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São José,
Banca Examinadora:
_______________________________________________________
Profª. Especialista Gabriela Steffens Sperb - Orientador
_______________________________________________________
Prof. - Membro
_______________________________________________________
Prof. - Membro
AGRADECIMENTOS
A DEUS que, iluminou meu caminho em busca da realização dessa nova fase de
minha vida – concluir com êxito a faculdade.
Aos meus pais, Telmo Renato Lopes dos Santos e Lindoner Souza Santos que, através
dos incentivos, pelo carinho, atenção, estímulo, motivação e compreensão durante a
realização desta construção teórica, contribuíram para o meu sucesso acadêmico.
Ao meu irmão Guilherme Souza Santos que, com seu incentivo e amizade ao longo
desses anos de convivência, ajudaram na minha formação pessoal e profissional.
A Professora Gabriela Steffens Sperb, minha orientadora, pela disponibilidade e
atenção, apoio e pela orientação segura e competente.
Ao corpo docente de professores, que compartilharam seus conhecimentos,
possibilitando enriquecer meus estudos.
E a todos que de alguma maneira, seja direta ou indiretamente, contribuíram para
minha formação acadêmica.
“Em tão breve trajeto cada um há de acabar a sua tarefa.
Com que elementos? Com os que herdou, e os que cria. Aqueles
são a parte da natureza. Estes, a do trabalho”.
Rui Barbosa
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 11
ANEXOS............................................................................................................................. 71
8
RESUMO
LISTA DE ABREVIATURAS
Abr. Abril
Ac Acórdão
APC Apelação Cível
art (s). Artigo (s)
CDC Código de Defesa do Consumidor
CF Constituição Federal
CRM Conselho Regional de Medicina
CFM Conselho Federal de Medicina
Dec. Decreto
DF Distrito Federal
Dr. (a) Doutor (a)
ed. Editora
Ex. Exemplo
f. (s) Folha (s)
GO Goiás
inc (s). Inciso (s)
Jan. Janeiro
Mai Maio
Mar Março
Min. Ministro
MP Ministério Público
n. Número
n.º (s) Número (s)
OAB Ordem dos Advogados do Brasil
Out. Outubro
p. (s) Página (s)
p. Publicado
RE Recurso Extraordinário
Rec Recurso
Rel. Relator
REsp. Recurso Especial
10
RJ Rio de Janeiro
RT Revista do Tribunal
RS Rio Grande do Sul
SC Santa Catarina
Set. Setembro
SP São Paulo
SPU Secretaria do Patrimônio da União
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
T. Turma
v. volume
11
INTRODUÇÃO
1 RESPONSABILIDADE CIVIL
1
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 4.
14
lei 11ª: “si membrum rupsit, ni cum eo pacit, tálio esto” (se alguém fere a outrem,
que sofra a pena de Talião, salvo se existiu acordo). A responsabilidade era objetiva,
não dependia da culpa, apresentando-se apenas como uma reação do lesado contra a
causa aparente do dano.2
Compreende-se que pela Lei do Talião, a justiça do lesado era realizada por suas
próprias mãos. A vítima aplicava ao seu ofensor dano parecido com o qual havia sofrido.
O professor Delton Croce comenta a forma de reparação da antiguidade:
[...] a provocação de um dano propiciava a imediata e pronta reação vingativa guiada
pela brutalidade do instinto e de conseqüência selvagíneas em relação ao ofensor,
desnudada de qualquer preocupação com regras adequadas ou limitações, com
objetivo apenas de reparar o mal pelo mal.3
Ao longo dos anos torna-se claro e evidente que significativas mudanças ocorreram
dentro da responsabilidade civil, no transcorrer deste trabalho espera-se demonstrar essas
mudanças.
Maria Helena Diniz, ainda, sobre a evolução da responsabilidade ainda afirma que,
“nos primórdios da civilização humana, dominava a vingança coletiva, que se caracterizava
pela reação conjunta do grupo contra o agressor pela ofensa a um de seus componentes”. 5
Foram os romanos os primeiros juristas a aplicarem a responsabilidade civil de
maneira mais próxima com a atual. O professor Kfouri comenta sobre esse assunto, “A
responsabilidade civil recebeu no Direito Romano os princípios genéricos que mais tarde
seriam cristalizados nas legislações modernas”. 6 Foram também os romanos os primeiros a
fazerem a diferenciação entre pena e reparação e a distinção entre os delitos públicos e os
delitos privados.
O professor Croce expõe a respeito à evolução na punição dentro do Estado Romano:
[...] o Estado Romano, com a sua função jurisdicional exclusiva, apartou de todas as
pessoas o direito de punir, decretando, conseqüentemente, o partejamento da ação
2
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro v.7: Responsabilidade Civil. 17.ed. São Paulo:
Saraiva, 2003. p. 9-10.
3
CROCE, Delton. Erro Médico e o Direito. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 6.
4
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro v.7, p. 9.
5
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro 7, p. 9.
6
NETO, Miguel Kfouri. Responsabilidade Civil do Médico. 3ª ed. revisada, ampl. e atualizada. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 1998. p.33.
15
A Lex Áquila, embora não sendo perfeita, estabeleceu as bases para as legislações
modernas sobre a responsabilidade civil e a obrigação de pagar uma indenização. Diniz define
bem o objetivo desta lei, “[...] veio a cr istalizar a idéia de reparação pecuniária do dano,
impondo que o patrimônio do lesante suportasse os ônus da reparação, em razão do valor da
res [...]”. 9
Percebe-se que com a estipulação desta lei impõe-se aquele que comete um ato ilícito
o dever de indenizar o lesado com o próprio patrimônio. Uma forma mais justa e pacífica de
reparação para ambas partes.
Maria Helena destaca ainda que na evolução da responsabilidade a culpa continua
sendo o principal fundamento da responsabilidade civil, mas agora a teoria do risco também
estava sendo aceita.10
Traçando um paralelo deste tema com a responsabilidade civil do médico, nota-se que
esta também evoluiu bastante ao longo dos anos.
Na origem da evolução e civilização humana ensina Avecone citado pelo professor
Kfouri, “[...] a cura não acontecia, não é difícil imaginar que a culpa recaísse sobre o
feiticeiro, acompanhada da acusação de imperícia ou de incapacidade. Desde os primórdios,
7
CROCE, Delton. Erro Médico e o Direito, p. 8.
8
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro 7, p. 10.
9
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro 7, p. 10.
10
Cf. DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro 7, p. 12.
16
portanto, prevêem-se sanções para os casos de culpa relativa ao insucesso profissional dos
médicos”. 11
O médico curandeiro, que agisse com displicência no exercício de suas atividades
poderia ser responsabilizado com a amputação de partes do próprio corpo pelo insucesso do
seu trabalho. O código de Hammurabi tinha artigos no qual encontrava-se traço da lei das 12
tábuas que eram aplicados aos médicos daquela época, comenta Croce:
[...] cominava penas severas (amputação da mão e outras que tais) aos cirurgiões se,
conseqüentemente á intervenção cirúrgica, o paciente, livre, sucumbisse ou viesse a
perder a visão. Fosse o morto o escravo, ao médico se obrigava apenas pagar o seu
preço.12
11
KFOURI, Miguel. Responsabilidade Civil do Médico, p. 32.
12
CROCE, Delton. Erro Médico e o Direito, p. 6.
13
NETO, Miguel Kfouri. Responsabilidade Civil do Médico, p.33.
14
NETO, Miguel Kfouri. Responsabilidade Civil do Médico, p.38.
17
15
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil 4: Responsabilidade Civil. 19ª ed. Atualizada. São Paulo: Saraiva, 2002.
p. 3.
16
VENOSA, Silvo de Salvo. Direito Civil IV: Responsabilidade Civil. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 11.
18
Pode-se verificar essa modernização no novo código civil, Venosa salienta sobre a
possibilidade de indenização moral na nova legislação fazendo uma adaptação a Carta Magna
de 88:
O novo Código Civil, embora mantendo a mesma estrutura, trata da
responsabilidade civil com mais profundidade nos arts. 927 ss. Vê-se, portanto, que
foi acrescentada a possibilidade de indenização pelo dano exclusivamente moral,
como fora apontado pela Constituição de 1988.19
Silvio Rodrigues faz uma análise crítica do tratado cível de 1916 na parte destinada a
responsabilidade civil, contudo ressalva que as reformas na legislação foram benéficas ao
sistema jurídico brasileiro:
Se a maneira defeituosa como o legislador de 1916 tratou da responsabilidade civil
se explica pelas razões históricas e locais já apontadas, tal orientação hoje não mais
se justifica. Daí merecer aplauso a solução adotada pelos dois esquemas de reformas
na legislação civil, que, em título autônomo, disciplinaram sistematicamente a
matéria. Realmente, tanto o Projeto de Código de Obrigações de 1965 como o
Anteprojeto de Código Civil de 1972 dedicaram um titulo à responsabilidade civil.20
17
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil, p. 7.
18
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil, p. 39.
19
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil IV, p. 11-12.
20
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil IV, p. 6.
19
21
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil, p. 3.
22
Art. 186. Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito ou causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
23
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil 4, p. 14.
24
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil, p. 26.
25
STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial: doutrina e jurisprudência. 3. ed.
rev. ampl. São Paulo: Editora Revistas dos Tribunais, 1997. p. 54.
20
Logo toda ação delituosa ou não praticada a alguém independente da vontade, ou seja,
da existência de culpa, deverá ser reparada buscando diminuir de alguma forma o prejuízo
produzido.
A obrigação de responder pelos atos ilícitos que recaem na pessoa do agente poderão
ser provocados por ele ou pelas faltas cometidas por terceiro que esteja sob sua
responsabilidade.
Silvio Rodrigues comenta sobre a responsabilidade de atos ilícitos praticados por atos
próprios, desta forma:
A responsabilidade por atos próprios se justifica no próprio princípio informador da
teoria da reparação, pois se alguém, por sua ação pessoal, infringindo dever legal ou
social, prejudica terceiro, é curial que deva reparar esse prejuízo. Dentro do quadro
da responsabilidade por ato próprio, um problema que apresenta alguma relevância é
o da eventual responsabilidade do psicopata.27
Esse tipo de responsabilidade é comum e rotineira devendo ser percebida com muita
facilidade em nosso cotidiano. Carlos Roberto Gonçalves em sua obra traz alguns exemplos
da matéria:
A responsabilidade por ato de terceiros ocorre nos casos de danos causados pelos
filhos, tutelados e curatelados, ficando responsáveis pela reparação os pais, tutores e
curadores. Também o patrão responde pelos atos de seus empregados. Os
26
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro 7, p. 38.
27
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil 4, p. 14-15.
28
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil 4, p. 15.
21
Aquele que pratica qualquer ato com negligência, imprudência ou imperícia, estará
sujeito a reparação deste, pois a culpa estará evidente não restará dúvida quanto à
culpabilidade deste agente.
Carlos R. Gonçalves destaca a possibilidade de existir o dever de obrigação mesmo
sem a presença de culpa, “[.. .] o nosso direito positivo admite, em hipótese específica, alguns
casos de responsabilidade sem culpa: a responsabilidade objetiva, com base especialmente na
teoria de risco, abrangendo também casos de culpa presumida”. 33 A possibilidade da culpa
não estar presente é fato consumado no direito brasileiro, sendo chamada de teoria objetiva e
terá um estudo mais aprofundado posteriormente.
29
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil, p. 26.
30
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil IV, p. 23.
31
STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial, p. 56.
32
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro 7, p. 40.
33
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil, p. 27.
22
O nexo causal tem grande importância no dever de indenizar, pois ele é o elo de
ligação entre o fato danoso e o prejuízo suportado pela vítima. Entretanto deve-se ressaltar
que não existindo a relação de causalidade conseqüentemente não haverá obrigação de
indenizar, recaindo assim, sobre o lesado o prejuízo por ele experimentado.
Silvio Rodrigues sobre a hipótese de haver excludentes da relação de causalidade
exemplifica, “Se o acidente ocorreu não por culpa do agente causador do dano, mas por culpa
da vitima, é manifesto que faltou o liame de causalidade entre o ato daquele e o dano por esta
experimentada”. 37 Complementa Silvio Venosa acerca do assunto, “O caso fortuito e a força
maior são excludentes do nexo causal, porque o cerceiam, ou o interrompem. Na verdade, no
caso fortuito e na força maior inexiste relação de causa e efeito entre a conduta do agente e o
resultado danoso”. 38
34
STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial, p. 63.
35
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil IV, p. 39.
36
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro 7, p. 100.
37
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil 4, p.17.
38
VENOSA, Silvio Sálvio. Direito Civil IV, p. 39.
23
Existindo uma pessoa lesada torna-se muito difícil à reparação desta situação
exatamente como ela se encontrava antes do ato ilícito. Silvio Rodrigues ensina a solução
utilizada nesses casos, “[...] há de se reco rrer a uma situação postiça, representada pelo
pagamento de uma indenização em dinheiro, é um remédio nem sempre ideal, mas o único de
que se pode lançar mão”. 41
A indenização pode até não ser a maneira mais certa, justa de confortar. Acontece que
muitas vezes ela é a única alternativa restante para aquele que comete o ato ilícito de ressarcir
a pessoa que ele prejudicou.
Em nosso ordenamento jurídico encontra-se dois tipos de danos: o dano patrimonial e
o dano moral. O dano patrimonial como o próprio nome já diz é aquele que recai sobre o
patrimônio da pessoa. Maria Helena Diniz conceitua dano patrimonial assim:
O dano patrimonial vem a ser a lesão concreta, que afeta um interesse relativo ao
patrimônio da vítima, consistente na perda ou deteriorização, total ou parcial, dos
bens materiais que lhe pertencem, sendo suscetível de avaliação pecuniária e de
indenização pelo responsável.42
39
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil 7, p.58.
40
VENOSA, Silvio Sálvio. Direito Civil IV, p. 28.
41
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil 4, p. 186.
42
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil 7, p.64.
24
Wilson Melo da Silva citado por Silvio Rodrigues acerca do dano moral conceitua
assim:
São lesões sofridas pelo sujeito físico ou pessoal natural de direito em seu
patrimônio ideal, entendendo-se por patrimônio ideal, em contraposição a
patrimônio material, o conjunto de tudo aquilo que não seja suscetível de valor
econômico. 43
Importante salientar que é entendimento majoritário da doutrina que este tipo de dano
seja indenizado. Os que defendem a não indenização deste dano afirmam, ser difícil discutir
em juízo sobre os sentimentos íntimos e as dores experimentadas por uma pessoa derivada de
um ato ilícito cometido por outra.44 Entretanto, deve-se observar que este posicionamento
encontra-se ultrapassado.
43
RODRIGUS, Silvio. Direito Civil 4, p. 189.
44
Cf. RODRIGUS, Silvio. Direito Civil 4, p. 190.
25
45
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro 7, p. 119-120.
46
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro 7, p. 120.
47
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro 7, p. 120.
26
48
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil IV, p. 21-22.
49
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil 4, p. 9.
27
razoavelmente poderia ter tido. Mas a cifra arbitrada em dinheiro, que será paga pelo
artista inadimplente, não é a prestação prometida, mas apenas um sucedâneo dela.50
50
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil 4, p. 9.
51
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil 4, p. 10.
52
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro 7, p. 127.
53
Cf. RODRIGUES, Silvio. Direito Civil 4, p. 10.
28
54
DINIZ, Maria Hele. Curso de Direito Civil 7, p. 460.
55
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil 4, p. 10.
56
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. 9.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p 247.
29
A responsabilidade civil requer como um dos seus pressupostos a culpa, quando esse
elemento encontra-se incluído na ação daquele que comete o ato ilícito, chamaremos esta
responsabilidade de subjetiva.
Maria Helena Diniz em seus ensinamentos averba, “Na responsabilidade subjetiva o
ilícito é o seu fato gerador, de modo que o imputado, por ter-se afastado do conceito de bônus
pater famílias, deverá ressarcir o prejuízo, se provar que houve dolo ou culpa na ação”. 58
A culpa é o elemento principal desse tipo de responsabilidade, porém não é o único.
Na responsabilidade subjetiva deverão ser encontrados outros três elementos: a conduta
(omissão ou ação), dano (patrimonial ou extrapatrimonial) e o nexo de causalidade entre o
dano e a ação. Existindo um ato ilícito por culpa do agente, caberá ao autor desse ato
indenizar a vítima.
Carlos Roberto Gonçalves explica a respeito da teoria subjetiva assim:
Em face da teoria clássica, a culpa era fundamento da responsabilidade. Esta teoria,
também chamada de teoria da culpa, ou “subj etiva”, pressupõe a culpa como
fundamento da responsabilidade civil. Em não havendo culpa, não há
responsabilidade. Diz-se, pois, ser “subjetiva” a responsabilidade quando se esteia
na idéia de culpa. A prova da culpa do agente passa ser pressuposto necessário do
dano indenizável. Dentro desta concepção, a responsabilidade do causador do dano
somente se configura se agiu com dolo ou culpa.59
57
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil, p. 23.
58
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro 7, p. 52.
59
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil, p. 17.
30
Com o passar dos anos, profundos estudos a respeito da responsabilidade civil deram
origem a uma nova modalidade de obrigação, a oriunda da teoria objetiva. Silvio Venosa
procura explicar a evolução para o surgimento da responsabilidade objetiva, da seguinte
maneira:
[...] o fundamento original da responsabilidade era exclusivamente subjetivo,
fundado sobre o conceito da culpa. Essa posição foi adotada pela quase unanimidade
dos códigos do passado. No entanto, a noção clássica de culpa foi sofrendo, no curso
da História, constantes temperamentos em sua aplicação. Nesse sentido, as primeiras
atenuações em relação ao sentido clássico da culpa traduziram-se nas “presunções
de culpa” e em mitigações no rigor da apreciação da culpa em si. Os tribunais foram
60
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil 4, p. 12.
31
Esta teoria sustenta que aquele que causou dano, independente da comprovação da
culpa, deve suportar o ônus de reparação. A verificação do dano e do nexo causal é fator
suficiente para que haja o dever de indenização.
Ressalta-se que a responsabilidade objetiva é uma exceção da responsabilidade civil, o
professor Silvio Venosa menciona, “A teoria da responsabilidade objetiva não pode, portanto,
ser admitida como regra geral, mas somente nos casos contemplados em lei ou sob o novo
aspecto enfocado pelo novo Código”. 63
No novo código civil a teoria objetiva é encontrada no parágrafo único do artigo 927,
que o mesmo dispõe:
Art. 927. [...].
61
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil IV, p. 16.
62
STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial, p. 64.
63
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil IV, p. 17.
32
Defini-se a responsabilidade civil em nosso país como a obrigação daquele que causa
dano a outrem de ressarci-lo por estes prejuízos. O médico tem a responsabilidade regida por
esta disposição, pois deve indenizar aquele que submetido a tratamento médico, venha, por
causa desse tratamento, a sofrer algum tipo de prejuízo.
Desde a elaboração do Código Civil no ano de 1916, o legislador inclui a
responsabilidade médica como um ato ilícito no art. 159. Hoje com a vigência do Novo
Código Civil, pode-se afirmar, sem nenhuma dúvida, que a responsabilidade civil do médico,
continua sendo tratada pelo legislador entre os casos de atos ilícitos, e sendo vista com
unanimidade como responsabilidade contratual:
Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização
devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligencia,
imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe
lesão, ou inabilita-lo para o trabalho.
Teresa Ancona sobre o assunto fala, “O Código Civil brasileiro coloca essa
responsabilidade entre os atos ilícitos, o que não lhe tira o caráter de contratual”. 64
Não há duvida que a atividade de profissionais liberais tem caráter contratual, ou seja,
um médico e seu paciente formarão uma espécie de contrato.
Silvio Rodrigues respalda ainda, “A vantagem de colocar a responsabilidade do
médico no campo do contrato é limitada, pois, em rigor, o fato de o esculápio não conseguir
65
curar o doente não significa que inadimpliu a avença”.
64
LOPEZ, Teresa Ancona. O Dano Estético: Responsabilidade Civil. 3, ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1999. p. 319.
65
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil 4, p. 248.
34
66
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil 7, p. 265.
67
VENOSA Silvio de Salvo. Direito Civil IV, p. 95.
68
MORAES, Irany Novah. Erro Médico e a Justiça. 5ª ed. Rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2003. p. 560.
69
VENOSA Silvio de Salvo. Direito Civil IV, p. 98.
35
70
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro 7, p. 265.
71
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil 4, p. 250.
72
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro 7, p. 266.
36
73
STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial, p190.
74
STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial, p190.
37
Diante das palavras dos ilustres doutrinadores percebemos que a obrigação de meio
caracteriza-se pela dedicação do devedor ao utilizar todos os meios possíveis e adequados
para realizar a prestação do serviço, sem se comprometer com o resultado final.
Miguel Kfouri Neto citando Demogue em sua obra, sobre obrigação de meio diz:
O médico contrata uma obrigação de meio, não de resultado. Ele não deve ser
responsável se o cliente não se cura. Ele promete somente cuidados atenciosos e o
cliente deve provar a culpa do médico e a relação causal entre a culpa e o ato danoso
(morte, etc). [...] Por exceção, se o médico que se compromete a prestar serviço ao
doente não o faz, ele se torna plenamente responsável pelo dano.76
Stoco inclui em sua obra a RT 613/46 que dispõe a respeito da obrigação de meio da
seguinte maneira:
A responsabilidade civil do médico é de meio e não de fim, [...] em se tratando de
médico a culpa não decorre do resultado da operação, mas dos meios empregados, se
a prescrição da medicação foi pertinente e cercada das cautelas recomendáveis e não
havendo prova de que o profissional da medicina foi negligente, imperito ou
imprudente no acompanhamento do tratamento, não há como considerar procedente
a ação de indenização.77
75
JUNIOR, Humberto Theodoro. Responsabilidade civil por erro médico: aspectos processuais da ação.
Publicada na Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil nº 04 - MAR-ABR/2000, pág. 150.
76
NETO, Miguel Kfouri. Culpa Médica e Ônus da Prova. 1ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2002. p. 227.
77
STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial, p. 188.
78
NETO, Miguel Kfouri. Responsabilidade Civil do Médico, p. 159.
38
79
STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial, p. 190.
80
NETO, Miguel Kfouri. Culpa Médica e Ônus da Prova, p. 235.
81
KFOURI, Miguel. Responsabilidade Civil do Médico, p. 160.
39
relação aos profissionais liberais. Para as de meio, a responsabilidade obedece aos requisitos
traçados pela teoria subjetiva.
82
AGUIAR, Ruy Rosado. Responsabilidade Civil do Médico. Publicada na RJ nº 231 - JAN/1997, pág. 122.
83
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil IV, p. 100.
84
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro 7, p. 267.
40
Silvio Rodrigues ainda comenta, “Com efeito, quando um paciente toma os serviços
profissionais de um médico, este apenas se obriga a tratar do doente com zelo, diligencia e
carinho adequados, utilizando os recursos de sua profissão e arte”. 85
Exercendo suas atividades com total dedicação e zelo o médico além cumprir seu
dever, estará acima de tudo respeitando a pessoa de outro ser humano.
A respeito do ultimo dever médico relacionado, a doutrinadora Maria Helena Diniz
comenta, “abster -se do abuso ou desvio de poder, pois o médico não terá o direito de tentar
experiências médicas sobre o corpo humano, a não ser que isso seja imprescindível para
enfrentar o mal que acarreta perigo de vida ao paciente”. 86
O médico não poderá fazer de seus pacientes cobaias humanas a fim de buscar o êxito
pessoal, a vida humana tem que ser respeitada acima de tudo, o médico não é Deus, não deve
ser ele que controlará a “hora” de alguém, quando ele vai morrer ou não.
Ruy Rosado de Aguiar finaliza o tema estudado relembrando outros deveres
pertinentes aos médicos, tais como:
sigilo, previsto no art. 102 do Código de Ética; b) não abusar do poder, submetendo
o paciente a experiências, vexames ou tratamentos incompatíveis com a situação; c)
não abandonar paciente sob seus cuidados, salvo caso de renúncia ao atendimento,
por motivos justificáveis, assegurada a continuidade do tratamento (art. 61 do
Código de Ética); d) no impedimento eventual, garantir sua substituição por
profissional habilitado; e) não recusar o atendimento de paciente que procure seus
cuidados em caso de urgência, quando não haja outro em condições de fazê-lo.87
O médico exercendo os deveres impostos pela sua profissão estará agindo de maneira
ética e correta, fornecendo a seus pacientes o melhor no exercício da medicina.
85
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil 4, p. 248.
86
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil 7, p. 268.
87
AGUIAR, Ruy Rosado. Responsabilidade Civil do Médico, pág. 125.
41
88
MORAES, Irany Novah. Erro Médico e a Justiça, p. 575.
89
NETO, Miguel Kfouri. Culpa Médica e Ônus da Prova, p. 32 e 35.
90
NETO, Miguel Kfouri. Responsabilidade Civil do Médico, p. 63.
91
LOPEZ, Teresa Ancona. O Dano Estético, p. 321.
42
Caso não haja a comprovação de culpa do médico, este estará isento de qualquer
responsabilidade sobre o paciente. Ruy Rosado Aguiar discorre sobre as dificuldades da
avaliação de provas relacionadas no processo da seguinte maneira:
O juiz deve se socorrer de todos os meios válidos de prova: testemunhas, registros
sobre o paciente existentes no consultório ou no hospital, laudos fornecidos e,
principalmente, perícias. Uma das formas de fazer a prova dos fatos é a exibição do
prontuário, que todo o médico deve elaborar (art. 69 do Código de Ética), a cujo
acesso o paciente tem direito (art. 70).93
92
VENOSA Silvio de Salvo. Direito Civil IV, p. 104.
93
AGUIAR, Ruy Rosado. Responsabilidade Civil do Médico, pág. 122.
94
JUNIOR, Humberto Theodoro. Responsabilidade civil por erro médico: aspectos processuais da ação.
Publicada na Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil nº 04 - MAR-ABR/2000.
43
[...] onde se discute o erro médico, não é dado ao juiz aguardar o encerramento da
instrução para só, então, aplicar as regras de distribuição do ônus da prova. Como
reiteradamente temos afirmado cientes das dificuldades na produção da prova –
traço característico dessas ações – o julgador deverá conceituar as partes (e o
médico, em especial) a adotar postura ativa e participante na colheita da prova.95
95
NETO, Miguel Kfouri. Culpa Médica e Ônus da Prova, p. 53.
96
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil 7, 375.
97
NETO, Miguel Kfouri. Responsabilidade Civil do Médico, p. 179.
44
culpa (art. 14, §§ 1º a 4º), sendo, portanto, subjetiva, se a obrigação for de meio; mas sendo
obrigação de resultado, deve ser objetiva sua responsabilidade”. 98
Analisando a sistemática do CDC verificamos que a responsabilidade predominante é
a do tipo objetiva, ou seja, independentemente da verificação da culpa.
Nelson Nery Jr. sobre o tipo de responsabilidade predominante existente no CDC diz:
O Código de Defesa do Consumidor, adotou a da responsabilidade objetiva ou teoria
do risco, o qual deve ser aplicado a toda e qualquer pretensão indenizatória derivada
da relação de consumo, pois conforme já foi salientado, tanto a responsabilidade
pelos acidentes de consumo como pelo vícios dos produtos e serviços são de
natureza objetiva, prescindindo da culpa para que se dê o dever de indenizar.99
98
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil 7, 400.
99
NERY JR, Nelson. Os Princípios Gerais do Código Brasileiro de Defesa do Consumidor. Revistas dos
Tribunais: São Paulo, v. 3, 1992, p. 57.
100
NETO, Miguel Kfouri. Responsabilidade Civil do Médico, p. 179 e 180.
45
101
NETO, Miguel Kfouri. Culpa Médica e Ônus da Prova, p. 148.
102
NETO, Miguel Kfouri. Culpa Médica e Ônus da Prova, p. 149.
46
Desta forma, no que diz respeito à inversão do ônus da prova, estabelecido no Código
de Defesa do Consumidor (artigo 6º, VIII), somente será admitida pelo juiz quando for
satisfeito um dos seus dois pressupostos de admissibilidade, quais sejam, quando for
verossímil a elegação ou for o consumidor hipossuficiente.
Após estudo feito sobre a responsabilidade civil do erro médico, não se pode encerrar
este capítulo, sem que se verifique de que a forma se dá a liquidação do dano. O dano está
comprovado na ação, enquanto que a estipulação de seu valor será fixado na fase de
liquidação do mesmo.
Maria Helena Diniz discorre a respeito dessa fase de liquidação do dano:
Assim a sentença judicial deverá condenar o lesante ao pagamento da indenização
cabal, que abranja tudo a que o credor faz jús mais custas processuais, honorários
advocatícios e os juros que serão contados desde o momento da ocorrência do ato
lesivo. [...] A função jurídica da liquidação é a de tornar efetiva a reparação do
103
NETO, Miguel Kfouri. Culpa Médica e Ônus da Prova, p. 151.
47
prejuízo sofrido pela vítima, ou seja, fixar concretamente o montante dos elementos
apurados na reparação, que foi o objeto da ação.104
104
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil 7, p. 161.
105
KFOURI, Miguel. Responsabilidade Civil do Médico, p. 105.
106
Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da
vida da vítima.
107
Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do
tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido
prove haver sofrido.
48
que são duas coisas heterogêneas. [...] o legislador não está atribuindo poder
excessivo ao juiz, ao permitir que ele fixe moderadamente o valor a ser pago pelo
ofensor, pois não está conferindo poder a um homem; em rigor está conferindo ao
Poder Judiciário aquela prerrogativa.108
108
Rodrigues, Silvio. Direito Civil 4, p. 192.
49
O cirurgião plástico juntamente com sua atividade fim tem destaque nesse capítulo. A
divisão da cirurgia plástica, e a responsabilidade e sanções sofridas pelo médico que comete
ato ilícito são matéria de estudo. Encerra-se a pesquisa com o estudo de um caso concreto.
109
KFOURI, Miguel. Responsabilidade Civil do Médico,p. 156.
110
MAGRINI, Rosana Jane. Responsabilidade Civil do Médico: Cirurgia Plástica e Estética. Publicada no Juris
Síntese nº 31 - SET/OUT de 2001.
50
A cirurgia reparadora é aquela que tem por finalidade reparar algum defeito oriundo de
algum evento danoso ou mesmo por alguma imperfeição se sua natureza. Ela é caracterizada
como uma obrigação de meio.
A respeito da cirurgia reconstrutiva Irany Moraes ensina, “É considerada, à
semelhança de todos os procedimentos médicos e cirúrgicos, como regida por um contrato de
meio, não sendo, pois, exigido resultado”. 111
A cirurgia reconstrutiva ocorre, por exemplo, quando a pessoa sofre algum tipo de
trauma e tem parte do seu rosto desfigurado. Os médicos-cirurgiões irão realizar uma cirurgia
de reconstrução com o objetivo de remodelar o rosto do paciente, visando deixa-lo mais
parecido ao estado que se encontrava antes do trauma.
Este tipo de cirurgia pode ser considerada como obrigação de meios, e sendo assim, a
culpa deverá ser comprovada para que o dano seja ressarcido, sendo necessário neste caso que
se estabeleça o nexo de causa e efeito entre o procedimento e a seqüela.
Assim, Miguel Kfouri, ao transcrever em sua obra lições de Aguiar Dias enfatiza que,
“a cirurgia plástica reparadora representa uma obrigação de meio na relação contratual
112
médico paciente, ligada a um estado de necessidade ou a uma condição terapêutica”.
Portanto, é quase que unânime a posição doutrinaria e jurisprudencial, de que se
tratando de cirurgia reparadora a obrigação que se forma em torno da relação, médico e
paciente, é a mesma que ocorre na cirurgia terapêutica, ou seja, é de meio e não de resultado,
conforme se verifica através da ementa a seguir:
EMENTA. ERRO MÉDICO. INDENIZAÇÃO. OBRIGAÇÃO DE MEIO.
NECESSIDADE DE PROVAR A CULPA. O médico (salvo na cirurgia estética)
não está vinculado a uma obrigação de resultado, mas a uma obrigação de meio, no
sentido de que lhe cumpre envidar seus melhores esforços, dentro da técnica
conhecida, para obter o resultado almejado, que, lamentavelmente, nem sempre pode
ser atingido, em virtude das limitações inerentes ao atual estágio do conhecimento
111
MORAES, Irany Novah. Erro Médico e a Justiça, p. 243.
112
KFOURI, Miguel. Responsabilidade Civil do Médico, p. 160.
51
A cirurgia estética não tem caráter de urgência, sendo dispensável para saúde do
paciente sua realização. Seu interesse é na maioria das vezes o embelezamento pessoal, a
necessidade superficial que o ser humano tem de ser vaidoso.
Partindo desta característica, os estudiosos do direito, afirmam que a obrigação nesta
modalidade de cirurgia plástica é de resultado, assim, ressaltando o posicionamento de alguns
doutrinadores.
Em relação à cirurgia estética com característica de obrigação de resultado, Silvio
Venosa averba:
Não resta dúvida de que a cirurgia estética ou meramente embelezadora trará em seu
bojo uma relação contratual. Como nesse caso, na maioria das vezes, o paciente não
sofre de moléstia nenhuma e a finalidade procurada é obter unicamente um resultado
estético favorável, entendemos que se trata de obrigação de resultado. Nessa
premissa, se não fosse assegurado um resultado favorável pelo cirurgião, certamente
não haveria consentimento do paciente.114
113
BRANCO, Gerson Luiz Carlos. Aspecto da Responsabilidade Civil e o Dano Médico. 7.ed. São Paulo:
Revistas dos Tribunais, 1996. p. 56.
114
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil IV, p. 101.
52
Cita-se entre esses doutrinadores Silvio Rodrigues que preleciona, “o paciente espera
do cirurgião, não que ele se empenhe em conseguir um resultado, mas que obtenha resultado
em si”. 115
Praticamente em todo o exercício da medicina adota-se um contrato fundado na
obrigação de meio, enquanto que na cirurgia plástica estética esse contrato é fundado na
obrigação de resultado.
Os nossos julgadores também têm entendido reiteradamente que na cirurgia plástica
estética a obrigação é de resultado e não de meio, como se constata pelos acórdãos abaixo:
EMENTA. RESPONSABILIDADE CIVIL. CIRURGIA PLÁSTICA.
OBRIGAÇÃO DE RESULTADO. 1. É de resultado, e não de meio, a obrigação do
cirurgião plástico, que realiza mamoplastia da qual resulta flacidez. Falta de
obtenção do resultado, e necessidade de corrigir o estado atual da paciente, através
de outra cirurgia, apuradas pela perícia. Dano moral devido. 2. APELAÇÃO
DESPROVIDA. Ac. Da 5 Câmara Cível do Tribunal de Justiça/RS, APC N.
597004902, Des. Relator Araken de Assis. 27.02.97
115
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil 4, p. 252.
116
Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que,
no exercício de atividade profissional, por negligencia, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente,
agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilita-lo para o trabalho.
53
No erro médico, a cirurgia plástica ocupa uma situação peculiar, pois é de um tipo
diferente, uma vez que está ligada a um juízo de valor que está relacionado com o resultado,
mesmo sabendo-se que todo o ato cirúrgico envolve um risco.
Sobre a indenização devida pelo cirurgião que não cumpri o acordado, Carlos
Gonçalves ensina:
[...] Se o cliente fica com aspecto pior, após a cirurgia, não se alcançando o resultado
que constituía a própria razão de ser do contrato, cabe-lhe o direito a pretensão
indenizatória. Da cirurgia mal-sucedida surge a obrigação indenizatória pelo
resultado não alcançado.117
Para que o médico seja responsabilizado, necessário se faz que este tenha desprezado
ou ignorado seus deveres. Ele sempre deve ser claro com o paciente, não apenas para que este
fique consciente do risco a que vai ser exposto, como também, quanto ao tratamento que
deverá ser submetido após a cirurgia.
Sobre essas informações que o cirurgião deve prestar atenção, Miguel Kfouri
consubstancia:
Dois aspectos fundamentais são levados em linha de conta: a informação devida ao
paciente e a obtenção de seu consentimento (sem se olvidar que o princípio da
integridade do corpo humano é norma de orem pública – volenti non fit injuria – não
se faz injuria a quem quer). [...] ao cirurgião plástico incumbe advertir o paciente
sobre todos os riscos, mesmo quanto àqueles que excepcionalmente previsíveis.
117
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil, p. 269.
118
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil 4, p. 252.
54
Havendo o cirurgião advertido ao paciente sobre todos os riscos que estava sendo
submetido, não poderá o médico ser responsabilizados por eventuais efeitos colaterais. Seguir
a risca os conselhos médicos no pós-operatório é fator determinante para uma recuperação
segura.
Não sendo permanente a lesão sofrida pela vítima, essa perde caráter de dano estético
sendo apenas uma lesão passageira podendo ser ressarcida com o pagamento de outra
119
LOPEZ, Teresa Ancona. O Dano Estético, p. 39.
120
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil 7, p. 76.
121
KFOURI, Miguel. Responsabilidade Civil do Médico, p. 94.
55
cirurgia. Acerta Kfouri, pois consagra o dano estético como sendo uma ofensa a
personalidade, uma agressão à individualidade do ser humano.
Sobre a cumulação de pedidos de dano moral e dano estético na mesma ação há uma
grande controvérsia, pois parte da doutrina entende pelo cabimento da cumulação e a outra
entende pelo seu não cabimento.
A professora Teresa Ancona entende ser possível a cumulação desse dois tipo de danos
na mesma ação, ela ressalva que a Constituição Federal na parte destinada aos direitos e
garantias no inciso V, admite-se três tipos de danos: o moral, material e o à imagem. Dessa
distinção a possibilidade da cumulação desses dois tipos de danos na mesma ação.122
Em exemplos torna-se evidente esse conflito. A manequim que resolve fazer uma
cirurgia plástica e vem sofrer alguma lesão que cause alguma deformidade permanente em
suas pernas, com certeza essa lesão a impedirá de trabalhar ou lhe falte emprego. Nessa
hipótese, observa-se nitidamente dois tipos de prejuízos, um de ordem extrapatrimonial
(danos morais) e outro patrimonial.
Aqueles que são contra esse entendimento baseiam-se na teoria que o dano moral e o
dano estético não se cumulam, por que o dano estético importa em dano material ou está
compreendido no dano moral.123
122
LOPES, Teresa Ancona. Dano Estético, p. 155.
123
KFOURI, Miguel. Culpa Médica e Ônus da Prova, p. 272.
56
O médico no exercício de sua profissão cometendo algum ato ilícito estará sujeito a
instauração do procedimento administrativo adequado para a verificação de responsabilidade
por possível dano a terceiros, conseqüente a um erro médico.
Os Conselhos Regionais de Medicina estaduais cuidam dos processos administrativos
a respeito da conduta médica. O professor Genival Veloso de França citado no artigo jurídico
escrito pelo advogado Ricardo Brandão diz, “A responsabilidade é da competência dos
Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), através de processos ético-disciplinares”. 124 Nos
próprios CRM estaduais é o local onde geralmente encontramos o Tribunal de Ética.
O professor Irany Novah Moraes discorre sobre o assunto assim, “Sendo os Conselhos
Regionais de Medicina o Tribunal de Ética, o de São Paulo é a que, cabe a julgar o
125
comportamento ético da classe que exerce a medicina no Estado de São Paulo [...]”.
A respeito dos processos administrativos sofridos pelo médico, o advogado Ricardo
Brandão averba:
Os processos ético-profissionais são o instrumento de que dispõem os CRMs para
punir moral e administrativamente os seus jurisdicionados, ainda que estes já hajam
sido alcançados por meio de sanção civil pela condenação à reparação do dano
causado ou da sanção penal via ação criminal regularmente instaurada e na qual
venham a ser julgados culpados.
[...]
O processo administrativo disciplinar esgota-se no âmbito da matéria disciplinar
mesmo, não gerando efeitos de ordem civil ou penal, não impondo obrigação de
reparação material do dano causado nem aplicando medidas de constrição à
liberdade de ir e vir. Sua repercussão é ela toda no campo da moral e da atividade
profissional.126
Os CRM são responsáveis para fiscalizar a classe médica, tendo os processos éticos
uma arma contra a má conduta dos médicos. Da avaliação do processo administrativo e
havendo condenação, poderá o médico ser: advertido, suspenso, demitido, ter sua carteira do
CRM cassada, destituição de cargo em comissão, destituição de função comissionada.127
124
BRANDÃO, Ricardo. Erro médico na Função Pública. Conselho Federal de Medicina, ano de 2002.
disponível em:http://www.cfm.org.br . Acesso no dia 10 de junho de 2004.
125
MORAES, Irany Novah. Erro Médico e a Justiça, p. 519.
126
BRANDÃO, Ricardo. Erro médico na Função Pública. Conselho Federal de Medicina, ano de 2002.
disponível em:http://www.cfm.org.br . Acesso no dia 10 de junho de 2004.
127
Cf. BRANDÃO, Ricardo. Erro médico na Função Pública. Conselho Federal de Medicina, ano de 2002.
disponível em:http://www.cfm.org.br . Acesso no dia 10 de junho de 2004.
57
Encontra-se da mesma forma que no poder judiciário, um órgão superior que julgará
os recursos das decisões formuladas pelo CRM, qual seja, o Conselho Federal de Medicina
avaliará esses recursos.
O professor Irany faz referência a esse órgão, “Compete ao Conselho Federal de
Medicina julgar em grau de recurso às penalidades estabelecidas pelos vários Conselhos
Regionais. Assim parte dos julgamentos efetuados pelos Conselhos Regionais do país recorre
aquele Tribunal pleiteado revisão do resultado”. 128
Persistindo o entendimento do Conselho Federal de Medicina em condenar o médico,
este estará sujeito a todas condenações citadas anteriormente pelo CRM.
Inúmeros são os processos de erro médico no país. O professor Irany trás em sua obra
dados referentes às especialidades da medicina que mais incorrem em erro médico no Brasil
julgados pelo Conselho Federal de Medicina:
1º Ginecologia e Obstetrícia;
2º Cirurgia Plástica;
3º Oftalmologia;
4º Cirurgia Geral;
5º Ortopedia;
6º Pediatria;
7º Clínica Geral; e
8º Neurologia.129
Nota-se que a cirurgia plástica tem destaque quanto ao ranking nacional das
especialidades médicas que mais sofrem processos ético-profissional dentro da medicina.
Os ato ilícitos cometidos pelo cirurgião médico poderão ser caracterizados como
infrações penais. Esses ilícitos geralmente tem como conseqüência para o paciente: lesões
corporais de todas as naturezas e inclusive a morte.
O professor Irany Moraes ressalva:
Além da denúncia no Conselho Regional de Medicina, o paciente ou familiar
insatisfeito com o atendimento, a atuação do médico ou com os resultados do
tratamento, tem o direito deacionar o profissional na Justiça, nas esferas criminal e
cível.130
128
MORAES, Irany Novah. Erro Médico e a Justiça, p. 523.
129
MORAES, Irany Novah. Erro Médico e a Justiça, p. 524.
130
MORAES, Irany Novah. Erro Médico e a Justiça, p. 531.
58
131
KFOURI, Miguel. Responsabilidade Civil do Médico, p. 196.
132
BRANDÃO, Ricardo. Erro médico na Função Pública. Conselho Federal de Medicina, ano de 2002.
disponível em:http://www.cfm.org.br . Acesso no dia 10 de junho de 2004.
59
133
KFOURI, Miguel. Responsabilidade Civil do Médico, p. 184.
134
KFOURI, Miguel. Responsabilidade Civil do Médico, p. 182.
60
O fato tomou relevância nacional no ano de 2002 com a morte da 5ª (quinta) paciente
do médico Denísio Marcelo Caron, que é formado em medicina desde de 1987 na
Universidade Severino Sombra, no município de Vassouras/RJ.
No ano de 2000, o médico acima referido, começou a ter sua carreira comprometida
por uma série de denúncias de imperícias a respeito de seu trabalho. Acontece que em março
daquele ano, uma de suas paciente Vera Lúcia Teodoro Batista veio a falecer dias depois de
realizar uma lipoaspiração de abdome e plásticas nos seios.
Depois no ano seguinte, mais precisamente em janeiro de 2001, mais uma tragédia
acontece envolvendo o nome de Caron. A concunhada do médico, Janete Figueiredo morre 9
(nove) dias após realizar uma lipoescultura com ele. Familiares afirmam que o laudo confirma
a perfuração no intestino de Janete.
Praticamente dois meses após o falecimento de Janete, mais um caso envolve o nome
de Caron. Flávia de Oliveira Rosa morre 5 (cinco) dias depois de fazer uma lipoaspiração com
Caron.
Os familiares afirmam que após a cirurgia, Flávia reclamava de muitas dores na
região, mas o médico disse que não era relevante. Examinada por outro médico ficou
constatado uma hemorragia interna, e no dia seguinte a infecção já era generalizada.
Após a morte de Flávia o cirurgião já estava “famoso” em face do que vinha
acontecendo com seus pacientes, e várias outras mulheres que haviam consultado com Caron
procuraram o Ministério Público e o Conselho Regional de Medicina de Goiás dizendo terem
sido vítimas dele. Conseqüentemente com a repercussão do caso de Caron o CRM de Goiás
divulga que estavam abertas 3 (três) sindicâncias apurando denuncias contra ele. Três meses
depois de aberta a primeira sindicância o numero já passava de 35 (trinta e cinco).
Não resistindo a pressão o médico firmou um acordo junto ao MP, onde se
comprometeria a se afastar dos consultórios até que fosse apuradas todas as sindicâncias.
Passado algum tempo, em janeiro de 2002, Adcéia Martins de Souza vem a falecer na
mesa de operação. O fato diferente dos demais ocorreu na cidade de Taguatinga/DF no
hospital Anchieta, mas o cirurgião responsável era o mesmo de Goiás, Denísio Marcelo
Caron.
61
No caso concreto exposto nesse estudo, foram abertas inúmeras sindicâncias contra o
médico Denísio Marcelo Caron.
Relembrando a respeito do assunto, cita-se o professor Irany Moraes explicando passo
a passo as fases do processo administrativo do médico:
O médico denunciado está sujeito à apuração da denuncia, que tem duas fases: a
sindicância que é a fase preliminar para averiguação dos fatos denunciados. As
sindicâncias são abertas a partir de denúncias ao CRM ou por iniciativa do próprio
Conselho. Se forem constatados indícios de infrações éticas passa-se à segunda fase,
chamada de processo ético-disciplinar quando o denunciante e denunciado tem
iguais oportunidades de apresentar provas de acusação e defesa. O próximo passo é
o julgamento, realizado pelas Câmaras de Julgamento do CRM.135
135
MORAES, Irany Novah. Erro Médico e a Justiça, p. 530.
62
Na esfera penal o cirurgião Denísio Marcelo Caron foi denunciado pelo Ministério
Público de Goiás no crime de homicídio doloso relacionado ao exercício de suas atividades
médicas. Todavia o médico foi excluído dessa prática delituosa por entender que essa não era
a tipificação penal cabível ao caso.
Sobre a prisão preventiva requerida pelo Ministério Pública em razão das denúncias
contra o médico, o Tribunal de Justiça do estado de Goiás pronunciou-se assim:
EMENTA : "RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. INDEFERIMENTO DE
PEDIDO DE PRISAO PREVENTIVA. INEXISTENCIA DE RAZOABILIDADE
DA ADEQUACAO DO FATO COMO CRIME DOLOSO, PUNIDO COM
RECLUSAO. PROBABILIDADE DE CONDENACAO POR CRIME CULPOSO,
PUNIDO COM DETENCAO. INEXISTINDO RAZOABILIDADE DA
ADEQUACAO DO FATO CRIMINOSO EM NORMA DEFINIDORA DE CRIME
DOLOSO, PUNIDO COM PENA DE RECLUSAO, EM FACE DO CONTEUDO
INFORMATIVO DA 'OPINIO DELICTI', ESTANDO A PROBABILIDADE DA
CONDENACAO DO AGENTE ADSTRITA A CRIME CULPOSO, PUNIDO
COM PENA DE DETENCAO, PELO MESMO FATO, NAO ESTA O ESTADO
AUTORIZADO A INTERFERIR NA ESFERA DO DIREITO DE LOCOMOCAO
DO AGENTE, MEDIANTE A DECRETACAO DE SUA PRISAO PREVENTIVA,
POR AUSENCIA DA CONDICAO DE ADMISSIBILIDADE ASSINALADA NO
ART. 313, 'CAPUT' E INC. I, DO CPP. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO."
As noticias na época dos acontecimentos informam que o médico cirurgião iria ser
indiciado por homicídio doloso (com intenção de matar) pela morte de uma de suas pacientes
(Flávia de Oliveira Rosa).
Não foi possível ter maiores informações acerca do processo do Dr. Caron, em virtude
da demanda estarem em segredo de justiça.
63
O médico do caso em estudo agiu com culpa, tendo todas suas ações caracterizada nos
três tipos de culpas, negligência, imperícia e imprudência.
Negligência é a omissão aos deveres que serão exigidos conforme a circunstância.
Caron agiu com negligência na conduta de seus atos quando não orientou adequadamente as
pacientes sobre os riscos e tratamentos pós-operatório, quando não se ateve a reclamação das
pacientes.
A imperícia é a falta de aptidão técnica, teórica ou prática, no desempenho de uma
atividade profissional. O médico não possuía especialidade em cirurgia plástica, logo foi
imperito no exercício de suas atividades médicas, jamais poderia ter realizado alguma cirurgia
plástica estética.
136
CROCE, Delton. Erro Médico e o Direito, p. 14.
64
Imprudente é o médico que age com falta de atenção, descuido no exercício de suas
ações. Caron foi imprudente quando não prestou a atenção necessária aos seus pacientes ou
quando verificou complicações nas pacientes durante a cirurgia plástica e omitiu a
informação.
Os autores ainda relevam nas demandas o descumprimento contratual na obrigação de
resultado estabelecida pelas partes. É caracterizado o rompimento contratual do médico, pois
o celebrado pelas partes não foi cumprido.
As cirurgias realizadas pelo médico nas pacientes eram estéticas, não havia
necessidade de sua realização, as pacientes não estavam correndo risco de morte, seu objetivo
era simplesmente embelezador.
Junta-se a emenda de uma cirurgia plástica mau sucedida onde fica demonstrada a
obrigação de resultado:
CIRURGIA PLÁSTICA – OBRIGAÇÃO DE RESULTADO – INDENIZAÇÃO –
DANO MATERIAL E DANO MORAL. Contratada a realização de cirurgia estética
embelezadora, o cirurgião assume obrigação de resultado, sendo obrigado a
indenizar pelo não cumprimento da mesma obrigação, tanto pelo dano material
quanto pelo moral, decorrente da deformidade estética, salvo prova de força maior
ou caso fortuito.137
137
KFOURI, Miguel. Responsabilidade Civil do Médico, p. 258.
65
morte do paciente, inclusive de pleitear danos morais. Miguel Kfouri comenta esta
possibilidade representação assim:
No pólo ativo da ação de reparação de danos decorrentes da má atuação profissional
do médico, figurará a vítima em caso de lesões, ferimentos incapacitantes,
deformidade – e, na hipótese de morte, o herdeiro, o parente, ou aquele a quem
a lei reconhece o direito de buscar a indenização (grifo nosso).
[...]
O dano moral poderá ser reclamado pela própria vítima ou, sobrevindo morte, pelos
lesados moralmente.138
No caso estudado, houve a interposição de uma ação civil pública onde o Ministério
Público representava as vítimas do Dr. Caron interpõe peça em face do CRM-GO, Hospital
Municipal Dr. Mário Gatti e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Em virtude de a ação estar no poder judiciário como segredo de justiça, as
informações desse estudo restaram em razão da peça inicial.
O objetivo dessa ação civil pública era apurar a existência de responsabilidade das
autarquias de estarem concorrendo para a consecução dos resultados danosos. O Procurador
da justiça procura demonstrar a responsabilidade das entidades em concorrer com o médico
para a consecução dos resultados danosos as vítimas, cada uma de um modo bem particular.
Afirma o procurador que a origem dos danos provocados as vítimas tem origem muito
antes da realização das cirurgias. A desleixo do CRM-GO em averiguar se as informações
trazidas pelo médico Denísio Marcelo Caron eram verdadeiras.
Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás credenciou o Dr. Caron como
médico especialista em cirurgia plástica. Este título foi destinado a ele após a apresentação de
um certificado pela realização de um estágio junto ao Hospital Municipal Dr. Mário Gatti. O
interesse demonstrado e o estágio garantiram ao Dr. Caron a especialidade em cirurgia
plástica, haja vista que depois de graduado no curso de medicina não teria realizado a
residência nesta especialidade.
O mesmo documento apresentado por Caron ao CRM-GO foi juntado para a inscrição
do mesmo na Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, ou seja, não procurando maiores
detalhes sobre a especialidade profissional do médico.
O Procurador Federal demonstra que todas as entidades tiveram sua parcela de culpa
para que o Dr. Caron realizasse delituosamente todas as cirurgias plásticas. O defensor
público ainda ressalta que a negligência cometidas pelas entidades equipara-se a concessão de
um cheque em branco para que o médico causasse danos morais e materiais a todos que
138
KFOURI, Miguel. Responsabilidade Civil do Médico, p. 184.
66
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
NETO, Miguel Kfouri. Culpa Médica e Ônus da Prova. 1ª ed. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2002.
NETO, Miguel Kfouri. Responsabilidade Civil do Médico. 3ª ed. revisada, ampl. e
atualizada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1998.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. 9.ed. Rio de Janeiro: Forense,
1999.
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil 4: Responsabilidade Civil. 19ª ed. Atualizada. São Paulo:
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ANEXOS