao-em-prisoes-adaptadas/>. Acessado em: 01 jul. 2021.
17
56
REPÚBLICA DE COLOMBIA. Sentencia T-153/98. Bogotá: Corte Constitucional, 1998. Corte
Constitucional. Disponível em: <https://www.corteconstitucional.gov.co/relatoria/1998/t-153-98.htm>. Acessado
em: 28 jun. 2021.
18
forma, o Estado possui sua parcela de culpa frente a abusos cometidos por ele, mesmo em não
conceder o mínimo de respeito aos presos.57
Na mesma senda, elucida outro abuso cometido dentro das instalações - a falta
acessibilidade -, necessária para atender os presos na locomoção e convivência no sistema
com o mínimo de dignidade.
61
MACIEL, Antonia Kátia Soares. A ótica dos professores sobre acessibilidade a educandos com deficiência
nas prisões do Ceará. Universidade Federal do Ceará: 2012. p. 30. Disponível em:
<http://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/29209/1/2012_tcc_aksmaciel.pdf>. Acessado em: 01 jul. 2021.
62
SPINIELI, André Luiz Pereira. MANGE, Flávia Foz. As condições de acessibilidade arquitetônica para a
pessoa com deficiência física no ambiente prisional: notas de direito comparado entre Brasil e Itália.
Revista de Estudos Jurídicos UNESP: Franca, 2017. p. 364.
63
SPINIELI, André Luiz Pereira. MANGE, Flávia Foz. As condições de acessibilidade arquitetônica para a
pessoa com deficiência física no ambiente prisional: notas de direito comparado entre Brasil e Itália.
Revista de Estudos Jurídicos UNESP: Franca, 2017. p. 380.
64
GARBELINI, S.M. Arquitetura prisional, a construção de penitenciárias e a devida execução penal. p.
152 apud SPINIELI, André Luiz Pereira. Prisão e acessibilidade: uma análise da situação de pessoas com
deficiência no cárcere brasileiro. Revista Ratio Juris: Revista Eletrônica, 2019. p. 144. Disponível em:
<https://www.redalyc.org/jatsRepo/5857/585763965006/585763965006.pdf>. Acessado em: 04 jul. 2021.
20
65
SPINIELI, André Luiz Pereira. Prisão e acessibilidade: uma análise da situação de pessoas com
deficiência no cárcere brasileiro. Revista Ratio Juris: Revista Eletrônica, 2019. p. 144. Disponível em:
<https://www.redalyc.org/jatsRepo/5857/585763965006/585763965006.pdf>. Acessado em: 03 jul. 2021.
66
MARONI, João Rodrigo. Prisão onde 100% dos detentos trabalham e estudam? Existe, e fica no Brasil.
Gazeta do Povo. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/justica/prisao-onde-100-dos-detentos-
trabalham-e-estudam-existe-e-fica-no-brasil-0h3sil0asliz2bgm0tuzrtnf2/>. Acessado em: 05 jul. 2021.
67
RBSTVSC. Presos cadeirantes participam de programa de trabalho em Itajaí. G1. Disponível em:
<http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2013/08/presos-cadeirantes-participam-de-programa-de-trabalho-
em-itajai.html>. Acessado em: 04 jul. 2021.
21
oferecer o que de fato está previsto na LEP, Lei 7.210 de 1984, o que em regra é quase uma
utopia frente a outras penitenciárias brasileiras. 68
Através de parceria realizada com o Governo do Paraná, o Tribunal de Justiça do
Paraná e “Penitenciária Central do Estado – Unidade de Progressão (PCE-UP) - observa-se o
69
que, hoje, é o principal exemplo desse modelo de presídio no país.” Mesmo assim, apesar
da excelência no trabalho, não atende às reais necessidades de deficientes, ficando evidente a
discriminação a esta classe.
É por conta desta escassez de locais adequados que o sistema carcerário do país se
encontra neste caos. Sem citar que, mesmo os parcos locais existentes com um pouco mais de
infraestrutura atendem à população carcerária em geral, e não apenas aos portadores com
alguma deficiência.
Neste ensejo, são observadas APACS- Associação de Proteção e Assistência aos
Condenados - que possuem o diferencial de trazer tratamento “psicossocial e boas condições
para a ressocialização do detento, que são chamados de recuperados. As regras de disciplina,
entretanto, são rígidas, e ao preso são dadas várias responsabilidades.”70
As celas, que são individuais, têm sete metros quadrados e possuem dormitório,
sanitário, chuveiro, pia, mesa e assento. O chuveiro liga em horário pré-
determinado, uma vez por dia. Já a comida é servida por uma portinhola. Depois a
bandeja é recolhida e inspecionada. Até o lixo que os presos produzem é vistoriado.
Na cela são permitidas somente leituras de livros, revistas ou apostilas de cursos.
Nada de televisão ou outro aparelho eletrônico. Até as visitas íntimas foram
proibidas.71
Mas o que se frisa é que esse tipo de situação ainda não é o esperado pelo país, que
necessita urgentemente de assistência diferenciada - assistência aos detentos em geral por
terem seus direitos suprimidos, bem como aos deficientes por terem uma situação muito pior.
68
MARONI, João Rodrigo. Prisão onde 100% dos detentos trabalham e estudam? Existe, e fica no Brasil.
Gazeta do Povo. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/justica/prisao-onde-100-dos-detentos-
trabalham-e-estudam-existe-e-fica-no-brasil-0h3sil0asliz2bgm0tuzrtnf2/>. Acessado em: 05 jul. 2021.
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MARONI, João Rodrigo. Prisão onde 100% dos detentos trabalham e estudam? Existe, e fica no Brasil.
Gazeta do Povo. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/justica/prisao-onde-100-dos-detentos-
trabalham-e-estudam-existe-e-fica-no-brasil-0h3sil0asliz2bgm0tuzrtnf2/>. Acessado em: 05 jul. 2021.
70
MARONI, João Rodrigo. Prisão onde 100% dos detentos trabalham e estudam? Existe, e fica no Brasil.
Gazeta do Povo. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/justica/prisao-onde-100-dos-detentos-
trabalham-e-estudam-existe-e-fica-no-brasil-0h3sil0asliz2bgm0tuzrtnf2/>. Acessado em: 05 jul. 2021.
71
MARONI, João Rodrigo. Prisão onde 100% dos detentos trabalham e estudam? Existe, e fica no Brasil.
Gazeta do Povo. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/justica/prisao-onde-100-dos-detentos-
trabalham-e-estudam-existe-e-fica-no-brasil-0h3sil0asliz2bgm0tuzrtnf2/>. Acessado em: 05 jul. 2021.
22
Para enfatizar a situação de como são tratados e “não cuidados” os presos com
deficiência, apresenta-se a história de um tetraplégico comandante do tráfico de drogas no
Espírito Santo - Siri (Ciro Batista de Oliveira) de 39 anos.
Algumas palavras relatadas pelo detento seguem no sentido de que, ao adentrar em um
presídio, a maioria dos detentos tentam se unir aos internos a fim de ter proteção. Todavia,
quando se é deficiente, a necessidade dobra: “Quando há um preso com deficiência de
locomoção, como paraplégicos ou tetraplégicos, são os próprios colegas de cela que
organizam quem fica responsável por ele e como cada um pode ajudar. [...]”
Nesse sentido, os detentos são bem solidários. A própria unidade escolhe uma cela
com presos mais dispostos a ajudar, ou onde haja alguém com deficiência, e avisa
sobre a chegada do detento que, por algum motivo, não pode andar. Além disso, são
priorizadas as celas com menor número de presos. Um local onde haja a garantia de
que o detento com deficiência vai ter uma cama, sem precisar ficar em um colchão
no chão. Os próprios presos se organizam para colaborar e decidem quem vai ficar
responsável por ajudar na locomoção.72
Em uma das falas trazidas pelo inspetor da penitenciaria, é visível que a locomoção
dos presos com deficiência é enorme, havendo dificuldade na hora do banho de sol. Além
disso, em sua grande maioria, não contam com suporte e muitas das cadeiras de rodas são
adquiridas pelos familiares, quando estes têm condições; caso contrário, os detentos com
deficiência ficam jogados nas camas, por não haver recursos do Estado para promover
mínimo de direitos e dignidade.73
Os presos necessitam de cuidados especiais, passar por avaliações de equipes
especializadas, assistência médica 24 (vinte quatro) horas por dia, até haver um parecer do
poder judiciário quanto à situação destes presos. Contudo, estes tipos de coisas ocorrem de
forma lenta. Enquanto isso, os direitos, princípios e preceitos são totalmente negligenciados
pelo Estado, o que o torna, sim, responsável, pois deveria haver políticas para evitar ou
amenizar a situação. Infelizmente, os direitos vigentes deixam de ser aplicados pelo mesmo
detentor que os criou, o que novamente torna o Estado principal causador dos danos.74
72
CARVALHO, Elias. Entenda como é a rotina de um tetraplégico dentro da prisão no ES. A Gazeta.
Disponível em: <https://www.agazeta.com.br/es/policia/entenda-como-e-a-rotina-de-um-tetraplegico-dentro-da-
prisao-no-es-1019>. Acessado em: 07 jul. 2021.
73
CARVALHO, Elias. Entenda como é a rotina de um tetraplégico dentro da prisão no ES. A Gazeta.
Disponível em: <https://www.agazeta.com.br/es/policia/entenda-como-e-a-rotina-de-um-tetraplegico-dentro-da-
prisao-no-es-1019>. Acessado em: 07 jul. 2021.
74
CARVALHO, Elias. Entenda como é a rotina de um tetraplégico dentro da prisão no ES. A Gazeta.
Disponível em: <https://www.agazeta.com.br/es/policia/entenda-como-e-a-rotina-de-um-tetraplegico-dentro-da-
prisao-no-es-1019>. Acessado em: 07 jul. 2021.
23
75
ROSA, Leonardo Alfredo. Políticas públicas para os apenados com deficiência física: uma análise das
garantias socioestruturais e fundamentais existentes na penitenciária sul de Criciúma/SC. Universidade do
Extremo Sul Catarinense: Criciúma, 2020. p. 14. Disponível
em:<http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/7690/1/Leonardo%20Alfredo%20da%20Rosa.pdf>. Acessado em:
08 jul. 2021.
76
ROSA, Leonardo Alfredo. Políticas públicas para os apenados com deficiência física: uma análise das
garantias socioestruturais e fundamentais existentes na penitenciária sul de Criciúma/SC. Universidade do
Extremo Sul Catarinense: Criciúma, 2020. p. 14. Disponível
em:<http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/7690/1/Leonardo%20Alfredo%20da%20Rosa.pdf>. Acessado em:
08 jul. 2021.
77
“O PL 4.008/2019, da senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP), acrescenta esse dispositivo à Lei de Execução
Penal (Lei 7.210, de 1984). Segundo o projeto, caberá ao Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) custear as
adequações que precisarem ser feitas em presídios para os detentos com necessidades especiais” - AGÊNCIA
SENADO. Projeto garante a preso com deficiência o cumprimento da pena em local adaptado. Senado
Notícias. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/08/02/projeto-garante-a-preso-
com-deficiencia-o-cumprimento-da-pena-em-local-adaptado>. Acessado em: 09 jul. 2021.
78
GABRILLI, Mara. Justificação do Projeto de Lei nº 4008, de 2019. Senado Federal, 2019. p. 4. Disponível
em: <https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?
dm=7978706&ts=1624912065271&disposition=inline>. Acessado em: 04 jul. 2021.
79
SPINIELI, André Luiz Pereira. As condições de acessibilidade em geral às pessoas com deficiência no
ambiente carcerário. Unifor: Formiga, 2019. p. 122.
24
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
80
ROSA, Leonardo Alfredo. Políticas públicas para os apenados com deficiência física: uma análise das
garantias socioestruturais e fundamentais existentes na penitenciária sul de Criciúma/SC. Universidade do
Extremo Sul Catarinense: Criciúma, 2020. p. 133. Disponível em:
<http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/7690/1/Leonardo%20Alfredo%20da%20Rosa.pdf>. Acessado em: 08
jul. 2021.
25
Com isto, o objetivo central do trabalho e sua resolução para o problema foram
demonstrados na presente pesquisa.
As críticas possuem o condão de noticiar à população em geral que, apesar de
criminosos, os detentos possuem direito a um cenário digno nos presídios. Esses presos são
pessoas sem voz nas grandes galerias do sistema público - angústia, desespero, raiva,
inconformismo, revolta são alguns dos sentimentos aferidos pelos apenados, sendo que a
cadeia deveria trazer o oposto destes sentimentos, já que, na teoria, é um local de reflexão,
mudança, ressocialização. Importa salientar ser este um cenário que afeta toda a sociedade.
Por fim, o texto promoveu apresentar a problemática e formas de resolução da mesma,
bem como um pouco do que acontece no dia a dia do cárcere brasileiro, tanto no sentido geral
como aos deficientes sem qualquer acessibilidade para viver no cárcere.
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das pernas. Edição eletrônica: Ridendo Castigat Mores,
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