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A INEFICIÊNCIA ESTATAL SOBRE A APLICABILIDADE DOS DIREITOS


HUMANOS AOS DEFICIENTES ALOCADOS NO SISTEMA CARCERÁRIO

THE STATE INEFFICIENCY ON THE APPLICABILITY OF HUMAN RIGHTS TO


THE DISABLED ALLOCATED IN THE PRISON SYSTEM

Ana Carla Andrade Canosa1


Gustavo Santana do Nascimento2

Resumo
O presente trabalho possui a intenção de realizar uma investigação sobre a responsabilidade
do Estado na aplicação dos direitos do preso possuidor de necessidades decorrentes de
deficiências. Para isto se estabelece o seguinte Problema de Pesquisa: Considerando a
responsabilidade do Estado como garantidor de direitos essenciais a todas as pessoas, existem
políticas de infraestrutura carcerária para garantir acessibilidade a deficientes alocados no
sistema penitenciário brasileiro? Com a finalidade de responder tal questionamento,
apresenta-se o Objetivo Geral, direcionado a esclarecer as atitudes estatais representadas por
políticas públicas, com a intenção de realizar esta garantia essencial e como a situação se
estabelece de fato. Para alcançar o referido objetivo, estabelecem-se os seguintes Objetivos
Específicos: I – Apresentar os princípios e direitos humanos atinentes aos apenados, em
especial aos possuidores de deficiências; II – Verificar o julgamento do estado de coisas
inconstitucional, a aplicação da Lei de Execução Penal, bem como, a legislação constitucional
e internacional acerca dos direitos dos apenados deficientes; e III – Analisar os principais
problemas do sistema carcerário, as políticas públicas ou a falta delas no interesse de garantir
os direitos dos deficientes, no cenário da população carcerária atual. Atendidos os objetivos,
conclui-se que, por melhores que sejam as disposições legais acerca das garantias
fundamentais dos presos com deficiência, ainda não há políticas públicas aplicáveis, para
indicar um sistema carcerários eficiente no atendimento das necessidades dos portadores de
necessidades especiais. Por fim, utilizou-se a metodologia argumentativa, interpretativa,
dedutiva, indutiva e investigativa na pesquisa e na e produção textual.

Palavras-chave: Deficientes. Acessibilidade. Cárcere Brasileiro. Ineficiência Estatal.


Políticas Públicas.

Abstract
The present work intends to carry out an investigation on the responsibility of the State in the
application of the rights of prisoners with needs arising from disabilities, for this purpose the
following Research Problem is established: Considering the State's responsibility as guarantor
1
Acadêmica do Curso de Direito pela Faculdade Católica de Rondônia. Cursando o 9° período. RA: 20171085,
com endereço eletrônico pessoal: <anacarlacanosa@gmail.com>. Endereço eletrônico institucional:
<ana.canosa@sou.fcr.edu.br>.
2
Mestrando em Ciência Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), em convênio com a Faculdade
Católica de Rondônia (FCR). Pós-graduando em Direito Penal Econômico pela Universidade de Coimbra/PT.
Graduado em Direito pela Faculdade Católica de Rondônia (FCR). Professor auxiliar da Faculdade Católica de
Rondônia (FCR). Advogado. Coordenador-Adjunto do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais em Rondônia.
Com endereço eletrônico: <gustavo.nascimento@fcr.edu.br>.
2

of essential rights for all people, are there prison infrastructure policies to guarantee
accessibility for the disabled in the Brazilian penitentiary system? In order to answer this
question, the General Objective is presented, aimed at clarifying state attitudes, represented by
public policies with the intention of realizing this essential guarantee and how the situation is
actually established. In order to achieve this objective, the following Specific Objectives are
established: I – present the principles and human rights pertaining to inmates, in particular,
those with disabilities. II - verify the judgment of the unconstitutional state of affairs, the
application of the Criminal Execution Law, as well as the constitutional and international
legislation on the rights of disabled inmates and III - analyze the main problems of the prison
system, public policies or lack of them in the interest of guaranteeing the rights of the
disabled, in the context of the current prison population. Having met the objectives, it is
concluded that, no matter how good the legal provisions regarding the fundamental guarantees
for prisoners with disabilities, there are still no applicable public policies to indicate an
efficient prison system in meeting the needs of people with special needs. Finally, the
argumentative, interpretive, deductive, inductive and investigative methodology was used in
research and textual production.

Key-words: Disabled. Accessibility. Brazilian prison. State inefficiency. Public policy.

1 INTRODUÇÃO

O cárcere brasileiro atualmente é um verdadeiro caos - superlotação, presos alocados


juntamente a outros sem haver distinção das naturezas de crimes cometidos, deficientes com
outros presos sem deficiência, além de haver a falta de higiene, instalações sem acessibilidade
a pessoas portadoras de necessidades especiais, falta de alimentação básica e inúmeros presos
provisórios sem o devido julgamento transitado em julgado.
Outrossim, será abordada a infringência aos direitos humanos, Lei de Execução Penal,
Constituição Federal, entre outras leis que não estão sendo aplicadas com a devida eficácia
que deveriam.
O Estado é garantidor das pessoas com deficiência, seja em lei própria ou na própria
execução de pena, devendo ser aplicadas instalações adequadas comportando sua deficiência,
porém isso não é algo que de fato é visto na prática.
O que acontece é o acumulo de pessoas de todas as formas possíveis, em uma única
ala, cela, não comportando as reais necessidades que deveriam.
Diante do referido cenário, o PROBLEMA DE PESQUISA se evidencia: Como o
Estado, garantidor constitucional dos direitos fundamentais, possuidor de todos os meios
legais para implementar políticas de infraestrutura carcerária, age para viabilizar a mínima
assistência aos deficientes presos das cadeias e penitenciárias do país?
Com o referido questionamento, o OBJETIVO GERAL é exposto para esclarecer a
atuação prática do Estado, a elaboração de políticas públicas e a concretização das mesmas,
3

em um cenário em que o sistema prisional já se encontra tumultuado na garantia dos mínimos


direitos essenciais aos presos sem qualquer deficiência.
Para chegar ao objetivo geral, foram delimitados OBJETIVOS ESPECÍFICOS, quais
sejam: a) Um estudo dos fatores históricos do sistema prisional brasileiro; b) A verificação de
princípios e direitos humanos, em face das legislações constitucionais, internacionais e
infraconstitucionais acerca do direito dos deficientes; c) A análise do julgamento do estado de
coisas inconstitucional; d) Um estudo sobre o cenário atual do sistema carcerário, das
políticas públicas que estão sendo aplicadas e o problema de superlotação e falta de
infraestrutura que afetam especialmente os deficientes apenados.
Em conclusão, não se pôde indicar que as políticas públicas empregados atualmente
são suficientes para garantir a acessibilidade, infraestrutura ou quaisquer outros direitos dos
apenados deficientes. As legislações não têm previsão de medidas eficazes de uma mudança
eficientes, por isso não se pode dizer que o preso deficiente no Brasil tem seus direitos
fundamentais mínimos garantidos.
O trabalho foi redigido respeitando as normas da ABNT-Associação Brasileira
Normas e Textos, as normas da FCR-Faculdade Católica de Rondônia, bem como seguindo os
preceitos quanto à autoria da escrita nos limites aceitos pelo MEC-Ministério da Educação e
Cultura. Além disso, aplicou-se a metodologia interpretativa, investigativa e dedutiva na
pesquisa de trabalho, e argumentativa e indutiva na produção textual, prestigiando critérios
qualitativos em preferência aos quantitativos, empregados com respeito à forma de pesquisa.
Aplicou-se preferencialmente uma pesquisa a textos doutrinários - livros em e-book,
leis do Planalto Federal, legislações e tratados internacionais, artigos científicos, bem como
pesquisa de extensão no Google Acadêmico, artigos de opinião, revistas, dentre outros.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Parte histórica e evolutiva do sistema penitenciário brasileiro

O presente tópico tem o intuito de apresentar a sistemática das cadeias brasileiras em


um sentido histórico e evolutivo até os dados atuais. É claro que importa relatar o que de fato
é a pena e o poder de punir aplicado pelo Estado, para só assim apresentar uma linha temporal
do sistema prisional, o qual chegou em um grande colapso de suas instalações, tendo
consequências extremamente negativas aos encarcerados. Ademais, é necessário elucidar
4

pontos negativos que são revertidos de maneira indireta à sociedade e ao Estado, também com
a má administração e adequação dos presídios brasileiros.
Assim, nas palavras do Doutrinador Aury Lopes Junior, observa-se o entendimento do
poder e dever de punir, por meio dos quais, consequentemente, surgiu o cárcere, com vistas à
aplicação na prática desta punição do Estado em face aos delinquentes:

A titularidade exclusiva por parte do Estado do poder de punir (ou penar, se


considerarmos a pena como essência do poder punitivo) surge no momento em que é
suprimida a vingança privada e são implantados os critérios de justiça. O Estado,
como ente jurídico e político, avoca para si o direito (e o dever) de proteger a
comunidade e também o próprio réu, como meio de cumprir sua função de procurar
o bem comum, que se veria afetado pela transgressão da ordem jurídico-penal, por
causa de uma conduta delitiva.3

Assim, “O conjunto de todas essas pequenas porções de liberdade é o fundamento do


direito de punir. Todo exercício do poder que se afastar dessa base é abuso e não justiça; é um
poder de fato e não de direito; é uma usurpação e não mais um poder legítimo.”4
Sendo o Estado o detentor do dever de punição, consequentemente deve realizar a
abertura de estruturas novas e devidamente equipadas para abrigar as prisões de restrições de
liberdade, neste caso as cadeias, presídios e afins.
Mas, antes de chegar às prisões atuais, importa salientar a origem das prisões na
antiguidade. A pena prisão teve a origem em tempos de igreja, mais precisamente nos
mosteiros da Idade Média. Na época, as punições sempre eram feitas pelas autoridades da
igreja, neste caso os monges, e a cela era local para reflexão e silêncio, para a reconciliação
com Deus. Por conta disso, surgiu a ideia de construir a primeira prisão em Londres, nos anos
de 1550 a 1552, difundida no século XVIII. Todavia, a prisão não era bem uma restrição de
liberdade, a pena privativa de liberdade surgiu na Holanda, a partir do século XVI, quando foi
realizada a Rasphuis de Amsterdã, por volta dos anos de 1595.5
Já no Brasil, o sistema penitenciário teve início com a “Carta Régia de 8 de julho de 1796”, que
determinou a construção da Casa de Correção da Corte. Porém, foi apenas em 1834 que começaram
as construções da Casa de Correção na capital do país, na época na cidade do Rio de Janeiro”.6

3
LOPES JUNIOR, Aury. Fundamentos do Processo Penal. 5º. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. p. 47.
4
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Edição eletrônica: Ridendo Castigat Mores, 1764. p. 11.
5
AQUINO, Rubim Santos Leão de. História das sociedades: das sociedades modernas às sociedades atuais.
32ª ed., Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1995 apud MISCIASCI, Elizabeth. Sistema Prisional. Revista
Eunanet. Disponível em: <http://www.eunanet.net/enn/revistaeunanet/sistema-prisional/?4/inicio-das-prisoes>.
Acesso em 19 jun. 2021.
6
GRUPO DE MONITORAMENTO E FISCALIZAÇÃO DO SISTEMA CARCERÁRIO. Histórico. Tribunal
de Justiça do Estado Do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://gmf.tjrj.jus.br/historico>. Acesso em 19 jun.
2021.
5

Anos mais tarde, em “6 de julho de 1850, houve o surgimento de prisões com celas
individuais e com arquitetura apropriada para a pena de prisão no Brasil, a qual teve início a
partir do século XIX.”7
Depois disso, o país foi se moldando conforme a necessidade. Ocorre que,
infelizmente, não se moldou como deveria, pois a criminalidade continuou a existir. Por outro
lado, as instalações públicas - sejam elas, municipais, estaduais ou federais - pararam,
estagnaram suas construções, quando na verdade deveriam crescer nas mesmas proporções
dos crimes. É claro que não se está afirmando que parou por completo, todavia não evoluiu no
mesmo nível que as punições, fazendo com que desencadeasse na superlotação, entre outras
negatividades que serão acentuadas mais adiante.
As casas de correções abrigavam um grande complexo. Houve a casa de correção de
1850, a casa de detenção de 1856 e, por fim, o calabouço, onde ficavam apenas escravos, no
ano de 1857. Estas eram as prisões daquela época e as maneiras de punir na antiguidade. Já a
pena era baseada em castigo físico, conforme disposto no antigo código criminal de 1830. 8
O mais interessante, se assim se pode dizer, são os termos ouvidos naquela época,
como “calabouço”. Mas as prisões atuais não são muito diferentes, entulhadas de presos, em
lugares úmidos, escuros, sem espaço, luz do dia, pouca ou quase zero higiene, e alimentação
muito similar aos tempos antigos. A diferença é que, atualmente, a sociedade é outra -
diferente de antes, hoje em dia não há escravos, e inúmeras são as leis protetoras de direito
dos presos; todavia, elas não são aplicadas com real resultado.
Este tipo de tratamento na antiguidade e formas de aprisionamento vigoraram até o
surgimento do código penal do império, que sofreu as primeiras influências liberais das penas
europeias e dos EUA. “Assim, ao passo que a legislação evoluía, o Código Criminal do
Império passou a ser respeitado como um monumento jurídico brasileiro, tido como um dos
diplomas legais que contribuiu substancialmente com o direito nacional e de outros países.” 9
Para fácil entendimento de como se dividem os locais de reclusão, vale citar que “O
sistema carcerário no Brasil se divide em algumas categorias: penitenciárias, presídios,

7
GRUPO DE MONITORAMENTO E FISCALIZAÇÃO DO SISTEMA CARCERÁRIO. Histórico. Tribunal
de Justiça do Estado Do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://gmf.tjrj.jus.br/historico>. Acesso em 19 jun.
2021.
8
SILVA, Marilene Rosa Nogueira da. Em foco a galeria dos condenados da casa de correção. OpenEdition
Journals. Disponível em: <https://journals.openedition.org/orda/2266>. Acesso em 19 jun. 2021.
9
VITTO, Dayonara Bardini. A atual superlotação no sistema prisional brasileiro e a possibilidade de
cumprimento de pena em regime domiciliar decorrente da ausência de vagas em estabelecimento prisional
adequado. Criciúma: UNESC, 2015. p. 14.
6

cadeias públicas, cadeiões, casas de detenção e distritos ou delegacias policiais, colônias


agrícolas entre outras.”10
Atualmente o Brasil possui a quarta maior população carcerária do mundo. O pior de
estar neste patamar no ranking é saber que só aumentam o número de presos; assim, podendo
piorar esta classificação, já que a mesma foi realizada no ano de 2015 pelo Ifopen – Sistema
Integrado de Informações Penitenciarias. Segundo estes dados, o país teve um acréscimo de
161% nos últimos quinze anos, mas as últimas pesquisas apresentam que os números quase
triplicaram após o ano informado. 11
Já dados mais recentes, entre 2020 e 2021, mostram que o sistema carcerário teve mais
um grande aumento de quase cinquenta mil presos dos já existentes, conforme a última
citação exposta, passando para o patamar de 656.781 (presos). Em contrapartida, a realidade
das vagas é outra - o número é de apenas 447.203. Isto posto, verifica-se o porquê da
superlotação e a grande precariedade do sistema carcerário brasileiro. 12
As leis aumentaram, muitos crimes foram tipificados, contudo o crescimento da
construção de centros carcerários não evoluiu como a criminalidade. Outrossim, vale ressaltar
que os números frente a presos com deficiência são piores ainda. “Segundo dados do
Conselho Nacional de Justiça, o Brasil conta com 2.513 estabelecimentos prisionais
cadastrados, possuindo 447.203 vagas projetadas, mas comportando, em 2021, o total de
656.781 presos.”13
Atualmente existe um banco nacional de mandados de prisão pelo sistema do CNJ-
Conselho Nacional de Justiça, que auxilia a justiça no controle de mandados em aberto. Esta
ajuda pode ser feita por meio da busca pela população, bem como através da verificação de
pessoas descumprindo e/ou desaparecidas com mandados, sendo uma política criminal para o
encarceramento e controle dos mesmos. Porém, política para as infraestruturas com
acessibilidade ou dignidade não são suscitadas.

10
MESQUITA, Márcio. História das Prisões. Administradores.com. Disponível em:
<https://administradores.com.br/artigos/historia-das-prisoes>. Acesso em 19 jun. 2021.
11
CARTA CAPITAL. Encarceramento em massa: ineficaz, injusto e antidemocrático. Disponível em:
<https://www.cartacapital.com.br/sociedade/encarceramento-em-massa-ineficaz-injusto-e-antidemocratico/>.
Acesso em 19 jun. 2021.
12
G1. Com 322 encarcerados a cada 100 mil habitantes, Brasil se mantém na 26ª posição em ranking dos
países que mais prendem no mundo. Disponível em:
<https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2021/05/17/com-322-encarcerados-a-cada-100-mil-
habitantes-brasil-se-mantem-na-26a-posicao-em-ranking-dos-paises-que-mais-prendem-no-mundo.ghtml>.
Acesso em 19 jun. 2021.
13
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Painel de dados sobre as inspeções penais sobre especificações
prisionais. CNJ. Disponível em: <https://paineisanalytics.cnj.jus.br/single/?appid=e28debcd-15e7-4f17-ba93-
9aa3ee4d3c5d&sheet=985e03d9-68ba-4c0f-b3e2-3c5fb9ea68c1&lang=pt-BR&opt=ctxmenu,currsel>. Acesso
em 19 jun. 2021.
7

O Banco Nacional de Mandado de Prisão (BNMP) foi instituído pela Lei n.


12.403/2011, que acrescentou o artigo 289-A ao Código de Processo Penal e foi
regulamentado pela Resolução n. 137/2011 do Conselho Nacional de Justiça. Trata-
se de sistema mantido pelo CNJ voltado ao registro das ordens de prisão decretadas
pelas autoridades judiciárias no país. A sua instituição teve por finalidade facilitar o
conhecimento de ordens de prisão vigentes por qualquer interessado e o
cumprimento de diligências por parte das autoridades policiais, assim como auxiliar
os juízes no exercício de sua jurisdição. 14

Assim, mais uma normativa para o aprisionamento, e nenhuma para realizar a


reorganização e estrutura para ampliar os presídios e trazer dignidade aos presos.
Em uma pesquisa há cerca de três anos, no ano de 2018, observou-se que havia dentro
do sistema prisional 20215 pessoas presas com deficiência. É evidente que os números atuais,
colhidos pelo sistema da CNJ, só aumentam.
Nestes termos, observa-se que, na maioria absoluta dos relatórios realizados nos
presídios mediante ao CNJ- Conselho Nacional de Justiça, os ambientes eram caracterizados
como degradantes e inadequados para a existência humana. Em geral, todas as partes dos
presídios possuem péssima conservação envolvendo instalações elétricas, grades, questões
hídricas entre outras.16
Em um desabafo fundamentado na ADPF, a revolta paira nas palavras de alguns
juristas acerca das prisões no país. Para estes, elas trazem o caos, medo, há infringência de
direitos, deveres, princípios, que infelizmente não são aplicados. Revelam-se verdadeiros
infernos, com celas superlotadas, além de imundas, insalubres, com grande chance de
proliferação de doenças infectocontagiosas; uma alimentação precária; um local onde ocorre a
tortura e o abuso sexual a presos frequentemente, entre outros crimes que muitas vezes até os
próprios agentes do Estado cometem.17
Outro escritor relata que o sistema brasileiro não exprime a realidade da lei vigente. A
primeira afirmação possui cenário do verdadeiro caos e a segunda possui leis que asseguram
devidamente os direitos. Contrariedade é a palavra certa ao se comparar teoria com realidade.

14
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. BNMP 2.0 Banco Nacional de Monitoramento de Prisões.
Brasília: CNJ, 2018. p. 19.
15
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. BNMP 2.0 Banco Nacional de Monitoramento de Prisões.
Brasília: CNJ, 2018. p. 53
16
PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental com
pedido de concessão de medida cautelar. Rio de Janeiro: ADPF-347, 2015. p. 36.
17
PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental com
pedido de concessão de medida cautelar. Rio de Janeiro: ADPF-347, 2015. p. 2.
8

“Contudo, é notório e sabido que o número de indivíduos por cela ultrapassa o limite
estipulado, fazendo com que haja precariedade no sistema.” 18
Assim, “A superlotação tem como efeito imediato não só a violação das normas da
LEP, mas também dos princípios constitucionais; pois, conforme determina a Constituição
Federal em seu art. 1º, parágrafo III, o Estado tem entre seus fundamentos garantir a
dignidade.”19

Entretanto, o panorama nacional indicaria que o sistema carcerário como um todo


estaria em quadro de total falência, tendo em vista a grande precariedade das
instalações, bem assim episódios recorrentes de sevícias, torturas, execuções
sumárias, revoltas, superlotação, condições precárias de higiene, entre outros
problemas crônicos. Esse evidente caos institucional comprometeria a efetividade do
sistema como instrumento de reabilitação social. Além disso, a questão afetaria
também estabelecimentos destinados à internação de menores. O quadro revelaria
desrespeito total ao postulado da dignidade da pessoa humana, em que haveria um
processo de “coisificação” de presos, a indicar retrocesso relativamente à lógica
jurídica atual. A sujeição de presos a penas a ultrapassar mera privação de liberdade
prevista na lei e na sentença seria um ato ilegal do Estado, e retiraria da sanção
qualquer potencial de ressocialização. A temática envolveria a violação de normas
constitucionais, infraconstitucionais e internacionais. 20

Assim, a parte histórica e evolutiva do cárcere brasileiro e o direito de punir é estreita,


da mesma forma que cresceu bruscamente a forma de punir/tipificar os crimes, a criação de
leis, aplicabilidade e o sistema carcerário também cresceu. A única coisa que infelizmente não
evoluiu na mesma toada foi o crescimento na construção dos presídios, para garantir o
mínimo de dignidade ao apenado. No atual cenário do país, não mais deveria haver locais
similares aos da época de império, principalmente lugares sem acessibilidade a pessoas
especiais.

2.2 Direitos humanos: uma análise constitucional em face dos apenados com deficiência
e a falta de aplicabilidade da LEP – Lei de Execução Penal

18
BINOTTO, Beatriz Calvo. A evolução do sistema prisional brasileiro: reflexões jurídicas sobre os
principais problemas no cárcere na sociedade brasileira contemporânea. Prudente: Centro Universitário
Antônio Eufrásio de Toledo de Presidente Prudente. p. 34.
19
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 19 jun. 2021 apud VITTO,
Dayonara Bardini. A atual superlotação no sistema prisional brasileiro e a possibilidade de cumprimento
de pena em regime domiciliar decorrente da ausência de vagas em estabelecimento prisional adequado.
Criciúma: UNESC, 2015. p. 42.
20
MASSON, Cleber. Direito Penal – Parte Geral. 13º. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. p. 899.
9

Os direitos humanos, direitos constitucionais, lei de execução penal entre outras


normativas são mecanismos que proporcionam a regulamentação estatal em face ao acusado
(não condenado) ou infrator (condenado).
Nesta síntese se explanará acerca de todas estas normativas e, é claro, das leis que
regulamentam o direito do deficiente, seja na aplicação de acessibilidade e/ou na igualdade e
respeito às leis.
Destarte, no Brasil deu-se a ideia de implementar a Constituição Federal de 1988.
Com isso, surgiu o consagrado artigo 5°, no qual são elencados inúmeros direitos e
disposições que dão lugar a um sistema que tem por objetivo assegurar e impor proteção ao
indivíduo, por meio de um processo jurisdicional correto.21

Os direitos fundamentais, pois, constituem-se de direitos individuais, coletivos,


sociais e políticos, exaltados na Constituição, e são os indispensáveis ao pleno
desenvolvimento do homem e do cidadão, especialmente frente ao Estado, que tem
por obrigação não somente respeitá-los, mas também assegurá-los e protegê-los. As
garantias fundamentais são os instrumentos constitucionais colocados à disposição
dos indivíduos e das instituições para fazer valer os direitos fundamentais. “Em
última análise, é a Constituição a garantia tanto dos direitos stricto sensu como dos
direitos-garantia” e “o reconhecimento e a proteção dos direitos e das liberdades
fundamentais são o núcleo essencial do sistema político da democracia
constitucional”. 22

“A proteção das garantias institucionais aproxima-se, todavia, da proteção dos direitos


fundamentais quando se exige, em face das intervenções limitativas do legislador, a
salvaguarda do ‘mínimo essencial’ (núcleo essencial) das instituições.”23
No que concerne ao princípio da dignidade da pessoa humana, pode-se elencar que:
“Trata-se, sem dúvida, de um princípio regente, cuja missão é a preservação integral do ser
humano, desde o nascimento até a morte, conferindo-lhe autoestima e garantindo-lhe o
mínimo existencial.” 24
O princípio da dignidade da pessoa humana é, com toda a certeza, o anteparo do
direito penal, pois este se torna uma cega retribuição a todos os demais. Não há como haver
uma punição sem que a mesma não respeite o básico da dignidade, “não é necessário,

21
TORON, Alberto Zacharias. Controle do Devido Processo Legal: Questões Controvertidas e de
Processamento do Writ. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. p. 7.
22
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. p.
80.
23
CANTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional. Coimbra: Almedina, 1993. p. 522. apud MORAIS,
Alexandre de. Direito Constitucional. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 62.
24
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. p.
129
10

portanto, fazer uso de ideais imprecisos que têm servido duplamente, em favor da dignidade
do ser humano e como fundamento para violação desta.” 25
Essa dignidade está prevista no artigo 1° inciso III da CF, no qual é reconhecido o
direito à educação, moradia, saúde, lazer, alimentação, cultura, entre tantos outros direitos.
Ocorre que esses direitos básicos, considerados mínimos para se viver em uma sociedade
digna, sequer são aplicados no cárcere. 26
Nesta senda, o doutrinador Alexandre de Morais segue explanado acerca desta
dignidade mínima em face dos presídios. O jurista afirma que, em maior ou menor grau, os
direitos negligenciados pelo Estado são enormes - nada justifica, outrossim, os apenados
condenados que já tiveram a condenação da pena privativa de liberdade e, por assim, já
enfrentarem problemas, sofrerem um enfrentamento diário da falta de dignidade,
principalmente a falta de espaço frente ao numero de presos, falta de programas de
reabilitação, de cuidados médicos e afins. E este são apenas alguns dos problemas elencados
pelos autores.27
Já o direito à igualdade é pontuado por Lenza da seguinte forma: “buscar não somente
essa aparente igualdade formal [...], mas, principalmente, a igualdade material, uma vez que a
lei deverá tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais.”28
Na legislação da LEP – Lei de Execução Penal, é assegurado, conforme o artigo
terceiro as seguintes diretrizes: “Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os
direitos não atingidos pela sentença ou pela lei. Parágrafo único. Não haverá qualquer
distinção de natureza racial, social, religiosa ou política.”29
Já o direito à vida é muito bem regulamentado pelo Doutrinador Pedro Lenza, que
conceitua e apresenta seu fundamento jurídico da seguinte forma:

O direito à vida, previsto de forma genérica no art. 5.º, caput, abrange tanto o direito
de não ser morto, privado da vida, portanto, o direito de continuar vivo, como
também o direito de ter uma vida digna. 30 (...) O segundo desdobramento, ou seja, o
direito a uma vida digna, garantindo-se as necessidades vitais básicas do ser humano

25
VALOIS, Luís Carlos. Processo de Execução Penal e o estado de coisas inconstitucional. Belo Horizonte:
D'Plácido, 2019. p. 53 apud OTHELO, Eduarda Couto Pessoa. Quantas grades prendem os encarcerados?
Empório do Direito.com.br. Disponível em: <https://emporiododireito.com.br/leitura/quantas-grades-prendem-
os-encarcerados>. Acessado em: 25 jun. 2021.
26
MORAIS, Alexandre de. Constituição Federal Comentada. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 441.
27
MORAIS, Alexandre de. Constituição Federal Comentada. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 441.
28
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 973.
29
BRASIL. Decreto nº 7.210 de 11 de junho de 1984 – Lei de Execuções Penais. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acessado em: 18 de jun. 2021.
30
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 970.
11

e proibindo qualquer tratamento indigno, como a tortura, penas de caráter perpétuo,


trabalhos forçados, cruéis etc. 31

Já o princípio da integridade física e moral demonstra o máximo de respeito ao preso,


e claro a toda população em geral. Nestes termos, nas palavras de Renato Brasileiro Lima:

De acordo com o art. 5o, inciso XLIX, da Constituição Federal, “é assegurado aos
presos o respeito à integridade física e moral”. Ao proclamar o respeito à integridade
física e moral dos presos, a Carta Magna garante ao preso a conservação de todos os
direitos fundamentais reconhecidos à pessoa livre, à exceção, é claro, daqueles que
sejam incompatíveis com a condição peculiar de uma pessoa presa, tais como a
liberdade de locomoção (CF, art. 5o, XV), o livre exercício de qualquer profissão
(CF, art. 5o, XIII), a inviolabilidade domiciliar em relação à cela (CF, art. 5o, XI) e
o exercício dos direitos políticos (CF, art. 15, III). Não obstante, mantém o preso os
demais diretos e garantias fundamentais, tais como o respeito à integridade física e
moral (CF, art. 5o, III, V, X e LXIV), à liberdade religiosa (CF, art. 5o, VI), ao
direito de propriedade (CF, art. 5o, XXII), e, em especial, aos direitos à vida e à
dignidade humana. 32

Mais que integridade física prevista em lei, o que se observa é a sua falta de sua
aplicabilidade, já que inúmeros são os casos de violência de todos os gêneros dentro dos
presídios brasileiros. Manter o preso com todas as garantias fundamentais seria utopia
maravilhosa de imaginar, infelizmente a realidade rebusca a verdadeira situação carcerária
brasileira, principalmente no que tange ao direito dos presos com deficiência.
Como previsto no inciso XLIX do caput do artigo 5° da Constituição Federal,
determina-se que: “XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;” 33
assim, todos somos iguais, devendo haver um tratamento justo conservando a integridade
física e moral independente do crime cometido, e/ou a situação física, sendo deficiente ou
não.
Além desses, cita-se, ainda, a preleção acerca dos direitos humanos do preso, trazida
pela Comissão Interamericana dos Direitos Humanos: 1- “Toda pessoa tem o direito de que se
respeite sua integridade física, psíquica e moral.” 34; 2-“Ninguém deve ser submetido a
torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da
liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.”35
31
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 970.
32
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Salvador: JusPodivm, 2019. p. 933.
33
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acessado: em 23 jun. 2021.
34
COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Convenção Americana Sobre Direito
Humanos - Artigo 5. Costa Rica: Organização dos Unidos. Disponível em:
<https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm>. Acessado em: 18 de jun. 2021.
35
COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Convenção Americana Sobre Direito
Humanos - Artigo 5. Costa Rica: Organização dos Unidos. Disponível em:
<https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm>. Acessado em: 18 de jun. 2021.
12

Outro artigo de extrema relevância trazido pela carta dos direitos humanos é o 29, no
qual se apresentam os pilares de direito e dever relacionados à liberdade: todo o ser humano
deve ter direitos e deveres para com a comunidade, ser livre a vontade de personalidade,
exercer a liberdade, exercer seus direitos. Afirma-se, ainda, que todo o ser humano está
sujeito a limitar-se a certos dispositivos de lei, seguindo a normativa para o equilíbrio. Além
desses, ainda são reconhecidos o respeito, moralidade, ordem pública e o bem-estar da
sociedade democrática. “Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser
exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.”36
Outro princípio de grande relevância no ordenamento jurídico brasileiro que possui
cunho muito próximo com a relação aos presídios é o da humanidade, a qual deve emergir e
transcender entre as pessoas, principalmente aquelas que se encontram em estado de
vulnerabilidade como é o caso dos presos e dos deficientes físicos/mentais.
Nestes termos, observa-se o princípio da humanidade no entendimento do doutrinador
Bitencourt, que o pontua como sendo um dos maiores princípios adotados no direito penal.
Sustenta-se que o poder de punir do Estado não pode atingir a dignidade da pessoa humana,
ou até mesmo lesionar a constituição frente aos apenados, as penas cruéis tiveram um fim por
um motivo, elas foram e continuam proibidas. O Estado, em verdade, deve adotar
infraestrutura carcerária e recursos que proporcionam um aprisionamento correto e não cruel.
A degradação e dessocialização pelas quais os presos passam não são maneiras de se cumprir
uma pena. Não é humano! Afrontam a humanidade destas pessoas e até mesmo da sociedade,
vindo a se questionar o Estado por não conseguir cumprir o papel de ressocializar. Observa-se
que entre os motivos estão a má administração e falta de humanidade.37
Infelizmente nem todos os reclusos são devidamente tratados com respeito, valor,
dignidade, entre outros preceitos mínimos resguardados por lei. O efeito sempre é o reverso,
tratamento de tortura, penas cruéis, sendo desumanas ou até mesmo degradantes. 38
Diante de todos esses problemas que assolam o cárcere brasileiro, outra situação
chama a atenção - a tamanha extensão de falta de senso de humanidade com os presos
possuidores de qualquer tipo de deficiência, os quais necessitam do mínimo de acessibilidade
para sua vida e dignidade, sem a qual é impossível se viver.

36
ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos - Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de
dezembro de 1948. Unicef. Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-
humanos>. Acessado em: 24 jun. 2021.
37
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p. 163.
38
RESOLUÇÃO 70/175. Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Reclusos - Regra 1.
Viena: UNODC, 2015. p. 3.
13

Neste ensejo, conceitua-se deficiência perante a lei como sendo impedimento a longo
prazo observado em uma pessoa, seja este de natureza física, mental, intelectual ou sensorial.
Já as acessibilidades são formas que possibilitam estas pessoas de alcançar a utilização de
mecanismos comuns à vida, de forma mais independente, sempre com segurança, seja na
comunicação, tecnologia, serviços para adaptação às suas limitações, podendo as mesmas
gozarem e exercerem seus direitos e liberdades fundamentais como os demais. Assim, pode-
se destacar a locomoção, direito de ir e vir, previsto na Constituição Federal. Aplicando a
acessibilidade a este direito, pode-se frisar que, havendo rampas nas ruas, não apenas meio fio
e escadas, em conjunto de equipamentos como cadeira de rodas, haveria a facilitação a esse
acesso de locomoção ao indivíduo deficiente. É exatamente isso que se pretende aplicar aos
apenados com necessidades especiais.39
Ademais, o artigo 15 da Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com
Deficiência apresenta que os Estados (países) tomarão medidas de efetividade legislativa,
judicial e/ou administrativa contra infringências a pessoas com deficiência no sistema
carcerário. Isto posto, é imperioso aplicar com eficácia a lei que assegura direitos, princípios,
preceitos de tratamento de penas, a fim de abolir por completo tais ilegalidades a pessoas
vulneráveis como os deficientes.40
Já o artigo nono da anteriormente citada convenção dispõe acerca da acessibilidade a
portadores de deficiência em estado em estado de vulnerabilidade.41

E o que dizer da pessoa com deficiência no cumprimento de pena privativa de


liberdade, suas garantias e benefícios diante do ius puniendi do Estado? Sem, é
claro, a menor intenção de afastar a culpabilidade pela prática criminosa, mas
chamar a atenção ao desrespeito a este, que restringe apenas sua liberdade e seus
direitos políticos, e não seus direitos como cidadão, parte que é de uma minoria que
por meio de normas infraconstitucionais desfruta de garantias, como por exemplo,
acessibilidade. 42

Com o intuito de reformular o dia a dia praticado dentro do sistema prisional e


contribuir com os direitos, a LEP assegura vários mecanismos, como o direito das mulheres

39
BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acessado em: 25 jun. 2021.
40
BRASIL. Decreto nº 6.949 de 25 de agosto de 2009 – Convenção Internacional sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência e seu protocolo Facultativo. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm>. Acessado em: 18 jun. 2021.
41
BRASIL. Decreto nº 6.949 de 25 de agosto de 2009 – Convenção Internacional sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência e seu protocolo Facultativo. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm>. Acessado em: 18 jun. 2021.
42
FONSECA, Francisco de Assis Araújo da. A pessoa com deficiência e o cumprimento de pena privativa de
liberdade. JusBrasil. Disponível em: <https://assisfonseca.jusbrasil.com.br/artigos/111957701/a-pessoa-com-
deficiencia-e-o-cumprimento-de-pena-privativa-de-liberdade>. Acessado em: 24 jun. 2021.
14

encarceradas, dispostos nos arts. 82, §1°, e 83, §§2° e 3°, da LEP. Estes tratam, ainda, sobre
“gênero, cor ou etnia, orientação sexual, idade, maternidade, nacionalidade, religiosidade e
deficiências física e mental, no contexto prisional (art. 4°, II, da Portaria).” 43 (grifo nosso).
Contudo, diverso do final da citação acima acerca de deficiência física e mental, o que
ocorre na prática, o retrato do cenário do cárcere brasileiro, é bem diferente do que o
preconizado pela letra da lei.
No artigo 4°, é prevista como metas da PNAMPE, no inciso IV, a promoção de ações
voltadas aos cuidados prisionais, garantindo segurança, regramento disciplinar e escolta, bem
como diferenciar os cuidados com pessoas com deficiência.44
Compete o direito de cuidados por parte do Estado frente aos deficientes, as seguintes
diretrizes da norma: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de
deficiência;(...).”45
Recentemente, foi realizada a ADPF- Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental n° 347, a qual formulou o termo de estado de inconstitucionalidade em
decorrência de violação de direitos fundamentais aos presos, principalmente a dignidade.
Dessa forma, então, o Estado responde pela falta de aplicação das leis por ferir preceito
constitucional previsto. 46
Já os argumentos formulados pela ADPF giram em torno das graves lesões à direitos
básicos dos encarcerados. Assim, nestes termos, elucida-se que, embora não seja o papel do
judiciário envolver em políticas públicas de implementação nas cadeias, os fatores das
precariedades estão grandes, principalmente no que concerne aos deficientes, por serem um
grupo de vulnerabilidade. Devido a isso, houve a intervenção jurisdicional. Assim, verifica-se
que o cárcere brasileiro possui várias falhas, como o da violação dos direitos fundamentais
dos presos. Desta forma, é visível que o poder público não realiza seu papel de adequação
para resolvê-las e, claro, este assunto nunca desperta simpatia na opinião pública, o que
poderia melhorar a realidade da sociedade carcerária.47

43
LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação Criminal Especial Comentada. Salvador: Jus Podivm, 2020. p. 138.
44
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Portaria Interministerial nº 210, de 16 de janeiro de 2014. Brasília: Diário
Oficial, 2014.
45
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acessado em: 23 jun. 2021.
46
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Salvador: JusPodivm, 2019. p. 951.
47
PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental com
pedido de concessão de medida cautelar. Rio de Janeiro: ADPF-347, 2015. p. 19-20.
15

Continua-se afirmando que as “desculpas não faltam para se manter a prisão nesse
estado de coisas inconstitucional, como reconheceu o próprio STF, na ADPF 347, e uma delas
é o eterno argumento de que a prisão é o caos conhecido por todos por culpa do poder
executivo.”48
Até mesmo o STF – Supremo Tribunal Federal - resolveu por flexibilizar as visões de
abstrato e concreto, quando se denomina o sistema nacional penitenciário, sendo que a prática
é inconstitucional, viola a dignidade da pessoa humana, infringe os dispositivos da LEP-Lei
de Execução Penal, não aplicando as garantias essenciais do preso e, claro, violando o Estado
Democrático de Direito que, neste caso, observa-se que não há para os apenados.49
O objetivo desta pesquisa é alavancar a absoluta ilegalidade e inconstitucionalidade
existente dentro do cárcere brasileiro, deixando a incógnita dos apenados de que se a morte
seria mais digna que viver neste sistema em que abandono e violência são duas situações
muito recorrentes, seja a violência moral, física ou de direitos. Nessa realidade, as prisões
nada mais são do que um vale das sombras.50
Em sequência, o artigo 88 da LEP 51 apresenta como devem ser as instalações do
presídio dentro do dormitório. Ocorre que, conforme dados do CNJ, as situações são um
pouco diversas do disposto em lei. Nesta esteira, observa-se o seguinte trecho:

Em apenas 6% das unidades analisadas pelo Depen registrou-se a existência de


módulos, alas ou células com acessibilidade para pessoas com deficiência. Esse
quadro de ocupação das vagas do sistema penitenciário, o estado das instalações
físicas, os serviços prestados e o excesso de presos provisórios no Brasil são os
componentes de um cenário problemático e complexo. Ele revela a necessidade de
ruptura com os modelos de gestão e de política criminal ultrapassados, e que são o
terreno fértil para a proliferação de violações aos direitos humanos. 52

A situação supramencionada apresenta apenas seis por cento dos estabelecimentos


com assistência a deficientes. Fica a incógnita dos outros 94% dos presídios espalhados pelo
país restante, o que ocorre com eles, ou melhor, o que ocorre com os detentos portadores de

48
VALOIS, Luís Carlos. Processo de execução penal e o estado de coisas inconstitucional. Belo Horizonte:
D’Plácido, 2019. p. 16.
49
VALOIS, Luís Carlos. Processo de execução penal e o estado de coisas inconstitucional. Belo Horizonte:
D’Plácido, 2019. p. 26.
50
ABU-JAMAL, Mumia. Partido dos Panteras Negras, 1995. p. 45 apud VALOIS, Luís Carlos. Processo de
execução penal e o estado de coisas inconstitucional. Belo Horizonte: D’Plácido, 2019. p. 11.
51
BRASIL. Lei n° 7.210, de 11 julho de 1984. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acessado em: 30 jun 2021.
52
CASTRO, Bruno Ronchetti. Relatório de Gestão – Supervisão do Departamento de Monitoramento e
Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de medidas Socioeducativas DMF. Brasília:
Conselho Nacional de Justiça, 2017. p. 29.
16

deficiência sem acessibilidade, falta de humanidade, dignidade sem tamanho, direitos que
estão devidamente previstos em leis que não são aplicadas.
Em apenas 12 estados do país há alojamentos compatíveis com as condições de
deficiência e acessibilidade. “Nesses estados pode até haver vagas que se coadunem com as
facilidades inerentes à acessibilidade, mas as pessoas que se encaixam nessas vagas não estão
alocadas nessas celas.” 53
É visível uma integração íntima que liga o princípio da dignidade da pessoa humana
com o direito penal, devendo o criminoso receber essa dignidade, bem como a vítima,
abrangendo toda a sociedade, independente do que se realizou, pois todos são dignos de
direitos, respeito, cabendo ao Estado aplicar isso de forma pontuada.54
Os dados mais recentes acerca do tema, de 2018, indicam que existem atualmente
cerca de 6 (seis) mil presos com deficiência, e apenas 11% destes presos possuem de fato
alojamentos adaptáveis, o restante fica à mercê das celas insanas oferecidas pelo estado. 55
Mas esta precariedade não ocorre apenas nos presídios brasileiros, sendo muito
recorrente em outros países. Assim, na Colômbia, por exemplo, a situação não é muito
diferente, como exposto pelo trecho acerca de como se manifesta a atual situação carcerária
no referido país:

Esta Corporação fez uso da figura da situação inconstitucional para buscar o


remédio para as situações de violação dos direitos fundamentais de natureza
geral - na medida em que afetem um grande número de pessoas - e cujas
causas sejam de natureza estrutural - quer dizer que, em regra, não têm
origem exclusivamente na autoridade demandada e, portanto, a sua solução
exige a ação conjunta de diferentes entidades. Nestas condições, o Tribunal
considerou que, dado que milhares de pessoas se encontram na mesma
situação e que se todas fossem à tutela poderiam congestionar
desnecessariamente a administração da justiça, o mais adequado é expedir
ordens aos órgãos oficiais competentes com tal, que ponham em ação os seus
poderes para eliminar esta situação inconstitucional. As prisões colombianas
são caracterizadas pela superlotação, graves deficiências nos serviços
públicos e previdenciários, o reinado da violência, extorsão e corrupção e a
falta de oportunidades e meios para a ressocialização dos internos. Esta
situação está totalmente de acordo com a definição de estado de coisas
inconstitucional. (tradução nossa).56

53
CASTRO, Bruno Ronchetti. Relatório de Gestão – Supervisão do Departamento de Monitoramento e
Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas DMF. Brasília:
Conselho Nacional de Justiça, 2017. p. 36.
54
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. p.
134.
55
POLETTI, Luma. Brasil tem quase 6 mil presos com deficiência e apenas 11% estão em prisões
adaptadas. Ponte. Disponível em: <https://ponte.org/brasil-tem-quase-6-mil-presos-com-deficiencia-e-apenas-
11-estao-em-prisoes-adaptadas/>. Acessado em: 01 jul. 2021.
17

Conforme o trecho, evidencia-se que os problemas de políticas públicas e políticas


criminais não assolam apenas o estado brasileiro, mas também países vizinhos. O mais
inteligente é fazer com que o Estado aplique de maneira correta os direitos humanos e
constitucionais da LEP, entre tantos outros pré-dispostos na legislação, pois o que se requer
não é mais do que já preconizado por lei e, infelizmente, não é aplicado na prática.
Outrossim, essa má administração de direitos e ineficácia do sistema penitenciário
representa uma piora em um local já considerado perigoso, pois os efeitos trazidos em face
dos deficientes possuem um resultado em dobro, como a facilitação de proliferação de
doenças e atos de revolta dos presos por conta de sua dignidade, ou melhor, pela falta dela.

2.3 A falta de políticas públicas para acessibilidade no sistema prisional

O presente tópico visa demonstrar como funciona o sistema prisional, especificamente


em relação às acessibilidades de presos com deficiência; bem como demonstrar resoluções a
partir de políticas públicas e/ou criminais para acrescentar nas instalações do Estado, a fim de
possibilitar o mínimo de dignidade aos presos com deficiência. A pesquisa apresenta o atual
cenário do cárcere brasileiro.
Outrossim, uma das grandes indagações do trabalho é acerca da responsabilidades do
Estado frente aos encarcerados, precisamente os portadores de deficiência, pois a falta de
acessibilidade gera grande revolta pelos presos, familiares e parcela da sociedade que
consegue dividir a pessoa humana da pessoa que cometeu o delito, já que ambas
personalidades são a mesma, não devendo sofrer pela condenação de estar preso em um local
desumano.
É dever do Estado considerar a possibilidade de incorporar, na legislação nacional,
normas contra os abusos de poder, pois a falta de remédios é um dos grandes problemas de
abuso, gerando a necessidade das vítimas (presos) buscarem soluções em terceiros (pessoas
privadas). A falta de médicos nas instalações também é outro fator implicante no abuso,
devendo os apenados serem ressarcidos pelo Estado de forma indenizatória. Então, dessa

56
REPÚBLICA DE COLOMBIA. Sentencia T-153/98. Bogotá: Corte Constitucional, 1998. Corte
Constitucional. Disponível em: <https://www.corteconstitucional.gov.co/relatoria/1998/t-153-98.htm>. Acessado
em: 28 jun. 2021.
18

forma, o Estado possui sua parcela de culpa frente a abusos cometidos por ele, mesmo em não
conceder o mínimo de respeito aos presos.57
Na mesma senda, elucida outro abuso cometido dentro das instalações - a falta
acessibilidade -, necessária para atender os presos na locomoção e convivência no sistema
com o mínimo de dignidade.

O Estado é responsável pela guarda e segurança das pessoas submetidas a


encarceramento, enquanto ali permanecerem detidas, sendo seu dever mantê-las em
condições carcerárias com mínimos padrões de humanidade estabelecidos em lei,
bem como, se for o caso, ressarcir os danos que daí decorrerem. Concluiu-se que a
criação de subterfúgios teóricos — como a separação dos Poderes, a reserva do
possível e a natureza coletiva dos danos sofridos — para afastar a responsabilidade
estatal pelas calamitosas condições da carceragem afronta não apenas o sentido do
art. 37, § 6o, da CF, mas também determina o esvaziamento de inúmeras cláusulas
constitucionais e convencionais. 58

A violação de direitos fundamentais causa grandes problematizações, devendo o


Estado, além de indenizar os apenados pelos fatores já elencados, ser provedor de políticas
públicas e/ou criminais para ressaltar o problema global e findá-lo com uma solução
verdadeiramente eficaz. 59
O que se espera do Estado é respeito aos preceitos da Constituição Federal de 1988;
pois, apesar de inúmeras críticas de doutrinadores ao texto constitucional, foi ela que
consagrou a inclusão social de pessoas com deficiência. É por conta disso que se espera
algumas mudanças mínimas para atender às necessidade humanas de pessoas com limitações
e/ou falta de acessibilidades. Neste caso, um modelo arquitetônico que abranja as
necessidades de cadeirantes é uma delas, “haja vista que as dificuldades encontradas pelas
pessoas com deficiência duraram séculos e nunca deixaram de existir”. Assim, o modelo de
inclusão serviria por séculos a estes apenados. 60
Para entender acerca dos tipos de acessibilidade, serão apresentadas na citação abaixo
algumas das modalidades:

Assim, descrevemos os significados de acessibilidade: (a) acessibilidade


arquitetônica, diz respeito aos espaços físicos das unidades em estudo, à estrutura
física dos locais em que qualquer pessoa possa frequentar, utilizar; (b) acessibilidade
57
BERISTAIN, Antonio. Nova Criminologia à luz do direito penal e da vitimologia. Editora UnB: Brasília,
2000. p. 131.
58
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Salvador: JusPodivm, 2019. p. 934.
59
MORAIS, Alexandre. Constituição Federal Comentada. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 445.
60
SPINIELI, André Luiz Pereira. MANGE, Flávia Foz. As condições de acessibilidade arquitetônica para a
pessoa com deficiência física no ambiente prisional: notas de direito comparado entre Brasil e Itália.
Revista de Estudos Jurídicos UNESP: Franca, 2017. p. 363.
19

pedagógica/ao conhecimento refere-se à forma como os educandos com e sem


deficiência têm acesso ao conhecimento, de que recursos pedagógicos o educador
dispõe e que necessidades educacionais específicas os educando possuem, livros
didáticos, recursos pedagógicos diferenciados, etc.; (c) acessibilidade tecnológica,
ou seja, que tipos de recursos tecnológicos são disponibilizados aos educandos; e (d)
barreiras de comunicação, em caso de pessoas surdas ou que apresentam deficiência
auditiva, sendo esta caracterizada com perda auditiva severa, moderada ou grave, é
preciso que se tenham acesso à comunicação, no caso o uso da Língua Brasileira de
Sinais (Libras). 61

Esse modelo de emancipação das amarras da imposição do Estado em não ceder


melhorias aos presos com acessibilidade é uma forma de proporcionar acessos a direitos
fundamentais dos detentos. Em suma, os direitos desta classe abrangem, com grande
relevância, o modelo arquitetônico das instalações, que constitui garantia básica
constitucionalmente prevista, outrossim a “legislação brasileira - de ir e vir e de acesso à
saúde -, com ênfase no que diz respeito ao direito à reabilitação e à saúde de qualidade, e
direito ao trabalho.”.62
Esse modelo é tratado como uma via de mão dupla - na primeira via, há a adoção de
medidas que trazem com fundamento a inclusão social garantida por lei a pessoas com
deficiência, enfatizando a igualdade; e, por outro lado, cuidando com obrigações devidas ou a
mais para assegurar o modelo arquitetônico correto para receber essas pessoas especiais. A
finalidade é beneficiar as pessoas com deficiência, mas também é evitar o Estado de ser
responsabilizado de várias maneiras, de ser considerado como culpado frente ao sistema
ineficaz.63
A arquitetura prisional é um fator importante, pois é nela que há grande transgressões
frente a dignidade humana não atendendo as reais necessidades das pessoas com deficiência,
as construções de presídios brasileiros em momento algum é feito pensando na inclusão
social.64

61
MACIEL, Antonia Kátia Soares. A ótica dos professores sobre acessibilidade a educandos com deficiência
nas prisões do Ceará. Universidade Federal do Ceará: 2012. p. 30. Disponível em:
<http://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/29209/1/2012_tcc_aksmaciel.pdf>. Acessado em: 01 jul. 2021.
62
SPINIELI, André Luiz Pereira. MANGE, Flávia Foz. As condições de acessibilidade arquitetônica para a
pessoa com deficiência física no ambiente prisional: notas de direito comparado entre Brasil e Itália.
Revista de Estudos Jurídicos UNESP: Franca, 2017. p. 364.
63
SPINIELI, André Luiz Pereira. MANGE, Flávia Foz. As condições de acessibilidade arquitetônica para a
pessoa com deficiência física no ambiente prisional: notas de direito comparado entre Brasil e Itália.
Revista de Estudos Jurídicos UNESP: Franca, 2017. p. 380.
64
GARBELINI, S.M. Arquitetura prisional, a construção de penitenciárias e a devida execução penal. p.
152 apud SPINIELI, André Luiz Pereira. Prisão e acessibilidade: uma análise da situação de pessoas com
deficiência no cárcere brasileiro. Revista Ratio Juris: Revista Eletrônica, 2019. p. 144. Disponível em:
<https://www.redalyc.org/jatsRepo/5857/585763965006/585763965006.pdf>. Acessado em: 04 jul. 2021.
20

Para haver a inclusão e acessibilidade de pessoas com deficiência no cárcere brasileiro,


é necessário envolver o poder público, pois é ele que gerencia a administração e construção
dos presídios. 65
Atualmente, existe projeto que visa à inclusão social chamado “Cadeirantes em Ação”,
foi realizado no interior da penitenciária de Santa Catarina, no Vale do Itajaí. Este projeto
aduz fornecimento de trabalho a presos com deficiência, conseguindo conciliar tal prática com
a acessibilidade necessária ao preso. Em contrapartida, poucas são as instalações que se
esforçam para proporcionar os direitos previstos em lei, como ir e vir, trabalho, estudo,
dignidade, humanidade, entre outros. 66
Assim, para os presos portadores de deficiência de locomoção, participantes do projeto
externo no Vale do Itajaí, muitas foram as melhorias. Três presos não trabalhavam antes por
conta de limitações de movimentos; mas, com este projeto, passaram a trabalhar. Antes do
trabalho, passavam cerca de 22 (vinte) duas horas nas celas, e a rotina e qualidade de vida,
atualmente, é bem diferente.67
Fica a pergunta de que alguém permanecendo vinte e duas das vinte e quatro horas do
dia trancafiado em uma cela, mal saindo, conseguirá sair ressocializado do sistema carcerário.
Isso, em verdade, constitui-se em é uma dupla punição - a primeira é estar apartado da
sociedade e a segunda não poder ir e vir nem em ambiente restrito, como os demais apenados
sem deficiência. Esta última punição por conta do Estado não fomentar direitos e
acessibilidade a esta classe carcerária.
Não existe, até o presente momento da pesquisa, modelo padrão de cadeia para
deficientes. Todavia, no Estado do Paraná, há um modelo que abrange preceitos com vistas a
aplicar direitos previstos em lei. Tal modelo situa-se em Viana, município do referido Estado.
Apesar de haver superlotação e diversos problemas com a infraestrutura, há um projeto piloto
de políticas públicas voltadas à reabilitação do preso para voltar à sociedade, que consegue

65
SPINIELI, André Luiz Pereira. Prisão e acessibilidade: uma análise da situação de pessoas com
deficiência no cárcere brasileiro. Revista Ratio Juris: Revista Eletrônica, 2019. p. 144. Disponível em:
<https://www.redalyc.org/jatsRepo/5857/585763965006/585763965006.pdf>. Acessado em: 03 jul. 2021.

66
MARONI, João Rodrigo. Prisão onde 100% dos detentos trabalham e estudam? Existe, e fica no Brasil.
Gazeta do Povo. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/justica/prisao-onde-100-dos-detentos-
trabalham-e-estudam-existe-e-fica-no-brasil-0h3sil0asliz2bgm0tuzrtnf2/>. Acessado em: 05 jul. 2021.
67
RBSTVSC. Presos cadeirantes participam de programa de trabalho em Itajaí. G1. Disponível em:
<http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2013/08/presos-cadeirantes-participam-de-programa-de-trabalho-
em-itajai.html>. Acessado em: 04 jul. 2021.
21

oferecer o que de fato está previsto na LEP, Lei 7.210 de 1984, o que em regra é quase uma
utopia frente a outras penitenciárias brasileiras. 68
Através de parceria realizada com o Governo do Paraná, o Tribunal de Justiça do
Paraná e “Penitenciária Central do Estado – Unidade de Progressão (PCE-UP) - observa-se o
69
que, hoje, é o principal exemplo desse modelo de presídio no país.” Mesmo assim, apesar
da excelência no trabalho, não atende às reais necessidades de deficientes, ficando evidente a
discriminação a esta classe.
É por conta desta escassez de locais adequados que o sistema carcerário do país se
encontra neste caos. Sem citar que, mesmo os parcos locais existentes com um pouco mais de
infraestrutura atendem à população carcerária em geral, e não apenas aos portadores com
alguma deficiência.
Neste ensejo, são observadas APACS- Associação de Proteção e Assistência aos
Condenados - que possuem o diferencial de trazer tratamento “psicossocial e boas condições
para a ressocialização do detento, que são chamados de recuperados. As regras de disciplina,
entretanto, são rígidas, e ao preso são dadas várias responsabilidades.”70

As celas, que são individuais, têm sete metros quadrados e possuem dormitório,
sanitário, chuveiro, pia, mesa e assento. O chuveiro liga em horário pré-
determinado, uma vez por dia. Já a comida é servida por uma portinhola. Depois a
bandeja é recolhida e inspecionada. Até o lixo que os presos produzem é vistoriado.
Na cela são permitidas somente leituras de livros, revistas ou apostilas de cursos.
Nada de televisão ou outro aparelho eletrônico. Até as visitas íntimas foram
proibidas.71

Mas o que se frisa é que esse tipo de situação ainda não é o esperado pelo país, que
necessita urgentemente de assistência diferenciada - assistência aos detentos em geral por
terem seus direitos suprimidos, bem como aos deficientes por terem uma situação muito pior.

68
MARONI, João Rodrigo. Prisão onde 100% dos detentos trabalham e estudam? Existe, e fica no Brasil.
Gazeta do Povo. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/justica/prisao-onde-100-dos-detentos-
trabalham-e-estudam-existe-e-fica-no-brasil-0h3sil0asliz2bgm0tuzrtnf2/>. Acessado em: 05 jul. 2021.
69
MARONI, João Rodrigo. Prisão onde 100% dos detentos trabalham e estudam? Existe, e fica no Brasil.
Gazeta do Povo. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/justica/prisao-onde-100-dos-detentos-
trabalham-e-estudam-existe-e-fica-no-brasil-0h3sil0asliz2bgm0tuzrtnf2/>. Acessado em: 05 jul. 2021.
70
MARONI, João Rodrigo. Prisão onde 100% dos detentos trabalham e estudam? Existe, e fica no Brasil.
Gazeta do Povo. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/justica/prisao-onde-100-dos-detentos-
trabalham-e-estudam-existe-e-fica-no-brasil-0h3sil0asliz2bgm0tuzrtnf2/>. Acessado em: 05 jul. 2021.
71
MARONI, João Rodrigo. Prisão onde 100% dos detentos trabalham e estudam? Existe, e fica no Brasil.
Gazeta do Povo. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/justica/prisao-onde-100-dos-detentos-
trabalham-e-estudam-existe-e-fica-no-brasil-0h3sil0asliz2bgm0tuzrtnf2/>. Acessado em: 05 jul. 2021.
22

Para enfatizar a situação de como são tratados e “não cuidados” os presos com
deficiência, apresenta-se a história de um tetraplégico comandante do tráfico de drogas no
Espírito Santo - Siri (Ciro Batista de Oliveira) de 39 anos.
Algumas palavras relatadas pelo detento seguem no sentido de que, ao adentrar em um
presídio, a maioria dos detentos tentam se unir aos internos a fim de ter proteção. Todavia,
quando se é deficiente, a necessidade dobra: “Quando há um preso com deficiência de
locomoção, como paraplégicos ou tetraplégicos, são os próprios colegas de cela que
organizam quem fica responsável por ele e como cada um pode ajudar. [...]”

Nesse sentido, os detentos são bem solidários. A própria unidade escolhe uma cela
com presos mais dispostos a ajudar, ou onde haja alguém com deficiência, e avisa
sobre a chegada do detento que, por algum motivo, não pode andar. Além disso, são
priorizadas as celas com menor número de presos. Um local onde haja a garantia de
que o detento com deficiência vai ter uma cama, sem precisar ficar em um colchão
no chão. Os próprios presos se organizam para colaborar e decidem quem vai ficar
responsável por ajudar na locomoção.72

Em uma das falas trazidas pelo inspetor da penitenciaria, é visível que a locomoção
dos presos com deficiência é enorme, havendo dificuldade na hora do banho de sol. Além
disso, em sua grande maioria, não contam com suporte e muitas das cadeiras de rodas são
adquiridas pelos familiares, quando estes têm condições; caso contrário, os detentos com
deficiência ficam jogados nas camas, por não haver recursos do Estado para promover
mínimo de direitos e dignidade.73
Os presos necessitam de cuidados especiais, passar por avaliações de equipes
especializadas, assistência médica 24 (vinte quatro) horas por dia, até haver um parecer do
poder judiciário quanto à situação destes presos. Contudo, estes tipos de coisas ocorrem de
forma lenta. Enquanto isso, os direitos, princípios e preceitos são totalmente negligenciados
pelo Estado, o que o torna, sim, responsável, pois deveria haver políticas para evitar ou
amenizar a situação. Infelizmente, os direitos vigentes deixam de ser aplicados pelo mesmo
detentor que os criou, o que novamente torna o Estado principal causador dos danos.74

72
CARVALHO, Elias. Entenda como é a rotina de um tetraplégico dentro da prisão no ES. A Gazeta.
Disponível em: <https://www.agazeta.com.br/es/policia/entenda-como-e-a-rotina-de-um-tetraplegico-dentro-da-
prisao-no-es-1019>. Acessado em: 07 jul. 2021.
73
CARVALHO, Elias. Entenda como é a rotina de um tetraplégico dentro da prisão no ES. A Gazeta.
Disponível em: <https://www.agazeta.com.br/es/policia/entenda-como-e-a-rotina-de-um-tetraplegico-dentro-da-
prisao-no-es-1019>. Acessado em: 07 jul. 2021.
74
CARVALHO, Elias. Entenda como é a rotina de um tetraplégico dentro da prisão no ES. A Gazeta.
Disponível em: <https://www.agazeta.com.br/es/policia/entenda-como-e-a-rotina-de-um-tetraplegico-dentro-da-
prisao-no-es-1019>. Acessado em: 07 jul. 2021.
23

Inúmeras são as sugestões de melhoria da problemática atual como, por exemplo,


locais adaptados que permitem atividades diárias de forma independente aos portadores de
deficiência. Pode elencar a necessidade de cadeiras de banho, refeitórios com acessibilidade,
locais apropriados para realizar as necessidades fisiológicas, garantindo mobilidade suficiente
e diminuindo a mão de obra interna, caso tais melhorias fossem implantadas uma única vez. 75
É importante, ainda, a inclusão em trabalhos que possam proporcionar a
ressocialização do preso e sua adaptação. São pequenas coisas e gestos que podem mudar
tanto a visão do agente público como do preso com deficiência frente ao Estado.76
Outra coisa que se iniciou recentemente é a tentativa de implementação da PL 4.008
de 2019.77 Um dos fundamentos deste projeto de lei é cumprir com a dignidade da pessoa com
deficiência no sistema prisional, aplicando apoio médico específico, atividades que
comportem as deficiências, fazendo prosperar a Lei de Execução Penal e a Convenção da
ONU nos direitos humanos, do qual o Brasil é signatário, mas não os coloca em prática. 78
O Estado Brasileiro precisa de apoio dos governantes e população para pôr em prática
algo que já está devidamente preconizado. O problema está em não só um, mas diversos
planos, já que a acessibilidade abrange diversas coisas, como é o caso de instalações próprias
para cadeirantes, alimentação própria para certos tipos de doenças, entre outros. Com isto, fica
claro que o portador de deficiência possui duas vulnerabilidade, a primeira sob seu estado
físico e a segunda sob as instalações do poder público. 79
O esforço e dedicação dos agentes penitenciários é de suma importância, todavia cabe
ao Estado priorizar esta situação, aplicando alas especializadas ou criando grandes centros nas

75
ROSA, Leonardo Alfredo. Políticas públicas para os apenados com deficiência física: uma análise das
garantias socioestruturais e fundamentais existentes na penitenciária sul de Criciúma/SC. Universidade do
Extremo Sul Catarinense: Criciúma, 2020. p. 14. Disponível
em:<http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/7690/1/Leonardo%20Alfredo%20da%20Rosa.pdf>. Acessado em:
08 jul. 2021.
76
ROSA, Leonardo Alfredo. Políticas públicas para os apenados com deficiência física: uma análise das
garantias socioestruturais e fundamentais existentes na penitenciária sul de Criciúma/SC. Universidade do
Extremo Sul Catarinense: Criciúma, 2020. p. 14. Disponível
em:<http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/7690/1/Leonardo%20Alfredo%20da%20Rosa.pdf>. Acessado em:
08 jul. 2021.
77
“O PL 4.008/2019, da senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP), acrescenta esse dispositivo à Lei de Execução
Penal (Lei 7.210, de 1984). Segundo o projeto, caberá ao Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) custear as
adequações que precisarem ser feitas em presídios para os detentos com necessidades especiais” - AGÊNCIA
SENADO. Projeto garante a preso com deficiência o cumprimento da pena em local adaptado. Senado
Notícias. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/08/02/projeto-garante-a-preso-
com-deficiencia-o-cumprimento-da-pena-em-local-adaptado>. Acessado em: 09 jul. 2021.
78
GABRILLI, Mara. Justificação do Projeto de Lei nº 4008, de 2019. Senado Federal, 2019. p. 4. Disponível
em: <https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?
dm=7978706&ts=1624912065271&disposition=inline>. Acessado em: 04 jul. 2021.
79
SPINIELI, André Luiz Pereira. As condições de acessibilidade em geral às pessoas com deficiência no
ambiente carcerário. Unifor: Formiga, 2019. p. 122.
24

metrópoles, a fim de abrigar pessoas com falta de acessibilidade, atendendo às necessidades


básicas, com dignidade a estes apenados. 80

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa do trabalho de conclusão de curso não possui a ênfase de findar com o


conteúdo, mas de sistematizar o assunto em alguns tópicos, pois a cada instante há uma nova
normativa e um novo cenário.
A realidade atual do cárcere é totalmente diferente da realidade da lei, havendo uma
grande discrepância entre o texto e a prática.
O intuito é apresentar ao leitor e à sociedade como se opera o sistema penitenciário no
país, enfatizar que existem leis, mas demonstrar o quanto são deixadas de lado na sua
aplicabilidade em face ao apenado.
O objetivo geral da pesquisa foi alcançado, já que o mesmo era trazer a
responsabilidade para o Estado, apresentar maneiras de solucionar a problemática e, claro,
demonstrar o a realidade do cárcere brasileiro. Ficou em evidência a falta de sensibilidade
para com os presos, principalmente no que concerne aos portadores de deficiência que, além
de terem limitações na vida cotidiana, acabam por serem expostos a humilhações constantes,
requerendo do sistema apenas a dignidade, direito este previsto na Carta Magna de 1988 que,
infelizmente, não é atendido com a eficácia e a celeridade esperada.
Já a hipótese de resolução da problemática foi atingida quando foram demonstradas as
maneiras para coibir os problemas lançados no texto, porquanto há falta de políticas públicas
voltadas à infraestrutura nas penitenciárias, o que é um dos grandes problemas. Há hipóteses
de contornar e resolver a problemática da situação dos deficientes no cárcere; mas nada é
feito, o que apenas continua assombrando os presídios, trazendo a revolta e a reincidência dos
apenados, concomitantemente.
Infelizmente apresentar modelos, neste caso hipóteses de resolução para resolver a
problemática, nem sempre é suficiente, pois vai depender do Estado a efetivação destas. O
intuito é instigar essa mudança, contudo ela depende de terceiros.

80
ROSA, Leonardo Alfredo. Políticas públicas para os apenados com deficiência física: uma análise das
garantias socioestruturais e fundamentais existentes na penitenciária sul de Criciúma/SC. Universidade do
Extremo Sul Catarinense: Criciúma, 2020. p. 133. Disponível em:
<http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/7690/1/Leonardo%20Alfredo%20da%20Rosa.pdf>. Acessado em: 08
jul. 2021.
25

Com isto, o objetivo central do trabalho e sua resolução para o problema foram
demonstrados na presente pesquisa.
As críticas possuem o condão de noticiar à população em geral que, apesar de
criminosos, os detentos possuem direito a um cenário digno nos presídios. Esses presos são
pessoas sem voz nas grandes galerias do sistema público - angústia, desespero, raiva,
inconformismo, revolta são alguns dos sentimentos aferidos pelos apenados, sendo que a
cadeia deveria trazer o oposto destes sentimentos, já que, na teoria, é um local de reflexão,
mudança, ressocialização. Importa salientar ser este um cenário que afeta toda a sociedade.
Por fim, o texto promoveu apresentar a problemática e formas de resolução da mesma,
bem como um pouco do que acontece no dia a dia do cárcere brasileiro, tanto no sentido geral
como aos deficientes sem qualquer acessibilidade para viver no cárcere.

REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS

AGÊNCIA SENADO. Projeto garante a preso com deficiência o cumprimento da pena


em local adaptado. Senado Notícias. Disponível em:
<https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/08/02/projeto-garante-a-preso-com-
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