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RevISE – Revista Interdisciplinar do Instituto de Educaçã o de

Ananindeua/ESMAC – DOSSIÊ DIREITO III (Online) ISSN: 2359–4861 Vol. 05, N. 18.
Nov./2019

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Ananindeua/ESMAC – DOSSIÊ DIREITO III (Online) ISSN: 2359–4861 Vol. 05, N. 18.
Nov./2019

Comissão Editorial desta Conselho Científico - NUPEX


edição

Roberto Magno Reis Netto Roberta Pantoja (ESMAC)


Elizeu de Paula Guimarães llton Ribeiro dos Santos (ESMAC)
Junior Asmaa Abduallah Hendawy (ESMAC)
Lanna Lia da Silva Sarmento
Maria Do Perpétuo S. Dionízio Carvalho Da
Itamar Rogério Pereira
Gaudêncio Silva
Vitor Augusto da Silva Borges

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Direçã o Geral - ESMAC

Direçã o Acadêmica
ROBERTA DA TRINDADE PANTOJA HAGE

Divisã o de Pesquisa E Extensã o– ISE/NUPEX


Coordenador de Pesquisa ISE - NUPEX
ASMAA ABDUALLAH HENDAWY
ILTON RIBEIRO DOS SANTOS

Coordenadora de Extensã o ISE – NUPEX


MARCIA JORGE

Projeto Grá fico da Revista


ILTON RIBEIRO DOS SANTOS
Ilustraçã o da Capa
Textura com folha

Revisã o
ILTON RIBEIRO SANTOS

Editoraçã o eletrô nica


Assessoria de Comunicaçã o – ASCOM
RITA DE CÁ SSIA RODRIGUES MARTINS
ILTON RIBEIRO DOS SANTOS

Editor:
ILTON RIBEIRO DOS SANTOS

Bibliotecá ria
MARIANA ARAÚ JO

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Biblioteca Central/ESMAC, Ananindeua/PA

REVISE – Revista Interdisciplinar da Divisã o de


Pesquisa/ESMAC – DOSSIÊ DIREITO III– V. 05, n.18
(Novembro/2019) - Ananindeua/PA.

Membros do corpo editorial: Roberto Magno Reis Netto, Elizeu de


Paula Guimarães Junior, Lanna Lia da Silva Sarmento, Itamar Rogério
Pereira Gaudêncio, Vitor Augusto da Silva Borges, Ilton Ribeiro dos
Santos, Roberta da Trindade Pantoja Hage.

Publicado em ediçã o temá tica; v. 05, n. 18: Ensino Superior.


ISSN: 2359-4861
Perió dicos brasileiros. I. Escola Superior Madre Celeste. 2.
Ananindeua/Pa.

SUMÁRIO
ARTIGOS CIENTÍFICOS
A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DE CONDENAÇÃO PENAL A PARTIR DE
SEGUNDA INSTÂNCIA E SUAS POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS À AÇÃO
CIVIL EX DELICTO

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Roberto Magno Reis Netto


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NAS ENCRUZILHADAS DA CIÊNCIA E DA ARTE: Um Ensaio Filosófico sobre


o Rock contemporâneo e a crise do conhecimento científico
Roberto Magno Reis Netto
.........................................................................................................................................22

OS HOMICÍDIOS NO BAIRRO DO CURUÇAMBÁ EM 2015: UMA


DISCUSSÃO SOBRE A DINÂMICA DO ESPAÇO URBANO E AS
CARACTERÍSTICAS DO TERRITÓRIO
Robson Patrick Brito do Nascimento
Rafael Henrique Maia Borges
Clay Anderson Nunes Chagas
.........................................................................................................................................50

RELATÓRIOS DE ANÁLISE DE CASO


RELATÓRIO TÉCNICO DE ANÁLISE JURÍDICA SOBRE AÇÕES
CONSTITUCIONAIS: MANDADO DE SEGURANÇA nº 0800917-
92.2018.814.0000
Anna Beatriz Cruz da Couto da Costa
Gabriel Henrique Maciel Moura
Mikael Costa de Sousa
Rodrigo Dias Sanguino
Sidney Andrey Nascimento Cavalcante
Roberto Magno Reis Netto
.........................................................................................................................................65
RELATÓRIO TÉCNICO DE ANÁLISE JURÍDICA SOBRE AÇÕES
CONSTITUCIONAIS: MS 0800917-92.2018.814.0000.
Wagner Augusto Mendonça Almeida
Paulo Romero Lacerda Sampaio Sobrinho
Josué Bitencourt
Alan Tárley Oliveira da Rocha
Roberto Magno Reis Netto
.........................................................................................................................................70

ANEXO DOS CASOS: MANDADO DE SEGURANÇA nº 0800917-


92.2018.814.0000
.........................................................................................................................................74
RELATÓRIO TÉCNICO DE ANÁLISE JURÍDICA SOBRE AÇÕES
CONSTITUCIONAIS: HABEAS DATA Nº 70076547462
/Danielle Shirley Dowich
Edson carlos Souza Júnior
Ladirene Nayar Cavalcante da Costa
Odirley da Silva Rodrigues

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Pâmela Thayanne Dias Guimarães


Roberto Magno Reis Netto
.........................................................................................................................................83

RELATÓRIO TÉCNICO DE ANÁLISE JURÍDICA SOBRE AÇÕES


CONSTITUCIONAIS: O CASO DO HABEAS DATA Nº 70076547462
Ana Karolyna Barbosa dos Santos
Anderson Roberto Maia Rodrigues
Evandro Silva Matos
Gleyne Susan Pinheiro Caldeira Silva
Paolla Trycia Pereira da Silva
Theodora Luciana da Silva Gomes
Roberto Magno Reis Netto
ANEXO DOS CASOS: HABEAS DATA Nº 70076547462
.........................................................................................................................................91
RELATÓRIO TÉCNICO DE ANÁLISE JURÍDICA SOBRE AÇÕES
CONSTITUCIONAIS: O MANDADO DE SEGURANÇA N. 0803917-
03.2018.8.14.0000
Joseany Queiroz
Mônica Corrêa
Alfredo Henrique Filho
Ademar Calumby Junior
Diego Viana Andrade
Roberto Magno Reis Netto
.........................................................................................................................................99
RELATÓRIO TÉCNICO DE ANÁLISE JURÍDICA SOBRE AÇÕES
CONSTITUCIONAIS: O HABEAS DATA N. 70080249709
Aline de Jesus Silva
Ariel Catarina Ribeiro Mota
Evelyn Pereira de Carvalho Costa
Fernanda Gonsales Barbosa
Marcos Antonio da Silva Júnior
Marcos Vinicius da Paz da Silva
Roberto Magno Reis Netto

RELATÓRIO TÉCNICO DE ANÁLISE JURÍDICA SOBRE AÇÕES


CONSTITUCIONAIS: ESTUDO SOBRE UM HABEAS DATA
Adriane de Lemos Silva Bianca
Vasconcelos Elmescany
Camila de Souza Carvalho
Gleice Leticia Rabelo Gomes
Josiane Silva dos Santos Leão

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Khalil Yussef Habib Dantas Barros de Souza


Roberto Magno Reis Netto
ANEXO DOS CASOS - HABEAS DATA N. 70080249709
.......................................................................................................................................113

RESENHAS
RESENHA DO TEXTO “PAULICHI, Jaqueline da Silva; SALDANHA, Rodrigo
Roger. Das garantias processuais do acesso à justiça e do duplo grau de jurisdição
para efetivação dos direitos da personalidade. Rev. Fac. Direito UFMG, n. 68, p.
399-420, 2016”
Simone Oliveira Soares
Roberto Magno Reis Netto
.......................................................................................................................................120

RESENHA DO TEXTO “BARBI, Celso Agrícola. PERSPECTIVAS DO


MANDADO DE SEGURANÇA. Conferência proferida no Instituto dos
Advogados do Brasil. Rio de Janeiro: Faculdade de Direito da Universidade de
Minas Gerais em 1962.”
Adriely Fernanda Corrêa Barros
Roberto Magno Reis Netto
.......................................................................................................................................125

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APRESENTAÇÃO

A revista REVISE número 18 do Núcleo de Pesquisa da


Escola Superior Madre Celeste/ESMAC, apresenta o resultado
de iniciação científica do curso de Direito da ESMAC em
colaboração de nossos professores: Roberto Magno Reis Netto,
Elizeu de Paula Guimarães Junior, Lanna Lia da Silva Sarmento,
Itamar Rogério Pereira Gaudêncio, Vitor Augusto da Silva
Borges
Trata-se do terceiro dossiê do curso de direto com temas
pertinentes com a realidade da população local. Deixando claro,
então, que essas pesquisas são resultados de um trabalho que
conjuga ensino pesquisa e extensão.
Portanto a Escola Superior Madre Celeste, com seu
comprometimento desses anos com o ensino, pesquisa e a
extensão, se traduz na qualidade de um projeto educacional um
trabalho de reflexão constante, em sintonia com o que se
produz de mais avançado, nas áreas de conhecimento
relacionadas ao desenvolvimento humano.
Assim, estabelece-se uma relação de confiança tripla entre
os acadêmicos com os professores-pesquisadores respeitando
os valores básicos da instituição e a sociedade. Fatores
fundamentais para a plena realização da proposta educacional.
Organizadores

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ARTIGOS
A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DE CONDENAÇÃO PENAL A
PARTIR DE SEGUNDA INSTÂNCIA E SUAS POSSÍVEIS
CONSEQUÊNCIAS À AÇÃO CIVIL EX DELICTO
Roberto Magno Reis Netto

RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo promover


uma discussão em torno do entendimento propugnado pelo
Supremo Tribunal Federal, no sentido de admitir a execução
provisória da pena privativa de liberdade após julgamento em
segunda instância, e, as possíveis consequências jurídicas que,
teleologicamente, poderiam ser geradas em relação ao instituto
da ação civil ex delicto. Adotou-se um método jurídico-
dogmático, orientado por uma abordagem qualitativa e pelas
técnicas de pesquisa bibliográfica e documental. Como
resultado, verificou-se que a aplicação teleológica do
precedente, tornaria admissível a execução provisória da
sentença penal condenatória na esfera cível, em razão da
dinamicidade atribuída ao comando do art. 5º, LVII, pelo
Supremo Tribunal Federal.

PALAVRAS-CHAVE: Ação Civil ex delicto; Dinamicidade da


Presunção de Inocência; Cumprimento Provisório de Sentença
Penal.

INTRODUÇÃO
O presente trabalho teve como objetivo promover uma
discussão em torno do entendimento propugnado pelo Supremo
Tribunal Federal, quando da análise de Repercussão Geral em

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sede de Agravo Regimental interposto nos autos do Recurso


Extraordinário n. 964246/SP (BRASIL, 2016b), em novembro de
2016, que confirmou o entendimento do Acórdão proferido na
ação de habeas corpus n. 126.292/SP (BRASIL, 2016c), de 17
de fevereiro de 2016, no sentido de admitir a execução
provisória da pena privativa de liberdade após julgamento em
segunda instância, e, as possíveis consequências jurídicas que,
teleologicamente, poderiam ser geradas em relação ao instituto
da ação civil ex delicto.
Basicamente, a discussão se ateve à possibilidade de
liquidação/execução provisória da sentença penal, antes mesmo
de seu trânsito em julgado, diante do atual entendimento do
Supremo Tribunal Federal a respeito da dinamicidade do
princípio da presunção de inocência.
Partindo de uma postura dogmática, que compreende o
ordenamento jurídico enquanto sistema organizado de normas
e princípios, o estudo buscou, para além do decidido pela Corte
Suprema, uma das possíveis extensões da interpretação
constitucional aplicada, analisando a questão de acordo com as
seções subsequentes.
1 REFERENCIAL TEÓRICO
Primeiramente, cumpre assinalar que, na visão de
Theodoro Jr. (2016) e Bueno (2015), o processo de execução diz
respeito ao conjunto normativo que prevê e materializa os
procedimentos, meios e instrumentos necessários a satisfação –
coercitiva, se necessário - de uma obrigação firmada em título
executivo. Este título, por sua vez, pode ter natureza
extrajudicial (quando oriundo de um ato jurídico negocial de
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natureza especial) ou judicial (oriundo de um ato jurídico que


materialize o poder de jurisdição, ou seja, um exercício de um
poder de julgar autorizado em lei). Não foi objetivo do estudo,
entretanto, aprofundar na questão relativa às diversas espécies
de títulos executivos e procedimentos executivos.
Coube especial atenção, aqui, à execução por quantia certa
em execução de título judicial pautada em sentença penal
condenatória transitada em julgado (Código de Processo Civil -
CPC, Art. 515, VI) (BRASIL, 2015). Theodoro Jr. (2016)
nominou esta espécie de execução como ação civil ex delicto,
ou seja, uma ação cível que decorrerá das consequências
jurídicas de uma decisão proferida quando do exercício da
jurisdição penal, em três situações específicas: a) A prolatação
de uma decisão condenatória por ato ilícito (Art. 91, I, do
Código Penal Brasileiro) (BRASIL, 1940); b) A homologação de
sentença penal condenatória estrangeira (Art. 790, do Código
de Processo Penal) (BRASIL, 1941); e, c) A prolatação de
decisão de procedência relativa a pedido de revisão criminal,
onde, declarada a extinção da punibilidade (justa ou não), se
impõe a possibilidade de indenização ao apenado por danos
causados em razão da condenação penal (Art. 630, do Código
de Processo Penal) (BRASIL, 1941).
Trata-se, de forma mais direta, da execução do crédito
correspondente ao(s) dano(s) ocorrido(s) na seara penal, seja
em decorrência de um ilícito praticado (que pode atingir a
honra, o patrimônio, a vida, etc.), seja em decorrência de uma
prisão indevidamente aplicada pelo Estado. Este dano, por sua
vez, pode ser de qualquer natureza (moral ou material),
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sujeitando-se, no entanto, a procedimento de liquidação


normalmente realizado na esfera judicial cível.
É de se salientar que o Superior Tribunal de Justiça definiu
que a fixação do valor indenizatório, inclusive o compensatório
por danos morais, pode ser fixado perante o juízo penal, desde
que por decisão fundamentada e devidamente submetida ao
crivo do contraditório e ampla defesa, nos termos do acórdão
proferido quando do julgamento do Recurso Especial n.
1585684/DF (BRASIL, 2016a). Em todo caso, acaso não fixado o
valor indenizatório ao longo da instrução penal, afirma-se
possível, ainda assim, a propositura de ação autônoma para
liquidação do valor em questão (BUENO, 2015), ou, a
propositura de uma ação autônoma para cumprimento de
sentença, hipótese em que esta última será precedida por fase
processual prévia de liquidação, consoante o modelo sincrético
do CPC (BRASIL, 2015).
Conforme a dicção expressa do Art. 515, por sua vez, exige-
se o trânsito em julgado da decisão proferida na esfera penal
para a propositura da ação civil ex delicto, justamente, em
reprodução ao comando constante do teor do art. 5º, LVII, da
Constituição Federal, que assevera que “ninguém será
considerado culpado senão após o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória” (BRASIL, 1988).
Neste ponto, especificamente, residiu a problematização do
presente trabalho: exceto em situações em que o interesse
público e a defesa social o exigisse, o normal seria que o
acusado em um processo penal tivesse a garantia de responder
em liberdade, enquanto direito democrático fundamental, só se
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aplicando-se a execução da pena (na perspectiva do jus


puniendi) após o trânsito em julgado.
No entanto, a prática penal revela uma preocupante
contradição: enquanto cidadãos (normalmente pobres), em
muitas ocasiões, restam submetidos a longos períodos de
encarceramento por crimes que, muito após, sequer são
comprovados (negando-se, ao fim, autoria ou materialidade
delitiva), de outro lado, grandes transgressores da lei
(especialmente, sob as várias modalidades de colarinho branco)
sequer são punidos em razão da conquista do direito de se
defender em liberdade, o que promove o afastamento de seu
processo da listagem de prioridades legais (afinal, há
prioridade no julgamento de feitos onde o réu esteja preso),
muitas vezes permitindo o advento da prescrição punitiva
(comum nas instâncias superiores).
Ou seja, sobretudo aos pobres, a execução provisória da
pena já se inicia desde o dia da prisão, mesmo que adiante não
se constatassem elementos suficientes para a condenação. Já
para os que detém melhores recursos e capacidades defensivas,
a segregação acabava por representar uma possibilidade,
mesmo em casos de oferecimento de grave risco social, que só
surgiria quando da condenação definitiva, após amplas
possibilidades de litispendência recursal diante das instâncias
superiores.
Em razão disso - além da existência de outras questões
políticas influentes ao tempo do precedente, bem como, em
razão de um constatado retorno a posturas criminológicas
clássicas (GARLAND, 2008), instado (ou, até mesmo
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pressionado) a se manifestar sobre a matéria, o Supremo


Tribunal Federal reconheceu a possibilidade de execução
provisória da condenação penal aplicada, a partir da segunda
instância, mesmo durante a pendência de recursos excepcionais
junto ao Superior Tribunal de Justiça e perante o próprio
Supremo, especialmente, considerando que estes recursos não
detém efeito suspensivo das consequências decisão a quo.
Veja-se a ementa do julgamento da análise de Repercussão
Geral em sede Agravo Regimental interposto nos autos do
Recurso Extraordinário n. 964246/SP:

Ementa: CONSTITUCIONAL. RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. PRINCÍPIO
CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA (CF, ART. 5º, LVII). ACÓRDÃO
PENAL CONDENATÓRIO. EXECUÇÃO
PROVISÓRIA. POSSIBILIDADE.
REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.
JURISPRUDÊNCIA REAFIRMADA. 1. Em
regime de repercussão geral, fica reafirmada a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
no sentido de que a execução provisória de
acórdão penal condenatório proferido em grau
recursal, ainda que sujeito a recurso especial
ou extraordinário, não compromete o princípio
constitucional da presunção de inocência
afirmado pelo artigo 5º, inciso LVII, da
Constituição Federal. 2. Recurso
extraordinário a que se nega provimento, com
o reconhecimento da repercussão geral do
tema e a reafirmação da jurisprudência sobre
a matéria. (BRASIL, 2016b).

Igualmente, veja-se a ementa do julgamento da ação de


habeas corpus n. 126.292/SP:

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Ementa: CONSTITUCIONAL. HABEAS


CORPUS. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA
PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (CF, ART. 5º,
LVII). SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA
CONFIRMADA POR TRIBUNAL DE SEGUNDO
GRAU DE JURISDIÇÃO. EXECUÇÃO
PROVISÓRIA. POSSIBILIDADE. 1. A execução
provisória de acórdão penal condenatório
proferido em grau de apelação, ainda que
sujeito a recurso especial ou extraordinário,
não compromete o princípio constitucional da
presunção de inocência afirmado pelo artigo
5º, inciso LVII da Constituição Federal. 2.
Habeas corpus denegado (BRASIL, 2016c).

Obviamente, os procedentes em questão foram objeto de


diversas críticas científicas, políticas e sociais, justamente, por
flexibilizar um comando constitucional. Entretanto, até o
presente momento, pouco foi discutido sobre as possíveis
consequências cíveis das decisões.
Assim tomou-se por bem questionar: se o STF admite a
execução de uma sanção mais gravosa (o encarceramento em
sede de execução penal), seria possível, também, se falar na
execução provisória das sanções a serem efetivadas em sede de
ação civil ex delicto, mesmo antes do trânsito em julgado da
decisão penal? É a discussão sobre a qual o estudo se
debruçou.

2 METODOLOGIA
O estudo se valeu de um método jurídico-dogmático. De
acordo com Pessôa (2005, p. 29), a dogmática “toma o direito
posto e pretende criar condições para a aplicação desse direito,
tendo em vista a decisão dos conflitos”. Não se intencionou,
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portanto, a discussão histórica dos institutos em análise ou


questões sociais e políticas que os afetaram (questão que já
seria de domínio metodológico da Zetética) (BITTAR, 2016).
Igualmente, não se discriminou a importância dos
elementos sociais, históricos e humanísticos inerentes ao
debate da execução penal provisória - o que, inclusive, já foi
objeto de diversos outros estudos jurídicos, como o
desenvolvido por Souza (2018). No entanto, intencionou-se
apenas uma análise exclusivamente voltada ao campo
normativo, ao menos neste momento, de modo a demonstrar
como as decisões do Supremo Tribunal Federal, na qualidade
de precedentes com poder de vinculação da interpretação da
totalidade do ordenamento jurídico, interferiram na esfera
cível.
Adotou-se uma abordagem qualitativa, focada, portanto, no
conteúdo do fenômeno.
Como técnica de pesquisa, utilizou-se a pesquisa
documental, para fins de análise das decisões mencionadas e
normas jurídicas relativas ao fenômeno, bem como, a pesquisa
bibliográfica, para fins de discussão dos institutos inerentes ao
ensaio jurídico aqui firmado. Os resultados, ademais, se
encontram sintetizados na seção seguinte.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Primeiramente, tem-se que a ideia da inexequibilidade
prévia da condenação penal (e de suas respectivas
consequências principais ou anexas) advinha do comando
constitucional claro e direto do artigo 5º, LVII, da Constituição
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Federal (BRASIL, 1988), diploma promulgado ao longo de um


período de reconstrução democrática.
O entendimento original da norma, voltado à plena garantia
dos direitos fundamentais à liberdade e ao devido processo
legal, propugnava pelo exaurimento do debate jurídico sobre
autoria e materialidade delitiva, antes da imposição de
qualquer espécie de sanção (REZENDI, 2017). No entanto,
como mencionado no teor do referencial, a prática revelou
desvirtuações da aplicação das normas materiais e processuais
penais, e, a despeito de ainda se compreender a segregação
penal como exceção, num regime democrático (SOUZA, 2013),
a mesma tem-se mostrado como regra, sobretudo, às parcelas
mais pobres da população.
Dessa forma, a execução provisória da condenação penal,
sob um pálio material, já existia na prática antes mesmo da
própria condenação formal, àqueles que não detinham (e ainda
não detém) condições de contratar meios de defesa mais
eficientes do que aqueles disponibilizados pela Defensoria
Pública (limitada não por carências qualitativas de seus
membros, senão, por deficiências quantitativas de sua
estrutura). Este fator, aliado às questões políticas e pressões
criminológicas da atualidade, foram conclamados como
responsáveis pela atual guinada no entendimento do STF sobre
a matéria, permitindo o advento de um precedente que (como
se tratou adiante) vincula a própria interpretação sobre o
momento em que se consolida a ideia de culpa, permitindo o
início da aplicação das correspondentes sanções.

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Como dito, o elemento sociológico não é o foco desta


análise, senão, as consequências trazidas, de forma mais ampla,
ao ordenamento. Eis o entendimento do relator:
O que se afirmou, quando do julgamento do
HC 126.292, foi que a presunção de inocência,
encampada pelo art. 5º, LVII, é uma garantia
de sentido processualmente dinâmico, cuja
intensidade deve ser avaliada segundo o
âmbito de impugnação próprio a cada etapa
recursal, em especial quando tomadas em
consideração as características próprias da
participação dos Tribunais Superiores na
formação da culpa, que são sobretudo duas:
(a) a impossibilidade da revisão de fatos e
provas; e (b) a possibilidade da tutela de
constrangimentos ilegais por outros meios
processuais mais eficazes, nomeadamente
mediante habeas corpus. (BRASIL, 2016c, n.
p.).

Em linhas mais simples, compreendeu-se que, perante as


instâncias superiores, apenas caberia a discussão inerente: a) à
correta aplicação das normas infraconstitucionais e demais
normas equiparáveis correlatas à condenação (no âmbito do
STJ); ou, b) à correta aplicação das normas constitucionais e
demais normas equiparáveis correlatas, isoladamente ou em
conjunto com as primeiras.
Não caberia, portanto, revolvimento de fatos ou
interpretações em torno de provas, como é pacificado pela
jurisprudência do STJ e do STF - Súmula n. 07, do Superior
Tribunal de Justiça (BRASIL, 1990), e súmula n. 279, do
Supremo Tribunal Federal (BRASIL, 1963). O precedente,
portanto, consolidou o entendimento de que após o julgamento
em segunda instância, em tese já teriam sido apreciados e
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exauridos todos os elementos fáticos e probatórios relativos à


autoria e materialidade delitiva, estando comprovados os
elementos inerentes responsabilização penal do agente ativo do
tipo penal. Portanto, seria admissível a execução da pena
privativa de liberdade na pendência de recursos ou outras
ações autônomas junto aos tribunais superiores:
Realmente, antes de prolatada a sentença
penal há de se manter reservas de dúvida
acerca do comportamento contrário à ordem
jurídica, o que leva a atribuir ao acusado, para
todos os efeitos, mas, sobretudo, no que se
refere ao ônus da prova da incriminação, a
presunção de inocência. A eventual
condenação representa, por certo, um juízo de
culpabilidade, que deve decorrer da logicidade
extraída dos elementos de prova produzidos
em regime de contraditório no curso da ação
penal. Para o sentenciante de primeiro grau,
fica superada a presunção de inocência por
um juízo de culpa pressuposto inafastável para
condenação, embora não definitivo, já que
sujeito, se houver recurso, à revisão por
Tribunal de hierarquia imediatamente
superior. É nesse juízo de apelação que, de
ordinário, fica definitivamente exaurido o
exame sobre os fatos e provas da causa, com a
fixação, se for o caso, da responsabilidade
penal do acusado. É ali que se concretiza, em
seu sentido genuíno, o duplo grau de
jurisdição, destinado ao reexame de decisão
judicial em sua inteireza, mediante ampla
devolutividade da matéria deduzida na ação
penal, tenha ela sido apreciada ou não pelo
juízo a quo. Ao réu fica assegurado o direito de
acesso, em liberdade, a esse juízo de segundo
grau, respeitadas as prisões cautelares
porventura decretadas. (BRASIL, 2016a).

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Além disso, análise também levou em conta proposições


oriundas do direito comparado e, igualmente, não descartou a
possibilidade da existência de eventuais equívocos em decisões
das instâncias ordinárias, o que, de outro lado, não
descaracterizaria o entendimento:
Essas são razões suficientes para justificar a
proposta de orientação, que ora apresento,
restaurando o tradicional entendimento desta
Suprema Corte, no seguinte sentido: a
execução provisória de acórdão penal
condenatório proferido em grau de apelação,
ainda que sujeito a recurso especial ou
extraordinário, não compromete o princípio
constitucional da presunção de inocência.
(BRASIL, 2016b).

O entendimento em questão, tanto pela instância


especializada em que surgiu, quanto, especialmente, pelo
procedimento em que foi exarado e rito processual utilizado,
caracteriza-se como claro precedente judicial (MARINONI;
ARENHART; MIOTIDIERO, 2015), detendo, portanto, nítido
caráter vinculativo das instâncias judiciais inferiores.
Disso, importa dizer que, o afastamento do precedente em
qualquer novo julgamento só seria considerável como legítimo:
a) diante do surgimento de eventuais questões específicas ou
ainda não submetidas ao debate constitucional amplamente
realizado pelo STF (distinguishing); ou, diante da total
superação do entendimento, o que, novamente, só caberia ao
próprio STF (overruling) (MARINONI; ARENHART;
MIOTIDIERO, 2015).
Dessa forma, consolidou-se uma interpretação
constitucional a respeito da norma constante do art. 5º, LVII, da
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Constituição (BRASIL, 1988), no sentido de se afirmar que: a) a


culpa – em sentido amplo – será consolidada após a garantia do
duplo grau de jurisdição, após o julgamento em segunda
instância; b) A presunção de inocência deve ser interpretada de
maneira dinâmica e não estática; e, sobretudo, c) A partir da
condenação em segunda instância, já seria possível o advento
da execução das sanções penais decorrentes da culpa, não
obstante sua gravidade (o encarceramento ou a restrição de
relevantes direitos (BRASIL, 2016a, 2016b).
De outro lado, não se sabe se foi previsto pelo STF, ou
não, bem como, se é possível afirmar, ou também não, que tal
decisão tenha gerado consequências cíveis.
Não obstante a independência das esferas cíveis, penais e
administrativas (PARISIO, 2016), sabe-se que há momentos de
inevitável intersecção entre estas, sobretudo, no que toca às
normas constitucionais comuns a todos os âmbitos, como, por
exemplo, no que toca ao dever de fundamentação das decisões
e garantias de contraditório e ampla defesa.
Como visto ao longo do referencial teórico, um outro
importante ponto de intersecção entre as esferas diz respeito,
justamente, ao supra discutido princípio da presunção de
inocência, que, tendo originariamente inspirado a postergação
da execução penal ao momento do trânsito em julgado de uma
condenação penal, teleologicamente, postergava ao mesmo
momento a possibilidade de propositura da execução civil
baseada em sentença penal condenatória.
Contudo, com a consolidação da interpretação sobre o
caráter dinâmico da presunção de inocência na esfera penal, é
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de se questionar se esta dinamicidade seria também


considerável na esfera cível.
Não se trata de questão facilmente resolúvel e que, ao
passo, depende de um olhar sistemático sobre o ordenamento
jurídico.
Em primeiro lugar, no nível axiológico-constitucional, é
inconteste a flexibilização pelo Supremo Tribunal Federal, do
comando constante do Art. 5º, LVII, no sentido de se admitir
que uma decisão gere consequências práticas antes do trânsito
em julgado, inclusive, a despeito da própria menção ao termo
trânsito em julgado, no referido dispositivo constitucional.
Em segundo lugar, a possibilidade de cumprimento
provisório da sentença cível, desde as reformas realizadas
sobre o Código de Processo Civil de 1973, nos anos de 2005 e
2006, já não se constituía como algo fora do normal, não
obstante a prática jurídica ainda revele uma aparente aversão à
execução provisória, afinal, como bem se depreende do atual
código de processo civil, os recursos destinados ao Superior
Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal, como regra,
não detém efeito suspensivo automático – Art.1029, §5º, CPC
(como ocorre na maior parte dos casos, no recurso de apelação
cível – Art. 1012, do CPC) (BRASIL, 2015). Logo, não é absurdo
pensar, também, na possibilidade de cumprimento provisório
da sentença penal condenatória, quando da pendência do
julgamento de recursos excepcionais, na respectiva esfera
processual. Na prática, as consequências do segundo caso
seriam as mesmas do primeiro.

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Por terceiro, compreende-se que o início de eventual


cumprimento provisório de sentença baseado num título penal
ainda sem trânsito em julgado, não importa ferimento ao
princípio da menor onerosidade da execução e seus respectivos
postulados, que determinam que sempre se proceda da maneira
menos gravosa ao devedor e seu respectivo patrimônio (DIDIER
JR. et al, 2019).
Afinal, se o executado já está preso, certamente, a
aplicação de medidas de constrição sobre seu patrimônio, do
qual já está separado, não lhe reduziria a dignidade, em tese, se
corretamente aplicados os cuidados e cautelas quanto ao
atingimento de elementos essenciais à dignidade da unidade
familiar daquele ou demais dependentes, nos termos da lei.
Além disso, se o órgão com poderes interpretativos da
Constituição admite uma hipótese mais gravosa (a prisão),
decerto, não haveria motivo para admitir a execução cível.
Como quinto e último argumento, deve-se lembrar que, na
prática, o mais comum é que as sentenças penais não apreciem
os elementos inerentes à indenização (até mesmo, em razão de
o público massivo da justiça brasileira ser constituído por
pessoas pobres e dificilmente atingíveis em termos
patrimoniais). Assim, a execução ex delito, além de ser
extremamente rara, certamente, dificilmente se iniciará
diretamente pela fase de constrição de bens, senão, pela etapa
de liquidação do dano, cujos ritos não detém a mesma
prioridade legal que o processo penal envolvendo réus presos,
e, assim, ao menos num nível hipotético, se resolverá
posteriormente ao resultado definitivo da ação penal.
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Ademais, fugindo brevemente do percurso metodológico


jurídico-dogmático, é de se afirmar que a admissão da ação civil
ex delito em caráter provisório, certamente, representa uma
importante via de resguardo antecipado de bens aos eventuais
prejudicados por uma conduta criminosa. Não obstante já tenha
se afirmado que o grande público do sistema penal brasileiro é
constituído por pessoas pobres, ainda assim, pensar, mesmo
que de forma excepcional, a respeito da hipótese ora ventilada
constitui mais um mecanismo de resguardo a direitos
eventualmente violados, representando uma substancial via de
prestação da política pública que é a prestação de justiça à
população.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como objetivo promover uma
discussão em torno do entendimento propugnado pelo Supremo
Tribunal Federal, quando do julgamento do Agravo Regimental
interposto nos autos do Recurso Extraordinário n. 964246/SP
(BRASIL, 2016b), em novembro de 2016, que confirmou o
entendimento do Acórdão proferido na ação de habeas corpus
n. 126.292/SP (BRASIL, 2016c), de 17 de fevereiro de 2016, no
sentido de admitir a execução provisória da pena privativa de
liberdade após julgamento em segunda instância, e, as
possíveis consequências jurídicas que poderiam ser geradas em
relação ao instituto da ação civil ex delicto.
Como resultado, verificou-se que a aplicação teleológica do
precedente, tornaria admissível a execução provisória da
sentença penal condenatória na esfera cível, em razão da
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dinamicidade atribuída ao comando do art. 5º, LVII, pelo


Supremo Tribunal Federal.
Contudo, por não se tratar de objeto explícito do
precedente, ainda assim, deve-se destacar que a confirmação
jurisdicional desta hipótese, pelo Superior Tribunal de Justiça e
Supremo Tribunal Federal, ainda dependerá de tentativa de
proposição desta espécie executiva diante de um caso concreto,
de modo que as cortes sejam pertinentemente provocadas a se
manifestar sobre a legitimidade do construto teórico.
Entretanto, pensar a respeito da hipótese, além de
necessário, representa a possibilidade de aceitação (mesmo que
implícita no sistema judicial brasileiro) de mais um mecanismo
de reparação de danos e de possível instrumento de política
judiciária, que pode conferir mais celeridade e justiça às
vítimas de eventuais crimes (sobretudo, nos casos em que o
criminoso detém condições patrimoniais de responsabilização),
reduzindo o tempo do executado para a prática de eventuais
manobras dolosas de ocultação patrimonial. Por fim, registra-se
o pertinente agradecimento pelo apoio material e intelectual
prestado pelo Érgane – Instituto Científico da Amazônia, à
realização do presente trabalho.
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Jurídica: Teoria e Prática da Monografia para os Cursos de
Direito. 14. Ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
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Brasil, de 5 de outubro de 1988. 1988.
BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940.
Código Penal. 1940.

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BRASIL. Decreto-Lei n. 3689, de 3 de outubro de 1941.


Código Penal. 1940.
BRASIL. Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Código de
Processo Civil. 2015.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Acórdão do Recurso
Especial n. 1.585.684/DF. Sexta Turma. Relator: Maria
Thereza de Assis Moura. Publicado em: 24.08.2016. 2016a.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n. 07. Órgão
Especial. Publicado em: 28.06.1990. 1990.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão de Repercussão
Geral em Agravo Regimental interposto nos autos do
Recurso Extraordinário n. 964.246/SP. Plenário do Tribunal.
Relator: Teori Zavaski. Publicado em: 25.11.2016. 2016b.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido no
julgado do Habeas Corpus n. 126.292/SP. Plenário do
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GARLAND, David. A cultura do controle: crime e ordem
social na sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Revan,
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MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz;
MIOTIDIERO, Daniel. Curso de Processo Civil – V. 3 –
Execução. 7. Ed. São Paulo: RT, 2015.
PARISIO, Isabela de Oliveira. Independência entre esferas x
comunicabilidade de instâncias: como o STF considera esses
conceitos quando se trata das esferas administrativa e penal
(monografia de especialização). São Paulo: SBDP, 2016.

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PESSÔA, Leonel Cesarino. Em torno da distinção entre as


perspectivas zetética e dogmática: nota sobre a pesquisa
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Civil. V. 3. 49. Ed. São Paulo: Forense, 2016.

NAS ENCRUZILHADAS DA CIÊNCIA E DA ARTE: Um


Ensaio Filosófico sobre o Rock contemporâneo e a crise do
conhecimento científico
Roberto Magno Reis Netto

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RESUMO: O presente artigo compreende um ensaio filosófico a


respeito da atualidade da ciência, que tem como objetivo
refletir sobre seu contexto de crise e sobre possíveis soluções
de renovação de seus compromissos. Instigado pela arte,
notadamente, o gênero musical denominado de Rock, o
trabalho se abriu à mensagem que este outro tipo de
conhecimento humano denunciava, buscando, através de uma
análise concomitante de músicas e teorias, responder a sua
problemática. Ao final, entendemos pela necessidade de
reconstrução da ciência e da produção do conhecimento
científico a partir do amplo reconhecimento, valorização e
participação de outros saberes humanos, historicamente
discriminados por sua falta de racionalidade, como possível
caminho para legitimação da ciência em tempos modernos.

PALAVRAS-CHAVE: CRISE DA CIÊNCIA, ROCK


CONTEMPORÂNEO, LEGITIMAÇÃO, CONHECIMENTO
CIENTÍFICO.

1 INTRODUÇÃO

De maneira muito comum, nossos primeiros passos em


busca da incorpórea entidade que denominados conhecimento é
marcado por uma série de imagens e retóricas que nos
informam pretensas verdades a respeito do complexo e
impressionante mundo em que existimos. Essas verdades
advêm de vários caminhos que buscam uma explicação para as
incontáveis agruras de nossa existência, como nossa origem,
alma, destino, locus, composição e outros significados que são
inventados e, a todo tempo, inventam novas categorias para
confortar nosso ímpeto, construindo a tranquilidade de ver
explicado cada momento de nossa realidade.
Dentre outros, somos formados e informados por nossa
cultura, guarida a partir do seio familiar, comunitário e
regional; somos informados por nossas crenças ou
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religiosidades, como um sentimento espiritual que justifica


nossa vida; e, ao longo do tempo, acumulamos conhecimentos
que, paulatinamente, promovem nossa construção e
reconstrução sob aquelas verdades adquiridas nessa dialética
de vida. Nos reunimos em grupos para discutir nossos
conhecimentos, compartilha-los. E, invariavelmente, chegamos
até mesmo a guerrear e, permitindo-nos ao pior de nós
mesmos, matar em nome das certezas que justificariam nosso
ser.
Nos tornamos potenciais escravos de nossas verdades e
talvez percamos, até mesmo, a capacidade de existir afora de
seu imaginado campo de conforto e segurança. Como uma
destas interessantes e temerosas verdades, é de se destacar
uma que, ainda cedo, em tempos de pouca maturidade de corpo
e espírito, somos convidados a conhecer nos bancos de escola a
verdade da ciência: um reputado “conjunto metódico de
conhecimentos obtidos mediante a observação e experiência;
saber e habilidade que se adquirem para o bom desempenho de
certas atividades” (FERREIRA, 2010, p. 164).
Nascida da capacidade humana de observar e concluir, a
ciência se proclamou como ferramenta imprescindível à busca
da verdade, por ser capaz racionalizar dados e conhecimentos,
verificando-os, ou seja, atestando, ou não, rigorosamente, a sua
veracidade, sua verossimilhança, sobretudo, por sua promessa
de neutralidade, ou seja, de filtragem de conceitos e pré-
conceitos humanos na sistematização de seus postulados,
proclamando-se como o instrumento mais apropriado para
indicação dos rumos da evolução humana. Em razão deste forte
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argumento de ordem, a ciência se tornou sobretudo a partir do


século XVI, a reputada fiel depositária da verdade, em
detrimento de todos os demais veículos de conhecimento
humanos já conhecidos.
Seus méritos, aliás, jamais poderiam ser negados:
remédios, instrumentos de trabalho e lazer, mecanismos de
comunicação individual e massiva, a conquista do espaço, a
teorização da própria existência, a reprodução da vida e a
insolente afirmação de que o “homem”, em imagem e
semelhança, poderia compreender seu tão temido Deus. Eis a
ciência libertadora do homem.
Mas, igualmente, não podemos ignorar que a tão
aclamada ciência não se mostrou capaz de solucionar alguns
dos problemas mais simples da humanidade, como a eliminação
da fome, a desconstrução das diferenças, a pacificação de nossa
bestialidade conflitiva, e, sobretudo, o acalento de nosso
originariamente perturbado ímpeto existencial, já que ainda
existem muros que a ciência se afigurará incapaz de transpor
(hoje, e talvez eternamente). Eis a ciência anti-herói.
Desorientados, ainda buscamos realizar o conhece-te a ti
mesmo. E, à beira do abismo onde nos encontramos, no espelho
do mundo que tanto modificamos (e destruímos), nós homo
cientificus, contatamos o quanto a ciência estaria
redondamente enganada a respeito de si mesma. Afinal, como
fruto da imaginação, do poder de abstração humano, a não ser
por seu reputado rigor metodológico, a ciência nada mais seria
do que mais uma criação da mente humana, tal qual a religião,
a filosofia ou a arte. E o pior, uma criação que, diferentemente
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das outras, teria se esquecido de seu criador, vendo-se como


um fim em si mesma, e esquecendo de sua nobilíssima missão:
dignificar a humanidade.
Assim, falamos num contexto de crise da ciência, que,
após muita negação, finalmente se tornou aceito pela própria
ciência, sob sinais há muito apontados pelas outras instâncias
de manifestação do conhecimento.
Em especial, temos que a arte, há muito, vinha
denunciando o que a própria ciência se negava a ver: que a
soberba científica disfarçava sua própria potencialidade de
manipulação para interesses apartados do bem-estar humano e
do progresso.
Compreendida como a humana “capacidade de interação
simbólica com as coisas e de representação criativa dos
objetos” (BITTAR; ALMEIDA, 2015, p. 21), que se expressa
através de matérias, gestos, sons etc., de fato, temos que a arte
acabara por explicar, pela inteligível expressão de valores
humanos, a crise que a própria ciência não era capaz de
racionalizar. É interessante dizer que a arte parece ter a
capacidade de denunciar ao espírito determinadas verdades
obscurecidas por outros conhecimentos humanos (como a
ciência), tornando-se uma forma sobre humana que liberta pela
sua própria prática, de onde se destaca sua relevância para a
formação humana (BITTAR; ALMEIDA, 2015). A arte tem o dom
de ensinar (a)o espírito.
Sob esta compreensão, o presente ensaio filosófico
pretende responder a um relevante questionamento
contemporâneo ao contexto da crise da ciência: Assim como a
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arte promovera a denúncia da crise do conhecimento científico,


seria aquela também capaz de anunciar de pistas de uma
possível retomada de curso legitimadora do conhecimento
científico? É o objetivo perseguido neste breve colóquio. Para
tanto, primeiramente, demonstraremos a anterior afirmação de
que a arte denunciou a existência da crise da ciência, bem
como, apontou a distorção entre evolução e favorecimento da
humanidade. Em momento seguinte, discutiremos
apontamentos de uma possível solução à crise, que utiliza a
ciência como elemento de verdadeira emancipação de nossa
raça, bem como, elementos iniciais para superação do atual
paradigma científico.
Entretanto, antes de iniciarmos a exposição das razões do
ensaio, propriamente ditas, é fundamental que perfaçamos
algumas delimitações temáticas de análise, de modo a não
generalizar raciocínios e ponderações. É a questão da qual nos
ocuparemos na seção seguinte, como vejamos.

2 AFINANDO OS INSTRUMENTOS: CONSIDERAÇÕES


PRELIMINARES
Por óbvio, um corte epistemológico seria não só
interessante, como, acima de tudo, bastante pertinente à esta
breve discussão. Assim sendo, para nosso objetivo, nos
utilizaremos da arte musical, ou, simplesmente, da música,
assim compreendida como “arte e ciência de combinar os sons
de modo agradável à audição” (FERREIRA, 2015, p. 523), ou
como bem afirmou Clifton (Apud BORGES, 2010, não
paginado), um “arranjamento ordenado de sons e silêncios cujo
sentido é presentativo ao invés de denotativo. (...) música é a
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realização da possibilidade de qualquer som apresentar a


algum ser humano um sentido que ele experimenta em seu
corpo”.
Compreendemos que, no contexto artístico, o casamento
da música com a poesia (ou seja, a letra da música) potencializa
o propósito de ambas, perpassando uma mensagem concreta
que, através da música, invade setores conscientes e
subconscientes da mente humana. Uma verdadeira sensação
espiritual, decerto. Esta revelação do espírito humano, aliás,
tem sido cada vez mais reconhecida nalguns ramos específicos
da ciência, que tem utilizado cada vez mais a música em suas
respectivas investigações. A título de exemplo, vejamos a
ponderação de Vianna a respeito de “intersecções” entre a
ciência do direito e a música:
Um simples olhar na História comprova o que
aqui se pretende dizer. Traços musicais estão
presentes desde as civilizações Pré-Históricas,
assim como nas Antigas Civilizações, como
Mesopotâmia, Egito e Grécia só para citar
algumas. Não é por acaso que a música, de
maneira direta ou indireta, esteve e está
presente em inúmeras manifestações sociais,
desde liturgias religiosas, a celebrações
militares e patrióticas, ou como forma de
expressar sentimentos de liberdade, amor,
paixão, tristeza ou indignação. Daí a grande
variedade de gêneros musicais, que vão da
música erudita ao hip hop; do country ao jazz;
da música típica dos pigmeus Baka do Gabão
ao sertanejo de raiz ou MPB brasileiros.
Música e ser humano caminham lado a lado.
Aquela é manifestação, expressão, sublimação,
catarse deste. Revela-o. Daí por que se afigura
essencial para o Direito melhor conhecer e
mais se aproximar deste mesmo ser humano, o
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que, seguramente, trará efeitos sociais


benéficos. (VIANNA, 2012, não paginado).

Como vemos, é possível encontrar ambos fenômenos em


determinadas encruzilhadas do conhecimento humano,
dialogando, porosos a trocas interessantes e enriquecedoras a
cada um dos lados envolvidos, exigindo, de forma bastante, a
permissiva e ampliada sensibilidade de seus interlocutores. No
contexto da música, por sua vez, nos ateremos a um estilo
musical contemporâneo específico, denominado de Rock ‘n’
Roll, ou, simplesmente, Rock e suas vertentes. Em tempo, é
relevantíssimo afirmar a dificuldade hercúlea de conceituar o
estilo, sobretudo, em razão de suas inúmeras vertentes na
atualidade1, delimitação da qual nos pouparemos, sob pena de
desvio do objetivo do ensaio.
Sabe-se, no entanto, de sua origem nos anos 1930, nos
Estados Unidos da América, sob nítidas influências do blues
negro e do country branco, bem como, de sua questionável
reputação inicial em razão das questões étnicas destacadas, da
simplicidade estrutural (ofensiva às complexas músicas
orquestradas, populares à época) e caráter dançante (associado
à pecado e questões sexuais), conforme destaca Mazzoleni
(2012, Pp. 11-14). As influências do estilo aportaram nas terras
brasileiras em meados da década de 1950, gerando substancial
produção nacional própria (CLEMENTE; PICCOLI, 2008),
igualmente marcada pelo enfrentamento de um forte estigma
inicial.

1
Somente a título de curiosidade, sítio de internet www.rockradio.com, um dos mais populares a
respeito do gênero, detém, atualmente, 36 canais de diferentes estilos de rock, que perpassam pelo
“rock clássico”, “pop rock”, “Rock alternativo”, “Metal”, “Grunge”, “industrial”, dentre outros.
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A estigmatização deste estilo, aliás, é constatável até os


dias de hoje, apesar do grande espaço galgado, tanto nos meios
sociais, quanto, sobretudo, no mercado, em razão de uma forte
característica do estilo: o mesmo tem uma compatibilidade
natural com temas políticos e sociais, e, mesmo quando voltado
a questões como romantismo ou paródias humorísticas, que
beiram, certas vezes, a pornochanchada, o Rock detém uma
forte cadência de protesto (PERCILIA, 2014, não paginado).
O gênero se coloca, como vemos, em rota de colisão com o
comum, sendo um estilo onde é marcante a denúncia de males
sociais, fator decisivo para sua definição como norte
epistemológico nesta análise. Tal comportamento, decerto, o
aproxima da ciência (uma vez que esta também busca uma
transição sobre a ideia de comum), porém, ao mesmo o tempo o
afasta (uma vez que o rock também acusa a ciência, em relação
aos seus erros). Isto o torna um referencial, dentro da arte, por
excelência ao nosso objetivo.
Dentro do gênero, por sua vez, ateremos nossa discussão
à mensagem perpassada por quatro músicas: a) “Orgulho e
Cinismo” (do álbum “Pior Cenário Possível”, do ano de 2015),
da banda brasileira “Matanza”2, e, “Do the Evolution” (Do
álbum “Yeld”, do ano de 1998), da banda norte americana
“Pearl Jam”3, que nos guiarão pela seção seguinte; e, b)
“Mensageiro da Desgraça” (do álbum “Nheengatu”, do ano de
2014), da banda brasileira “Titãs” 4, e, por fim, “3ª do plural”
(do álbum “Surfando Karmas e DNA’s, de 2002), da Banda

2
Banda carioca (RJ/Brasil) que mistura estilos como o countrycore, jamboree, hardcore e heavymetal.
3
Banda originária de Seattle/EUA que detém estilos como “grunge” e “rock alternativo”.
4
Banda paulista (SP/Brasil) que detém vasta influência de estilos no rock.
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Engenheiros do Hawaii5, que ocuparão a seção final do


presente ensaio.
Em tempo, o caríssimo leitor deve, certamente, estar
questionando a elaboração do presente colóquio sob dois
aspectos que saltam preponderantemente aos olhos e que são
dignos de nota nesta etapa inicial: o uso da primeira pessoa, na
escrita e debate, assim como, a delimitação de um gênero que,
invariavelmente, parece ser de “gosto” deste
“debatedor/escritor”. Devo, aliás, parabenizar o crítico que há
tempos já observara tal questão. É justo que se advirta,
primeiramente, que a “pessoalidade” tomada como assente no
presente ensaio, invariavelmente, se coloca como uma das
questões relativas à crise da ciência, a ser tratada adiante,
onde discutiremos até que ponto a neutralidade científica seria
real, e, acima de tudo, benéfica ou não.
Em segundo lugar, devemos lembrar que as presentes
linhas configuram uma análise filosófica de um fenômeno
constatado em relação à realidade, e, como “boa filosofia” se
propõe a uma busca racional além das explicações científicas e
causalidades empíricas (BITTAR; ALMEIDA, 2015, p. 21),
justamente, para demonstrar como o espírito humano comum
às artes é capaz de enxergar e propor, em igual grau de
importância, soluções almejadas (e as vezes ignoradas) pela
ciência. O propósito é claro: “reumanizar” a ciência. E, para
tanto, nada mais justo do que linhas que não esquecem os
propósitos humanos (inclusive os deste humano autor). Afinal,
se em contato com a arte vivemos uma experiência, poderíamos

5
Banda Gaúcha (RS/Brasil) que perpassa por vários estilos do rock nacional.
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dizer, parafraseando Heráclito, que ninguém jamais ouviria


duas vezes a mesma mensagem musical, afinal, após ouvi-la, o
humano não seria mais o mesmo humano, e a música não seria
mais a mesma música.
Não objetivamos o comum (ou seja, o cientificamente
corriqueiro), já que, o comum da ciência afastado do comum
humano, talvez, seja o principal problema a ser apontado em
relação a sua atual crise. Dito isto, passemos ao debate.

3 “PODE ALGUEM DIZER O QUE ESTAMOS FAZENDO


AQUI, ESSA ESTRADA ACABA NO ABISMO”: O RIGOR
CIENTÍFICO E A AMNÉSIA DE HUMANIDADE.

É de Santos (2010, p. 13) a melhor definição do contexto


de crise científica em que nos encontramos, ao afirmar que
vivemos “intercruzados por sombras”. Estas, por sua vez,
adviriam tanto de nosso passado (como se, cientificamente,
ainda vivêssemos sob modelos impostos nos séculos XIX),
quanto de nosso futuro (sob inovações vividas no século XX,
que o colocavam antecipadamente no século XXI, porém, sob o
temor da aniquilação, ante os desastres e constantes guerras
vivenciadas).
Em outras palavras, repetindo afirmativa anterior da
introdução deste ensaio, a despeito das grandes e inegáveis
evoluções propiciadas pela ciência, ainda não nos mostramos
capaz, a despeito de sua prometida neutralidade de interesses e
valores eliminar problemas muito antigos da humanidade, como
a fome, a acessibilidade à produtos e serviços mais básicos
(como o fornecimento de água, por exemplo) e o

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reconhecimento de uma dignidade humana a grande parte da


população mundial.
Não estamos aqui a crucificar a ciência (até mesmo, por
não desejarmos afirma-la como um messias do cristianismo),
afinal, repetimos, são inegáveis os benefícios que esta trouxe à
humanidade. Contudo, como bem adverte Morais (2012, p.
108), há um lado “mau em tudo de bom” que se vê na ciência:
Inevitavelmente, a ciência e a tecnologia não
são boas ou más. São ambas as coisas. E isso
porque, as suas funções manifestas,
conhecidas e declaradas, correspondem
funções latentes, desconhecidas no momento
das novas criações e, por isso mesmo, caladas.
Essa coisa pode ser constatada praticamente
na maior parte das bulas de medicamentos,
nas quais se lê que, embora os testes tenham
sido feitos cuidadosamente, não são
conhecidas todas as consequências da
ingestão daquele remédio (...).

Ainda, sob as palavras do mesmo autor, aprendemos outro


exemplo significativo do que ouso chamar de dicotomia
científica, que hoje vivemos:

(...) se hoje em dia uma parte da população do


mundo morre porque não tem comida – morre
de fome -, a outra parte da população está
morrendo porque a tem; isto é, em termos de
substituição do natural pelo quimicamente
preparado, conta-se com alimentos cada vez
menos confiáveis, como os diabéticos da maior
parte do chamado terceiro mundo que adoçam
suas bebidas com sacarina, substância
extraída de um derivado do petróleo já
comprovadamente cancerígeno (MORAIS,
2012, p. 107).

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“Maniqueísmo científico” – deve questionar o leitor?


Certamente, não. Exercitamos aqui o espírito filosófico de
questionar a realidade ao nosso redor e, a partir de nossa
percepção, buscar a ideia de valor, de moral, de ética, de
importante, que parece ter sido tão afastada da ciência na
busca do mito de elaboração de uma razão pautada naquilo que
poderia ser observado, livre de qualquer sentimento.
A neutralidade científica, aliás, acusa de maniqueísmo
qualquer elaboração externa a esse rigor tomado na elaboração
de suas leis e teorias, ao passo que, fechando os olhos para o
sensível, fecha os olhos para os inúmeros desastres causados
pela ciência. Neste sentido, vejamos o que a música “orgulho e
cinismo” tem a nos dizer:
Muito me embrulha o estômago ler os jornais;
Talvez seja pra humanidade tarde demais;
Navio naufraga e derrama petróleo no mar;
Material radioativo que a usina deixa vazar;
Teoria da conspiração;
O triste fim da civilização?
Ou só mania de perseguição que leva à
paranoia.
(...)
Um chefe de estado suspende os direitos civis;
Epidemia de vírus dizima todo um país;
A fraude é só o que sustenta o sistema legal;
É fato, não é boato, não li no jornal;
Teoria da conspiração;
O triste fim da civilização?
Ou só mania de perseguição que leva à
paranoia.
(MATANZA, 2015).

Embora não sentida pela ciência (ou dolosamente omitida


por muitos, em suas fileiras), a dicotomia científica é sentida
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pelo humano, conforme se viu da letra da música acima, que


passa a questionar sua própria qualidade de vida, existência e
possíveis rumos a serem tomados pela humanidade, como se vê
do refrão da música em questão, que deixa claro que o modelo
de progresso que hoje detemos, certamente, está conduzindo a
humanidade a rumos bastante catastróficos.

Pode alguém dizer o que estamos fazendo


aqui?
Esta estrada acaba num abismo;
Mas pelo visto nós vamos todos cair com
orgulho e cinismo;
Cogitar que o mundo pode acabar seria um
grande exagero;
Mas, se o futuro prometido aqui chegar, há de
suportar o mau-cheiro.
(MATANZA, 2015)6.

Como observamos, o progresso parece, em muito, aliado a


um modelo de exploração de recursos (naturais e humanos)
substancialmente destrutivo, típico dos séculos anteriores, onde
era comum uma concepção de inesgotabilidade dos recursos
(THOMÉ, 2013, p. 31). Esta concepção de livre exploração,
aliás, é em muito enunciada por um modelo científico
propagado após a revolução científica copernicana, no século
XVI, quando, diante de um desencantamento de mundo, este
mundo, antes sagrado e intocável como obra perfeita de Deus,
passou a ser visto como um produto cognoscível, testável,
destrinchável, passível de ser pesquisado empiricamente
(MORAIS, 2012, o. 109). Ainda sob os ensinamentos de Morais
6
Para uma melhor experiência, aconselhamos que o leitor se utilize, igualmente, de recursos
audiovisuais, para que tenha acesso, também, à parte “inteligível” da combinação musical, o que pode
ser propiciado pelo clipe oficial da música, disponível no sítio: https://www.youtube.com/watch?v=c-
qhhWX6ofs.
39
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(2012, p. 110-111), temos que a compreensão Newtoniana de


que “tudo no mundo é regido por leis perfeitas e imutáveis”
perpassou a compreensão de que a “razão tudo poderia
conhecer” elevando o conhecimento científico, supostamente
neutro, ao ápice da ideia de evolução humana, o que elevou a
ciência (construtiva e destrutiva, por excelência) ao quadro
acima enunciado.
Mas por que chegamos a tal ponto? Pode alguém dizer o
que fazemos nessa “estrada que acaba no abismo” (MATANZA,
2015)? Uma possível resposta a esta questão reside num
infindável desejo de previsibilidade das situações futuras ínsito
à humanidade, que busca justificação da sua realidade nas
crenças, na metafísica e, igualmente, na ciência, como tentativa
de construir uma ordem.
Alves, sintetiza bem a questão ao afirmar que:
(...) a exigência de ordem se fundamenta na
própria necessidade de sobrevivência. Não
existe vida sem ordem, nem comportamento
inteligente sem ela (...). Eu desejo que você
anote é isto: a inspiração mais profunda da
ciência não é um privilégio dos cientistas,
porque a exigência de ordem se encontra
presente mesmo nos níveis mais primitivos da
vida (2013, Pp. 39-40).

O nascedouro da ciência, portanto, não é em nada


diferente da gênese das demais “formas de conhecimento”
humano: todos se originam num “desejo”, numa vontade de
compreender o que nos cerca, como desiderato de um impulso
pela busca de uma ordem que nos traga segurança em nossa
sobrevivência.

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No mesmo sentido:
(...) o mundo humano se organiza em torno de
desejos. Aqui temos o ponto central de nossa
grandeza e miséria.
É do desejo que surgem a música, a literatura,
a pintura, a religião, a ciência e tudo o que se
poderia denominar criatividade. Mas é
também do desejo que surgem as ilusões e
preconceitos. Esta é a razão por que a ciência,
desde os seus primórdios, tratou de inventar
métodos para impedir que os desejos
corrompessem o conhecimento objetivo da
realidade.

Noutras palavras, temos que a ciência nasce do humano e


como algo humano se desenvolve, carregando em seu código
genético as mesmas limitações ínsitas à cada fase da
humanidade, senão, inerentes à própria concepção de
humanidade (medo, preconceito, necessidade de sobrevivência,
inclinação à barbárie).
E, sua pretensa metodologia neutra, em muito é
desenganada, justamente, por conta desta natureza humana
inscrita em seus métodos pelo próprio humano que a cria,
conforme bem adverte Alves, mais uma vez:

(...) parece que o cientista não é o executante


de um método, mero método encarnado... Seu
comportamento se parece muito com o das
pessoas comuns, que veem evidências quando
elas não existem e não as veem, quando
existem (2012, p. 216).

E, mais adiante, em sua incomparável obra, arremata:

(...) A questão é que a tomada de decisão


sobre a verdade ou falsidade de proposições
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não se faz a partir da neutralidade e da


indiferença de teorias e métodos. E isso
porque teorias e métodos só existem
efetivamente como sistemas e ideias
instrumentais de comunidade (2012, p. 216).

É de se lembrar que nascemos em comunidades. Não


escolhemos, ao menos, num primeiro momento de nossas vidas,
nossa cultura, religião, padrões científicos, costumes,
linguagens etc. Somos um produto do ambiente em que somos
concebidos ao nascer e, invariavelmente, somos influenciados
pelas noções circunscritas ao mesmo. Estas influências, por
óbvio, guiarão tudo o que somos e o que vemos, até mesmo,
diante da pseudoneutralidade da produção científica, o que,
certamente, aponta um dos mais substanciais problemas da
ciência moderna: sua neutralidade disfarça o que há de melhor
e pior da raça humana dentro de si.
E daí, certamente, justifica-se o ambíguo lado “bom” e
“ruim” da ciência. Mas, não só a este aspecto se resumem às
críticas à ciência moderna. Das explicações de Santos (2010),
aprendemos que os conceitos que justificam uma teoria variam
conforme padrões e concepções locais, sendo absolutamente
irrepetíveis noutros locais do mundo em absoluta igualdade de
condições. Quando efetuamos uma medição da realidade, por
qualquer instrumento, estamos interferindo nesta realidade e,
por óbvio, alterando-a, pelo que não há resultados
absolutamente inquestionáveis, mais probabilísticos, já que nós
o alteramos quando tocamos a realidade com nossos
instrumentos. E, sobretudo, no momento em que analisamos um
aspecto da realidade, nós o seccionamos da realidade como um
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todo, cortando a continuidade newtoniana de realidade


perfeita, e, obviamente, tirando o objeto de seu complexo
mecanismo de funcionamento (2010).
Estes fatores, aliados a outras descobertas da ciência,
como a identificação de processos irreversíveis e que não
seguem padrões repetíveis na microfísica e microbiologia (como
a constante mutabilidade de vírus como o da AIDS e de
recentes epidemias, como as do vírus da Dengue e Zika),
minaram o padrão Newtoniano em dois sentidos: a) não se pode
mais falar de leis absolutas e previsíveis no universo; b) é
questionável a própria ideia de universalidade, ou seja, de que
as coisas poderiam ser iguais em todos os cantos do mundo e a
ciência seria uma só, a ser igualmente imposta a todos no
mundo (SANTOS, 2010).
Assim, desconstruída a “neutralidade” e a pretensa
“universalidade” da ciência, surge um questionamento maior
ainda: a quem a ciência, parcial (conforme o humano que a
gere) e não universal (que expressa padrões locais e, mais
ainda, parciais) acaba por servir, em termos práticos?
Novamente, a partir da música “Do the Evolution” – “faça a
evolução”7, apontaremos alguns rumos indicados pela arte:

Eu estou a frente, eu sou o homem,


Eu sou o primeiro mamífero a usar calças,
Eu estou em paz com minha luxúria,
Eu posso matar, pois em Deus eu confio,
É a evolução, baby.
Eu estou em paz, eu sou o homem,
Comprando ações no dia da quebra,
À solta, eu sou um trator,
7
Tradução livre do autor.
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Todas as colinas, eu irei aplanar todas elas,


É comportamento-padrão, uh huh,
É a evolução, baby.
Me admire, admire meu lar,
Admire meu filho, ele é meu clone,
Esta terra é minha, esta terra é livre,
Eu faço o que eu quiser, mas
irresponsavelmente,
É a evolução, baby.
(PEARL JAM, 1998)8

A ciência, certamente, serviria ao homem que, como na


música, detém o poder de matar, de comprar ações, de
derrubar colinas, de clonar, de alegar uma liberdade que lhe
possibilita uma livre ação irresponsável. Ou, em letras mais
simples, o homem que detém o poder. É novamente em Santos
(2010b), que aponta a existência de interesses hegemônicos e
não hegemônicos, tanto num contexto mundial, quanto em
contextos regionais e locais, que, num constante jogo de forças,
tentam impor interesses dominantes para permanência de
relações de dominação (revelando aquele já comentado desejo
de sobrevivência do ser humano, capaz de barbáries).
Sob um processo historicamente reforçado pelo jogo de
forças político-econômicas instituído após a industrialização das
sociedades, a partir do século XVIII, tem-se que a ciência se
tornou um importante campo de investimento, e, sobretudo, de
competitividade, diretamente influente na capacidade de
imposição de poderes sociais, e, portanto, digna de
investimento por parte dos setores hegemônicos da sociedade.

8
Para uma melhor experiência, aconselhamos que o leitor se utilize, igualmente, de recursos
audiovisuais, para que tenha acesso, também, à parte “inteligível” da combinação musical, o que pode
ser propiciado pelo clipe oficial da música, disponível no sítio: https://www.youtube.com/watch?
v=aDaOgu2CQtI.
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Destaca Santos que:

Tanto nas sociedades capitalistas como nas


sociedades socialistas de Estado do Leste
Europeu, a industrialização da ciência
acarretou o compromisso desta com os centros
de poder econômico, social e político, os quais
passaram a ter um papel decisivo na definição
das prioridades científicas.
(...)
A ciência e a tecnologia têm vindo a revelar as
duas faces de um processo histórico em que os
interesses militares e os interesses
econômicos vão convergindo até quase à
indistinção (2010, p. 57).

É como apontado na música acima destacada.

Eu sou um ladrão, eu sou um mentiroso;


Esta é minha igreja, eu canto no coro;
(Aleluia, Aleluia).
(...)
Eu estou a frente, eu sou avançado;
Eu sou o primeiro mamífero a fazer planos,
Eu rastejei pela terra, mas agora eu estou alto;
2010, assista tudo queimar.
É a evolução, baby!
É a evolução, baby!
Faça a evolução
Venha, venha, venha
(PEARL JAM, 1998)

A ciência, em seu desiderato de racionalidade, em muitos


casos acabou por se tornar fantoche de outros interesses
humanos indissociáveis de qualquer espécie de produção
humana, como, por exemplo, o intento de dominação. E, dessa
maneira, dissociou-se de sua origem (apontada na filosofia)
perdendo também sua índole questionadora da verdade
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(MORAIS, 2012). Assim, converteu-se em instrumento de


obnubilação do humano, como aponta Feyerabend:

(...) O ensino e a defesa de padrões jamais


consistem meramente em colocá-los diante da
mente do estudante e torná-los tão claros
quanto possível. Supõe-se que os padrões
tenham igualmente a máxima eficácia causal.
Isso faz que seja realmente muito difícil
distinguir entre a força lógica e o efeito
material de um argumento. Assim como um
bem treinado animal de estimação obedecerá
a seu dono, por maior que seja o estado de
confusão em que se encontre e por maior que
seja a necessidade de adotar novos padrões de
comportamento, da mesma maneira o
racionalista bem treinado irá obedecer à
imagem mental de seu mestre, manter-se-á fiel
aos padrões de argumentação que aprendeu,
apegar-se-á a estes padrões, por maior que
seja o estado de confusão em que se encontre,
e será inteiramente capaz de compreender
que aquilo que considera ser a voz da razão
não passa de um efeito causal subsequente do
treinamento que recebeu. Ele estará
completamente impossibilitado de descobrir
que o apelo à razão, ao qual tão prontamente
sucumbe, não passa de manobra política
(2011, p. 40).

Adestrados, portanto, por interesses impostos por


determinadas camadas, somos convidados a um discurso de
neutralidade científica, onde sequer a linguagem em primeira
pessoa é totalmente desaconselhada pelas normas
educacionais/institucionais (motivo pelo qual ouso pregar a
primeira pessoa neste ensaio filosófico, como dito alhures,

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como protesto à imposição das normas ditas neutras e práticas


institucionais que mais alienam que emancipam).
E mais. O discurso de neutralidade desindividualizada, ou
seja, que desconsidera a pessoa, transformando-a numa
imagem, num número, num objeto ou semelhante, gera outra
situação mais grave ainda, muito bem apontada por Zimbardo:

A desinvidualização gera um estado psicológico


único, no qual o comportamento passa para o
controle das exigências das circunstâncias
imediatas e dos impulsos biológicos e
hormonais. A ação substitui o pensamento e a
busca pelo prazer imediato domina o adiamento
da gratificação, e as decisões ponderadas dão
lugar a respostas emocionais impensadas (...). A
vulnerabilidade a modelos sociais e a sinais
situacionais é ampliada; assim, torna-se tão
fácil fazer amor quanto fazer a guerra – tudo
depende do que a situação traz à tona. O que é
possível e está disponível domina o que é certo
ou justo. A bússola moral dos indivíduos e
grupos perde sua polaridade. (2012, p. 428).

Desindividualizados, ou seja, encarados como algo não


pessoal, despersonalizado, somos mais suscetíveis a impulsos
que o ambiente (ou os grupos ou interesses científicos) nos
propiciariam, sendo mais fácil que ajamos em nome do grupo
ou interesse do que de acordo com nossos sentimentos ou
imperativos morais9. Ou seja, inconscientemente, nos tornamos
máquinas, de produzir, de descobrir, de dissociar, e, de acordo
com os interesses determinantes do processo científico, até

9
É justo que se esclareça que Zimbardo (2012) tratou desta sistemática comportamental em relação a
um experimento prisional. Porém, se observarmos, seu ensinamento é amplamente aplicável à
qualquer espécie de ambiente humano, explicando-se, assim, a origem de muitos “males indesejados,
porém, praticados pelos sujeitos”, aqui, os sujeitos científicos.
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mesmo capazes de matar e destruir, sob o suposto manto


sagrado da evolução.
É a evolução, baby. Em tempo, cumpre assinalar que nem
mesmo as instâncias acadêmicas se encontram libertas deste
processo. Paradoxalmente, o âmbito acadêmico talvez seja um
dos maiores nutrientes deste contexto de crise científica em
que nos encontramos, em razão de uma crise paralela à da
ciência: a crise institucional.
Nesse sentido, Santos afirma que:
(...) A crise institucional era e é, desde há pelo
menos dois séculos, o elo mais fraco da
universidade pública porque a autonomia
científica e pedagógica da universidade,
assenta na dependência financeira do Estado.
Enquanto a universidade e seus serviços foram
um inequívoco bem público que competia ao
Estado assegurar, esta dependência não foi
problemática, à semelhança do que se passa,
por exemplo, com o sistema judicial, em que a
independência dos tribunais não é afetada
pelo fato de serem financiados pelo Estado. No
momento, porém, em que o Estado, ao
contrário do que se passou com a justiça,
decidiu reduzir seu compromisso político com
as universidades e com a educação em geral,
convertendo esta num bem que, sendo público,
não tem de ser exclusivamente assegurado
pelo Estado, a universidade pública entrou
automaticamente em crise institucional. Se
esta existia antes, aprofundou-se. (2013, Pp.
430).

Por óbvio, convênios com instituições privadas, projetos


financiados pelo governo (porém, doravante, de maneira
condicionada aos seus interesses) e o direcionamento de
estudos a necessidades primárias do mercado, acabaram por
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minar qualquer autonomia científica existente nas


universidades, reforçando o processo de crise científica. Isto,
sem se mencionar a o fenômeno inerente às universidades
particulares que, ao contrário das públicas, nascem, em muitas
ocasiões, totalmente desvinculadas de um verdadeiro projeto
político-pedagógico efetivo (tendo-o, tão somente, no papel).
Isto, as impele a desenvolver pesquisas científicas e de
extensão (quando sequer as desenvolvem, por exigência de
órgãos de controle estatal) voltadas ou a satisfação de um
mercado local ou a interesses políticos específicos e
hegemônicos de sua realidade. Ou pior: fingir que fazem
pesquisa e extensão.
Eis, assim, a ciência em crise. Como vimos, para a arte
(notadamente, para o Rock), não se afigurava difícil ver e
denunciar esta crise, sobretudo, porque a sociedade, que pulsa
com os acordes da música, era a maior atingida pelo falso mito
da neutralidade e universalidade científica. Cumpre-nos
questionar, a esta altura, o que fazer para efetivamente
solucionar esta crise. Teorizá-la a partir dos mesmos mitos de
neutralidade e universalidade científica seriam um notável erro,
certamente.
Impõe-se, assim, uma virada paradigmática que teria de
se assentar em diferentes valores, aliás, voltando a admitir
valores como elementos indissociáveis da ciência em que,
invariavelmente, influem na construção de qualquer
racionalidade. Neste momento, novamente, ousamos lançar um
olhar para a arte-musical e, diante dela, pôr-nos a ouvir o que
os espiritualizados acordes nos teriam a dizer a respeito de
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pistas de uma possível “retomada de curso” legitimadora do


conhecimento científico, buscando uma possível direção de
afastamento desta crise.
É o encaminhamento tomado por nosso ensaio, na seção
seguinte. Vejamos.

4 “CANSEI DA FOME E DO CRACK, DA MISÉRIA E DA


CACHAÇA, CANSEI DE SER HUMILHADO”: A POSSÍVEL
RECONCILIAÇÃO DA CIÊNCIA ENGANADA COM O
HUMANO DESPERDIÇADO.

Uma vez desconstruído o mito da neutralidade, agora sim,


cumpre esclarecer que este ensaio encontrou origem numa
observação quanto à convergência direta entre críticas teóricas
(muito pertinentes, ao ver deste autor, e, a esta altura, talvez,
também ao ver deste respeitável leitor) à realidade da ciência e
o conteúdo (legível e inteligível) das músicas destacadas, que
expressavam uma forte consonância de ideias.
A crítica da neutralidade e da desvinculação entre ciência
e sociedade caía como uma luva à medida em que as músicas
expressavam, de forma mais direta, à mente e ao espírito, uma
realidade que muitos teóricos da ciência, até hoje, ainda
teimam em negar (talvez pelo valor da recompensa que os
interesses hegemônicos ainda atribuam àquela).
Disto, surgiu o questionamento sobre a possibilidade, ou
não, de se encontrar na própria arte-música determinadas
sugestões à crise, indicativas de um eventual novo paradigma
científico (sobretudo, considerando que o modelo de ciência é,
notadamente, muito resistente a mudanças), capaz de propor
uma ampliação dos avanços aos demais membros da
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comunidade, entretanto, sem uma efetiva destruição do


ambiente e de práticas humanas consolidadas no tempo e no
espaço. Reproduzindo lição de Morais (2012, p. 114), tomamos
por questionar à música quais seriam os novos valores a serem
plantados em solução à crise apontada?
A canção “3ª do plural”10, nesse sentido, apontou um
interessante questionamento a ser feito à ciência, que indica,
por conseguinte, um plausível caminho coerente a ser seguido.
Quem são os favorecidos pela ciência? Vejamos:

Corrida pra vender cigarro;


Cigarro pra vender remédio;
Remédio pra curar a tosse;
Tossir, cuspir, jogar pra fora;
Corrida pra vender os carros;
Pneu, cerveja e gasolina;
Cabeça pra usar boné;
E professar a fé de quem patrocina;
Eles querem te vender;
Eles querem te comprar;
Querem te matar (de rir);
Querem te fazer chorar;
Quem são eles?
Quem eles pensam que são?
Quem são eles?
Quem eles pensam que são?
(ENGENHEIROS DO HAWAII, 2002).

Tendo isto em vista, retirando os véus que escondem os


favorecidos da ciência (o que, é totalmente diferente de
favorecidos pela ciência), seria possível evidenciar, de outro
lado, quem são os “marginalizados” do processo científico, e

10
Para uma melhor experiência, aconselhamos que o leitor se utilize, igualmente, de recursos
audiovisuais, para que tenha acesso, também, à parte “inteligível” da combinação musical, o que pode
ser propiciado pelo clipe oficial da música (em versão acústica), disponível no sítio:
https://www.youtube.com/watch?v=tVQu5CZeE8M.
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que, por óbvio, estarão excluídos dos benefícios obtidos pelas


pesquisas, quando não, diretamente prejudicados por estas.
Devemos ter pleno discernimento, ao fazer ciência, de quem
são os sujeitos visíveis envolvidos no processo em questão: a)
realizadores da pesquisa, com aspirações pessoais, econômicas
e sociais envolvidas; b) entidade financiadora e realizadora da
pesquisa, e quais são suas motivações; c) eventuais
incentivadores externos. Porém, mais ainda, é importante que
busquemos esclarecer quem serão os sujeitos invisíveis
envolvidos na pesquisa: a) a parcela atingida da população; b)
os grupos secundariamente favorecidos ou prejudicados; c)
potenciais utilizadores etc.
Esta visão é importante justamente para que a pesquisa
possa, também, albergar estes outros sujeitos implícitos,
tornando-os parte do processo e não vítimas deste.
Identificados estes grupos, saberemos a quem a ciência tem se
destinado (os favorecidos). Em, seguida, olhando o lado oposto
(o dos não favorecidos), devemos compreender a importância
de ponderar que a ciência (ou o interesse científico
hegemônico) não poderia mais ditar (pelo menos, com
exclusividade) os rumos a serem adotados pelos estudos e
projetos, sendo fundamental, portanto, a oitiva da
sociedade/mundo que é a destinatária dos avanços (e objeto de
estudos).
Igualmente, deve-se entender que os pesquisadores
devem buscar a eliminação de seus pré-conceitos
determinísticos de neutralidade e universalidade, e estabelecer,
como elemento apriorístico, que as novas elaborações deverão,
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invariavelmente, imantadas por concepções pessoais e


influências locais, devendo, portanto, ser confrontadas com
outras concepções (justamente, a dos não favorecidos) para
possível expressão de maior verossimilhança das suas
conclusões.
Do tradicionalismo, certamente, adviria a crítica de que a
pesquisa se envolveria com o senso comum, o que prejudicaria
sua racionalidade. Porém, nos projetos sociais sobretudo, é
justamente a ideia de comum, a experiência local, a visão
privilegiada de um fenômeno, que se mostraria capaz de
atribuir legitimidade à ciência e aos resultados científicos
obtidos em um estudo. Afinal, aquele se destinaria, justamente,
aos comuns.
São inúmeras as razões apontáveis: a) com a participação
da comunidade, é mais plausível a aceitação de resultados; b) a
comunidade expressaria, com suas próprias visões de
necessidade, quais os principais aspectos humanos e
ambientais a serem levados em conta pelo estudo e seus
resultados; c) o projeto, sensível à realidade, compreenderia e
discutiria as fronteiras intocáveis nas futuras observações,
inerentes a aspectos culturais de identidade dos povos,
elementos biopsicossociais de preservação obrigatória,
símbolos representativos do sagrado, figurações de respeito
obrigatório etc.; d) o fortalecimento do local, possivelmente,
propiciaria uma emancipação das práticas e economias, através
da compreensão das próprias peculiaridades, ao invés da
imposição de modelos externos à realidade das comunidades; e)
a experiência privilegiada local propiciaria uma melhor
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percepção fenomenológica por parte da ciência, poupando


tempo e recursos nas pesquisas; f) a valorização de práticas
democráticas, que empoderaria a ideia de cidadania e
reconstituiria a confiabilidade da ciência, sobretudo, quando
preservadora de elementos da diversidade ambiental e cultural.
Não estaríamos mais diante de uma ciência de satisfação
ou progresso unilateral, senão, diante de uma ciência que
propiciaria uma emancipação da humanidade, justamente, por
considerar suas diferenças e sua dignidade, variáveis conforme
aspectos locais, uma ciência que revelaria o total revés do que
a música em destaque destacou como atual objetivo da
evolução (leia-se, o mero lucro), como vejamos.
Corrida contra o relógio;
Silicone contra a gravidade;
Dedo no gatilho, velocidade;
Quem mente antes diz a verdade;
Satisfação garantida;
Obsolescência programada;
Eles ganham a corrida;
Antes mesmo da largada;
Eles querem te vender;
Eles querem te comprar;
Querem te matar (a sede);
Eles querem te sedar;
Vender, comprar, vendar os olhos;
Jogar a rede... contra a parede;
Querem te deixar com sede;
Não querem te deixar pensar;
Quem são eles?
Quem eles pensam que são?
Quem são eles?
Quem eles pensam que são?

Buscar uma nova significância da categoria progresso (ou


outras semelhantes, como desenvolvimento), portanto, seria
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abandonar a atual unilateralidade científica, em busca de uma


espécie de “fortalecimento de espíritos”, um aperfeiçoamento
da qualidade interior da humanidade (MORAIS, 2012, p. 113),
atualmente, excluída dos avanços da ciência. E este
fortalecimento de espírito perpassaria pela valorização do local,
como bem sugere Morais, ressalte-se, em redação em primeira
pessoa:
Acredito numa revolução molecular de
conscientização pela educação (do lar, da
igreja, da escola etc.) que deve ocorrer
paralelamente às grandes transformações
estruturais. Não poderia também perder a
possibilidade de crer que posso contribuir
para mudar o futuro, para não enlouquecer.
(...) É preciso crer na participação de cada ser
humano nas possibilidades de recuperação do
seu mundo, como também da sanidade da
ciência, que foi vítima de erros ideológicos
muito profundos (2012, P. 115).

Em linhas mais simples, é imprescindível ouvir o grito dos


marginalizados do processo científico, ou seja, aqueles
mantidos à míngua do progresso, interpretados como anti-
humano de uma ciência que se afigura cega aos verdadeiros
proclames sociais. Parafraseando a música a seguir,
consideramos que é a partir do conhecimento da realidade
daqueles ignorados, que advirá e se legitimará uma nova
ciência, é deles a mensagem da crise, são eles os mensageiros
científicos da desgraça. Vejamos a música “mensageiro da
desgraça”11:

11
Para uma melhor experiência, aconselhamos que o leitor se utilize, igualmente, de recursos
audiovisuais, para que tenha acesso, também, à parte “inteligível” da combinação musical, o que pode
ser propiciado de clipe não oficial da música (em versão ao vivo), disponível no sítio:
https://www.youtube.com/watch?v=J-TH1lprnqU.
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Pintado pra batalha com sujeira, piche e


carvão;
Escuto o som da cachoeira na avenida São
João;
Sigo o rumo da floresta no Viaduto do Chá;
Na selva de concreto, estou pronto pra lutar;
Vejo meus antepassados, vou vingar os meus
irmãos;
Os que são queimados enquanto dormem no
chão;
Escuto o som dos pássaros, vou vingar minhas
irmãs;
As que são estupradas na luz da manhã;
Subindo as escadas do Teatro Municipal;
Pintado com palavra, terra e tinta de jornal;
Andando contra os carros e aviões na
marginal;
A esperança cega não me livrará do mal;
Cansei da fome, do crack;
Da miséria e da cachaça;
Cansei de ser humilhado;
Sou o mensageiro da desgraça;
(TITÃS, 2014)

A voz que vem debaixo seria a consagradora do futuro.


Em semelhante sentido, podemos citar a digressão de
Alves (2013, p. 234), que afirma que a ciência deveria buscar
sua legitimação (haja vista a natural dificuldade em encontra-la
junto ao conhecimento) na “bondade”, tornando-a um veículo
de “alívio à miséria humana”, o que, apesar de ser um
postulado bastante “aberto e abstrato”, ainda assim, instala um
possível “princípio” ou “ponto de partida” de uma nova ciência.
Apostando numa espécie de “anarquismo científico”, por
sua vez, encontramos em Feyerabend a sugestão de
consideração da “falibilidade” da ciência como questão
apriorística de sua produção (2011, p. 316). Aliás, o mesmo
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autor é convergente com nossas ideias ao afirmar a importância


de “ouvir” o cidadão no processo de produção do conhecimento
científico, como vejamos:
(...) Consequentemente, em uma democracia,
as populações locais não apenas usarão, mas
também deveriam usar as ciências nas
maneiras mais adequadas a elas. A objeção de
que os cidadãos não têm a competência de um
especialista para julgar assuntos científicos
não leva em conta que problemas importantes
frequentemente cruzam os limites das várias
ciências, de modo que cientistas em cada uma
dessas ciências também não têm das
qualificações necessárias. (...) A competência
do público em geral, contudo, poderia ser
gradamente melhorada por uma educação que
expusesse a falibilidade dos especialistas, em
vez de agir como se ela não existisse. (2011,
p.318).

Porém, é em Santos (2010, p. 69) que encontramos uma


mais subsistente proposta adequada àquela apregoada
“participação humanística” no processo de produção do
conhecimento científico e ao resgate de seus valores, ao
afirmar: a) A consideração da “socialidade” de todas as
ciências, inclusive as “naturais”, já que servem à humanidade;
b) A consideração do ser humano como elemento da natureza,
interagente com a mesma, e, sobrevivente “pela” e “com” a
mesma, cujas “vivências”, portanto, devem ser consideradas na
produção científica. Apregoa, portanto, o advento de um
verdadeiro conhecimento científico-social, afirma.
Assim, Santos (2010, pp. 73-79) constrói a ideia de que o
conhecimento deveria ser considerado, primeiramente, “local e
total”, uma vez que deve (ou deveria) ser produzido conforme
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projetos locais, reconstituindo necessidades e histórias


específicas (e não as destruindo ou as impondo um “outro”
modo alienígena de pensar). Por conseguinte, afirma que este
conhecimento propiciaria um “autoconhecimento”, ante o dever
de buscar a promoção das “humanidades” que lhe produzem e
cercam, referenciando suas futuras ações e identificando suas
raízes e identidades (SANTOS, 2011, pp. 80-85).
Segue, informando que este conhecimento deteria como
finalidade, não mais, o afastamento da sociedade e a
especialização infindável de saberes, separada, portanto, do
corpo social, porém, a capacitação das comunidades, tornando
o “científico”, progressivamente, algo a ser incorporado ao
“senso comum”, assim, num círculo cognitivo que permitiria o
natural avanço dos saberes (SANTOS, 2011, pp. 88-89). O
conhecimento científico, portanto, seria um mensageiro da
desgraça vivida pelas comunidades humanas, não num aspecto
negativo, senão, como um instrumento revelador de suas reais
necessidades e voltado à instituição de novas práticas mais
preservadoras e menos nocivas à existência.
Trata-se do que Santos denominou, tempos depois, de
Ecologia de saberes:

(...) Pode-se afirmar que a diversidade


epistêmica do mundo é potencialmente
infinita, pois todos os conhecimentos são
contextuais e parciais. Não há nem
conhecimentos puros, nem conhecimentos
completos; há constelações de conhecimentos.
Consequentemente, é cada vez mais evidente
que a reinvindicação do caráter universal da
ciência moderna é apenas uma forma de
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particularismo, cuja particularidade consiste


em ter poder para definir como particulares,
locais, contextuais e situacionais todos os
conhecimentos que com ela rivalizam. (2010c,
p. 154).
E prossegue:
A ecologia de saberes procura dar
consistência epistemológica ao saber
propositivo. Trata-se de uma ecologia porque
assenta no reconhecimento da pluralidade de
saberes heterogêneos, da autonomia de cada
um deles e da articulação sistêmica, dinâmica
e horizontal entre eles. A ecologia de saberes
assenta na interdependência complexa entre
os diferentes saberes que constituem o
sistema aberto do conhecimento em processo
constante de criação e renovação. O
conhecimento é interconhecimento, é
reconhecimento, é autoconhecimento. (2010c,
p. 157).

E, talvez, ai resida uma das principais propostas para


legitimação de uma ciência pós-crise: o reconhecimento de que
cada saber deve ser respeitado e considerado como importante
parte do conhecimento científico, numa dialética (parecida,
aliás com as várias ideias propagadas de “democracia”) que
considera que cada sujeito é detentor de um “saber” expressivo
de sua realidade e impactante no produto analítico final,
oriundo do choque deste e outros conhecimentos.
Trata-se de um exercício, por exemplo, de ouvir os pobres
para compreender a origem das pobrezas. De ouvir os
ribeirinhos para compreensão das enchentes, acidentes
ambientais e seus impactos concretos. De ouvir os estudantes a
respeito dos métodos educacionais. De ouvir os cientistas (e
não seus financiadores) a respeito de sua metodologia e visão
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de ciência. De ouvir o humano, portanto, para produção de


diferentes humanidades. Uma ciência legitimada pelo exercício
de ouvir o humano, como se ouve com atenção e amor a uma
boa música.
5 UM TALVEZ DELÍRIO DE CONCLUSÃO.

Ao longo deste ensaio filosófico, talvez a maior verdade


(literalmente, entre aspas) que se tenha descoberto é a de que
a ciência e os demais conhecimentos humanos são efetivamente
movidos pelo desejo humano. O desejo de sobreviver, de se
alimentar, de ter, de ser, de impor etc. Certamente, é deste
aspecto que se originam nossas maiores fraquezas e
qualidades, já que o desejo nos impulsiona no espaço e história.
Porém, em nossos intentos de desejo, esquecemos que a
partilha dos saberes pode nos elevar à compreensão alheia e
transformação do altero, do diferente, em algo comum ou
próximo, e, nessa qualidade, aceitável ou, até mesmo, amável.
O conhecimento propicia esta realidade. Porém, é tempo
de se perguntar, qual conhecimento propicia esta realidade?
Afinal o arbitrário exercício racional e universal da ciência nos
tem levado às proximidades da ruína. Paralelamente, outros
conhecimentos denunciavam nossos erros e apontavam
possíveis caminhos a seguir, sendo, entretanto, discriminados,
por sua falta de cientificidade e rigor. Aqui, demonstramos que
toda a discussão travada, em larga escala, era acompanhada e
explicada pela arte denominada música, conforme demonstrado
a partir do rock, estilo destacado, e seus criadores/intérpretes.
Em verdade, descobrimos que a crise da ciência nada
mais é do que a própria crise relativa à maneira preconceituosa
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que nós, humanos, escolhemos para construir o conhecimento e


inventar diferentes realidades a nosso redor, e que, na prática,
em nada escapou de nossos impulsos mais primitivos e
destrutivos.
Da discussão realizada, podemos retirar uma (entre
várias) lições: é relevante que mudemos nossa forma de
produzir saberes, já que realidades não são vividas
externamente às experiências daqueles que as vivem, podendo,
no máximo, ser descritas ou referidas por interlocutores ou
observadores.
É, portanto, fundamental considerar o conhecimento de
quem detém contato direto à realidade sensível, para, aí sim, se
pensar numa elaboração de uma verdade factual, momentânea
e reconstruível (já que, dentro da crise, descobrimos que a ideia
de uma verdade absoluta e imutável é, em certos casos, falsa e
meramente interesseira).
Considerar o humano e suas potenciais interações, neste
novo processo, é igualmente importante e denota o futuro
desafio relativo à ciência em transformação: servir a
humanidade, ou seja, voltar-se à sua mais antiga promessa.
Em tempo, é de se destacar que não apregoamos, aqui,
qualquer primazia do empirismo ou do experimentalismo,
afinal, o conhecimento teórico é de fundamental importância ao
conhecimento histórico e desenvolvimento de novas ideias. O
que apregoamos é o reconhecimento de vários conhecimentos,
como a religião, as artes, as culturas, os mitos, as histórias, as
vivências, todos, igualmente capazes de fornecer diferentes
substratos teóricos capazes de outras construir realidades,
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talvez mais aceitáveis, talvez mais humanas, talvez mais


legítimas.
Contudo, há de se afirmar que estamos diante de um
desafio sem tamanho.
Afinal, admitir esta nova forma de produção de
conhecimento é admitir o outro ou os outros, e, assim, nos
reconhecer como só mais um e não como o humano científico
fundamental, o que, notadamente, atinge desejos (lembre, os
fundamentos do conhecimento) como a soberba, a belicosidade
e a ganância. E daí concluirmos, o mal (que a colocou em crise)
e a tábua de salvação da ciência é o desejo ínsito à cognição
humana, limitada e preconceituosa como é, a ser trabalhada
num novo processo de evolução em busca da evolução como
forma de reconstrução da própria noção humanidade.
Ainda assim, devemos reconhecer que estas breves
palavras representam somente uma visão de mundo, obtida por
este autor através de sua humanidade, sobretudo, instigada
pela arte musical que lhe é tão constantemente presente. Nada
mais justo, portanto, terminarmos com um rogo, uma súplica de
que o tema seja discutido a partir de outras realidades, outras
sensibilidades, outros conhecimentos, de modo a realizar a
construção humana da ciência aqui apregoada.
Ouçamos à música que canta nossa realidade. E a
cantemos juntos, pois!
REFERÊNCIAS
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regras. 18. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2013.
BITTAR, Eduardo Carlos Bianca; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso
de Filosofia do Direito. 10. Ed. São Paulo: Atlas, 2015.

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São Paulo: Globo, 2008.
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OS HOMICÍDIOS NO BAIRRO DO CURUÇAMBÁ EM 2015:
UMA DISCUSSÃO SOBRE A DINÂMICA DO ESPAÇO
URBANO E AS CARACTERÍSTICAS DO TERRITÓRIO
Robson Patrick Brito do Nascimento
Rafael Henrique Maia Borges
Clay Anderson Nunes Chagas

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RESUMO: O presente artigo consiste em uma abordagem


geográfica sobre a violência urbana, em especial, os homicídios.
A geografia através de seus conceitos de espaço e território,
além de seu entendimento cartográfico, possibilita um estudo
das relações de poder entre os agentes que disputam o controle
do território, assim, é possível analisar a dinâmica da
criminalidade através do campo de força dos diversos agentes
territoriais que buscam o controle e domínio da cidade. A
pesquisa tem como objetivo analisar os índices de Homicídios
no bairro do Curuçambá, no município de Ananindeua-Pará no
ano de 2015. Metodologicamente, utilizou-se do levantamento
de dados documentais e bibliográficos, bem como da realização
de trabalhos de campo. O artigo se divide em três momentos
importantes. O primeiro consiste na abordagem sobre o
processo de produção do espaço no município de Ananindeua,
em especial no bairro do Curuçambá. No segundo momento,
realiza-se uma abordagem território, violência e criminalidade.
Por fim serão feitas análises gráficas dos homicídios e de sua
cartografia.

PALAVRAS-CHAVE: Homicídios; Espaço Urbano; Território;


Curuçambá.
1 INTRODUÇÃO
A violência urbana vem sendo discutida há algum tempo
por diversas áreas do conhecimento científico, e mais
recentemente pela geografia que busca entender a dinâmica da
criminalidade a partir das relações entre os diversos agentes
territoriais. Um dos principais instrumentos de análise da
criminalidade vem sendo a utilização de ferramentas
cartográficas, que nos permitem visualizar o seu
comportamento espaço-territorial (SANTOS, VIEIRA, CHAGAS,
2015).
O crime interfere de forma direta no cotidiano de grande
parte da sociedade, de diversas formas, por exemplo, através
da sensação de medo gerada, que leva a busca por estratégias
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de defesa, de “segurança”, principalmente, através de muros,


grades e receio de lugares públicos. Dentre os tipos de crime,
apresenta-se um dos mais violentos e extremos que ameaça a
vida humana e que abordaremos na presente pesquisa: O
homicídio. Apesar de diversas tipificações, iremos tratar o
homicídio, de modo geral.
Analisar o presente tema a partir do viés geográfico nos
permite ter a compreensão de quais fatores contribuem para os
elevados índices de homicídios nos últimos anos presente
principalmente nas médias e grandes cidades, como é o caso da
Região Metropolitana de Belém, em especial o município de
Ananindeua.
A pesquisa tem como objetivo analisar, brevemente, as
dinâmicas de homicídios no bairro do Curuçambá, em
Ananindeua-Pará, no ano de 2015, mostrando as contribuições
que a análise espacial pode propiciar para compreensão dos
homicídios. Com isso, perfez apontamentos iniciais que
poderiam propiciar maiores aproximações posteriores em torno
da violência no Bairro.
Para isso se realizou um estudo entre produção do espaço
urbano, território, violência e criminalidade. A metodologia
aplicada consistiu em um levantamento bibliográfico, tendo
como principais conceitos geográficos, o espaço, território,
além dos conceitos de violência, crime e criminalidade. Foi
realizado o trabalho de campo com aplicação de entrevistas
com moradores do bairro, comerciantes, representantes de
entidades religiosas e lideranças comunitárias. Para o
levantamento documental utilizou-se o banco de dados do IBGE
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(produção cartográfica) e da Secretaria Adjunta de Inteligência


e Análise Criminal - SIAC, as informações sobre registros de
homicídios no ano de 2015, tais dados nos possibilitou criar, as
manchas criminais de homicídios – hot spot, que nos ajudou a
fazer as análises da cartografia do crime.
2 METODOLOGIA
Essa metodologia realizada é fruto dos esforços que o
Laboratório de Pesquisa em Geografia da Violência e do Crime
da Universidade do Estado do Pará (LABGEOVCRIM – UEPA)
tem feito nos últimos 8 anos. Onde as análises da criminalidade
violenta são vistas como um processo continuo de inúmeros
fatores sociais. Nesse sentido, a Geografia busca contribuir com
essas análises por meio da cartografia e de seus conceitos
fundamentais como, o espaço e o território, por exemplo. As
discussões do presente grupo também se estendem aos projetos
de iniciação cientifica, monografias que correspondem aos
trabalhos de conclusão de curso. Posteriormente, também são
aproveitadas
O presente artigo se divide em três partes. A primeira,
consiste no estudo da produção do espaço urbano, em especial
a do município de Ananindeua e do bairro Curuçambá. No
segundo momento, traremos a discussão sobre território,
violência e criminalidade. Analisaremos a cartografia dos
homicídios nos anos de 2015. Ademais, o trabalho representa
um dos últimos frutos desenvolvidos pela parceria estabelecida
entre pesquisadores do LAB-GEOVCRIM e do Observatório
Anánkê, este, em fase de extinção institucional (encerrando um
ciclo de discussões de segurança na ESMAC, que deixa frutos
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para ser continuada por outros pesquisadores que pretendam


se aprofundar na matéria e iniciar suas próprias pesquisa
embrionárias), mas que deixa importantes contribuições ao
cenário da segurança estadual.

3 RESULTADOS
3.1 O ESPAÇO URBANO E SEU ATUAL CONTEXTO NA
REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM

O espaço pode ser compreendido como um conjunto de


características produzidas socialmente através de múltiplos
agentes, que o configuram de acordo com as suas ações
baseadas em interesses políticos, econômicos e, sobretudo,
sociais. O espaço, dentre eles, o urbano, pode ser produzido por
vários agentes, seja pelo Estado, proprietários de terra e pelo
mercado imobiliário, que, comumente, tem como resultado
desigualdades socioespaciais (CORRÊA, 1995).
O espaço urbano é produto das diversas formas de uso das
terras urbanas, é o espelho das funcionalidades que a elas são
atribuídas, sendo um espaço fragmentado, porém que mantem
suas partes articuladas, através dos fluxos, como de pessoas,
mercadorias, rendas e ideologias (CORRÊA, 1995). Mais
especificamente, a sua produção, é influenciada diretamente
pela dinâmica capitalista, que objetiva, primordialmente, a
acumulação do capital. Assim, o espaço, em suma, torna-se
condição necessária para a realização do processo produtivo,
como a criação de mercadorias, trocas e o próprio consumo.
(CARLOS, 2016).

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Nesse sentido, as cidades, enquanto produto dessa


produção, são marcadas por disparidades sociais e espaciais
que se manifestam em muitos casos, na forma de uma
precarização nos equipamentos urbanos, como o abastecimento
de água, serviço de esgotos e energia elétrica, além de
deficiências nos mecanismos comunitários, como os da
educação, do lazer e da saúde. Comuns, normalmente, às
periferias das cidades.
Ao se falar do bairro do Curuçambá, faz-se necessário
tratar da cidade de Belém, pois esta influência diretamente
suas dinâmicas. O munícipio belenense é próximo a Ananindeua
e a sua expansão urbana e demográfica foi influenciada
diretamente ao crescimento da cidade de Belém. O surgimento
da Região Metropolitana de Belém - RMB está diretamente
ligado as políticas de desenvolvimento da capital paraense.
Por isso a partir da década de 1970 as ações de
desenvolvimento, financiadas pelo governo federal tiveram
como alguns de seus resultados a criação do Distrito Industrial
de Ananindeua, além do surgimento de conjuntos habitacionais
como o da Cidade Nova e de outras formas de habitações, que
não possuíam o planejamento necessário, no qual chamamos de
espaços periféricos.

Nas cidades assimiladas ao processo de


metropolização, a ocupação de áreas assume
as mais diversas formas de realização do
urbano, sendo a ocupação espontânea a face
mais visível e contraditória. Comumente
denominadas de “invasão”, essas formas de
ocupação negam as políticas de planejamento
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urbano, propostas no discurso do processo de


metropolização, forçando o Estado gestor a
assumir sua face contraditória na regulação e
deixando evidente no tecido urbano as
condições sociais de classe (BRITO; MOTA,
2013, p. 140).

A crescente demografia do município de Ananindeua


reflete o aumento da população da cidade de Belém e das
políticas voltadas ao crescimento da capital paraense, já que a
modernização promovida pela indústria trouxe muitas pessoas a
residir em naquele primeiro município. Mas, este município que
ainda era visto como uma cidade meramente dormitório, ao
decorrer dos anos, se tornou o segundo mais populoso do
Estado do Pará devido ao processo de urbanização de forma
acelerada de forma que afetou ambos os municípios (BRITO;
MOTA, 2013).

Tabela 01: População Total, por Gênero, Rural/Urbana -


Ananindeua – PA (1991-2010)
Populaçã População População
População (2010)
o (1991) (2000)
Populaçã
244.442 393.569 471.980
o Total
Fonte: PNUD, Ipea e FJP apud Atlas do Desenvolvimento
Humano do Brasil (2015). Modificado pelos autores.

O bairro do Curuçambá é um grande exemplo do processo


de produção do espaço de forma desigual e contraditória. O
processo de formação urbana de Ananindeua ocorre de através
da periferização da cidade, como exemplo o bairro do
Curuçambá. Esse processo pode ser entendido como um
espaço produzido em torno do que chamamos de centro com
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características precárias nos serviços públicos. Isso foi


resultado da forma que o espaço foi produzido, onde se enxerga
a população de baixa renda habitando naquelas localidades
devido às desigualdades sociais (FREITAS, 2007).
Essa característica é nítida em muitas realidades,
principalmente quando percebemos as suas disparidades
econômicas e sociais. A ideia de periferia não pode ser
confundida com a concepção de subúrbio, devido este possuir
uma série de investimentos do ramo imobiliário e do Estado,
que buscam fornecer estruturas mínimas para moradia como os
equipamentos urbanos (vias de acesso, iluminação e etc.). Os
subúrbios são comuns nos países de primeiro mundo, onde os
centros urbanos já se encontram saturados (FREITAS, 2007).
O processo de ocupação do Curuçambá, de outro lado, é
marcado predominantemente por moradias espontâneas, onde
o poder público não consegue efetivar políticas públicas de
forma eficaz, a exemplo disso podemos apontar a falta de
iluminação nas vias públicas, saneamento básico, educação,
saúde e segurança pública.
O bairro apresenta diversas carências nos setores sociais,
pois dificilmente os moradores sentem as políticas públicas
voltadas a sociedade, ao passo que o bem estar social se torna
sensivelmente inexistente por conta da insegurança e da
sensação de medo ao caminhar pelas ruas, devido a
criminalidade que pode estar relacionada de alguma forma as
falhas das ações do Estado, como exemplo disso citar que
Ananindeua tem o pior índice de saneamento básico do país
(OLIVEIRA, SCAFUSA; AROUCA, 2014)
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A ação preventiva do crime, em especial, relativa aos


homicídios, está vinculada ao aparelho do Estado. Porém é
necessário ter a compreensão de que o mesmo não consegue
gerir o território de forma hegemônica. Assim, é perceptível a
territorialização de grupos que não estão amparados por lei,
tornando necessária uma maior articulação entre diversos
setores públicos e privados (como os da educação, do esporte e
do lazer, além da própria segurança).

3.2 TERRITÓRIO, VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE


Haesbaert (2004) afirma que o território pode ser visto,
por meio de diversas formas podendo variar do seu campo
político até o seu campo embate ocasionadas pelas diferenças
de classes. Dessa forma entende-se com as ideias desse autor
que o território pode ser definido a partir das relações de poder
no espaço político.
A partir do território podemos compreender diversas
ações contidas nas sociedades, mais especificamente no que
tangem o crime, a criminalidade e a violência nas cidades
brasileiras. Dessa forma, enxerga-se uma disputa territorial de
dois ou mais atores sociais, cujo Raffestin (1993) classifica
como um verdadeiro campo de forças. Logo, podemos
compreender o reflexo dessas relações de poder existentes, por
meio da força, do vigor e da violência (ARENDT, 1969).
Raffestin (1993) menciona que não há espaços vazios de
poder, logo entende-se diretamente as relações do poder
paralelo que se enraíza a partir das fissuras do Estado,
estabelecendo assim seus códigos e regras, podendo está de
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acordo ou não a legislação do Estado. É nesse contexto, que a


territorialização do crime se prolifera nos espaços urbanos
brasileiros, especialmente nas periferias que carecem de
condições básicas para sua dignidade.
A territorialização do crime se consolida principalmente a
partir da violência que é utilizada principalmente como um
instrumento de dominação dos corpos e na formação de
indivíduos obedientes a normativas. Todavia, nota-se que os
territórios estão sujeitos a novas territorialidades, logo
percebe-se múltiplos territórios dentro de um determinado
recorte espacial seja, Estado, Município e até mesmo na escala
de um Bairro (HAESBAERT, 2014).
Essas múltiplas territorialidades geram um campo de
tensão e conflitos entre os agentes territoriais. Isso tem
ocorrido em diversas cidades brasileiras como São Paulo e Rio
de janeiro, no que se diz respeito a disputa de território por
facções criminosas, milícias e pelo próprio Estado.
Ao trazer essas discussões para a realidade das cidades
amazônicas, especialmente Belém nota-se que há semelhanças
e particularidades no que se diz respeito as disputas
territoriais. Onde percebe-se que facções buscam se enraizar a
partir das áreas mais vulneráveis para estabelecer as suas
atividades, nesse caso se trata das áreas que entendemos como
periferias.
Ao trazermos a discussao de território é contundente
sabermos algumas das principais definições de poder e da
violência, tendo em vista entender as suas dinâmicas na
sociedade. O que é necessário, diante da existencia de diversos
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fatores que influência a criminalidade e o aumento de suas


taxas
De maneira inicial, é importante que se tenha a
compreensão do poder, que é inerente ao território. O poder
pode ser entendido de duas formas: a primeira consiste no
poder institucional do Estado. Essa carcterística consiste no
poder através das instituições e das leisce os códigos de
controle social, permitindo o estabelecimento das relaçoes no
terriório atráves das políticas públicas vinculado ao Estado. A
segunda característica remete a ideia das relações sociais que
se escondem por trás do poder institucional, ou seja, o poder
que está ligado diretamente às relações dos agentes
territoriais. Partindo das ideias de Raffestin (1993) o poder das
diâmicas da sociedade está presente em todos os lugares e em
todas as ações, pois ele se aproveita de das fissuras sociais para
se estabelecer no coração do homem.
Um exemplo disso seria a territorialidade do tráfico de
drogas que se consolida através precariedade da ação do
Estado nessas áreas, como a do tráfico de drogas, por exemplo,
que passam a estipular as suas normas e leis de acordo com
seus anseios, baseada no exercercio do poder, através das suas
ferramentas e seus instrumentos.
A precariedade da ação do Estado no seu exercício de
poder podem se expressar através de baixos índices de
escolaridade e da falta de infraestrutura urbana como: saúde,
pavimentação e iluminação das ruas e por fim a segurança
pública. Assim, sutentam-se a ideia que o espaço e o território
apresentam peculiaridades que permite o surgimento de novas
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relações de poder, por grupos que podem estar ligados


diretamente a criminalidade. Sendo assim é perceptível que
diversos fatores sociais possa interferi de forma latente na
configuração da criminalidade.

Podemos apontar diversos fatores dentro do


espaço urbano que podem contribuir para o
aumento da violência, como exclusão social,
pobreza e favelização, que se apresentam
intensamente em áreas periféricas,
desvalorizadas e abandonadas pelo poder
público, tornando assim o ambiente propício
para difusão e estabelecimento da
criminalidade (CHAGAS, 2014).

Outro fator que é necessário são as dinâmicas do crime


que pode estar atrelada de alguma com a violência. Ela pode se
consolidar de várias de formas podendo está atrelada ou não ao
território e as relações de poder. Partindo da ideia que a
violência é inerente as relações no espaço, pode-se entender
que esse processo se dá quando ocorre uma perturbação das
regras que ordenam o mesmo espaço e assim podem resultar
atitudes dos agentes que estão naquele meio.
A violência é entendida como ferramenta que busca a
formação de pessoas obedientes a suas leis, sendo assim a
finalidade da mesma é: regir e obter o controle da população
(FOCAUT, 2004). Basicamente, é assim as dinâmicas de
territórios em espaço periféricos se dão, criam-se normas,
impende-se o tráfego de pessoas em determinados horários,
cobra-se, inclusve, pedágios em alguns casos.

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3.2.1 O bairro do Curuçambá e os índices de Homicídios.


Ao se conceituar brevemente o poder, a violência e a
criminalidade, faz-se importante tratar do território. O geografo
Haesbaert (2004) define em seus estudos o território a partir de
diferentes enfoques, mas especialmente, baseia-se em três
principais. O primeiro consiste na relação política e jurídica,
onde o território é visto como um espaço delimitado e
controlado, sobre o qual se exerce um determinado poder,
especialmente o de caráter estatal. No segundo momento ele
pode ser analisado pelo caráter cultural e simbólico. A terceira
faceta do território destaca a territorialização na sua
perspectiva materialista sendo ela um produto do embate entre
as classes sociais e a relação do capital e produção. O
Curuçambá reflete uma nítida visão desses agentes e, através
dessa análise pode-se observar o comportamento da sociedade
no espaço, que nesse caso é representado pelos índices de
homicídios.

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Tabela 05: Distribuição dos bairros com maiores números


BAIRROS 2013 2014 2015 TOTAL (2013-
15)
Icuí 38 42 44 124
Curuçambá 25 21 33 103
Distrito 33 37 28 98
Industrial
Paar 17 22 17 86
Cidade Nova 29 28 28 79
Coqueiro 13 19 15 56
Jaderlândia 21 19 11 51
Águas Lindas 35 27 41 47
Total de homicídios nos oito bairros 644
pesquisados (2013-2015)
ANANINDEUA 332 327 350 1.009
PARÁ 3.460 3.596 3.735 10.791
de homicídios em Ananindeua-PA
Fonte: Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social
do Estado do Pará, 2016.
Elaboração: Pesquisa Pensado a Segurança Pública,
Grupo N2, UFPA/SENASP, 2016.

As informações fornecidas pela Secretaria de Segurança


Pública mostram o número de homicídios registrados, tornando
importante trazer à abordagem esses índices, pois, é necessário
que se tenha o conhecimento de quantas pessoas são vítimas
desse crime violento. O Curuçambá é o segundo bairro que
possuiu mais homicídios no ano de 2015 e esse comportamento
pode ser decorrente das disputas por território, o qual pode ser
entendido como mediador das relações de seus agentes. Assim,
percebe-se que as ações em geral (inclusive os homicídios)
estão ligados à territorialidade que é resultado do processo
tridimensional espaço, tempo e sociedade (RAFFESTTIN,
1993).

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Partindo das dinâmicas do território vinculado ao poder


percebe-se que a criminalidade pode ser inclusa ou não nesse
contexto. O crime no bairro do Curuçambá se dá de diversas
formas: através de furtos, roubos, arrombamentos e por
homicídios. Diante dessa realidade, moradores relatam que as
execuções podem estar atreladas a práticas de crime no bairro,
vinculada à execução de assaltantes ou devedores de drogas.
O homicídio é o substantivo masculino que significa o ato
de matar uma pessoa, quer seja de forma voluntária ou
involuntária. As armas são utilizadas como instrumentos que
tiram a vida do indivíduo, além de promover a intimidação ou o
controle de tal situação. O homicídio pode ser resultado da ação
do poder dos agentes que através da violência estabelece a
relação de controle diante de qualquer situação extrema.
No bairro, as pessoas que são vítimas de homicídios na
maioria dos casos são jovens, o que fica ainda mais evidente ao
se analisar os seguintes dados: a SEGUP/PA, classificou as
idades a partir de 5 classes, quais sejam, de 12 a 17 anos, de 18
a 24 anos, de 25 a 29 anos, de 30 a 34 anos e de 35 a 64 anos.
Ao traçarmos o estudo da faixa etária das vítimas, constatou-se
que a parcela mais atingida pelos homicídios foram os adultos
de 18 a 24 anos, que na maioria das vezes não apresentam
elevado grau de escolaridade e possuem poucas oportunidades
para conseguir vaga no mercado de trabalho. Esse público pode
estar ligado à faixa etária das pessoas que cometem ou já
cometeram algum tipo de crime, partindo desse pressuposto
pode-se afirmar que os homicídios no bairro do Curuçambá
estão ligados a outras práticas de criminalidade.
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Sendo assim, nota-se que existem fatores que


impulsionam a entrada de jovens no mundo da criminalidade,
podendo variar do assalto até ao ingresso organizações
criminosas como o tráfico de drogas. Compreende-se que o
culpado disso, aliado a outros fatores, seria a falta de
oportunidades ofertáveis à juventude, sobretudo, se
lembrarmos que os bairros periféricos, como é o caso da Terra
Firme, apresentam evasões escolar, estruturas das escolas
precárias, falta de aulas, dentre outros fatores que afastam os
jovens das possibilidades de inserção formal no mercado e
sociedade. Além disso, existem poucas ou nenhuma
programação de lazer para a população que fica dependendo
principalmente das ações da UFPA ou até mesmo da UFRA, já
que o Estado se apresenta de forma ineficaz com políticas
públicas dessa natureza para a sociedade. A juventude está
vinculada a baixa estrutura das escolas e a falta de incentivo
com medidas de inclusão, tornando-a presa fácil para o mundo
do crime (BEATO, 2012).

3.2.1 A importância do uso do geoprocessamento para as


análises de homicídios
Nos estudos sobre a geografia do crime, é de suma
importância entender as dinâmicas do mundo por meio dos
mapas. Ou seja, a leitura cartográfica tem especial importância
para o desenvolvimento de pesquisas, envolvendo, a
criminalidade em geral. No caso desta pesquisa, a cartografia
auxilia a compreensão dos homicídios e suas relações espaciais.

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A análise de mapas permite que tenhamos uma visão


multilateral da criminalidade no Curuçambá, e, através dos
estudos, compreendemos que a cartografia pode ser uma saída
para tentar entender de que forma o crime se comporta no
espaço. Sua produção é feita através das técnicas de
geoprocessamento que permite o entendimento mais afundo
desta temática. O sistema Informações geográficas – SIG, nesse
contexto, é importantíssimo para a obtenção e a organização do
banco de dados com finalidade de utilizar os mesmos de forma
aplicada na sua área de estudo. A obtenção do banco de dados
vinculadas as ferramentas das geotecnologias permitem a
visualização da realidade local de forma complementar, nesse
caso ela se torna um aprimoramento das discussões entre
espaço, território e os números de homicídios. Através dele, é
possível cartografar as áreas com maiores incidências de
crimes, utilizando os dados fornecidos pela Secretaria de
Inteligência e Análise criminal – SIAC.
As transformações do espaço geográfico estão
relacionadas aos anseios de seus agentes modeladores e, no
campo da geografia, o homicídio também apresenta as suas
formas e dinâmicas. Para compreendê-las fez-se necessário o
uso do material cartográfico para permitir uma leitura mais
aprofundada da temática abordada. O mapa abaixo mostra a
configuração dos homicídios no bairro do Curuçambá no ano de
2015. Logo, sua análise permitiu ver as dinâmicas em discussão
permitindo, a partir de então, sua correlação com outros
conceitos e definições geográficas.

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Mapa 1 - Ananindeua: Comportamento dos Homicídios no


Bairro do Curuçambá em 2015.

Fonte: IBGE (2010); Ruas OSM 2016; SIAC/ SEGUP – PA.


Elaborado pelos autores.

A cartografia do crime consiste no levantamento de dados


fornecidos pelos órgãos de segurança pública, onde esses dados
permitem a observarmos o perímetro de onde o homicídio
ocorreu, assim a pontuação dos mesmos são feitos através do
software Quantum Gis que permite que suas ferramentas possa
configurar o plano cartográfico pela “mancha criminal”, sendo
que essas manchas de acordo com sua tonalidade de cor. Isso
deixa evidente que as cores quentes representam um conjunto
de homicídios bem concentrado e as cores menos quentes
correspondes a incidência baixa do crime em questão.
Analisando o mapa acima é interessante observar o
comportamento dos números de homicídios no Curuçambá,
alguns estão concentrados próximo ao bairro do PAAR, o que se
explica pela forte relação que ambos possuem, seja de
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comércio, circulação de pessoas e serviços. A mancha criminal


se manifesta ao redor da estrada do Curuçambá e das
ocupações espontâneas as proximidades da Av. Independência.
Assim é possível compreender as dinâmicas do bairro de forma
diferenciada, já que sua dinâmica apresenta um caráter não
hegemônico e estão sujeitas as relações de poder por diversos
agentes (HASBAERT, 2004).
Assim são perceptíveis as disparidades socioespaciais no
bairro, mostrando as características das relações de poder.
Partindo das ideias de Chagas (2014) a criminalidade pode ser
impulsionada quando o Estado não consegue atender as
demandas da população de forma eficaz com seus serviços.
Assim outros agentes podem exercer as suas relações de
acordo com seus interesses.
Por isso a territorialidade do tráfico (por exemplo), se faz
presente no espaço, principalmente onde o Estado não se
mostra de forma eficiente. Para Raffesttin (1993) essas
dinâmicas podem ser entendidas de duas formas: A primeira
que remete a institucionalização dos órgãos que estão ligados
ao Estado e a segunda remete o poder através das relações
sociais que podem produzir as suas dinâmicas no território.
Diante da cartografia do crime é possível enxergar o
comportamento do crime se direcionar para locais próximos a
seus limites com bairros vizinhos como o Icuí-Guajará, Maguari
e o PAAR. É interessante perceber que a incidência mais forte
de homicídios se localiza no centro do bairro, onde as áreas
urbanas são precarizadas e facilitam a atuação da
criminalidade.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O espaço urbano é produto da atuação de diversos
agentes, tornando-se um espaço fragmentado e articulado pelo
capital Corrêa (1995). Seu processo de construção decorreu
diretamente das desigualdades, já que a valorização das terras
urbanas fez com que as pessoas de baixa renda habitassem
áreas que hoje chamamos de periferia, que foram consumadas
através do processo de periferização, onde o espaço é
construído de forma contraditória e desigual através dos
indicadores socioeconômicos.
As relações de poder no território apresentam suas ações
de acordo com os anseios dos agentes seja o Estado ou das
relações sociais, sendo que a última manifesta suas relações
sem necessariamente está ligado ao poder Institucional nas
periferias, logo é perceptível as ações de alguns agentes sociais
que estão ligados as práticas de crimes através da ineficácia do
Estado com as políticas públicas que a sociedade necessita.
Assim o crime, em especial os homicídios podem ser analisados
através da geografia que busca compreender as abordagens
sobre a produção do espaço e do território por meio das ações
dos indivíduos que exercem o poder.
A dinâmica da criminalidade está atrelada as
precariedades em algumas áreas no bairro como a falta de
investimentos sociais como a educação, saúde e segurança.
Através dessas falhas do Estado percebe-se a proliferação do
tráfico de drogas e o aumento das práticas de assaltos e
homicídios impulsionando a sociedade a se “proteger” com a
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presença de muros altos e grades. A geografia tem muito a


contribuir com temas relacionados à violência urbana, pois
estudar o processo de urbanização vinculada à produção do
espaço e território que permite entendimento da realidade local
e enxergar o comportamento dos homicídios através da
cartografia do crime, para mostrar onde ocorrem mais
homicídios vinculados essas analises nos agentes territoriais do
bairro do Curuçambá.

REFERÊNCIAS

BEATO, Claudio. Crimes e Cidades/ Belo Horizonte/editora UFMG, 2012.


CHAGAS, Clay Anderson Nunes. Geografia, segurança pública e a
cartografia dos homicídios na região metropolitana de Belém, 2014.
Disponível em Boletim Amazônico de Geografia, Belém, n. 1, v. 01, p. 186-
204, jan./jun. 2014.
CORRÊA, R. L. Espaço: um conceito-chave da Geografia. In: CASTRO, I. E.
de C.; GOMES, P. C. da C.; CORRÊA, R. L. (org.) Geografia: conceitos e
temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995.
RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder, Paris 1980; tradução
Marilia Cecilia França/ editora Ática, São Paulo 1993.
SANTOS, Clicia Silva; VIEIRA, Denise Carla de Melo; CHAGAS, Clay
Anderson Nunes. A utilização de técnicas de geoprocessamento para
análise geográfica de correlação entre homicídios e aglomeração urbana de
Belém-PA. Revista Geosaberes. Fortaleza, 2015, p. 02-16.
BRITO, Lilian Simone Amorim; MOTA, Giovane da Silva: Dinâmica de
(RE) Organização socioespacial do Bairro do Icuí-Guajará –
Ananindeua/PA: In: Sociedade, espaço e políticas territoriais na Amazônia
paraense. Belém: Editora Açaí, 2013.
HAESBAERT. R. O mito da desterritorialização: “fim dos territórios” a
multiterritorialidade. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, 2004.
OLIVEIRA, Gesner; SCAFUSA, Pedro; AROUCA, LUIZ Felipe. Ranking do
saneamento instituto trata brasil resultados com base no SNIS
2012- São Paulo, 22 de agosto de 2014. 2014.

RELATÓRIOS DE ANÁLISE DE CASO


RELATÓRIO TÉCNICO DE ANÁLISE JURÍDICA SOBRE
AÇÕES CONSTITUCIONAIS: MANDADO DE SEGURANÇA
nº 0800917-92.2018.814.0000
Anna Beatriz Cruz da Couto da Costa
83
RevISE – Revista Interdisciplinar do Instituto de Educaçã o de
Ananindeua/ESMAC – DOSSIÊ DIREITO III (Online) ISSN: 2359–4861 Vol. 05, N. 18.
Nov./2019

Gabriel Henrique Maciel Moura


Mikael Costa de Sousa
Rodrigo Dias Sanguino
Sidney Andrey Nascimento Cavalcante
Roberto Magno Reis Netto

1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho teve como objetivo perfazer uma
análise técnico-processual de ação constitucional apreciada e
julgada por tribunal brasileiro, elencando os principais
elementos técnicos e normativos inerentes ao caso.
O trabalho nasceu de metodologia conjunta, desenvolvida
ao longo das aulas da disciplina ações constitucionais, na
Escola Superior Madre Celeste, perante discentes do décimo
semestre do curso de graduação em direito.
Compreende-se que uma das maiores dificuldades dos
discentes (e de muitos profissionais) do direito, ao longo de sua
formação profissional e de vida, é vislumbrar os institutos
processuais estudados na teoria funcionando de maneira
concreta, de modo a se observar e compreender sua essência e
respectivos objetivos.
Diante disso, análises de casos concretos e discussões em
torno do funcionamento de suas regras se tornam instrumentos
fundamentais tanto para quem faz a análise, quanto, para quem
aprecia seus respectivos resultados.
Sob esta finalidade, o presente trabalho foi desenvolvido
com o intento de analisar uma ação constitucional julgada por
tribunal brasileiro, analisando cada elemento técnico-jurídico
inerente à mesma, de modo a ilustrar na prática, conteúdos

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Ananindeua/ESMAC – DOSSIÊ DIREITO III (Online) ISSN: 2359–4861 Vol. 05, N. 18.
Nov./2019

apreendidos na teoria perpassada ao longo das aulas da


disciplina.
2 METODOLOGIA
O estudo adotou uma metodologia de natureza
comparativa. Ou seja, partindo do conteúdo da apostila-guia da
disciplina ações constitucionais (REIS NETTO, 2019), bem
como, discussões realizadas em sala de aula, foram
selecionados diversos casos envolvendo ações constitucionais,
de modo que o docente e os discentes vislumbrassem casos
concretos julgados perante a justiça brasileira.
Diante da comparação entre os elementos teóricos e os
casos, o relatório em questão foi elaborado como forma de
demonstração dos elementos teóricos estudados ao longo da
disciplina, ilustrando os saberes adquiridos, não só para os
participantes, como, para os leitores dos relatórios.
Os resultados se encontram sintetizados na seção
seguinte.
3 RESULTADOS: O DIREITO CONCRETAMENTE
ANALISADO
3.1 O CASO JULGADO
O caso ora analisado diz respeito ao Mandado de
Segurança à Seguir.
MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO
JUDICIAL. SENTENÇA JUDICIAL PROLATADA
EM AUTOS DE APURAÇÃO DE INFRAÇÃO
ADMINISTRATIVA, APLICANDO A SANÇÃO
DE MULTA E A PENALIDADE DE
FECHAMENTO DO ESTABELECIMENTO.
VIOLAÇÃO AO ARTIGO 2° DA PORTARIA
CONJUNTA N° 005/2008 CJRMB E AO
ARTIGO 258 DO ECA. CONSTATAÇÃO DA
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Nov./2019

PRESENÇA DE ADOLESCENTES NO
INTERIOR DO ESTABELECIMENTO. O
MANDADO DE SEGURANÇA É CABÍVEL
CONTRA ATO JUDICIAL, EM CARÁTER
EXCEPCIONALÍSSIMO, DESDE QUE SE
TRATE DE DECISÃO TERATOLÓGICA,
MANIFESTAMENTE ILEGAL OU PROFERIDA
COM ABUSO DE PODER. AUSENTE O
DIREITO LÍQUIDO E CERTO ALEGADO.
AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE, TERATOLOGIA
OU ABUSO DE PODER. DESCABIMENTO DO
WRIT. INEXISTÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO
E CERTO A SER AMPARADO PELA VIA
ELEITA INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO
INICIAL. APLICAÇÃO DO ARTIGO 10 DA LEI
Nº 12.016/2009. PROCESSO JULGADO
EXTINTO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. À
UNANIMIDADE. ACÓRDÃO Vistos,
relatados e discutidos os presentes autos de
MANDADO DE SEGURANÇA nº 0800917-
92.2018.814.0000, da Comarca de Belém/PA.
ACORDAM os Exmos. Desembargadores que
integram a Egrégia Seção de Direito Público
do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, à
unanimidade de votos, em INDEFERIR A
PETIÇÃO INICIAL MANDAMENTAL, nos
termos do voto da Desembargadora Relatora.
Belém (PA), 23 de abril de 2019.
Desembargadora EZILDA PASTANA MUTRAN
Relatora (2173551, Não Informado, Rel.
EZILDA PASTANA MUTRAN, Órgão Julgador
Seção de Direito Público, Julgado em 2019-06-
11, publicado em 2019-019-05).
3.2 Legitimados envolvidos
O legitimado ativo do caso analisado a qual impetra o
mandado de segurança é o senhor KLEY ANDERSON DO
ROSÁRIO MACAMBIRA, que impetrou a ação contra a
decisão deferida pelo juiz, assegurada essa legitimidade na Lei
nº 1.533/51, no §2.º de seu art. 1.º
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O legitimado passivo no caso analisado, no entanto, no


mandado de segurança, é a entidade pública (litisconsorte) o
qual será o Juiz de Direito Dr. ANTÔNIO CLÁUDIO VON
LOHRMANN CRUZ, que irá suportar seus atos praticados
como autoridade coatora, conforme Lei nº 12.016/2009.
3.3 O reputado direito líquido e certo
A ação constitucional em questão versa sobre mandado de
segurança contra ato judicial decorrente de infração
administrativa.
O impetrante alega possuir direito líquido e certo
comprovado através de documentos e licenças para realização
de eventos no local no período do contrato, bem como afirma
estar agindo de boa-fé, declarando não ter conhecimento da
sanção. O mesmo alega ter efetuado a locação do imóvel para a
realização de festas no período em que a decisão judicial
produziu os seus efeitos, na hipótese em fevereiro de 2018, e
argumenta que não participou da infração ocorrida em data
anterior ao período do contrato.
O direito pleiteado não fora acolhido, tendo em vista a
ausência do direito líquido e certo a ser amparado pela ação
constitucional, pelo não preenchimento dos requisitos para
impetração de tal remédio constitucional, como afirma adiante
Ezilda Mutran:
Como é cediço, destaco que para o
conhecimento da impetração do presente
remédio heroico quanto a atos judiciais, exige-
se a presença cumulativa de três requisitos: a)
inexistência de instrumento recursal idôneo;
b) não formação de coisa julgada; e c) a
ocorrência de teratologia, ilegalidade ou abuso
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de poder na decisão atacada. Entretanto, não


vislumbro o preenchimento de nenhum desses
requisitos na decisão atacada.
3.4 O Tribunal e sua competência para julgamento do caso
Sim, trata-se de tribunal competente, visto que o mandado
de segurança está previsto na Constituição Federal e regido
pela Lei n. º12.016/09, pois trata-se de remédio constitucional
que pode ser impetrado contra ato ilegal ou abusivo, assim
como verificamos no artigo 1º da lei do mandado de segurança:
Art. 1o  Conceder-se-á mandado de segurança
para proteger direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data,
sempre que, ilegalmente ou com abuso de
poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer
violação ou houver justo receio de sofrê-la por
parte de autoridade, seja de que categoria for e
sejam quais forem as funções que exerça.
No caso em tela, fica demonstrado a partir de seu
indeferimento, que a petição não apresentava os requisitos
necessários como visto a seguir:
O Estado do Pará, na qualidade de litisconsorte,
apresentou manifestação nos autos, pugnando
pelo indeferimento da petição inicial, nos
termos do artigo 10 da Lei n° 12.016/2009, a
declaração de perda do objeto, diante do
transcurso dos eventos e, no mérito, a
denegação da segurança pleiteada.

José Henrique Mouta Araújo, nos ensina que os tribunais


em que há divisão da competência em Câmaras Cíveis e
Criminais, é imprescindível a análise de qual delas será
competente para processar e julgá-lo. Nesse sentindo há
entendimento que a competência para o apreciar irá ser
determinada de acordo com a matéria discutida.
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3.5 DO RESULTADO DA DEMANDA


Conforme caso ora analisado, percebe-se o fiel
cumprimento da legislação em relação a aplicação da sentença
exarada pelo Juiz de Direito Dr. ANTÔNIO CLÁUDIO VON
LOHRMANN CRUZ, titular da Vara da Infância e da
Adolescência do Distrito de Icoaraci-Belém, devido ao
estabelecimento ter infringido o disposto no inciso II do art. 81
do ECA. O qual expressamente proibi a comercialização de
bebidas alcoólicas para menores de 18 anos. Outro fato que
deve ser suscitado, seria que os três adolescentes estavam
desacompanhados de seus responsáveis, fato esse não
observado pelo proprietário do estabelecimento, aplicando-se o
artigo 258 do ECA, o mandado de segurança impetrado por
KLEY ANDERSON DO ROSÁRIO MACAMBIRA, alegando
que a casa de show por codinome “IBIRAPUERA” foi alugada
em nenhum momento da assinatura do contrato do aluguel, foi
citado que a casa de show estava com restrições judiciais,
assim impetrou o presente mandado de segurança, o qual fora
indeferido pela Desa. Célia Regina de Lima Pinheiro, relatora
do presente caso, o indeferimento se deu pela ausência de
cumulatividade previstos no artigo 7°, inciso III da Lei n°
12.016/2009
4 CONCLUSÃO
Diante do caso analisado, foi possível observar a presença
dos pertinentes elementos legais correlatos ao Mandado de
Segurança, que, ilustrados pelo caso concreto, se tornaram
mais visíveis aos pesquisadores e aos leitores.
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REFERÊNCIAS
ARAÚJO, José Henrique Mouta. A Competência no Mandado de
Segurança: questões controvertidas. In: 6º ed. Revista ampliada e
atualizada, Salvador, cap. 16, p. 275-275. 2017.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos
Jurídicos. Lei 12.016/2009. Portal da Legislação, Brasília, ago. 2009.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2009/Lei/L12016.htm Acesso em: 24 set. 2019.
ESTADO DO PARÁ. Mandado de Segurança n. 2173551. Relator: des.
Ezilda Pastana Mutran. Órgão Julgador Seção de Direito Público, Julgado
em 2019-06-11, publicado em 2019-019-05. 2019.
REIS NETTO, Roberto Magno. Apostila-guia de Ações Constitucionais.
Material técnico de ensino. Edições do autor: Ananindeua, 2019.

RELATÓRIO TÉCNICO DE ANÁLISE JURÍDICA SOBRE AÇÕES


CONSTITUCIONAIS: MS 0800917-92.2018.814.0000.
Wagner Augusto Mendonça Almeida
Paulo Romero Lacerda Sampaio Sobrinho
Josué Bitencourt
Alan Tárley Oliveira da Rocha
Roberto Magno Reis Netto

1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho teve como objetivo perfazer uma
análise técnico-processual de ação constitucional apreciada e
julgada por tribunal brasileiro, elencando os principais
elementos técnicos e normativos inerentes ao caso.
O trabalho nasceu de metodologia conjunta, desenvolvida
ao longo das aulas da disciplina ações constitucionais, na
Escola Superior Madre Celeste, perante discentes do décimo
semestre do curso de graduação em direito.
Compreende-se que uma das maiores dificuldades dos
discentes (e de muitos profissionais) do direito, ao longo de sua
formação profissional e de vida, é vislumbrar os institutos
processuais estudados na teoria funcionando de maneira
concreta, de modo a se observar e compreender sua essência e
respectivos objetivos.
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Ananindeua/ESMAC – DOSSIÊ DIREITO III (Online) ISSN: 2359–4861 Vol. 05, N. 18.
Nov./2019

Diante disso, análises de casos concretos e discussões em


torno do funcionamento de suas regras se tornam instrumentos
fundamentais tanto para quem faz a análise, quanto, para quem
aprecia seus respectivos resultados.
Sob esta finalidade, o presente trabalho foi desenvolvido
com o intento de analisar uma ação constitucional julgada por
tribunal brasileiro, analisando cada elemento técnico-jurídico
inerente à mesma, de modo a ilustrar na prática, conteúdos
apreendidos na teoria perpassada ao longo das aulas da
disciplina.
2 METODOLOGIA
O estudo adotou uma metodologia de natureza
comparativa. Ou seja, partindo do conteúdo da apostila-guia da
disciplina ações constitucionais (REIS NETTO, 2019), bem
como, discussões realizadas em sala de aula, foram
selecionados diversos casos envolvendo ações constitucionais,
de modo que o docente e os discentes vislumbrassem casos
concretos julgados perante a justiça brasileira.
Diante da comparação entre os elementos teóricos e os
casos, o relatório em questão foi elaborado como forma de
demonstração dos elementos teóricos estudados ao longo da
disciplina, ilustrando os saberes adquiridos, não só para os
participantes, como, para os leitores dos relatórios.
Os resultados se encontram sintetizados na seção
seguinte.
3 RESULTADOS: O DIREITO CONCRETAMENTE
ANALISADO
3.1 O CASO JULGADO

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O caso ora analisado diz respeito ao Mandado de


Segurança à Seguir.
MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO
JUDICIAL. SENTENÇA JUDICIAL PROLATADA
EM AUTOS DE APURAÇÃO DE INFRAÇÃO
ADMINISTRATIVA, APLICANDO A SANÇÃO
DE MULTA E A PENALIDADE DE
FECHAMENTO DO ESTABELECIMENTO.
VIOLAÇÃO AO ARTIGO 2° DA PORTARIA
CONJUNTA N° 005/2008 CJRMB E AO
ARTIGO 258 DO ECA. CONSTATAÇÃO DA
PRESENÇA DE ADOLESCENTES NO
INTERIOR DO ESTABELECIMENTO. O
MANDADO DE SEGURANÇA É CABÍVEL
CONTRA ATO JUDICIAL, EM CARÁTER
EXCEPCIONALÍSSIMO, DESDE QUE SE
TRATE DE DECISÃO TERATOLÓGICA,
MANIFESTAMENTE ILEGAL OU PROFERIDA
COM ABUSO DE PODER. AUSENTE O
DIREITO LÍQUIDO E CERTO ALEGADO.
AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE, TERATOLOGIA
OU ABUSO DE PODER. DESCABIMENTO DO
WRIT. INEXISTÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO
E CERTO A SER AMPARADO PELA VIA
ELEITA INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO
INICIAL. APLICAÇÃO DO ARTIGO 10 DA LEI
Nº 12.016/2009. PROCESSO JULGADO
EXTINTO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. À
UNANIMIDADE. ACÓRDÃO Vistos,
relatados e discutidos os presentes autos de
MANDADO DE SEGURANÇA nº 0800917-
92.2018.814.0000, da Comarca de Belém/PA.
ACORDAM os Exmos. Desembargadores que
integram a Egrégia Seção de Direito Público
do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, à
unanimidade de votos, em INDEFERIR A
PETIÇÃO INICIAL MANDAMENTAL, nos
termos do voto da Desembargadora Relatora.
Belém (PA), 23 de abril de 2019.
Desembargadora EZILDA PASTANA MUTRAN
Relatora (2173551, Não Informado, Rel.
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Nov./2019

EZILDA PASTANA MUTRAN, Órgão Julgador


Seção de Direito Público, Julgado em 2019-06-
11, publicado em 2019-019-05).

Resumidamente, trata-se de um Mandado de Segurança


impetrado contra sentença judicial a quo, que discutia suposto
ato administrativo baseado em ilegalidade exacerbada, por
abuso de poder cometido pelo poder público/administração
pública, visando que tal arbitrariedade cometida por seu poder
de polícia que necessariamente deverá atender a finalidade
pública, o interesse público, e a defesa da coletividade seja
combatida e dessa forma resguardado o direito líquido e certo.
Todavia no caso em comento não foram demonstrados
requisitos que pudessem resguardar tal garantia, ainda sim, a
discordância da decisão a quo deveria ser combatida pelo
recurso cabível e não por mandado de segurança.
3.2 LEGITIMADOS ENVOLVIDOS
O Legitimado ativo é o impetrante KLEY ANDERSON DO
ROSÁRIO MACAMBIRA e o legitimado passivo é o juiz de
direito Doutor ANTÔNIO CLÁUDIO VON LOHRMANN CRUZ.
3.3 O REPUTADO DIREITO LÍQUIDO E CERTO
O impetrante argumenta, que possui licença e contrato de
locação necessárias para realização do evento, argumenta que
pela decisão de primeiro grau, teve que suportar prejuízos pelo
seu fechamento mesmo não tendo contribuído com o ilícito,
desta forma possuindo direito líquido e certo, pois não tinha
conhecimento da sanção e estava agindo de boa-fé, porém o
Tribunal não vislumbrou qualquer ilegalidade na sentença aquo
indeferido de pronto sem sequer analisar o mérito da causa.

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3.4 O TRIBUNAL E SUA COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO


DO CASO
O tribunal em comento, não possui legitimidade para
conhecer do mandado de segurança pois o mesmo não se ajusta
com a situação fática ocorrida em comento. A própria CF
qualifica os atos administrativos passivos de controle, conforme
o art. 5, LXIX, da CF. No mais a súmula 267 do STF, preceitua
que não caberá MS contra ato judicial passível de recurso ou
correição, contudo indeferiu e extinguiu o processo sem
resolução do mérito com base nos artigo 10 da lei 12.016/09 e
art. 485, inc. I do CPC.
3.5 DO RESULTADO DA DEMANDA
O Tribunal julgou sem resolução do mérito, quer dizer,
não chegou nem analisar o mérito da ação, primeiro porque um
dos pressupostos da ação estava incompleta, a devida
legitimidade de parte. Ainda assim, não era a ação
mandamental em epígrafe que deveria ser proposta por seu
devido descabimento como preza a súmula 267 do STF : ”Não
cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de
recurso ou correição”, e por fim foi indeferido a petição inicial
mandamental por não ser vislumbrado direito líquido e certo
tendo a decisão a quo estar sem a presença de ilegalidade ou
não ser teratológica.
4 CONCLUSÃO
Diante do caso analisado, foi possível observar a presença
dos pertinentes elementos legais correlatos ao Mandado de
Segurança, que, ilustrados pelo caso concreto, se tornaram
mais visíveis aos pesquisadores e aos leitores.
REFERÊNCIAS

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ESTADO DO PARÁ. Mandado de Segurança n. 2173551.


Relator: des. Ezilda Pastana Mutran. Órgão Julgador Seção de
Direito Público, Julgado em 2019-06-11, Publicado em 2019-
019-05. 2019.

REIS NETTO, Roberto Magno. Apostila-guia de Ações


Constitucionais. Material técnico de ensino. Edições do autor:
Ananindeua, 2019.

ANEXO DOS CASOS – INTEIRO TEOR DO JULGADO


ANALISADO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ


 
MANDADO DE SEGURANÇA - INFÃNCIA (1691) -
0800917-92.2018.8.14.0000
RECORRENTE: KLEY ANDERSON DO ROSARIO MACAMBIRA
RECORRIDO: JUIZO DA VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE
DE ICOARACI
RELATOR(A): Desembargadora EZILDA PASTANA MUTRAN
 
EMENTA
 
 MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO JUDICIAL. SENTENÇA
JUDICIAL PROLATADA EM AUTOS DE APURAÇÃO DE INFRAÇÃO
ADMINISTRATIVA, APLICANDO A SANÇÃO DE MULTA E A
PENALIDADE DE FECHAMENTO DO ESTABELECIMENTO.
VIOLAÇÃO AO ARTIGO 2° DA PORTARIA CONJUNTA N° 005/2008
CJRMB E AO ARTIGO 258 DO ECA. CONSTATAÇÃO DA PRESENÇA
DE ADOLESCENTES NO INTERIOR DO ESTABELECIMENTO. O
MANDADO DE SEGURANÇA É CABÍVEL CONTRA ATO JUDICIAL,
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Nov./2019

EM CARÁTER EXCEPCIONALÍSSIMO, DESDE QUE SE TRATE DE


DECISÃO TERATOLÓGICA, MANIFESTAMENTE ILEGAL OU
PROFERIDA COM ABUSO DE PODER. AUSENTE O DIREITO
LÍQUIDO E CERTO ALEGADO. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE,
TERATOLOGIA OU ABUSO DE PODER. DESCABIMENTO DO WRIT.
INEXISTÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO A SER AMPARADO
PELA VIA ELEITA INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL.
APLICAÇÃO DO ARTIGO 10 DA LEI Nº 12.016/2009. PROCESSO
JULGADO EXTINTO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. À
UNANIMIDADE. 
 
ACÓRDÃO
 
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de
MANDADO DE SEGURANÇA nº 0800917-
92.2018.814.0000, da Comarca de Belém/PA.
ACORDAM os Exmos. Desembargadores que
integram a Egrégia Seção de Direito Público do Tribunal de
Justiça do Estado do Pará, à unanimidade de votos, em
INDEFERIR A PETIÇÃO INICIAL MANDAMENTAL, nos
termos do voto da Desembargadora Relatora.
Belém (PA), 23 de abril de 2019.
 
Desembargadora EZILDA PASTANA MUTRAN
Relatora
 RELATÓRIO
 
Trata-se de MANDADO DE SEGURANÇA,com
pedido liminar, impetrado por KLEY ANDERSON DO
ROSÁRIO MACAMBIRA contra sentença prolatada
peloExmo. Juiz de Direito Dr. ANTÔNIO CLÁUDIO VON
LOHRMANN CRUZ, titular da Vara da Infância e da
Adolescência do Distrito de Icoaraci-Belém,nos autos de
apuração de Infração Administrativa (proc. n° 0800917-
92.2017.814.0201), que julgou subsistente a autuação,
aplicando ao requerido Francisco José Tavares de Oliveira, a
multa de 20 (vinte) salários mínimos para cada um dos 03 (três)
adolescentes encontrados no estabelecimento “Ibirapuera”,
bem como determinou o fechamento da citada casa de festas
pelo prazo de 15 (quinze) dias, no período de 09 a 23 de
fevereiro de 2018, por infringência ao artigo 2° da Portaria
Conjunta n° 005/2008 e ao artigo 258 do ECA.

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Nov./2019

Em sua inicial mandamental, o impetrante relata


que é empresário do ramo de festas e firmou contrato de
locação com o proprietário da casa de shows denominada
“Ibirapuera” no período de 10 de janeiro a 10 de março de
2018, com o objetivo de realizar festas no estabelecimento, bem
como afirma ter obtido as licenças necessárias para a
realização de eventos e a contratação de outros profissionais.
Alega que em 09/02/2018 foi informado pelo
proprietário do estabelecimento Ibirapuera que o imóvel estaria
fechado no período de 09 a 23 de fevereiro de 2018, em
decorrência de decisão judicial da autoridade coatora, em razão
de autuação por infração administrativa, diante de terem sido
encontrados três adolescentes no interior do estabelecimento
no dia 24/06/2017.
Argumenta sofrer prejuízos com o cumprimento
tardio da decisão judicial, afirmando não ter participado da
infração ocorrida em data anterior ao período do contrato
firmado.
Alega possuir direito líquido e certo violado, tendo
em vista os documentos e licenças para realização de eventos
no local no período do contrato, bem como afirma ter boa-fé,
aduzindo não ter conhecimento da sanção.
Ao final, requereu a concessão de medida liminar
para os fins de suspender a decisão judicial, postergando os
seus efeitos para período posterior a realização dos seus
eventos no estabelecimento. No mérito, requereu a concessão
em definitivo da segurança.
Juntou documentos.
O Mandado de Segurança foi distribuído, em
sede de plantão judiciário, para a relatoria da Desa. Célia
Regina de Lima Pinheiro, tendo a Relatora proferido
decisãoindeferindo o pedido liminar, com base na ausência
cumulativa dos requisitos legais previstos no artigo 7°, inciso
III da Lei n° 12.016/2009.
Coube-me a relatoria do feito por redistribuição.
A autoridade coatoranão prestouinformações,
conforme certidão (id 935734).
O Estado do Pará, na qualidade de litisconsorte,
apresentou manifestação nos autos, pugnando pelo
indeferimento da petição inicial, nos termos do artigo 10 da Lei
n° 12.016/2009, a declaração de perda do objeto, diante do

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Nov./2019

transcurso dos eventos e, no mérito, a denegação da segurança


pleiteada.
Instado a se manifestar, o Ministério Público do
Estado do Pará através da Procuradoria de Justiça Cível
apresentou manifestação, opinando pela denegação da
segurança, julgando extinto o writ, sem resolução do mérito,
por ausência de direito líquido a ser amparado pela ação
constitucional.  
É o relatório.
  
VOTO
 
Inicialmente, cabe ressaltar que o mandado de
segurança requer o preenchimento de alguns requisitos para
legitimar a sua propositura, como a existência de direito líquido
e certo que relaciona-se com a desnecessidade de dilação
probatória,bem como a existência de violação ou justo receio de
ofensa a esse direito, pela prática de ato ilegal ou abusivo
praticado por autoridade pública ou agente de pessoa jurídica,
desde que no exercício de atribuições relativas ao Poder
Público e que não seja passível de proteção via “habeas corpus”
ou “habeas data”, com base no art. 5º, inciso LXIX da
Constituição Federal.
Pois bem, em relação ao cabimento do mandado de
segurança, importa destacar o disposto no artigo 1º, caput, da
Lei nº 12.016/2009:
"Art. 1o Conceder-se-á mandado de
segurança para proteger direito
líquido e certo, não amparado por
habeas corpusou habeas data, sempre
que, ilegalmente ou com abuso de poder,
qualquer pessoa física ou jurídica sofrer
violação ou houver justo receio de sofrê-la
por parte de autoridade, seja de que
categoria for e sejam quais forem as
funções que exerça." (Grifei) 
 
Assim, tem-se que o mandado de segurança é o
remédio correto para amparar o “direito manifesto em sua
existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado
no momento da impetração”.

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Nov./2019

Consoante relatado, tratam os autos de Mandado de


Segurança impetrado por Kley Anderson do Rosário Macambira
contra sentença judicial prolatada pelo Juiz de Direito Dr.
Cláudio Von Lohrmann Cruz, titular da Vara de Infância e da
Juventude de Icoaraci, autoridade indicada como coatora, nos
autos de Apuração de Infração Administrativa (proc. n°
0802430-11.2017.814.0201), conforme a parte dispositiva, a
seguir transcrita:
“Processo n.: 08024301120178140201
Classe: INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA
Autuado: Francisco José Tavares de
Oliveira
Estabelecimento: Ibirapuera
SENTENÇA COM RESOLUÇÃO DO
MÉRITO
Versam os presentes autos sobre a
apuração de INFRAÇÃO
ADMINISTRATIVA lavrada por agente de
proteção desta vara, legalmente
nomeado(a), contra FRANCISCO JOSÉ
TAVARES DE OLIVEIRA, brasileiro,
paraense, nascido em 12/10/1965, filho de
Raimundo Freitas de Oliveira e Maria José
Tavares Oliveira, RG 1332881, CPF
26603217287, residente na Rua Pedro
Álvares Cabral, n. 78 (próximo a Oito de
Maio), responsável pelo estabelecimento
denominado IBIRAPUERA, localizado no
endereço constante no auto de infração.
(...)
III – A CONDUTA DA AUTUADA EM
FACE DA NORMA LEGAL
III.1. – Autoria
Devidamente cientificado, o responsável
pelo estabelecimento não apresentou
qualquer defesa no prazo legal, razão pela
qual, na forma do artigo 344 do CPC, é
nos autos, tendo revel como consequência
material, a presunção de veracidade
dos fatos narrados no auto de infração
administrativa e processual, a

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desnecessidade de intimação da requerida


para os atos processuais posteriores.
Na lição de José Rogério Cruz e
Tucci[2], “tratando-se de revelia,
presumidos verdadeiros os fatos
deduzidos na petição inicial (artigo 344) e
não sendo requerida a produção de prova,
se porventura o réu ingressar no processo
a tempo de manifestar-se (artigo 349),
deverá igualmente ser proferido
julgamento antecipado do mérito”.
Sendo assim, constatada a revelia do
autuado e ainda que o mesmo, até a
presente data, não ingressou no processo
e na forma do artigo 196 do Estatuto da
Criança e do Adolescente e do artigo 355,
inciso I do Código de Processo Civil,
entendo desnecessária a realização de
audiência de instrução e julgamento.
III.2. – Materialidade
De igual sorte, entendo, nesse quesito,
com arrimo nas provas documentais dos
autos, que a infração do artigo 2º da
Portaria Conjunta nº 005/2008 e
artigo 258 do ECA, restou perfeitamente
caracterizada, a exigir a aplicação da
sanção correspondente.
Verifico que, no mínimo, o responsável
pelo estabelecimento foi negligente e
omisso ao permitir a entrada de
adolescente no local, sem exercer a
fiscalização que lhe competia fazer.
Entendo, portanto, presentes os requisitos
para a subsistência do auto de infração, já
que a conduta do autuado, além de típica
e punível, ofendeu gravemente os
princípios da proteção integral e da
prioridade absoluta (art. 227, CF).
IV - CONCLUSÃO
Ante ao exposto, julgo subsistente a
autuação, para, em consequência,
aplicar ao Sr. FRANCISCO JOSÉ
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TAVARES DE OLIVEIRA, a multa de


vinte (20) salários mínimos vigentes no
País, para cada um dos três (3)
adolescentes encontrados no
estabelecimento, em razão de sua
reincidência, por infringência ao artigo 2º
da Portaria Conjunta nº 005/2008 e do
artigo 258 do ECA, devendo o
correspondente ser revestido para o fundo
gerido pelo Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente, na
forma do artigo 214 do ECA.
Constato, por fim, que o estabelecimento é
e vem desrespeitando a lei reincidente e
as normas deste juízo de forma acintosa,
motivo pelo qual, também aplico, ainda, a
penalidade acessória de fechamento de
seu estabelecimento, conhecido como
“IBIRAPUERA”, pelo prazo de quinze
(15) dias. Comunique-se esta decisão à
Delegacia de Polícia Administrativa deste
Estado para cumprimento. Providencie-se,
também, o lacre no local, com os dizeres:
“ESTABELECIMENTO FECHADO POR
ORDEM DA JUSTIÇA DA INFÂNCIA E
JUVENTUDE DE ICOARACI. PRAZO DE
QUINZE (15) DIAS.”
Após o trânsito em julgado e em não
sendo recolhida a multa no prazo de trinta
(30) dias, dê-se vista ao Ministério
Público para que proceda na forma do § 1º
do art. 214 do ECA c/c o artigo 513 e segs.
Do NCPC.
Sem custas (artigo 141, §2º do ECA).
P.R.I.
Icoaraci, 05 de outubro de 2017
Juiz ANTÔNIO CLÁUDIO VON
LOHRMANN CRUZ
Titular da Vara da Infância e Juventude
Distrital de Icoaraci”
 

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Pela análise dos autos, verifica-se que o impetrante


através da presente ação mandamental combate a sentença
prolatada pela autoridade coatora, afirmando possuir direito
líquido e certo violado, tendo em vista que efetuou a locação do
imóvel para a realização de festas no período em que a decisão
judicial produziu os seus efeitos, na hipótese em fevereiro de
2018.
Como é cediço, destaco que para o conhecimento da
impetração do presente remédio heroico quanto a atos
judiciais, exige-se a presença cumulativa de três requisitos: a)
inexistência de instrumento recursal idôneo; b) não
formação de coisa julgada; e c) a ocorrência de
teratologia, ilegalidade ou abuso de poder na decisão
atacada.
Entretanto, não vislumbro o preenchimento de
nenhum desses requisitos na decisão atacada.
No caso concreto, constata-se que a decisão não é
teratológica, nem manifestamente ilegal e nem foi proferida
com abuso de poder, isto porque a sentença contém
fundamentação adequada para demonstrar a infringência
atribuída ao Sr. Francisco José Tavares de Oliveira, responsável
pelo estabelecimento denominado Ibirapuera, ao disposto no
artigo 2º da Portaria Conjunta nº 005/2008 e ao artigo 258 do
ECA, tendo em vista a constatação de três adolescentes em
horário não permitido naquela casa de festas.
Depreende-se, portanto, que a decisão atacada não
possui caráter teratológico, tampouco encontra-se viciado por
patente ilegalidade ou abuso de poder, estando baseada no
livre convencimento do julgador, que se vinculou às provas
juntadas aos autos, de modo que nenhuma ilegalidade ou
abusividade pode ser-lhe apontada.
Logo, a decisão judicial alvo da impetração não
possui contornos de ato coator, porquanto está devidamente
fundamentada e respaldada.
Feitas estas considerações, resta inegável que o
impetrante na hipótese dos autos não demonstrou que a
decisão judicial combatida não é ilegal ou teratológica capaz de
ensejar a concessão da segurança pleiteada, uma vez que
inexiste o alegado direito líquido e certo a ser amparado pelo
presente writ.
Nesse sentido, cito a jurisprudência do Colendo STJ:

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“AGRAVO REGIMENTAL NO MANDADO


DE SEGURANÇA. INDEFERIMENTO
LIMINAR DO WRIT. ATO COATOR.
AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE OU
TERATOLOGIA. DIREITO LÍQUIDO E
CERTO NÃO CONFIGURADO. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. A utilização do mandado de segurança
para impugnar decisão judicial só tem
pertinência em caráter excepcionalíssimo,
quando se tratar de ato manifestamente
ilegal ou teratológico, devendo a parte
demonstrar estarem presentes os
requisitos genéricos do fumus boni iuris e
do periculum in mora.
2. Na hipótese, não se verifica a
ocorrência de ato abusivo ou ilegal,
tampouco a existência de direito líquido e
certo amparável pelo mandado de
segurança, na medida em que foi
impetrado contra decisão devidamente
fundamentada, a qual foi revista e
mantida pelo órgão colegiado competente,
com idônea fundamentação. Precedente:
AgRg no MS 20.508/SP, de minha
relatoria, Corte Especial, julgado em
13/3/2014, DJe 21/3/2014.
3. Eventual discussão sobre o acerto ou
equívoco do acórdão questionado neste
mandado de segurança não pode ser feita
por via desta ação mandamental, a qual
não tem a finalidade de substituir típica
modalidade recursal. Somente o recurso
típico (não a ação de mandado de
segurança) pode questionar o acerto de
um julgado proferido e revisar os seus
termos para corrigir alegado error in
judicando.
4. Agravo regimental a que se nega
provimento.

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(AgRg no MS 22.653/DF, Rel. Ministro OG


FERNANDES, CORTE ESPECIAL, julgado
em 07/12/2016, DJe 15/12/2016)
 
“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO
REGIMENTAL. MANDADO DE
SEGURANÇA CONTRA DECISÃO
JUDICIAL. TERATOLOGIA DA
DECISÃO. AUSÊNCIA.
INDEFERIMENTO DA LIMINAR.
1. O mandado de segurança foi impetrado
contra decisão da Corte Especial que
inadmitiu recurso extraordinário com base
em precedente da STF que afastou a
repercussão geral em casos que versarem
sobre cabimento recursal.
2. A impetração do writ contra ato judicial
é medida excepcional, fazendo com que
sua admissão encontre-se condicionada à
natureza teratológica da decisão
combatida, seja por manifesta ilegalidade,
seja por abuso de poder.
3. No caso dos autos, não se revela a
teratologia da decisão, porquanto o ato
apontado como coator está calcado no
entendimento da Suprema Corte exarado
no Recurso Extraordinário nº
598.365/MG.
Petição inicial indeferida liminarmente.
Segurança denegada.
4. Agravo regimental não provido.”
(AgRg no MS 16686/MG, Rel. Ministro
CASTRO MEIRA, CORTE ESPECIAL,
julgado em 02/05/2012, DJe 15/05/2012)
 
Destaco que este Egrégio Tribunal de Justiça do Pará também
compartilha desse entendimento:
“AGRAVO EM MANDADO DE SEGURANÇA
IMPOSSIBILIDADE DE MANEJO DO
MANDAMUS CONTRA ATO JUDICIAL NO
CASO CONCRETO NÃO DEMONSTRAÇÃO DE
ILEGALIDADE, ABUSIVIDADE OU
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TERATOLOGIA - RECURSO CONHECIDO E


IMPROVIDO.
1. Agravo em Mandado de Segurança:
1.1. Indeferimento da petição do mandamus.
Interposição de Agravo Regimental.
Fungibilidade. Agravo previsto no art. 10, §1°
da Lei n. 12.016/2009.
1.2. Ausência dos requisitos atinentes à ação
mandamental contra ato judicial. Hipóteses
excepcionais que não se configuram no caso
concreto. Orientação do verbete sumular n.
267 do Supremo Tribunal Federal e da
jurisprudência sedimentada no C. Superior
Tribunal de Justiça.
2. Recurso conhecido e não provido.
Manutenção da Decisão Monocrática
atacada.”
(TJ/PA Agravo em MS n°. 2012.300.8964-6,
Relatora Desa. Maria de Nazaré Saavedra
Guimarães, Tribunal Pleno, data da Publicação
28/05/2012).
 
 
Assim, não é qualquer decisão judicial que pode ser
atacada pela via mandamental, pois exige-se que seja ela
teratológica. Com efeito, é a própria Constituição Federal que
qualifica como necessariamente ilegais ou abusivos de poder os
atos administrativos passíveis de controle pelo writ, nos termos
do art. 5º, LXIX, da CF.
Desta forma, a ação mandamental não se presta para
discussão da melhor interpretação do direito ou da mais
adequada delimitação da situação fática.
No mais, registro que, considerando a orientação
contida na Súmula 267 do STF, segundo a qual "não cabe
mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso
ou correição", competia ao responsável pelo estabelecimento
Ibirapuera, parte demandada no processo originário, ingressar
com o recurso competente contra a sentença, no caso, o
recurso de Apelação contra a ordem judicial que aplicou as
sanções de multa e fechamento provisório do imóvel.
Por fim, consigno que o Mandado de Segurança não
é a ação adequada para a solução da controvérsia, competindo
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ao impetrante ajuizar a ação que entender pertinente contra o


proprietário do imóvel, objetivando discutir os prejuízos
alegados, diante do cumprimento da ordem de fechamento
provisório do estabelecimento Ibirapuera, considerando o
contrato de locação firmado entre as partes.
Portanto, entendo que o impetrante não tem o direito
líquido e certo à ordem, uma vez que a decisão impugnada não
é teratológica, nem manifestamente ilegal e não foi proferida
com abuso de poder,estando devidamente motivada, conforme
o livre convencimento motivado do juízo de primeiro grau.
Destarte, entendo que a presente ação deveria ter
sido julgada extinta, liminarmente, sem resolução do mérito,
ante o manifesto descabimento do mandamus.
Pelo exposto, INDEFIRO A PETIÇÃO INICIAL,com
base no art. 10 da Lei nº 12.016/2009, por não vislumbrar a
existência de direito líquido e certo a ser amparado pela via
eleita, e consequentemente, julgo extinto o processo sem
resolução de mérito, nos termos do art. 485, inc. I do CPC.
Sem honorários, em atenção às Súmulas nº 512 do
Supremo Tribunal Federal e 105 do Superior Tribunal de
Justiça e ao art. 25 da Lei nº 12.016/09. Custas na forma da lei.
É o voto.
Publique-se, registre-se. Intimem-se.
Servirá a presente decisão/despacho como
mandado/oficio, nos termos da Portaria nº 3731/2015-GP.
Belém (PA),04 de setembro de 2019.

Desembargadora EZILDA PASTANA MUTRAN


Relatora 
 

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RELATÓRIO TÉCNICO DE ANÁLISE JURÍDICA SOBRE


AÇÕES CONSTITUCIONAIS: HABEAS DATA Nº
70076547462
Danielle Shirley Dowich
Edson carlos Souza Júnior
Ladirene Nayar Cavalcante da Costa
Odirley da Silva Rodrigues
Pâmela Thayanne Dias Guimarães
Roberto Magno Reis Netto

1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho teve como objetivo perfazer uma
análise técnico-processual de ação constitucional apreciada e
julgada por tribunal brasileiro, elencando os principais
elementos técnicos e normativos inerentes ao caso.
O trabalho nasceu de metodologia conjunta, desenvolvida
ao longo das aulas da disciplina ações constitucionais, na
Escola Superior Madre Celeste, perante discentes do décimo
semestre do curso de graduação em direito.
Compreende-se que uma das maiores dificuldades dos
discentes (e de muitos profissionais) do direito, ao longo de sua
formação profissional e de vida, é vislumbrar os institutos
processuais estudados na teoria funcionando de maneira
concreta, de modo a se observar e compreender sua essência e
respectivos objetivos.
Diante disso, análises de casos concretos e discussões em
torno do funcionamento de suas regras se tornam instrumentos
fundamentais tanto para quem faz a análise, quanto, para quem
aprecia seus respectivos resultados.

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Sob esta finalidade, o presente trabalho foi desenvolvido


com o intento de analisar uma ação constitucional julgada por
tribunal brasileiro, analisando cada elemento técnico-jurídico
inerente à mesma, de modo a ilustrar na prática, conteúdos
apreendidos na teoria perpassada ao longo das aulas da
disciplina.

2 METODOLOGIA
O estudo adotou uma metodologia de natureza
comparativa. Ou seja, partindo do conteúdo da apostila-guia da
disciplina ações constitucionais (REIS NETTO, 2019), bem
como, discussões realizadas em sala de aula, foram
selecionados diversos casos envolvendo ações constitucionais,
de modo que o docente e os discentes vislumbrassem casos
concretos julgados perante a justiça brasileira.
Diante da comparação entre os elementos teóricos e os
casos, o relatório em questão foi elaborado como forma de
demonstração dos elementos teóricos estudados ao longo da
disciplina, ilustrando os saberes adquiridos, não só para os
participantes, como, para os leitores dos relatórios.
Os resultados se encontram sintetizados na seção
seguinte.

3 RESULTADOS: O DIREITO CONCRETAMENTE


ANALISADO
3.1 O CASO JULGADO
O caso ora analisado diz respeito ao Habeas Data à
Seguir.
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Ementa: HABEAS DATA. INFORMAÇÕES


RELATIVAS À INSCRIÇÃO EM CADASTRO
RESTRITIVO DE CRÉDITO. POSSIBILIDADE.
VIA PROCESSUAL ADEQUADA. RECUSA
ADMINISTRATIVA COMPROVADA. CASO
CONCRETO. MATÉRIA DE FATO. Habeas data
julgado procedente. (Habeas Data, Nº
70076547462, Décima Quinta Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Vicente
Barrôco de Vasconcellos, Julgado em: 19-03-
2018).

Resumidamente, trata-se de um Habeas Data no qual


segundo Moraes (2015, p. 151) é uma ação constitucional de
natureza civil e rito sumário disponível e que tem por objeto a
proteção de direito líquido e certo do impetrante em conhecer
todas as informações e registros relativos à sua pessoa e
constantes de repartições pública ou privados. E que
corresponde ao direito que assiste ao solicitante de requerer
judicialmente o conhecimento dos registros que contenham
seus dados pessoais, com a finalidade de se obter ciência da
realidade dessas informações.
No caso em tela, a senhora BRUNA RAUCH CORREA,
impetrante, em face de SERASA EXPERIAN S.A, que em ato
praticado recusou-se a fornecer os informes no que tange a
inscrição junto ao órgão de proteção ao crédito. Questiona a
impetrante manifestando que é direito seu ter acesso não só a
origem da inserção do nome, bem como ter sapiência sobre as
razões que motivaram ao cadastro de restrição.

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A impetrante, com fundamento no art. 43, §4º, do CDC,


considera legítima, no caso concreto, a impetração do habeas
data contra a impetrada, pois por serem entidades de caráter
público os bancos de dados, os cadastros relativos aos
consumidores e os serviços de proteção ao crédito, a SERASA
EXPERIAN S.A tem o dever de reportar a informação.
Na contradita, justificou a impetrada ser inexequível
dispor dos comprovativos pretéritos por instrumento de
solicitação administrativa. Protocolou nos autos,
preliminarmente, pretextando a ausência de pretensão resistida
que desse motivo para o habeas data, pois alega a não
inexistência de inscrição do nome da impetrante nos órgãos de
proteção crédito.
O juízo considerou improcedente a preliminar da
impetrada no quesito impugnação ao valor da causa e
procedente a favor da impetrante o pedido.

3.2 LEGITIMADOS ENVOLVIDOS


Em toda tutela efetiva de direitos deverão sempre estar
presentes os pressupostos processuais garantidores do
desenvolvimento do direito “justo”, validando a relação
processual. Dentre tais requisitos, um de grande importância é
a legitimidade das partes na ação (OLIVEIRA, 2019).
Disporá da legitimidade ativa para impetrar o habeas data
qualquer pessoa, natural, ou até mesmo jurídica, para fins de
garantir a obtenção de informações pessoais ao seu respeito
(SOUZA, 2019), que no julgado apresentado é materializado
pela parte impetrante Bruna Rauch Correa; direito este
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devidamente garantido a impetrante pelo artigo 5º, LXXII, “a”,


da Constituição Federal de 1988. O legislador ao redigir este
artigo não se posiciona a respeito do motivo ensejador deste
remédio constitucional, ou seja, o simples desejo de obter tais
informações já é o bastante para impetrar o pedido de habeas
data, não sendo necessariamente a defesa de direitos um
requisito essencial, o que não se aplica a este caso em
particular tendo em vista que a impetrante busca a ver
informações a respeito da inscrição de seu nome nos cadastros
restritivos de crédito bem como ter conhecimento da origem,
do requerente e dos motivos que conduziram a inscrição.
Para Moreira (1998, p.51) “uma das questões básicas que
o legislador teve de enfrentar foi a de saber em face de quem se
asseguram o acesso aos dados armazenados e o direito à
eventual retificação”. O autor explica que o maior problema
enfrentado na aplicação do artigo 5, LXXII, “a”, CF/88
encontra-se na expressão “caráter público” presente na parte
final do artigo12.
Não obstante o autor defende que esta cláusula refere-se
a entidades não governamentais. Em sua opinião, o legislador,
ao se deparar com várias autores discutindo sobre o que viria a
ser “entidade de caráter público” – em suas palavras – “deixou-
se guiar por semelhante orientação” (MOREIRA, 1998, p.51),
consequentemente, para sanar quaisquer conceito ambíguo o
artigo 1º da Lei nº 9.507 de 12 de novembro de 1997 13
especifica que “considera-se de caráter público todo registro ou

12
Artigo 5º, LXXII, “a”, CF “[...] registros ou banco de dados de entidades governamentais ou de
caráter público.” (grifo nosso).
13
Regula o direito de acesso a informações e disciplina o rito processual do habeas data.
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banco de dados contendo informações que sejam ou que


possam ser transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso
privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária das
informações” c/c artigo 43, §4º, do CDC, expressa que “os
bancos de dados e cadastros relativos a consumidores, os
serviços de proteção ao crédito e congêneres são considerados
entidades de caráter público”, sendo assim fica claro que a
legitimidade passiva é determinada a partir da natureza
jurídica do banco de dados onde encontra-se as informações
que são objetos da referida ação, assim como a
comunicabilidade a terceiros, pois o legislador, para Moreira
(2019), defende que se a entidade que se propõe a reunir e
armazenar dados pessoais sem a intenção de disponibiliza-los
para terceiros, sendo este para seu próprio e exclusivo uso, não
ferirá a Constituição ao negar a pessoa de quem se trata os
dados o acesso aos conteúdos destes.
Porém, no julgado em questão, a parte impetrada faz
parte de um grupo privado de banco de dados que mediante
pagamento, fornece informações sobre crédito a qualquer
pessoa, física ou jurídica, que contratar seus serviços – Serasa
Experian S.A. – sendo assim devidamente este legitimado
passivo do caso.

3.3 O REPUTADO DIREITO À INFORMAÇÃO


Alega a impetrante que estaria amparada pelo seu direito
líquido e certo de informação que contenha seu nome. No caso
em comento a impetrante aduz que o direito à informação sobre
seu nome está inscrito no órgão de proteção de crédito.
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Argumenta ainda que o SERASA expressamente recusou


quando a impetrante tentou por via administrativa tentou
acessar informações que demonstrava que seu nome estava no
órgão de proteção de crédito.
Ademais, por força do Código de Defesa do Consumidor
em seu artigo 43, §4°, normatiza que os bancos de dados e
cadastros relativos a consumidores, os serviços de proteção ao
crédito e congêneres são considerados entidades de caráter
público, e desta forma tem o dever de prestar informação que
diz respeito ao impetrante.
Neste seguimento, o egrégio Tribunal que decidiu tal
remédio constitucional, entendeu que é legal e a medida mais
cabível para este caso é o Habeas Data, assegurado pela Carta
Magna em seu artigo 5°, LXXII, ‘a’. Além do mais, Habeas Data
é amparada da mesma forma pela lei própria, a qual seja Lei n°
9.507/97.
Deste modo, tal remédio constitucional está ligado ao
princípio da publicidade, que nas palavras de Alexandre de
Moraes expõe:

A conjugação dos princípios da moralidade e


publicidade impede que o agente público
utilize-se das inviolabilidades à intimidade e à
vida privada para prática de atividades ilícitas,
pois, na interpretação das diversas normas
constitucionais, deve ser concedido o sentido
que assegure sua maior eficácia, sendo
absolutamente vedada a interpretação que
diminua sua finalidade, no caso, a
transparência dos negócios públicos
(MORAES, 2017, p. 90).
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Em suma, o ilustre Tribunal decidiu por pugna a decisão,


dando procedência do pedido, visto que foi reconhecido pelo
mesmo o Habeas Data seria a medida apropriada e a
impetrante comprovou a recusa expressa por parte da
impetrada.

3.4 O TRIBUNAL E SUA COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO


DO CASO
Com fundamento no art. 125, §1º, da carta magna, cada
ente federativo instituirá na esfera da justiça estadual a
competência para o processo e julgamento do habeas data. É de
competência originária do Tribunal de Justiça do estado do Rio
Grande do Sul através da Décima Quinta Câmara Cível, o juízo
competente para a decisão que julgou o Habeas Data, relativo a
informações relativas à inscrição em cadastro restritivo de
crédito.
Na mesma senda, a lei nº 9.507, de 12 de novembro de
1997, Lei do Habeas Data no seu art. 20, I, alínea “e”,
corrobora que compete ao Tribunal de cada estado no que
dispõe a constituição estadual aplicar o habeas data
relacionado a sua jurisdição, ou seja, Juízes Estaduais de 1º
instancias estão pelas demais demandas.
O direito de acesso as informações é regulado pela Lei do
habeas data, que fundamenta o processo deste remédio
constitucional no seu parágrafo Único do artigo 1º da referida
Lei, combinado com o Código de Defesa do Consumidor em seu
art. 43, caput, afirma que “...terá acesso às informações
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existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de


consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas
respectivas fontes”. Ou seja, os Bancos de dados e Cadastros de
consumidores, bem como os serviços de proteção ao crédito e
compares são de caráter público como giza o §4º do referido
artigo.

3.5 DO RESULTADO DA DEMANDA


No caso em apenso, a impetrante Bruna Rauch Correa,
valeu-se do remédio constitucional do habeas data em face a
impetrada que se recusara a fornecer as informações relativas
a inscrição de seu nome junto ao órgão de proteção de crédito,
argumentando este a inviabilidade de disposição de registros
pretéritos através de solicitação administrativa.
A impetrante granjeou êxito em demonstrar a negativa de
acesso às informações relacionadas à anotação de seu nome
nos cadastros restritivos de crédito mantidos pela parte
impetrada.
Diante do exposto e do que preceitua a legislação vigente,
a doutrina e a jurisprudência, a impetrante logrou vitória do
julgamento, considerando-se procedente a ação cautelar de
exibição de documentos é inadequado assim o ônus
sucumbências mantidos sem resolução do mérito.
Da presente ação, em todos os seus termos, determinou
em decisão monocrática, a citação do impetrado, por meio do
seu representante legal, SERASA EXPERIAN S.A para que,
entregue ao impetrante o histórico das informações inseridas
em seu banco de dados, nos últimos dois anos, de inscrições do
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Ananindeua/ESMAC – DOSSIÊ DIREITO III (Online) ISSN: 2359–4861 Vol. 05, N. 18.
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nome da impetrante nos cadastros restritivos ao credito no


prazo de 10 (dez) dias, a contar do transito em julgado para
exibição de tais informações e sem condenação em custas
processuais e honorários advocatícios .
Foi levada em consideração por vossa excelentíssima o
Desembargador Vicente Barroso de Vasconcelos, além da
Constituição Federal de 1988, o Código de Defesa do
Consumidor, e a Lei do habeas data, outros julgados
relacionados a denegação de acesso a informação a órgãos de
cadastros restritivos de crédito que sinalizaram positivamente a
favor de impetrantes que protocolaram o mesmo remédio
constitucional.

4 CONCLUSÃO
Diante do caso analisado, foi possível observar a presença
dos pertinentes elementos legais correlatos ao Habeas Data,
que, ilustrados pelo caso concreto, se tornaram mais visíveis
aos pesquisadores e aos leitores.

REFERÊNCIAS

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Habeas Data N.


70076547462, Décima Quinta Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Vicente Barrôco de Vasconcellos,
Julgado em: 19-03-2018. 2018.

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 31 ed. São


Paulo: Atlas, 2015.

OLIVEIRA, Cleide G. J.; ALVES, Ecio C. V.; VILA, Dara R.;


SANTANA, Simone R. Legitimidade no processo de
execução civil. Revista Jus Navigandi, Mato Grosso, online,
116
RevISE – Revista Interdisciplinar do Instituto de Educaçã o de
Ananindeua/ESMAC – DOSSIÊ DIREITO III (Online) ISSN: 2359–4861 Vol. 05, N. 18.
Nov./2019

2010. Disponível em:


<https://jus.com.br/artigos/52646/legitimidade-no-processo-de-
execucao-civil>. Acesso em: 17 set. 2019.

REIS NETTO, Roberto Magno. Apostila-guia de Ações


Constitucionais. Material técnico de ensino. Edições do autor:
Ananindeua, 2019.

SOUZA, Gustavo. Habeas data, abrangência, legitimidade e


competência. Direito Constitucional, Brasilia, online, 2017.
Disponível em: <https://direitoconstitucional. blog.br/habeas-
data/>. Acesso em: 17 set. 2019.

MOREIRA, José Carlos Barbosa. O habeas data brasileiro e a


sua Lei regulamentadora. Revista de Direito Administrativo:
RDA, Rio de Janeiro, n.211, p. 47 - 63, 1998. Disponível em:
<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/
article/viewFile/ 47125/45702>. Acesso em: 17 set. 2019.

RELATÓRIO TÉCNICO DE ANÁLISE JURÍDICA SOBRE


AÇÕES CONSTITUCIONAIS: O CASO DO HABEAS DATA
Nº 70076547462
Ana Karolyna Barbosa dos Santos
Anderson Roberto Maia Rodrigues
Evandro Silva Matos
Gleyne Susan Pinheiro Caldeira Silva
Paolla Trycia Pereira da Silva
Theodora Luciana da Silva Gomes
Roberto Magno Reis Netto

1 INTRODUÇÃO

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Nov./2019

O presente trabalho teve como objetivo perfazer uma


análise técnico-processual de ação constitucional apreciada e
julgada por tribunal brasileiro, elencando os principais
elementos técnicos e normativos inerentes ao caso.
O trabalho nasceu de metodologia conjunta, desenvolvida
ao longo das aulas da disciplina ações constitucionais, na
Escola Superior Madre Celeste, perante discentes do décimo
semestre do curso de graduação em direito.
Compreende-se que uma das maiores dificuldades dos
discentes (e de muitos profissionais) do direito, ao longo de sua
formação profissional e de vida, é vislumbrar os institutos
processuais estudados na teoria funcionando de maneira
concreta, de modo a se observar e compreender sua essência e
respectivos objetivos.
Diante disso, análises de casos concretos e discussões em
torno do funcionamento de suas regras se tornam instrumentos
fundamentais tanto para quem faz a análise, quanto, para quem
aprecia seus respectivos resultados.
Sob esta finalidade, o presente trabalho foi desenvolvido
com o intento de analisar uma ação constitucional julgada por
tribunal brasileiro, analisando cada elemento técnico-jurídico
inerente à mesma, de modo a ilustrar na prática, conteúdos
apreendidos na teoria perpassada ao longo das aulas da
disciplina.
2 METODOLOGIA
O estudo adotou uma metodologia de natureza
comparativa. Ou seja, partindo do conteúdo da apostila-guia da
disciplina ações constitucionais (REIS NETTO, 2019), bem
118
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Ananindeua/ESMAC – DOSSIÊ DIREITO III (Online) ISSN: 2359–4861 Vol. 05, N. 18.
Nov./2019

como, discussões realizadas em sala de aula, foram


selecionados diversos casos envolvendo ações constitucionais,
de modo que o docente e os discentes vislumbrassem casos
concretos julgados perante a justiça brasileira.
Diante da comparação entre os elementos teóricos e os
casos, o relatório em questão foi elaborado como forma de
demonstração dos elementos teóricos estudados ao longo da
disciplina, ilustrando os saberes adquiridos, não só para os
participantes, como, para os leitores dos relatórios.
Os resultados se encontram sintetizados na seção
seguinte.
3 RESULTADOS: O DIREITO CONCRETAMENTE
ANALISADO
3.1 O CASO JULGADO
O caso ora analisado diz respeito ao Habeas Data à
Seguir.

Ementa: HABEAS DATA. INFORMAÇÕES


RELATIVAS À INSCRIÇÃO EM CADASTRO
RESTRITIVO DE CRÉDITO. POSSIBILIDADE.
VIA PROCESSUAL ADEQUADA. RECUSA
ADMINISTRATIVA COMPROVADA. CASO
CONCRETO. MATÉRIA DE FATO. Habeas data
julgado procedente. (Habeas Data, Nº
70076547462, Décima Quinta Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Vicente
Barrôco de Vasconcellos, Julgado em: 19-03-
2018).

Resumidamente, trata-se de um Habeas Data impetrado


por BRUNA RAUCH CORREA, que solicitou acesso a

119
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informações acerca de sua pessoa, com o fito de averiguar a


validade dos motivos da inscrição. Todavia, o intento de acesso
ao banco de dados sofreu resistência por parte de SERASA
EXPERIAN S.A.
3.2 LEGITIMADOS ENVOLVIDOS
Figurou como Legitimado(a) ativo(a): BRUNA RAUCH
CORREA; e como Legitimado(a) passivo(a): SERASA EXPERIAN
S.A.

3.3 O REPUTADO DIREITO À INFORMAÇÃO


A Impetrante socorreu-se do adequado remédio, habeas
data, expresso no artigo 5º, inciso LXXII, da Constituição
Federal, cujo acolhimento pelo Tribunal só foi possível
mediante a inequívoca comprovação da recusa em petição
inicial, exigida no parágrafo único, inciso I, artigo 8º, da Lei n.
9.507/97.
Além disso, devido a seu estado de consumidora, evocou
cumulativamente o artigo 43, § 4º, do CDC, que classifica o
referido banco de dados como de entidade de caráter público,
assegurando-lhe o acesso na via administrativa.
3.4 O TRIBUNAL E SUA COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO
DO CASO
O caso descrito foi julgado, em 19/03/2018, pela Décima
Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul, tendo por relator o desembargador Vicente Barrôco de
Vasconcellos.
Entretanto, segundo a regra preceituada no artigo 20,
inciso I, alínea ‘f’, da Lei 9.507/97, competiria, originaria e
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residualmente, a juiz estadual o julgamento de habeas data. O


mesmo diploma aponta, em seu artigo 20, inciso I, alínea ‘e’, e
inciso II, alínea ‘d’, que a constituição estadual define a
competência do tribunal originária e em grau de recurso,
respectivamente, neste sentido.
E que se observa delineado na Constituição do Estado do
Rio Grande do Sul, ao definir a matéria, esta não lista a
situação em comento, a saber:

Art. 93. Compete aos Tribunais de segunda


instância, além do que lhes for conferido em lei:
[...]
V - processar e julgar:
c) os mandados de segurança, mandados de
injunção e “habeas data” contra atos do próprio
Tribunal, de seu Presidente e de suas Câmaras ou
Juízes;
Art. 95. Ao Tribunal de Justiça, além do que lhe for
atribuído nesta Constituição e na lei, compete: [...]
XII - processar e julgar:
b) os mandados de segurança, os “habeas data” e
os mandados de injunção contra atos ou omissões
do Governador do Estado, da Assembléia
Legislativa e seus órgãos, dos Secretários de
Estado, do Tribunal de Contas do Estado e seus
órgãos, dos Juízes de primeira instância, dos
membros do Ministério Público e do Procurador-
Geral do Estado;

Pode-se inferir que a competência correta para julgar


originariamente o processo em análise seria de juiz de primeira
instância e não do Tribunal de justiça do correspondente
Estado. Ainda assim, diante da ausência de maiores
questionamentos, o caso fui julgado e transitou em julgado.

3.5 DO RESULTADO DA DEMANDA


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Após a intimação da Impetrada, esta impugnou


preliminarmente a resistência alegada e provada e o valor da
causa atribuída pela Impetrante, o que não foi acolhido diante
da prova incluídas nos autos e ainda da correta estipulação do
valor da causa, pois esta seria o valor mínimo determinado pelo
Egrégio Tribunal naquele momento.
Por outro lado, foram aceitas as alegações da Impetrante
acerca da prova de recusa ao acesso das informações por parte
da Impetrada por mais de dez dias sem decisão administrativa,
o cabimento de habeas data.
E, foram julgados procedentes os pedidos para intimar a
parte a prestar as informações e fornecer o histórico dos
últimos dois anos de inscrições do nome da impetrante nos
cadastros restritivos ao crédito, no prazo de dez dias, contados
do transito em julgado, para a exibição das informações
requeridas.
Não houve condenação em custas e honorários
advocatícios, com suporte no artigo 21 da Lei n. 9.507/97 e
aplicação dos verbetes das Súmulas 512 do STF e 105 do STJ,
por analogia.
4 CONCLUSÃO
Diante do caso analisado, foi possível observar a presença
dos pertinentes elementos legais correlatos ao Habeas Data,
que, ilustrados pelo caso concreto, se tornaram mais visíveis
aos pesquisadores e aos leitores.
REFERÊNCIAS

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Habeas Data N. 70076547462,


Décima Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Vicente
Barrôco de Vasconcellos, Julgado em: 19-03-2018. 2018.
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Nov./2019

REIS NETTO, Roberto Magno. Apostila-guia de Ações Constitucionais.


Material técnico de ensino. Edições do autor: Ananindeua, 2019.
ANEXO DOS CASOS – INTEIRO TEOR DO JULGADO
ANALISADO

PODER JUDICIÁRIO
----------RS----------

@ (PROCESSO ELETRÔNICO)

VBV

Nº 70076547462 (Nº CNJ: 0019958-35.2018.8.21.7000)

2018/Cível

HABEAS DATA. INFORMAÇÕES RELATIVAS À INSCRIÇÃO EM


CADASTRO RESTRITIVO DE CRÉDITO. POSSIBILIDADE. VIA
PROCESSUAL ADEQUADA. RECUSA ADMINISTRATIVA
COMPROVADA. CASO CONCRETO. MATÉRIA DE FATO.
Habeas data julgado procedente.
Habeas Data
Décima Quinta Câmara Cível
Nº 70076547462 (Nº CNJ: 0019958-35.2018.8.21.7000)

BRUNA RAUCH CORREA

IMPETRANTE

SERASA EXPERIAN S.A.

IMPETRADA

DECISÃO MONOCRÁTICA

Vistos.
1. Trata-se de habeas data impetrado por BRUNA RAUCH
CORREA contra ato praticado por SERASA EXPERIAN S.A., que
se recusou a fornecer à impetrante as informações sobre a
inscrição de seu nome junto ao órgão de proteção ao crédito,
alegando ser inviável a disponibilização de registros pretéritos
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por meio de solicitação administrativa. Sustenta que, tendo


havido a inscrição de seu nome nos cadastros restritivos, é seu
direito ter conhecimento da origem, do requerente e dos
motivos que conduziram à inscrição. Afirma ser possível, no
caso concreto, a impetração do habeas data, visto que, por
força do art. 43, § 4º, do CDC, os bancos de dados e cadastros
relativos a consumidores, os serviços de proteção ao crédito e
congêneres são considerados entidades de caráter público.
Pugna seja julgado procedente o pedido.
Intimada, a impetrada protocolizou manifestação nos autos. Em
seus motivos, impugna, preliminarmente, o valor atribuído à
causa pela impetrante. No mérito, defende a ausência de
pretensão resistida que dê azo à impetração do habeas e, ainda,
a inexistência de anotações cadastradas em nome da
consumidora. Requer a improcedência do pleito autoral. É o
relatório.
2. Primeiramente, não vinga a preliminar, invocada pela
impetrada, de impugnação ao valor da causa, porquanto a parte
impetrante atribuiu ao remédio constitucional o valor de alçada
estabelecido, à época, por este e. Tribunal. Sendo este o valor
mínimo para ingresso na via jurisdicional, não há se falar em
redução do montante estipulado.

Já se decidiu: AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE UNIÃO


ESTÁVEL POST MORTEM. VALOR DA CAUSA. IMPUGNAÇÃO.
CRITÉRIO LEGAL. 1. As regras que delimitam o valor da causa
são de ordem pública, sendo que toda causa deve ter um valor
certo, ainda que sem conteúdo econômico imediato. 2. Apenas
quando a causa é desprovida de qualquer conteúdo econômico,
ou sendo ele inestimável, é que se atribui à causa um valor
mínimo, fixado no regimento de custas, denominado \"valor de
alçada\". 3. Tendo a causa conteúdo econômico imediato, o
valor da causa deve corresponder a ele, aplicando-se as regras
do art. 292, §3º do NCPC. Recurso desprovido (AI
70070698345/Chaves).
Desacolhida a prefacial, passo ao exame do mérito deste feito.

Nos termos do art. 5º, LXXII, a, da Constituição Federal, o


habeas data é o remédio constitucional pelo qual resta
assegurado às pessoas físicas e jurídicas o conhecimento de
informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de

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registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou


de caráter público.

O direito de acesso a informações é regulado pela Lei n.º


9.507/97, que também disciplina o rito processual do habeas
data. Segundo o parágrafo único do art. 1º do diploma legal,
considera-se de caráter público todo registro ou banco de dados
contendo informações que sejam ou que possam ser
transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do
órgão ou entidade produtora ou depositária das informações.
Com efeito, refere o art. 43, § 4º, do Código de Defesa do
Consumidor, que os bancos de dados e cadastros relativos a
consumidores, os serviços de proteção ao crédito e congêneres
são considerados entidades de caráter público.
Também, a impetração do habeas data depende não apenas do
preenchimento dos requisitos previstos na legislação
processual civil para a apresentação da petição inicial, mas
também da juntada, pelo impetrado, da prova da recusa ao
acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem
decisão administrativa da entidade requisitada.
No caso vertente, a impetrante logrou êxito em demonstrar a
negativa de acesso às informações relacionadas à inscrição de
seu nome nos cadastros restritivos de crédito mantidos pela
parte impetrada (fl. 18 dos autos).
De fato, é direito seu, enquanto consumidora, obter as
informações acerca de eventuais inscrições realizadas em seu
desfavor, com o propósito de apurar a origem do débito outrora
reconhecido e eventual irregularidade na inscrição realizada.
Como destaca a impetrante, ainda que a inscrição não subsista
atualmente, tais dados, mantidos no sistema operacionalizado
pela impetrada, são suscetíveis de lhe causar efetiva redução
do poder de compra, o que não pode ser chancelado caso haja
quaisquer indícios de que a inscrição tenha sido indevida.
Segundo a jurisprudência cediça deste Tribunal e, inclusive,
conforme orientação veiculada pela própria parte impetrada
quando da recusa administrativa (fl. 18 dos autos), consiste o
habeas data na via processual adequada para a persecução de
tal medida.

Já se decidiu nesta Câmara: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO


PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE
DADOS EM CADASTRO NO SPC. EXTINÇÃO DO PROCESSO
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DE OFÍCIO. O remédio jurídico processual adequado para tal


pretensão é o habeas data inteligência dos arts. 5º, LXXII, a, da
CF/88 e 43 do CDC. Ausência de demonstração da solicitação
administrativa e da negativa de fornecimento. Solicitação por e-
mail. Ausência de interesse processual. PROCESSO EXTINTO,
DE OFÍCIO. APELAÇÃO PREJUDICADA (AC 70044764892/Ana
Iser).

Não discrepa o entendimento dos demais órgãos fracionários


desta Corte: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO
ESPECIFICADO. AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE
DOCUMENTOS PARA FORNECIMENTO DE DADOS DO
CONSUMIDOR EM SERVIÇO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO.
INADEQUAÇÃO DO PROCEDIMENTO. ÔNUS
SUCUMBENCIAIS MANTIDOS. Pretendendo o autor obter
informações acerca do registro do seu nome no banco de dados
da parte ré, cabível o manejo de habeas data, meio
constitucional específico para este fim. Inteligência do art. 5º,
LXXII, da Constituição Federal. Destarte, ausente pressuposto
de constituição e de desenvolvimento válido e regular do
processo, é de rigor a sua extinção, de ofício, sem resolução de
mérito, forte no art. 485, IV, do CPC/15. Manutenção dos ônus
sucumbenciais. Extinguiram o feito, de ofício, forte no art. 485,
IV, do CPC/15, julgando prejudicado o apelo. Unânime (AC
70061247516/Dilso).
Também: AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS.
A jurisprudência deste Tribunal de Justiça firmou-se no sentido
de que a ação cautelar de exibição de documentos não constitui
meio processual idôneo para a obtenção de informações
referentes a registros negativos de crédito. Segundo esse
entendimento jurisprudencial, se a pretensão da parte limita-se
ao acesso a dados referentes ao registro negativo de crédito,
como se verifica no caso em tela, em que se busca, ao fim e ao
cabo, informações acerca da notificação prévia, deve impetrar
habeas data, tudo de acordo com o disposto no art. 5º, LXXII, a
e b, da Constituição Federal. NEGARAM PROVIMENTO AO
RECURSO DE APELAÇÃO. UNÂNIME (AC
70075049494/Scarparo).

Idem: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO


ESPECIFICADO. HABEAS DATA. HISTÓRICO DE
INFORMAÇÕES CADASTRAIS. Sendo a parte-ré entidade
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privada com caráter eminentemente público - já que


disponibiliza suas informações a terceiros - se mostra adequado
o habeas data para obtenção do pedido veiculado na inicial.
Obrigação de fazer cumprida durante o processo. Afastamento
de multa pela oposição de embargos de declaração
supostamente protelatórios. Existência de pontos
controvertidos. Impossibilidade de fixação de honorários
advocatícios. Aplicação por analogia da Súmula 105 do
Superior Tribunal de Justiça e da Súmula 512 do Supremo
Tribunal Federal. APELO PROVIDO. UNÂNIME (AC
70066869546/Iserhard).

Enfim: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO


ESPECIFICADO. AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS PARA
FORNECIMENTO DE HISTÓRICO DE CADASTRO NEGATIVO.
PROCEDIMENTO INVIÁVEL. O REMÉDIO JURÍDICO
PROCESSUAL ADEQUADO PARA TAL PRETENSÃO É
O \"HABEAS DATA\", INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 5º, LXXII, A,
DA CF/88 E 43 DO CDC. SENTENÇA MANTIDA. UNÂNIME.
NEGARAM PROVIMENTO AO APELO (AC 70067758383/Katia
Elenise).
Por tais razões, na forma do disposto no art. 13 da Lei n.º
9.507/97, julgo procedente o pedido para intimar a parte
impetrada a prestar informações e fornecer o histórico,
relativamente aos últimos dois anos, de inscrições do nome da
impetrante nos cadastros restritivos ao crédito, estabelecendo o
prazo de dez dias, a contar do trânsito em julgado, para a
exibição de tais informações.
Sem condenação em custas processuais e honorários
advocatícios, em face do art. 21 da Lei n.º 9.507/97 e aplicação
analógica das Súmulas 512 do STF e 105 do STJ.
Int.
Porto Alegre, 31 de janeiro de 2018.

Des. Vicente Barroco de Vasconcellos,

Relator.

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RELATÓRIO TÉCNICO DE ANÁLISE JURÍDICA SOBRE


AÇÕES CONSTITUCIONAIS: O MANDADO DE
SEGURANÇA N. 0803917-03.2018.8.14.0000
Joseany Queiroz
Mônica Corrêa
Alfredo Henrique Filho
Ademar Calumby Junior
Diego Viana Andrade
Roberto Magno Reis Netto

1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho teve como objetivo perfazer uma
análise técnico-processual de ação constitucional apreciada e
julgada por tribunal brasileiro, elencando os principais
elementos técnicos e normativos inerentes ao caso.
O trabalho nasceu de metodologia conjunta, desenvolvida
ao longo das aulas da disciplina ações constitucionais, na
Escola Superior Madre Celeste, perante discentes do décimo
semestre do curso de graduação em direito.
Compreende-se que uma das maiores dificuldades dos
discentes (e de muitos profissionais) do direito, ao longo de sua
formação profissional e de vida, é vislumbrar os institutos
processuais estudados na teoria funcionando de maneira
concreta, de modo a se observar e compreender sua essência e
respectivos objetivos.
Diante disso, análises de casos concretos e discussões em
torno do funcionamento de suas regras se tornam instrumentos
fundamentais tanto para quem faz a análise, quanto, para quem
aprecia seus respectivos resultados.

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Sob esta finalidade, o presente trabalho foi desenvolvido


com o intento de analisar uma ação constitucional julgada por
tribunal brasileiro, analisando cada elemento técnico-jurídico
inerente à mesma, de modo a ilustrar na prática, conteúdos
apreendidos na teoria perpassada ao longo das aulas da
disciplina.

2 METODOLOGIA
O estudo adotou uma metodologia de natureza
comparativa. Ou seja, partindo do conteúdo da apostila-guia da
disciplina ações constitucionais (REIS NETTO, 2019), bem
como, discussões realizadas em sala de aula, foram
selecionados diversos casos envolvendo ações constitucionais,
de modo que o docente e os discentes vislumbrassem casos
concretos julgados perante a justiça brasileira.
Diante da comparação entre os elementos teóricos e os
casos, o relatório em questão foi elaborado como forma de
demonstração dos elementos teóricos estudados ao longo da
disciplina, ilustrando os saberes adquiridos, não só para os
participantes, como, para os leitores dos relatórios.
Os resultados se encontram sintetizados na seção
seguinte.

3 RESULTADOS: O DIREITO CONCRETAMENTE


ANALISADO
3.1 O CASO JULGADO
O caso ora analisado diz respeito ao Mandado de
Segurança à Seguir.

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MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO.


SERVIDOR PÚBLICO. LICENÇA PARA DESEMPENHO
DE MANDATO CLASSISTA. PRELIMINAR. ATO
ADMINISTRATIVO DISCRICIONÁRIO. NÃO
INTERFERÊNCIA DO JUDICIÁRIO NO MÉRITO
ADMINISTRATIVO. 1. A matéria aventada em
preliminar de concessão de licença para exercício de
mandato classista em sendo ato administrativo
discricionário, confunde-se com o próprio mérito, onde
deve ser analisada; 2. Afastamento do cargo para o
exercício de mandato eletivo em entidade sindical; 3.
Reconhecimento do direito líquido e certo à
continuidade do recebimento dos vencimentos
integrais; 4. Cabimento da pretensão.
Inadmissibilidade da redução de vencimentos durante
o mandato sindical. Inteligência do art. 37, da
Constituição Estadual, art. 95 da Lei Estadual
5.810/91. 5. Segurança concedida. Vistos,
relatados e discutidos os autos. Acordam os
Excelentíssimos Senhores Desembargadores que
integram a Seção de Direito Público, em conceder a
segurança pleiteada, a fim de que seja resguardada a
integralidade da remuneração do impetrante, nos
termos da fundamentação. Julgamento presidido pela
Exma. Sra. Desa. LUZIA NADJA GUIMARÃES
NASCIMENTO. 8ª Sessão do Plenário Virtual da Seção
do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, no período
de 27/08/2019 a 03/09/2019. Desembargadora
CÉLIA REGINA DE LIMA PINHEIRO Relatora
(2174496, Não Informado, Rel. CELIA REGINA DE
LIMA PINHEIRO, Órgão Julgador Seção de Direito
Público, Julgado em 2019-08-27, Publicado em 2019-
09-05)

Resumidamente, trata-se de um Mandado de Segurança


no qual pleiteou-se a concessão de segurança, a fim de que
fosse resguardada a integralidade da remuneração do
impetrante, quando da sua licença do cargo efeito de Assistente
administrativo, lotado na Secretaria Estadual de Educação para
o exercício de mandato eletivo de 2 (dois) anos de Diretor
Jurídico de Interiorização do Sindicato dos Servidores

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Administrativos, técnico e de apoio do Estado do Pará, para o


qual foi eleito por unanimidade.
3.2 LEGITIMADOS ENVOLVIDOS
No caso em tela o legitimado ativo é o impetrante do
mandado de segurança, o Sr. Sidney Pantoja Almeida, que
impetrou mandado de segurança contra ato abusivo da
autoridade coatora representado na pessoa do Secretário de
Estado de Educação ligado à Secretaria de Estado de Educação
– SEDUC/PA, que é o legitimado passivo vinculado ao Estado do
Pará pessoa jurídica de direito público interno.
3.3 O REPUTADO DIREITO LÍQUIDO E CERTO
O direito líquido e certo restou demonstrado através da
Constituição Federal em seu art. 37 que diz que é garantido ao
servidor público civil o direito à livre associação sindical, bem
como por meio do art. 95 da Lei Estadual nº 5.810/95 que
preceitua:

É assegurado ao servidor o direito à licença


para desempenho de mandato de
confederação, federação, sindicato
representativo da categoria, associação de
classe de âmbito local e/ou nacional, sem
prejuízo de remuneração do cargo efetivo. §1º
somente poderão ser licenciados os servidores
eleitos para o cargo de direção ou
representação nas referidas entidades até o
máximo de quatro por entidade constituída em
conformidade pelo art. 5º inciso LXX, alínea
“b” da Constituição Federal. §2º A licença terá
duração igual ao mandato, podendo ser
prorrogada, no caso de reeleição por uma
única vez. §3º O período de licença de que
trata este artigo será contado para todos os

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efeitos legais, exceto para a promoção por


merecimento.

Diante do exposto, foi concedido a segurança pleiteada


pelo impetrante, pois segundo a Desembargadora Célia
Pinheiro, assiste razão ao impetrante, pois trata-se de garantia
constitucional, onde a melhor solução hermenêutica orienta a
interpretação que salvaguardem direitos assegurados pela
Carta Magna sob pena de subverter-se a ordem constitucional
em ofensa ao Estado Democrático.
Destarte, entendeu a Desembargadora que a supressão de
qualquer das gratificações ante a fruição de licença para o
exercício de mandato classista, viola frontalmente os
dispositivos constitucionais e legais da irredutibilidade de
vencimento.
3.4 O TRIBUNAL E SUA COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO
DO CASO
O tribunal que julgou o mandado de segurança foi o
Tribunal de Justiça do Estado do Pará, competente por exclusão
e conforme a Constituição Estadual de acordo com art. 161, I,
alínea “c”.

Art.161 Além das outras atribuições previstas nesta


Constituição, compete ao Tribunal de Justiça:
I processar e julgar originariamente:
c) ao mandados de segurança contra atos do
Governador do Estado, da Mesa e do Presidente da
Assembleia Legislativa, do próprio Tribunal ou de seus
órgãos diretivos e colegiados, dos Secretários de
Estado, do Tribunal de Contas do Estado e do Tribunal
de Contas do Município, inclusive de seus Presidentes,
do Procurador-Geral de Justiça, dos Juízes de Direito,
do Procurador-Geral do Estado;

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3.5 DO RESULTADO DA DEMANDA


Foi concedida a segurança pleiteada, que resguardou a
integralidade da remuneração do impetrante nos termos do art.
37, art.8º, art 5º, XVII todos da Constituição Federal combinado
com o art. 95 da lei 5. 810/94.

4 CONCLUSÃO
Diante do caso analisado, foi possível observar a presença
dos pertinentes elementos legais correlatos ao Mandado de
Segurança, que, ilustrados pelo caso concreto, se tornaram
mais visíveis aos pesquisadores e aos leitores.

REFERÊNCIAS

ESTADO DO PARÁ. Mandado de Segurança n. 2174496.


Relator: des. Celia Regina de Lima Pinheiro, Órgão Julgador
Seção de Direito Público, Julgado em 2019-08-27, Publicado em
2019-09-05. 2019.

REIS NETTO, Roberto Magno. Apostila-guia de Ações


Constitucionais. Material técnico de ensino. Edições do autor:
Ananindeua, 2019.

ANEXO I – INTEIRO TEOR DO JULGADO ANALISADO

Número CNJ: 0803917-03.2018.8.14.0000


Número Acordão: Não Informado
Relator: CELIA REGINA DE LIMA PINHEIRO
Data Julgamento: 27-08-2019
Comarca: BELÉM

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ


 
MANDADO DE SEGURANÇA - CÍVEL (120) - 0803917-
03.2018.8.14.0000
IMPETRANTE: SIDNEY PANTOJA ALMEIDA
IMPETRADO: SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO -
SEDUC/PA
RELATOR(A): Desembargadora CÉLIA REGINA DE LIMA
PINHEIRO
 
EMENTA
 
 
MANDADO DE SEGURANÇA
PREVENTIVO. SERVIDOR PÚBLICO.
LICENÇA PARA DESEMPENHO DE
MANDATO CLASSISTA. PRELIMINAR.
ATO ADMINISTRATIVO
DISCRICIONÁRIO. NÃO INTERFERÊNCIA
DO JUDICIÁRIO NO MÉRITO
ADMINISTRATIVO.
1. A matéria aventada em preliminar de
concessão de licença para exercício de
mandato classista em sendo ato administrativo
discricionário, confunde-se com o próprio
mérito, onde deve ser analisada;
2. Afastamento do cargo para o exercício de
mandato eletivo em entidade sindical;
3. Reconhecimento do direito líquido e certo à
continuidade do recebimento dos vencimentos
integrais;
4. Cabimento da pretensão.
Inadmissibilidade da redução de
vencimentos durante o mandato sindical.
Inteligência do art. 37, da Constituição
Estadual, art. 95 da Lei Estadual 5.810/91.
5. Segurança concedida.
 
 
Vistos, relatados e discutidos os autos.
Acordam os Excelentíssimos Senhores Desembargadores
que integram a Seção de Direito Público, em conceder a
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segurança pleiteada, a fim de que seja resguardada a


integralidade da remuneração do impetrante, nos termos da
fundamentação.
Julgamento presidido pela Exma. Sra. Desa. LUZIA NADJA
GUIMARÃES NASCIMENTO.
8ª Sessão do Plenário Virtual da Seção do Tribunal de
Justiça do Estado do Pará, no período de 27/08/2019 a
03/09/2019.
 
Desembargadora CÉLIA REGINA DE LIMA PINHEIRO
Relatora
 
 
 
RELATÓRIO
 
A EXMA SRA. DESEMBARGADORA CÉLIA
REGINA DE LIMA PINHEIRO (RELATORA):
 
Trata-se de pedido de medida liminar no
mandado de segurança preventivo (Id 632579), impetrado
por Sidney Pantoja Almeida, em face de provável ato do (a)
Secretário (a) de Estado de Educação, para que o (a)
Secretário (a) se abstenha de retirar qualquer gratificação e
auxílios componentes de sua remuneração no período que
estiver licenciado para o exercício de mandato eletivo classista.
Consta nos autos, que o impetrante é servidor
efetivo, cargo de Assistente Administrativo, lotado na
Secretaria Estadual de Educação, Matricula nº 57217213/1,
tendo sido eleito por aclamação para exercer o mandato de 2
(dois) anos de Diretor Jurídico e de Interiorização do Sindicato
dos Servidores Administrativos, Técnico e de apoio do Estado
do Pará, conforme Ata da Constituição (fls.01,02 e 03)  e
Certidão de Livro de Pessoa Jurídica, identificados nos autos
pelos ID´s nº 632589, 632588, 632587 e  632586.
Requer os benefícios da justiça gratuita, bem como
medida liminar sob lume.
Junta documentos (Id 632580/ 632591).
Em despacho proferido (Id 684376), reservei-me ao
direito de apreciar o pedido de antecipação de tutela após a
manifestação da autoridade coatora. Em sequência (Id 715186),
deferi os benefícios da justiça gratuita, ratificando que a
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apreciação do pedido de tutela antecipada ocorrerá, após a


manifestação da autoridade coatora; certificado (Id 877109) a
não manifestação.
No Id 973269, sobreveio os autos para manifestação,
e em decisão interlocutória, após análise das provas,
considerando o início do exercício do mandato (março/2017) e
apresentação de demonstrativos / contra-cheque (Jan/2018),
sem redução salarial, restando prejudicado o exame do perigo
de ineficácia da medida, indeferi o pedido liminar
formulado. Na mesma oportunidade, deferi a gratuidade da
justiça; determinei ciência ao Estado do Pará, para que
querendo ingresse no feito.
No Id 1176224, sobreveio a manifestação do Estado
do Pará, alegando a ausência de risco a direito subjetivo, em
razão da concessão da licença dentro dos limites legais, sem
prejuízo da remuneração. Sustentou ainda, que a Lei Estadual
nº 5.810/94 (Regime Jurídico Único), prevê no art. 95 a garantia
do direito à licença para o desempenho do mandato
representativo de categoria, sem prejuízo da remuneração.
Argumentou ainda, ser incontroverso nos autos que a SEDUC
concedeu as licenças dentro dos quantitativos previsto no
Regime Jurídico Único - Lei nº 5810/91, aos eleitos, não
havendo um suposto risco ou negativa à concessão de licença
ou ilegalidade, pugnando ao final pela denegação da
segurança.
 
No evento Id nº 1177171, certidão informando o
transcurso do prazo, sem manifestação da Secretaria de Estado
de Educação.
Em sequência, Id nº 1338398, o autor apresentou o
Pedido de Reconsideração da decisão (Id nº 973269), juntando
documentos novos, com Id 1338415 – 1338432, incluindo Tela
de Protocolo Licença para exercício de Mandato Classista,
Comprovante de Rendimentos – Novembro/2018, Comprovante
de Rendimentos – Dezembro/2018 e  Comprovante de
Rendimentos – Jan/2019, dentre outros.
Em Id nº 1919170, sobreveio a manifestação do
Ministério Público, que pugnou pela concessão da segurança
pleiteada.
 
É o relatório.
 
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VOTO
 
A EXMA SRA. DESEMBARGADORA CÉLIA REGINA
DE LIMA PINHEIRO (RELATORA):
 
Preliminares arguidas pelo impetrado
1. DA AUSÊNCIA DO RISCO A DIREITO SUBJETIVO –
LICENÇAS REMUNERADAS. LICENÇAS DEVIDAMENTE
CONCEDIDAS DENTRO DO LIMITE LEGAL. ATO
ADMINISTRATIVO DISCRICIONÁRIO. INTERFERÊNCIA NO
MÉRITO ADMINISTRATIVO.
 
O impetrado alega que o direito a organização
sindical está garantido pela Carta Magna, considerando o
direito público que deve ser resguardado pelo Estado, tendo a
Constituição do Estado do Pará reproduzido a Constituição
Federal, além da previsão da Lei Estadual nº 5.810/94,
vejamos:
Constituição Federal de 1988:
Art. 37. É garantido ao servidor público civil o
direito à livre associação sindical.
 
 Lei Estadual nº 5.810/94
Art. 95. É assegurado ao servidor o direito à
licença para desempenho de mandato em
confederação, federação, sindicato
representativo da categoria, associação de
classe de âmbito local e/ou nacional, sem
prejuízo de remuneração do cargo efetivo.
§ 1º Somente poderão ser licenciados os
servidores eleitos para cargos de direção ou
representação nas referidas entidades, até o
máximo de quatro por entidade
constituída em conformidade com o art.
5º, inciso LXX, alínea “b”, da Constituição
Federal.
§ 2º A licença terá duração igual ao mandato,
podendo ser prorrogada, no caso de reeleição,
por uma única vez.
§ 3º O período de licença de que trata este
artigo será contado para todos os efeitos

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legais, exceto para a promoção por


merecimento.
  
Aduz que não assiste razão o impetrante, pois no
presente caso foram concedidas as licenças aos servidores
eleitos, dentro da análise do mérito administrativo –
conveniência e oportunidade feito pela Administração, não
podendo ser substituída pelo judiciário.
Nesse mesmo espeque, o impetrado pondera que o
impetrante sequer indicou quais seriam os fatos concretos do
suposto risco, ou que houve alguma negativa à concessão de
licença sindical remunerada.
A matéria preliminar confunde-se com o mérito e
com este será analisado.
 
Mérito
 
Cinge-se, a presente demanda com pedido de medida
liminar no mandado de segurança preventivo (Id 632579),
impetrado por Sidney Pantoja Almeida, em face de provável ato do
(a) Secretário (a) de Estado de Educação, de retirar qualquer
gratificação e auxílios componentes de sua remuneração no período
que estiver licenciado para o exercício de mandato eletivo classista.
O Mandado de Segurança é ação civil de rito sumário
especial, que busca proteger direito líquido e certo da violação
praticada com ilegalidade ou abuso de poder por parte de Autoridade
Pública (ou agente de pessoa jurídica no exercício das atribuições do
Poder Público), diretamente relacionada à coação, de vez que
investida nas prerrogativas necessárias a ordenar, praticar ou ainda
retificar a irregularidade impugnada, a teor do disposto no art. 5º,
LXIX, da Constituição Federal e art. 1º da Lei nº 12.016/09.
O Mandado de Segurança tem por escopo a proteção
de direito líquido e certo não amparado por habeas corpus ou habeas
data, abarcando tanto a lesão como a ameaça de lesão (mandado de
segurança repressivo e mandado de segurança preventivo).
O professor Hely Lopes Meirelles assim conceituou
direito líquido e certo: Direito líquido e certo é o que se apresenta
manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser
exercitado no momento da impetração. Por outras palavras, o direito
invocado, para ser amparável por mandado de segurança, há de vir
expresso em norma legal e trazer em si todos os requisitos e
condições de sua aplicação ao impetrante: se sua existência for
duvidosa; se sua extensão ainda não estiver delimitada; se seu
exercício depender de situações e fatos ainda indeterminados, não
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rende ensejo à segurança, embora possa ser defendido por outros


meios judiciais. (in Mandado de Segurança, 23ª Edição, Malheiros,
2001, SP, p. 34/35).
No caso em exame, alega o impetrante que foi eleito por
aclamação para exercer o mandato de Diretor Jurídico e de
Interiorização do Sindicato dos Servidores Administrativos, Técnicos
e de apoio do Estado do Pará para o mandato de 2 (dois) anos,
juntando como comprovante, os eventos nº 632589, 632588 e
632587 (Atas de Constituição de pessoa Jurídica). Aventou, que ao
dar entrada na licença para o exercício do mandato sindical, foi
informado que perderia algumas vantagens que compõe sua
remuneração, sem trazer aos autos documentos comprobatórios, que
se encontram com a autoridade coatora.
A Constituição do Estado do Pará, em seu art. 37, repete
o comando da Constituição Federal, vejamos:
Art. 37. É garantido ao servidor público civil o
direito à livre associação sindical. 
 
A liberdade sindical, prevista no art. 8° da Carta
Constitucional Federal traduz-se em manifestação do direito
fundamental de liberdade de associação (art. 5°, inciso XVII).
Art. 8º – É livre a associação profissional ou
sindical (...)
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XVII - é plena a liberdade de associação para
fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
Por sua vez, no que diz respeito aos servidores
públicos, o art. 37, VI, da Constituição Federal/88, assegura o
direito à livre associação sindical.
      VI - é garantido ao servidor público civil o
direito à livre associação sindical;
 
No mesmo sentindo, o Regime Jurídico Único dos
Servidores do Estado do Pará, perfilha, ser assegurado ao
servidor o direito a licença para o desempenho de mandato
classista, sem prejuízo da remuneração.
 
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 Lei nº 5.810/94
Art. 95. É assegurado ao servidor o direito à
licença para desempenho de mandato em
confederação, federação, sindicato representativo
da categoria, associação de classe de âmbito local
e/ou nacional, sem prejuízo de remuneração do
cargo efetivo.
§ 1º Somente poderão ser licenciados os
servidores eleitos para cargos de direção ou
representação nas referidas entidades, até o
máximo de quatro por entidade constituída
em conformidade com o art. 5º, inciso LXX,
alínea “b”, da Constituição Federal.
§ 2º A licença terá duração igual ao mandato,
podendo ser prorrogada, no caso de reeleição, por
uma única vez.
§ 3º O período de licença de que trata este artigo
será contado para todos os efeitos legais, exceto
para a promoção por merecimento. 
 
Da análise da legislação conclui-se ser uma
faculdade do servidor em se afastar do cargo, com vencimentos
e vantagens preservados, não sendo a licença um ato
discricionário da Administração Pública.
Posteriormente, no Id 1338398, o impetrante, trouxe
informação que existe um Processo Administrativo de licença
para o Exercício de Mandato Classista nº 1326342/2019 e
contracheques que demonstram decréscimos na remuneração,
o que contraria a legislação e a jurisprudência.
Nesse sentido:
DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.
MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR
PÚBLICO MUNICIPAL ELEITO PARA O
EXERCÍCIO DE FUNÇÃO DIRETIVA DE
SINDICATO. DIREITO ASSEGURADO PELA
CONSTITUIÇÃO ESTADUAL E PELAS LEIS
MUNICIPAIS (LEI ORGÂNICA E LEI Nº 153/2000).
a) A Constituição do Estado (artigo 37,
parágrafo 2º) e a Lei Orgânica do Município de
Tamarana asseguram ao servidor a faculdade
de se afastar do cargo, com vencimentos e
vantagens, não tratando a licença como ato
discricionário da Administração Pública, mas,

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sim, como faculdade, cabendo ao servidor optar


pelo afastamento ou não de seu cargo.
b) Por sua vez, a Lei Municipal nº 153/2000, que
dispõe sobre o Estatuto dos Servidores Públicos
Civis do Municípios de Tamarana, também
reconhece ao servidor o direito à licença, quando
eleito para direção de entidade sindical.
c) Assim, se é uma faculdade e um direito do
servidor, as limitações previstas no artigo 121 da
Lei Municipal nº 153/2000 devem ser interpretadas
restritivamente. Ou seja, se a Lei Municipal nº
153/2000 prevê que será dada licença para o
desempenho de mandato sindical, com remuneração,
por período integral, até o máximo de 03 (três)
dirigentes, entendo que os 03 (três) primeiros
dirigentes que optarem por afastamento do cargo
gozarão de licença para o desempenho de mandato
sindical, com remuneração, por período integral.
d) De outro ângulo, a suposta falta de pessoal ou de
orçamento não pode se constituir em óbice ao
exercício da direção, pois a Constituição e a Lei
Municipal asseguram ao servidor, preenchidos os
requisitos, o afastamento de cargo público para
exercer exclusivamente as funções de dirigente
sindical.
APELO A QUE SE DÁ PROVIMENTO. REEXAME
NECESSÁRIO PREJUDICADO. (REEX/PR 1299651-5,
Órgão Julgador: 5ª Câmara Cível, Publicação DJ:
1528 18/03/2015, Relator: Leonel Cunha)
Assiste razão o impetrante, pois trata-se de garantia
constitucional, onde a melhor solução hermenêutica orienta a
interpretação que salvaguardem direitos assegurados pela
Carta Magna, sob pena de subverter-se a ordem constitucional,
em ofensa ao Estado Democrático.
 Dessa forma, a supressão de qualquer das
gratificações ante a fruição de licença para o exercício de
mandato classista, viola frontalmente os dispositivos
constitucionais e legais da irredutibilidade de vencimentos.  
 
Pelo exposto, concedo a segurança pleiteada, a
fim de que seja resguardada a integralidade da remuneração do
impetrante, nos termos da fundamentação.
Sem honorários, na forma do art. 25 da Lei nº
12.016/2009.  
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É o voto.
Belém-PA, 27 de agosto de 2019.
Desembargadora CÉLIA REGINA DE LIMA PINHEIRO
Relatora
 
 
 Belém, 05/09/2019

RELATÓRIO TÉCNICO DE ANÁLISE JURÍDICA SOBRE


AÇÕES CONSTITUCIONAIS: O HABEAS DATA N.
70080249709
Aline de Jesus Silva
Ariel Catarina Ribeiro Mota
Evelyn Pereira de Carvalho Costa
Fernanda Gonsales Barbosa
Marcos Antonio da Silva Júnior
Marcos Vinicius da Paz da Silva
Roberto Magno Reis Netto

1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho teve como objetivo perfazer uma
análise técnico-processual de ação constitucional apreciada e
julgada por tribunal brasileiro, elencando os principais
elementos técnicos e normativos inerentes ao caso.
O trabalho nasceu de metodologia conjunta, desenvolvida
ao longo das aulas da disciplina ações constitucionais, na
Escola Superior Madre Celeste, perante discentes do décimo
semestre do curso de graduação em direito.
Compreende-se que uma das maiores dificuldades dos
discentes (e de muitos profissionais) do direito, ao longo de sua
formação profissional e de vida, é vislumbrar os institutos
processuais estudados na teoria funcionando de maneira
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concreta, de modo a se observar e compreender sua essência e


respectivos objetivos.
Diante disso, análises de casos concretos e discussões em
torno do funcionamento de suas regras se tornam instrumentos
fundamentais tanto para quem faz a análise, quanto, para quem
aprecia seus respectivos resultados.
Sob esta finalidade, o presente trabalho foi desenvolvido
com o intento de analisar uma ação constitucional julgada por
tribunal brasileiro, analisando cada elemento técnico-jurídico
inerente à mesma, de modo a ilustrar na prática, conteúdos
apreendidos na teoria perpassada ao longo das aulas da
disciplina.
2 METODOLOGIA
O estudo adotou uma metodologia de natureza
comparativa. Ou seja, partindo do conteúdo da apostila-guia da
disciplina ações constitucionais (REIS NETTO, 2019), bem
como, discussões realizadas em sala de aula, foram
selecionados diversos casos envolvendo ações constitucionais,
de modo que o docente e os discentes vislumbrassem casos
concretos julgados perante a justiça brasileira.
Diante da comparação entre os elementos teóricos e os
casos, o relatório em questão foi elaborado como forma de
demonstração dos elementos teóricos estudados ao longo da
disciplina, ilustrando os saberes adquiridos, não só para os
participantes, como, para os leitores dos relatórios.
Os resultados se encontram sintetizados na seção
seguinte.

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3 RESULTADOS: O DIREITO CONCRETAMENTE


ANALISADO
3.1 O CASO JULGADO
O caso ora analisado diz respeito ao Habeas Data à
Seguir.

Ementa: HABEAS DATA. DIREITO PÚBLICO NÃO


ESPECIFICADO. SOLICITAÇÃO DE INFORMAÇÕES
RELATIVAS A TERCEIRO. ILEGITIMIDADE DA
AUTORIDADE COATORA. PETIÇÃO INICIAL
INDEFERIDA. Nos termos do art. 5º, LXXII, da
Constituição Federal, o habeas data tem cabimento
para assegurar o acesso a informações relativas ao
impetrante perante entidades governamentais ou de
caráter público ou para a retificação de dados.
Hipótese em que a impetrante pretende ter acesso a
informações de terceiro, o que descabe na via estreita
do habeas data. Ainda, não se verifica nos autos prova
da existência de ato omissivo ou comissivo do
Secretário Estadual da Segurança Pública. PETIÇÃO
INICIAL INDEFERIDA. DECISÃO MONOCRÁTICA.
(Habeas Data, Nº 70080249709, Primeiro Grupo de
Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
João Barcelos de Souza Junior, Julgado em: 13-02-
2019)

Resumidamente, trata-se de um Habeas Data impetrado


contra ato do Secretário de Estado da Segurança Pública, onde
a impetrante afirmou que necessitava de documentos sobre o
preso com quem possuía uma união estável, com objetivo de
conseguir provas para pensão por morte, onde a mesma buscou
os registros de visitas administrativas mas não conseguiu,
tendo como objetivo o acesso destes registros do apenado pela
via mandamental.
3.2 LEGITIMADOS ENVOLVIDOS
O Legitimado ativo foi a Sra. Heloisa Pacheco, impetrante, que
se apresentou ao Estado-juiz como detentora do direito, e o
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legitimado passivo veio a ser Secretário de Estado da Segurança


Pública revestido pela figura do Estado que supostamente, satisfaria
a pretensão indicada pelo autor.
3.3 O REPUTADO DIREITO À INFORMAÇÃO
Parte Autora pretendia ter acesso a informações sobre o
apenado ADALTO CAMARGO com quem afirmava ter uma união
estável, onde a mesma buscou os registros de visitas, mas não obteve
êxito, cuja com essa informação seria um meio de prova para pensão
por morte.
3.4 O TRIBUNAL E SUA COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DO
CASO
O tribunal que julgou o caso era competente, conforme o art.20
da Lei 9.507/97, I, que afirma que compete aos tribunais julgar
habeas data. Logo a está conforme a lei ter sido julgado o caso pelo
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, de acordo com o art.5,
LXXII, que tutela e assegura o conhecimento de informações
relativas a pessoa em relação a registros em bancos de dados de
entidades governamentais
3.5 DO RESULTADO DA DEMANDA
Deu-se o indeferimento da petição inicial do habeas data,
conforme o art.10 da Lei nº 9.507/97, que, por sua vez, extinguiu o
processo sem julgamento de mérito com base no art.485, I E IV do
CPC. Afirmou-se que não é possível a impetração de habeas data
para conseguir informação de terceiro, de modo que a solicitação da
impetrante se encaixaria no art.5º, XXXIII da Constituição Federal já
que almeja a informação para interesse particular e não a sua
própria pessoa, bem como, ficou claro que o pedido de informação
não foi negado pelo Diretor da Penitenciária Estadual Jacuí que não
existia registro de ADALTO CAMARGO na penitenciária, e a parte

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coatora sequer era parte legítima para responder a pretensão, logo


havia uma inaptidão técnica no habeas data.
4 CONCLUSÃO
Diante do caso analisado, foi possível observar a presença dos
pertinentes elementos legais correlatos ao Habeas Data, que,
ilustrados pelo caso concreto, se tornaram mais visíveis aos
pesquisadores e aos leitores.
REFERÊNCIAS
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Habeas Data N.
70080249709. Primeiro Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: João Barcelos de Souza Junior, Julgado em:
13-02-2019. 2019.
REIS NETTO, Roberto Magno. Apostila-guia de Ações
Constitucionais. Material técnico de ensino. Edições do autor:
Ananindeua, 2019.

RELATÓRIO TÉCNICO DE ANÁLISE JURÍDICA SOBRE AÇÕES


CONSTITUCIONAIS: ESTUDO SOBRE UM HABEAS DATA
Adriane de Lemos Silva Bianca
Vasconcelos Elmescany
Camila de Souza Carvalho
Gleice Leticia Rabelo Gomes
Josiane Silva dos Santos Leão
Khalil Yussef Habib Dantas Barros de Souza
Roberto Magno Reis Netto

1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho teve como objetivo perfazer uma
análise técnico-processual de ação constitucional apreciada e
julgada por tribunal brasileiro, elencando os principais
elementos técnicos e normativos inerentes ao caso.
O trabalho nasceu de metodologia conjunta, desenvolvida
ao longo das aulas da disciplina ações constitucionais, na
Escola Superior Madre Celeste, perante discentes do décimo
semestre do curso de graduação em direito. Compreende-se
que uma das maiores dificuldades dos discentes (e de muitos
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profissionais) do direito, ao longo de sua formação profissional


e de vida, é vislumbrar os institutos processuais estudados na
teoria funcionando de maneira concreta, de modo a se observar
e compreender sua essência e respectivos objetivos.
Diante disso, análises de casos concretos e discussões em
torno do funcionamento de suas regras se tornam instrumentos
fundamentais tanto para quem faz a análise, quanto, para quem
aprecia seus respectivos resultados. Sob esta finalidade, o
presente trabalho foi desenvolvido com o intento de analisar
uma ação constitucional julgada por tribunal brasileiro,
analisando cada elemento técnico-jurídico inerente à mesma, de
modo a ilustrar na prática, conteúdos apreendidos na teoria
perpassada ao longo das aulas da disciplina.

2 METODOLOGIA
O estudo adotou uma metodologia de natureza
comparativa. Ou seja, partindo do conteúdo da apostila-guia da
disciplina ações constitucionais (REIS NETTO, 2019), bem
como, discussões realizadas em sala de aula, foram
selecionados diversos casos
envolvendo ações constitucionais, de modo que o docente e os
discentes vislumbrassem casos concretos julgados perante a
justiça brasileira.
Diante da comparação entre os elementos teóricos e os
casos, o relatório em questão foi elaborado como forma de
demonstração dos elementos teóricos estudados ao longo da
disciplina, ilustrando os saberes adquiridos, não só para os
participantes, como, para os leitores dos relatórios. Os
resultados se encontram sintetizados na seção seguinte.
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3 RESULTADOS: O DIREITO CONCRETAMENTE


ANALISADO

3.1 O CASO JULGADO

O caso ora analisado diz respeito ao Habeas Data a seguir.

Ementa: HABEAS DATA. INFORMAÇÕES RELATIVAS


À INSCRIÇÃO EM CADASTRO RESTRITIVO DE
CRÉDITO. POSSIBILIDADE. VIA PROCESSUAL
ADEQUADA. RECUSA ADMINISTRATIVA
COMPROVADA. CASO CONCRETO. MATÉRIA DE
FATO. Habeas data julgado procedente. (Habeas Data,
Nº 70076547462, Décima Quinta Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Vicente Barrôco de
Vasconcellos, Julgado em: 19-03-2018).

Resumidamente, trata-se de um Habeas Data no qual a


impetrante busca o fornecimento de informações sobre a
inserção indevida de seu nome junto aos Órgãos de proteção de
crédito que lhe fora negada por meio administrativo
sustentando que ocorrendo a sua negativação, é questão de
lídima justiça ter pleno conhecimento da origem, do requerente
e do motivo que ensejou à inscrição de seu nome no Sistema de
Proteção de Créditos, enquadrando no caso concreto a
possibilidade de impetração de Habeas Data por força do Art.
43, § 4º, do CDC.
Os serviços de proteção de crédito e seus semelhantes são
considerados entidades de caráter público, devendo assim
prestar tais informações à nível administrativo, por outro lado a
Impetrada sustentou sua tese para defender a negativa no
sentido de demonstrar a inviabilidade de registros antigos por
meio de mera solicitação administrativa, se manifestando
contra o valor atribuído à causa pela impetrante e alegando que

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não houve resistência ao requerimento administrativo que


pudesse dar razão à impetração do Habeas Data e ainda refere
a inexistência de informações cadastradas em nome da
Impetrante requerendo a improcedência dos pedidos.

3.2 LEGITIMADOS ENVOLVIDOS

O Habeas data impetrado, teve como legitimado ativo


BRUNA RAUCH CORREA, e foi impetrado em face do
legitimado passivo SERASA EXPERIAN S.A. BRUNA RAUCH
CORREA.

3.3 O REPUTADO DIREITO À INFORMAÇÃO

O direito alegado via habeas data impetrado por BRUNA


RAUCH CORREA tem como fundamentação o art. 43, § 4º, do
CDC, que versa sobre a disponibilidade dos bancos de dados, os
quais seriam de domínio público.
Versando sobre o meio que a parte utilizou, trata-se de um
“remédio constitucional” sedimentado pelo art. 5º, LXXII da
CF/88, com função de garantir às pessoas físicas e jurídicas
acesso às informações do impetrante para dados de caráter
público. Também ligado a esse fato, tem-se a Lei n.º 9.507/97,
que também disciplina o rito processual do habeas data, em seu
art. 1º, onde também considera-se de caráter público
informações. Por fim, após possibilidades de decisões versadas
em acórdãos, têm-se a decisão final sendo a intimação da parte
impetrada.
Logo, a ela foi dada a ordem de prestar informações e
fornecer o histórico, relativamente aos últimos dois anos, de

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inscrições do nome da impetrante nos cadastros restritivos ao


crédito. Sendo assim, tendo sido acolhida a pretensão da
impetrante.

3.4 O TRIBUNAL E SUA COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO


DO CASO

No Âmbito estadual, a competência para julgamento será


fixada pelas Constituições Estaduais, conforme narra o art. o
art. 5°, LXXVII da Constituição e o art. 20 da Lei n° 9.507/1997.
Neste sentido, torna-se originariamente competente para o
julgamento da ação de Habeas data o Tribunal de Justiça do
Estado do Rio Grande do Sul. Portanto, está estabelecido no
art. 95, XII, alínea b, da sua Constituição estatual de 3 de
outubro de 1989 (com as alterações adotadas pelas Emendas
Constitucionais de n.º 1, de 1991, a 77, de 2019), vejamos: Art.
95. Ao Tribunal de Justiça, além do que lhe for atribuído nesta
Constituição e na lei, compete: XII - processar e julgar: b) os
mandados de segurança, os “habeas data” e os mandados de
injunção contra atos ou omissões do Governador do Estado, da
Assembléia Legislativa e seus órgãos, dos Secretários de
Estado, do Tribunal de Contas do Estado e seus órgãos, dos
Juízes de primeira instância, dos membros do Ministério
Público e do Procurador-Geral do Estado; (grifo nosso) Neste
cotejo, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul que julgou o
caso é plenamente competente para este fim, conforme
demonstrado nos elucidados artigos.

3.5 DO RESULTADO DA DEMANDA

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Na decisão em um primeiro momento fora negada a


preliminar invocada pela impetrada quanto à impugnação do
valor da causa, pois o valor de alçada estabelecido estava em
conformidade à época pelo Tribunal, sendo o valor mínimo para
o ingresso na via judicial não sendo possível sua redução. Após
a análise das preliminares, passou à análise do mérito onde a
Turma decidiu em assegurar o direito constitucional de acesso
às informações relativas à pessoa do impetrante constante do
registro de banco de dados de instituição de proteção ao
crédito de entidades governamentais ou de caráter público
regulado pela Lei nº 9.507/97, reconhecendo também que o
Habeas Data ora impetrado preencheu todos os requisitos
previstos na legislação tal como a prova de recusa
administrativa da entidade Requisitada.
O Tribunal reconheceu também, por conta da recusa
administrativa o Habeas Data como o remédio constitucional
adequado para atender o direito da impetrante. Por fim,
escorando-se art. 13 da Lei nº 9.507/97, o Tribunal de Justiça
do Estado do Rio Grande do Sul julgou procedente o pedido
para que a parte impetrada a prestar informações e fornecer o
histórico, relativamente aos últimos dois anos, de inscrições do
nome da impetrante nos cadastros restritivos ao crédito,
estabelecendo o prazo de dez dias, a contar do trânsito em
julgado, para a exibição das informações, sem condenação em
custas e honorários advocatícios, em face do art. 21 da Lei n.º
9.507/97 e aplicação analógica das Súmulas 512 do STF e 105
do STJ.

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4 CONCLUSÃO

Diante do caso analisado, foi possível observar a presença


dos pertinentes elementos legais correlatos ao Habeas Data,
mediante o resgate dos direitos fundamentais de todos os
cidadãos, dando especial importância à criação de um
mecanismo constitucional que possibilite a qualquer cidadão
ter conhecimento das informações a seu respeito constante dos
arquivos públicos.
De certo é possível afirmar que o habeas data caracteriza-
se como um forte instrumento de defesa do cidadão face à
sociedade moderna, abrangendo um vasto campo de atuação,
em que parte da doutrina considere o habeas data como o writ
da “Era do Conhecimento” se assim podemos dizer. Em suma, o
habeas data, da forma como foi previsto no texto constitucional
e regulamentado por intermédio da Lei nº 9.507, de 12 de
novembro de 1997, possui uma importante finalidade de
preservação do direito à intimidade, privacidade e acesso às
informações, constituindo importante instrumento de respeito
aos direitos e garantias fundamentais do ser humano.

REFERÊNCIAS

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Habeas Data N.


70076547462, Décima Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Vicente Barrôco de Vasconcellos, Julgado em:
19-03-2018. 2018.

REIS NETTO, Roberto Magno. Apostila-guia de Ações


Constitucionais. Material técnico de ensino. Edições do autor:
Ananindeua, 2019.

152
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Ananindeua/ESMAC – DOSSIÊ DIREITO III (Online) ISSN: 2359–4861 Vol. 05, N. 18.
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CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Texto


constitucional de 3 de outubro de 1989 com as alterações
adotadas pelas Emendas Constitucionais de n.º 1, de 1991, a
77, de 2019. Ananindeua, PA, set 2019. Disponível em:
<http://www2.al.rs.gov.br/dal/LinkClick.aspx?
fileticket=9pX_3esaNg%3D&tabid=3683&mid=5358>

DIREITO CONSTITUCIONAL BLOG PARA CONCURSOS.


Habeas data, abrangência, legitimidade e competência.
Ananindeua, PA, set 2019. Disponível em:
<https://direitoconstitucional.blog.br/habeas-data/>

ANEXO I – INTEIRO TEOR DO JULGADO ANALISADO

PODER JUDICIÁRIO
----------RS----------
@ (PROCESSO ELETRÔNICO) JBSJ Nº 70080249709 (Nº CNJ:
0390182-22.2018.8.21.7000) 2018/Cível HABEAS DATA. DIREITO
PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. SOLICITAÇÃO DE INFORMAÇÕES
RELATIVAS A TERCEIRO. ILEGITIMIDADE DA AUTORIDADE
COATORA. PETIÇÃO INICIAL INDEFERIDA. Nos termos do art. 5º,
LXXII, da Constituição Federal, o habeas data tem cabimento para
assegurar o acesso a informações relativas ao impetrante perante
entidades governamentais ou de caráter público ou para a retificação
de dados. Hipótese em que a impetrante pretende ter acesso a
informações de terceiro, o que descabe na via estreita do habeas
data. Ainda, não se verifica nos autos prova da existência de ato
omissivo ou comissivo do Secretário Estadual da Segurança Pública.
PETIÇÃO INICIAL INDEFERIDA. DECISÃO MONOCRÁTICA. Habeas
Data Primeiro Grupo Cível Nº 70080249709 (Nº CNJ: 0390182-
22.2018.8.21.7000) HELOISA PACHECO IMPETRANTE
SECRETARIO DE ESTADO DA SEGURANCA PUBLICA COATOR
DECISÃO MONOCRÁTICA Vistos. Trata-se de habeas data impetrado
por HELOÍSA PACHECO contra ato do SECRETÁRIO DE ESTADO
DA SEGURANCA PUBLICA. Na petição inicial, a impetrante sustenta
que necessita de documentos relativos ao apenado Adalto Camargo
com quem manteve união estável, fins de obter provas para o pedido
de pensão por morte. Afirma que buscou os registros de visitas,
administrativamente, mas não obteve sucesso. Requer seja
assegurado o acesso aos registros de visitas durante o cumprimento
da pena do ex-companheiro. O impetrado apresentou contrarrazões
às fls. 33-43. O Ministério Público opinou pelo não-conhecimento do
habeas data e, no mérito, pela denegação da ordem (fls. 49-52).
Vieram os autos concluso. É o sucinto relatório. Decido
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monocraticamente, forte no art. 932, III, do CPC, adiantando que é


caso de ser indeferida a petição inicial. Nos termos do art. 5º, LXXII,
da Constituição Federal, o habeas data tem cabimento para
assegurar o acesso a informações relativas ao impetrante perante
entidades governamentais ou de caráter público ou para a retificação
de dados, conforme segue: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: [...]  LXXII - conceder-se-á habeas data:  a) para assegurar
o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;  b) para a retificação de
dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou
administrativo; Ainda, nos termos do art. 8º, p. único, I, da Lei
9.507/97 (lei que regula o direito de acesso a informações e
disciplina o rito processual do habeas data), a petição inicial deve
estar acompanhada de prova da recusa ao acesso à informação
pretendida, nos seguintes termos: Art. 8° A petição inicial, que
deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a 285 do Código de
Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os documentos que
instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia na segunda.
Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova: I -
da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez
dias sem decisão; II - da recusa em fazer-se a retificação ou do
decurso de mais de quinze dias, sem decisão; ou III - da recusa em
fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso de
mais de quinze dias sem decisão. Da análise do processado, verifica-
se que além de a pretensão da parte autora extrapolar a via estreita
do habeas data, inexiste prova da recusa ao acesso às informações
pretendidas. De acordo com a petição inicial, a autora pretende ter
acesso a informações relativas ao apenado Adalto Camargo com
quem afirma ter mantido união estável, fins de obter provas para o
pedido de pensão por morte, afirmando que buscou os registros de
visitas, administrativamente, mas não obteve sucesso. De acordo
com o texto constitucional, não é possível a impetração de habeas
data para a obtenção de informações de terceiros. A pretensão da
impetrante se enquadraria, na verdade, na previsão do inciso XXXIII
do art. 5º da CF, já que pretende ter acesso a informações de seu
interesse particular, mas não relativas à sua própria pessoa. Além
disso, dos documentos acostados com a petição inicial, observa-se
que não há provas da negativa de acesso às informações, tampouco
de que a negativa partiu da apontada autoridade coatora. O
documento de folha 19 revela que o pedido de informações não foi
negado. Pelo contrário, restou esclarecido pelo Diretor da
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Penitenciária Estadual de Jacuí que não havia registro da entrada de


ADALTO CAMARGO na referida penitenciária, mas que, após
consulta ao sistema de Consultas Integradas, verificou que a
informação poderia ser obtida perante outras casas prisionais. Sendo
assim, constata-se que a dita autoridade coatora sequer é parte
legítima para responder à pretensão. Ademais, a informação
prestada pelo Diretor da PEJ não representa recusa de acesso às
informações que a impetrante quer ter acesso. Ressalto que não se
está aqui a ignorar a necessidade da impetrante, mas sim a
reconhecer a inaptidão técnica do habeas data, nos moldes em que
apresentado. Ante o exposto, indefiro a petição inicial do presente
habeas data, com base no art. 10 da Lei nº 9.507/97, extinguindo o
processo, sem julgamento de mérito, nos termos do art. 485, I e VI,
do CPC. Intimem-se. Porto Alegre, 12 de fevereiro de 2019. Des. João
Barcelos de Souza Júnior, Relator. 3

RESENHAS
RESENHA DO TEXTO “PAULICHI, Jaqueline da Silva;
SALDANHA, Rodrigo Roger. Das garantias processuais do
acesso à justiça e do duplo grau de jurisdição para efetivação
dos direitos da personalidade. Rev. Fac. Direito UFMG, n. 68,
p. 399-420, 2016”.
Simone Oliveira Soares
Roberto Magno Reis Netto

1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho teve como objetivo realizar uma
resenha do texto “Das garantias processuais do acesso à justiça
e do Duplo Grau de Jurisdição” elaborado por Jaqueline da Silva
Saldanha e Rodrigo Roger, conforme qualificado no título
acima.
A realização de resenhas se constitui como um relevante
instrumento de leitura e compreensão de textos científicos, que
busca a delimitação de seus principais pontos, objetivos e
fundamentos, a ponto de permitir, por aquele que lê, uma
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compreensão crítica do assunto abordado, com ampla definição


de seus contornos (permitindo, por exemplo, o uso do material
em futuros trabalhos ou ensaios), bem como, a apropriação de
conhecimentos antecipados de um texto, por parte daquele que
futuramente se apropriará da resenha já elaborada.
Portanto, o presente trabalho foi elaborado como
instrumento de aprendizado da disciplina direito processual
civil, no módulo de instrumentos de impugnação às decisões
jurisdicionais, adotando metodologia conjunta aplicada aos
discentes do sétimo semestre do curso de direito da Escola
Superior Madre Celeste, permitindo a apropriação de
importante elemento de debate pelos mesmos (a definição de
duplo grau de jurisdição), bem como, o compartilhamento de
conhecimentos com discentes do curso e da comunidade
científica, e, ainda, membros da comunidade em geral
(considerando o caráter aberto do trabalho).
2 METODOLOGIA
A presente resenha se valeu de um método meramente
descritivo. Ou seja, tomou-se contato direto com o objeto do
estudo (o texto acima indicado), seguindo-se a sua leitura e
indicação dos principais elementos estruturadores do mesmo.
Os resultados da análise se encontram na seção abaixo.
3 RESULTADOS
O texto analisado tem como objetivo explicitar sobre o
princípio grau de jurisdição e o acesso à justiça, de modo a
demonstrar sua efetiva relação no sistema jurídico.
As ideias do texto são estruturadas sob a seguinte
sequência de ideias:
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a) do direito fundamental ao acesso à justiça;


b) o duplo grau de jurisdição;
c) do acesso a justiça e do duplo grau de jurisdição como
garantia de efetivação dos direitos de personalidade;
d) breves considerações sobre dignidade da pessoa
humana, direito privado e a constituição federal.
A ideia defendida na primeira etapa é a de que o direito de
acesso á justiça está fundido com o principio fundamental da
dignidade da pessoa humana, o qual se encontra intitulado no
art. 5º, inc. XXXV da Constituição Federal de 88.
Segundo Saldanha e Roger para a concretização do acesso
à justiça se fazem necessário utilizar todos os meios legais
disponíveis para assim materializar direitos fundamentais,
alcançando até mesmo as relações entre particulares, tendo em
vista a teoria da eficácia horizontal.
Para eles, estes direitos fundamentais demonstram uma
amplitude a qual não se restringe somente ao judiciário, visto
que, há uma incorporação da constituição federal de 1988 com
os direitos humanos, conjecturados em tratados e convenções.
Revelam que o acesso à justiça é reconhecido por grande
parte da doutrina como um conceito equivalente à justiça
social, demonstrando posicionamento de autores sobre o
assunto. Assim, trazem a divisão que Mauro Cappelletti faz
sobre a justiça, que divide em: assistência judiciária, a
representação jurídica para os interesses difusos e o enfoque
mais amplo de acesso à justiça. Ademais, trazem Antônio
Herman V. Beinjamin, que aborda o tema numa posição mais
restritiva e em sentido amplo.
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Explana-se que Cappelletti trata com maior ênfase a


representação dos interesses difusos, pois demonstra a
evolução histórica desse direito.
O estudo dessa vertente iniciou-se nos Estados Unidos
(1965 e 1970) e após este estudo o direito público começou a
ser reconhecido. Porém, conforme relatam os autores, alguns
direitos fundamentais necessitavam de conhecimentos técnicos,
ocorrendo a escassez destes peritos, gerando uma grande
barreira.
Já no Brasil, os autores identificam a colonização europeia
como fator originário de um acesso à justiça desorganizada,
refletindo na incapacidade do estado em solucionar as
demandas.
Segundo os autores, o código de processo civil de 1973
criou um grande obstáculo de acesso à justiça, pois se revelou
de maneira complexa, surgindo então inúmeros recursos para
um mesmo caso, contribuindo significativamente para a demora
dos processos.
Já com o novo código de processo civil, o indivíduo passa a
ter um acesso à justiça com efetividade e mais celeridade,
respeitando claro, a tramitação processual, uma vez que neste
novo texto retirou-se recursos desnecessários e com vícios de
morosidade.
Logo, na segunda etapa do texto aborda-se o duplo grau
de jurisdição, em que os autores mencionam sobre o referido
tema à luz da constituição federal que vem causando
numerosos posicionamentos doutrinários no que diz respeito à
previsibilidade como garantia fundamental. Enfatizam o artigo
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5°, inciso LV, que trata do direito de recorrer de uma decisão


de não convencimento.
É chamada à atenção, pelos autores, que o princípio do
duplo grau de jurisdição não se encontra expresso no texto
constitucional, todavia revela os meios utilizados para a
concretização do mesmo.
Discorrem sobre o referido tema, utilizando conceitos de
alguns autores, como veremos a seguir: Lênio Streck, faz uma
crítica à possibilidade de embargos declaratórios, e, é adepto
da anulação da sentença quando esta apresentar falhas,
equívocos ou divergências. De acordo com José Miguel Garcia
Medina, as decisões deveriam ser perfeitas, no tange à ação
jurisdicional. Para Sérgio Bermudes. O duplo grau de jurisdição
é facundo e ácido, possuindo limitações.
Assim, o texto denota a importância do princípio do duplo
grau de jurisdição, pois antigamente aplicavam-se o direito
rudimentar com penas cruéis. O código de Hamurab, por sua
vez, foi o primeiro a enxergar os possíveis erros do sistema
judiciário. Sendo assim, começou-se a oferecer o direito à
população de recorrer.
Logo, segundo os autores, com a Constituição Federal de
1824, surgiu o duplo grau de jurisdição (art. 158). Por
conseguinte o processo civil brasileiro perpassou pelas
ordenações Filipinas (1603), pela legislação infra constitucional
(regulamento 737 de 1850); pelo código de processo civil de
(1939) até o código posterior de 1973, com alterações em 1994.
Portanto, o princípio do duplo grau de jurisdição
transcorre por diversos conceitos, porém com função definida
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no sentido de dar subsídios para questionar, revisionar decisões


judiciais desfavoráveis.
Na terceira etapa do texto, discorre do acesso à justiça e o
duplo grau de jurisdição como garantia de efetivação dos
direitos de personalidade.
A ideia relata que o constitucionalismo brasileiro sofreu
diversas modificações, como rediscussões a respeito dos
direitos fundamentais, observando significativa relevância no
que tange à aplicabilidade imediata aos direitos fundamentais
(art. 5°, § 1° CF), uma maior proteção outorgada (art. 60°, § 4°
CF), destaca-se ainda o título II da CF de 1988, prevendo os
direitos fundamentais de diversas dimensões.
Os autores concordam que apesar de haver diversos
projetos para a efetividade deste princípio, ainda se faz
necessário analisar de maneira profunda para que haja de fato
sua aplicabilidade, pois para o entendimento majoritário o
duplo grau de jurisdição é tão somente um princípio
constitucional e não uma garantia expressa no texto de lei,
como ocorre com o princípio do acesso à justiça, uma vez que
este sim tem reconhecimento como garantia constitucional (art.
5°, inciso XXV).
Apesar deste fato, o duplo grau de jurisdição torna-se o
meio pelo qual as partes poderão recorrer de uma decisão, na
qual se proporcione uma reanálise da mesma. Sendo assim,
ambos os princípios servirão de suporte para a efetivação da
personalidade, o que garante ao cidadão um resultado mais
justo.

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Neste último tópico: breves considerações sobre


dignidade da pessoa humana, direito privado e a Constituição
Federal, Os autores discorrem sobre inúmeros direitos
incorporados à Carta Magna de 1988, os quais foram firmados
à condição de cláusula pétrea (direitos individuais, políticos,
sociais, difusos e coletivos). A dignidade da pessoa humana é
vista de forma significativa consagrando este princípio sobre o
Estado.
No que diz respeito ao direito privado, o princípio da
dignidade da pessoa humana trás o ser humano para o centro
da relação no direito privado constitucionalizado.
Portanto, a de se concluir sobre uma igualdade entre o
individual e o coletivo, cabendo ao estado agir com prudência
nos casos de conflitos de interesse.
Em virtude aos fatos mencionados no texto, conclui-se
que, tanto o princípio do duplo grau de jurisdição, quanto o de
acesso à justiça, se locupletam, de maneira que, através desta
fusão constata-se uma primazia no que diz respeito aos direitos
fundamentais, assim como a celeridade processual e acima de
tudo a efetivação dos direitos da personalidade.

REFERÊNCIA

PAULICHI, Jaqueline da Silva; SALDANHA, Rodrigo Roger. Das


garantias processuais do acesso à justiça e do duplo grau de
jurisdição para efetivação dos direitos da personalidade. Rev.
Fac. Direito UFMG, n. 68, p. 399-420, 2016.

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RESENHA DO TEXTO “BARBI, Celso Agrícola. PERSPECTIVAS


DO MANDADO DE SEGURANÇA. Conferência proferida no
Instituto dos Advogados do Brasil. Rio de Janeiro: Faculdade
de Direito da Universidade de Minas Gerais em 1962.”
Adriely Fernanda Corrêa Barros
Roberto Magno Reis Netto

1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho teve como objetivo realizar uma
resenha do texto Perspectivas do Mandado de Segurança
elaborado por Celso Agrícola Barbi, conforme qualificado no
título acima.
A realização de resenhas se constitui como um relevante
instrumento de leitura e compreensão de textos científicos, que
busca a delimitação de seus principais pontos, objetivos e
fundamentos, a ponto de permitir, por aquele que lê, uma
compreensão crítica do assunto abordado, com ampla definição
de seus contornos (permitindo, por exemplo, o uso do material
em futuros trabalhos ou ensaios), bem como, a apropriação de
conhecimentos antecipados de um texto, por parte daquele que
futuramente se apropriará da resenha já elaborada.
Portanto, o presente trabalho foi elaborado como
instrumento de aprendizado da disciplina direito processual
civil, no módulo de instrumentos de impugnação às decisões
jurisdicionais, adotando metodologia conjunta aplicada aos
discentes do sétimo semestre do curso de direito da Escola
Superior Madre Celeste, permitindo a apropriação de
importante elemento de debate pelos mesmos (a definição de
duplo grau de jurisdição), bem como, o compartilhamento de
conhecimentos com discentes do curso e da comunidade

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científica, e, ainda, membros da comunidade em geral


(considerando o caráter aberto do trabalho).
2 METODOLOGIA
A presente resenha se valeu de um método meramente
descritivo. Ou seja, tomou-se contato direto com o objeto do
estudo (o texto acima indicado), seguindo-se a sua leitura e
indicação dos principais elementos estruturadores do mesmo.
Os resultados da análise se encontram na seção abaixo.
3 RESULTADOS
O texto analisado tem como objetivo compreender os
diversos aspectos do instituto do mandado de segurança a partir
de um apanhado histórico do elemento, que surgiu como um
instrumento de defesa do indivíduo frente a atos ilegais do poder
público, quando as formas processuais falharam, ou seja, quando
o interdito possessório e o habeas corpus não tiveram êxito. O
texto tem como ponto de partida e elemento de aferição o
conceito de que o mandado de segurança é um procedimento
documental.
As ideias do texto são estruturadas sob a seguinte sequência
de ideias:
a) Primeiramente, ao criar o mandado de segurança, a
Constituição de 1934 o marcou com características presentes em
dois institutos: interdito possessório e o habeas corpus;
b) A determinação do que seria direito líquido e certo,
recebido da doutrina brasileira do habeas corpus, como forma
fundamental para a manutenção do mandado de segurança;
c) A utilização do mandado de segurança como
procedimento documental e suas contradições;

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d) análise de alguns aspectos do mandado de segurança em


desconformidade com a ideia matriz.
A ideia defendida na primeira etapa é a de que apesar de o
interdito possessório ter sido derrotado nos Tribunais, que se
recusaram a admitir de forma pacífica a posse dos direitos
pessoais, e do habeas corpus ter sido eliminado pela reforma
constitucional de 1926, o mandado de segurança possuía
elementos das duas unidades. A referência ao “Direito certo e
incontestável” e a adoção de rito processual idêntico ao do habeas
corpus são exemplos desta tentativa de fazer do novo instituto um
habeas corpus civil. Como característica comum aos dois
elementos torna-se visível um dos principais pontos do mandado
de segurança, que é a obrigatoriedade do cumprimento da decisão
judicial
A ideia escrita na segunda etapa do texto é a de que a
compreensão que se obtiver a respeito do que seja “direito líquido
e certo” é de grande importância para vitalidade do mandado de
segurança e causará influência em todas as particularidades do
procedimento. De acordo com Celso Agrícola Barbi, o Ministro
Costa Manso deu a contribuição mais importante ao assunto ao
distinguir regra jurídica e fato jurídico. A regra jurídica seria
sempre certa, apesar de difícil determinação, já os fatos podem
ser incertos, pois que dependem de prova. Dessa forma, se os
fatos forem certos e deles resultar um direito para o impetrante
do mandado, ele terá um direito subjetivo, certo e incontestável,
mesmo que o juiz tivesse dificuldade para aplicar determinada
norma jurídica ao caso.
A Constituição de 1946, ao suprimir a exigência de
ilegalidade manifesta do ato da autoridade pública fomentou ainda

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mais a ideia do Ministro Costa Manso, já que a condição para


deferimento do mandado de segurança passou a ser apenas a
existência do direito líquido e certo, não importando a evidência
ou não da ilegalidade. Assim, o binômio “direito certo e
incontestável + ilegalidade manifesta = sentença favorável” deu
lugar ao monômio “direito líquido e certo = sentença favorável”. A
tese de Costa Manso, chamada objetiva, possibilita uma
conceituação segura do instituto e que caracteriza o mando de
segurança como forma de procedimento documental, ou seja,
limitado aos meios de provas.
A ideia escrita na terceira etapa do texto trata da utilização
do mandado de segurança como procedimento documental,
defendida pelo autor devido à necessidade de haver praticidade
em assuntos relacionados ao processo, tornando eficiente a
utilização do mandado de segurança para a proteção do indivíduo
contra atos ilegais de autoridade pública. A concepção do
mandado de segurança como procedimento documental deveria
refletir-se em todas as partes de seu processamento, como
exigência da lógica jurídica e como condição para
aprimoramento e expansão desta via judicial, no entanto, a falta
de estudos sobre o assunto, a
natureza fragmentária das decisões judiciais e a existência de
textos antigos que tratam da formação do instituto fazem com que
o mandado de segurança tenha seu processo construído sobre
uma série de contradições que dificultam seu aprimoramento.
Na quarta e última etapa do texto, o autor sintetiza algumas
contradições presentes no mandado de segurança que entram em
desarmonia com sua ideia matriz e, sendo estas contradições
secundárias, deveriam as mesmas se ajustar ao princípio

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fundamental e diretor, nas palavras de Celso Agrícola Barbi.


Primeiramente, o litisconsórcio passivo necessário estava sendo
ignorado pela jurisprudência quando o ato impugnado criava
direito em favor de terceiro, seja por nomeação ou promoção de
funcionário, seja pela concessão de serviço de utilidade pública. É
seria inadmissível, para o autor, que esse terceiro seja despojado
de seu direito sem ao menos ser ouvido no processo como
litisconsorte passivo necessário. Foi excepcionalidade no mandado
de segurança a simples audiência da autoridade coatora, pois a
concepção atual do mandado processo documental não mais se
compadece desta ideia, dessa forma, é ineficaz sentença que
conceda mandado sem audiência dos litisconsortes necessários
passivos.
Outro problema com relação à integração da lide pelos
litisconsortes se dá na aplicação do mandado de segurança contra
ato judicial, que tem natureza de recurso. Com o mesmo
argumento da excepcionalidade da medida, a jurisprudência se
recusa a citar o outro litigante da demanda de onde se originou o
mandado, disto decorre uma modalidade especial de recurso onde
o recorrido não é ouvido, limitando-se a audiência ao juiz autor do
ato, que pouco interesse tem na solução da controvérsia.
O autor questiona, também, a restrição do uso do mando de
segurança a cento e vinte dias, já que o direito de um funcionário
ou interessado não se prescreve neste período, apenas se altera a
forma processual. O prazo para as informações também deveria
ser modificado, já que tem papel de verdadeira contestação e esta
não pode ser feita satisfatoriamente no prazo de cinco dias.
Deveria haver, no mínimo, o prazo de dez dias para as ações
reguladas no Código de Processo Civil. Outra desarmonia com o

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princípio geral do mandado se segurança se relaciona com a vista


ao Ministério Público, que se agrava pela ocasião de diferirem as
funções do órgão, conforme seja da União ou dos Estados. Nos
mandados requeridos contra a União, o Ministério Público age
como defensor do Governo Federal, enquanto nos requeridos
contra os Estados ou Municípios, age como fiscal da Lei,
imparcialmente. O Código não prevê esta dualidade de
tratamento, segundo a pessoa de direito público
O artigo 15 da Lei 1.533 dispõe que a denegação do
mandado não impede o uso posterior de outra via processual para
a defesa do direito. Isto, na visão do autor, é mais um resquício da
fase inicial de indecisão quanto à estrutura do processo do
mandado de segurança, pois se apreciados os fatos no exame da
causa, concluir o juiz pela inexistência do direito subjetivo, a
decisão não deveria ser revertida. Tal situação ocorreria somente
em casos de controvérsia dos fatos ou pela decadência do direito
de usar esta via judicial, pois não houve decisão quanto ao mérito.
É brevemente discutida a questão da execução de sentença que
julga procedente o pedido do mandado de segurança, pois o
princípio geral do processo civil brasileiro em matéria de
execução é que somente a sentença transitada em julgado é que
pode ser executada;
Ao fim, o texto conclui que, ao contrário, do que usualmente
sustenta a administração, deve haver uma ampliação do campo do
mandado de segurança com o fim de torná-lo o instrumento mais
eficaz para a defesa do indivíduo contra a violação de seus direitos
por meio da administração. O remédio não deve ter caráter
excepcional, mas sim ter essência de processo documental,
subtraindo os aspectos que por vezes favorecem litigantes

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desprovidos de direito. Dessa forma, a proteção do indivíduo


frente ao Poder Estatal se tornará mais eficaz.
REFERÊNCIAS

BARBI, Celso Agrícola. PERSPECTIVAS DO MANDADO DE


SEGURANÇA. Conferência proferida no Instituto dos
Advogados do Brasil. Rio de Janeiro: Faculdade de Direito da
Universidade de Minas Gerais em 1962.

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