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CENTRO UNIVERSITÁRIO

ANTÔNIO EUFRÁSIO DE TOLEDO


DE PRESIDENTE PRUDENTE

CURSO DE DIREITO

RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA NA DOENÇA OCUPACIONAL

Bianca de Oliveira Costa

Presidente Prudente/SP
2018
CENTRO UNIVERSITÁRIO
ANTÔNIO EUFRÁSIO DE TOLEDO
DE PRESIDENTE PRUDENTE

CURSO DE DIREITO

RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA NA DOENÇA OCUPACIONAL

Bianca de Oliveira Costa

Monografia apresentada como requisito


parcial de Conclusão de Curso para
obtenção do grau de Bacharel, sob
orientação da Prof°. Fernando Batistuzo
Gurgel Martins.

Presidente Prudente/SP
2018
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA NA DOENÇA OCUPACIONAL

Monografia aprovada como requisito


parcial para obtenção do Grau de
Bacharel em Direito.

__________________________________________

Fernando Batistuzo Gurgel Martins

Orientador

__________________________________________

Wilton Boigues CobalanTebar

Examinador

__________________________________________

Pedro Thiago Braz da Costa

Examinador

Presidente Prudente/SP, 12 de Junho de 2018


“Não permitirei que o êxito de ontem me embale na
complacência de hoje, pois essa é a grande razão
do fracasso. Esquecerei os acontecimentos do dia
anterior, sejam eles bons ou maus, e saudarei o
novo sol com a confiança de que este será o melhor
dia de minha vida.”

(O maior vendedor do mundo, Og Mandino, p. 51,


1968)

Dedico a presente pesquisa aos meus


pais, Roseli e Everaldo, ao meu irmão
Vinícius, ao meu namorado Ayrton,
amigos, e professores, pelos
ensinamentos, paciência e pelo amor que
tive deles.
RESUMO

O presente trabalho trata das normas que regulamentam as indenizações


decorrentes das doenças ocupacionais. Será discutida sua definição, sua previsão
legal, tal como sua serventia no direito. O conteúdo a seguir está inserido
principalmente no Direito do Civil e no Direito do Trabalho, sendo direcionado para a
área da Responsabilidade Civil Objetiva. Posto isto, a legislação brasileira traz vários
pontos relevantes sobre o assunto. Tocante ao que diz a Constituição Federal de
1988, a Lei Acidentária (Lei n˚. 8.212/91) e ao Código Civil. Possuindo como fontes
bibliografias, doutrina, notícias e jurisprudência. A pesquisa procurou delimitar a
responsabilidade civil no ordenamento jurídico brasileiro, retratando as falhas e
lacunas quanto ao direito de indenizações, o que acaba por estabelecer um conflito
no judiciário. Há incontáveis tentativas de evolução, buscando melhorar o tema
abordado, pois são muitas as discordâncias doutrinárias e jurisprudência no
ressarcimento deste direito. Apontam-se também, no caso da doença ocupacional, a
observação dos danos morais e matérias. Por fim, constata-se que a reparação da
doença ocupacional, é importante para a vida social, econômica e política do país,
motivo pelo qual os trabalhadores precisam se atentar para operar seus direitos
pautados pela legislação, havendo sempre moderação. Os métodos a serem
utilizados no trabalho serão o histórico como também, o dedutivo, uma vez que,
serão citados aspectos relevantes sobre a responsabilidade civil decorrente de
doenças ocupacionais presente no ordenamento jurídico. Assim sendo, será
utilizado também o método comparativo onde serão analisadas as diferentes
posições.

Palavras-chave: Responsabilidade civil. Objetiva. Lei Acidentária. Doença


Ocupacional
ABSTRACT

The present study deals with rules governing the restitution resulting of occupational
diseases. It Will be discussed the definition, it´s legal forecast and serve to justice.
The following content is inserted mainly in the Civil Law and Labor Law, directed to
the area of the Objective Civil Responsibility. The Brazilian Law brings many
interesting matters to the issue. As to the brought by the 1988´s Federal Constitution,
the Accident Law (8.212/91) and the Civil Code.Bringing as sources bibliography,
doctrine, news and jurisprudence. The research aimed to delimitate the civil
responsibility on the Brazilian juridical planning, portraying the failures and gaps as to
the right of compensation, what ends in the establishment of conflicts in the judiciary.
There are many tries of evolution, looking forward to improving the topic addressed,
knowing that are many doctrinaire disagreements, as to the jurisprudential
understanding about the refunding of this right. Aims, also, at the occupational
disease case, the observation of moral and material damage. Lastly, it is verified that
the repair of the occupational disease is important for the social life, as to the
economy and politics of the country, reason why workers need to be aware to make
their rights count, as they are foreseen by Law, always existing moderation. The
methods to be used in the work Will be historic, as also deductive, once that there
Will be created relevant aspects on civil responsibility due to occupational diseases
existing in the juridical planning. Therefore, the comparative method will also be used
where it will be observed many positioning.

Keywords: Civil Responsibility. Objective.Accident Law. Occupational Disease.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7

2 RESPONSABILIDADE CIVIL .................................................................................. 9


2.1 Conceito e Aspectos Gerais .................................................................................. 9
2.2 Evolução Legislativa no Brasil ............................................................................. 12
2.3 Elementos da Responsabilidade Civil ................................................................. 16
2.3.1 Ação ou omissão voluntária – conduta ............................................................. 17
2.3.2 Dano ................................................................................................................. 18
2.3.3 Nexo de causalidade ........................................................................................ 21
2.3.4 Culpa ................................................................................................................ 23

3 DOENÇA OCUPACIONAL .................................................................................... 25


3.1 Conceito e Aspectos Gerais ................................................................................ 25
3.2 Evolução Legistativa no Brasil ............................................................................. 30
3.3 Da Equiparação ao Acidente do Trabalho ........................................................... 33
3.4 Espécies Legais de Doenças Ocupacionais........................................................ 36
3.4.1 Doença profissional .......................................................................................... 37
3.4.2 Doença do trabalho .......................................................................................... 38
3.5 Nexo Técnico Epidemiológico ............................................................................. 39

4 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA NA DOENÇA OCUPACIONAL ........... 46


4.1 Aspectos Gerais .................................................................................................. 46
4.2 A Teoria do Risco e Análise Jurisprudencial ....................................................... 48
4.3 Medidas Preventivas a Saude do Trabalhador .................................................... 60

5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 68

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 71


7

1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa enfatiza a responsabilização objetiva do


empregador pela doença ocupacional do empregado, uma vez que, pode haver
iniquidade nas ações por danos causados levando somente em consideração a
comprovação da culpa ou, ainda, há casos que a responsabilidade objetiva se torna
regra.

Justifica-se o presente tema, pela doença ocupacional ser recorrente


no cenário brasileiro, tornando-se preocupante a saúde do trabalhador e o
desencadeamento de problemas que os números alarmantes vêm tomando.

Assim, a doença ocupacional é vista neste trabalho por diversos


ângulos, como o do Direito do Trabalho, Direito Civil, Direito Previdenciário, Direito
Constitucional e seus reflexos, não só na esfera judiciária, mas também na
sociedade.

Com isto, a pesquisa buscou na doutrina, jurisprudência e na legislação


amparo para explicar o assunto.

O primeiro capítulo aborda a responsabilidade civil, como conceito,


aspectos gerais, evolução legislativa e os elementos da responsabilidade civil.

O segundo capítulo apresenta a doença ocupacional, seu conceito e


aspectos gerais, sua evolução legislativa, a equiparação ao acidente do trabalho, as
espécies legais de doenças ocupacionais, sendo elas, a doença do trabalho e a
doença profissional e o nexo técnico epidemiológico.

Por fim, o último tópico traz a responsabilidade civil objetiva do


empregador em decorrência da doença ocupacional do empregado, algumas
considerações, a teoria do risco juntamente com uma analise jurisprudencial e as
medidas preventivas que estão regulamentadas por lei para preservar a saúde do
trabalhador.

O objetivo deste trabalho é mostrar que os danos causados por uma


doença ocupacional geram prejuízos em varias esferas, não só para o trabalhador,
bem como, há prejuízo por parte do empregador, que quando prioriza somente a
8

qualidade de seu produto final e recusa-se a fornecer um ambiente de trabalho


salubre e adequado, perde, além da mão de obra, benefícios no que tange aos
descontos em tributos, além disso, o judiciário fica acarretado com ações
trabalhistas, e a sociedade perde indiretamente, visto que quando o trabalhador se
acomete de doença, ele evita gastos, gerando lentidão na economia do país.

Os métodos a serem utilizados no trabalho foi o histórico como


também, o dedutivo, uma vez que, foram citados aspectos relevantes sobre a
responsabilidade civil decorrente de doenças ocupacionais presente no
ordenamento jurídico. Assim sendo, foi utilizado também o método comparativo
onde foram analisadas as diferentes posições, tanto jurisprudenciais quanto
doutrinárias.
9

2 RESPONSABILIDADE CIVIL

Para chegar a um maior entendimento do presente trabalho, imperiosa


se faz uma descrição da Responsabilidade Civil, expondo seu conceito, a evolução
histórica, o dever de indenizar, seus elementos e teorias.

Analisar-se-ão neste primeiro capitulo as considerações


introdutóriassobre o tema em estudo.

2.1 Conceito e Aspectos Gerais

A Responsabilidade Civil é um tema contemporâneo, dinâmico e


flexível, passando por diversas mudanças e entendimentos ao longo do tempo,
assim como em vários assuntos do direito, vem sendo aperfeiçoado.

Neste sentido, a tendência seguida pela sociedade é de não deixar


nenhuma vítima de dano por violação de uma norma no âmbito do direito civil sem
reparação. Isso recai diretamente no instituto da responsabilidade civil, visto que tem
proporcionado um fenômeno de expansão dos danos suscetíveis de indenização.

O desembargador Sérgio Cavalieri Filho (2014, p.26) citando Daniel


Pizzaro diz a respeito do principio da reparação integral:

O anseio de obrigar o agente, causador do dano, a repara-lo inspira-se no


mais elementar sentimento de justiça. O dano causado pelo ato ilícito rompe
o equilíbrio jurídico-econômico anteriormente existente entre o agente e a
vitima. Há uma necessidade fundamental de se restabelecer esse equilíbrio,
o que se procura fazer recolocando o prejudicado no status quo ante.
Impera neste campo o principio da restitutio in integrum, isto é, tanto quanto
possível, repõe-se a vitima à situação anterior a lesão. Isso se faz através
de uma indenização fixada em proporção ao dano. Indenizar pela metade é
responsabilizar a vitima pelo resto.

O autor evidencia também que a violação de um dever jurídico


configura o ilícito, que, quase sempre, causa dano a outrem, provocando um novo
dever jurídico, ou seja, o de reparar o dano causado.
Ainda trazendo a noção de responsabilidade civil o autor (2014, p.14)
pontua:
10

Em seu sentido etimológico, responsabilidade exprime a ideia de obrigação,


encargo, contraprestação. Em sentido jurídico, o vocábulo não foge dessa
ideia. A essência da responsabilidade está ligada à noção de desvio de
conduta, ou seja, foi ela engendrada para alcançar as condutas praticadas
de forma contrária ao direito e danosas a outrem. Designa o dever que
alguém tem de reparar o prejuízo decorrente da violação de um outro dever
jurídico. Em apertada síntese, responsabilidade civil é um dever jurídico
sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de um
dever jurídico originário.

O doutrinador Rui Stoco (2007, p.114) elucida a origem da palavra


responsabilidade dizendo que “a noção de responsabilidade pode ser haurida da
própria origem da palavra, que vem do latim respondere, responder alguma coisa,
ou seja, a responsabilidade de responsabilizar alguém por seus atos”.

Já Diniz (2018, p.40) compreende como:

[...] a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral
ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma
praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela
pertencente ou de simples imposição legal.

Como já visto acima, o dano causado a outrem é passível de


indenização como forma de reparação. Assim, é importante destacar que a doutrina
divide a responsabilidade civil entre contratual e extracontratual.

A responsabilidade contratual decorre do descumprimento, violação,


transgressão de um vínculo preexistente obrigacional, pois, assim já está acordado
entre as partes através de um contrato ou negócio jurídico, tendo a parte infratora
pelo ilícito contratual o dever de indenizar, seja por uma obrigação imposta por
cláusula contratual, que é regida indiretamente pelo ordenamento jurídico, seja
diretamente pela própria lei.

Mas quando o dever de indenizar surge sem que o autor e a vítima


tenham um vínculo pré-estabelecido, ocasionado fora de um contrato ou negócio
jurídico, apenas pautado por um descumprimento da lei, mas especificadamente do
Código Civil, a responsabilidade pelo ilícito é extracontratual.

Assim sendo, o Código Civil no artigo 186, ordena: “Aquele que, por
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito“.
11

É importante identificar a natureza jurídica da obrigação de indenizar,


que pode dividir-se em voluntárias e legais, visto que no art. 927 do Código Civil
trata do dever de indenizar como uma obrigação.

Cavalieri (2014,p.16) conceitua-as da seguinte forma:

As primeiras são aquelas criadas por negócios jurídicos, trate-se de


contratos ou não, em função do principio da autonomia da vontade.
Obrigações, em suma, que existem porque quiseram que elas existissem e
que tem justamente o conteúdo que lhes quiseram imprimir. As segundas
são as obrigações impostas pela lei, dados certos pressupostos; existem
porque a lei lhes dá vida e com o conteúdo por ela definido. A vontade das
partes só intervém como condicionadora, e não como modeladora dos
efeitos jurídicos estatuídos na lei.

Vale lembrar que nem sempre o ato ilícito cometido é com intenção do
agente, algumas vezes ele pode atuar até contra sua intenção. Como também é
importante ressaltar que há a responsabilidade direta, por fato ocorrido da própria
pessoa e responsabilidade indireta, por fato de outro, como por exemplo, ser fiador,
pais de filhos menores, etc.

Seguindo essa linha de raciocínio, vejamos que o ato ilícito está


intimamente ligado à culpa. Porém, está mais do que consagrada a responsabilidade
objetiva, na qual inexiste o elemento culpa, trazendo assim uma nova perspectiva,
visto que a responsabilidade objetiva gera indenização sem culpa.

Há uma enorme diversidade na doutrina acerca da responsabilidade


objetiva, o entendimento a que se chega é de que seja por incolumidade, seja por
dever de segurança ou uma culpa presumida, há sempre um descumprimento de um
dever jurídico preexistente ou transgressão de uma conduta do agente, sendo os
casos em que ocorre indenização por um ato lícito – como é o caso do estado de
necessidade, que está expresso em lei – excepcional.

Assim, o parágrafo único do artigo 927 do Código Civil de 2002 deixou


claro:

Parágrafo único: Haverá obrigação de reparar o dano, independente de


culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.
12

Esse dispositivo evidencia com primor a responsabilidade objetiva no


nosso ordenamento, em observância com os quesitos trazidos no artigo, é capaz de
ser remetida ao juízo nos casos previstos em lei ou aplicando a teoria do risco da
atividade, ou seja, provocando risco de dano ao direito de outrem.

Muito embora o juiz possa analisar o que seria risco de dano do direito
de outrem, nosso ordenamento como forma de nortear e ponderar o julgamento, já
regulamentou diversas atividades consideradas de risco.

Contudo, a responsabilidade civil como veremos em tópicos


específicos, será analisada e configurada por vários requisitos, sendo eles: a) ação
ou omissão voluntária; b) relação de causalidade ou nexo causal; c) dano; e, d)
culpa.

2.2 Evolução legislativa no Brasil

O crescimento atual das demandas no judiciário a respeito de


indenizações por danos injustos causados por outrem vem causando grande
impacto nonosso ordenamento, visto que os cidadãos sabendo dos seus direitos e
juntamente com a evolução da própria sociedade – tornando os atos ilícitos mais
recorrentes –, tem-se buscado cada vez mais a reparação via judicial para o status
quo ante.

O passado não nos deixa mentir, no Código Civil de 1916, em seu


artigo 159, consagrava a culpa provada e a responsabilidade subjetiva, comportava-
se este artigo como uma cláusula geral, ou seja, não havia que se falar em
responsabilidade objetiva, sendo a culpa, o principal e essencial requisito para
reparar o dano.

Por conseguinte, a responsabilidade civil fora evoluindo conforme


podemos observar na vasta doutrina e jurisprudência acerca do tema, visto que a
Justiça é chamada constantemente para decidir os interesses dos que buscam a
reparação por atos ilícitos, passando ao longo do tempo a se adequar as evoluções
a sua volta, como em vários ramos do direito.
13

Cavalieri (2014, p.03) se retrata a respeito do assunto, ao dizer:

Dois fatores principais promoveram a revolução referida por Josserand: a


revolução Industrial, notadamente a partir da segunda metade do século
passado, incluindo o desenvolvimento cientifico e tecnológico, e a busca da
justiça social na construção de uma sociedade solidaria, o que tornou
imperativo modificar a organização do Estado, ensejando maior intervenção
na sociedade para garantir o acesso de todos cidadãos aos bens e serviços
necessários a uma vida digna.

Vê-se, mediante estudo causal e direcionado, ao debruçar-se sobre os


adventos temporais que guiaram, perante a história, as peculiaridades do direito do
civil, demonstrando o lastro jurídico a que a maioria das normas - senão todas elas –
encontra junto ao dinâmico avanço do tempo e conforme as grandes e diversas,
igualmente dinâmicas, ocorrências históricas.

Maior notoriedade, destarte, à Revolução Industrial, que trouxera à


tona grandes mutações nas questões de produtividade humana, em auxílio
tecnológico (à época) jamais anteriormente verificado.

Não apenas nas questões de produção, inclusive. Notório o avanço de


questões que dão ensejo ao estudo histórico presente, como se exemplifica, a
comercialização exacerbada, trazendo o fenômeno da cisão entre a produção e a
distribuição.

Tal fato se dera em função do advento da produção em massa


acarretada pelos avanços provindos da (r)evolução industrial, também, pelo
crescimento demográfico e consequente aumento significativo da demanda,
deslocando consigo questões merecedoras de maior e minuciosa análise.

Exemplo, o instituto do dano. Dano este, matéria primacial do presente


estudo.

O dano coletivo, dano em massa, então, passa a operar, como instituto


jurídico digno de tutela, desde a época até a atualidade, objeto de dinamicidade e
vasta transformação, entretanto, válido e essencial o entendimento de seu
surgimento.

O estudo, a tutela e a evolução do instituto do dano fora alimentado


pela busca do bem estar social, de justiça social, embasado em valores
14

anteriormente suprimidos e, assim, seja nas questões relacionais quanto nas


questões hierárquicas e intervencionistas do Estado, principalmente no período
chamado pós-guerra, buscara-se combater as lesões, os abusos, necessitando,
assim, da devida tutela.

De certo, afirma-se que o Estado, então, deixa o posto de espectador


para tornar-se, de vez, ator, integrante direto (ou mesmo indireto) da relação aludida,
em busca da sociedade solidária e a proteção contra o agente danoso, de mais
dificultosa identificação a partir do consumo, distribuição e produção em massa.
(CAVALIERI, 2014, p. 04)

Em avanços, viu-se nos termos gerais do Código Civil de 1916, com


fidelidade aos ideais corporativos da época, alusão ao sistema chamado de “culpa
provada”, onde para que se caracterizasse o dano, a culpa deveria ser comprovada,
existente e de básica importância na ocorrência daquele. (CAVALIERI, 2014, p. 05)

Diz-se, acerca do posicionamento dado à época, alusão à


subjetividade, “teoria subjetivista”, onde tanto a legislação quanto as relações
privadas eram dotadas de subjetividade, não constando de maneira positivada a
existência, nestes casos, trabalhistas principalmente, do dano em que não inferisse
culpa devidamente comprovada.

Nota-se, portanto, a capacidade de, em análise de lei, tolher-se direitos


e atender a anseios alheios ao bem estar social.

Em meio aos avanços (gratos) das questões jurídicas, bem como da


maior evolução comunicativa, cognitiva e até política da sociedade, a culpa fora se
esvaindo como instituto básico da responsabilidade, embora sob protestos dos
subjetivistas.

Assim, diante do desenfreado avanço de maquinário, a vasta


industrialização e as alterações trabalhistas e principalmente sociais (provenientes,
em grande parte, do trabalho), viu-se por insuficiente a adoção de culpa como
argumento, requisito jurídico do dano. Vencida, em parte, e com propriedade, o
subjetivismo. (CAVALIERI, 2014,p.05)

Por óbvio, apesar da dinamicidade e dos anseios aforados da


sociedade, o direito acompanha gradativamente as questões, ocorrendo pontuais
15

alterações e disposições que, paulatinamente, direcionavam os novos


entendimentos.

Por exemplo, algumas das Leis Especiais que foram editadas, como a
Lei das Estradas de Ferro, Acidente de Trabalho e sobre questões ambientais,
vestiram-se de importância basilar em meio ao código de 1916, que apenas trazia
por legal os termos de responsabilidade subjetiva.

Cediço o conhecimento de que a digna revolução da responsabilidade


civil sobreviera adjunta da Constituição de 1988, munida, por exemplo, dos institutos
do dano moral (exposto no artigo 5º, incisos V e X), estendendo também, no artigo
37, §6, a Responsabilidade Objetiva, estatal, e influente aos prestadores de serviço
público. (CAVALIERI, 2014, p. 05)

Este avanço, de suma importância em diversos campos jurídicos e


sociais, encontrou colossal passo adiante nas questões do dano e a
responsabilidade.

Diante do exposto, pode-se exprimir que a responsabilidade civil,


anteriormente disposta em artigo único do retrógrado Código Civil de 1916, passara
a possuir status constitucional, demasiado importante e vestido, a partir dali, de
diversas disposições específicas que vinham a evoluir o instituto, abrangendo assim,
de fato, maior parcela social e colaborando pela justiça e solidariedade social.

Mais adiante, em 1990, posto o Código do Consumidor, encerrara-se o


reinado da subjetividade nas questões de responsabilidade. Este, magistral avanço
social, protecionista aos hipossuficientes e assegurador de direitos. (CAVALIERI,
2014, p.06)

Transferira-se, a partir do então momento, a responsabilidade ao


fornecedor, esta que anteriormente era fielmente atrelada ao próprio consumidor.

Adotou-se, dali, a responsabilidade objetiva pelo dano provindo de


acidente de consumo, vícios e lesões, derramado sob o fornecedor e/ou produtor.
Mais precisamente, dispostos nos artigos 12 e 14 do referido diploma legal.

Diante dos fatos, cristalino o entendimento de que a responsabilidade


deixara de ser atrelada à conduta culposa, passando assim a derramar-se sobre os
16

fatos do produto ou serviço, não mis se submetendo aos anteriores e atrasados


entendimentos.

Por óbvio, vendo-se a avantajada lavra de relações que se resumem


ou se guiam por consumo e serviços, via-se a pormenorização dos institutos do
código civil vigente, ficando este, vencido.

Finalmente, em completude e complementação aos avençados,


sobreviera o Código Civil de 2002, incorporando os avanços tantos, como os já
narrados e vários demais, como danos ambientais e afins, modificando, portanto, as
disposições do código de 1916.

O avançado código, mais recente, prestigia a responsabilidade


objetiva, em detrimento do vencido anterior, que disciplinava o subjetivismo. Embora
não se tenha por vencida a responsabilidade subjetiva, ainda influente sobre
pontuais questões.

Entretanto, correto estabelecer que o atual entendimento e positivação


jurídica encontra a prevalecente responsabilidade objetiva, modelado ao longo dos
avanços do último século, coroados pela Constituição, restringindo a
responsabilidade subjetiva aos casos em que não se encontre legislação em oposto.

Prevê, ainda, o código civil recente, disposição acerca da


responsabilidade subjetiva, elemento e entendimento subsistente do antigo código.
O que não impede de discorrer sobre o majoritário crescimento e da evolução do
instituto da responsabilidade civil de caráter objetivo, prevalente importantíssimo
para o buscado bem estar social.

Assim, observadas as exposições, possível o brado da existência da


responsabilidade objetiva também em esparsas questões, como medida de avanço
e proteção, nobres funções do direito e sua dinamicidade.

2.3 Elementos Da Responsabilidade Civil

Passa-se, portanto, a analisedos elementos da responsabilidade civil,


sendo eles:ação ou omissão voluntária – conduta, o dano, o nexo de causalidade e
17

a culpa, uma vez que esta ultima éfacultativa para a espécie de responsabilidade
objetiva.

2.3.1 Ação ou omissão voluntária – conduta

Carlos Alberto Gonçalves (2017, p.59) cita o conceito de Silvio


Rodrigues:

Para Silvio Rodrigues, a ação ou omissão do agente, que dá origem à


indenização, geralmente decorre da infração de um dever, que pode ser
legal (disparo de arma em local proibido), contratual (venda de mercadoria
defeituosa, no prazo da garantia) e social (com abuso de direito:
denunciação caluniosa).

Assim, a responsabilidade civil exige como requisito imprescindível


para sua caracterização, a ação ou omissão da conduta humana livre, ou seja, uma
conduta voluntária (como define o art. 186, do Código Civil), de modo que, o
individuo que a pratica está com plena consciência de sua ação ou omissão.

Ressalta-se, não se trata de querer ou não causar o dano, ou saber se


está agindo ou não de má-fé, apenas, se tratando da consciência da ação de agir ou
omitir.

Nesse sentido, Stoco (2007, p.129)elucida:

A voluntariedade da conduta não se confunde com a projeção da vontade


sobre o resultado, isto é, o querer intencional de produzir o resultado; de
assumir o risco de produzi-lo; de não querê-lo, mas, ainda assim, atuar com
afoiteza, com indolência ou com incapacidade manifesta. O querer
intencional é matéria atinente à culpabilidade lato sensu.

Insta salientar, que a voluntariedade da conduta, tanto na


responsabilidade objetiva quanto na responsabilidade subjetiva, refere-se à
compreensão do ato material praticado, não necessariamente do ato ilícito.

Gonçalves (2017, p.58) faz uma importante ressalva:

A exigência de um fato “voluntário” na base do dano exclui do âmbito da


responsabilidade civil os danos causados por forças da natureza, bem como
18

os praticados em estado de inconsciência, mas não os praticados por uma


criança ou um demente. Essencial é que a ação ou omissão seja, em
abstrato, controlável ou dominável pela vontade do homem. Fato voluntário
equivale a fato controlável ou dominável pela vontade do homem.(Larenz,
LehrbuchdesSchuldrechts, II, 11. ed., apud Antunes Varela, A
responsabilidade no direito, p. 17-18.).

Diante do exposto, pode-se constatar que este elemento da


responsabilidade civil traz duas notoriedades, a voluntariedade, já tratada acima, e o
ato ilícito, qual seja, a ação ou omissão do agente que viola o ordenamento jurídico,
causando dano a outrem/ou a um bem juridicamente tutelado.

2.3.2 Dano

Por conseguinte, o dano é o segundoelemento da referida analise de


estudo, elencado também no artigo 186 do Código Civil, nesta ocasião, torna-se
indispensável para a indenização do mal causado pela conduta voluntária que
ensejou a antijuricidade do ato, visto que sem a existência do prejuízo, não há o que
reparar, podendo causar assim, enriquecimento ilícito.

Assim sendo, o doutrinador Belmonte (2009, p. 40) salienta a respeito


do tema, elucidando: “Dano, para efeito de responsabilidade civil, é o prejuízo
patrimonial, ou moral causado a bem jurídico de determinado sujeito de direito ou de
coletividade, por conduta imputável a alguém”.

É fática a insatisfação social quando da não contraprestação ao dano,


de tal forma que a responsabilidade civil tenta reequilibrar a condição de dano
sofrido, moral e/ou material, cediço que é exigida capacidade de convívio do
indivíduo social, quando há injusto dano há, também, negatividade perante a
sociedade, acerca da necessidade de reparação deste. (MANGUALDE, 2008).

Destarte, como já apresentado acima em tópico da evolução legislativa


no Brasil, como passardos anos a demanda de processos por danos, ensejando
indenizaçãose expandiu – suas causas – de uma forma surpreendente.

Melo (2006, p.162) conceitua dano como:


19

O dano é o objeto da responsabilidade civil, sem dano, não há falar em


responsabilização do agente causador de um ato ilícito ou não. O ato ilícito,
com efeito, é elemento constitutivo, na teoria subjetivista, do dever de
indenizar, pelo que, comete-o quem viola direito e causa dano a outrem.
Assim, se o elemento subjetivo da culpa é o dever violado e a
responsabilidade é uma reação provocada pela infração a um dever
preexistente, de outro lado, embora tenha havido violação de um dever
jurídico, mesmo com culpa ou dolo por parte do infrator, somente nascerá à
obrigação de indenizar, pela responsabilidade civil, se ficar comprovada a
existência de um dano concreto.

Valido lembrar, como consagração do principio de reparação integral, o


artigo 944 do Código Civil aduz: “A indenização mede-se pela extensão do dano”.
Entretanto, o legislador, utilizando de sua ponderação quanto aos fatos, direitos e
deveres dos cidadãos, incluiu o parágrafo único do referido artigo, enunciando: “Se
houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz
reduzir, equitativamente, a indenização”.

Acerca do dano, é importante que se pontue as nuances que o tecem,


em suas diferentes aplicações e análises.

Destarte, de suma importância a característica de imprescindibilidade,


visto que não há responsabilidade sem ocorrência de dano. Ou seja, cabível a
responsabilidade com culpa ou sem culpa, seja esta objetiva ou subjetiva, mas não
há que se falar em responsabilidade sem dano.

Dano nada mais é do que o prejuízo, o atentado, a lesão, cabível em


diversas situações e vestido de distintas características.

De pronto, ao discorrer sobre o dano, há que se pensar em dano


patrimonial, também denominado dano material, que incide sobre o patrimônio, os
bens materiais, os ganhos e posses do atingido. Tal dano material encontra,
também, interessantes institutos em sua esfera, dentre estes, o "lucro cessante",
dano inferido não sobre o "quantum ganho", mas quanto ao "quantum que se
deixara de ganhar", bem como o advento do "dano emergente", incidente sobre o
prejuízo concreto, a perda acarretada quando de sua concretude. (GONÇALVES,
2017, p.388)

Ainda, inserido no instituto jurídico do dano, há nuances imateriais a


serem exaltadas. O dano imaterial é o prejuízo trazido a alguém em sua esfera
20

pessoal, atingindo sua honra, sua dignidade, trazendo-lhe lesão que transcende o
palpável, o material.

Entretanto, para que tal narrado dano atinja características de


indenizável, resguarda questões a serem observadas, como a efetiva lesão ao bem
jurídico de outrem, em sua esfera material ou imaterial, devendo portanto ser
comprovadamente efetivo, ocorrente e existente, e que haja influído sobre bem
jurídico tutelado de cidadão distinto.

Insta salientar acerca da possibilidade de cumulação dos danos em


suas espécies, quando de apenas um ato, vestido de singular nexo causal, vier a
afetar alguém tanto na esfera patrimonial quanto na extrapatrimonial, sendo este
fático e concreto (fugindo, assim, do dano abstrato ou hipotético) e assim, ensejando
responsabilidade sobre dano material e imaterial, calcado em entendimento do
Supremo Tribunal de Justiça, a título de legitimação.

Para melhor cognição, abordar-se-á com maior detalhamento a


questão das qualidades de dano. Inserido na esfera patrimonial, vê-se a
deterioração de bem material, total ou parcialmente, trazendo prejuízo, portanto,
econômico, sendo estes bens apreciáveis economicamente.

"Dano Emergente" é a definição dada ao dano que infere sobre o


prejuízo concreto derramado sobre sua vítima, a diminuição patrimonial, o desfalque.
Noutra tangente, tem-se o lucro cessante, que versa sobre a perda de ganho já
esperado, garantido, que se esvai em detrimento do dado evento danoso.

Também, plenamente cabível a interpretação do dano material sobre a


própria pessoa, explanando a título de exemplo os acidentes de trabalho, que
acarretam deficiências, sequelas e danos de diversas formas.

No ambiente do dano moral, de caráter, portanto, extrapatrimonial, há


que se versar, conforme supracitado, sobre o prejuízo que foge ao palpável, à causa
de sentimento avessoa outrem, seja angústia, tristeza, vergonha, dentre outros
maus agouros acarretados à vitima de evento danoso que atente contra sua honra,
dignidade e moral.

Ainda, importante trazer à baila os ensinamentos de Pablo Stolze


Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2017, p.125).
21

A não materialização imediata do dano em valores econômicos não quer


dizer que ele seja etéreo. Em verdade, a certeza do dano decorre da efetiva
violação do direito na esfera extrapatrimonial. O fato de os efeitos do direito
violado serem imateriais não implica em inocorrência de violação, tampouco
na inexistência de direito lesado.

Dentre suas diversas nuances, cabe debruçar-se sobre o dano inferido


sob relações trabalhistas, como o dano acarretado ao obreiro que tem, injustamente,
rebaixada sua posição, consequentemente seus percebíveis, sofrendo dano tanto na
esfera patrimonial, quanto na esfera moral, no que tange sua honra e sua dignidade,
na sociedade e no trabalho. O mesmo aplicável às dispensas injustificadas, que
acarretam, aos dispensados, não apenas o veemente dano patrimonial, mas
também atenta contra sua honra e sua personalidade em seu mais íntimo.

Também, no ordenamento jurídico, em posturas contemporâneas, foge


o dano de característica personalíssima e, portanto, indenizável somente à direta
vítima deste. Há o advento do "dano ricochete", dano este derramado sobre
indivíduo próximo de alguém que tenha sofrido injusto dano também. Ou seja, há um
dano reflexo, acarretado a um terceiro pelo advento de dano a um segundo.

Caso recorrente e de imensa importância é o entendimento do dano


estético, inclusive (e extremamente dissolvido neste) no direito do trabalho, onde a
vítima de dano detém visível sequela corporal que venha a causar repulsa própria ou
a de quem o contata, cabendo, portanto, não apenas a indenização por dano
material pelas perdas patrimoniais e os gastos, mas também a indenização por dano
moral por atentar contra a personalidade do indivíduo e sua dignidade.

2.3.3 Nexo de causalidade

Cavalieri (2014, p.61) cita Caio Mário “é o mais delicado dos elementos
da responsabilidade civil e o mais difícil de ser determinado” (Responsabilidade Civil,
Forense, 9ª ed. 2000, p.76). Isto porque deve existir uma ligação entre o ato ilícito, o
agente, a vítima e o dano, este elemento conecta os outros elementos. Mais
importante ainda se faz, pois, com base nele, é que se determina quem foi o agente
22

que deu causa aquele dano, não se estendendo o nexo de causalidade para o que
está fora daquela relação.

Venosa (2013, p.66) elucida a respeito do tema:

O conceito de nexo causal, nexo etiológico ou relação de causalidade deriva


das leis naturais. É o liame que une a conduta do agente ao dano. Trata-se
de elemento indispensável. A responsabilidade objetiva dispensa a culpa,
mas nunca dispensará o nexo causal. Se a vítima, que experimento um
dano, não identificar o nexo causal que leva o ato danoso ao responsável,
não há como ser ressarcida. Nem sempre é fácil, no caso concreto,
estabelecer relação de causa e efeito.

Insta salientar que o nexo causal não pode se confundir com a culpa,
vez que, há a responsabilidade objetiva, podendo assim, somente analisar, se o
agente estava naquela relação causal que ensejou o dano de forma objetiva. Mas,
há também os casos em que as condutas do agente que ensejaram no dano, devem
ser analisadas conjuntamente com a culpabilidade, de forma subjetiva.

Neste sentido o doutrinador Cavalieri (2014, p.63) expõe:

Pode-se ainda afirmar que o nexo de causalidade é elemento indispensável


em qualquer espécie de responsabilidade civil. Pode haver responsabilidade
sem culpa, como teremos a oportunidade de ver quando estudarmos
responsabilidade objetiva, mas não pode haver responsabilidade sem nexo
causal.

Todavia, há situações que interrompem o nexo de causalidade como,


por exemplo, causas naturais, exercício regular de direito, causo fortuito, força maior
e culpa exclusiva da vítima.

Por isso, importante se faz a analise da conduta e resultado, devendo o


julgador estudar cada caso isoladamente.

Com isso, Cavalieri (2014, p.66)traz em sua obra sobre a teoria


adotada em nosso ordenamento acerca do nexo causal, entendimento este seguido
pelo Desembargador Martinho Garcez Neto:

A teoria dominante na atualidade é a da causa adequada, segundo a qual


nem todas as condições necessárias de um resultado são equivalentes: só
o são, é certo, em concreto, isto é, considerando-se o caso particular, não,
porém, em geral ou em abstrato, que é como se deve plantar o problema
[...].
23

Assim sendo, somente as concausas diretas que contribuíram para a


ocorrência do dano, vislumbram relevância para saber quem deve indenizar.

Vê-se no atual momento grande importância dada à comprovação do


Nexo Causal em face da responsabilidade objetiva.

Acaba, este, visto de sua dificuldade de comprovação e da


identificação do fato que, por si, deu ensejo ao dano. Resta, portanto, a este
instituto, a principal maneira de se eximir da responsabilidade, ou seja, encontra
eficácia em matéria defensiva para que não se atribua indenização.

2.3.4 Culpa

Passa-se, portanto, para o último elemento da responsabilidade civil, a


culpa.

Sobre o tema, expõe Gonçalves (2017, p.33/34):

“Alguns autores, para definir culpa, inspiram-se numa concepção moral de


culpabilidade. Consideram somente o aspecto subjetivo: se o agente podia
prever e evitar o dano, se quisesse, agindo livremente. Savatier, assim, a
define como ‘inexecução de um dever que o agente podia observar’.”

Destarte, Stoco (2007, p.130/131), ainda, elucida:

“A culpa em sentido estrito, entretanto, traduz o comportamento equivocado


da pessoa, despedida da intenção de lesar ou de violar direito, mas da qual
se poderia exigir comportamento diverso, posto que erro inescusável ou
sem justificativa plausível e evitável para o homo medius. A culpa, stricto
sensu, é o agir inadequado, equivocado, por força de comportamento
negligente, imprudente ou imperito, embora o agente não tenha querido o
resultado lesivo, desde que inescusável. Aliás, geralmente o seu objeto é
lícito, ausente da intenção de prejudica.”

Para o direito, culpa possui no mínimo dois sentidos diferentes, são


elas: a culpa lato sensu que abrange a culpa stricto sensu.

A culpa lato sensu, ou seja, em sentido amplo, nada mais é que a o


aspecto subjetivo da conduta. Logo, a conduta é o elemento externo e a culpa é o
elemento interno, está no nosso consciente, no psicológico. O individuo tem a
24

consciência de que praticar aquele ato é ilícito, da violação, isso faz com que não
externe a conduta danosa.

Porém, pode ser que a consciência, ou melhor, a vontade de praticar a


conduta não seja intencional, de modo que, ao agir, nem sempre o indivíduo quer
aquele resultado danoso, por exemplo, quando age de forma imperiosa, imprudente
ou negligente (stricto sensu). No entanto, basta que haja o mínimo de conduta
externa e livre, atos positivos e negativos para ser caracterizada a conduta
voluntária. Assim, por exemplo, quem estiver inconsciente ou sonâmbulo, não
constitui conduta voluntária (elemento da responsabilidade civil).

Todavia, é importante salientar que para a responsabilidade civil,


diferente do direito penal, independe se o indivíduo agiu com intenção do resultado
antijurídico (dolo) ou sem intenção (culpa), tendo o direito de ser indenizado, ou seja,
não se analisa graus de culpa ou modo de punição do agente, apenas se tratando
de ressarcimento do dano resultante de um ato ilícito.

No tocante ao assunto, há exceções, uma delas prevista no artigo 945


do Código Civil, tratando-se da hipótese de culpa concorrente, norteando o julgador
para analisar a gravidade da culpa da vítima e do autor do dano para fixar a
indenização.

Até então, no Código Civil de 1916 a culpa era elemento essencial para
obtenção do direito de indenização.

Contudo, o atual Código Civil de 2002 consagrou a responsabilidade


objetiva, em seu artigo 927, postulando que, não somente nos casos previstos em
lei, mas também em casos em concreto, admitir-se-á o afastamento da culpa,
importando tão somente os outros elementos da responsabilidade civil, adotando
assim, a teoria do risco, que veremos em tópicos abaixo.
25

3 DOENÇA OCUPACIONAL

Importante se faz este capítulo, em que versaremos sobre a doença


ocupacional, seu conceito, aspectos gerais, a equiparação ao acidente do trabalho,
sua previsão legal, o aspecto previdenciário sob a ótica do nexo epidemiológico, e a
diferença entre suas espécies, sendo elas, a doença do trabalho e a doença
profissional, para assim, entendermos o propósito do estudo final.

3.1 Conceito e Aspectos Gerais

O direito à vida, à saúde e à dignidade do ser humano são direitos


fundamentais, por essa razão, atribui-se ao empregador a função de afastar
condições de trabalho que importem em riscos adicionais para o trabalhador, que é
protegido por normas de saúde, higiene e segurança.

Assim, o empregador tem um dever constitucional de manter um


ambiente de trabalho adequado, seguro e salubre.

Como premissa, importante destacar o artigo 7°, incisos XXII e XVIII,


da Constituição Federal, que dispõe:

Art. 7º°. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros
que visem à melhoria de sua condição social:
[...]
Inciso XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas
de saúde, higiene e segurança;
[...]
Inciso XVIII - Seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do
empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando
ocorrer em dolo ou culpa.

Nesta mesma esteira de pensamentos, a Consolidação das Leis do


Trabalho, traz em seu capítulo V, o tema “Da Segurança e da Medicina do
Trabalho”, (capítulo alterado pela Lei n˚. 6.514, de 22 de dezembro de 1977). Neste
capítulo, o artigo 157 trata da obrigação das empresas em cumprir as normas
atinentes ao meio ambiente de trabalho, nos seguintes termos:
26

Art. 157. Cabe às empresas:


Inciso I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do
trabalho;
Inciso II - instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às
precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças
ocupacionais;
Inciso III - adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão
regional competente;
Inciso IV - facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente.

Todavia, a expressão "doença ocupacional" nos faz pensar em


fatalidade, sofrimento, infortúnio, desastre, um caso anormal, inesperado, que não
deveria acontecer, em razão de que, não é algo predestinado, que deveríamos
passar durante a vida, pois há inúmeras possibilidades de se ter um ambiente de
trabalhado adequado, seguro e salubre, digno da pessoa humana.

O acidente de trabalho encontra divergência à doença ocupacional,


pelo fato de esta não se desenvolver por fato instantâneo, mas sim paulatinamente
mediante processo que venha a desencadeá-la.Observa-se em atual entendimento
doutrinário que as mais pontuais divergências entre o acidente e a doença
ocupacional tratam de sua causa, sendo o acidente proveniente de imediatismo, de
causa externa que venha a causar instantâneo dano, inclusive na possibilidade
proposital, enquanto que n caso da doença ocupacional atenta-se à progressividade,
não imediato o resultado.O desencadeamento da doença ocupacional é dado de
maneira gradual, de processo interno, lentamente inferindo a danosa sequela.
(BRANDÃO, 2015, p.164)

No Brasil, é habitual ver a maioria dos empregadores pouco se


empenhando nas medidas de prevenção e eliminação dos agentes que possam vir a
prejudicar a integridade física do trabalhador, mesmo estes realizando serviços que
ensejam em graves riscos de doença ocupacional.

E frise-se, a negligência em não cumprir as legislações trabalhistas em


que pese à segurança e saúde do trabalhador é recorrente, aumentando a cada ano
o numero de acidentes e doenças ocupacionais.

Ratifica este pensamento o artigo 170 da Constituição Federal, o qual


declara explicitamente a submissão do capital ao trabalho humano, o que significa: o
exercício da atividade econômica não deve importar em risco à integridade física e
moral do trabalhador.
27

As normas de medicina e segurança, por sua vez, não se esgotam na


CLT e na Constituição Federal,pois no seu artigo 200, enuncia disposições
complementares às normas previstas no capítulo de “Segurança e Medicina do
Trabalho”, especialmente sobre: medidas de prevenção de acidente, os
equipamentos de proteção individual, higiene nos locais de trabalho, análise
ergonômica, dentre outras medidas complementares.

Deste modo, foi expedida pelo Ministério do Trabalho e Emprego


(MTE) a Portaria n˚. 3.214, de 08 de junho de 1978, que trata de uma série de
normas complementares no que diz respeito a condições de segurança e medicina
do trabalho. A referida Portaria dispõe a despeito das Normas Regulamentadoras
(NR).

A NR 01, por sua vez, trata das disposições gerais e Ordem de Serviço
de Segurança e Saúde do Trabalho, e, em seu item 1.7, determina os deveres do
empregador, que deve ser analisado em conjunto com o artigo 157 da CLT. Segue a
redação do referido item:

1.7. Cabe ao empregador:


a) cumprir e fazer cumprir as disposições legais e regulamentares sobre
segurança e medicina do trabalho;
b) elaborar ordens de serviço sobre segurança e saúde no trabalho, dando
ciência aos empregados por comunicados, cartazes ou meios eletrônicos;
c) informar aos trabalhadores:
I. os riscos profissionais que possam originar-se nos locais de trabalho;
II. os meios para prevenir e limitar tais riscos e as medidas adotadas pela
empresa;
III. os resultados dos exames médicos e de exames complementares de
diagnóstico aos quais os próprios trabalhadores forem submetidos;
d) permitir que representantes dos trabalhadores acompanhem a
fiscalização dos preceitos legais e regulamentares sobre segurança e
medicina do trabalho;
e) determinar procedimentos que devem ser adotados em caso e acidente
ou doença relacionada ao trabalho.

Demonstra-se por tanto, neste dispositivo o dever legal do empregador


em zelar por um ambiente de trabalho seguro, salubre e adequado, respeitando e
fazendo cumprir todas as normas referentes ao tema.

À vista disso,tambéma NR 6 dispõe a respeito do fornecimento de


EPIs para os trabalhadores, que são os equipamentos destinado à proteção de
riscos suscetíveis em ameaçar a saúde e segurança do trabalhador. De acordo com
28

a supramencionada norma, cabe ao empregador fornecer o equipamento adequado


para o risco da atividade, exigir o uso, orientando o trabalhador sobre o seu uso
adequado, registrando deste modo, o fornecimento do equipamento ao trabalhador.

Ainda, a NR 09, que trata do Programa de Prevenção de Riscos


Ambientais (PPRA), busca a preservação da saúde e integridade dos trabalhadores,
através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da
ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de
trabalho. Sobre o assunto, enuncia o item 9.3.5 da supramencionada NR, nos
seguintes termos:

9.3.5. Das medidas de controle.


9.3.5.1. Deverão ser adotadas as medidas necessárias suficientes para a
eliminação, a minimização ou o controle dos riscos ambientais sempre que
forem verificadas uma ou mais das seguintes situações:
a)identificação, na fase de antecipação, de risco potencial à saúde;
b)constatação, na fase de reconhecimento de risco evidente à saúde;
c)quando os resultados das avaliações quantitativas da exposição dos
trabalhadores excederem os valores dos limites previstos na NR 15 ou, na
ausência destes os valores limites de exposição ocupacionais adotados
pela American ConferenceofGovernmental Industrial Higyenists-ACGIH, ou
aqueles que venham a ser estabelecidos em negociação coletiva de
trabalho, desde que mais rigorosos do que os critérios técnico-legais
estabelecidos;
d)quando, através do controle médico da saúde, ficar caracterizado o nexo
causal entre danos observados na saúde os trabalhadores e a situação de
trabalho a que eles ficam expostos.
9.3.5.2. O estudo desenvolvimento e implantação de medidas de proteção
coletiva deverão obedecer à seguinte hierarquia:
a)medidas que eliminam ou reduzam a utilização ou a formação de agentes
prejudiciais à saúde;
b)medidas que previnam a liberação ou disseminação desses agentes
prejudiciais à saúde; trabalho;
c)medidas que reduzam os níveis ou a concentração desses agentes no
ambiente de trabalho.
9.3.5.3. A implantação de medidas de caráter coletivo deverá ser
acompanhada de treinamento dos trabalhadores quanto os procedimentos
que assegurem a sua eficiência e de informação sobre as eventuais
limitações de proteção que ofereçam;
9.3.5.4. Quando comprovado pelo empregador ou instituição, a inviabilidade
técnica da adoção de medidas de proteção coletiva ou quando estas não
forem suficientes ou encontrarem-se em fase de estudo, planejamento ou
implantação ou ainda em carátercomplementar ou emergencial, deverá ser
adotado outras medidas obedecendo-se à seguinte hierarquia:
a)medidas de caráter administrativo ou de organização do trabalho;
b)utilização de Equipamento de Proteção Individual - EPI.
9.3.5.5. A utilização de EPI no âmbito do programa deverá considerar as
Normas Legais e Administrativas em vigor e envolver no mínimo:
a)seleção do EPI adequado tecnicamente ao risco a que o trabalhador está
exposto e à atividade exercida, considerando-se a eficiência necessária
para o controle da exposição ao risco e o conforto oferecido segundo
avaliação do trabalhador usuário;
29

b)programa de treinamento dos trabalhadores quanto à sua correta


utilização e orientação sobre as limitações de proteção que o EPI oferece;
c)estabelecimento de normas ou procedimento para promover o
fornecimento, o uso, a guarda, a higienização, a conservação, a
manutenção e a reposição do EPI, visando a garantir a condições de
proteção originalmente estabelecidas;
d)caracterização das funções ou atividades dos trabalhadores, com a
respectiva identificação dos EPI utilizado para os riscos ambientais.
9.3.5.6. O PPRA deve estabelecer critérios e mecanismos de avaliação da
eficácia das medidas de proteção implantadas considerando os dados
obtidos nas avaliações realizadas e no controle médico da saúde previsto
na NR 07.

Desta maneira, o item certifica com excelência como os empregadores


deveriam produzir e aplicar os programas necessários para a análise dos riscos
presentes (Ordem de Serviço de Segurança e Saúde no Trabalho, PCMSO,
PPRA, Análise Ergonômica do Trabalho, LTCAT e demais disposições legais
relativas a Prevenção dos Acidentes de Trabalho), bem como, fornecer os
equipamentos minimamente necessários para as atividades, o que não ocorre
muitas vezes na pratica.

Estudaremos com mais profundidade em tópico abaixo o aspecto


previdenciário, mas a titulo de informação, o INSS (Instituto Nacional do Seguro
Social) e a OIT (Organização Internacional do Trabalho) apresentaram em sua
pesquisa no ano de 2014, somente no Brasil é atingido 2,2 milhões de trabalhadores
por ano por mortes laborais, gerando despesas no valor de 16 (dezesseis) bilhões
de reais nos últimos 11 anos, sendo o gasto anual de R$ 1.454.545.454,54.

Ainda, segundo a pesquisa realizada:

“160 milhões de pessoas com doenças não letais relacionadas ao trabalho,


indicando que a cada 15 segundos um trabalhador morre por acidente
laboral ou doenças ocupacionais e outros 115 se acidentam no ambiente de
trabalho.De acordo com o Portal da Câmara dos Deputados, o Brasil está
em quarto lugar no ranking mundial de acidentes de trabalho fatais, sendo
que o pagamento dos benefícios previdenciários e acidentários para os
segurados e dependentes consomem 90% dos recursos do INSS. O
benefício pago é da espécie B31, que não são decorrentes de acidentes de
trabalho e abrangem o Auxílio Doença e a Aposentadoria por Invalidez.”

Por conseguinte, cada vez mais o tema abordado vem ganhando a


merecida importância e reflexão nos sindicatos, nas empresas e na sociedade, visto
que esses índices apontam números exorbitantes, devendo preocupar-se mais com
30

a saúde do empregado juntamente com a boa produtividade, vislumbrando por todos


um país mais avançado e competitivo.

E se levados em consideração os pressupostos para o padrão ideal


que assegura a saúde e dignidade do empregado em seu exercício, por obvio, o
empregador só tem a usufruir dos benefícios, tendo em vista que, prejudicando a
saúde do empregado, acarretam-se além da má produtividade, danos matérias e
morais, custas que se obtém com o empregado que fica em casa sem poder
trabalhar, gerando prejuízos para a empresa em vários aspectos.

A cerca disto, o doutrinador Rui Stoco (2011, pag. 727) elucida: “O


bom patrão deve zelar pela segurança de seus empregados, mesmo que
negligentes ou despreparados, pois no seu interesse exerce-se atividade punitiva
com vista ao lucro.”

Ao se deparar com estudo do tema, observa-se que há um


desencadeamento de diversos problemas na sociedade, uma vez que, empregado
que se acomete de doença ocupacional ajuda na contribuição da renda familiar,
assim, desestruturando a família das vitimas, implicando tanto economicamente,
quanto emocionalmente, após as doenças.

Assim sendo, o empregado é ressarcido não só na esfera material,


bem como na esfera moral e social, que passou a sofrer após o dano ocorrido.

3.2 Evolução Legislativa no Brasil

Historicamente o legislador aos poucos foi reconhecendo os direitos


dos trabalhadores e através do primeiro Decreto n° 3.724 em 1919, apesar de
restrito e escasso, reconheceu o risco profissional do trabalho. (STOCO, 2007, p.
630).

Surgiu, então, o Decreto n° 24.637/34, que expandiu o âmbito de


proteção no plano do acidente do trabalho, além de melhorar a forma de tratamento
às doenças ocupacionais. Este instituto legal gerou a garantia compulsória da
indenização por meio de depósito ou seguro (STOCO, 2007, p. 630).
31

Ressalta-se que a constituição de 1934 trazia a assistência médica e


sanitária como direitos do trabalhador, expresso em seu artigo 121, §1°, h.

Nesta toada, o novo texto constitucional editado em 1937 trazia,


observado seu artigo 137. I, que as normas trabalhistas deveriam observar a
assistência médica e higiênica como deveres a serem fornecidos aos trabalhadores.

O terceiro Decreto sobre o tema foi o Decreto Lei n° 7.036/44, com a


chegada da Constituição de 1937, que aderiu a teoria do risco da atividade e
aprimorou o conceito de empregado, ampliando-o, além de estabelecer os casos
que poderiam ser qualificados como acidente do trabalho, incluindo a concausa.
Também reiterou a garantia do seguro obrigatório, que passou a ser dirigido pela
Previdência Social (STOCO, 2007, p. 630).

Deu-se ensejo, a partir dos avanços normativos neste sentido, às


edições normativas constitucionais subsequentes, como a constituição de 1946 que,
em seu artigo 157, VIII, assegurava o direito à higiene e, sobretudo, a segurança do
trabalho aos obreiros.

Mais adiante na linha temporal, observa-se a abrangência e os efeitos


esparsos dos avanços trabalhistas, bem como sua aderência e anseio social, visto
que mesmo em tempos de insegurança institucional o território pátrio, A Lei 5.161,
de 1966, foi editada para fins da criação da “Fundação Centro Nacional de
Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho”, dando força normativa às evoluções e
lutas.

No ano seguinte, em edição constitucional, foi reconhecido o direito dos


trabalhadores à higiene e segurança no trabalho, parte integrante do texto
Constitucional de 1967 (art.158, IX).

Seguiu-se o pátio pelo merecido reconhecimento do trabalho no campo


normativo brasileiro, observada à luz da Emenda Constitucional grafada em 1969,
repetindo as mesmas disposições em seu artigo 165, inciso IX.

Em meio às alterações que visavam à melhoria nas condições de


trabalho, ainda se observava, no entanto, diversos índices demonstrativos de que
ainda se faziam necessárias diversas medidas protetivas, punitivas e preventivas no
ambiente e na relação de labor.
32

De acordo com dados oficiais, em 1975 o Brasil conseguiu o título de


campeão mundial de acidentes do trabalho. Nestes termos declara OLIVEIRA (2013,
p. 31/32):

Desde que o Brasil obteve o lamentável título de campeão mundial de


acidentes do trabalho na década de 70 do século passado, diversas
alterações legislativas e punições mais severas foram adotadas e muitos
esforços estão ocorrendo para melhorar a segurança e qualidade de vida
nos locais de trabalho.

Dessa forma, para que se tenha um ambiente de trabalho adequado,


melhorando a segurança e a saúde dos obreiros, tiveram de ocorrer inúmeras
mudanças ao longo do tempo, através das leis, punindo mais rigorosamente os que
não a respeitam.

Em 1977 editou-se a Lei 6.514, que renovou a redação dos artigos 154
e 201 da CLT, passando a tratar da “segurança e medicina do trabalho”, em
detrimento da anterior “higiene e segurança do trabalho”.

No ano seguinte, 1978, a Portaria n° 3.214, demarcou as atividades


insalubres e perigosas, caracterizando grande avanço nas relações laborais, em
veemente proteção às garantias do trabalhador.

Ainda assim, mesmo com as transformações durante os anos, o Brasil


ainda precisa melhorar muito em vista dos países mais desenvolvidos, pois neles, os
acidentes e doenças só diminuem, ao passo que no Brasil os índices só aumentam.

Em nossa vigente Constituição Federal de 1988 perdura toda carga


histórica que houve na formação e edificação dos nossos direitos, reiterou os planos
de previdência social envolvendo o acidente do trabalho, a cobertura dos eventos
resultantes de invalidez, morte e doenças.

Trouxe os direitos sociais do trabalhador constitucionalmente


protegidos por cláusula pétrea, em seu artigo 7°, incisos XXII e XVIII, ter um
ambiente de trabalho seguro, salubre e adequado, protegido por normas de saúde,
higiene e segurança.

Bem como a Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu artigo


23º, que enuncia:
33

1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a


condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o
desemprego.
2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual
remuneração por igual trabalho.
3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e
satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência
compatível com a dignidade humana e a que se acrescentará se
necessário, outros meios de proteção social.
4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar
para proteção de seus interesses.

Assim sendo, com o avanço da sociedade e com o aumento das


indústrias, o número exorbitante de trabalhadores que se acidentam e adoecem
cresce cada vez mais.

Por fim, a Lei 11.430/06 inseriu o artigo 21-A na Lei 8.213/91,


evidenciando sobre o nexo entre o trabalho e o agravo da doença, proveniente da
atividade em que o empregado exerce na empresa e a doença que causa sua
incapacidade.

3.3 Da Equiparação ao Acidente do Trabalho

Como inteirado em tópico anterior, o conceito de acidente do trabalho


modificou-se com o lapso temporal, atualmente, encontra-se seu conceito em
sentido estrito no artigo 19 da Lei 8.213/91, este, lapidou e abrangeu o conteúdo e o
direito.

O doutrinador Carrion (2004, p.177) traz um exímio conceito:

[...] aquele que ocorrer pelo exercício do trabalho, a serviço da empresa,


provocando lesão corporal, perturbação funcional ou doença que cause a
morte ou perda ou redução permanente ou temporária da capacidade para
o trabalho; isto diz a respeito também à causa que, não sendo única, tenha
contribuído para o resultado; pode ocorrer no local de trabalho, a serviço da
empresa e nos intervalos ou a caminho.

Verifica-se por tanto, que além do acidente tipo já mencionado, existem


os acidentes por equiparação. Entende-se por acidentes no ambiente e no horário
34

de trabalho, bem como, os acidentes que acontecem fora do ambiente e do horário


de trabalho.

Torna-se imprescindível para maior entendimento sobre a equiparação,


o conceito de acidente do trabalho.

Por conseguinte, o doutrinador Claudio Brandão (2006, p.119/120)


preceitua a respeito da equiparação do acidente do trabalho e doença ocupacional,
classificando-os:

“a) acidente-tipo;
b) doenças ocupacionais, que compreendem
- doenças profissionais;
- doenças do trabalho;
- doenças provenientes da contaminação acidental;
c) acidentes por equiparação, ocorridos no ambientee no horário de
trabalho:
- doenças provocadas por concausas;
- lesões provocadas por terceiros;
-danos provocados por agressão injusta, sabotagem ou terrorismo;
- ofensas físicas intencionais, por causa ligada aotrabalho;
- acidentes causados por culpa de terceiro;
- lesões provenientes de pessoa privada do uso da razão;
- acidentes provocados por força maior;
d) acidentes por equiparação, ocorridos fora do ambiente e do horário de
trabalho:
- na execução de ordem ou na realização de serviço sob autoridade do
empregador;
- na prestação de serviço para evitar prejuízo ou proporcionar proveito;
- em viagem de serviço;
- acidente no percurso;
- nos períodos de refeição e descanso;
- nos períodos em que estiver satisfazendo as necessidades biológicas.”

Insta salientar que a equiparação já havia sido feita desde o primeiro


decreto, nº 3.724 de 1919, no seu artigo 1°, que se referia a “moléstia contraída
exclusivamente pelo exercício do trabalho”. No decorrer do tempo, “a legislação
incorporou as doenças atípicas, que passaram a ser denominadas “doenças do
trabalho”, desde a quarta lei acidentária de 1967” (BRANDÃO, 2009, p. 45).

Do mesmo modo, a legislação atual deu continuidade a está direção,


visto que, além do conceito de acidente do trabalho em sentido estrito, trouxe a
equiparação com as doenças ocupacionais no artigo 20 da Lei 8.213/91, sendo
estas, gênero, das quais são espécies a doença profissional e a doença do trabalho:
35

“Art. 20 - consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior,


as seguintes entidades mórbidas:
I – doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo
exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da
respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência
Social;
II – doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em
função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se
relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso.”

A equiparação entre as doenças ocupacionais e acidente do trabalho,


ecoa principalmente para definir os efeitos legais, tratando-se de matéria
previdenciários dois devem incidir igualmente.

Assim, o Ministério do Trabalho e a Previdência Social difundem como


três espécies de acidente do trabalho: acidente típico, acidente de trajeto e as
doenças ocupacionais.

Ademais, importante se faz, a diferenciação entre a doença e o


acidente. Desta maneira, o professor Brandão (2009, p.157) elucida:

“a) O acidente é caracterizado, em regra, pelo subtaneidade e violência, ao


passo que a doença decorre de um processo que tem certa duração,
embora se desencadeie num momento certo, gerando a impossibilidade do
exercício das atividades pelo empregado;
b) No acidente a causa é externa, quanto à doença, em geral, apresenta-se
internamente, num processo silencioso peculiar às moléstias orgânicas do
homem;
c) O acidente pode ser provocado, intencionalmente, ao passo que a
doença não, ainda que seja possível a simulação pelo empregado;
d) No acidente a causa e o efeito, em geral, são simultâneos, enquanto na
doença o imediatismo é a sua característica.”

Distingue-se, portanto, as doenças ocupacionais de acidente do


trabalho por não ocorrerem de um fato imediato, mas de uma gradativa prossecução
de eventos.

Com tudo, veremos em tópicos a seguir, mais profundamente as


espécies legais de doenças ocupacionais.
36

3.4 Espécies Legais de Doenças Ocupacionais

A lei 8.213/91 salienta duas subespécies legais de doenças


ocupacionais, sendo elas, doenças profissionais e doenças do trabalho.

Por conseguinte, para diminuir os questionamentos acerca das


doenças ocupacionais, foram listadas no Anexo II, Lista B do Decreto nº 6.957, de 9
de setembro de 2009 que regulamenta a lei da Previdência Social.

Destarte, Souza (2000, p. 50/51) discrimina as duas espécies:

“A doença profissional ou tecnopatia, que tem no trabalho a sua causa


única, eficiente, por sua natureza, ou seja, insalubridade. São doenças
típicas de algumas atividades laborativas. O trabalhador em contato direto
com a sílica invariavelmente apresentará a silicose. A leucopenia é outro
caso. Nos dias atuais, a tenossinovite é o tipo mais evidente de doença
profissional, também conhecida como doença dos digitadores, pianistas,
montadores. Estas têm nexo presumido na lei. 33 As doenças do trabalho
atípicas, também conhecidas por mesopatias ou doenças do meio, ou
ainda, doenças de condições do trabalho, que são as doenças
indiretamente profissionais por não terem no trabalho sua causa única e
exclusiva, as quais são assim classificadas porque o ambiente do trabalho é
o fato que põe a causa mórbida em condições de produzir lesões
incapacitantes. As mesopatias, se não decorrentes diretamente da atividade
laborativa, são adquiridas em razão das condições em que o trabalho é
realizado (pneumopatias, tuberculose, bronquites, sinusite etc.). As
condições excepcionais ou especiais de trabalho determinam a quebra da
resistência orgânica com a consequente eclosão ou a exacerbação do
quadro mórbido e até mesmo seu agravamento. Estas não têm o nexo
etiológico presumido com o trabalho, segundo a lei, sendo aquele
determinável conforme prova pericial, testemunhal e até mesmo indiciaria
em muitos casos. Não escapam do conceito de doença do trabalho as
concausas de agravamento do estado mórbido, que, não sendo
responsáveis diretamente pela incapacitação, de qualquer modo pioram o
estado físico do trabalhador. As concausas se identificam com as causas
para efeitos legais de amparo infortunístico.”

Observa-se para tanto, que o reconhecimento destas subespécies


pode ocorrer através de determinação jurídica e descrição médica.
37

3.4.1 Doença profissional

As doenças profissionais estão descritas no inciso I do artigo 20, da


Lei 8.213/91. São as chamadas doenças “verdadeiras”, peculiares da profissão, ou
seja, são provocadas por determinada função ou exercício.

Desta forma, para evitar maiores duvidas, a maioria das doenças são
elencadas e comprovadas pela Previdência Social, assim sendo, caso o empregado
se acometa de doença profissional, é presumida.

As doenças profissionais relacionam-se com as atividades insalubres,


visto que, a maioria tem causa por os agentes químicos, biológicos e físicos que
determinadas atividades expõe os trabalhadores.

Leciona Brandão (2006, p.158) sobre as causas das doenças


profissionais “causadas por agentes físicos, químicos ou biológicos peculiares a
determinadas funções e caracterizadas, como tais, na Lei. Doenças que persistem,
ainda que sejam adotadas medidas preventivas”.

Ainda, o doutrinador retrata “As doenças profissionais também são


conhecidas comoergopatias, tecnopatias, idiopatias, doenças profissionais típicas,
doenças profissionais verdadeiras”.

Sebastião G. de Oliveira (2013, p.51) conceitua doença profissional:

É aquela peculiar a determinada atividade ou profissão, também chamada


de doença profissional típica, tecnopatia ou ergopatia. O exercício de
determinada profissão pode produzir oudesencadear certas patologias,
sendo que, nessa hipótese, o nexo causal da doença com a atividade é
presumido.

Já Diniz (2010, p. 433) destaca que a doença profissional trata-se de


uma “deficiência sofrida pelo operário, em razão de sua profissão, que obriga a estar
em contato com substâncias que debilitam o seu organismo ou exercer a sua tarefa,
que envolve fato insalubre”.

Segundo Russomano (Revista dos Tribunais, 1970, v. I. p. 26/27)para


haver caracterização de doença profissional é necessária a presença de algumas
particularidades patogênicas para defini-la:
38

a) aparecimento dos sintomas de forma idêntica em vários trabalhadores


que se dedicam à mesma profissão, no mesmo estabelecimento ou em
estabelecimentos distintos;
b) ficar evidenciado que a doença tem como causa a atividadedesenvolvida
pelo trabalhador na empresa, seja pelas condições de serviço (subsolo, por
exemplo), seja pelos métodos (levantamento de peso pela força muscular),
seja pelos materiais utilizados (tóxicos).

Para melhor exemplificar acerca da matéria, são consideras doenças


profissionais os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), a
Lesão por Esforço Repetitivo (LER) e a Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR),
entre outras.

3.4.2 Doenças do trabalho

Já as doenças do trabalho, descrita no inciso II, do artigo 20, da Lei


8.213/91, são consideradas doenças atípicas, doenças de meio, que ocorre
indiretamente do trabalho, que não estão atreladas a esta ou aquela profissão, e são
conhecidas como mesopatia.Nelas, “o trabalho age como fator de risco, contribuindo
ou adicionando causas a doenças não específicas” (MANGUALDE, 2008).

Deste modo, diferente das doenças profissionais, que em regra são


presumidas, as doenças do trabalho, precisam ser provadas, através do nexo de
causalidade, por meio de prova testemunhal, pericial e todas as formas que o direito
permite, visto que, além do seu aparecimento ocorrer de forma lenta e progressiva,
com um efeito cumulativo durante o tempo, são consideradas doenças comuns,
sendo assim, poderiam ser diagnosticadas por qualquer outro motivo, que não o
trabalho.

Segundo o doutrinador José de Oliveira, em sua obra Acidentes do


Trabalho (1997, p.2), nas doenças do trabalho : “as condições excepcionais ou
essenciais do trabalho determinam a quebra da resistência orgânica com a
consequente eclosão ou a exacerbação do quadro mórbido, e até mesmo o seu
agravamento”.
39

Theodoro Junior (1987, p.07)refere-se como “doenças comuns, que, no


entanto, numa determinada hipótese, foram, excepcionalmente, geradas pelas
condições momentâneas do trabalho”.

Por exemplo, a LER, pode ser tanto doença profissional, quanto


doença do trabalho, havendo tanto a vinculação direta, quanto indireta do trabalho.

Outro exemplo de doença comum que precisa da comprovação do


nexo de causalidade é a depressão, que pode advir de vários fatores, mas pode ter
sua comprovação através de laudo médico que o trabalhador se acometeu por
causa do trabalho.

O professor Wladimir Martinez (1992, p.99) ressalta com excelência a


causalidade da doença profissional:

Deriva das condições do exercício, do ambiente do trabalho, dos


instrumentos adotados, sendo própria, sobretudo, das empresas que
exploram a mesma atividade econômica e não necessariamente
conceituadas como fazendo parte do obreiro.

Como já aludido acima, é de suma importância distinguir as duas


espécies de doenças, tendo em vista que uma, o nexo causal é presumido, já a
outra, precisa ser comprovado, colocando a posto, o ônus da prova.

Por tanto, o trabalhador, para comprovar a responsabilidade do


empregador sob a doença do trabalho, precisa, necessariamente, evidenciar a
doença, provando que a adquiriu devido à atividade que exercia.

3.5 Nexo Técnico Epidemiológico

Em conexo com os tópicos anteriores, importante se faz, a


compreensão do nexo técnico epidemiológico, devido a sua repercussão na
matéria previdenciária, bem como, na esfera de responsabilidade civil do
empregador.

Ressalta-se que no Brasil, há uma cruel realidade sob este aspecto,


sobretudo na doença ocupacional, uma vez que os empregadores constantemente
40

não preenchem a CAT (Comunicação do Acidente do Trabalho), para que os


empregados recebam o auxilio doença acidentário.

Por conseguinte, vê-se a maioria dos empregadores não


cumprindocom suas responsabilidades quando o assunto é segurança do trabalho,
como já evidenciado, se evadem de trazer um ambiente salubre, seguro e adequado
para o empregado. Sendo assim, fez-se indispensável lastrear outra forma para
apurar e apontar as doenças do trabalho como acidente de trabalho.

Por essa razão, a redação da Medida Provisória 316/06, criou a Lei


Previdenciária 11.430/06, aditando a Lei 8.213/91. Assim, o sequente artigo 21-A,
interpôs essenciais mudanças sobre a possibilidade de reconhecimento da
incapacidade por doença ocupacional, mesmo sem a emissão da CAT, ser
reconhecida como acidente de trabalho:

Art. 21-A. A perícia médica do INSS considerará caracterizada a natureza


acidentária da incapacidade quando constatar ocorrência de nexo técnico
epidemiológico entre o trabalho e o agravo, decorrente da relação entre a
atividade da empresa e a entidade mórbida motivadora da incapacidade
elencada na Classificação Internacional de Doenças - CID, em
conformidade com o que dispuser o regulamento.
§ 1º A perícia médica do INSS deixará de aplicar o disposto neste artigo
quando demonstrada a inexistência do nexo de que trata o caput deste
artigo.
§ 2º A empresa poderá requerer a não aplicação do nexo técnico
epidemiológico, de cuja decisão caberá recurso com efeito suspensivo, da
empresa ou dosegurado, ao Conselho de Recursos da Previdência Social.

Segundo o doutrinador Sebastião Geraldo de Oliveira (2013, p.52):

“A relação das doenças profissionais e do trabalho mencionada no art. 20, I,


retro, está inserida no Anexo II do atual Regulamento da Previdência Social.
O mencionado Anexo, após a mudança introduzida pelo Decreto n. 6.042,
de 12 fev. 2007, engloba três relações importantes: a primeira indica os
agentes patogênicos causadores de doenças profissionais ou do trabalho; a
segunda – Lista A – aponta os agentes ou fatores de risco de natureza
ocupacional, relacionados com o trabalho e a terceira – Lista B – indica as
doenças ocupacionais e os possíveis agentes etiológicos ou fatores de risco
de natureza ocupacional.”

Importante destacar, que a relação das doenças ocupacionais


(profissional ou do trabalho) anexa ao Decreto nº. 3.048/99 não tem caráter
41

exaustivo, mas apenas exemplificativo. Aliás, há previsão legal expressa nesse


sentido no artigo 20, § 2º, da Lei nº. 8.213/91, conforme texto legal enunciado acima.

Conforme explanaAraújo Júnior (2009, p.61):

O não enquadramento da enfermidade laboral na relação das doenças


ocupacionais adotadas pelo Ministério da Saúde (MS) e pelo Ministério da
Previdência e Assistência Social (MPAS) não é obstáculo na caracterização
de novos tipos de doença do trabalho ou de doença profissional, uma vez
que a listagem das doenças ocupacionais que consta do Regulamento da
Previdência Social não é exaustiva, conforme estabelece o art. 20, §2º, da
Lei n. 8.213/91.

Ainda, Sebastião (2013, p. 54), elucida:

Esse dispositivo legal deixa largo espaço para o enquadramento como


acidente do trabalho das doenças relacionadas com o trabalho
(mesopatias), mesmo quando o agente patogênico não consta da relação
da Previdência Social, bastando que haja nexo causal entre a doença e as
condições em que o trabalho era executado. Como exemplo, pode ser
citado um caso de estupro ocorrido no Rio de Janeiro em 1997,
caracterizado pelo INSS como acidente do trabalho, quando uma
empregada, que trabalhava como gerente de uma loja de artigos femininos,
foi violentada pelo filho do dono da empresa. Além de contrair herpes, a
vítima ficou sem condições de trabalhar, pois enfrenta momentos de pânico,
necessitando de acompanhamento psiquiátrico.

Esse aditamento trouxe uma evolução nas questões trabalhistas para o


empregado, visto que o critério para definir o nexo causal da doença ocupacional
passou a levar em conta dados estatísticos epidemiológicos, além de não mais exigir
do empregado a CAT para receber o beneficio do auxilio doença acidentário.

Existe uma distinção entre o NTP (Nexo Técnico Previdenciário) e o


NTEP (Nexo Técnico Epidemiológico). O primeiro considera enquadrado, o
trabalhador conforme sua ocupação na empresa e o diagnostico médico que está no
CID (Classificação Internacional de Doença). O segundo nos parece ser mais
abrangente, visto que, se verifica primeiramente o CID, seguidamente o direciona
para a sua incidência de estatística dentro da Classificação Nacional de Atividade –
CNAE.

Ribeiro (2008, p. 110) elucida de forma impecável o NTEP:

“O cruzamento de dados propiciado pelo NTEP consiste em captar, através


de um programa de computador, os dados da empresa, através de seu
42

CNPJ, e de número identificador de sua atividade (CNAE), e cruzá-lo com o


número identificado do trabalhador (NIT) e a patologia diagnosticada pelo
médico do trabalho (CID-10). Havendo uma ligação entre esses dados, tem-
se estabelecido o Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário.”

Conforme estabelecido, o NTEP encontra-se amparado pelo artigo 212,


IV, do Código Civil, cabendo também impugnação ao laudo pelo empregador, nos
termos dos artigos § 2.º do art. 21-A, da Lei 8213/91, e § 7.º do art. 337, do Decreto
3048/99. Isto é, o NTEP permite a inversão do ônus da prova em favor do
empregado, nada mais justo, seja porque é a parte hipossuficiente, seja porque cabe
ao empregador elaborar, provando a inexistência do nexo de causalidade.

Destarte, expõe Maria Rita Manzarra GarciaAguiar (2008):

Destaco, outrossim, que a inversão do ônus do prova revela-se bastante


razoável, haja vista a maior facilidade que dispõe o empregador na
obtenção dos meios de prova, seja por ser detentor de todas as
informações (PPRA, PCMSO, laudos periciais), seja por dispor de setor
médico na empresa, possuindo exames admissionais, demissionais e
outros.

O ato praticado pelo legislador, ao instituir o NTEP, encontrara


embasamento no vasto descumprimento das regras da CAT por parte dos
empregadores, bem como a dificultosa fiscalização das condições laborais.

O ente Estatal, então, deslinda estudo com vista as mais recorrentes


patologias que afligiam os obreiros em distintos ramos de trabalho, alimentado pela
elevada busca pelos benefícios de incapacidade, em suma provenientes nitidamente
de acidentes do trabalho, em situações em que é ausente ao individuo a CAT.
Buscaram-se, assim, os mais determinantes fatores para a ocasião das doenças.

Ato este, acompanhado pelo estudo que viera a aprofundar o chamado


FAP (Fator Acidentário de Prevenção), observando as condições de trabalhadores
que possuíam contratos de trabalho formais.

Insta salientar, o disposto no Decreto nº 6.042/07 sobre o FAP,


elucidando a cerca da punição e controle das empresas em que ocorrera numerosos
acidentes do trabalho.
43

Paulo Rogério A. de Oliveira (2008, p. 158) clarifica a respeito do


funcionamento do calculo feito para aumento ou redução do SAT (Seguro de
Acidente do Trabalho), pago pelas empresas:

Designa-se Fator Acidentário de Prevenção – FAP o número, dentro do


intervalo contínuo fechado (0,5000; 2,000), que se multiplica as alíquotas de
1%, 2% ou 3% para cada uma das empresas empregadoras brasileiras, de
forma a reduzir em até 50% ou majorar até 100%. O FAP é determinado por
discriminação dos distanciamentos lineares de coordenadas tridimensionais
em um mesmo CNAE. O procedimento consiste em padronizar os
coeficientes de frequência, gravidade e custo para cada empresa e em
seguida, atribuir o FAP.

O FAP conjuntamente com o NTEP serve como base para multiplicar


ou diminuir os tributos de empresas, tendo como objetivo incentivar e estimular as
empresas a implementar condições de trabalho mais integras, com políticas mais
efetivas de saúde e segurança no trabalho, para reduzir os acidentes.

A Organização Internacional do Trabalho viera a propor os indicadores


de frequência, gravidade e custo, que por sua vez compõem o FAP. Assim, dando
ensejo à avaliação e comparação entre os riscos da atividade classificada no CNAE,
possibilitando mais profunda análise. Com isso, possibilita-se ao INSS, bem como a
demais órgãos a adoção de medidas que venham a prevenir e combater a incidência
de acidentes de trabalho.

Prossegue Oliveira (2008, p. 168-9), acerca do FAP:

Enquanto a gradação tributária dos riscos do CNAE deve se fazer ao menos


uma vez a cada três anos, o FAP deve ser atribuído, a cada uma das
empresas do CNAE, uma vez ao ano, também de modo contínuo e
aglomerativo, pois nessa primeira geração foram usados dados SUB-CNIS
de maio/2004 a dez/2006, porém nas próximas haverá novas cargas de
dados, a partir de 2006. A combinação desses dois mecanismos consagra a
figura do risco consumado ao invés do risco potencial, ao passo que
contribui no equacionamento das três dimensões fundamentais – saúde X
desenvolvimento (livre-iniciativa) X Meio Ambiente do Trabalho como visto
no capítulo dois[7], fortemente distorcido pelo vértice da iniciativa privada.
Essa mesma iniciativa privada que faz opção pelo pagamento do adicional
de insalubridade, vê-se instada a sanear o meio ambiente do trabalho, pelo
simples e lacônico axioma: proteger o trabalhador aumenta os lucros.
Vislumbra-se ainda que o FAP sirva como parâmetro ou indicador de
qualidade ambiental para fins de certificações e de concorrência pública,
principalmente como elemento mercadológico, do tipo: compre meu produto
porque além de bom e barato é saio para você e para quem o faz.
Finalmente, o mecanismo do FAP além de contrabalancear as forças
liberalizantes e sociais conforme a discussão do segundo capítulo, permite
objetivamente distinguir, dentro de um mesmo CNAE-Classe, as boas das
44

más empresas quanto à acidentabilidade, bem como, principalmente –


responde à problematização posta no item 8.2 – objetivo específico desta
tese – e ao desafio colocado pelo artigo 10 da Lei 10.666/2003.

Ademais, o artigo 337 do Decreto 3.048/99, alterado pelo Decreto


6.042/07, em seu parágrafo 3º, expõe sobre o nexo técnico epidemiológico entre a
doença ocupacional e a relação causal com o trabalho:

Considera-se estabelecido o nexo entre o trabalho e o agravo quando se


verificar nexo técnico epidemiológico entre a atividade da empresa e a
entidade mórbida motivadora da incapacidade, elencada na Classificação
Internacional de Doenças (CID) em conformidade com o disposto na Lista B
do Anexo II deste Regulamento.

Com a elaboração deste artigo, tornou-se possível o requerimento do


beneficio previdenciário do auxilio doença, com embasamento no laudo pericial feito
pelo INSS, onde será avaliado a doença ocupacional, seu CID, os agentes
etiológicos e os fatores de riscos da atividade exercida.

Assim exemplifica Rita Maria M. G.Aguiar em seu artigo publicado


(2008):

Com espeque em tal dispositivo legal, poderia o médico perito do INSS


diante de um segurado, por exemplo, acometido de LER – lesão por esforço
repetitivo – definir como ocupacional a origem da patologia, na hipótese de
o obreiro laborar na atividade bancária, haja vista o risco potencial dessa
atividade, exaustivamente comprovado por dados estatísticos da própria
autarquia previdenciária.

Constatada a relação entre estes elementos e confirmado o nexo


técnico epidemiológico, se permite, além do beneficio, o julgador entender ser
admissível o disposto no artigo 374, inciso IV, do Novo Código de Processo Civil,
isto é,dispensando inclusive, a prova dos fatos e assim concluindo pela
procedêncianas ações que busquem indenizações por danos morais decorrentes de
doenças ocupacionais equiparadas a acidente de trabalho.

Salienta-se que só cabe a presunção de culpa do empregador nas


doenças ocupacionais, não sendo possível estender-se aos acidentes-tipo, visto
que, estes se dão pela falta de um ambiente de trabalho seguro.
45

A designação do benefício (B-91) demanda do empregador o


recolhimento do FGTS do período (art. 15, § 5.º da L. 8036/90), além de mais
facilmente caracterizar a estabilidade presente no art. 118 da Lei 8213/91 e a
procedência em proposta ação de indenização acidentária perante a Justiça do
Trabalho.

Por fim, Paulo Rogério A. Oliveira (2008, p.127), conclui brilhantemente


em sua obra sobre o NTEP, desta forma:

Vislumbra-se com o NTEP uma resultante positiva à diminuição dos agravos


à saúde do trabalhador com a garantia da menor burocratização dos
procedimentos para a concessão de benefícios por parte do INSS ao eximir
o segurado das provas diagnósticas. Bem como o NTEP resgata e introduz,
no campo da Saúde do Trabalhador, a figura da empresa empregadora que
passa a ocupar o polo passivo da relação jurídica ambiental-sanitária-
previdenciária na condição de diretamente responsável.

Com tudo, é crucial que os empregadores mudem o quadro atual no


Brasil, buscando gradativamente uma maior prevenção no meio ambiente do
trabalho, pondo em pratica o que já existe de eficaz em nosso ordenamento, como
por exemplo, os exames médicos periódicos, admissionais e demissionais, os
programas SESMT, CIPA, PCMSO, PPRA, EPI’s, a fim de prevenir e remediar seu
empregado e sua empresa, bem como, evitar maiores prejuízos e acarretamento
com despesas da previdência e do judiciário.
46

4 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DECORRENTE DA DOENÇA


OCUPACIONAL

Neste ultimo capitulo, abordaremos o principal objeto do estudo, que é


a responsabilidade civil objetiva na doença ocupacional, seu aspecto geral, a teoria
do risco, analise jurisprudencial, o dano material, o dano moral e os meios de
prevenção.

4.1 Aspectos Gerais

Importante ressaltar que a maioria dos trabalhadores que se acometem


de doença ocupacional, desconhecem seus direitos na esfera civil, no que pese a
responsabilidade civil do empregador e o direito de indenização, pois acreditam ser
amparados somente pela legislação da Previdência Social.

Ao nos debruçarmos sobre o presente tema, veremos sua importância


para o cenário atual no Brasil, visto que, aflige a sociedade, o trabalhador, sua a
família e o empregador.

O artigo 7º da Constituição Federal consagra a responsabilidade por


parte do empregador no dever de indenizar:

Art. 7°. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:
(... ) XXVIII — seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador,
sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em
dolo ou culpa.

Neste sentido, o doutrinador Sebastião Geraldo de Oliveira (2013, p.


78) citando Cavalieri discorda da expressão “indenização do direito comum” que
muitos doutrinadores e magistrados usam, em razão, segundo o autor, de ser
fundado o direito de indenização na própria Constituição Federal, assim preceitua:

Ainda que com matriz constitucional, advogados e juizes, curiosamente,


continuam falando em indenização acidentária fundada no direito comum,
para diferenciá-la daquela outra que decorre diretamente da legislação
47

acidentária. Não nos parece adequada a expressão porque essa


indenização é fundada na própria Constituição (norma expressa) e não no
direito comum.(CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade
civil. 9. ed. Sao Paulo: Atlas, 2010. p. 148.)

Salienta-se desde já, que os elementos vistos no primeiro capitulo, são


aplicáveis tanto na responsabilidade civil subjetiva, quanto na responsabilidade civil
objetiva, exceto, o elemento culpa, no qual, se faz necessário, somente para a
caracterização da teoria subjetiva, sendo irrelevante para a teoria objetiva.

É imprescindível o nexo de causalidade, que não pode ser confundido


com o elemento culpa, tendo que ser responsabilizado quem deu causa ao fato,
neste caso, o empregador, salvante, nos casos de exclusão do nexo de causalidade
(fato exclusivo da vitima ou de terceiro, caso fortuito e força maior).

José de Aguiar Dias (1994, p. 109) distingue a culpa e o dolo:

Corresponde à distinção entre dolo e culpa propriamente dita a estabelecida


nodireito romano, e conservada em muitas legislações, entre delito e quase
delito.Delito é a violação intencional da norma de conduta. Quase-delito é o
fato pelo qual a pessoa capaz de ofender, operando sem malícia, mas com
negligência não escusável, em relação ao direito alheio, comete infração
prejudicial a outrem.

Frisa-se, se comprovado que o dano e o nexo causal, com ônus do


empregado, nos casos de doença ocupacional, o empregador deverá indenizar.

Como já visto outrora, o autor Cavalieri aponta em sua obra o


surgimento da responsabilidade civil, aduzindo, a Revolução Industrial como o
marco, visto o progresso cientifico e explosão demográfica que aconteceu naquela
epoca, com tudo, também cita o Direito Romano e a Lex Aquila.

Dessarte elucida o autor (2014, p.180):

Com efeito, se o desenvolvimento do maquinismo fez surgir a indústria,


mudando a base econômica do país, trouxe como consequência os
acidentes de trabalho. O progressocientífico fez aparecer um sem número
de inventos, encheu as ruas de veículos que, se, por um lado, facilitam a
vida em sociedade, por outro, dão causa a um brutal número de acidentes
de trânsito, diariamente. O crescimento da população, com milhões de
pessoas migrando do interior para os grandes centros em busca de
trabalho, levou ao caos os sistemas de transportes urbanos.
Foi no campo dos acidentes de trabalho que a noção de culpa, como funda-
mento da responsabilidade, revelou-se primeiramente insuficiente. Na
48

medida em que a produção passou a ser mecanizada, aumentou


vertiginosamente o número de acidentes, nãosó em razão do despreparo
dos operários mas, também, e principalmente, pelo empirismo das
máquinas então utilizadas, expondo os trabalhadores a grandes riscos. O
operárioficava desamparado diante da dificuldade – não raro,
impossibilidade – de provar a culpa do patrão. A injustiça que esse
desamparo representava estava a exigir uma revisão do fundamento da res-
ponsabilidade civil. Algo idêntico ocorreu com os transportes coletivos,
principal- mente trens, na medida em que foram surgindo. Os acidentes
multiplicaram-se, deixando as vítimas em situação de desvantagem. Como
iriam provar a culpa do transportador por um acidente ocorrido há centenas
de quilômetros de casa, em condições desconhecidas para as vit́ imas ou
seus familiares?

Segundo Cavalieri (2014, p.180) era certo que somente a teoria


subjetiva não seria mais suficiente para atender as mudanças que a Segunda
Guerra trouxe, visto que, os empregados muitas vezes não conseguiam provar a
culpa de quem havia causado o mal, assim, em inúmeras ocorrências, ficaria o
trabalhador sem o ressarcimento do status quo ante, ainda, em suas palavras diz
“dando causa a outros problemas sociais, porquanto, para quem vive de seu
trabalho, o acidente corporal significa a miséria, impondo-se organizar a reparação”.

Ressalta-se que foi através da Emenda Constitucional nº. 45 na


Constituição Federal de 1988, que os juízes do trabalho passaram a analisar as
normas também do Código Civil, todavia, foi a Súmula Vinculante 22, que a justiça
do trabalho passou a julgar os casos de doenças ocupacionais e acidentes do
trabalho, visto que antes, era competência dos juízes cíveis.

Com tudo, neste ultimo capitulo trataremos dos pressupostos do direito,


que deve ressarcir e indenizar os infortúnios que o trabalhador sofreu, fundados na
responsabilidade civil objetiva do empregador.

4.2 A Teoria do Risco e Análise Jurisprudencial

Como já visto, paulatinamente a responsabilidade civil objetiva foi


sendo introduzida no ordenamento, visto que os juristas passaram a perceber a
difícil comprovação da culpa em alguns casos terminaria em injustiça para a vitima.

Dessa forma, deslinda Oliveira (2013, p.96):


49

Aliás, essa dificuldade probatória do autor, diante de atividades


empresariaiscada vez mais complexas, foi um dos principais motivos para a
eclosão da teoria da responsabilidade civil objetiva, baseada tão somente
no risco da atividade, desonerando a vítima de demonstrar a culpa patronal.

Com base em toda carga histórica, o Código Civil de 2002 consagrou


de uma vez a responsabilidade objetiva em seu artigo 927, paragrafo único, nestes
termos: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”.

Por conseguinte, a responsabilidade do empregador existe pelo risco


da atividade e pela conduta culposa.

Contudo, a responsabilidade civil objetiva se funda praticamente na


teoria do risco.

Caio Mario (2002, p.27) preceitua sobre o risco:

Possível afirmar, sem maiores dúvidas, que o risco é um dos fatores mais
importantes da responsabilidade civil na contemporaneidade. Como outrora
se demonstrou, foi o fator risco que gerou o surgimento da res-
ponsabilidade objetiva ou sem culpa, como evolução natural da matéria, a
partir da doutrina de Saleilles e Josserand, para citar apenas alguns. Entre
os clássicos nacionais, Alvino Lima expõe que a teoria objetiva, aquela “que
funda a responsabilidade no risco criado pelas múltiplas atividades
humanas, foi, sem dúvida, a que fixou as bases da nova concepçãoda
responsabilidade sem culpa.

Há presença na doutrina o entendimento de autores que, quando em


análise da culpa presumida por previsão legal denominam de “responsabilidade
objetiva imprópria”, incluindo-a na teoria do risco. Carlos Roberto Gonçalves
exemplifica o disposto no artigo 936 do Código Civil, presumindo, neste diploma
legal, que há culpa do dono de animal que cause dano à terceiro, entretanto
facultando-lhe a prova das excludentes também dispostas, também com inversão do
ônus da prova.

Noutra tocada, Venosa(2013, p. 15) aduz que a responsabilidade


objetiva ao envolve a presunção de culpa:
50

Não se confunde a presunção de culpa, em que a culpa deve existir, apenas


se invertendo os ônus da prova, com a responsabilidade sem culpa ou
objetiva, na qual se dispensa a culpa para o dever de indenizar. De
qualquer forma, as presunções de culpa foram importante degrau para se
chegar à responsabilidade objetiva em inúmeras situações.

Fala-se, no cenário atual, em semelhança entre a responsabilidade


objetiva e a teoria do risco. Traz José Cairo Junior (2004, p.29) a ideia de que
Raymond Saleilles e posteriormente Louis Josserand lançaram o princípio da
reparação obrigatória de qualquer dano, em suas respectivas obras “Lesaccidents
de truvailetlaresponsabilitècivile” e “Evolutions et actualites” , defendendo o ideal de
que “o instituto da responsabilidade civil deve antes se preocupar com a reparação
da vítima e não com a pessoa do ofensor.

Aguiar Dias (1997, p. 56), ao discorrer sobre a gênese da


responsabilidade objetiva, confere maior radicalidade ao sistema proposto por
Saleilles, pois “classifica de falsa e até humilhante a ideia de culpa, e considera que
é mais equitativo e mais conforme a dignidade humana que cada qual assuma os
riscos da sua atividade voluntária e livre”.

O autor citado aduz que o desenvolvimento dos ideais de Josserand


provieram da análise da culpa no ensejo de abuso de direito, vendo a culpa no
exercício do direito, em noção já prática e recorrente. Para tal, é seguida a teoria da
culpa negativa, em que, para evitar danos, indivíduo deixara de atualizar-se para
evitar danos, como as fagulhas que são evitadas com o uso da proteção das
locomotivas. Inclusive, traz que nos casos de presunção legal, a jurisprudência
tende a livrar a vítima de provar a culpa do causador do dano, existindo casos de
presunção absoluta.

Também, cabe ao empregador a responsabilidade pelos atos do


preposto, enquanto este fora responsável ou guardião, pelos danos a que dera
ensejo.

Josserand ainda questiona sobre a conveniência em avançar,


desconsiderando esta, por ele, desacreditada teoria de noção culposa, para
finalmente reconhecer a responsabilidade, não vinculados exclusivamente à atos
culposos, mas também todo e quaisquer atos que venham a causar dano à outrem.
Assim, leciona “não comete falta quem, com licença da administração, monta um
51

estabelecimento incômodo, insalubre, perigoso, ruidoso ou pestilencial, [...] mas é


obrigado a indenizar os vizinhos prejudicados pelo seu funcionamento”. (DIAS, 1997,
p. 63)

Diferentes doutrinadores formaram uma classificação com base no


risco de certa atividade, que pode causar danos a terceiros. Sendo eles: risco-
proveito, risco-criado e o risco-profissional.

O risco-proveito surge quando o empregador tem benefício com o risco


daquela atividade, tendo que pagar eventual dano a saúde do empregado que se
acomete de doença ocupacional.

Todavia, o impasse é conseguir saber se o patronal é beneficiário da


atividade exercida pelo trabalhador, se comprovado, a existência do nexo causal e
do prejuízo, este que, diminui a capacidade de trabalhar, desencadeando também
como resultado, a diminuição das oportunidades de trabalho e assim, reduzindo sua
renda, visto que, quando afastado, passa a perceber somente o beneficio
previdenciário.

Ainda, em hipótese de demissão, limitada sua capacidade laboral,


dificilmente retornará para o mercado de trabalho.

Dessa forma, consoante com o exposto, ao analisar as questões de


doença ocupacional que advém do risco-proveito traz ao trabalhador, é no mínimo
razoável que o empresário indenize, independente de culpa.

O desembargador Sebastião G. de Oliveira(2008, p. 153) critica esta


modalidade, dizendo ser mais favorável ao empregador a teoria do risco criado, pois
não questiona se a atividade gera proveito ou não para o empresário.

Também se exalta a existência do risco-criado, onde há subordinação


de determinado indivíduo a outro, obrigando-se, como subordinado, a suportar risco
em detrimento de perigosa atividade. Não há, neste caso, indagação acerca do
proveito de quem houvera subordinado a vítima.

Gonçalves (2013, p.11) dispõe separadamente nominado risco-


profissional, atrelado à profissão e em ocorrência nos acidentes de trabalho.
52

A dada classificação encontra característica de grande amplitude,


observando-se convergência entre diferentes tipificações em determinadas
situações fáticas.

No caso da realização de atividade arriscada por natureza, a título de


exemplo, há a existência de risco-profissional e, também, encontra-se o proveito do
empregador na realização da atividade, subordinando empregado à sua realização.

Há, portanto, no caso, dificultosa delegação classificatória. Assim,


explana-se que a classificação pelo tipo de risco não se caracteriza por mais
relevante para a medição da existência deste, sequer da responsabilidade inerente
aos envolvidos. Venosa (2013, p. 17) disserta:

Qualquer que seja a qualificação do risco, o que importa é sua essência: em


todas as situações socialmente relevantes, quando a prova da culpa é um
fado pesado ou intransponível para a vítima, a lei opta por dispensá-la. O
princípio do risco repousa na necessidade de segurança jurídica (...). Sem
imputação da responsabilidade não haverá indenização.

A responsabilidade objetiva é elaborada, sobretudo, pelo ultimo dos


riscos tratados, o risco profissional. No qual, o empresário de determinado ramo de
atividade deve responsabilizar-se pelos riscos assumidos que aquele tipo negócio
lhe impõe.

Uma vez que, o cenário em que o individuo labora é de risco, o


empregador deve, caso aconteça eventual dano, indenizar o empregado por
desenvolver uma função naquele ambiente, mesmo sem ter “culpa”.

De outro modo, qualquer atividade pode haver risco, em grande ou


pequena escala, tendo a possibilidade de causar um dano à saúde do empregado.

Assim, o norteamento para os julgados sobre atividade de risco


encontra enorme dificuldade.

Todavia, não pode também, considerar somente aquelas atividades


econômicas dos patronais que tem agentes causadores de risco, pois eliminaria
diversas funções em que mesmo não consideras de risco, propiciam doenças
ocupacionais.

Claudio Brandão (2010, p.87) pontua a cerca disto:


53

Atividade de risco, portanto, consiste na situação em que há probabilidades mais oumenos previsíveis
de perigo; envolve toda a atividade humana que exponha alguéma perigo, ainda que exercida
normalmente. A CLT convive com esse referencial etambém pode servir de fundamento, quando, ao
estabelecer o conceito deempregador, o vincula ao exercício de atividade de natureza econômica e
remete,mais uma vez, à noção de prática de atos empresariais executados de formacontinuada e
com o objetivo de possibilitar a produção ou circulação de bens eserviços.

Apesar da responsabilidade objetiva não atuar como regra em nosso


ordenamento, ela vem sendo desenvolvida pelos juristas.

Ainda, em algumas sentenças, a responsabilidade objetiva tem sido


regra.

Como no recente julgado pelo Superior Tribunal Federal, após quase


13 anos de discussão acerca do assunto, em 29 de novembro de 2017, proibiu o uso
de amianto crisotila, que era utilizado para a fabricação de telhas e caixas d’água.

De acordo com a noticia publicada no site UOL:

O material, quando cortado ou manuseado, gera um pó que pode ser


facilmente inalado ou engolido. A exposição à poeira do mineral pode
causar doenças como câncer de pulmão, de laringe, do trato digestivo e do
ovário e mesotelioma (câncer raro na membrana pulmonar). Uma vez no
corpo humano, a substância nunca mais é eliminada.

Ainda, o especialista entrevistado do site afirma que, entre 1980 e


2010, morreram 3.718 pessoas de mesotelioma no Brasil.

Dessarte, já havia casos julgados dando provimento aos trabalhadores


antes do STF proferir a decisão. Como se vê no Agravo de Instrumento do Recurso
de Revista por parte da reclamada, em 05 de maio de 2017, pelo Tribunal Superior
do Trabalho, Relator José Roberto Freire Pimenta, processo de nº. AIRR
13811020135030089, reiterando o direito do trabalhador de ser ressarcido pela
doença ocupacional advinda do amianto.

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DOENÇA OCUPACIONAL


(ASBESTOSE CAUSADA PELA INALAÇÃO DA POEIRA DE AMIANTO).
QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO EM R$ 80.000,00 (OITENTA MIL
REAIS). Trata-se de pedido de majoração do valor da indenização por
danos morais decorrentes do afastamento do reclamante do serviço, em
razão do diagnóstico de asbestose causada pela inalação da poeira de
amianto. No que se refere ao valor arbitrado, a discussão, no caso, diz
respeito à possibilidade de majoração, por esta Corte, do quantum
indenizatório arbitrado pelo Regional, correspondente a R$ 80.000,00 (vinte
54

mil reais reais). A jurisprudência desta Corte é no sentido de admitir a


majoração ou diminuição do valor da indenização por danos morais nesta
instância extraordinária em casos em que a indenização for fixada em
valores excessivamente módicos ou estratosféricos, o que não é a hipótese
dos autos. A SbDI-1 desta Corte já decidiu, no julgamento do Processo nº
E-RR-39900-08.2007.5.06.0016, de relatoria do Ministro Carlos Alberto Reis
de Paula, publicado no DEJT 9/1/2012, que, quando o valor atribuído não
for teratológico, deve a instância extraordinária abster-se de rever o
sopesamento fático no qual se baseou o Regional para arbitrar o valor da
indenização proporcional ao dano moral causado pelo empregador. Na
hipótese, o Tribunal a quo registrou que," além de a empresa negligenciar
por completo a saúde do empregado submetido a mais de 20 anos a poeira
do amianto e sem qualquer proteção, tratou de despedi-lo tão logo o
empregado começou a apresentar sintomas decorrentes desse quadro ".
Além disso, assentou que"o autor estava com férias marcadas para o mês
de julho, quando, de inopino, foi surpreendido com o despedimento. E não é
por simples coincidência que os exames que apontara o início dos sintomas
do autor datam do primeiro semestre daquele ano de 2002" . Dessa forma,
considerando a extensão dos danos causados, a condição econômica da
reclamada, a gravidade do ocorrido e o caráter pedagógico da pena, revela-
se razoável e proporcional o valor fixado pela instância ordinária,
correspondente a R$ 80.000,00 (vinte mil reais), que compensa
adequadamente o dano moral indicado pelo Regional e ameniza as dores e
dificuldades sofridas pelo empregado (problemas respiratórios, quadro de
neurose, depressão, angústia, ansiedade exagerada; esofagite erosiva,
pangastrite, úlcera duodenal, dentre tantos outros males decorrentes do
equilíbrio emocional perdido). Agravo de instrumento desprovido.

Entretanto, embora o STF tenha decidido sobre o tema, muito se


custou aos trabalhadores que tiveram seus direitos de indenização pela doença
advinda do amianto improcedente antes do julgado, pois, por se tratar da
responsabilidade objetiva, fundada em risco, alguns julgadores não adotavam a
teoria.

Sobre a mensuração do dano causado ao empregado, devem-se


analisar as variáveis, atenuantes e agravantes de cada caso em concreto de doença
ocupacional. Podendo haver dano moral, material e o dano estético.

Assim versa o artigo 402 do Código Civil: “Salvo as exceções


expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem,
além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.”

Oliveira (2013, p. 208) aduz “Na apuração do que a vítima efetivamente


perdeu obteremos os chamados danos emergentes ou danos positivos; na avaliação
do que deixou de ganhar estaremos diante dos lucros cessantes ou danos
negativos”.
55

Tanto as doenças ocupacionais, como o acidente do trabalho podem


causar danos matérias, visto que, o empregado recebe apenas a contribuição
previdenciária e não mais seu salario, além dos gastos hospitalares, despesas que
antes não tivera, para tratar de sua saúde, dificuldade para arranjar outro trabalho,
quando dispensado, impossibilitando o patrimônio do empregado de crescer.

Segundo o desembargador Oliveira (2013, p.173), ainda:

Além das perdas efetivas dos danos emergentes, a vítima poderá também
ficar privada dos ganhos futuros, ainda que temporariamente. Para que a
reparação do prejuízo seja completa, o art. 402 do Código Civil determina o
computo dos lucros cessantes, considerando-se como tais aquelas parcelas
cujo recebimento, dentro da razoabilidade, seria correto esperar. Em
decorrência desse comando, não deve ser considerada a mera
probabilidade de alguma renda, nem se exige, por outro lado, certeza
absoluta dos ganhos. O critério de razoabilidade expresso na Lei indica que
a apuração deverá ser norteada pelo bom senso e pela expectativa daquilo
que ordinariamente acontece.

Sobre o dano moral nos casos de doença ocupacional, o nobre


julgador que arbitrou o valor da indenização no caso do amianto, justificou:

[...]que compensa adequadamente o dano moral indicado pelo Regional e


ameniza as dores e dificuldades sofridas pelo empregado (problemas
respiratórios, quadro de neurose, depressão, angústia, ansiedade
exagerada; esofagite erosiva, pangastrite, úlcera duodenal, dentre tantos
outros males decorrentes do equilíbrio emocional perdido).

Os doutrinadores Gagliano e Pamplona (2017, p.98) lecionam:

O dano moral consiste na lesão de direitos cujo conteúdo não é pecuniário,


nem comercialmente redutível a dinheiro. Em outras palavras, podemos
afirmar que o dano moral é aquele que lesiona a esfera personalíssima da
pessoa (seus direitos da personalidade), violando, por exemplo, sua
intimidade, vida privada, honra e imagem, bens jurídicos tutelados
constitucionalmente.

Outro julgado mais recente, em 23 de março de 2018, mostra a adoção


da responsabilidade civil objetiva como regra, com fundamento no risco profissional,
em que a trabalhadora se acomete de síndrome impacto ombros e tendinite punhos,
seu Recurso de Revista foi provido pelo Tribunal Superior do Trabalho, Relatora
Delaíde Miranda Arantes, processo de nº. RR 13267720145120023, com a
justificativa de:
56

RECURSO DE REVISTA REGIDO PELA LEI 13.015/2014. DOENÇA


OCUPACIONAL. FRIGORÍFICO. ATIVIDADE DE RISCO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA.
Embora, em regra, a responsabilidade civil do empregador pelos danos
sofridos pelo empregado seja subjetiva, exigindo a caracterização do dolo
ou culpa, nos termos dos artigos 186, 187 e 927, do Código Civil e do art.
7.º, XXVIII, da Constituição Federal, a jurisprudência dominante desta Corte
Superior tem admitido a aplicação da responsabilidade objetiva, com
fundamento no art. 927 do Código Civil, especialmente quando a atividade
desenvolvida pelo empregador for considerada como atividade de risco,
com maior probabilidade de acidentes ou doenças do trabalho, como no
caso dos autos, referente à atividade de auxiliar de produção exercida em
frigorífico . Dessa forma, estabelecido o dano e o nexo de causalidade, fica
presente o dever de indenizar. Necessário, todavia, o retorno dos autos ao
Tribunal Regional para que prossiga na análise dos recursos ordinários das
partes, cabendo-lhe verificar aspectos adstritos ao conjunto da prova dos
autos, tais como a existência de fator concausal , extensão dos danos, grau
de redução da capacidade laborativa e a extensão do pensionamento.
Recurso de revista conhecido e provido.

Um caso mais antigo, julgado o Recurso Ordinário de 12 de maio de


2011, em que o trabalhador teve PAIR, trabalhando em uma ferroviária, o Tribunal
Regional do Trabalho da 4ª Região reformou a sentença de primeiro grau, em que
havia sido julgada improcedente, mesmo não havendo prova que a empresa era
culpada pelo empregado ter perdido parte da audição, o Relator Clóvis Fernando
Schuch Santos, com a fundamentação de que:

É entendimento deste Relator a adoção da teoria da responsabilidade


objetiva, a qualentende que o empregador responde objetivamente pelos
danos causados à saúde doempregado, como regra geral, quando, com sua
atividade econômica, gerar situaçõesde risco para o empregado, ou seja,
teoria do risco criado. Neste sentido caminha oentendimento doutrinário
moderno, sendo admitida tal modalidade deresponsabilidade mesmo pelos
doutrinadores que antes entendiam ser necessária aexistência de dolo ou
culpa do agente – teoria subjetiva.

Em outro caso de PAIR, no mesmo ano, o Relator Lorival Ferreira dos


Santos do TRT, negou provimento ao Recurso Ordinário da reclamada, sendo
favorável a teoria objetiva para o empregado, que laborava em empresa de
eletrônicos:

DOENÇA PROFISSIONAL OU OCUPACIONAL. CARACTERIZAÇÃO.


RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO EMPREGADOR. INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. DEVIDA. Com supedâneo no
parágrafo único do art. 927 do novo Código Civil e art. 7º, “caput”, da CF, a
tendência atual da jurisprudência é inclinar-se pelo reconhecimento da
responsabilidade do empregador independente de culpa ou dolo no caso do
57

empregado vir a exercer atividade perigosa ou que o exponha a riscos. Não


obstante é oportuno lembrar, ainda, que a obrigação das empresas com
relação à prevenção de riscos ambientais não é somente adotar medidas
preventivas de segurança e fornecer equipamentos aos empregados (art.
157, I e II, CLT), mas, também, instruir os trabalhadores e conscientizá-los
da necessidade de se evitar acidentes, podendo, para tanto, utilizar-se do
seu poder disciplinar em face do empregado recalcitrante. No caso, trava-se
discussão acerca do acometimento de doença do trabalho pelo reclamante,
na vigência do Novo Código Civil, que adota a tese da responsabilidade
objetiva do causador do dano. Não obstante o laudo pericial tenha concluído
pela inexistência do nexo causal, as demais provas produzidas nos autos, o
infirmaram, logrando o reclamante comprovar o nexo causal do trabalho
desempenhado na reclamada e as patologias apresentadas, inclusive com
perda parcial auditiva, detectada em laudo pericial produzido em Ação
Acidentária, configurando a doença profissional ou ocupacional, com a
consequente redução de sua capacidade laboral. A teor do inciso X, do art.
5º da C.F, que tutela o direito à intimidade, à imagem, e, notadamente, à
honra da pessoa, há dano moral quando se pratica ato que ofende a honra
ou a imagem do trabalhador, dificultando-lhe o convívio social, a par de
repercutir no seu interior. Partindo dessa premissa, verifica-se que, se a
agressão ambiental ou a natureza da atividade exercida vier a afetar a
saúde ou vida do trabalhador, recaindo sobre um direito subjetivo, tal
circunstância legitimará o lesado à reparação do prejuízo sofrido. E, no
caso, é inegável a culpa da reclamada em relação às doenças adquiridas
pelo autor, tendo em conta a determinação contida no art. 157, I e II, da
CLT. Demonstrado, pois, o descumprimento do dever legal da empregadora
de oferecer ambiente de trabalho adequado aos riscos da atividade à luz do
art. 166 da CLT, é ela responsável pela integridade física do trabalhador,
quando em operações e processos sob a responsabilidade do mesmo e,
segundo disposições de aplicação universal, deve prover condições justas e
favoráveis ao desenvolvimento do trabalho. Vale lembrar que, o princípio da
dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho constituem
fundamentos da República Federativa, a teor do disposto nos incisos III e IV
do artigo 1º, da Constituição Federal e a reclamada não pode se furtar aos
fins sociais da lei. Desse modo, considerando-se que restou evidenciada a
existência do sofrimento do recorrente oriundo dos problemas de saúde
ocasionados pelas atividades laborais, dado o reconhecimento do nexo de
causalidade entre as patologias do reclamante e as atividades por ele
desenvolvidas na empresa, bem como a redução de capacidade laboral,
que inclusive, ocasionou a perda parcial da capacidade auditiva do
reclamante, devida é a indenização por danos morais sofridos pelo
empregado, pois o dano, no particular, é inerente à própria natureza
humana e independe, inclusive, de prova. No particular, recurso não
provido.

Em outro processo julgado pelo TRT, em 01 de junho de 2011, a


Relatora Beatriz Reck, negou provimento ao Recurso Ordinário interposto pela
empresa, no caso a autora era portadora de LER/DORT, entendendo a
desembargadora que, pela função descrita no laudo pericial e a jornada de trabalho
exorbitante levou ao entendimento de que aquela atividade consistia em esforços
repetitivos e demasiados, parte do voto:“é sabido que asubmissão a movimentos
repetitivos e esforços excessivos por um período considerável detempo torna
58

propício o surgimento de moléstias relacionadas a LER/DORT, tais como


aapresentada pela autora”.

Como já mencionado, a responsabilidade objetiva ocorre quando não


necessita de culpa ou quando há uma difícil comprovação da mesma.

Há casos também, por exemplo, que não são caracterizados como


tipicamente de risco, mas que dependendo da atividade a que estava subordinado o
empregado a fazer, o empregador pode ser responsabilizado objetivamente. É o
caso do processo em que o autor desenvolveu síndrome do carpo, laborando como
bancário, o surpreendente foi que o TST, isto em 2010, julgando o Recurso de
Revista nº 00219000-95.2003.5.05.0013, na epoca, a Relatora foi a Ministra Rosa
Maria Weber, além de manter a decisão de pagamento de danos morais, deu
provimento para que o reclamante acrescentasse os danos materiais, visto que,
além de tudo, ficou exposto a agentes de risco ergonômicos.

Sendo possível em nosso ordenamento a cumulação dos danos, após


anos de divergências, conforme súmula n°. 37 pelo STJ em 1992: “São cumuláveis
as indenizações por dano moral e dano material oriundos do mesmo fato”.

Os artigos 948 e 949 do Código Civil também asseguram que é


possível a cumulação “[...] sem excluir outras reparações ou algum outro prejuízo
que o ofendido prove haver sofrido”.

Por conseguinte, temos também os casos de concausas, ou seja, a


doença não surgiu com o tipo de atividade, mas se agravou devido à função, por
exemplo, um julgado (processo de nº. 0000537-21.2010.5.04.0030) em que o autor
era empregado de uma locadora de maquinas de café, já tinha hérnia de disco, que
é uma doença inclusiva degenerativa, e que por carregar bombas d’água agravou a
doença, assim o Relator João Batista de Matos Dantas do TRT da 4ª Região, julgou
que empresa devia indenizar o empregado tendo como norte a responsabilidade
objetiva.

No tocante as medidas de prevenção e a responsabilidade do


empregador, Thélio Queiroz (2011, p.67) deslinda:

Cumpre asseverar, por fim, que as medidas de proteção ao trabalhador são


exigidas como forma de reduzir o risco inerente a estas atividades, mas não
59

afastam a possibilidade de responsabilização do empregador. Vale


salientar, ainda, que tal teoria do risco encontra fundamento no fato da
empresa estar inserida no contexto do capitalismo como um ente destinado
à obtenção do lucro. Por tal razão, no âmbito do Direito do Trabalho, ela
assume o dever de suportar os riscos sociais de sua atividade econômica.
Nesse diapasão, o empregador se investe da obrigação de garantir a
segurança e a integridade física e psíquica de seus empregados, durante a
prestação de serviços, e de reparar os eventuais danos causados,
independente de culpa.

Em sua obra Sebastião G. de Oliveira (2013, p.118) expõe sua analise


quanto o acolhimento da responsabilidade objetiva no Código Civil de 2002:

A previsão do parágrafo único do art. 927 do Código Civil representa a


consolidaçãoda teoria da responsabilidade objetiva no Brasil, que passa a
conviver no mesmopatamar de importância e generalidade da teoria da
responsabilidade civil subjetiva.Desse modo, não se pode mais dizer que no
Brasil a responsabilidade objetiva tenhacaráter residual ou de exceção.

Couto e Silva indagaacerca do advento da responsabilidade objetiva,


tratando da responsabilidade por risco, onde o evento danoso é, por sua vez,
satisfeito por quem o assumira, entretanto, encontra-se atravanque em identificar a
possibilidade de caracterização de tal risco quando da ausência de legislação
específica.

Critica o autor, a aplicação da teoria de maneira generalizada,


explicando que “ao disciplinar certas hipóteses como tendo seu fundamento na
culpa, não pode o intérprete ultrapassar os limites da lei, para haver o fato como
sujeito ao risco”. (1997, p. 215)

Dispõe que o princípio da reparação, portanto, desenvolvera-se através


de processo hermenêutico, limitado aos ditames legislativos.

Anota-se que a determinada teoria deve ser norteada pela justa


aplicação legislativa, em sua forma, vestida de bom-senso e garantindo a devida
tutela jurisdicional.

Deve-se desvencilhar do casuísmo. Cabe por máximo o entendimento


de que todo indivíduo que sofra lesão deve ser ressarcido por seu causador.

Assim, a gênese do entendimento e análise pela melhor forma de


solução da celeuma dá-se quando da identificação de sua causa.
60

4.3 Medidas Preventivas a Saúde do Trabalhador

O Brasil apesar das medidas coercitivas, das punições para os


empregadores que não dão ao seu empregado um ambiente de trabalho adequado
e salubre, continua com números altíssimos de doenças ocupacionais, pois preferem
remediar a prevenir. Como já aludido, todos saem perdendo, tanto o empregador, a
previdência, a sociedade e o trabalhador.

Os exames médicos periódicos, admissionais e demissionais, os


programas SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança), CIPA
(Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), PCMSO (Programa de Controle
Médico de Saúde Ocupacional), PPRA (Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais), EPI’s (Equipamentos de Proteção Individual) são meios de prevenção a
saúde do trabalhador.

Carrion (2009, p.178/179) elucida acerca dos exames:

O exame médico obrigatório, quando da admissão, ou anual (assimcomo os


especiais mencionados, em menor tempo), não podia ser praticado pelos
médicos das empresas ou outros facultativos; só os da Previdência Social
(INAMPS) ou dos Sindicatos dos empregados; é o que determinava a L.
6.514/77, art. 3°, §2°, em apêndice; a NR 7 (Port. 17/79) permitia atestado
particular, onde inexistissem os médicos indicados acima. A nova redação
do art. 168da CLT, restabelecendo a expressão “exame médico por conta
do empregador”, revoga aquela restrição, não obstante as subordine a
instruções ministeriais. A exigência de abreugrafia foi suprimida. Exames
demissionais, até a data da homologação da rescisão, conforme o grau de
risco e o numero de dias transcorridos desde o ultimo exame medico
ocupacional (NR 7).

O artigo 168 da CLT dispõe sobre os exames:

Será obrigatório exame medico, por conta do empregador, nas condições


estabelecidas neste artigo e nas instruções complementares a serem
expedidas pelo Ministério do Trabalho:
I – na admissão;
II – na demissão;
III – periodicamente.
§ 1° O Ministério do Trabalho baixara instruções relativas aos casos em que
serão exigíveis exames:
Por ocasião da demissão;
Complementares
§ 2° Outros exames complementares poderão ser exigidos, a critério
medico, para apuração da capacidade ou aptidão física e mental do
empregado para a função que deva exercer.
61

§ 3° O Ministério do trabalho estabelecerá, de acordo com o risco da


atividade e o tempo de exposição, a periodicidade dos exames médicos.
§ 4° O empregador manterá, no estabelecimento, o material necessário à
prestação de primeiros socorros médicos, de acordo com o risco da
atividade.
§ 5° O resultado dos exames médicos, inclusive o exame complementar,
será comunicado ao trabalhador, observados os preceitos da ética médica.

Sérgio P. Martins (2009, p.633) ainda alude: “os registros da avaliação


clínica e dos exames complementares deverão ser mantidos por período mínimo de
20 anos após o desligamento do trabalhador.”

Os exames periódicos, admissionais e demissionais são importantes


medidas de prevenção de doenças ocupacionais, visto que, são por eles que
constata a saúde em empregado se encontra, além de evitar possíveis ações
indenizatórias no futuro.

Sob a égide da Consolidação das Leis do Trabalho, disposto no


capítulo V, encontra-se série de medidas referentes à segurança e a medicina do
trabalho, a fim de estabelecer ao empregador as ações necessárias para que se
evitem as doenças ocupacionais e os acidentes de trabalho.

O tema vem tratado no decorrer de 48 artigos, além, claro, das


esparsas normas que vêm a regular a citada matéria, por exemplo, as normas
especiais que se relacionam ao trabalho da mulher e do menor de 18 anos.

Há, inclusive, a estipulação de pena de multa, quando incorrer-se em


descumprimento das normas dispostas, sob o aduzido em artigo próprio do mesmo
diploma legal.

Importante ressaltar, também, a importância das disposições do Código


Civil quando da interpretação, no campo trabalhista, do dano sofrido por integrante
de relação de trabalho.

Sabe-se que se trata o referido código, de definição subsidiária do


direito do trabalho e, assim, em suas disposições acerca do dano encontra-se
aplicação no campo trabalhista, inclusive, estendendo sua aplicação às normas que
não se fizerem conflitantes com a normatividade trabalhista.

O Poder Público, por sua vez, em atuação positiva, estabelecera a


implantação da SESMT (Serviços Especializados em Segurança e Medicina do
62

Trabalho), bem como criara o PCMSO (Programa e Controle Médico da Saúde


Ocupacional), do PPRA (Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais), bem
como da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes).

Buscara, quando da criação das referidas medidas, prevenir acidentes,


bem coo as doenças ocupacionais, ainda equipadas de medidas específicas de
proteção laboral, como equipamentos de proteção.

Acerca desta proteção, traz Bensoussan (2010, p.169):

A meta principal de atenção em relação à proteção do trabalho deve visar a


instituição de medidas coletivas. Deve ser priorizada em relação à proteção
individual que pode ser, entretanto, a única maneira viável de se fornecer
uma proteção adequada.

Destacam-se as medidas contra os ruídos, com a aplicação de


isolamentos e barreiras, bem como a utilização de mecanismos de ventilação para o
combate ao calor.

Não possível a utilização ou fornecimento de proteção coletiva,


recorrer-se-á aos equipamentos de proteção individuais, chamados EPIs, e seu
fornecimento é de responsabilidade do empregador.

Este fornecimento, no entanto, não traz ao empregador a imunidade


quantoà responsabilidade sua no adoecimento do empregado.

A jurisprudência, por sua vez, tem se utilizado dos pagamentos de


adicional de insalubridade para estabelecer parâmetro quanto à indenização. Veja-
se a súmula 289 do TST:

289. Insalubridade. Adicional. Fornecimento de aparelho de proteção.


Efeito. O simples fornecimento do aparelho de proteção pelo empregador
não o exime do pagamento do adicional de insalubridade. Cabe-lhe tomar
as medidas que conduzam à diminuição ou eliminação da nocividade, entre
as quais as relativas ao uso efetivo do equipamento pelo empregado.

Entretanto, há patologias de dificultosa prevenção, como as


LER/DORT, dada sua natureza de multifatoriedade. Há possibilidade, no entanto, de
reduzir ou retardar seu surgimento, com movimentações a fim de identificação dos
fatores de risco, a serem desenvolvidos por agrupamento de obreiros em
63

determinada empresa. Araújo Júnior (2009, pp. 83-84) entende, acerca da


realização de tais programas:

Entendo que após a análise dos fatores de riscos ocupacionais e os


aspectosorganizacionais do trabalho e psicossociais, deve o programa de
prevenção da LER/DORT fundamentar-se, no mínimo, em cinco medidas:
adoção de pausas paradescanso por todos os trabalhadores; redução da
jornada de trabalho nos postos deserviço cujos movimentos desenvolvidos
sejam repetitivos, bruscos, com o uso daforça e em posições forçadas;
diminuição da sobrecarga muscular com adiversificação das tarefas;
adequação do mobiliário, máquinas e equipamentos paramelhor conforto e
eficiência do trabalhador; gestão compartilhada das políticas desaúde e
segurança do trabalho entre empregados e empregadores.

Em avanço, foram inseridas no ordenamento jurídico brasileiro, novas e


eficazes medidas preventivas às LER/DORT, através da ratificação da Convenção
de número 161 da Organização Internacional do trabalho (OIT), exemplo, conferindo
aos profissionais da SESMT a possibilidade de prestarem acessória aos
trabalhadores.

Tais acessórias encontram competência à área ergonômica do


empregado, utilizando-se de técnicas de gestão compartilhada entre empregados e
empregadores, sob políticas de segurança e saúde laborais, sobretudo no que tange
aos equipamentos de proteção.

Em se tratando da chamada PAIR, para fins de que se evite seu


surgimento, faz-se necessária maior atenção à pressão sonora disposta sobre o
empregado quando de sua realização laboral.

Há, nas normas, limite estipulado para exposição à ruídos, ainda


equipa-se da Norma Regulamentadora de número 9, editada pelo Ministério do
Trabalho e Emprego, delimitando, assim, o PPRA, Programa de Prevenção de
Riscos Ambientais.

Introduziu-se, assim, nova conceituação acerca da prevenção de


acidentes e doenças ocupacionais, nominados “níveis de ação”, exigindo ações das
empresas todas as vezes a que a atividade aproxime-se dos limites toleráveis.

Explana-se que, em se tratando de ruído, encontra-se necessidade da


tomada de medidas sempre que as condições forem a exposição a 80 decibéis por 8
horas, por exemplo.
64

Instituiu-se, também, integrado ao PPRA, o chamado PCA, Programa


de Conservação Auditiva, que dispõe sobre a obrigação de exercer monitoramento
dos montantes de exposição, sobretudo quando em níveis elevados de ruídos.

Munidos de controles de engenharia acerca do monitoramento por


audiometria, instituem e delimitam a indicação de EPIs, etc.

Conforme já aduzido, se inviável a redução de ruído do ambiente por


medida de proteção coletiva, faz-se obrigatório o uso dos chamados protetores
auriculares, em intenção de diminuição da exposição e do risco.

Ainda assim, Monteiro e Bertagni (2010, p.91) explicitam a não


existência de certeza do não desenvolvimento da PAIR, como aduzem:

Embora os EPIs não tenham eficácia direta quanto às vibrações mecânicas,


já que elas chegam à cóclea através do esqueleto, mesmo assima fortiori
devem continuar sendo usados, pois as vibrações tornam o indivíduo mais
susceptível ao ruído transmitido por via aérea.

Entende-se por deveras cruciais as medidas que integrem o


empregador à preocupação ao que concernem as condições do trabalho, bem como
a inserção dos empregados em programas de prevenção de danos e doenças para
que se evite o desenvolvimento e proliferação das patologias provenientes dos
danos psicológicos e consternações acarretadas por outras doenças.

Em sequência dos avanços trabalhistas pela proteção e atenção às


relações de trabalho, advém a Resolução 96, editada pelo Conselho Superior da
Justiça do Trabalho, voltada à prevenção de doenças ocupacionais.

Estabelecera, a resolução, programa calcado em sete ditames:


políticas públicas, diálogo social e institucional, educação para a prevenção,
compartilhamento de dados, estudos e pesquisas, efetividade normativas eficiência
jurisdicional.

As movimentações contam com a mobilização programática de


instituições como o Ministério do Trabalho e Emprego, a Previdência Social,
Ministério Público do Trabalho, o Serviço Social da Indústria, a Federação Brasileira
de Bancos, entre outros.
65

A legislação trabalhista vem fomentada pela jurisprudência no sentido


de moldar as medidas de segurança para os trabalhadores, evitando os danos que
acarretem em responsabilidade indenizatória.

Também, importante ressaltar que não apenas de avanços aos


trabalhadores se vestem as mudanças, encontrando também, as empresas,
benefícios no que tange à prevenção de acidentes e patologias do trabalho, se
perfazendo por desnecessária a prestação de consideráveis indenizações.

Acerca do tema, aborda o autor Sebastião Geraldo de Oliveira (2013,


p.266):

O aperfeiçoamento da legislação sobre a saúde do trabalhador passou a


interessar aoplanejamento estratégico das empresas, porquanto os riscos
envolvidos em razão dos acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais,
comovisto, podem gerar expressivas indenizações, além de comprometer a
imagem institucional da empresa.

Visando a devida tutela ao trabalhador, a Consolidação das Leis do


Trabalho dedicam seu capítulo V, por inteiro, à Segurança e Medicina do Trabalho.

Fixam-se, neste tocante, normas inclinadas á coagir empresas para


que tomem as devidas medidas protetivas à saúde do trabalhador, como as já
citadas ações de fornecimento de equipamentos, entre outras tantas
movimentações.

A título de exemplo, dispõe no artigo 162 as exigências acerca da


manutenção dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina
do Trabalho (SESMT). A abrangência desta organização à empresa depende da
gradação dada ao risco da atividade principal e ao número total de trabalhadores
envolvidos.

As disposições normativas acerca das ditas prevenções à CLT datam


anteriormente à própria Constituição Pátria vigente, entretanto, encontra nesta pura
legalidade, explanando-se o artigo 7° do diploma legal soberano, determinando
diretrizes acerca dos riscos e medidas preventivas.

Entretanto, a exclusividade às legislações não se faz por suficiente


para evitar os riscos, colacionando o autor Arnaldo Sussekind (2004, p.499):
66

Entretanto, não obstante esse completo e adequado sistema legal, o Brasil


continua a apresentar trágica estatística em matéria de acidente de
trabalho, sobretudo nas atividades terceirizadas, em que os trabalhadores
não recebem as noções fundamentais de prevenção de acidente.

Importantíssima positivação infraconstitucional trata-se da


determinação, em sede de CLT, ao artigo 163, de que delimite a Comissão Interna
de Prevenção de Acidentes (CIPA), necessária em todo estabelecimento com mais
de 20 empregados.

A CIPA, por sua vez, constitui-se de representantes escolhidos pelos


empregados, de maneira secreta, e representante do empregador, delegados por
indicação. Seu presidente é escolhido dentre os representantes da empresa, pelo
empregador.

Os trabalhadores que integram a CIPA possuem estabilidade


empregatícia, a se estender por até um ano após o final do mandato.

Existem, também, medidas impostas ao empregado para que siga as


devidas determinações, não apenas recaindo sobre o empregador a punição quando
este fornecer a devida prestação, e o empregado, por motivos alheios à
superveniência, deixe de cumprir sua responsabilidade.

É cabível à empresa, inclusive, advertir e, inclusive, punir o empregado


que não esteja se utilizando dos meios fornecidos, entretanto, não pode a empresa
permitir o exercício, por qualquer empregado, de atividade fora das normas de
segurança.

Se houver omissão do empregador quanto à inobservância do


empregado, praticará ato ilícito, sujeito a responsabilização quando em doença
ocupacional ou acidente.

A tarefa fiscalizatória a ser realizada nas empresas, a analisar o


cumprimento das normas de segurança cabe ao Ministério Público do Trabalho,
podendo tomar parte de ofício ou, inclusive, antes mesmo de as atividades serem
iniciadas.
67

Expõe-se que, apesar do peso normativo e das movimentações legais,


o montante de ações judiciais pleiteando reparações por danos advindos da relação
de trabalho é crescente.

O atendimento às normas, sem a devida reserva às disposições de


segurança é insuficiente para que se evite o advento da responsabilidade,
observado que o fundamento mais utilizado para a condenação das empresas em
pleitos indenizatórios encontra fulcro na ausência de exigências legais, singular que
seja.
68

5 CONCLUSÃO

Feitas todas as considerações no presente trabalho, pode-se concluir


por motivos já expostos (por violação de norma legal, dos instrumentos normativos
dacategoria ou do dever geral de cautela), que é direito do empregado que os danos
causados pelas doenças ocupacionais sejam ressarcidos.

Pela visão distorcida do empregador em achar que os lucros advêm


somente com o produto final, sem se preocupar com o processo, o trabalho árduo do
empregado, afetando sua saúde, acarreta-se em inúmeros problemas, não só para o
trabalhador e sua família, mas para a empresa, o Estado e a sociedade.

Constatou-se que a prevenção pode proporcionar muitos benefícios,


sendo eles: retorno financeiro ao empregador com diminuição de gastos e impostos,
reconhecimento pelo empregado e sociedade pelo padrão ético da empresa,
economia nas contas da Previdência Social e ganho emocional dos trabalhadores,
que se sentem respeitados e valorizados.

Atualmente, o assunto é de suma importância, tendo em vista a ordem


crescente das doenças ocupacionais e acidentes do trabalho, cabendo ao judiciário
punir mais severamente os responsáveis pelo não cumprimento da lei, evitando o
desencadeamento de todos os problemas que se encontram hoje.

Como destacado, a teoria objetiva passou-se a ser acolhida através de


tempo, quando perceberam que somente a teoria subjetiva não bastava para que o
dano fosse ressarcido, visto que em algumas situações a culpa do empregador é
irrelevante ou de difícil comprovação, bastando assim, o nexo de causalidade e o
dano.

Para não gerar mais duvidas sobre a responsabilidade objetiva, o


Código Civil de 2002 consagrou-a em seu parágrafo único do artigo 927.

Logo, houve uma mudança no âmbito trabalhista, que passou, com a


Emenda Constitucional 45, a ter competência para julgar a responsabilidade civil.
69

Com a súmula Vinculante 22 transferiu-se a competência para os


juízes do Trabalho para julgar acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, que
antes era do Direito Civil.

Foram apontadas as medidas preventivas como solução para evitar o


número alarmante de doenças ocupacionais, quais sejam, os Equipamentos de
Proteção Individuais EPI’s, o Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e
Medicina doTrabalho (SESMT), o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
(PPRA), o Programa deConservação Auditiva (PCA), o Programa de Controle
Médico de Saúde Ocupacional(PCMSO) e a Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes (CIPA).

Puderam-se extrair conclusões a partir do posicionamento de juristas


ao interpretarem coo regra o advento da responsabilidade objetiva. Primariamente,
traz-se que na realização de atividades onde há risco por sua natureza, não há que
se constituir prova sobre a culpa. Neste ambiente, ainda, traz que ainda que a
atividade não se trate de tipicamente arriscada, mas que em determinada situação
fora necessária a assunção de risco para seu cumprimento, não há, também, que se
desconsiderar a responsabilidade objetiva do empregador.

Deve-se, inclusive, considerar a concausalidade quando da


interpretação de doença degenerativa que venha a ser agravada pela atividade
danosa a ser executada.

Ainda, no que tange ao proveito extraído pelo empregador quando da


realização de atividade que exponha obreiro a risco, há desacordo doutrinário,
cabendo a dispensa da averiguação para que se estabeleça a responsabilidade do
empregador pelo dano.

Entretanto, ainda os adotantes da responsabilidade objetiva como


regra, a afasta das hipóteses de força maior, culpa exclusiva da vítima, ou mesmo
caso fortuito.

Nítido, portanto, que a aplicação e adoção da responsabilidade objetiva


na Justiça do Trabalho deve ser interpretativa, levando-se em consideração o caso
concreto, elementos e componentes que tragam a melhor resolução ao litígio.
70

O atual escrito trouxera aprofundamentos legislativos, bem como


doutrinários e jurisprudenciais, exaltando que a matéria carece de discussão e
trabalho, estabelecendo assim maior consciência e responsabilidade no
ressarcimento da doença ocupacional, atendendo sempre aos princípios
fundamentais constitucionais da dignidade d pessoa humana, pilar e guia da vida em
sociedade.
71

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TST. Agravo de Instrumento Em Recurso de Revista. Nº AIRR 13811020135030089.


Relator: José Roberto Freire Pimenta, Publicação: DEJT 05/05/2017Julgamento: 26
de Abril de 2017. Disponivel em:
<https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/455627615/agravo-de-instrumento-em-
recurso-de-revista-airr-13811020135030089>

TST. Recurso de Revista. Nº RR 13267720145120023. 2ª Turma. Relator: Delaíde


Miranda Arantes. Publicação: DEJT 23/03/2018 Julgamento: 14 de Março de 2018.
74

Disponivel em:<https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/559891182/recurso-de-
revista-rr-13267720145120023?ref=juris-tabs>

TRT 4ª Região. Recurso Ordinário. Nº. RO 0040000-83.2009.5.04.081 Relator Clóvis


Fernando Schuch Santos. Julgado em 12/05/2011. 5ª Turma.

TRT 15ª Região. Recurso Ordinário. Nº RO 8595 SP 008595/2011. Relator: Lorival


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TRT 4ª Região. Nº 0000138-98.2010.5.04.0512. Relatora Beatriz Reck. Julgado em


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