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FAS@JUS - e-Revista da Faculdade de Direito Santo Agostinho, v. 4, n. 1/2014
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FAS@JUS - e-Revista da Faculdade de Direito Santo Agostinho, v. 4, n. 1/2014
ISSN 2179-8222
Editor
Waldir de Pinho Veloso
Conselho Editorial
Reinaldo Silva Pimentel Santos
Simone Rosiane Corrêa Araújo
Waldir de Pinho Veloso
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FAS@JUS - e-Revista da Faculdade de Direito Santo Agostinho, v. 4, n. 1/2014
Editor
Conselho Editorial
Correção Linguística
Editoração Gráfica
Capa
v. : il. 21 x 29 cm.
Semestral
ISSN 2179-8222
CDU: 34 (05)
Ficha catalográfica elaborada por Edmar dos Reis de Deus CRB6 2486.
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FAS@JUS - e-Revista da Faculdade de Direito Santo Agostinho, v. 4, n. 1/2014
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO....................................................................................................................... 7
ENTREVISTA.............................................................................................................................. 9
RESUMOS
RESENHA
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APRESENTAÇÃO
Para que um veículo de divulgação científica a seção que comumente é destinada aos
seja classificado como triunfante, há necessidade Acadêmicos do Curso de Direito da Faculdade de
de comprovada continuidade. O eterno nascer ou Direito Santo Agostinho.
renascer de uma publicação de cunho científico Em ordem alfabética em relação aos seus
fomenta a oportunidade para diversificados autores – importante destacar que são de autorias
autores de textos científicos se manifestarem. individuais – o primeiro exposto é o Artigo Científico
Parece uma vitória do próprio veículo. E é. de autoria da Acadêmica Betânia Gusmão
Mas, antes disso, é um conjunto de vitórias dos Mendes, que cuida do assunto sob o título “O
autores que o integram, dos verdadeiros atores que amor como pecúnia: a responsabilidade civil
compõem o elenco, das pessoas que são, em pelo abandono afetivo parental”, no qual desce
síntese, o motivo de vir ao mundo das publicações a detalhes, doutrinários e jurisprudenciais, acerca
mais um Volume, mais uma Edição, mais um da patrimonialização da quebra do cumprimento
Número desta publicação seriada de caráter dos deveres que os pais (normalmente, o gênero
científico. masculino) deveriam ter para com seus filhos. O
Para consolidar a sua existência, para driblar trabalho mostra a visão de diversos integrantes dos
intempéries e para deixar indelevelmente fixado o Tribunais Superiores, na aplicação do Direito, que
sulco de um andar provido de esforço científico, a concedem ou não indenização em casos de pais
Revista Eletrônica Fas@Jus, do Curso de Direito que descumprem os seus deveres em relação aos
da Faculdade de Direito Santo Agostinho, filhos. A doutrina exposta também é variada. E há
apresenta-se em nova roupagem, novo Volume, conclusão, por parte da autora.
novo Número, nova Edição. Sabendo que científico Um outro texto científico é assinado pelo
é o que é academicamente divulgado, proporciona Acadêmico Elles Albano de Aguiar Carneiro,
– ou oportuniza, em palavras outras – espaços a que decidiu pesquisar, estudar e consolidar, em
quem se mostra capaz. texto científico, seus conhecimentos sobre o tema
Este Volume 4, Número 1, é especial. Contém “Limitação à imunidade material dos
material científico assinado exclusivamente por parlamentares em função de seus abusos e
Acadêmicos que integram o Programa Especial excessos”, tocando as searas do Direito
de Tutoria (PET), um dos pontos de apoio que o Constitucional, Direito Eleitoral e algum tópico
Curso de Direito da Faculdade de Direito Santo acerca da Ética e da Moral. Distingue o que é
Agostinho oferta aos seus Acadêmicos. proteção ao mandato parlamentar e a compara com
Para explicar o que é o Programa Especial a tática empregada por alguns políticos que se
de Tutoria (PET), foi convidada a Professora escondem atrás da imunidade parlamentar para
Mestre Liz Helena Silveira do Amaral cometer abusos, excessos e, por que não dizer,
Rodrigues que, até o fim de 2013, era a crimes de toda sorte.
Coordenadora do PET e foi a idealizadora de um Na ordem alfabética, o terceiro Artigo
Número especial da Revista Eletrônica Fas@Jus Científico é escrito pela Acadêmica Gislene
dedicado exclusivamente aos membros do Sampaio Said. Ela debruça sobre a análise, em
Programa. Em vez de um texto menos pessoal, tom científico, da responsabilidade que têm os pais
que ela faria se continuasse como integrante do na educação dos seus filhos, ou dos tutores em
Conselho Editorial, como era até o fim de 2013, a relação aos seus pupilos. E mostra que se a
Professora Liz Rodrigues foi convidada a conceder Constituição Federal diz que é dever dos pais
uma Entrevista. Na seção, toda a explicação da proporcionar a educação aos filhos, concede
origem do PET, a sua evolução, o fomento à também o direito de os pais levarem a efeito esta
iniciação científica, o estádio atual e o que se pensa educação em âmbito familiar. Mas, há lei que dispõe
do futuro. Não são meras reminiscências: é um ser crime de abandono intelectual a não
lembrar consciente, resgatando a história e providência, por parte dos pais e tutores, em
projetando, com solidez de quem tem alicerce, um matricular seus filhos e pupilos em escolas. A
porvir que se anuncia vitorioso. análise, destarte, mostra qual norma deve ser
Cinco são os Artigos Científicos que integram cumprida: a determinação da oferta da educação
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(que poderia ser a domiciliar) ou a oferta da Agostinho, não tem uma seção que publica
educação necessariamente em estabelecimento de Resumos de trabalhos científicos. Por se tratar de
ensino. E o crime de abandono intelectual. O título uma publicação contendo apenas escritos de cunho
é “Educação domiciliar e o abandono científico da pena de Acadêmicos que fazem parte
intelectual”. do Programa Especial de Tutoria (PET), a seção
Por seu lado, o Acadêmico Luciano foi criada e está preenchida pelos trabalhos dos
Carvalho de Almeida tratou do tema “Crime Acadêmicos Diego Celestino Ferreira,
de excesso de exação: a incongruência da Isadora Oliveira de Paula e Silva e Matheus
pena na forma qualificada com o princípio da Medeiros Maia. São temas dos seus estudos,
proporcionalidade”. Para o autor, há uma respectivamente, “Testamento vital no
necessária discussão acadêmica quanto ao ordenamento jurídico brasileiro: uma
princípio da proporcionalidade quando se trata do abordagem acerca do confronto da vida como
crime de excesso de exação. Explica o autor, com um bem jurídico indisponível versus o
base doutrinária, que um crime em sua forma princípio da dignidade da pessoa humana”; “O
inicialmente clausulada tem uma versão que impõe confronto entre o universalismo e o
punição mais forte, a maneira qualificada. A multiculturalismo”, e “A doutrina da
reflexão mostra que, em se tratando do crime de desconsideração da personalidade jurídica
excesso de exação – a cobrança de tributo ante o princípio da autonomia da pessoa
inexistente ou em valores acima dos fixados pelas jurídica”.
alíquotas, bases de cálculo ou hipóteses de Uma coluna tradicional na Revista Eletrônica
incidência, ou mesmo o emprego de maneira Fas@Jus, do Curso de Direito da Faculdade de
vexatória na cobrança dos encargos tributários – Direito Santo Agostinho, é a Resenha. Texto de
em seu formato qualificado, pode ter punição mais caráter acadêmico que visa analisar alguma obra
branda do que a condição inicial ou “simples”. Um e sobre ela emitir uma opinião, com crítica – no
paradoxo desvendado pelo texto. sentido de análise profunda – a Resenha da vez é
Para fechar a seção, o Acadêmico Tiago da lavra da Acadêmica Dandara Tamires Reis
Barbosa procurou todos os modos de, e Castro. A Acadêmica lida com a análise do livro
cientificamente, escrever sobre o assunto cujo título A guerra dos tronos, do norte-americano George
é autoexplicativo: “O medo e a pena de morte R. R. Martin. A qualidade de científico vem,
na visão de Beccaria”. O trabalho tem muito de exatamente, da inserção de temas sobre eutanásia,
Filosofia e Psicologia e, igualmente, muito de ortotanásia e outras questões do Biodireito,
Direito. Definir e mostrar que o medo é o presentes no livro e destacados pelo texto. O título
contrapeso que evita atitudes infundadas é o lema é “Eutanásia em A guerra dos tronos”.
do autor. Para calçar os seus estudos, busca em Com o Volume 4, Número 1, a Revista
Cessare Beccaria, clássico e necessariamente Eletrônica Fas@Jus, do Curso de Direito da
suporte para estudos mais profundos, os esteios Faculdade de Direito Santo Agostinho, procura
ou alicerces científicos abordados. A extração do disponibilizar, a todo o mundo científico, um
livro Dos delitos das penas é quanto à pena de desabrochar de autores, em seus passos iniciais,
morte e sobre o medo em outros aspectos. Fatores porém firmes, em vários segmentos do
que fazem, a todos, pensar antes de uma ação conhecimento científico.
violenta contra outrem (medo da perda da O conhecimento científico se engrandece
liberdade, ou do pecado) ou que pode colocar em com este Volume. Pelo menos, é o que entendem
risco a sua própria vida (medo da morte). os assinantes deste texto de apresentação.
Normalmente, a Revista Eletrônica Fas@Jus,
do Curso de Direito da Faculdade de Direito Santo Os Organizadores
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ENTREVISTA
“
Claros, Minas Gerais, e, exceto O melhor destaque para quem
quanto ao sotaque sulista, Vale destacar que, coordenou o Programa
tornou-se mineira. em alguns semestres, o Especial de Tutoria – no qual
No fim de 2013, por PET chegou a nasceram os trabalhos
questões familiares, mudou-se responder por 90% dos científicos integrantes deste
para a capital paulista. Após a trabalhos científicos número – e ainda reuniu os
decisão, cumpriu até o fim do apresentados em textos que estão contidos neste
ano as funções de Professora de Congressos exemplar, é a disponibilidade de
múltiplas disciplinas na organizados pela um espeço para explicar o que
Faculdade de Direito Santo Faculdade é o PET, qual a história do
Agostinho (Direito Internacional, Programa, quais os destaques
Estatuto da Criança e do entre seus integrantes e o que
Adolescente, Biodireito e outras) e Coordenadora se espera que venha por aí, especialmente após a
do PET até que as férias chegaram. Somente aí, vitória – a edição especial desta Revista – dos seus
rumou-se para a São Paulo dos sonhos mais atuais. integrantes.
Como Coordenadora do Programa Especial Por isso e por outros vários motivos, a seguir
de Tutoria, acompanhou diretamente diversos se encontram as palavras da Professora Mestre
Acadêmicos no desenvolvimento de seus artigos Liz Helena Silveira do Amaral Rodrigues, Mestre
científicos. Também, como Coordenadora, esteve em Direito, em atenção aos questionamentos da
ao lado dos outros Professores integrantes do Revista Eletrônica Fas@Jus.
Programa, tornando-se uma Tutora menos direta
dos Acadêmicos orientados por esses outros
Professores. Fas@Jus: Para início, gostaríamos que
No fim de 2013, na qualidade de membro do Você definisse o PET com objetivos e
Conselho Editorial da Fas@Jus, Revista Eletrônica funções.
do Curso de Direito da Faculdade de Direito Santo Professora Mestre Liz Rodrigues: O
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Programa Especial de Tutoria (PET) foi criado, seguro e a estruturar um raciocínio científico
em um primeiro momento, como uma forma de mais sofisticado. Vale destacar que, em alguns
auxiliar o Acadêmico na escolha do tema do semestres, o PET chegou a responder por 90%
trabalho de curso. Posteriormente, o perfil do dos trabalhos científicos apresentados em
Programa foi alterado e o PET passou a se Congressos organizados pela Faculdade,
caracterizar como um programa de iniciação sendo que, em algumas situações, a quantidade
científica. Hoje, pode-se dizer que o objetivo de trabalhos apresentados pelos Acadêmicos
do projeto é fomentar a produção de trabalhos de Direito era praticamente equivalente à soma
científicos pelo corpo discente, seja pela dos trabalhos apresentados por vários outros
publicação de resumos, seja pela de artigos Cursos.
propriamente ditos.
Fas@Jus: Os Acadêmicos que já
Fas@Jus: Qual o histórico do PET em integraram ou integram o PET participam
termos de época do início e desenvolvimento, ativamente das divulgações científicas. Cite
especialmente os primeiros momentos? alguns eventos científicos nos quais os
Professora Mestre Liz Rodrigues: O integrantes do PET tiveram destaque.
Projeto começou em 2008, em razão da pouca Professora Mestre Liz Rodrigues:
variabilidade dos temas de monografia. A Poderíamos destacar o Congresso Brasileiro de
Professora Mestre Vivian Cristina Maria Santos Direito e Teoria do Estado – que já teve dez
estruturou e coordenou o Projeto, como o apoio edições seguidas e ininterruptas de sucesso
do Professor Doutor Elton Dias Xavier. Eu tive internacional – bem como o Fórum Integrado
a oportunidade de integrar o grupo de de Ensino, Pesquisa e Extensão e eventos
Professores que compôs esta primeira realizados por outras Instituições de Ensino
formação. Nesta fase, costumávamos indicar Superior IES, como a Universidade Estadual
aos Alunos as “novidades” mais interessantes, de Montes Claros, que sempre criaram
seja em termos doutrinários, seja em termos condições para que os Alunos participassem
jurisprudenciais, bem como comentando as dos eventos. Cumpre destacar a importância
nossas próprias áreas de trabalho – o grupo que a abertura destes espaços têm na formação
de Professores Tutores sempre foi composto, dos Alunos, que, aos poucos, adquirem
preferencialmente, por Professores Mestres, confiança, passam a organizar um raciocínio
dedicados à pesquisa, o que contribuiu, penso, científico mais sofisticado e, também, adquirem
para a diversificação das áreas de interesse. fluência verbal e escrita, competências
Quando retornei ao Programa, em 2012, essenciais para o profissional de Direito.
o PET já estava desvinculado da escolha de
temas para o Trabalho de Curso (TC) e o foco Fas@Jus: Até 2013, como integrante do
já estava direcionado à iniciação científica, Conselho Editorial da Revista Eletrônica
especialmente após a inclusão, no Regulamento Fas@Jus, quando os artigos submetidos para
de Trabalho de Curso, da possibilidade de análise eram de autoria de integrantes do
substituição da monografia por artigos PET, Você pedia para se abster da emissão
científicos, produzidos ao longo de vários de Parecer. Qual a sua ligação com os
semestres da graduação. Até então, todos os Acadêmicos que integram o PET?
Acadêmicos somente podiam se graduar de Professora Mestre Liz Rodrigues:
elaborassem e defendessem, com aprovação, Considerando o modo como o Programa é
uma monografia. A partir deste momento, o PET organizado, penso que a ligação que é
passou a ter um papel fundamental na produção desenvolvida em virtude do interesse do Aluno,
científica discente do Curso de Direito, pois, pois, considerando que o Professor fica
sendo um Projeto constante e com um grande disponível em determinados horários, cabe ao
número de vagas, muitos Alunos puderam Acadêmico vir à Faculdade e pedir a orientação
contar com a orientação dos Professores do Professor. Deste modo, levando-se em
Tutores e passaram a se expressar de modo mais consideração o maior ou menor interesse do
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Aluno, afinidade com a área de pesquisa e o também para os Alunos, que poderão participar
trabalho que está sendo desenvolvido, muitas de uma obra coletiva. Para os Alunos, a edição
vezes são criados laços entre o Tutor e o Aluno da Revista é um prêmio por sua dedicação e
que está sendo acompanhado. Com muita esforço. Acredito que, em um próximo momento,
frequência, mantínhamos contato via e-mail e o grupo poderia trabalhar para viabilizar um
redes sociais, e, em certas situações, o livro, com maior densidade científica e que
engajamento do Professor resultava em alguns fosse voltado à exploração, em profundidade,
trabalhos em coautoria, o que também é muito de um determinado assunto jurídico relevante.
interessante. Deste modo, e considerando a
maior atenção que os Alunos do Programa Fas@Jus: Qual o mundo que Você
recebiam, eu entendia que, como membro do vislumbra para os Acadêmicos da Faculdade
PET, não caberia a mim analisar o resultado de Direito Santo Agostinho (FADISA) que
do nosso trabalho coletivo, pois, claro, não integram o PET?
teria o mesmo distanciamento que outros Professora Mestre Liz Rodrigues: Esta
membros do Conselho Editorial poderiam ter. é uma questão muito particularizada mas, em
Já cheguei a dizer algo como “esta Aluna, no geral, percebe-se que o Aluno que passou pelo
ato de escrever este Artigo Científico, é como PET tem mais segurança e expressa suas ideias
se fosse minha filha”, uma vez que teria com maior clareza. Considerando nossas
acompanhado a apresentação da ideia, os peculiaridades profissionais, o
primeiros esboços, os primeiros traços, as desenvolvimento da habilidade de falar em
correções e melhoras e teria sido a primeira a público, a desenvoltura na defesa de um ponto
ver o trabalho pronto e vencedor. O mesmo de vista, a correta estruturação de um
sentimento é manifestado por outros raciocínio em um trabalho escrito contribuem,
Professores Tutores, integrantes do Programa. em muito, para a vida profissional da pessoa
Durante a orientação especial, cria-se, creio, graduada em Direito. A realização de atividades
um elo valioso entre Professor Tutor e paralelas às normalmente exigidas durante a
Acadêmico integrante do Programa. graduação, a elaboração de artigos e as
publicações certamente contribuem para a
Fas@Jus: A publicação de um Número formação de um currículo diferenciado, que
da Revista Eletrônica Fas@Jus com textos pode pesar favoravelmente quando este
científicos de autoria somente de integrantes Acadêmico for participar de um processo
do PET representa que marco? seletivo, quando do início de sua vida
Professora Mestre Liz Rodrigues: É um profissional. Deste modo, creio que o Programa
marco interessante não só porque comemora contribui para o desenvolvimento da autonomia
os cinco anos de existência do programa, como do Aluno, que poderá conduzir sua carreira
por ressaltar o grau de maturidade acadêmica com mais segurança e encontrar as
que o grupo de Alunos integrantes do Programa oportunidades profissionais mais adequadas
atingiu. A consolidação da Revista é importante ao seu perfil.
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ARTIGOS DO
CORPO DISCENTE
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Acadêmica do Quinto Período do Curso de Direito da Faculdade de Direito Santo Agostinho e membro do Programa
Especial de Tutoria (PET).
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ser encarada como omissão danosa. família estagnado ou imutável. Segundo Dias (2008),
Na tentativa de minimizar os efeitos danosos a família constitui um agrupamento informal, de
do abandono afetivo, o Superior Tribunal de Justiça formação espontânea no meio social, cuja
reconheceu que a inexistência de afeto nas relações estruturação se dá através do Direito, que se
paterno-filiais gera prejuízos irreparáveis à pessoa, apresenta apenas como instrumento de
cabendo indenização por dano. Essa decisão teve concretização da realidade.
como premissa o aspecto normativo da As relações familiares desde os primórdios
responsabilidade civil e do descumprimento dos eram estabelecidas segundo os modelos
deveres e obrigações decorrentes do poder familiar. hierarquizados e patriarcais, tendo a necessidade
O art. 1.634 do Código Civil Brasileiro de 2002 do matrimônio para o reconhecimento jurídico. A
dispõe que o dever dos pais não é restrito ao sustento família era vista como uma unidade de produção,
material dos filhos. Também, a obrigação se estende que incentivava a procriação, com o intuito de
a criação e educação, bem como o direito/dever de fortalecer os laços patrimoniais. Farias e Rosenvald
tê-los em sua companhia e guarda. Do preceito (2010, p. 4) afirmam que “as pessoas se uniam em
normativo em epígrafe se depreende que os família com vistas à formação de patrimônio, para
elementos extras patrimoniais como: valores morais, sua posterior transmissão aos herdeiros, pouco
convivência familiar, orientação educacional e a importando os laços afetivos.”.
própria construção do indivíduo como cidadão são Entretanto, como indica Dias (2009, p. 28) “a
tão imperiosos ao filho quanto a assistência material. Revolução Industrial fez aumentar a necessidade
É inquestionável que a ausência do afeto, do de mão-de-obra, principalmente nas atividades
carinho e da presença do genitor na vida da pessoa terciárias”. Assim, novas perspectivas sociais
acarretará danos irremediáveis. Entretanto, a passaram a vigorar. Houve a necessidade de as
tentativa simplista de resolver na esfera patrimonial mulheres integrarem o mercado de trabalho,
os danos decorrentes do abandono afetivo parental mitigando o império machista e patriarcal, acabando
gera controvérsias no meio jurídico. com a preponderância do caráter produtivo e
Não se sabe ao certo se seria possível reprodutivo da família.
solucionar no campo da responsabilidade civil a Sobre essa nova concepção da família,
questão da ausência do afeto, e se uma indenização esclarecem Farias e Rosenvald (2010, p. 4):
seria apta a sanar a falta de assistência dos pais.
Além disso, a fixação de indenização pecuniária pela A arquitetura da sociedade moderna impõe um
falta de afeto poderia ensejar maiores desavenças modelo familiar descentralizado, democrático,
igualitário e desmatrimonializado. O escopo
entre as partes, solidificando, desta maneira, o
precípuo da família passa a ser a solidariedade
afastamento entre eles. social e demais condições necessárias ao
Ao longo do presente trabalho, pretende-se aperfeiçoamento e progresso humano, regido
analisar as visões antagônicas sobre a indenização o núcleo familiar pelo afeto, como mola
por abandono afetivo, buscando compreender se propulsora.
tratar o amor como pecúnia caracteriza um avanço
ou retrocesso no Direito das Famílias A afetividade torna-se essencial nas relações
contemporâneo. familiares. Lôbo (2009) afirma que a atual
Este artigo, de caráter exploratório, foi concepção familiar prioriza o laço de afetividade
elaborado de acordo com o método dedutivo, que une seus membros, o que propiciou uma
adotando-se o procedimento monográfico, com o reformulação do conceito de filiação que se
recurso de fontes bibliográficas bem como o estudo desprendeu da verdade biológica e passou a valorar
jurisprudencial. muito mais a realidade afetiva.
Sendo o afeto o laço que une as famílias na
2 FAMÍLIA E AFETO modernidade, ele é tão elementar para as relações
paterno-filiais quanto os laços biológicos. Assim
O conceito de família, seus princípios ensina Nogueira (2001, p. 86):
fundamentais bem como a sua própria formação se
modificaram no tempo de acordo com os preceitos Para a criança, sua simples origem fisiológica
sociais. “A história da família é extensa, não linear não a leva a ter vínculo com seus pais; a
figura dos pais, para ela, são aqueles com
e configurada por rupturas sucessivas” (PERROT, que ela tem relações de sentimento, aqueles
1995), não sendo possível estabelecer um ideal de que se entregam ao seu bem, satisfazendo
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Como os valores morais, a convivência familiar, a Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts.
orientação educacional e a própria construção do 186 e 187), causar dano a outrem fica
indivíduo como cidadão são tão significativos quanto obrigado a repará-lo.
a assistência material.
Inúmeros são os aspectos normativos que De acordo com os art. 186 e 927 do CCB/02,
visam à proteção dos filhos quanto ao abandono para a aplicação da responsabilidade civil são
físico, material ou afetivo pelos genitores, visto que necessários alguns requisitos que configuram a
a ausência do amor, do carinho e da presença dos ilicitude. São eles: a conduta (negativa ou positiva),
pais acarretará danos irreparáveis à pessoa. o dano e o nexo de causalidade.
Entretanto, quando essa omissão não é resolvida de Diniz (2006) ressalta que para a configuração
maneira pacífica, alguns juristas e magistrados da ilicitude é necessário que o fato lesivo seja
defendem a aplicação do instituto da responsabilidade causado pelo agente, por ação ou omissão
civil e a reparação por dano moral. voluntária, decorrente da negligência ou
A CRFB/88 eleva a reparação por dano moral imprudência; que tenha produzido um dano moral
ao patamar de direito fundamental, no art. 5.º, incisos ou patrimonial, além do que deve haver um nexo de
V e X, prevendo a reparação dos danos materiais, causalidade entre o dano e o comportamento do
morais ou à imagem. Desta maneira afirma Gama agente. E, somente diante desses pressupostos é
(2010, p. 171): que o indivíduo pode buscar a indenização por
responsabilidade civil.
A carga de sofrimento, de dor, de abalo No caso do abandono afetivo parental, os
psíquico recai sobre a pessoa da vítima, genitores deixam de cumprir com os elementos
independentemente de qualquer perda
básicos para a funcionalidade das entidades
material, é justificadora do direito à reparação
do dano moral sofrido, devendo se observar familiares, uma vez que estas devem contribuir para
a prevalência da tutela da personalidade a realização da personalidade dos indivíduos, em
humana diante da nova ordem de valores especial os filhos.
tutelados no campo existencial pela Hironaka (2006) analisa o dano, a culpa e o
Constituição da República do Brasil. nexo de causalidade nos casos de abandono afetivo.
Segundo a autora, o dano causado pelo abandono é
O instituto da responsabilidade civil visa antes de tudo um dano à personalidade do indivíduo,
reparar o dano moral através da indenização, com visto que a família, como primeiro grupo do qual o
o intuito de recomposição das situações jurídicas filho participa, possui o dever de incitar na criança
lesadas, com o escopo de compensar o abalo um sentimento de responsabilidade social. Outra
psíquico sofrido. Gagliano e Pamplona Filho (2011, hipótese é que o dano seria causado pela ausência
p. 51) caracterizam a responsabilidade civil como de afeto nas relações entre pais e filhos,
“a agressão a um interesse eminentemente prejudicando, assim, o desempenho integral do dever
particular, sujeitando, assim o infrator, ao pagamento de educação e convivência decorrentes da
de uma compensação pecuniária a vítima, caso não responsabilidade dos genitores.
possa repor o estado anterior das coisas.”. No caso de culpa, deve ser evidenciado que o
Venosa (2010) destaca que toda ação ou genitor tenha sido omisso na convivência com o filho,
omissão que gera prejuízo a outrem, acarreta o dever negando-se a participar do seu desenvolvimento,
de indenizar, se ausentes as causas excludentes de
sendo negligente ou imprudente.
indenização. Assim, de acordo com o ordenamento
Concomitantemente ao abandono, na maioria dos
jurídico, a responsabilidade civil impõe a reparação
casos é possível existir a inobservância dos deveres
do dano causado a quem, por ato ilícito, causar dano
e obrigações imateriais decorrentes do poder familiar.
a outrem, segundo os preceitos do artigo 186, do
Já para a análise do nexo de causalidade,
CCB/02, que dispõe:
Hironaka (2006, p. 7) dispõe que é necessária “a
Art. 186. Aquele, que por ação ou omissão
fixação em caráter retrospectivo, da época em que
voluntária negligência ou imprudência, violar os sintomas do dano sofrido pela criança
direito e causar dano a outrem, ainda que começaram a se manifestar, pois não poderá imputar
exclusivamente moral, comete ato ilícito. ao pai um dano que tenha manifestado em tempo
anterior ao abandono.”. Em outros termos, faz-se
O artigo 927, do CCB/02, por sua vez necessário observar se os danos acontecidos são
determina: decorrentes do abandono.
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Judiciário. Entretanto, a mera presença física não é a cura dos danos decorrentes do abandono seriam
capaz de suprir os danos ocasionados pelo impossíveis por meios exclusivamente patrimoniais.
desinteresse demonstrado nesses encontros E o faz com os seguintes termos:
impostos pelo medo e poderiam ser muito mais
danosos para os filhos, que esperam o apoio de seus Se tanto o pai quanto a filha tiverem a
pais e uma convivência afetiva espontânea. grandeza de perdoarem as faltas que um e
outro possam ter cometido, se cada um
Além desse aspecto, a busca judicial pelo
conseguir superar as suas dificuldades
“afeto” ocasionará danos ao filho queixoso, visto pessoais e minimizar ou sublimar as mágoas
que é uma situação humilhante, reclamar porventura existentes, certamente terão
publicamente por um amor negado, enquanto o pai ganhos afetivos e serão mais felizes. Mas, o
ou mãe omissos declaram também publicamente a certo é que esse conflito, que ainda persiste,
falta de amor. não poderá ser resolvido com qualquer
Com o posicionamento favorável à indenização. Pelo contrário.
condenação pecuniária pelo abandono aos filhos, o
Poder Judiciário terá uma quantidade exacerbada Assim, é possível compreender que tratar o
de ações indenizatórias com intuito meramente afeto segundo os preceitos pecuniários iria contra o
patrimonial, interesses visando apenas à vingança, próprio princípio da afetividade vigente no Direito
o que descaracterizaria a relação familiar. das Famílias. Sendo possível dispor que a utilização
Outro aspecto a ser observado, é que a da responsabilidade civil com escopo na indenização
indenização não seria aplicável ao caso de abandono por abandono afetivo representa um verdadeiro
afetivo, visto a impossibilidade de comprovação do atraso nas relações familiares. A intromissão do
dano moral, como dispõe o Desembargador Relator Judiciário nas questões de carinho, afeto e amor de
José Flávio de Almeida, da 12.ª Câmara Cível do maneira coativa pode representar perigo ou abuso
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, ao de poder, visto que o afeto é sentido, construído;
negar Recurso de Apelação n.° 1.0720.09.052727- não imposto.
9/001(1), nos seguintes termos:
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tardio reconhecimento de paternidade, se
não estabelecido vínculo e convivência entre De acordo com o exposto, é possível inferir
pai biológico e filho, depois de muitos anos que a indenização por abandono afetivo parental
de vida distanciados no tempo e espaço, representa um verdadeiro retrocesso no Direito das
ainda que essa situação de fato possa ser Famílias. Admitir a aplicação do instituto da
cunhada de abandono afetivo, não configura
responsabilidade civil limitaria as relações subjetivas
ato ilícito passível de reparação por danos
morais. Mesmo que possa ser moralmente do afeto e amor ao campo patrimonial. E, como
reprovável a conduta do apelado. exposto, o Direito evoluiu. E não são as relações
econômicas que o norteiam na atualidade.
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, A indenização pelo abandono não é apta a sanar
julgou improcedente a Apelação Civil n.º os danos causados ao filho e muito menos propiciaria
70050203751, de responsabilidade por abandono melhora nas relações familiares. Poderia, no entanto,
afetivo. O Relator da Apelação do TJRS, o aumentar as desavenças e solidificar a ausência de
Desembargador Alzir Felippe Schmitz, afirmou que relações salutares entre genitores e filhos.
‘‘mesmo os abalos ao psicológico, à moral, ao Tratar o amor como simples pecúnia não
espírito e, de forma mais ampla, à dignidade da representaria nenhuma finalidade social benéfica.
pessoa humana, em razão da falta de afetividade, O afeto é que regula as famílias. É dele que
não são indenizáveis por impossibilidade de aferição decorrem todas as relações pessoais. Não pode
da culpa.’’, requisito determinante para a fixação ser imposto.
da responsabilidade civil. Como dispõem os aspectos normativos, os pais
Segundo o Desembargador Sérgio Fernando possuem a obrigação de cumprir os deveres
de Vasconcellos Chaves, da 7.ª Câmara Cível do inerentes à maternidade e paternidade responsáveis.
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Entretanto, buscar a obrigatoriedade do amor é algo
no Recurso n.° 70029347036, a busca pelo perdão perigoso. E a monetarização do afeto pode levar a
seria mais benéfica no desenvolvimento das relações uma convivência forçada não benéfica a qualquer
afetivas entre filhos e pais, pois a reaproximação ou das partes.
20
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Pensar em Direito das Famílias contemporâneo ZIMERMAN, David; COLTRO, Antônio Carlos
é pensar em relações afetivas. Portanto, quando o Mathias (Org.). Aspectos psicológicos na
amor é transformado em simples pecúnia representa prática jurídica. 3. ed. Campinas: Millenium,
um retrocesso no tempo, limitando a estagnação de 2010.
reduzir as relações interpessoais ao campo do
patrimônio. O afeto é algo que nasce naturalmente, HIRONAKA, Gilselda Maria Fernandes
fruto de aproximação espontânea. É recíproco e não Novaes. Pressupostos, elementos e limites do
pode ser criado pela força do Poder Judiciário. dever de indenizar por abandono afetivo. In:
PEREIRA, Tânia da Silva; PEREIRA, Rodrigo
REFERÊNCIAS
da Cunha. A ética da convivência familiar. Rio
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da de Janeiro: Forense, 2006.
República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado, 1988. LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito de família,
relações de parentesco, direito patrimonial. In:
BRASIL. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. AZEVEDO, Álvaro Villaça (Coord.). Código
Institui o Código Civil. Diário Oficial [da] civil comentado. São Paulo: Atlas, 2003.
República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 11
jan. 2002. LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 2009.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso
Especial n.º 1.159.242-(2009/0193701-9). LÔBO, Paulo Luiz Netto. Entidades familiares
Relatora: Ministra Nancy Andrighy. Julgamento constitucionalizadas: para além do numeruns
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GAMA, Guilherme Calmon Nogueira. A afeto como valor jurídico. São Paulo: Memória
emocionalidade em áreas jurídicas especificas. In: Jurídica, 2001.
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1
Acadêmico do Sétimo Período Matutino do Curso de Direito da Faculdade de Direito Santo Agostinho e membro do
Programa Especial de Tutoria (PET).
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Dentre as vertentes do Poder Legislativo, a Para tanto, tem-se como base, o posicionamento
sua relação com o aparelho de garantias e proteção jurisprudencial e doutrinário acerca do assunto, além
aos Deputados e Senadores, advindas do Estatuto da busca pela definição dos limites de atuação dos
do Congressista, como meio garantidor das membros do Poder Legislativo.
imunidades, é aquela que causa maior inquietação.
Haja vista que a deturpação desse instituto como 2 IMUNIDADE PARLAMENTAR:
forma de escudo ao arbítrio, remete à sociedade a ANTECEDENTES HISTÓRICOS
ideia de regalia ao Parlamentar, mero instrumento
de representação do povo. E assim, chamar Desde os primórdios das civilizações, os
atenção para a real eficácia desse instituto, como homens disseminavam ideais de igualdade. Os
também da possibilidade do seu enrijecimento. cristãos, por exemplo, já pregavam que todos os
É inquestionável a conquista dessa autêntica homens são iguais perante Deus. Alguns filósofos
necessidade institucional para a manutenção da como Platão, Aristóteles e Heráclito propagaram
democracia pátria. Quando bem administrada, o Direito Natural, defendendo a ideia de que os
confere ao seu detentor proteção necessária à sua homens já nascem com determinados direitos,
liberdade de atuação, propiciando, assim, a lógica inerentes à natureza, simplesmente pelo fato de
da tripartição de Poderes. Isto porque o escopo do serem humanos. E, assim, não podem ser
Estatuto do Congressista é conferir aos membros descartados quando em sociedade (HERVADA,
do Congresso Nacional o fortalecimento do seu 2008).
exercício frente à interferência dos demais Com o tempo, tais direitos continuaram a ser
Poderes. discutidos, sempre à luz de novas perspectivas.
No que diz respeito à deturpação do seu Preleciona Moraes (2011), que várias correntes
propósito de amparo e segurança, o que se discute de pensamentos persistiram a evoluir, e muitas
são formas de evitar atos atentatórios à liberdade delas, acabaram por influenciar na elaboração de
de atuação dos Parlamentares, como os que documentos importantes, como a Magna Carta, em
outrora ocorreram nos períodos de repressão 1215, que limitava o poder dos monarcas ingleses,
política e ditadura militar. Nesse diapasão, é além do papel fundamental na criação da
marcante a influência dessa chaga histórica no Constituição dos EUA, aprovada em 1787.
presente instituto, que se evidencia ao abrigar o Consolidadas basicamente pelo direito
direito de opinião e o direito de se opor. europeu, segundo a doutrina, as
Contudo, tal finalidade, quando não
perfeitamente desempenhada pelos representantes imunidades parlamentares como corolário da
defesa da livre existência e independência
eleitos, levanta questões polêmicas quanto à do Parlamento tem no sistema constitucional
violação dos direitos individuais constitucionalmente inglês sua origem, através da proclamação
garantidos. do duplo princípio da freedom of speach
Na mão inversa, constantes abusos e (liberdade de palavra) e da freedom from
excessos cometidos por parte dos parlamentares arrest (imunidade à prisão arbitrária), no Bill
cooperam para o perecimento do ideal ético de of Rights de 1688, os quais proclamaram que
a liberdade de expressão e de debate ou de
política objetivado, bem como a degradação do troca de opiniões no Parlamento não pode
direito e da justiça para com o cidadão. O que de ser impedida ou posta em questão em
fato se traduz aos olhos da população em geral é a qualquer corte ou lugar fora do Parlamento
ideia de estarem os seus representantes fora da (MORAES, 2011, p. 456).
ação da lei e do seu âmbito de atuação, que se
mostra imprudente e implacável em relação ao Segundo Aleixo (1961), surge, por volta do
cidadão comum. século XVII, como maneira de garantir aos
Como tentativa de sanar inquietações ou até membros do Parlamento inglês, a livre expressão
mesmo levantar novas problemáticas é que se faz de suas opiniões sem o risco de serem presos pelo
de grande valia examinar de maneira minuciosa o arbítrio do Rei. Nessa época, o regime dominante
instituto da Imunidade Material, prevista no artigo era o do Absolutismo Monárquico. E, nele, Monarca
53 da Constituição da República. Com este intuito, e Estado se confundiam em um só.
foram feitas considerações relativas à crescente Em relação à abrangência das imunidades, o
necessidade de impedir que esta prerrogativa dê azo processo histórico diz respeito a somente palavras
a abusos e excessos por parte dos Parlamentares. e votos, dos quais apenas aqueles enunciados dentro
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do recinto das Sessões ou das Comissões são “movimento das Diretas Já”. A Emenda não foi
amparados pelo dispositivo em tela. Com o tempo, aprovada pela Câmara dos Deputados. Em 15 de
passou a se abranger a liberdade de expressão e janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral escolhe o
opinião (MORAES, 2011). então Deputado Tancredo Neves, da Aliança
O caráter de proteção ao livre exercício do Democrática, como novo Presidente da
Parlamentar, em âmbito nacional, tem como República, sendo este o primeiro Presidente civil
baluarte a Constituição da República que, após 21 anos do regime. Mas, como Tancredo
essencialmente, assegura todos os direitos e as Neves veio a falecer antes de assumir o cargo, a
garantias individuais e coletivas. Desde a Presidência da República passa a ser ocupada
Constituição Imperial, de 1824, são previstas pelo Vice-Presidente José Sarney.
normas para disciplinar o tema. A Carta de 1937, Com a promulgação da nova Constituição,
contudo, em seus arts. 42 a 43, modificou no ano de 1988, primou-se por apagar os indícios
significativamente o tratamento das imunidades. deste momento histórico e estabelecer princípios
Embora previstas, a Constituição admitia a democráticos ao País. Deste modo, passado o
responsabilização do Parlamentar por difamação, período de repressão política acarretado pela
injúria, ultraje à moral pública ou provocação pública chamada Era Vargas e pelo subsequente regime
ao crime, ficando sujeito à perda do mandato ditatorial no Brasil, o constituinte originário objetiva
(CARVALHO, 2012). cercar e majorar os benefícios da classe
Tal modificação é a expressão de um parlamentar. Logo, evitar novas crises políticas.
momento de aparente legalidade e excesso de Conforme assenta Moraes, a redação original
Poder Executivo, haja vista que entre os anos de
1964, 1967 e 1985, o Brasil foi governado por uma da Constituição Federal de 1988 previa as
forma de Governo estritamente ditatorial, no qual imunidades material e formal no art. 53, §§
1.º, 2.º e 3.º, determinando que os Deputados
os militares se alternaram no Poder 2 . Fase
e Senadores eram invioláveis por suas
marcada pela ausência de eleições diretas e opiniões, palavras e votos, bem como desde
caracterizada pela falta de democracia, além da a expedição do diploma não poderiam ser
supressão de direitos constitucionalmente presos, salvo em flagrante de crime
estabelecidos, e com instituição de censura, inafiançável, nem processados
perseguição e intervenção política na forma de criminalmente, sem prévia licença de sua
repressão aos que desafiavam o regime dominante. Casa. Ainda, disciplinava que, no caso de
flagrante de crime inafiançável, os autos
Durante o referido regime ditatorial, o seriam remetidos, dentro de vinte e quatro
encalço aos Parlamentares, aliado à dissolução de horas, à Casa respectiva, para que, pelo voto
Partidos Políticos e a cassação de mandatos, secreto da maioria de seus membros,
contribuiu para o enfraquecimento da classe, com resolvesse sobre a prisão e autorizasse, ou
reflexo até os presentes dias. Muitos políticos não, a formação de culpa (2011, p. 459-460).
sentiram na pele o horror de um tempo em que
não havia liberdade, ao serem presos, torturados e Alterando expressivamente tal regime, a
até mesmo exilados3. Emenda Constitucional n.º 35, de 20 de dezembro
Para Mota (2002), a situação começa a dar de 2001, manteve a imunidade material e restringiu
sinais de redemocratização com o nascimento da a imunidade formal processual.
“Lei da Anistia” (Lei n.º 6.683/79). À época, após
ser fortemente pressionado, o General João 3 IMUNIDADES PARLAMENTARES
Baptista Figueiredo, Presidente da República,
concedeu aos exilados e condenados por crimes Imunidades parlamentares são prerrogativas
políticos o direito de regressar ao Brasil. Em 1984, intrínsecas à função parlamentar, cujo escopo é
a sociedade se reorganiza, e milhões de brasileiros essencialmente garantir a liberdade de expressão
vão às ruas reivindicar eleições diretas e a e manifestação, e assim excluir a sua
aprovação da “Emenda Dante de Oliveira”, responsabilidade civil e penal. Adotadas por quase
garantidora das eleições diretas daquele ano – todos os países democráticos do mundo,
2
Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/ditadura/>. Acesso em: 5 jun. 2011.
3
Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/ditadura-militar-brasil-1964-1985-
650468.shtml>. Acesso em: 5 jun. 2011.
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Conforme esclarece o Ministro Celso de situação normal, formada por duas pessoas comuns
Mello, o fundamento da natureza jurídica desse em um caso de dano moral. Ao atingir a honra, a
instituto é se conservar “em consonância com a imagem e/ou a intimidade de um dos envolvidos,
exigência de preservação da independência do por tutelar direitos inerentes à personalidade e
congressista no exercício do mandato resguardar a dignidade da pessoa humana, a sua
parlamentar4”. violação confere ao prejudicado o direito de
Salienta Moraes (2011) que, sem imunidade, resposta, além de indenização pelos danos sofridos.
a cada vez que um Parlamentar de oposição fizesse Pegando o caso supracitado e supondo que
um discurso desfavorável ou contrário ao Governo, um dos envolvidos, na condição de Parlamentar,
poderia este vir a ser processado, o que incorra na mesma prática. Em razão da sua
inviabilizaria o seu trabalho de representante direto prerrogativa, o tratamento agora passa a ser
do povo. Daí a sua importância, pois sua palavra é diferenciado, imunizando-o por excluir o delito, já
livre e o seu voto deve atender aos anseios de sua que este possui inviolabilidade civil, estando
consciência. Abrange igualmente os relatórios e protegido por opinião, palavra e voto, bem como
trabalhos das Comissões, bem como os atos da correspondente responsabilização por perdas e
praticados na Comissão Parlamentar de Inquérito. danos.
Na mão inversa, pacifico é o entender de que
5 ATUAÇÃO PARLAMENTAR: nenhum direito é absoluto, em virtude do princípio
ABUSO E EXCESSO da relatividade. Afinal, tende-se a priorizar o bem
comum, tendo como nexo causal a plena garantia
O panorama das imunidades materiais dos direitos e os seus limites legalmente
apresentado consubstancia-se como um equívoco determinados em função de ações nocivas à
quanto ao instituto da imunidade parlamentar que, coletividade.
historicamente, tem como premissa lógica a Os direitos e garantias fundamentais
proteção da liberdade de atuação, bem como o encontram seus limites em outros direitos,
fortalecimento e a independência do exercício do igualmente consagrados pela Constituição.
Poder Legislativo. Havendo conflito entre dois ou mais direitos ou
A imunidade parlamentar material é garantias, optar-se-á pela harmonização, e assim
compreendida como um benefício necessário evitar a supressão total de uns em relações aos
concedido para o exercício da função de outros.
representante do povo. Entretanto, no contexto Tem-se por abusos e excessos qualquer tipo
atual, inúmeras são as situações em que há de ato inconveniente que exorbite ou lesione a
cometimento do arbítrio no uso desta primordial finalidade constitucionalmente estipulada pelo
prerrogativa constitucional. Constituinte para os membros do Poder Legislativo
Seu escopo não é a proteção pessoal do no exercício de sua função representativa
Parlamentar, abrigando-o em um escudo, muito outorgada pelo povo. É o mau uso do cargo público
menos contribuir para resguardar seus erros, suas de modo a causar dano e/ou aproveitar-se
omissões, seus atos de improbidade administrativa tortuosamente da sua situação de superioridade (DI
e imoralidade, ou ainda o seu descaso para com a PIETRO, 2013).
sua função política. A exorbitância das atribuições ou poderes
A Constituição elenca, no artigo 5.º e seus ultrapassa a fronteira do permitido, do legal,
incisos, os direitos individuais e coletivos, ou seja, reduzindo o alcance da atividade em relação aos
aqueles direitos inerentes ao conceito de pessoa seus desígnios. O excesso na conduta discricionária
humana e da sua personalidade, capazes de garantir do indivíduo amparado pela instituição da imunidade
uma convivência digna, autônoma e igual para todas parlamentar fere a própria Constituição, e ainda, o
as pessoas. Portanto, são direitos indisponíveis, tais poder emanado do povo, pois aos governantes está
como vida, igualdade, dignidade e honra, dentre previsto o dever de desempenhar suas funções sem
outros. se apartar do ideal de que estão exclusivamente
Conforme previsto na Constituição e no investidos para a manutenção da democracia.
Código Civil (Lei n.º 10.406/2002), em uma A título de exemplo, poder-se-ia indicar as
4
MELLO, Celso de. Inq. 510-DF, RTJ 135, p. 514. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/
artigoBd.asp#visualizar>. Acesso em: 24 jan. 2012.
27
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5
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/1260082-procurador-pede-que-stf-abra-acao-criminal-contra-
feliciano.shtml>. Acesso em: 9 mar. 2013.
6
Microblog usado para a troca de textos em até 140 caracteres, além da interação social entre usuários.
7
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/1260082-procurador-pede-que-stf-abra-acao-criminal-contra-
feliciano.shtml>. Acesso em: 9 mar. 2013.
8
Inquérito 1.710-DF de 27 fev. 2002. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/
artigoBd.asp#visualizar>. Acesso em: 24 jan. 2012.
28
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9
Idem. Inq. 1.958, Diário da Justiça de 18 fev. 2004, Rel. para o Acórdão Carlos Britto: “É de se distinguir as situações
em que as supostas ofensas são proferidas dentro e fora do Parlamento.”.
10
Idem. Inq. 1.344, Diário da Justiça de 1.º ago. 2003, Rel. Sepúlveda Pertence. Deliberou não alcançada a imunidade
parlamentar por parte de dirigente de futebol, que também era Deputado Federal, mas atuou como jornalista.
29
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disciplinar encarregado de zelar pela observância contrário, deve ser censurado, seja com a
dos preceitos de ética e decoro parlamentar – incidência de crime ou de reparação de danos, ou
ficasse o Parlamentar sujeito a imposições ainda, ao menos, na esfera política e disciplinar,
previstas nos termos de suas disposições mediante previsão no Regimento Interno da
regimentais, tais como advertências, cassação da respectiva Casa. A sociedade clama por isso.
palavra, dentre outros. Sem necessariamente vetar Por fim, salienta-se a necessidade de uma
a não incidência de crime ou de qualquer forma de reavaliação abrangente desse instituto, incluindo
reparação de danos. suas formas de interpretação e aplicação, haja vista
Destarte, existem limitações as imunidades que sua essencialidade como figura de suporte ao
parlamentares materiais, pois, ainda que Parlamentar, representante direto do povo, base
moderadamente, o STF vem se posicionando a do ideal democrático, para que assim seja galgado
respeito do tema. O que se faz necessário é fechar no exemplo político e a inviolabilidade parlamentar
o cerco àqueles que invocarem esse instituto prevista na Constituição Federal não mais sirva de
protetivo, cerceando a sua vinculação ao amparo escudo a impunidade.
do Poder Legislativo, para que os maus
Parlamentares não venham se abrigar como REFERÊNCIAS
licença à prática do arbítrio.
ALEIXO, Pedro. Imunidades parlamentares.
7 CONCLUSÕES Belo Horizonte: RBEP, 1961.
Por meio do presente artigo foi possível BRASIL. Constituição Federal (1937).
observar que a inviolabilidade material dos Constituição dos Estados Unidos do Brasil, 1937.
Parlamentares não se restringe à esfera criminal, Rio de Janeiro: Centro Gráfico, 1937.
mas a todos os institutos, tendo em vista, acima de
tudo, garantir independência ao Poder Legislativo BRASIL. Constituição (1988). Constituição da
em face dos outros Poderes do Estado, conforme República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
previsão constitucional. Senado, 1988.
Logo, tal tratamento diferenciado ao exercício
da atividade parlamentar deve ser visto como um BRASIL. A Constituição e o Supremo.
todo unitário, levando em conta sempre a sua Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/
finalidade pública e não particular. É indisponível, constituicao/artigoBd.asp#visualizar>. Acesso
até mesmo por se tratar de prerrogativa concedida em: 24 jan. 2012.
visando garantir a independência e o bom
funcionamento da instituição legislativa. BRASIL. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002.
Assim, a imunidade parlamentar material visa Institui o Código Civil. Diário Oficial [da]
à proteção de Deputados e Senadores, enquanto e República Federativa do Brasil, Brasília/DF,
exclusivamente, em virtude de serem membros do 11 jan. 2002.
Parlamento. Tem como objetivo a proteção apenas
pela manifestação de suas opiniões, palavras e CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito
votos, e jamais por qualquer ato lesivo ao patrimônio constitucional. 18. ed., rev., atual., e ampl. Belo
público ou privado, bem como o bem estar e os Horizonte: Del Rey, 2012.
interesses da coletividade ou mesmo meramente
individuais. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de
Concomitantemente representativo da teoria geral do estado. 31. ed. São Paulo:
sociedade e do pluralismo político, dentre os demais Saraiva, 2012.
Poderes, é o Legislativo o mais fragilizado.
Entretanto, os limites de alcance desta cautela DIAS, Maria Berenice Dias. A Igualdade
constitucional carecem de ser estudados com mais Desigual. Revista Brasileira de Direito
afinco, com a finalidade de viabilizar a plena Constitucional, n. 2, jul./dez., 2003. p. 50-65.
preservação da independência no exercício
parlamentar de suas atribuições públicas. Pois, o DITADURA Militar no Brasil. Disponível em
exercício egoístico de tal prerrogativa em nada <http://www.suapesquisa.com/ditadura/>.
contribui para o desenvolvimento social. Pelo Acesso em: 5 jun. 2011.
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2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA
EDUCAÇÃO DOMICILIAR
1
Graduanda em Direito pela Faculdade de Direito Santo Agostinho e membro do Programa Especial de Tutoria
(PET).
33
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2
At the time, practical skills were more essential to survival than a person’s ability to read or write. Although learning
to read and write was available, children were usually taught just enough to handle basic affairs (Tradução livre).
34
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Art. 55. Os pais ou responsáveis têm a No que tange ao poder familiar, vale a
obrigação de matricular seus filhos ou ressalva de que os filhos estarão sujeitos ao poder
pupilos na rede regular de ensino.
dos pais até os seus dezoito anos, salvo se
emancipados. O poder familiar confere aos pais o
Por seu lado, está assim inscrito na LDB: poder de representar e assistir os filhos, mas, claro,
respeitando o princípio do melhor interesse da
Art. 6.º É dever dos pais ou responsáveis
efetuar a matrícula dos menores, a partir dos
criança e o da convivência familiar, vez que, os
seis anos de idade, no ensino fundamental. pais não podem abusar da sua autoridade, sendo o
ECA um meio de equilibrar o exercício do poder
O intuito da obrigatoriedade dos artigos 55 familiar com os princípios supracitados.
do ECA e 6.° da LDB, é que proporcione ao O artigo 226, § 5.° da CF/88 e o Estatuto da
cidadão a garantia de conhecimento a fim de torná- Criança e do Adolescente igualaram pai e mãe na
-lo apto para o mercado de trabalho em uma obrigação de criar e educar, conferindo, portanto,
sociedade em processo de crescente organização de forma igualitária a responsabilidade a ambos.
e cada vez mais competidora e exigente. O ECA assim se manifesta:
Ademais, a Constituição de 1988, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação e o Estatuto da Art. 22. Aos pais incumbe o dever de
sustento, guarda e educação dos filhos
Criança e do Adolescente, permitem chegar às
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse
seguintes conclusões, no que diz respeito à destes, a obrigação de cumprir e fazer
educação, mediante constatou também Horta cumprir as determinações judiciais.
(2012):
O significado desse artigo implica em um rol
Gratuidade: o ensino público em de direitos e obrigações que proporcionam aos
estabelecimentos oficiais é gratuito, em
filhos a sua destinação. Além desse artigo,
todos os seus níveis. A oferta gratuita do
ensino fundamental deve ser também
vislumbra-se a companhia do artigo 1.634 do CC/
assegurada para todos os que a ela não 02 que estabelece outros direitos e deveres aos
tiveram acesso na idade própria [...]. pais.
Obrigatoriedade: o ensino fundamental, O poder familiar, no entanto, não é absoluto,
com duração mínima de oito anos nos pois o não cumprimento de seus deveres implica
estabelecimentos oficiais, é obrigatório, em perda ou suspensão deste, como alude o
inclusive para os que a ela não tiveram
acesso na idade própria [...]. Direito: a
Estatuto em questão. Diz assim:
educação é direito de todos e o acesso ao
ensino obrigatório e gratuito é direito Art. 24. A perda e a suspensão do poder
público subjetivo. Dever: é dever do Estado familiar serão decretadas judicialmente, em
e da família [...]. Responsabilidade: o não procedimento contraditório, nos casos
oferecimento do ensino obrigatório pelo previstos na legislação civil, bem como na
poder público, ou sua oferta irregular, hipótese de descumprimento injustificado
importa responsabilidade da autoridade dos deveres e obrigações a que alude o art.
competente. Comprovada a negligência da 22.
autoridade competente para garantir o
oferecimento do ensino obrigatório, poderá Poderá ocorrer a suspensão do poder familiar,
ela ser imputada pelo crime de se o pai ou a mãe abusarem de sua autoridade,
responsabilidade. faltando para com os deveres a eles inerentes ou
arruinando os bens dos filhos, como apregoa artigo
Com base nos mencionados artigos das 1.637 do Código Civil.
normas supracitadas evidencia-se, em princípio, a Todavia, a extinção do poder familiar,
obrigatoriedade dos pais em matricular seus filhos conforme a doutrina, poderá ser com ou sem a
numa escola regular. responsabilidade dos genitores. Será por ausência
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possam educar seus filhos sem colocá-los em uma existência e proliferação no ambiente social.
instituição escolar, posto que essa sustentação, Traz também a noção e o respeito à
alteridade, nos fazendo sempre perceber
consagrada na Constituição, tem sua real
que o diferente é necessário.
efetivação e o seu não cumprimento fere os
preceitos de legalidade e constitucionalidade.
Consoante o disposto acima, feriria, pois, o
Posto isto, o primeiro princípio a ser destacado
Estado tal princípio ao impor qualquer
é o princípio da unidade da Constituição, que
obrigatoriedade por parte dos pais em matricular
retrata a análise de forma unificada e não
seus filhos em escolas, aniquilando a grade
independente das normas, ou seja, devem as
curricular que lhes fossem desejáveis, em prol do
normas ser vistas como preceitos interligados em
que consideram um teor “programático ideal”. Isto
um sistema único em conformidade com a
porque a escola estabelece um currículo dogmático
Constituição.
que preza determinados valores abdicando de
Não obstante, atrelado a esse princípio se
outros, em face de querer achar um denominador
encontra o princípio da concordância prática ou
comum ao entender que determinado valor deva
da harmonização. Desse modo, insta ressaltar o
ser menos favorecido ou até mesmo dirimido em
que Mendes apud Aguiar (2012), leciona:
face de outro.
Nesse ângulo, remete entrelaçar aqui o
Consiste, essencialmente, numa
recomendação para que o aplicador das princípio da dignidade da pessoa humana, pois
normas constitucionais, em se deparando tem-se o homem como um fim em si mesmo; e
com situações de concorrência entre bens que, ao introduzir o Estado os alunos a um ensino
constitucionalmente protegidos, adote a de qualidade abaixo do ideal dentre vários aspectos
solução que otimize a realização de todos correlacionados, fere assim, o Estado, a dignidade
eles, mas ao mesmo tempo não acarrete a
daquela criança e/ou adolescente.
negação de nenhum.
Outro princípio a ser ressaltado é o que não
há nulidade sem prejuízo. Neste se encontra a
Sendo assim, vislumbra-se que o estudo da
questão que, embora o Estado, conforme o art.
norma, bem como de seu artigo, devem ser
208 da CF/88, traça os meios para que o direito à
interpretados em consonância com outros artigos,
educação seja efetivado, nada obsta que este
em respeito aos princípios supracitados.
mesmo direito possa ser concretizado por outros
Não se pode deixar de destacar o art. 5.° da
meios de igual parâmetro ou superior, como é o
CF/88, vez que este trata, dentre os vários
caso da Educação Domiciliar.
princípios, do princípio da liberdade, que a seu
O princípio da subsidiariedade merece ser
turno, é um dos mais importantes, pois segundo tal
apreciado. E, nas lições de do Ministro Franciulli
princípio, pode a sociedade se utilizar de outros
Netto, do Superior Tribunal de Justiça (2005), tem
meios, instrumentos e métodos que acharem aptos
os seguintes conceitos:
e capazes a introduzir e gerar conhecimento, a par
da existência da escola regular. Atrelada ao
Em face do princípio da subsidiariedade,
princípio da liberdade, encontra-se o princípio do entre homem e o Estado existem inúmeras
pluralismo político previsto no art. 1.° da CF88, sociedades menores. Se se imaginar um
em seu inciso V. Por este princípio, deve-se círculo de várias esferas concêntricas,
entender que o cidadão é livre para agir da maneira dever-se-á evidenciar que se deve dar
que bem lhe aprouver, agindo assim conforme suas prioridade a sociedades menores. Em outras
escolhas pessoais, sem a interferência de Estado. palavras, as maiores devem abster-se de
realizar aquilo que poderá ser feito pelas
Da mesma forma traduz Fernandes (2011, p. 224):
menores [...] O corolário daí decorrente é o
de que, como a responsabilidade primeva
Por pluralismo político, decorre um da educação dos filhos compete à família e
desdobramento do princípio democrático, como a família antecedeu o Estado, daí
autorizando em uma sociedade a existência
exsurge que ela possui não uma mera
de uma constelação de convicções de
faculdade, mas sim um verdadeiro direito.
pensamento e de planos e projetos de vida,
todos devidamente respeitados. Isso
significa que o Estado não pode Desse modo, insurge tal princípio no fato de
desautorizar nem incentivar nenhum. Todos que o que as unidades menores não puderem fazer,
têm o mesmo direito e liberdade de deleguem para as maiores. Ou seja, família pode
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educar meus filhos. Revista Cláudia. São Paulo, fabio_goulart.pdf>. Acesso em: 11 mar. 2013.
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1
Acadêmico do Nono Período do Curso de Direito da Faculdade de Direito Santo Agostinho e membro do Programa
Especial de Tutoria (PET).
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the imprisonment of three to eight years and a fine. do funcionário público que desvia em proveito
However, its qualified form (art. 316, § 2, CP/ próprio ou alheio o que recebeu indevidamente.
1940) presents as a penalty to imprisonment of two Ocorre que a pena mínima prevista para o
twelve years and a fine. Practice is therefore an crime de excesso de exação, na sua forma simples
inconsistency regarding the qualified form, whose (art. 316, § 1.º, CP/1940) é três anos de reclusão.
minimum sentence (two years) is lower than the Em contrapartida, a pena mínima prevista para o
conduct in its simple form (three years). The crime de excesso de exação, na sua forma
qualifying therefore does not fulfill its basic function qualificada (art. 316, § 2.º, CP/1940) é dois anos
to increase the quantum of the penalty based on de reclusão.
the crime in relation to its simplest form, verifying Discutir-se-á, pois, se a previsão legal de uma
a serious attack on the principle of proportionality. pena mínima menor para o crime de excesso de
For the development of this work we used the exação na sua forma qualificada, em relação à sua
deductive method of approach. The technique of forma simples, fere o princípio da proporcionalidade.
data collection was the literature search. Para o desenvolvimento do presente trabalho
foi utilizado o método dedutivo de abordagem. A
Keywords: concussion, excessive exaction, técnica de coleta de dados foi a pesquisa
qualifying, the principle of proportionality. bibliográfica.
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(2012), é forma de cobrança que não condiz com respeito à dignidade humana, Capez (2011)
as determinações legais, já que são utilizados meios reconhece que tal princípio aparece insculpido em
constrangedores, humilhantes e que atingem a diversas passagens da Constituição da República
dignidade da pessoa humana para a efetiva Federativa do Brasil (CRFB), ao abolir alguns tipos
realização da cobrança. Aqui o tributo é devido; de sanções (art. 5.º, XLVII), ao exigir a
entretanto, o meio utilizado para recebê-lo é ilegal. individualização da pena (art. 5.º, XLVI), ao indicar
A forma qualificada do crime de excesso de maior rigor para casos de maior gravidade (art.
exação está tipificada no art. 316, § 2.º, do CP, 5.º, XLII, XLIII e XLIV) e ao prever moderação
que traz a seguinte redação: para infrações menos graves (art. 98, I).
Távora e Alencar (2011) afirmam que há
Concussão divergência doutrinária se o princípio da
Art. 316. [...] proporcionalidade é sinônimo do princípio da
Excesso de exação
razoabilidade ou se não se confunde com este.
[...]
§ 2.º Se o funcionário desvia, em proveito
Para os que entendem que são princípios
próprio ou de outrem, o que recebeu distintos, segundo Távora e Alencar (2011), afirma-
indevidamente para recolher aos cofres -se que o princípio da razoabilidade representa uma
públicos. norma jurídica que conduz o jurista a decisões
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, aceitáveis, ao passo que o princípio da
e multa. proporcionalidade representa um procedimento de
interpretação de norma jurídica tendente a
O agente, portanto, desvia, em proveito concretizar um direito fundamental em dado caso
próprio ou alheio, o que obteve indevidamente. concreto.
Prado (2011) ensina que tal disposição Os que analisam os princípios em questão
constitui uma forma qualificada de excesso de como sinônimos, segundo Távora e Alencar (2011),
exação porque o agente, após praticar a conduta observam que a proporcionalidade conjuga três
delitiva descrita no art. 316, § 1.º, do CP, desvia etapas, a saber: necessidade, adequação e
em proveito próprio ou de terceira pessoa o que proporcionalidade em sentido estrito; enquanto a
recebeu de forma ilícita, sem recolher o tributo aos razoabilidade, não. Tais etapas são detalhadas por
cofres públicos: “verifica-se, por conseguinte, que Lenza (2011, p. 151):
a ação típica se desdobra em dois momentos,
consubstanciados no recebimento indevido do Necessidade: por alguns denominada
tributo ou da contribuição social e no posterior exigibilidade, a adoção da medida que
desvio da res.” (PRADO, 2011b, p. 476). possa restringir direitos, só se legitima se
A forma qualificada do excesso de exação indispensável para o caso concreto e não
se puder substituí-la por outra menos
diz respeito a uma cobrança indevida que
gravosa;
supostamente seria recolhida aos cofres públicos, Adequação: também chamado de
mas que o agente utiliza em proveito próprio ou de pertinência ou idoneidade, quer significar
outrem. A consumação do delito, leciona Prado que o meio escolhido deve atingir o objetivo
(2011b), se dá com o efetivo desvio, ainda que não perquirido;
seja integral, já que a falta do desvio em benefício Proporcionalidade em sentido estrito: sendo
a medida necessária e adequada, deve-se
próprio ou de terceiro importaria na prática do
investigar se o ato praticado, em termos de
excesso de exação na forma simples (art. 316, § realização do objetivo pretendido, supera a
1.º, CP). restrição a outros valores
constitucionalizados. Podemos falar em
3 O PRINCÍPIO DA máxima efetividade e mínima restrição.
PROPORCIONALIDADE NA ÓPTICA
CONSTITUCIONAL E PENAL Busca-se, pois, a maior efetividade no
desenvolvimento da atividade normativa de
O princípio da proporcionalidade tem campo aplicação e interpretação da norma jurídica. A
de estudo no direito constitucional. Verificada a razoabilidade, para Távora e Alencar (2011), não
atual tendência de inter-relação dos ramos do assimila objetivamente essas três etapas. Contudo,
Direito, seus reflexos se estendem ao Direito Penal. tem o condão de orientar o intérprete a não aceitar
Além de encontrar assento na exigência de como válidas soluções jurídicas que conduzam a
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absurdos. Em suma, a base teórica de cada caso sejam praticados. Contudo, desfruta de uma
princípio diverge, porém a finalidade da aplicação tutela a certos bens que ficarão sob a guarda do
de cada um é a mesma e os tornam expressões Direito Penal. A atividade de criação normativa
sinônimas. do Direito Penal bem como sua aplicação deve
O princípio da proporcionalidade, então, visa compensar para os membros da coletividade.
à relação custo/benefício da aplicação da norma Trata-se, pois, de um princípio com larga aplicação
ao caso concreto. Lenza (2011, p. 150) reconhece e com campo de atuação polarizado, segundo
a igualdade entre os princípios em questão e afirma Távora e Alencar (2011, p. 70):
que
[...] Tem-se admitido que ele deve ser
[...] o princípio da proporcionalidade ou da tratado como um “superprincípio”,
razoabilidade, em essência, consubstancia talhando a estratégia de composição no
uma pauta de natureza axiológica que aparente “conflito principiológico”. [...] Por
emana diretamente das ideias de justiça, sua vez, deve ser visto também na sua faceta
equidade, bom senso, prudência, da proibição de excesso, limitando os
moderação, justa medida, proibição de arbítrios da atividade estatal, já que os fins
excesso, direito justo e valores afins; e, da persecução penal nem sempre justificam
ainda, enquanto princípio geral do direito, os meios, vedando-se a atuação abusiva
serve de regra de interpretação para todo o do Estado ao encampar a bandeira do
ordenamento jurídico. combate ao crime.
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Acrescenta-se que a pena quanto ao grave e comina-se uma pena maior para tal (em
excesso de exação (§ 1.º) foi majorada de relação ao crime na forma simples), em
seis meses a dois anos de detenção para
atendimento ao princípio da proporcionalidade,
três a oito anos de reclusão, praticando-se
uma incongruência em relação à forma
verifica-se uma lesão a este postulado.
qualificada (§ 2.º), cuja pena mínima (dois Greco (2011) ainda destaca que as penas, de
anos) é menor do que a conduta na sua acordo com a parte final do art. 59 do CP, devem
forma simples (três anos), num gravíssimo ser necessárias e suficientes para a reprovação e
atentado ao princípio da proporcionalidade prevenção do crime, disposição legal que não é
das penas (PRADO, 2011b, p. 477). observada na determinação da pena do excesso
de exação na forma qualificada.
Ocorre que para o excesso de exação As penas desproporcionais trazem a ideia de
praticado na forma simples comina-se pena mínima injustiça. A ideia de proporção é inata ao ser
de reclusão de três anos, ao passo que para o humano. Determinar uma pena mínima menor ao
excesso de exação praticado na forma qualificada crime de excesso de exação na sua forma
comina-se pena mínima de reclusão de dois anos. qualificada em relação à simples rompe com o ideal
Há uma incongruência em relação à forma de proporcionalidade constitucional e penal
qualificada, o que determina um atentado ao buscado pelo Estado Democrático de Direito. Em
princípio da proporcionalidade das penas. suma, a pena deve ser razoável, devendo ser criada
Greco ensina que a proporcionalidade das e aplicada proporcionalmente à magnitude da lesão
penas deverá ser aferida em três planos: legislativo, do bem jurídico tutelado.
judicial e no momento da execução da pena. Ou:
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sobreleva, assim, na parte especial do
código penal, a necessidade de se apurar a
proporcionalidade das penas, que deverá A pena mínima cominada para o crime de
ser aferida em três planos distintos, vale excesso de exação, na forma qualificada, é de dois
dizer, no legislativo, que ocorre quando da anos de reclusão, ao passo que a pena mínima
criação da figura típica; no judicial, que é cominada para o mesmo crime na forma simples é
levado a efeito quando o julgador aplica a três anos de reclusão.
pena ao caso concreto; e no momento da
O princípio da proporcionalidade aplicado ao
execução da pena, quando o agente,
efetivamente, sente os efeitos da sua Direito Penal determina que a pena deve estar
condenação (GRECO, 2011, p. 28-29). proporcional ou adequada à magnitude da lesão
ao bem jurídico protegido e à periculosidade
A incongruência verificada na pena do criminal do agente.
excesso de exação em relação à forma qualificada As qualificadoras, nesse sentido, assimilam
atenta contra o princípio da proporcionalidade em o ideal de proporcionalidade na medida em que
qualquer dos planos em que este deverá ser aumentam o quantum da pena-base por conta de
apurado: a atividade legislativa não se preocupou o crime ter sido praticado de maneira mais
em punir o excesso de exação quando praticado gravosa.
de maneira mais grave; o Judiciário dissemina essa Ocorre que, para a modalidade qualificada
desproporção quando aplica as penas cominadas do crime de excesso de exação (art. 316, § 2.º,
às duas modalidades; e o agente sofre a CP), comina-se uma pena mínima menor do que
consequência de ser punido de maneira mais para o excesso de exação na forma simples (art.
significativa por um quantum de pena maior quando 316, § 1.º, CP).
pratica o crime na forma simples, já que no Assim, não se verifica proporcionalidade na
momento da execução da pena sente efetivamente cominação de penas para o crime de excesso de
os efeitos da sua condenação. exação levando em consideração o fato da
Pelo princípio da proporcionalidade das qualificadora não aumentar a pena base em um
penas, destaca Prado (2011b), deve existir uma quantum superior à pena cominada para o crime
medida de justo equilíbrio entre a atividade na forma simples.
legislativa (abstrata) e a atividade judicial A lesão ao princípio da proporcionalidade se
(concreta). verifica nas três etapas em que tal postulado deve
Ora, se a determinação de uma qualificadora ser analisado: na etapa legislativa, já que o legislador
visa, pois, punir o crime praticado de maneira mais não se preocupou em punir o crime em estudo
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quando praticado de maneira mais grave; na etapa Oficial [dos] Estados Unidos do Brasil.
judicial, visto que o juiz é orientado pela Brasília, DF, 27 out. 1966.
determinação legal tipificada; e na etapa da
execução da pena, momento em que a atividade CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal:
estatal punitiva torna-se efetiva e o agente cumpre parte geral. v. 1. 15. ed. São Paulo: Saraiva,
uma pena maior quando comete o crime de excesso 2011.
de exação na forma simples.
Em suma, há uma incongruência em relação GRECO, Rogério. Curso de direito penal:
à forma qualificada do crime de excesso de parte especial. v.. II. 8. ed. rev. ampl. e atual.
exação, a qualificadora não cumpre sua função Rio de Janeiro: Impetus, 2011.
básica de aumentar o quantum da pena base do
crime em relação a sua forma simples, e o ideal GRECO, Rogério. Curso de direito penal:
constitucional e penal de proporcionalidade buscado parte especial. v. IV. 8. ed. rev. ampl. e atual.
pelo Estado Democrático de Direito é fragilizado. Rio de Janeiro: Impetus, 2012.
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Tiago Barbosa1
1
Acadêmico do Quarto Período do Curso de Direito da Faculdade de Direito Santo Agostinho e membro do Programa
Especial de Tutoria (PET).
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e ainda hoje sobrevive em alguns países. O Código (pecado) cometido. De certa forma, o regime
de Hamurabi2, reconhecido como o documento do Estado absolutista, impunha-se uma
pena a quem, agindo contra o soberano,
mais antigo sobre leis penais, tinha em sua
rebelava-se também, em sentido mais que
legislação a aplicação da pena de morte: figurado, contra o próprio Deus.
2
Disponível em: <http://www.culturabrasil.org/zip/hamurabi.pdf>. Acesso em: 8 out. 2013.
3
Disponível em: <http://www.amnistia-internacional.pt/dmdocuments/ListadePaisesPenaMorte.pdf>. Acesso em:
25 out. 2013.
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pena, não só voltada para quem delinquiu, mas o homem não só a cometer delitos, mas desmotivá-
também para toda a sociedade, fazendo com que -lo a realizar qualquer tipo de ação. Segundo
a intimidação da pena passe pelo delinquente e Kovács (1992, p. 14), “o medo é a resposta
reflita na sociedade. E, então, observa-se psicológica mais comum diante da morte.”. Porém,
novamente a presença do medo para a efetivação o medo da morte não se apresenta de forma
dessa ação preventiva. Sim, o medo se faz equânime para todos. Para alguns, a morte é só
presente aqui, pois, sem medo, não há intimidação. mais transição. Para outros, a morte é o início de
De acordo com Bitencourt, para as duas teorias, uma nova vida ou a morte é o fim que não necessita
tanto a absoluta quanto a relativa, a pena é de explicação e que a todos estão destinados. E o
considerada como um mal necessário; porém, na que faz a morte ter tantas facetas é o sentido
preventiva, essa necessidade da pena não se baseia sobrenatural dado a ela, a religião e a crença de
na ideia de realizar justiça, mas na função, já vida após a morte diminuem o medo em relação a
referida, de inibir, tanto quanto possível, a prática ela. Segundo Gire (2013):
de novos fatos delitivos.
Portanto, vê-se, claramente, a teoria Algumas culturas, como a hindu, imaginam
utilitarista sendo usada como justificativa do objetivo um padrão circular da vida e da morte, onde
uma pessoa está pensada para morrer e
das penas no livro de Cessare Beccaria. Como
renasce com uma nova identidade. Esta
exemplo, no seguinte trecho: saída e reentrada na vida pode ocorrer várias
vezes. Isto contrasta com a visão cristã
O objetivo da pena, portanto, não é outro onde se acredita que a morte ocorra apenas
que evitar que o criminoso cause mais uma vez. No entanto, os cristãos não
danos à sociedade e impedir a outros de acreditam que tudo cessa com a morte. A
cometer o mesmo delito. Assim, as penas e pessoa perde a sua forma corporal, mas
modos de infligi-las devem ser escolhidos continua em espírito, onde há
de maneira a causar a mais forte e duradoura consequências: os fiéis - fiéis que
impressão na mente de outros, com o mantiveram a fé - são recompensados com
mínimo de tormento no corpo do criminoso alegria eterna no céu, e os pecadores
(BECCARIA, 2012, p. 37). procedem para o inferno, onde há dor e
sofrimento sem fim.
Assim, como supracitado, para Beccaria, as
penas devem ser escolhidas de modo que causem Então, a crença e a religião dão uma saída
forte e duradoura impressão na mente de outros. para morte.
Sendo assim, a pena de morte não cumpre esse O Brasil é um país que possui população, em
papel, pois, ele também diz que a execução de um sua maioria, constituída de pessoas cristãs.
criminoso é um espetáculo momentâneo e, assim, Portanto, a crença de vida após a morte é
a impressão causada na mente dos outros também compartilhada pela maioria dos brasileiros, segundo
é momentânea e incapaz de inibir outras pessoas o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e
a cometerem crime. Beccaria diz que melhor que Estatística 2010. Mesmo que essa concepção de
o medo da morte é o “exemplo contínuo de um vida após a morte venha dividida em uma
homem privado de sua liberdade, condenado a eternidade no paraíso ou eternidade no inferno,
pagar com o seu trabalho, como uma besta de carga ainda assim não deixa de ser outra vida depois
os males que causou à sociedade.” (2012, p. 81). dessa. A existência ainda se faz presente em outro
Desse modo, o medo de morrer é menor do que o
plano, tirando a força do medo da finitude da vida.
medo de se tornar um sofredor durante a vida.
Mas, como o país possui diversidade de crenças,
há também diversas visões sobre a morte, como
5 MEDO DA MORTE COMO PUNIÇÃO
exemplo da reencarnação no espiritismo ou em
religiões indígenas. Ainda no capítulo que trata da
Por que o medo da morte se torna insuficiente
pena de morte, Beccaria diz (2012, p. 85):
para a prevenção do cometimento do crime?
Porque a morte não é enxergada como o fim da
Então, a religião se apresenta na mente dos
vida, ao passo que morrer, para alguns, não é o fim fora da lei, e apresentando quase a certeza
de tudo; morrer, para alguns, não quer dizer deixar da felicidade eterna para um arrependimento
de existir. Então, a morte não causa medo. O medo simples contribui muito para diminuir o
é uma forte arma intimidadora, capaz de desmotivar horror daquela última tragédia.
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Para alguns povos, a crença da vida após a maiores medos da humanidade. Esse medo
morte era utilizada para o propósito de diminuir o proporciona a motivação que a raça humana possui
medo da morte para estimular o heroísmo e assim para poder continuar buscando seu
fazer surgir guerreiros que poderiam lutar sem desenvolvimento e sua sobrevivência nesse mundo
temer o fim da sua existência. Era o caso da vasto e, por que não dizer, no universo.
mitologia nórdica dos povos que habitavam países A morte que tanto intriga o homem é algo
hoje conhecidos como Suécia, Dinamarca, Noruega inevitável e um dia atingirá a todos. Deixar de
e Islândia. Essa mitologia é narrada em forma de existir é uma possibilidade que passa pela cabeça
poesia chamada as Edas, escrita em 1056 e uma e faz refletir sobre o futuro sem o seu ser. A morte
versão em prosa mais moderna, escrita em 1640. chegou até ser reconhecida como a “musa da
Esses dois escritos narram a existência de um filosofia” por Schopenhauer (1788-1860). Esse
paraíso chamado Valhala, no qual os guerreiros que acontecimento, além de intrigante, é bastante
morriam bravamente em batalha eram escolhidos significativo para o ser humano, pois ele é o único
pelo deus Odin para uma vida de festas e animal que tem consciência do fim de sua
comemorações. Ou seja, guerreiros que não existência.
possuíam esse perfil eram considerados inaptos Existe um feriado reservado para os que se
para Valhala. Dessa forma, o medo da morte era foram. Enquanto no Brasil o dia dois de novembro,
tirado para que surgissem guerreiros violentos e dia de finados, é o dia de lembrar com tristeza dos
sedentos por batalhas (BULFINCH, 2002, p. 380- que se foram; no México esse dia é celebrado com
-382). festa e comemorações, baseadas na crença da vida
Assim, sem o medo da morte, a pena de após a morte.
capital se torna inútil, incapaz de prevenir o crime, Os dois acontecimentos que marcam a
pois a crença de viver uma vida após essa, de obter passagem de um indivíduo na terra são o seu
o perdão divino por todos os seus atos retira a força nascimento e sua morte. A morte causa mais
da pena de morte. De acordo com Beccaria (2012, aflição porque deixar de existir é um ponto obscuro
p. 82): diante do seu desconhecimento, porém, a crença
em vida após a morte é a luz que ilumina e afasta
O terror da morte causa uma impressão tão esse medo. Logo, se não há medo da morte, não
leve que não tem força suficiente para
há medo da pena capital, pois o medo desta
resistir ao esquecimento natural dos seres
humanos, mesmos nas coisas mais depende do medo daquela.
essenciais, especialmente quando Alguns indivíduos que cometeram
estimulada pela paixão. atrocidades contra seus semelhantes nunca
pensaram na dor e no sofrimento que causaram,
Desta forma, pode-se afirmar que o medo mas pensam no perdão divino, algo tão precioso
da morte causa pouco ou nenhum impacto na vida para sua crença, para uma vida feliz e eterna após
de um indivíduo. Assim e consequentemente, essa vida, objetivo para o qual os seus
inutiliza a pena capital pela sua incapacidade de arrependimentos são válidos.
prevenir o crime.
REFERÊNCIAS
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
BECKER, Ernest. A negação da morte: uma
Viu-se que o medo é um sentimento capaz abordagem psicológica da finitude humana.
de fazer com que o homem repila seu desejo de Tradução de Luís Carlos do Nascimento Silva.
agir. Ao sentir medo, um indivíduo recua diante Rio de Janeiro: Record, 2007. Título original: The
suas vontades e assim se deixa influenciar por esse denial of death.
sentimento. A incapacidade de fazer algo perante
o medo é, às vezes, tão forte que uma pessoa pode BITENCOURT, Cézar Roberto. Tratado de
ficar totalmente impotente e não esboçar nenhuma direito penal: parte geral. São Paulo: Saraiva,
reação ou então suprimir sua vontade interna. O 2012.
medo impede o ser humano de realizar ações que
são, às vezes, tão simples, mas que, diante do BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da
desconhecido, tornam-se tão difíceis de realizar. mitologia: história de deuses e heróis. Tradução
Como visto, a morte é credora de um dos de David Jardim Júnior. 26. ed. Rio de Janeiro:
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Acadêmico do Oitavo Período Matutino do Curso de Direito da Faculdade de Direito Santo Agostinho e membro do
Programa Especial de Tutoria (PET).
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O presente resumo visa o estudo das concepções e para que cada país perceba que a sua cultura possui
universalistas e multiculturalistas no que tange aos deficiências. E, assim, chegar a soluções de como
Direitos Humanos, buscando frisar o embate entre legitimar os Direitos Humanos universalmente sem
posições tão diversas. Além disso, tem por finalidade desrespeitar a cultura de cada país. Outra hipótese
pesquisar as razões que levam cada país seguir uma seria a de resgatar os preceitos de dignidade da
ou outra concepção, e, concomitantemente analisar pessoa humana em cada povo e, a partir daí, definir
as soluções para atenuar tais divergências. Para o que seriam os Direitos Humanos. No
aqueles que defendem o universalismo, os direitos desenvolvimento deste estudo científico, a técnica
humanos são universais e inerentes à própria de pesquisa utilizada será bibliográfica, podendo
humanidade. Todos os países devem obedecer aos
haver, se necessário, a utilização da técnica de
preceitos dos direitos humanos, independentemente
pesquisa documental. As fontes de pesquisas serão
de serem signatários de um Tratado ou não, para
as obras bibliográficas, documentos e páginas
que se efetivem, de fato, a paz e a segurança
eletrônicas. É mister salientar que a tentativa de
internacional. Diferentes destes, os multiculturalistas
pregam um ideal de que a cultura do país é intrínseca legitimar os Direitos Humanos na porção oriental
a ele. Que cada país possui a sua concepção de do globo terrestre encontra uma considerável
paz, dignidade da pessoa humana, ética, moral, resistência, por sua cultura divergir em vários pontos
política. Portanto, os Direitos Humanos são da do ocidente. Acontecimentos recentes como o
diferentes em cada país, não sendo possível da Síria têm mostrado essa resistência diante da
universalizá-los. Frente a isso, faz-se o seguinte tentativa da imposição desses direitos. Dessa
questionamento: quais são as medidas eficazes para maneira, devem-se buscar, de maneira urgente,
que os Direitos Humanos tenham legitimidade em medidas eficazes para a emancipação dos Direitos
todos os países? Uma hipótese seria a realização Humanos.
de um debate intercultural em que cada país exponha
o seu ponto de vista para que haja uma construção Palavras-chave: Universalismo. Multiculturalismo.
do respeito da cultura de um país para com o outro Direitos Humanos. Legitimidade.
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Acadêmica do Quinto Período Matutino do Curso de Direito da Faculdade de Direito Santo Agostinho e membro do
Programa Especial de Tutoria (PET).
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A história mostra que a partir do momento em que arbitrário pelo Poder Judiciário. Sem que haja
o homem passou a construir pequenas necessidade, os magistrados desconsideram
comunidades, começou a desenvolver mais bem pessoas jurídicas de forma descomedida e
as suas potencialidades. Em consequência, infundada, lesando direitos destas, bem como de
aumentou sua qualidade de vida. O seus membros. Deve-se ressaltar que a regra é o
desenvolvimento da espécie humana fez com que respeito ao princípio da autonomia da pessoa
as relações econômicas e comerciais se tornassem jurídica, sendo a desconsideração uma
mais complexas. Baseando-se na premissa de que, excepcionalidade a ser utilizada pelo órgão
ao se agrupar, torna-se mais eficiente a consecução judicante em casos pontuais. A desconsideração
de suas finalidades, os seres humanos passaram a não deve enfraquecer o instituto da pessoa jurídica;
se coligar, a fim de alcançar lucros ou atingir seus mas, sim, fortalecê-lo, punindo os que a utilizam
objetivos particulares. Surge, então, o conceito de com má-fé. Por conseguinte, demonstrada a
pessoa jurídica, entendida como “unidade de maneira exagerada com a qual o Poder Judiciário
pessoas naturais ou de patrimônios, que visa à brasileiro aplica a disregard doctrine, a fim de
consecução de certos fins, reconhecida como que seja combatido o uso de má-fé da pessoa
sujeito de direitos e obrigações.” (DINIZ, 2012, p. jurídica sem que haja lesão a direito de seus
264). Porém, pelo fato de a pessoa jurídica ser membros, os magistrados devem minuciosamente
sujeito de direito autônomo, ela acaba sendo investigar e identificar nos casos concretos provas
utilizada para prática de atos fraudulentos, incontestáveis de que houve o abuso de
desviando-se de sua finalidade e lesando credores personalidade, responsabilizando os membros que
e terceiros sem que os seus membros sejam assim atuam, sem que haja abuso por parte do
responsabilizados. Com o fim de combater essa órgão jurisdicional.
prática, o legislador pátrio positivou, no artigo 50
do Código Civil brasileiro de 2002, o instituto da
desconsideração da personalidade jurídica, baseado REFERÊNCIAS
na disregard doctrine, de origem dos Tribunais
norte-americanos. Em síntese, trata-se de uma DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil
prerrogativa atribuída ao Judiciário de brasileiro: teoria geral do direito civil. 29. ed.
desconsiderar episodicamente a personalidade São Paulo: Saraiva, 2012.
jurídica, em casos de desvio de finalidade ou
confusão patrimonial, a fim de alcançar os PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de
membros que abusaram da personalidade direito civil. 22. ed. Rio de Janeiro: Forense,
autônoma da organização. Todavia, pesquisas 2007.
bibliográficas e jurisprudenciais permitem afirmar
que o instituto da desconsideração, pelo fato de COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito
estar positivado no ordenamento jurídico brasileiro, comercial. v. 1. 16. ed. São Paulo: Saraiva,
vem sendo utilizado de modo desenfreado e 2012.
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Graduando em Direito pela Faculdade de Direito Santo Agostinho e membro do Programa Especial de Tutoria (PET)
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Graduanda em Direito pela Faculdade de Direito Santo Agostinho e membro do Programa Especial de Tutoria (PET).
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e não voluntária quando “quem morre não tem humanitária, movida pela misericórdia, sendo que
competência ou não consegue expressar uma sua prática se processa por motivo de solidariedade
atitude sobre a morte.” (LUPER, 2010, p. 211). ou compaixão, cujo intento é o de liberação do
Assim, quando se retira o tratamento sofrimento do doente, envolvendo o próprio autor
necessário para manter a vida de um paciente, é emocionalmente no episódio. O móvel é a piedade
eutanásia passiva, sendo um ato mais lento de que leva o agente à conduta que libera o enfermo
misericórdia do que fornecer ao paciente uma de sua agonia, antecipando o momento de sua
“morte boa e limpa”, ao realizar de forma ativa morte.
alguma ação para encerrar a vida. Carvalho (2001) É possível confundir eutanásia passiva e a
traz uma definição de eutanásia passiva sendo uma ortotanásia. Etimologicamente ortotanásia advém
abstenção da prestação de tratamentos médicos do grego orthós, que significa normal, correta, e
ordinários ou proporcionados – úteis – que poderiam thánatos, morte, designando, portanto, a morte
prolongar a vida do paciente e cuja ausência natural ou correta, no seu tempo, sem abreviação
antecipa a morte. do tempo de vida (eutanásia) e nem prolongamentos
Tem-se outra classificação, que se refere à irracionais do processo de morrer (distanásia).
eutanásia natural e à provocada. Cabette (2011) Do ponto de vista da misericórdia, uma vez
as diferencia da seguinte maneira: a primeira está optado pela morte, é preferível evitar o sofrimento
ligada ao óbito que ocorre sem intervenções de prolongado oriundo de uma morte lenta e dolorosa,
terceiros e sem sofrimento. Já a provocada ou do prolongamento do processo de morrer, sendo
voluntária é aquela que se refere ao uso de alguma certamente o mais misericordioso a fazer,
forma pela qual a conduta humana, seja por parte aparentemente. Essa é a escolha que muitos fazem
de outrem ou do próprio doente, ajuda a terminar pelos seus animais de estimação. Os donos buscam,
com a agonia, amenizando o sofrimento, abreviando assim, dar um fim mais misericordioso e humano,
seu período de vida, comissiva ou omissivamente, algo que, de certa forma, mostra que o conselho
de maneira direta ou indireta. A provocada se de Jaime talvez seja válido. Talvez permitir que
subdivide em autônoma e heterônoma. Na primeira, pacientes com doenças incuráveis, e sofrimento
não há intervenção de terceiros e é conhecida por interminável, possam escolher a eutanásia ativa em
suicídio; já a segunda, ocorre atuação de terceiros vez da passiva seja o mais humano a se fazer.
para a eliminação do sofrimento e da vida do Enquanto a eutanásia passiva, segundo
doente. Tedesco (2012), é moralmente permitida, e
Outra classificação tem lastro na atitude do amplamente praticada, a eutanásia ativa é polêmica.
agente quanto ao curso vital do enfermo, sendo É este autor que traz o que a American Medical
então eutanásia solutiva e eutanásia resolutiva. A Association (Associação Médica Americana) diz
solutiva não apresenta qualquer dilema moral, ético sobre as duas práticas, em uma distinção bem
ou sob o prisma jurídico, sendo apenas a ajuda lúcida. Esse grupo, em 1991, adotou uma política
prestada para a ocorrência de uma boa morte, sem chamada Decisions Near the End of life
que haja o encurtamento do curso vital, sendo (Decisões perto do fim da vida), que permite a
apenas assistência física, moral, espiritual e retirada e a negação de tratamento de suporte à
psicológica ao enfermo. “É o cumprimento do dever vida em respeito à escolha autônoma do paciente,
moral de assistência e solidariedade humana, de mas proíbe tanto a eutanásia ativa quanto o suicídio
modo que nada pode haver de reprovável em tal assistido por um médico. Essa proibição se justifica
conduta.” (CABETTE, 2011, p. 21). com base na diferença moral importante entre
Na eutanásia resolutiva, atua-se de forma a matar e deixar morrer. “A ideia é que, embora
reduzir o tempo do curso vital no suposto interesse possa haver casos em que seja permitido deixar
do doente, com seu consentimento ou de seus alguém morrer, matar está numa categoria
representantes, consentimento este marcado pela totalmente diferente em termos morais.”
espontaneidade e livre consciência. Ainda há (TEDESCO, 2012, p. 116).
autores que subdividem a resolutiva em três: Cabette define a eutanásia ativa sendo
libertadora ou terapêutica, eugênica ou “aquela que se pratica através de atos que ajudam
selecionadora e a eutanásia econômica. Para este o doente a morrer, buscando com isso aliviar ou
estudo cabe apenas falar sobre a libertadora, que eliminar seu sofrimento” (p. 23), e ainda a subdivide
é segundo Cabette “genuinamente uma espécie de em direta ou indireta, de acordo com o fim
eutanásia” (2011, p. 22), sendo caracteristicamente almejado pelo autor. A eutanásia ativa direta é a
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que busca principalmente a diminuição do lapso foram presentes de seu pai, jamais derrotado em
temporal de vida do enfermo por meio de atos batalha, líder nato. Contudo, em um combate teve
positivos, comissivos, que o ajudam a morrer. Já a um ferimento, que a princípio não era nada a se
eutanásia ativa indireta tem duas finalidades, sendo importar, mas a pedido de sua esposa, entrega-se
a primeira diminuir o sofrimento e ao curandeirismo da maegi Mirri Mas Duur. O
concomitantemente reduzir o tempo de sofrimento ferimento piora, e a gravidade da situação é
e vida. É perceptível que a eutanásia ativa indireta retratada pela queda do cavalo, o que mostra toda
pode ser vista como a eutanásia pura, genuína, em sua fraqueza. Uma vez que um khal que não pode
que se procura agir com misericórdia, aliviando o montar, não pode liderar.
sofrimento físico e psíquico do enfermo, sempre Desesperada e cega aos avisos dos
realizando o abreviamento da vida. companheiros de sangue de Drogo, Daenerys
Rachels (1975) argumenta, em conformidade novamente confia seu amado sol-e-estrelas à
com Jaime Lannister, no artigo Active and Passive magia da maegi. Drogo é salvo, mas à custa de
Euthanasia (Eutanásia passiva e ativa), que o ato uma vida, a vida do filho de Daenerys, ainda em
direto da eutanásia ativa pode ser uma escolha seu ventre. A criança que foi profetizada como o
misericordiosa. Proibi-la, enquanto a passiva, é Garanhão que Montará o Mundo, e, o homem
permitida é optar e impor, ao sancionar, uma linha que sobrevive ao acordo, não é mais o poderoso
de ação que causa e prolonga ainda mais o khal Drogo. É um vegetal, com olhar perdido. Tão
sofrimento. Rachels argumenta ainda que matar e vegetal que até Sor Jorah Mormont observa:
deixar morrer são atos de equivalência moral. “Parece gostar do calor” (p. 534) enquanto Drogo
Analisando, em conformidade com Tedesco está deitado ao sol sem expressão e com moscas
(2012), de forma sistêmica, não há distinção moral ao seu redor. Ainda vive, mas não é a mesma vida
entre matar e deixar morrer, pois ambas são ações de antes. Considerando a condição do marido como
que levam a uma avaliação detalhada sobre as permanente com os dizeres da maegi, Daenerys
circunstâncias de cada caso em questão, mas têm toma uma decisão de misericórdia, sufoca o marido
como objetivo a morte. com uma almofada.
Filósofos contemporâneos, como Brock A maioria dos leitores se compadece da
(1992) não veem diferença entre matar e deixar situação e não se horroriza com a atitude da
morrer um enfermo, sendo que a retirada do khaleesi, mas ela realiza um assassinato
tratamento médico é causar a morte de forma premeditado a um ser humano indefeso. Cruel fora
intencional, assim como matar. Logo, por a do mundo ficcional? Sim. Mas, como então
eutanásia passiva ter a morte como intenção, trata- Daenerys não é julgada como vilã, assassina, pelos
-se de um ato de matar, tanto quanto a eutanásia leitores?
ativa. A situação de Drogo não difere de casos reais
Ao longo da leitura, e só de pensar na situação e graves, de lesões cerebrais traumáticas e doenças
de Bran sem conhecer as circunstâncias, é fácil degenerativas, que afetam a mente ao ponto de o
notar que sua deficiência, mesmo grave, não chega enfermo não ser mais a pessoa que era, e fica
a justificar sua morte por misericórdia, ao contrário mais clara quando comparada à de Bran Stark. A
da situação do segundo personagem a ser indignação frente à sugestão de Jaime Lannister,
analisada. para que usem uma espada para matar o garoto
lhe dando uma morte boa e limpa, tem como base
5 A ESPERA PELO RETORNO DA VIDA a esperança da vida ainda a ser vivida por Bran,
ALÉM DO MAR ESTREITO mesmo com dificuldades. A situação de Drogo é
bem diferente.
Mais à frente, no mesmo livro, A Guerra dos Para Drogo, não há esperanças, tanto que
Tronos, Daenerys Targaryen age, por misericórdia, diante da pergunta da khaleesi “Quando [ele]
num ato admirável e aceitável como legítimo e voltará a ser como era?”, Mirri Mas Duur responde
única opção, na visão de muitos leitores, diante das “quando o sol nascer no ocidente e se puser no
circunstâncias particulares do caso de Khal Drogo, oriente. Quando os mares secarem e as montanhas
seu marido. Têm-se agora novas questões a serem forem sopradas pelo vento como folhas. Quando
pensadas e ponderadas. seu ventre voltar a ganhar vida para dar à luz um
Outrora, Khal Drogo fora temido, invencível, filho vivo. Então, e não antes, ele regressará.” (p.
cujo cabelo nunca fora cortado, os sinos presos 534).
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Mesmo em uma obra literária e ficcional, circunstância, ainda mais quando se trata do
algumas dessas palavras remetem ao impossível, processo de morrer alheio, pois, matar ou deixar
ao nunca. Khal Drogo nunca voltará a ser o que morrer, independente da escolha, o que não se
era e é por isso que Daenerys age daquela forma. espera é o prolongamento do sofrer alheio.
6 CONCLUSÕES REFERÊNCIAS
O ponto importante a ser analisado é que a ALVES, Ricardo Barbosa. Eutanásia, bioética
aceitação da eutanásia refere-se à situação e e vidas sucessivas. Sorocaba: Brazilian Books,
circunstâncias particulares de cada caso. Uma 2001.
solução, segundo Rosenvald (2009), é aplicar a
técnica de proporcionalidade, deixando para, no AMERICAN MEDICAL ASSOCIATION.
caso concreto, dar contornos efetivos ao direito à Council on Ethical and Judicial Affairs.
morte digna (boa e limpa), dependendo das Decisions Near the End of Life. Journal of the
circunstâncias concretas. Assim, o Biodireito alerta American Medical Association. Redding
que o paradigma válido para toda ciência é o de (Califórnia, USA), n. 276, 1992, p. 2.229-2.233.
que o conhecimento deve estar sempre a serviço
da humanidade, respeitando a dignidade do ser BROCK, Dan W. Voluntary active euthanasia.
humano. Hastings Center Report. New York, v. 22, n. 2,
O estado de Khal Drogo, apesar de ser mar./ abr. 1992, p. 10-22.
também uma enfermidade, era diferente do estado
de Bran Stark. As características morais e CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e
emocionais envolvidas diferem tanto quanto a ortotanásia: comentários à Resolução 1.805/06
gravidade médica. Mesmo diante das diferenças, CFM. Aspectos éticos e jurídicos. Curitiba:
as respostas não são fáceis, pois envolvem Juruá, 2009. 1.ª reimpressão em 2011.
decisões profundas e radicais. Argumentos éticos
e valores hão de ser usados para justificação pró CARVALHO, Gisele Mendes de. Aspectos
ou contra. Contudo, é necessária a análise real do jurídico-penais da eutanásia. São Paulo:
contexto para balizar e fundamentar as decisões. IBCCrim, 2001.
É certo que a eutanásia continuará a suscitar
grande polêmica e inúmeras ponderações LUPER, Steven. A filosofia da morte.
filosóficas, morais, jurídicas e religiosas, pois o tema Tradução Cecilia Bonamine. São Paulo: Madras,
é complexo. 2010.
Quanto aos personagens, Bran Stark se
recupera do coma, e mesmo com a impossibilidade MARTIN, George R. R. A guerra dos tronos.
de andar, tem uma vida repleta de aventuras. Tradução de Jorge Candeias. São Paulo: Leya,
Daenerys também segue sua vida, sempre se 2010.
lembrando de seu sol-e-estrelas, mas com
saudades em vez de arrependimentos. A história RACHELS, James. Active and passive
segue seu curso e se mantém tão impressionante euthanasia. New England Journal of
nos quesitos ficcionais fantásticos quanto nas Medicine. Massachusetts (UK), v. 292, n. 2, 9-
tramas morais, filosóficas, psicológicas de cada 1-1975, p. 78-80.
personagem.
Todo o livro A Guerra dos Tronos apresenta ROSENVALD, Nelson. Direito civil: teoria
uma linguagem acessível e há originalidade desde geral. 8. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.
a narração, que a cada capítulo se concentra em
terceira pessoa limitada a centrar em um único TEDESCO, Matthew. Seria um ato de
personagem. Não há maniqueísmo e os misericórdia: escolha entre a vida e a morte em
personagens travam lutas interiores a todo instante, Westeros e para lá do mar estreito. In:
além das exteriores, o que aproxima ainda mais o JACOBY, Henry. A guerra dos tronos e a
leitor, o instigando a imaginar e pensar como agiria filosofia. Tradução de Patrícia Azeredo. Rio
em cada momento e circunstância. de Janeiro: BestSeller, 2012. (Coleção Cultura
Pensar e ponderar em cada momento e Pop, 1).
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