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UNIVERSIDADE

CURSO

NOME DO ACADÊMICO

A PANDEMIA DO COVID-19 E OS SEUS IMPACTOS NO


DIREITO PREVIDENCIÁRIO NO BRASIL

CIDADE

2021
NOME DO ACADÊMICO

A PANDEMIA DO COVID-19 E OS SEUS IMPACTOS NO


DIREITO PREVIDENCIÁRIO NO BRASIL

CIDADE

2021
Autor do Documento
A PANDEMIA DO COVID-19 E OS SEUS IMPACTOS NO DIREITO
PREVIDENCIÁRIO NO BRASIL/ Autor do Documento. – Cidade, 2021-
XXp. : il. (algumas color.) ; 30 cm.

Orientador: Nome do Orientador

Monografia/Dissertação/Tese – Nome da Instituição


Nome do Centro ou Instituto
Nome do Departamento, 2021.
A PANDEMIA DO COVID-19 E OS SEUS IMPACTOS NO
DIREITO PREVIDENCIÁRIO NO BRASIL

IMPORTANTE: ESSE É APENAS


UM TEXTO DE EXEMPLO DE
FOLHA DE APROVAÇÃO. VOCÊ
DEVERÁ SOLICITAR UMA FOLHA
DE APROVAÇÃO PARA SEU
TRABALHO NA SECRETARIA DO
SEU CURSO (OU
DEPARTAMENTO).

Trabalho aprovado. Cidade, DATA DA APROVAÇÃO:

_____________________________

Nome do Orientador

Orientador

_____________________________
Professor

Convidado 1

_____________________________

Professor

Convidado 2

Cidade

2021
À minha família pelo apoio irrestrito.
Agradecimentos
Epígrafe
RESUMO

Esse trabalho tem o objetivo de analisar as mudanças do direito previdenciário


considerando as variáveis de segurança e saúde do trabalhador no contexto da
pandemia do covid-19. Parte-se da premissa de que o direito não é estático, mas se
altera conforme as demandas que a realidade social apresenta. O coronavírus se
impôs na realidade social como um fenômeno que modificou as relações entre
particulares e destes com as instituições, impactou na pobreza e na saúde dos
indivíduos. Diante desse cenário, investiga-se sobre quais bases a responsabilidade
estatal no campo da previdência é apresentada e como se promovem as políticas
públicas considerando a atuação institucional do INSS e as possibilidade de auxílio
doença por incapacidade para trabalhadores com covid-19. Trata-se de uma
pesquisa qualitativa exploratória com adoção do procedimento de revisão
bibliográfica.

Palavras-chaves: Previdência social. Estado Democrático de Direito. Direitos


Fundamentais. Direito à saúde. Pandemia.
ABSTRACT

This work aims to analyze the changes in social security law considering the worker's
health and safety variables in the context of the covid-19 pandemic. It starts from the
premise that the law is not static, but changes according to the demands that social
reality presents. Coronavirus has imposed itself in social reality as a phenomenon
that has changed the relationships between individuals and between individuals and
institutions, impacting on poverty and on the health of individuals. In view of this
scenario, it is investigated on what basis the state responsibility in the field of social
security is presented and how public policies are promoted considering the
institutional role of the INSS and the possibility of sick leave due to disability for
workers with covid-19. This is an exploratory qualitative research with the adoption of
the literature review procedure.

Keywords: Social Security. Democratic state. Fundamental rights. Right to health.


Pandemic.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................... 10
1. O DIREITO SOCIAL AO TRABALHO E A PREVIDÊNCIA SOCIAL....... 12
1.1 A força normativa da Constituição e os princípios de proteção da
pessoa humana: aportes constitucionais da Seguridade
Social......................................................................................................... 12
1.2 A relevância social do trabalho e a sua caracterização jurídica................ 25
1.3 Previdência Social, previdência privada e seguridade social no Estado
Constitucional ........................................................................................
32
2. O PANORAMA DA PANDEMIA DA COVID-19....................................... 37
2.1 O contexto da pandemia do coronavírus em 2020- 37
. 2021...........................
2.2 Responsabilidades do Poder Público no quadro de pandemia: aportes
acerca da Seguridade Social.................................................................... 46
3. IMPACTOS DO COVID-19 NO DIREITO PREVIDENCIÁRIO.................. 51
3.1 A saúde e segurança no trabalho: direitos previdenciários ante o
. adoecimento pela COVID-19 ................................................................... 51
3.2 Portaria 373, de 16 de março de 2020 e a instrumentalização dos
. procedimentos institucionais do INSS no contexto 56
pandêmico..................
CONCLUSÃO.......................................................................................... 60
BIBLIOGRAFIA....................................................................................... 61
10

INTRODUÇÃO

Esse trabalho busca investigar as possíveis alterações dentro do direito


previdenciário no contexto da pandemia do coronavírus. Entende-se que o direito
não é estático, mas se altera de acordo com o tempo e o lugar, e é suscetível a
mudanças diante das demandas da comunidade social e perante acontecimentos e
fenômenos sociais que impulsionam a tutela jurídica.

Essa é a premissa analisada nessa pesquisa, de que modo o direito


previdenciário, pautado pela segurança de suas normas no tempo, se modifica
perante a demanda de assistência previdenciária do Estado Democrático de Direito
cuja força normativa dos dispositivos da Carta Magna impulsionam a proteção da
relação trabalhista, da saúde e segurança do contribuinte/trabalhador e da ordem
econômica justa e solidária.

Para entender como a pandemia do COVID-19 altera o Direito Previdenciário


e os procedimentos, por exemplo, no âmbito do INSS, essa pesquisa analisa
inicialmente o direito social ao trabalho e a previdência social, expondo como a força
normativa da Constituição e os princípios de proteção da pessoa humana são
aportados na esfera da Seguridade Social.

Em seguida, verifica-se o próprio panorama da pandemia da COVID-19,


expondo as implicações econômicas, sociais e políticas do coronavírus em 2020-
2021. Verifica-se o surgimento do coronavírus, como desdobra-se em
vulnerabilidade social, como afeta a pobreza da população, de que modo se dá o
contágio e quais as medidas do Poder Público para combater a sua incidência.

Diante desse quadro, verifica-se as responsabilidades do Poder Público no


quadro da pandemia principalmente quanto a Previdência Social. Explica-se de que
modo o Esta está incumbido de promover a proteção dos cidadãos a partir de
considerações da Teoria do Estado e da Filosofia do Direito.

Aponta-se como a Previdencia Social está associada com características de


envelhecimento e manutenção da saúde da população. Verifica-se de que modo os
avanços da medicina impactam nas políticas públicas previdenciárias e logo, no
11

contexto da pandemia, como as alterações no campo da saúde do trabalhador


implicam alterações no direito previdenciário, pela forma institucional de prestação
de políticas públicas nesse campo promovidos, especialmente, pelo INSS e também
com a possibilidade de auxílio-doença por incapacidade temporária.
12

1. O DIREITO SOCIAL AO TRABALHO E A PREVIDÊNCIA


SOCIAL
1.1 A força normativa da Constituição e os princípios de
proteção da pessoa humana: aportes constitucionais da Seguridade
Social

A ordem jurídica não é composta apenas de regras do direito, mas também de


princípios que informam as práticas nesse âmbito. Existem princípios gerais como o
Princípio da Solidariedade, o Princípio da Dignidade Humana, ambos com referência
constitucional; e os princípios específicos de campos da ciência jurídica, como o do
melhor interesse da criança no caso do Direito de Família e o princípio da função
social da propriedade no caso do Direito Civil. Entende-se que os princípios
proporcionam o direcionamento para a realização do bem comum.

A ordem jurídica está pautada em valores racionais, de modo que as normas


de direito não se consolidam de forma arbitrária no plano político-social 1. A função
do direito, conforme as prerrogativas da racionalidade jurídica, encontra-se na
realização do bem comum e da paz social2. O bem coletivo, por sua vez, depende da
consideração das demandas dos grupos sociais que integram uma comunidade 3.

A justiça e a democracia são as bases da República, como determina a


norma constitucional:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do


Brasil:
 I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação.

1
NEVES, António Castanheira. Metodologia Jurídica – Problemas Fundamentais. Coimbra Editora,
2013.
2
COELHO, L F. Lógica Jurídica e interpretação das leis. Rio de Janeiro, Forense, 1979.
3
COELHO, Vera Schattan P; NOBRE, Marcos. Participação e Deliberação. São Paulo, Ed. 34, 2004.
13

Aristóteles já dispunha que o homem é um animal político e como tal encontra-


se associado a sua comunidade, responsável pela manutenção da ordem pública na
escolha de seus governantes e no cumprimento de seus deveres de cidadania.

Nesse sentido, aponta-se

Ao buscar identificar a “boa ordem” necessária ao governo (eunomia),


Aristóteles lançou um dos primeiros e mais influentes conceitos de
“constituição” sob a expressão “politeia”, definindo-a como a “ordem das
magistraturas”, ou a “ordem do Estado no tocante aos diferentes cargos”, ou
ainda aquilo que determina “como o governo está distribuído, qual instância
decide sobre a constituição e qual o objetivo de cada comunidade”. Politeia
significaria a “constituição” da polis e, assim, a forma como os cidadãos
estavam politicamente ordenados. Assim, dizia Aristóteles, que “o Estado é
o sujeito constante da política e do governo; constituição política não é
senão a ordem dos habitantes que o compõe” (ARISTÓTELES, 2000. p.
41), e ainda, que “a Constituição é a ordem ou distribuição dos poderes que
existem num Estado, isto é, a maneira como eles são divididos, a sede da
soberania e o fim a que se propõe a sociedade civil” (ARISTÓTELES, 2000.
p. 149). O mesmo sentido seria depois recepcionado pelos romanos, e a
“constituição” romana seria identificada como o conjunto de regras
tradicionais pelas quais se organizava o uso do poder público investido nas
magistraturas.4

O Estado é o ente maior responsável por promover o bem comum, no entanto,


desde que os indivíduos resolveram se organizar em coletividade, tal atribuição é um
dever de cada sujeito.

Aponta-se que:

[...] a vida social não seria possível sem uma perspectiva de bem comum,
mas, da mesma forma, sabe que muito da política envolve interesses em
conflito ou até mesmo desacordo sobre a própria concepção sobre o que
vem a ser o bem comum. Apresentada como uma teoria mais realista,
assume que a escolha não precisa ser entre o pluralismo liberal e o
republicanismo, mas uma visão combinada de ambos, assumindo a
legitimidade da barganha entre grupos sobre concepções do bem, a
necessidade de um desenvolvimento discursivo das concepções do bem
comum e, afinal, uma sociedade pluralista apresenta grupos com
concepções diferentes do bem, que em parte se sobrepõem e em parte
estão em tensão. [...]. A democracia seria um regime movido pelo desejo,

4
COELHO, Fernando Nagib Marcos. Tipos Normativos E Separação Dos Poderes. 2016, p. 39.
14

enquanto a república visa conter esse desejo, sendo o regime da (força de)
vontade.5

O Princípio de Proteção da Dignidade da Pessoa Humana encontra-se no art.


1º, inc. III da Constituição Federal de 1988, estipula-se enquanto um dos pilares de
sustentação do Estado Democrático de Direito a proteção a pessoa humana, em sua
totalidade.

As relações patrimoniais perdem força quando em conflito com a proteção da


pessoa, isso se observa principalmente no escopo do Direito Civil, que, passa a
deter paradigmas como o da função social dos contratos, da terra, da família,
submergindo a ideia de que as relações privadas também possuem um reflexo na
sociedade como um tudo, e que, em meio a essas interações, todas as dinâmicas de
ordem econômica, cultural, entre outros, devem ser apenas um fim para o alcance
da dignidade humana.

Concebe-se que o tema da dignidade humana atua como base das discussões
teóricas e práticas na ciência jurídica. É possível elencar algumas transformações
que tomam as subáreas do direito desde o paradigma dos direitos fundamentais:
tem-se o conceito de instrumentalidade do processo, no qual o objetivo primordial do
direito processual é a correta prestação jurisdicional, sem ater-se ao rigorismo
técnico e, nesse sentido, abrindo-se a flexibilização dos procedimentos para a
resolução dos casos concretos.

A constitucionalização do direito civil, com a alteração do marco da propriedade


para o da dignidade e, assim, o estabelecimento da função social dos institutos
privatistas. A criminologia crítica e o direito penal mínimo também integram as
transformações capitaneadas pela preeminência dos direitos fundamentais da
pessoa6.

5
SOARES, MC. Representações, jornalismo e a esfera pública democrática [online]. São Paulo:
Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 272 p., p. 107-108.
6
MAZZAROBA, Orides; STRAPAZZON, Carlos Luiz. Direitos fundamentais e a dogmática do bem
comum constitucional. Seqüência, n. 64, p. 335-372, jul. 2012.
15

É preciso diferenciar as expressões “Direitos Humanos” e “Direitos


Fundamentais”, visto que não são sinônimas, embora atendam a demanda por
proteção institucional da pessoa humana na esfera das relações jurídico-sociais.
Quando fala-se em Direitos Humanos quer se relacionar a produção documental,
normativa e de instrumentos em prol da defesa do ser humana na seara
internacional. O que se destaca no escopo dos direitos humanos é o Direito
Internacional, enquanto no quadro dos direitos fundamentais, tem-se o resguardo do
Direito Constitucional7.

Entende-se que os direitos fundamentais enquanto conceito são recentes na


história, com as primeiras menções a partir das revoluções políticas do século XVIII,
tal qual a Revolução Americana de 1776 e, alguns anos depois, a Revolução
Francesa de 1789. Salienta-se que tais documentos implicaram na
institucionalização dos ideais propagados pelo movimento da Ilustração, que
fomentariam as elucubrações de viés político dispostas por iluministas e pensadores
como John Locke, Voltaire, Diderot, Montesquieu, Rousseau e Benjamim Franklin 8.

Os direitos fundamentais, de fato, dependem da tradição anglo-saxônica em


consolidar mecanismos para restringir o poderio político do monarca e, com isso,
tornar efetivo o conjunto de prerrogativas do cidadão ante o Estado, principalmente,
resguardar a autonomia e a liberdade da pessoa.

Nesse sentido, é possível afirmar que os direitos fundamentais, por seu


histórico de limitação do poder do monarca, estão, em sua essência, associado aos
direitos de manifestação, livre pensamento, reunião, locomoção, livre exercício de
atividade profissional e, ainda, as liberdades políticas e civis 9.

7
LOVATO, Ana Carolina; DUTRA, Marília Camargo. Direitos fundamentais e direitos humanos:
singularidades e diferenças. XII Seminário Internacional de demandas sociais e políticas públicas na
sociedaded contemporânea, 2015.
8
VIEIRA JUNIOR, Dicesar Beches. Teoria dos direitos fundamentais: evolução histórico-positiva,
regras e princípios. Revista da Faculdade de Direito-RFD-UERJ- Rio de Janeiro, n. 28, dez. 2015.
9
VIEIRA JUNIOR, Dicesar Beches. Teoria dos direitos fundamentais: evolução histórico-positiva,
regras e princípios. Revista da Faculdade de Direito-RFD-UERJ- Rio de Janeiro, n. 28, dez. 2015.
16

Essa acentuação dos direitos fundamentais como obstáculo ao poderio do


Estado marca a passagem dos indivíduos de súditos à cidadãos, e, nesse viés,
associam-se com a inauguração da ordem democrática.

Aponta-se:

Os Direitos Fundamentais, historicamente, nasceram como movimento


contrário ao despotismo estatal, ou seja, como medidas de proteção do
súdito frente ao poderoso Estado. Eram e são direitos que objetivavam
compelir o Estado a desempenhar o seu papel de instrumento ou
ferramenta de concreção da Dignidade Humana. Isto significa que os
Direitos Fundamentais objetivam, via diretrizes normativas, designar a
maneira como se deve realizar a Dignidade Humana, por meio de ações
positivas ou negativas (abstenções) do Estado. Se justifica a inclusão dos
próprios particulares como sujeitos passivos dos Direitos Fundamentais por
meio do brocardo “cui licet quod est plus, licet utique quod est minus”. Se o
Estado – o maior – se submete aos desígnios dos Direitos Fundamentais, o
súdito/ particular – o menor – com mais (ou igual) razão, também deverá se
submeter. Bem assim, como acentua Ferrajoli (2002, p. 690), a
transformação do Estado absoluto em estado de Direito ocorre pari passu a
do súdito em cidadão, que passa a ser sujeito de Direitos
constitucionalmente previstos, vinculando o Estado àqueles, e não
meramente detentor de direitos naturais.10

Os Direitos Fundamentais implicam nos direitos da pessoa, ante o


reconhecimento de sua humanidade, e a positivação dessas prerrogativas humanas
a partir do ordenamento constitucional, ou seja, no território nacional. Os direitos
fundamentais possuem um controle jurisdicional que ocorre pela corte do país no
qual são suscitados.

Já os direitos humanos estão associados com o trabalho dos tribunais


internacionais e a implicação dos Estados-nação a obediência dos preceitos de
direitos humanos – ainda que, nesse último caso, exista a dependência para com a
boa vontade dos Estados que são signatários dos tratados de direitos humanos em
dar efetividade as normas internacionais no contexto dos conflitos políticos de seus
territórios11.

10
AVANCI, Thiago Felipe S. Uma nova tônica nos direitos fundamentais: acesso internacionalizado
de um direito fundamental. Opinión Jurídica, Vol. 12, N° 24, pp. 69-86, ulio-Diciembre de 2013 / 200 p.
Medellín, Colombia, p. 73.
17

Pode-se apontar como uma das principais referências dos Direitos


Fundamentais e disposição da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
aprovada no contexto dos esforços da ONU, após a Segunda Guerra Mundial em
estabelecer um arcabouço normativo de proteção da pessoa humana contra
eventuais abusos do Estado.

A Declaração Universal de Direitos Humanos é composta por trinta artigos em


que se declaram os Direitos Fundamentais e suas dimensões. Trata-se de uma
declaração universal pois que refere-se a toda a humanidade, o seu respeito e
aplicabilidade vincula Estados e indivíduos, assim como instituições públicas. É
crucial compreender que a edificação teórica dos Direitos Fundamentais nasce para
estabelecer uma limitação conciso ao poderio estatal.

Essa proposição importa no contexto do presente trabalho para assinalar que o


Estado possui o poder fiscal, não obstante, tal poder não é absoluto, mas tem como
limite os direitos fundamentais12.

Salienta-se a contribuição de Alexy na formulação de uma teoria dos direitos


fundamentais, considerando que tal autor contribuiu para análise das
transformações do Estado alemão e, ante as suas observações, cunhou uma teoria
geral dos direitos fundamentais.

A teoria de Alexy é comentada por Bobbio no sentido de que os direitos não


são postos todos em um único momento, mas se desenvolvem a partir do momento
histórico em que a comunidade civil se encontra, normatizados no texto jurídica da
população. É preciso considerar, assim, que os direitos fundamentais possuem um
respaldo histórico no qual vinculam-se a crescente disposição normativa dada a
dignidade da pessoa humana13.

11
LOVATO, Ana Carolina; DUTRA, Marília Camargo. Direitos fundamentais e direitos humanos:
singularidades e diferenças. XII Seminário Internacional de demandas sociais e políticas públicas na
sociedaded contemporânea, 2015.
12
LOVATO, Ana Carolina; DUTRA, Marília Camargo. Direitos fundamentais e direitos humanos:
singularidades e diferenças. XII Seminário Internacional de demandas sociais e políticas públicas na
sociedaded contemporânea, 2015.
13
VIEIRA JUNIOR, Dicesar Beches. Teoria dos direitos fundamentais: evolução histórico-positiva,
regras e princípios. Revista da Faculdade de Direito-RFD-UERJ- Rio de Janeiro, n. 28, dez. 2015.
18

A efetividade dos direitos fundamentais advém da Constituição que, no cenário


jurídico-institucional, funda-se como o texto normativo de maior importância ante as
outras normas do ordenamento jurídico – não à toa é denominada, muitas vezes,
como Carta Magna.

A Carta Magna está organizada por um conjunto de normas abrangentes, entre


as quais identificam-se as normas de Direitos Fundamentais, direitos estes que são
inerentes a pessoa humana, além de deter, também, normas de cunho
organizacional acerca dos poderes estatais. É possível afirmar que a Constituição
expressa o espírito político e jurídico do povo e daqueles que o governam 14.

A Constituição, nos dizeres de Canotilho, tem um viés histórico e moderno, no


qual fundam-se os elementos de base da sociedade, assim, o conteúdo
constitucional envolve não apenas o agir estatal como as práticas privadas e
individuais do corpo social – regulando todas as expressões de poder 15.

O novo paradigma do direito, disposto com as mudanças no mundo no


contexto do século XX, pauta-se, principalmente, pelo conceito de força normativa
da Constituição. Em que a força normativa da Constituição significa “[...] força de
vigência e a capacidade de conformação social da Lei Fundamental.” 16.

A proteção da pessoa humana, a consolidação das garantias e direitos


individuais, o comportamento dos órgãos e agentes associados ao Estado, a base
da atuação estatal desenvolve-se a partir do ganho normativo atribuído a Carta
Magna.

Em termos históricos, da produção intelectual acerca da força normatica da


Constituição, coloca-se a produção de Konrad Hesse e a sua integração de fatores
como a história, a sociedade e a política no quadro da ciência jurídica, a saber:
14
WLOCH, Fabrício; SILVA, Carlos Roberto da. A efetivação dos direitos fundamentais à luz de
Canotilho e Alexy. Revista Constituição e Garantia de direitos, 2016.
15
WLOCH, Fabrício; SILVA, Carlos Roberto da. A efetivação dos direitos fundamentais à luz de
Canotilho e Alexy. Revista Constituição e Garantia de direitos, 2016.
16
FERREIRA, Hugo Alexandre de Souza. A história da contratação colectiva na Constituição: uma
perspectiva diacrónica sobre a força normativa do Direito Constitucional do Trabalho. Faculdade de
Direito da Universidade de Coimbra. Coimbra, 2013, p. 11.
19

Konrad Hesse foi um dos teóricos de grande importância para o fenômeno


normativo da Constituição. “A Força Normativa da Constituição”, obra na
qual este expõe e argumenta os fatores que geram a normatividade das
Constituições, bem como analisa a relação da Carta Magna com as
condicionalidades históricas, sociais e políticas é marcada por riquíssimas
considerações a respeito da normatividade da Constituição. 17

A Constituição Federal, nesse viés, caracteriza-se uma norma de viés jurídico,


mas também político, com diretrizes que coordenam a totalidade da vida no quadro
do Estado de Direito18. A nova hermenêutica constitucional implica na força
normativa do texto magno cujo efeito encontra-se produção de mecanismos de
implementação dos direitos e garantias fundamentais à pessoa 19.
Soma-se a ideia de soberania constitucional enquanto parâmetro de limitação
e fundamentação da prática do Estados, de particulares e indivíduos 20. Nesse
quadro, desenvolve-se (i) a expansão da jurisdição constitucional e (ii) o
desenvolvimento de uma nova dogmática da interpretação constitucional 21.
O curso histórico de desenvolvimento da força normativa da Constituição na
Europa é disposta pelo seguinte cenário:

A Constituição acabou por ser vista, principalmente no constitucionalismo


europeu (até a década de 40), como uma espécie de diretiva política
endereçada ao legislador e não como norma jurídica propriamente dita (que
comportasse tutela judicial quando descumprida). A superação dessa
perspectiva, e portanto, o reconhecimento da força normativa da
Constituição, floresce no segundo pós-guerra, primeiro com a diminuição do
prestígio do positivismo jurídico, no chamado neoconstitucionalismo, onde
os princípios ganharam ascensão e passaram a ser concebidos como “uma
reserva de justiça na relação entre o poder político e os indivíduos,
especialmente as minorias” e, em segundo lugar, com a disseminação da

17
SANTOS, Leonardo Fernandes. A força normativa da Constituição: sociedade, direito e garantias
fundamentais. Revista da AGU , v. IX, p. 01-12, 2009, p. 02-03.
18
NEVES, António Castanheira, A Revolução e o Direito: a situação de crise e o sentido do direito no
actual processo revolucionário. Lisboa, Separata da Revista da Ordem dos Advogados, 1976.
19
BARROSO, Luis Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito – O triunfo tardio
do direito constitucional no Brasil. Revista de Direito Administrativo da FGV, v. 240, 2005, p. 173.
20
OLIVEIRA, Sara Barbosa de. O controle de políticas públicas nas decisões proferidas pelo
Supremo Tribunal Federal. (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Espírito Santo.
Vitória, 2016.
21
BARROSO, Luis Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito – O triunfo tardio
do direito constitucional no Brasil. Revista de Direito Administrativo da FGV, v. 240, 2005, p. 173.
20

jurisdição constitucional através da criação de diversos tribunais


constitucionais pelo mundo.22

Tem-se a expansão da atuação do Supremo Tribunal Federal, compreendido


enquanto “guardião da Constituição”, com fenômenos que resultam disso, como o da
judicialização da política e o do ativismo judicial 23. A judicialização da política pode
ser compreendida pelo termo “politicidade” que consiste na aproximação do campo
jurídico com o campo político24.
A Carta Magna, por sua força normativa expõe um viés substantivo, advindo
da força constitucional, no qual o texto magno ocupa o topo da ordem jurídica; e um
viés objetivo, referente a exposição de mecanismos que chancelem essa
supremacia e ainda exponha efeitos negativos quando identificado a violação da
norma constitucional25.
A força normativa da Constituição impulsiona, inclusive, políticas públicas no
âmbito da sociedade civil. Isso, pois as normas constitucionais, a partir do
paradigma do direito impresso na virada constitucional do pós-1945, demanda a
ação positiva do Estado no que tange ao cumprimento dos preceitos
constitucionais26. Importa pontuar que o seu reflexo é observado em diversas searas
do direito, como no direito do trabalho com a formulação de um Direito
Constitucional do Trabalho27.
Torna-se possível compreender a força normativa da Constituição enquanto
um princípio da ordem jurídica, no qual assevera-se a observância dos elementos
históricos, sociais e políticos na assimilação da vontade da Constituição.
22
GADOTTI, Giselle Araujo. Do constitucionalismo ao transconstitucionalismo: considerações sobre
o(s) sentido (s) do constitucionalismo na ocontemporaneidade com especial referência aos direitos
fundamentais. (Dissertação de Mestrado). Universidade de Coimbra. Coimbra, 2013, p. 51.
23
PINTO, Hélio Pinheiro. A expansão do Supremo Tribunal Federal através da judicialização da
política e do ativismo judicial: da aplicação da Constituição à assunção de poderes constituintes.
(Dissertação de Mestrado). Universidade de Coimbra. Coimbra, 2015.
24
GOUVEIA, Jorge Bacelar. Manual de Direito Constitucional. 5º edição. Coimbra: Almedina, 2013.
25
GOUVEIA, Jorge Bacelar. Manual de Direito Constitucional. 5º edição. Coimbra: Almedina, 2013.
26
OLIVEIRA, Sara Barbosa de. O controle de políticas públicas nas decisões proferidas pelo
Supremo Tribunal Federal. (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Espírito Santo.
Vitória, 2016.
27
FERREIRA, Hugo Alexandre de Souza. A história da contratação colectiva na Constituição: uma
perspectiva diacrónica sobre a força normativa do Direito Constitucional do Trabalho. Faculdade de
Direito da Universidade de Coimbra. Coimbra, 2013, p. 11.
21

A interpretação do direito, nesse viés, não se realiza apenas pela subsunção


da regra de direito ao caso concreto, mas da tarefa ativa do interprete do direito em
considerar a aplicação da norma pelo viés do texto legal, do caso concreto e do
tempo e local no qual encontra-se a demanda jurídica 28.
Entende-se que há a alocação do Direito Constitucional, no quadro da ordem
jurídico, na posição suprema, no topo da pirâmide com repercussões em todo o
ordenamento29.

[...] a) pela presença de uma Constituição rígida, que incorpora os direitos


fundamentais-sociais; b) a atuação de uma jurisdição constitucional com
conteúdo fortemente interventivo, que assegura a força vinculativa da
Constituição, que abarca uma materialidade principiológica; c) a
autoaplicabilidade dos dispositivos constitucionais; d) a submissão das
relações privadas ao primado do público e, finalmente e) a emergência de
um novo modo de interpretar as leis e a Constituição, a partir de uma ampla
filtragem hermenêutico-constitucional, baseada na primazia do âmbito da
validade sobre o âmbito da vigência dos textos infraconstitucionais 30.

Com o novo constitucionalismo, esse conjunto de regras e princípios que


norteiam o comportamento institucional e individual passa a constar na Constituição
Federal. Em face do novo sistema constitucional que permite o fenômeno da
constitucionalização do direito encontram-se características como:

Verifica-se a classificação dos direitos fundamentais em direito de primeira,


segunda e terceira gerações, conforme, justamente, ao período da história que tais
prerrogativas foram reconhecidas e positivadas no ordenamento jurídico. Os direitos
fundamentais de primeira geração são os direitos que encontram a sua origem nas
Declarações do século XVIII, a saber: a declaração do Estado da Virgínia de 1776 e
a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, nascente da Revolução
Francesa de 1789 – como já citado.

Os direitos fundamentais de primeira geração são elencados enquanto os


direitos de liberdade, ao qual se integram os direitos civis e políticos, titulam os
28
PUCCINELLI JUNIOR, André. Curso de Direito Constitucional. 3º edição. São Paulo: Editora
Saravia, 2013.
29
GOUVEIA, Jorge Bacelar. Manual de Direito Constitucional. 5º edição. Coimbra: Almedina, 2013.
30
DUARTE, Ecio Oto Ramos. O Neoconstitucionalismo Como Antipositivismo Jurídico: Uma Teoria
Do Direito E Do Estado Em Face Do Cosmopolitismo Jurídico. Universidade de Fortaleza, 2013, p.
76.
22

sujeitos em oposição ao Estado e demandam deste, uma prestação negativa, em


outras palavras, que não viole o quadro da liberdade individual da pessoa, a
subjetividade, autonomia, direito de propriedade e escolhas.

Concebe-se que os direitos de liberdade de consciência, de culto, de reunião e


a inviolabilidade do domicílio constam como direitos de primeira geração já que para
a titularidade desses direitos, o indivíduo é considerado em sua particularidade, não
como grupo ou coletivo ou povo. O Estado não dever intervir no campo da
particularidade, intimidade, individualidade do cidadão – ainda que, pela vontade
popular, o Estado detenha a soberania do poder e a legitimidade para atuar com
força coercitiva31.

Os direitos fundamentais de segunda geração são aqueles de viés sociais,


assim dispostos na Carta Magna como direitos sociais, econômicos e culturais. O
fundamento dos direitos de segunda geração se encontra na ação positiva do ente
estatal que deve empenhar-se em políticas públicas para a concretização dessas
prerrogativas sociais.

Tem-se, aqui, o conceito de prestação positiva como instrumento para a


realização da justiça social pelo órgão incumbido de manter a comunidade civil e os
bens imprescindíveis ao bem-estar público. Aqui é possível falar de mínimo
existencial, mínimo vital, subsistência digna como acesso a bens públicos que são
essenciais a manutenção da vida digna do cidadão e de sua família 32.

Atenta-se que os direitos sociais também estão associados as denominadas


“liberdades sociais”, que tem como exemplo, as liberdades de sindicalização o
escopo do direito ao trabalho, e, o direito de greve, entre outras questões laborais.
Entende-se que os direitos de segunda geração possuem como titulares, os
indivíduos, não obstante, a pessoa dotada de uma posição na comunidade jurídica-
social, dá-se como exemplo, o indivíduo trabalhador. Trata-se, assim, de

31
VIEIRA JUNIOR, Dicesar Beches. Teoria dos direitos fundamentais: evolução histórico-positiva,
regras e princípios. Revista da Faculdade de Direito-RFD-UERJ- Rio de Janeiro, n. 28, dez. 2015.
32
VIEIRA JUNIOR, Dicesar Beches. Teoria dos direitos fundamentais: evolução histórico-positiva,
regras e princípios. Revista da Faculdade de Direito-RFD-UERJ- Rio de Janeiro, n. 28, dez. 2015.
23

reivindicações no âmbito da sociedade que possuem como marco histórico o século


XIX e a primeira metade do século XX33.

Realiza-se um adendo para explicar que os direitos sociais enquanto


amplificados por política públicas ou como demandas do cidadão ante o poder
jurisdicional do Estado implicam na reserva do possível – e, nesse sentido, salienta-
se também a essencialidade da contribuição fiscal, pois que, com esses contributos
formam-se a reserva financeira do Estado que são direcionadas para a consecução
dos direitos sociais.

Em suma, o dever do pagamento dos tributos e a obrigação estatal em tributar


atrela-se ao mesmo documento jurídico: a Constituição. Assim, o texto magno é
fonte de direitos e obrigações e funciona como alicerce da ordem jurídico-social.
Retornando a questão da reserva do possível em contraposição aos direitos
fundamentais de primeira geração e em consonância com a discussão dos direitos
fundamentais de segunda geração, importa aduzir que:

Por sua vez, e quanto aos direitos sociais, eles estão afetados na sua
dimensão principal, e em abstrato, - ou seja, aquela dimensão de que
falamos, relativa à prestação fáctica, por parte do Estado, das condições
materiais de acesso a esses bens sociais -, por uma reserva do
financeiramente possível. Desta forma, a norma de garantia de um direito
social, tal como já foi evidenciado, traduz-se, essencialmente, e ao contrário
daquela dos direitos de liberdade, na imposição ao Estado de um dever de
prestar cuja realização, todavia, por estar essencialmente dependente de
pressupostos materiais, designadamente financeiros, não se encontra na
inteira disponibilidade do Estado. Por esse facto, ou seja, por esse
condicionamento material e financeiro inerente à prestação do Estado, a
norma, em geral, não pode desde logo garantir, na esfera do seu titular,
uma quantidade juridicamente determinada ou determinável de acesso ao
bem protegido. E não o pode, reforce-se, porque essa concretização
depende sempre de pressupostos que não estão na totalidade do controlo
do Estado.34

33
VIEIRA JUNIOR, Dicesar Beches. Teoria dos direitos fundamentais: evolução histórico-positiva,
regras e princípios. Revista da Faculdade de Direito-RFD-UERJ- Rio de Janeiro, n. 28, dez. 2015.
34
BRÁS, Afonso. O núcleo essencial dos direitos sociais na ordem jurídica internacional. E-Pública,
Revista Eletronica de Direito Público, 2016, p. 199.
24

Por sua vez, os direitos de terceira geração caracterizam-se por seu viés
coletivo, ou difuso, no qual a titularidade está nos grupos sociais e não em uma
única pessoa. Como exemplos de direitos fundamentais de terceira geração pode-se
elencar o direito ao meio ambiente, o direito a proteção ao patrimônio histórico e
cultural da humanidade, o direito a paz e possuem como marco histórico-normativo a
Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 35.

Ante o campo dos direitos fundamentais ressalta-se a disposição desse


conceito no cenário nacional associado com o Estado democrático de Direito e a
consolidação de um agir institucional do Estado – em todas as suas esferas,
inclusive na esfera fiscal – em que há o respeito as três gerações de direitos
fundamentais e, quando identifica-se o conflito entre princípios norteadores do
ordenamento faz-se uso da adequação, necessidade e proporcionalidade dos
princípios, verificando o caso concreto e a melhor solução.

Nesse sentido é que se aponta:

Para o jurista português Canotilho, a ordem constitucional dos Direitos


Fundamentais está necessariamente ligada ao princípio democrático que a
informa, isto é, à concepção constitucional do Estado de direito democrático.
Sua contribuição apta a ser transplantada para a efetividade dos Direitos
Fundamentais no Brasil se traduz pelos modos de garantia e preservação
da própria Constituição. Por ser o princípio democrático um princípio
jurídico-normativo, ele aponta para a democracia como forma de vida, de
racionalização do processo político e de legitimação do poder. A efetivação
então dos Direitos Fundamentais se dá estabelecendo-se operações de
concordância prática entre eles mediante relações de complementaridade,
de condicionamento e conjugação das normas com o aperfeiçoamento dos
mecanismos da democracia. Já para o jurista alemão Alexy, o Estado ideal
é da combinação entre liberdade e proteção social. A justiça pode fazer isso
por intermédio da teoria da ponderação. Se o parlamento não é capaz de
proteger os Direitos Fundamentais, o Judiciário deve fazê-lo. E, para que o
Judiciário possa fazê-lo, Alexy busca desenvolver uma argumentação
jurídica racional de ponderação, visando evitar “intuicionismo” para decidir
mediante a sugestão de parâmetros axiológicos baseados em
circunstâncias que possibilitam a satisfação dos graus variados de ordem
fática ou jurídica. Para o alemão podem existir regras e princípios de
Direitos Fundamentais. Em caso de conflito de regras, resolve-se pela
exceção ou invalidade de uma delas. Já em caso de colisão de princípios,
resolve-se pelas três submáximas da adequação, necessidade e
proporcionalidade em sentido estrito.36

35
VIEIRA JUNIOR, Dicesar Beches. Teoria dos direitos fundamentais: evolução histórico-positiva,
regras e princípios. Revista da Faculdade de Direito-RFD-UERJ- Rio de Janeiro, n. 28, dez. 2015.
25

A igualdade ou isonomia expresso no artigo 150, inciso II, da Constituição


Federal de 1988 significa que todos são iguais perante a lei, em direitos e
obrigações, e que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em
virtude da lei.

1.2 A relevância social do trabalho e a sua caracterização


jurídica

Na Idade Média o trabalho estava associado as ideias da Igreja Católica,


no qual a concepção do labor se alternava entre o trabalho como punição e o
trabalho como um modelo de expiar o pecado do mundo. Com o progressivo
desaparecimento da escravidão e a inserção do regime assalariado, o teor material
e econômico do trabalho se consolida, com a possibilidade do livre exercício de
contratar. No panorama capitalista o trabalho ganha centralidade social, associa-se
com uma economia concorrencial e um mercado altamente desenvolvido 37.

Assim o trabalho passa a se organizar por bases racionais, ligando-se a


sistemas de produção como o taylorismo e o fordismo, a saber:

Nas fases mais antigas, anteriores ao taylorismo e ao fordismo, a


organização do trabalho centrava-se em pequenas equipas, em que o
operário de ofício organizava o seu próprio trabalho, mantendo uma
autonomia profissional baseada no seu saber-fazer. A consciência da sua
condição pode ser definida pela consciência positiva da utilidade social do
seu trabalho. No polo oposto encontram-se os operários sem ofício,
destinados a desempenhar os trabalhos mais penosos e que não requerem
qualquer tipo de qualificação, habitualmente com comportamentos
economicistas. A introdução da organização científica do trabalho veio
alterar o modo como os operários se relacionam com o trabalho e entre si.
O taylorismo e o fordismo submetem-nos a uma organização que lhes é
cada vez mais estranha.38

36
WLOCH, Fabrício; SILVA, Carlos Roberto da. A efetivação dos direitos fundamentais à luz de
Canotilho e Alexy. Revista Constituição e Garantia de direitos, 2016, p. 284.
37
BORGES, Lívia de Oliveira. As Concepções do Trabalho: um Estudo de Análise de Conteúdo de
Dois Periódicos de Circulação Nacional Conteúdo de Dois Periódicos de Circulação Nacional. RAC, v.
3, n. 3, set./dez. 1999: 81-107.
38
LIMA, Marinús Pires de; LATAS, Ana Guerreiro; NUNES, Cristina. Boas práticas laborais e
negociação coletiva na Autoeuropa e SATA-SNPVAC. Anál. Social, Lisboa, n. 202, p. 146-165, 2012,
p. 150.
26

O trabalho está alocado como atividade central nas sociedades


ocidentais, principal a partir do desenvolvimento dessa atividade econômica e social
com a Revolução Industrial no bojo do século XX 39. Nesse sentido, o trabalho possui
como consequência ser o condutor para a qualidade de vida 40, para o acesso de
bens e serviços, com a adequada distribuição de renda e crescimento econômico 41,
para o crescimento humano – inclusive, propiciando felicidade e significado para a
vida42 –, além de seu contributo benéfico para a comunidade 43.

A centralidade do trabalho dá-se não só na esfera econômica (o trabalho é a


fonte de renda da maioria da população mundial) como também na esfera
psíquica – o que, certamente, representa um paradoxo, uma vez que a
atividade laboral ainda parece ser uma importante fonte de saúde psíquica
(tanto que sua ausência, pelo desemprego ou pela aposentadoria, é causa
de abalos psíquicos) ao mesmo tempo em que se registram cada vez mais
pesquisas que evidenciam o trabalho como causa de doenças físicas,
mentais e de mortes. É preciso perguntar: que tipo de trabalho adoece
corpo e mente e até mata? Certamente, não é o trabalho criativo, produtivo,
prazeroso, que deveria ser central na vida das pessoas. 44

Por sua centralidade, é notório que a análise da atividade laboral não


esteja restrita a uma única área do conhecimento, mas abrange as técnicas, normas
e exposições do direito, da psicologia, da administração; de instituições públicas e
privadas; de órgãos representativos de trabalhadores e empregadores. Tem-se, com
isso, a demonstração de um caráter polissémico do trabalho, que se dá tanto com a

39
RIESEBRODT, Martin. A ética protestante no contexto contemporâneo. Tempo Social, revista de
sociologia da USP, v. 24, n. 1, 2012.
40
SILVA, Uanisléia Lima da; OLIVEIRA, Aurea de Fátima. Qualidade de Vida e Valores nas
Organizações: Impactos na Confiança do Empregado. Psicologia: Ciência e Profissão Jan/Mar. 2017
v. 37 n°1, 7-17.
41
HOFFMANN, Rodolfo. Distribuição de renda e crescimento econômico. Estud. av.,  São Paulo ,  v.
15, n. 41, p. 67-76,  Apr.  2001.
42
SILVA, Narbal; TOLFO, Suzana da Rosa. Trabalho significativo e felicidade humana: explorando
aproximações. Rev. Psicol., Organ. Trab. vol.12 no.3 Florianópolis dez. 2012.
43
KUBO, Sergio Hideo; GOUVEA, Maria Aparecida. Análise de fatores associados ao significado do
trabalho. R.Adm., São Paulo, v.47, n.4, p.540-554, out./nov./dez. 2012.
44
NAVARRO, Vera Lucia; PADILHA, Valquíria. Dilemas do trabalho no capitalismo contemporâneo.
Psicologia & Sociedade; 19, Edição Especial 1: 14-20, 2007., p. 15.
27

forma múltipla de constituição das espécies de trabalhadores como das modalidades


de trabalho45.

Considera-se que o trabalho tem um caráter plural e polissêmico, envolve


inúmeras áreas do conhecimento já que a sua natureza é psicossocial, pautando-se
como uma das ações mais centrais da sociabilidade humana 46. Assim, torna-se
possível expor diversos sentidos do conceito de trabalho, ao qual se elencam as
seguintes disposições:

O conceito de trabalho é amplo e se modifica de acordo com as diferentes


perspectivas epistemológicas. O sentimento de pertencimento àquilo que se
produz e a satisfação com o trabalho realizado tornam-se muito particulares
e alteram-se a partir do campo de visão do sujeito, podendo trazer ou não
bem-estar e realização. Fontoura e Gunther (2015) conceituam o trabalho
como a aplicação da atividade humana à produção de bens e serviços em
proveito de outrem que o remunera. Godoy e Cruz (2010) apontam que, em
geral, o trabalho é compreendido como todo o esforço físico ou intelectual
com o objetivo de realizar algo. Em linhas gerais, propõe-se definir o
trabalho como algo gratuito ou oneroso, advindo de um esforço físico ou
mental e que pode beneficiar a si próprio ou a terceiros, com o objetivo de
produzir algum serviço ou bem. O trabalho é circunscrito de diferentes e
controversas formas entre os campos da sociologia, da economia, da
psicologia e da engenharia. De fato, são vários os conceitos do trabalho e
as formas de analisá-lo. Segundo Lima (2010), a produção de bens é, por
excelência, o trabalho: evoluiu da escravidão ao contrato e,
contraditoriamente, ainda subsiste nas duas formas, eventualmente de
modos sutis.47

Na definição de trabalho, salienta-se a alocação do sujeito trabalhador


enquanto um ser constituído de subjetividade, e, consequentemente, de uma
humanidade que o difere do maquinário que integra a produção. O “eu trabalhador”
é um sujeito passível de sofrimento e prazer, de modo que, no processo de criação e
desenvolvimento da mercadoria/serviço está passível de sentir dor, cansaço, alegria
e satisfação48 .

45
ANTUNES, Ricardo. O caráter polissêmico e multifacetado do mundo do trabalho. Trab. educ.
saúde [online]. 2003, vol.1, n.2, pp.229-237.
46
NAVARRO, Vera Lucia; PADILHA, Valquíria. Dilemas do trabalho no capitalismo contemporâneo.
Psicologia & Sociedade; 19, Edição Especial 1: 14-20, 2007.
47
ASSUNÇÃO-MATOS, Alfredo; BICALHO, Pedro Paulo Gastalho de. O trabalho, a terceirização e o
Legislativo brasileiro: Paradoxos e controvérsias. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, 16(2),
abr-jun 2016, pp. 120-129, p. 121.
48
GUI, Roque Tadeu. Prazer e sofrimento no trabalho: representações sociais de profissionais de
recursos humanos. Psicol. cienc. prof. vol.22 no.4 Brasília Dec. 2002.
28

Essas questões relacionadas ao prazer e sofrimento no trabalho


relacionam-se com a disposição da precarização da relação labora, da intensificação
da jornada de trabalho, dos modos como o ambiente laboral encontra-se ou não
adequado às diretrizes para o bem-estar do trabalhador, em outras palavras, para a
manutenção de sua integridade49.

A saúde do trabalhador, no pensamento clássico da medicina ocupacional,


era entendida como relacionada apenas ao ambiente físico, na medida em
que o trabalhador está em contato com agentes químicos, físicos e
biológicos que lhe causem acidentes e enfermidades. Ganhou novo
enfoque, a partir da década de 80, no contexto da transição democrática, e
em sintonia com o que ocorreu no mundo ocidental (MENDES & DIAS).
Esse novo enfoque expressou-se nas discussões da VIII Conferência
Nacional de Saúde, na realização da I Conferência Nacional de Saúde dos
Trabalhadores, e foi decisivo para a mudança estabelecida na nova
Constituição Federal de 1988 (MENDES22). O objeto da saúde do
trabalhador pode ser definido como o processo saúde e doença dos grupos
humanos, em sua relação com o trabalho. Trabalho entendido enquanto
espaço de dominação e submissão do trabalhador pelo capital, mas,
igualmente, de resistência, de constituições e do fazer histórico dos
trabalhadores, que buscam o controle sobre as condições e os ambientes
de trabalho, para torná-los mais saudáveis, num processo lento,
contraditório, desigual no conjunto da classe trabalhadora, dependente de
sua inserção no processo produtivo e do contexto sócio-político de uma
determinada sociedade. Nesse sentido, a saúde do trabalhador aparece
enquanto uma prática social instituinte e instituída dentro de um
determinado modo de produção (ALESSI et al.2). 50

A caracterização da relação de trabalho pelo viés jurídico se dá, antes de


mais nada, com a elucidação do contrato de trabalho, no qual se tem a constituição
de um negócio jurídico, realizado de modo tácito ou expresso, e que represente o
interesse de ambas as partes em contraírem direitos e obrigações laborais. O
contrato de trabalho se realiza mediante a obrigação da pessoa natural para com
outra pessoa natural ou jurídica ou para um ente sem personalidade jurídica, ao qual
se tem a troca da mão de obra por um salário 51.

49
FIGUEIREDO, Jussara Moore de; ALEVATO, Hilda Maria Rodrigues. A visão de prazer e
sofrimento da psicodinâmica do trabalho ante a precarização e a intensificação do trabalho – breve
reflexão. XXXIII Encontro Nacional De Engenharia De Producao - A Gestão dos Processos de
Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
50
OLIVEIRA, Beatriz Rosana Gonçalves de; MUROFUSE, Neide Tiemi. Acidentes de trabalho e
doença ocupacional: estudo sobre o conhecimento do trabalhador hospitalar dos riscos á saúde de
seu trabalho. Rev.latino-am.enfermagem, Ribeirão Preto, v. 9, n. 1, p. 109-115, janeiro 2001, p. 110.
51
NOLASCO, Lincoln. Contrato de trabalho. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVII, n. 121, fev 2014,
online.
29

Conforme o direito explicita-se a relação de trabalho do seguinte modo:

É corrente a utilização dos termos relação de emprego e contrato de


trabalho significando o vínculo empregatício existente entre empregado e
empregador. Trata-se, assim, do contrato individual de trabalho. Pode-se
dizer que a relação de trabalho é um gênero que tem como uma de suas
espécies a relação de emprego. Outras modalidades de relação de trabalho
são, por exemplo, o trabalho eventual, autônomo, avulso e voluntário. Logo,
na realidade, seria mais precisa a expressão contrato de emprego,
correspondendo à relação de emprego. Mesmo assim, a expressão contrato
de trabalho encontra-se consagrada não só na doutrina e na jurisprudência,
como na própria legislação, significando o vínculo de emprego. Nesse
sentido tem-se a disposição do art. 442 da CLT: “Contrato individual de
trabalho é o acordo tácito ou expresso, correspondente à relação de
emprego”. [...]. Prevalece na doutrina a orientação de que se trata de
vínculo de natureza contratual, pois a manifestação de vontade, dando
origem ao vínculo de trabalho, e possibilitando a sua manutenção, pode se
apresentar de forma expressa ou mesmo tácita. A liberdade de trabalho,
assim, deve ser garantida como preceito fundamental. Pode-se entender,
ainda, que, do mesmo modo que o contrato é fonte das obrigações (sendo
esta uma relação ou vínculo jurídico), o contrato de trabalho é a fonte da
relação de emprego, dando origem a essa relação jurídica. Mesmo assim, o
contrato de trabalho, como modalidade de negócio jurídico, também pode
ser visto em seu papel dinâmico, ou seja, retratando a própria relação
jurídica de emprego em execução, em que a vontade se manifesta (ainda
que de forma tácita) não apenas em seu momento inicial, mas também em
seus desdobramentos sucessivos. Tendo em vista a natureza contratual, o
contrato de trabalho apresenta natureza de negócio jurídico, ou seja, ato
jurídico voluntário, de intuito negocial, em que a declaração bilateral de
vontade (consentimento) é manifestada com o fim de produzir seus efeitos
jurídicos próprios52

Entre as características jurídicas da relação contratual, importantes para


definir direitos e obrigações nesse campo, tem-se que a pessoa física é a única
passível de ser empregada; tem-se a disposição de uma natureza intuitu personae
do empregado, em que o trabalhador esta diretamente associado ao seu cargo, ou
seja, não pode ser substituído por outro; e nisso, encontra-se também o caráter de
não-eventualidade das atividades do empregado, em que se dá a habitualidade e
permanência da pessoa ao ambiente laboral. O trabalhador se subordina aos
poderes do empregador, e em troca, recebe um salário enquanto o empregador fica
responsável pelos riscos de sua atividade econômica 53.

52
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 11º edição. Rio de Janeiro:
Forense, 2017, p. 127.
53
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 11º edição. Rio de Janeiro:
Forense, 2017.
30

Assim, destaca-se que:

A relação de emprego, do ponto de vista técnico-jurídico, é apenas uma das


modalidades específicas de relação de trabalho juridicamente configuradas.
Corresponde a um tipo legal próprio e específico, inconfundível com as
demais modalidades de relação de trabalho ora vigorantes. Não obstante
esse caráter de mera espécie do gênero a que se filia, a relação de
emprego tem a particularidade de também se constituir, do ponto de vista
econômico-social, na modalidade mais relevante de pactuação de prestação
de trabalho existente nos últimos duzentos anos, desde a instauração do
sistema econômico contemporâneo, o capitalismo. Essa
relevância socioeconômica e a singularidade de sua dinâmica jurídica
conduziram a que se estruturasse em torno da relação de emprego um dos
segmentos mais significativos do universo jurídico atual — o Direito do
Trabalho. Passados duzentos anos do início de sua dominância no contexto
socio -econômico do mundo ocidental, pode-se afirmar que a relação
empregatícia tornou-se a mais importante relação de trabalho existente no
período, quer sob a perspectiva econômico-social, quer sob a perspectiva
jurídica. No primeiro plano, por se generalizar ao conjunto do mercado de
trabalho, demarcando uma tendência expansionista voltada a submeter às
suas regras a vasta maioria de fórmulas de utilização da força de trabalho
na economia contemporânea. No segundo plano, por ter dado origem a um
universo orgânico e sistematizado de regras, princípios e institutos jurídicos
próprios e específicos, também com larga tendência de expansionismo — o
Direito do Trabalho. Em face da relevância, projeção e tendência
expansionista da relação empregatícia, reduzindo espaço às demais
relações de trabalho ou assimilando às suas normas situações fáticas
originariamente não formuladas como tal, firmou-se, na tradição jurídica, a
tendência de designar-se a espécie mais importante (relação de emprego)
pela denominação cabível ao gênero (relação de trabalho). Nessa linha,
utiliza-se a expressão relação de trabalho (e, consequentemente, contrato
de trabalho ou mesmo Direito do Trabalho) para se indicarem típicas
relações, institutos ou normas concernentes à relação de emprego, no
sentido específico.54

Existem variados tipos de contrato de trabalho, como aquele em que se


contrata por período indeterminado, mas com a carteira de trabalho assinada, no
qual a pessoa detém direitos e benefícios da CLT (CLT full). Existe o contrato por
tempo indeterminado com carteira assinada e direitos trabalhistas, mas que um
percentual do seu salário é disposto na carteira e outro recebido por emissão de
nota fiscal da pessoa jurídica (CLT flex). Existe o trabalhador autônomo, o que
trabalha em cooperativa, o que exerce serviço terceirizado, aquele que é
subcontratado, entre outras variáveis do contrato de trabalho 55.

54
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 16º edição. São Paulo, LTr, 2017, p
310.
31

Tem-se ainda os contratos de trabalho informais, que não possuem


registro da vinculação trabalhista perante o Estado. O trabalho informal é um dos
precursores da crise no ambiente laboral, visto que se caracterizam pela
precarização e flexibilização das dinámicas laborais 56.

Ainda no trabalho informal, e também, no trabalho formal, tem-se a


construção de princípios jurídicos que vinculam essa relação, entre eles a autonomia
da vontade das partes, a consideração da ordem pública, o respeito ao bem-comum,
a delimitação da função social do contrato, o cumprimento da boa-fé e da
cooperação entre as partes contratantes57.

Acerca da relação entre o empregado e o empregador, coloca-se:

Na relação de emprego a subordinação é um lado, o poder diretivo é o outro


lado da moeda, de modo que, sendo o empregado um trabalhador
subordinado, o empregador tem direitos não sobre a sua pessoa mas sobre
o modo como a sua atividade é exercida. Poder de direção é a faculdade
atribuída ao empregador de determinar o modo como a atividade do
empregado, em decorrência do contrato de trabalho, deve ser exercida. O
poder de direção manifesta-se mediante três principais formas: o poder de
organização, o poder de controle sobre o trabalho e o poder disciplinar
sobre o empregado. O poder de organização da atividade do empregado,
combinando- -a em função dos demais fatores da produção, tendo em vista
os fins objetivados pela empresa, pertence ao empregador, uma vez que é
da própria natureza da empresa a coordenação desses fatores. Empresa é
a organização complexa que combina os fatores da produção, de modo que
ao empregador cabe dar a unidade no empreendimento, moldando-o para
que cumpra as diretrizes a que se propõe.58

Considera-se que com o desenvolvimento dos sistemas de produção e


organização do trabalho, constrói-se uma preocupação e um sentido de
responsabilidade institucional para com o bem-estar dos trabalhadores.

Nesse panorama encontra-se o enfoque à saúde, mental e física do


trabalhador, sustentado pelos princípios jurídicos que se desenvolvem em torno,

55
AZEVEDO, Marcia Carvalho de; TONELLI, Maria José. Os diferentes contratos de trabalho entre
trabalhadores qualificados brasileiros. RAM, REV. ADM. MACKENZIE, 15(3), Edição Especial, 191-
220, SÃO PAULO, SP, MAIO-JUN. 2014, p. 198-199.
56
REIS, Jair Teixeira dos. A informalidade e formas atípicas de trabalho: propostas de alterações . In:
Âmbito Jurídico, Rio Grande, VI, n. 14, ago 2003, online.
57
PASQUALOTTO, Adalberto de Souza. Princípios Básicos do Direito Contratual no Novo Código
Civil. Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil”. 2002, p. 219.
58
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 26º edição. Editora Saraiva, 2011,
p. 694.
32

principalmente da ideia de direitos fundamentais do trabalhador 59. Esses direitos


fundamentais estão relacionados a um ambiente de trabalho saudável, as interações
entre empregado e empregador que funcionem na base dos princípios acima
elencados (boa-fé, cooperação, entre outros).

A contemporaneidade é marcada pela conjunção de fatores tecnológicos,


econômicos, culturais, ao qual a centralidade do trabalho ocasiona a dinâmicas de
fatores externos à própria organização laboral no escopo do trabalho. Assim,
questões tecnológicas, culturais e econômicas possuem impacto na organização do
trabalho e pode influenciar o modo como a saúde e a segurança no ambiente laboral
são gerenciadas60. A própria compreensão do trabalhador como sujeito de direitos,
com demandas no que tange a segurança e a saúde ficam nubladas em meio a
inúmeras outras questões de ordem do trabalho e da Previdência Social.

1.3 Previdência Social, previdência privada e seguridade social


no Estado Constitucional

Compreende-se que a previdência consta, no quadro geral da organização


social, como um instrumento que garante o bem-estar social do indivíduo, e, por
conseguinte, de toda uma comunidade. Esse meio de efetivação da segurança e
estabilidade permite a gestão e organização de ordem pública e, ademais, de ordem
privada.

O traço histórico da Previdência está associado ao desenvolvimento do


Estado de Bem-estar Social e as suas contraposições com o liberalismo. Nesse
cenário verifica-se o alargamento do movimento operário, a pressão por garantias
sociais, a ampliação da atuação estatal nas interrelações econômicas e sociais,
visava-se assegurar a ampliação do capital.

Tem-se, assim, as exposições de John Keynes, economista, entendendo a


intervenção do Estado como um instrumento de equilíbrio econômico, que se

59
HELOANI, José Roberto; CAPITAO, Cláudio Garcia. Saúde mental e psicologia do trabalho. São
Paulo Perspec., São Paulo, v. 17, n. 2, p. 102-108, June 2003.
60
ARAUJO, Maria Arlete Duarte; BORGES, Djalma Freire. Globalização e mercado de trabalho:
Educação e empregabilidade. O&S, v.7, n. 17, janeiro 2000.
33

contraporia a visão clássica de que o mercado se autorregula, e nesse sentido, é


possível fazer a conexão com a obrigação estatal de acompanhar as dinâmicas da
Previdência Privada através de um papel fiscalizatório – como será enunciado à
frente. Há ainda, a Teoria da Cidadania de Marshall que dispões os serviços sociais
de ordem pública como direitos de cidadania 61. Esse é o percurso teórico que
consolidou a Previdência no Brasil, e que influencia na importância da Previdência
Privada.

Marshall (1967) entende a cidadania como resultado da evolução dos


direitos, e, para tanto, realiza uma leitura cronológica do surgimento desses,
considerando que os direitos civis nasceram na Inglaterra do século XVIII, e
seriam aqueles relacionados à vida, liberdade e à propriedade. Já os
direitos políticos, seriam aqueles que garantiriam a participação na tomada
de decisões atinentes à sociedade como votar e ser votado, direito à
organização e associação, e teriam sido conquistados a partir do século
XIX. Os direitos sociais, por sua vez, teriam se tornado positivos a parir do
século XX, apesar de serem objeto de reinvindicação em momentos
anteriores, e passaram a ser assegurados com base no status de cidadão.
Seria garantido àqueles que detivessem determinado status, uma
participação mínima na riqueza e igualdade mínima nos direitos e nas
obrigações. Dessa forma, Marshall (1967) considera que a cidadania,
enquanto “produto” do processo de evolução desses três tipos de direitos,
seria capaz de reduzir as desigualdades sociais. Isso por considerar
exclusivamente o aspecto da civilidade e ter como parâmetro uma igualdade
mínima e não uma igualdade substantiva, sobretudo no que se refere ao
acesso à riqueza socialmente produzida.62

O acesso a Previdência está alocado na Constituição Federal de 1988 como


um direito fundamental da pessoa, integra a seara de elementos sociais que dão
forma a vida em grupo com dignidade, constituindo um caractere que denota
segurança e estabilidade econômica e social – de acordo com o que prescreve o
artigo 6º. O artigo 21 da Carta Magna estabelece a competência da União em
fiscalizar os empreendimentos de previdência privada com intuito de assegurar que
essa prática não destoe de sua finalidade social.

Figura – Previdência Social Brasileira – Os cinco Pilares de Sustentação

61
ASSIS, Pollyana Moreira de. A Crescente Ampliação Da Previdência Complementar No País: O
Direito à Proteção Previdenciária Transformado Em Mercadoria. 2011.
62
ASSIS, Pollyana Moreira de. A Crescente Ampliação Da Previdência Complementar No País: O
Direito à Proteção Previdenciária Transformado Em Mercadoria. 2011, p. 24.
34

Fonte: MUNHÓS, 2007, p. 40.

O fundamento da Seguridade Social se encontra no tripé instituído pelo


legislador ao formular a Constituição Federal, associando-se a previdência em si, a
assistência social e a saúde.

O objetivo, aqui, é dispor medidas que constituam respostas aos perigos


sociais a partir da utilização de um maior número de sistemas protetivos eficazes. A
Previdência, nesse sentido, nasce como uma obrigação, uma imposição de
poupança, por parte dos cidadãos, para que, no momento de fragilidade, possam
contar com os frutos de suas contribuições63.

No transcurso do tempo, a previdência se desdobrou no país, em seu viés


privatista, a partir da Previdência Complementar pela Lei nº 6.435 de 1977 e
inspirando-se na experiência do ERISA (Employee Retirement Income Security Act)
nos Estados Unidos da América. Assim dispõe a literatura especializada:

O sistema de fundos de pensão em sua origem nasceu pela administração


de planos de aposentadoria na modalidade de benefício definido em que se
tem o risco atuarial e evoluiu, durante a década de 80 e 90, para as
empresas privadas e para os planos de contribuição definida e mistos no
qual esses riscos foram mitigados. De forma voluntária, baseada na
constituição de reservas, ou seja, no regime de capitalização e acoplada ao
regime geral de previdência social, o sistema de previdência complementar
fechado evoluiu muito bem nas últimas três décadas, passando por
regulações quantitativas, que impunham, em algumas situações, limites
mínimos de aplicação, por períodos de inflação crônica, juros elevados e

63
SILVA JÚNIOR, Adir José da. O Código De Diferenciação Da Previdência Social. Florianópolis, SC,
2012.
35

pelo processo de privatizações. Temos hoje, em termos absolutos, o oitavo


sistema de previdência complementar do mundo que conta com 370 fundos
de pensão, com mais de 2.300 patrocinadores sendo 87% de empresas
privadas, administrando mais de 1.000 planos de benefícios, com recursos
de R$ 420 bilhões, cobrindo aproximadamente 3% da população
economicamente ativa e já pagando mensalmente mais de 600 mil
benefícios de aposentadoria e pensões. Com o advento das leis
complementares nºs 108 e 109, de 2001, a previdência complementar
ganhou novo impulso com o alinhamento às melhores práticas
internacionais em termos de novos instrumentos, novos tipos de entidade de
previdência complementar, transparência, boa gestão financeira e
aperfeiçoamento na governança dos fundos de pensão. 64

Nesse sentido, importa salientar a evolução da Previdência Privada na troca


do século XX para o século XXI, de 1995 a 2008 houve um aumento no número de
entidades fechadas de previdência complementar de 340 para 370 EPC. Esses
números seguiram uma rota de baixa variação no desenvolvimento dos anos,
aponta-se, no segundo semestre de 2017, a existência de 306 Entidades Fechadas
de Previdência Complementar (EFPC) 65.

Esse número conta com o percentual de patrocinadores em 2.691,


instituidores em 412 e planos divididos em previdenciais, com a quantidade de
1.106, e assistenciais, no número de 33 unidades. O sudeste é a região com o maior
número de EFPC, na porcentagem de 62%, seguido do Sul com 17%, o Centro-
Oeste com 10%, o Nordeste com 10% e o Norte com 1% 66.

A próxima seção apresenta o contexto pandêmico para então explicitar as


premissas da Previdencia Privada ante essa situação.

64
PENA, Ricardo. Previdência Complementar no Brasil: história, evolução e desafios. Revista
FUNDOS DE PENSÃO, da Abrapp/ICSS/Sindapp, Ano XXVII, Número 340, de maio/2008, p. 13-15,
p. 01.
65
PREVIDENCIA. RGPS: Estatísticas do Regime de Previdência Complementar – RPC. 2017.
66
PREVIDENCIA. RGPS: Estatísticas do Regime de Previdência Complementar – RPC. 2017.
36

2. O PANORAMA DA PANDEMIA DA COVID-19


2.1. O contexto da pandemia do coronavírus em 2020-2021

Compreender os modos como o direito previdenciário se altera com a


pandemia do coronavírus implicada apontar as premissas da instabilidade social
gerada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) provocando a doença COVID-19, e
demanda esclarecer quais as características desse fenômeno social danoso. A
pandemia de coronavírus que gera o isolamento social e obriga os indivíduos ao
espaço doméstico está perpetuando alterações em todo o tecido social, como trata
Lima67.

Acerca do surgimento do coronavírus, pontua-se:

Dezoito anos após os primeiros casos do SARS-CoV, este novo CoV,


batizado de SARS-CoV-2, é responsável pela rápida propagação e
disseminação da doença a nível nacional e internacional. Esta nova cepa é
menos letal do que os outros integrantes da família, tais como, SARS-CoV e
o vírus causador da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV),
que surgiu em 2012 na Arábia Saudita. No entanto, embora as cepas
tenham se originado de um ancestral comum, o SARS-CoV-2 apresenta
maior potencial de disseminação9,10. A China foi o primeiro país a reportar
a doença e, até o dia 21 de abril de 2020, 213 países, territórios ou áreas
relataram casos da COVID-19, correspondendo a um total de 2.397.216
casos confirmados11. No Brasil, o registro do primeiro caso ocorreu em 26
de fevereiro de 2020 no estado de São Paulo12. A epidemiologia da
COVID-19 ainda é pouco conhecida, pois, para muitos países, encontra-se
em curso, o que dificulta a comparabilidade de resultados. O atual cenário
não é satisfatório e urge a adoção de medidas de saúde pública pelos
gestores a níveis federais, estaduais e municipais, com o objetivo de mitigar
as taxas de morbimortalidade e erradicar a doença.68

Já em maio de 2020, se identificava um número de 5 635 000 infectadas


com COVID-19 pelo mundo como aponta Navarro-Vargas 69 . Ocorre que “a COVID-

67
LIMA, Rossano Cabral. Distanciamento e isolamento sociais pela Covid-19 no Brasil: impactos na
saúde mental. Physis: Revista de Saúde Coletiva [online]. v. 30, n. 02, 2020.
68
BRITO, Sávio Breno Pires. Pandemia da COVID-19: o maior desafio do século XXI. Vigil. sanit.
debate 2020;8(2):54-63, p. 55.
69
NAVARRRO-VARGAS, José Ricardo. The COVID-19 pandemic. Revista de la Facultad de
Medicina, ISSN 0120-0011, ISSN-e 2357-3848, Vol. 68, Nº. 1, 2020, págs. 7-8.
37

19 foi registrada em mais de 180 países ao redor do mundo” 70 considerando que “é


transmitida de pessoa para pessoa, por gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro,
acompanhado por contato pela boca, nariz ou olhos, ou até mesmo, por meio de
objetos e superfícies contaminadas” 71.

A disseminação do vírus SARS-Cov-2 obrigou os estados e municípios


brasileiros a seguirem as medidas de distanciamento social (como o cancelamento
de eventos públicos, o fechamento de escolas e empresas, o isolamento das
pessoas em suas casas) empregadas em outras partes do mundo com sucesso,
visando diminuir o contato entre as pessoas e controlar a transmissão do vírus 72.

Em vista de que o SARS-CoV-2 demanda esforços do poder público ao


passo que provoca um “novo subtipo de síndrome respiratória aguda grave humana
(SARS-CoV) caracterizado por alta capacidade de transmissão e indução de
quadros de infecção respiratória severa”73.

Entre os tipos de intervenções possíveis para o controle do surto de


coronavírus se encontra o isolamento de pacientes, a quarentena e a contenção
comunitária. O isolamento de pacientes visa proteger quem ainda não foi
contaminado; a quarentena implica na restrição de atividades e separação de
pessoas que ainda não estão contaminadas. O controle comunitário pode ocorrer
com a supressão ou isolamento social horizontal e a mitigação, chamada de
isolamento social vertical74.

A contextualização do isolamento social no âmbito da pandemia da COVID-


19 pode ser explicitada a partir das seguintes proposições:

70
PEREIRA et al, Mara Dantas. A pandemia de COVID-19, o isolamento social, consequências na
saúde mental e estratégias de enfrentamento: uma revisão integrativa. Revista Research, Society and
Development, 2020, p. 04.
71
PEREIRA et al, Mara Dantas. A pandemia de COVID-19, o isolamento social, consequências na
saúde mental e estratégias de enfrentamento: uma revisão integrativa. Revista Research, Society and
Development, 2020, p. 04.
72
SCHUCHMANN et al, Alexandra Zanella. Isolamento social vertical X Isolamento social horizontal:
os dilemas sanitários e sociais no enfrentamento da pandemia de COVID-19. Brazilian Journal of
Health Review, 2020.
73
SILVA et al, Fabio Castagna da. Isolamento social e a velocidade de casos de covid-19: medida de
prevenção da transmissão. Rev Gaúcha Enferm. 2021;42(esp):e20200238, p. 10.
74
SCHUCHMANN et al, Alexandra Zanella. Isolamento social vertical X Isolamento social horizontal:
os dilemas sanitários e sociais no enfrentamento da pandemia de COVID-19. Brazilian Journal of
Health Review, 2020.
38

Em dezembro de 2019 a China informou à OMS sobre um surto de uma


nova doença, semelhante a uma pneumonia. Essa doença, transmitida pelo
novo coronavírus, foi denominada COVID-19. Em janeiro de 2020, novos
casos da COVID-19 foram notificados fora da China, então a OMS resolveu
declarar emergência internacional em saúde pública. Na América Latina, o
primeiro caso registrado foi em São Paulo, no Brasil, no dia 26 de fevereiro
de 2020. Após a chegada da COVID-19 no Brasil, diversas medidas de
controle e prevenção da doença foram tomadas pelas autoridades sanitárias
locais em diferentes esferas administrativas (governo federal, governos
estaduais e municipais). Essas medidas se diferenciaram de uma região
para outra do país, entretanto a medida mais difundida pelas autoridades foi
a prática do distanciamento social, entendida de forma geral pela população
e pela mídia, como isolamento social.75

Incidem alterações na esfera da vida coletiva, individual e no escopo da


saúde física e mental das pessoas. Esses desdobramentos da doença, que
extrapolam a via do contágio infeccioso do COVID-19, mas que ocorrerem a partir
do contexto de pandemia costumam ser maior que o de pessoas acometidas pela
infecção como aponta Lima76. Assim é que a pandemia do COVID-19 afeta os
sistemas de saúde pública de todos os países e constitui um novo risco global como
aponta Monzon77.

A confirmação do primeiro caso de COVID-19, reforça Marques et al 78


ocorreu na cidade de Wuhan na China, em dezembro de 2019. Estima-se que até às
17:30 horas do dia 8 de abril de 2020 o número de casos confirmados chegava a
1.500.830 e o número de óbitos era de 87.706 numa contagem mundial. Já no
Brasil, nessa data, contabilizava 15.927 casos confirmados e 800 mortos.

O distanciamento social constitui uma estratégia não farmacológica contra o


coronavírus e está pautado por ações como o isolamento de casos, a quarentena e
a prática de não frequentar lugares com aglomerações. Essa é uma medida
detentora de grande efetividade para o controle do crescimento da doença,

75
MARQUES, E. S., et al. A violência contra mulheres, crianças e adolescentes em tempos de
pandemia pela COVID-19: panorama, motivações e formas de enfrentamento. Cad. Saúde Pública.
Rio de Janeiro, v. 36, n. 4, e00074420, abr. 2020, p. 2412.
76
LIMA, Nisia rindade; BUSS, Paulo Marchiori; PAES-SOUSA, Romulo. A pandemia de COVID-19:
uma crise sanitária e humanitária. Cad. Saúde Pública 2020.
77
MONZON, Jose Maria. El COVID-19 como riesgo global. Revista de bioética y derecho: publicación
del Máster en bioética y derecho, ISSN-e 1886-5887, Nº. 50, 2020, págs. 295-313.
78
MARQUES, E. S., et al. A violência contra mulheres, crianças e adolescentes em tempos de
pandemia pela COVID-19: panorama, motivações e formas de enfrentamento. Cad. Saúde Pública.
Rio de Janeiro, v. 36, n. 4, e00074420, abr. 2020.
39

permitindo resguardar os sistemas de saúde ante um possível colapso, diminuindo,


por exemplo, a demanda de leitos de terapia intensiva 79.

Isto, se considera a partir da probalidade de disseminação do vírus ante as


dinâmicas de interatividade entre as pessoas, como demonstra o organograma
abaixo a partir da mobilização de agentes de saúde, pacientes suspeitos, pacientes
confirmados e pessoas que estiveram em contato com esses indivíduos. Na figura
abaixo se integra os profissionais implicados no cuidado com a pessoa durante a
pandemia, demonstrando ainda, as possibilidades de cuidado institucional contra os
aspectos negativos advindos do isolamento ante o uso das tecnologias.

FIGURA 1 – Rede de suporte social e psicológico oferecido aos profissionais da


saúde e pacientes

Fonte: Pereira et al, 2020.

79
LIMA, Nisia rindade; BUSS, Paulo Marchiori; PAES-SOUSA, Romulo. A pandemia de COVID-19:
uma crise sanitária e humanitária. Cad. Saúde Pública 2020.
40

De acordo com Bezerra et al 80 em pesquisa acerca da percepção do


isolamento social no Brasil, 32% das pessoas entrevistadas (em um valor total de
16.440 respondentes) se encontram em isolamento total, sem sair de suas
residências; 57% das pessoas obedecem a um isolamento parcial, saindo apenas
para comprar alimentos e medicamentos. Os autores apontaram que 89% das
pessoas acreditam na eficácia do isolamento, 8% não têm certeza, e 3% entendem
que o isolamento não cumpre com a função de reduzir o número de vítimas da
COVID-19.

O isolamento social trouxe muitas consequências negativas na vida


psicológica dos indivíduos, abaixo se destaca um organograma com recomendações
do SUS – Sistema Único de Saúde sobre os cuidados com a saúde mental na
pandemia.

FIGURA 2 – Cuidado com a saúde mental na pandemia

Fonte: Adaptado de SUS, 2020.

80
BEZERRA, Anselmo César Vasconcelos et al . Fatores associados ao comportamento da
população durante o isolamento social na pandemia de COVID-19. Ciênc. saúde coletiva, Rio de
Janeiro , v. 25, supl. 1, p. 2411-2421, June 2020.
41

Não obstante, o isolamento social acarreta inúmeros efeitos negativos nos


fatores de sociabilidade e afetividade das pessoas. Surgem problemas mentais
durante a pandemia de COVID-19, no qual já se tem a vulnerabilidade de pessoas
com doenças e transtornos mentais prévios. Ocorre o aumento do estresse e da
ansiedade, em que se tem um maior impacto entre adultos jovens e mulheres
demandando maior atenção a preservação de suas saúdes nesse período 81.

Como apontam Pérez-Narváez e Tufiño82 a pandemia do COVID-19 afeta a


economia dos países e, ainda, o escopo da educação em todos os seus níveis,
impondo a formação pedagógica ao ambiente virtual e espaços tecnológicos. Esse
fator altera as dinâmicas da comunidade educacional, o que implica, ainda, maior
tempo de crianças e adolescente ao espaço doméstico, no convívio com os pais e
na supressão de contato com o ambiente da escola.

De acordo com Santillán-Marroquín83 o isolamento das famílias em suas


casas para não serem expostas ao vírus do COVID-19 altera a estrutura familiar e
gera mudanças nos esquemas de coexistência entre pessoas próximas. Se observa
que a comunicação, o controle de emoções, sentimentos, anseios e expectativas se
altera com o isolamento social. A parte da vida econômica, por exemplo, aponta o
autor, se define por novos esquemas de trabalho a partir do uso da internet em um
labor que ocorre inteiramente no ambiente da casa.

Entre as preocupações trazidas pela pandemia se encontram os altos níveis


de preocupação com o colapso de serviços de saúde e assistência médica, com o
contágio e a morte de pessoas da familia, amigos ou conhecidos, o medo com a
crise econômica e os recursos financeiros necessários para reagir a pandemia, além
das inquietações e temores com o colapso dos serviços públicos 84.
81
BARROS et al, Marilisa Berti de Azevedo. Relato de tristeza/depressão, nervosismo/ansiedade e
problemas de sono na população adulta brasileira durante a pandemia de COVID-19. Epidemiol.
Serv. Saude, Brasília, 29(4):e2020427, 2020.
82
PÉREZ- NARVÁEZ, Marco Vinicio; TUFIÑO, Alex. Teleeducación y COVID-19. CienciAmérica:
Revista de divulgación científica de la Universidad Tecnológica Indoamérica, ISSN-e 1390-9592, Vol.
9, Nº. Extra 2, 2020 (Ejemplar dedicado a: ESPECIAL “Desafíos Humanos ante el COVID-19”), págs.
58-64.
83
SANTILLÁN-MARROQUÍN, Washington. El teletrabajo en el COVID-19. CienciAmérica: Revista de
divulgación científica de la Universidad Tecnológica Indoamérica, ISSN-e 1390-9592, Vol. 9, Nº. Extra
2, 2020 (Ejemplar dedicado a: ESPECIAL “Desafíos Humanos ante el COVID-19”), págs. 65-76.
84
SILVA et al, Fabio Castagna da. Isolamento social e a velocidade de casos de covid-19: medida de
prevenção da transmissão. Rev Gaúcha Enferm. 2021;42(esp):e20200238.
42

Como demonstra o gráfico abaixo os impactos do COVID-19 não foram


apenas na saúde física das pessoas como também organização socioeconômica do
mundo. De acordo com o gráfico a previsão da taxa de pobreza global aumentou
mais em relação ao esperado para o período por conta da pandemia. A taxa de
pobreza está determinada pelo acesso ao emprego, a renda, aos estudos, pela
manutenção dos direitos sociais e acesso as políticas públicas. Essa gama de
elementos essenciais a sociedade foi afetada pelo COVID-19.

FIGURA 1 – Impacto da Covid-19 na Pobreza Global

FONTE: CCSA. How Covid-19 is changing the world: a statistical


perspective. June, 2020 apud ARBIX, 2020.

O avanço da doença com a transmissão comunitária impulsionou medidas


de isolamento, recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Tais
medidas repercutiram no escopo da economia, com a sobrecarga no serviço de
saúde, a alteração da rotina das pessoas e tensões entre pesquisadores e
governantes acerca das medidas protetivas de distanciamento social 85.

85
MARQUES, E. S., et al. A violência contra mulheres, crianças e adolescentes em tempos de
pandemia pela COVID-19: panorama, motivações e formas de enfrentamento. Cad. Saúde Pública.
Rio de Janeiro, v. 36, n. 4, e00074420, abr. 2020.
43

Lima, Buss e Paes-Souza86 apontam que a pandemia da COVID-19 tem


alastrado uma crise sanitária e humanitária que exige cada vez mais dos indivíduos.
A pandemia aprofunda as tensões da organização social, enfraquece o projeto
político global, pode conduzir a desinformação, a um colapso ambiental, a carência
de ideais político. Especificamente na América Latina, a pandemia encontrou um
cenário de fragilidade econômica em comparação com outros territórios.

O setor público, nos campos da saúde, ciência e educação apresentavam


um histórico de debilidades decorrentes da redução dos investimentos e da
implementação de políticas de austeridade fiscal. Esse cenário estava associado a
um panorama de escassez de instrumentos de governança regional, que vinham
com os efeitos do enfraquecimento dos instrumentos de governança global 87.

No Brasil, a discussão acerca de qual estratégia é mais adequada para o


contexto atual da epidemia (onde se identificaria o “isolamento vertical” ou o
“isolamento horizontal”) mobiliza pareceres diferentes de diversos setores da
sociedade civil, pesquisadores e profissionais. O dilema está sobretudo na aplicação
de “estratégias de alto risco” ou “estratégias populacionais”, como apontam Werneck
e Carvalho88.

De acordo com Bezerra et al 89 em pesquisa acerca da percepção do


isolamento social no Brasil, 32% das pessoas entrevistadas (em um valor total de
16.440 respondentes) se encontram em isolamento total, sem sair de suas
residências; 57% das pessoas obedecem a um isolamento parcial, saindo apenas
para comprar alimentos e medicamentos. Os autores apontaram que 89% das
pessoas acreditam na eficácia do isolamento, 8% não têm certeza, e 3% entendem
que o isolamento não cumpre com a função de reduzir o número de vítimas da
COVID-19.

86
LIMA, Nisia rindade; BUSS, Paulo Marchiori; PAES-SOUSA, Romulo. A pandemia de COVID-19:
uma crise sanitária e humanitária. Cad. Saúde Pública 2020.
87
LIMA, Nisia rindade; BUSS, Paulo Marchiori; PAES-SOUSA, Romulo. A pandemia de COVID-19:
uma crise sanitária e humanitária. Cad. Saúde Pública 2020.
88
WERNECK, Guilherme Loureiro; CARVALHO, Marilia Sá. A pandemia de COVID-19 no Brasil:
crônica de uma crise sanitária anunciada. Cad. Saúde Pública 2020.
89
BEZERRA, Anselmo César Vasconcelos et al . Fatores associados ao comportamento da
população durante o isolamento social na pandemia de COVID-19. Ciênc. saúde coletiva, Rio de
Janeiro , v. 25, supl. 1, p. 2411-2421, June 2020.
44

Quanto ao discurso político de gestão da crise do coronavírus, Saraiva e


Zago90 destaca que desde o início, por parte do Executivo nacional, se iniciou uma
tentativa de minimizar or efeitos da pandemia e destacar a necessidade de impedir o
desemprego. Houve inúmeras mudanças de Ministros da Saúde e um forte
antagonismo entre gestores estaduais, municipais e federais.

O antagonismo esteve em estabelecer restrições às atividades produtivas,


com o objetivo de conter a propagação do vírus ou mantê-las em funcionamento –
ainda que as experiências de reabertura do comercio em territórios com altos índices
de contaminação não tenham sido bem-sucedidas em consideração ao temor dos
consumidores91.

2.2 Responsabilidades do Poder Público no quadro de


pandemia: aportes acerca da Seguridade Social

Com o desenvolvimento das teorias políticas observaram-se a constituição


da sociedade e a sua relação com o governo a partir da incidência de múltiplos
conflitos, permeados por interesses conflitantes 92. O Estado figura sobre um conflito
de interesses dos indivíduos que, algumas vezes, também se antagonizam a figura
pública.

Nesse sentido, aponta-se:

[...] dicotomia que se estabelece entre o desejo de domínio e opressão, por


parte dos grandes ou poderosos, e do desejo de liberdade, por parte do
povo, que, em síntese, compõe as relações sociais. A virtù , diz Maquiavel,
consiste na compreensão desta realidade e determina a ação política do
príncipe “... O homem de Estado maquiaveliano depende exclusivamente de

90
SARAIVA, Karla; ZAGO, Luiz Felipe. Economia, saúde e políticas do verdadeiro nas declarações de
Bolsonaro durante a pandemia de COVID-19 no Brasil. Ámbitos. Revista Internacional de
Comunicación | N0. 52 (2021) | 124 – 139.
91
SARAIVA, Karla; ZAGO, Luiz Felipe. Economia, saúde e políticas do verdadeiro nas declarações de
Bolsonaro durante a pandemia de COVID-19 no Brasil. Ámbitos. Revista Internacional de
Comunicación | N0. 52 (2021) | 124 – 139.
92
WINTER, Lairton Moacir. A concepção de Estado e de poder político em Maquiavel. Tempo da
Ciência (13)25: 117-128, 1º semestre 2006.
45

sua própria capacidade para determinar a resposta, impostergável, que a


situação presente permanentemente lhe formula: ‘o que fazer?’” 93

O poder político em Maquiavel, oriundo da interpretação do terceiro capítulo de


“O Príncipe” está disposto pela aceitação natural da população ao bom governante 94.
Mesmo que o estado natural da comunidade, de acordo com a apresentação
Maquiavel, não implique paz, ainda é possível o alargamento de um bem-estar
social a partir do trabalho das instituições em atentarem-se a uma função social 95 – a
função social nada mais é do que a realização do interesse público.

Thomas Hobbes apresenta em seus livros a figura do Leviatã e do


Behemoth como alegorias para o Estado, no primeiro está a representação da força,
com um governo soberano e absoluto, e no segundo encontra-se a violência e a
força do caos96. Conforme aponta Thomas Hobbes, a origem da sociedade está em
um contrato social oriundo da vontade dos homens. Os homens, temendo por sua
vida e segurança, colocam sobre a incumbência de um terceiro, o Estado, a
competência para organizar a sociedade97.

Assim disposto:

Para Locke, a sociedade civil forma-se no intuito de conservar os direitos


naturais, dentre os quais se destaca o direito de propriedade. Dessa forma,
o estado da natureza tem um aspecto econômico (e não político), vinculado
à propriedade e ao trabalho, que deve submeter a política e ser preservado
a todo custo (BOBBIO, 1997, p. 206) e a função precípua do pacto social
estaria, dessarte, na garantia desses direitos naturais (LOCKE, 2004, p. 30).
Isso, de certa forma, justifica a formulação liberal do Estado para Locke:
enquanto para Hobbes o Estado precisa cancelar os últimos resíduos do
estado da natureza (violento e anárquico), para Locke o Estado é pura e
simplesmente uma instituição com o objetivo de tornar possível a
convivência natural entre os homens (BOBBIO, 1997, p. 182).Todas as
demais atividades humanas que não digam respeito à resolução de

93
AMES, 2002, p.16 apud WINTER, Lairton Moacir. A concepção de Estado e de poder político em
Maquiavel. Tempo da Ciência (13)25: 117-128, 1º semestre 2006, p. 116.
94
GAMEIRO, António Ribeiro. Maquiavel: do político virtuoso ao bom governo. Ulusofona, 2013.
95
SADECK, Maria Tereza. Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual de virtú. In.:
WEFFORT, Francisco (Org.). Os Clássicos da Política. 14º ed. São Paulo, Ática, 2006.
96
SOUKI, Nádia. Behemoth contra Leviatã – Guerra civil na filosofia de Thomas Hobbes. São Paulo:
Edições Loyola, 2008.
97
LIMONGI, Maria Isabel. Hobbes. Rio de Janeiro: Zahar, 2002, pp. 28.
46

controvérsias não devem ser sufocadas pela instituição do poder civil do


Estado. Locke enumera, então, quatro limites que devem ser impostos ao
poder civil, bem enunciados por BOBBIO (1997, p. 224-225): (1) o Estado
deve circunscrever sua atuação na conservação e proteção da propriedade;
(2) a consagração do princípio da legalidade; (3) a consagração do princípio
da liberdade econômica; (4) a consagração do princípio da indelegabilidade
do poder.98

O temor da morte, o impulso pela conquista é vistos, por Thomas Hobbes,


enquanto motivos para a origem da sociedade civil 99. Entende-se que “no es posible
encontrar empíricamente una formación social que cuente con el “estado de
naturaleza” descrito en el capítulo 13° del Leviathan, Hobbes utiliza la condición de
la inminente guerra como ejemplo.”100.

O Estado, conforme a filosofia de Hobbes, é posto como um animal artificial


que tem o homem como o seu criador. Esse ato de criação é o contrato que aponta
os indivíduos como súditos, cuja liberdade está entregue ao ente soberano 101. O
campo econômico assenta-se como um dos elementos dispostos por sua
essencialidade na rotina comunitária. A economia associada a consecução da vida
material da sociedade.

Coloca-se a importância da economia a partir do referencial de Adam Smith:

Adam Smith pensa a ordem social como uma emergência que harmoniza o
caos potencial dos interesses individuais e o traduz em bem-estar para a
sociedade. Em vez de se chocarem induzindo à guerra hobbesiana ou à paz
instável lockiana, os interesses privados são agraciados por uma mão
invisível que os orienta para o bem-estar coletivo. Uma solução
aparentemente harmoniosa que supõe a dissipação dos conflitos próprios
de uma sociedade hierarquizada e dispensa, numa primeira leitura teórica, o
príncipe e a moral. Além disso, esta solução consiste numa explicação nada
98
QUINTAS, Fábio Lima. Cidadania, Estado e Sistema Monetário Internacional. Revista Direito GV,
São Paulo, 2014, pp. 419.
99
AUGIER, Felipe Schwember. Razón, Consentimiento Y Contrato El Difícil Mínimo Común
Denominador De Las Teorías Contractualistas. Ideas y Valores, Bogotá , v. 63, n. 156, p. 101-127,
Sept. 2014, pp. 106.
100
TEIXEIRA, Anderson Vichinkeski. Los orígenes filosóficos de la noción de soberanía nacional en el
contractualismo político de Thomas Hobbes, John Locke y Jean-Jacques Rousseau. Revista de
Derecho de la Pontificia Universidad Católica de Valparaíso, Valparaíso , n. 43, p. 801-819, dic.
2014, pp. 803.
101
MELLO, Elson Rezende de. Considerações sobre o Estado em Hobbes. Revista de C. Humanas,
Viçosa, v. 12, n. 1, p. 217-234, jan./jun. 2012.
47

trivial que, utilizando-se de uma metáfora — a mão invisível —,1 funciona


como um operador social. Nesse sentido, o mercado é entendido como algo
mais complexo do que um locus de troca e a mão invisível como mais do
que um simples mecanismo de ajuste automático, representando a própria
viabilização da ordem social, seu operador último, sua forma de organização
social. E não é por outra razão que a teoria do mercado de Smith se torna
inquestionavelmente a matriz teórica da ordem social liberal e a economia
passa a ser entendida como essência da sociedade, terreno sobre o qual a
harmonia social pode ser pensada e praticada.102

Adam Smith é visto como o pai da economia enquanto ciência, e, em sua


obra aponta a incidência dos interesses individuais sem excluir o esforço em prol do
bem-estar social ao qual o indivíduo depende 103. O convívio entre os indivíduos é
observado como um sistema moral, em que as práticas dos sujeitos são essenciais
para a estruturação da comunidade104 .

Segundo Smith, a conduta do indivíduo tem importância no campo público,


ao qual encontra-se a economia. As ações individuais repercutem nas instituições,
ainda que inicialmente ocorram no espaço privado da vida 105.

A ética, conforme a disposição de Smith, está pautada pela relação do


indivíduo com os outros, na descoberta como ser social e a responsabilidade em
torno disso. A participação na comunidade também integra o ser ético. A ordem
social é caracterizada, nesse sentido, pela harmonização dos interesses coletivos e
individuais106.

A idéia de função de bem-estar social (social welfare function) foi


apresentada pela primeira vez em 1938 em um artigo de Abram Bergson,
com o intuito de defi nir a forma precisa de julgamentos de valor requeridos
para a determinação de condições para a maximização do bem-estar
econômico (maximum economic welfare). Trata-se de um estudo que
encontra paralelo nas análises de iniciais de Jeremy Bentham, J. S. Mill, F.
Y. Edgeworth, e, posteriormente, A. C. Pigou, Lionel Robbins, Abba Lerner,
John Hicks, Nicholas Kaldor entre outros. Existem diversos tipos de funções
102
GANEM, Angela. Adam Smith e a explicação do mercado como ordem social: uma abordagem
histórico-filosófica. R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 4(2): 9-36, jul./dez. 2000, pp. 11.
103
CERQUEIRA, Hugo E. A. Da Gama. Para ler Adam Smith: novas abordagens. ANPEC, 2003.
104
GANEM, Angela. Adam Smith e a explicação do mercado como ordem social: uma abordagem
histórico-filosófica. R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 4(2): 9-36, jul./dez. 2000.
105
CAMPREGHER, Gláucia. A natureza humana do comportamento individual nos primórdios do
pensamento econômico: uma comparação entre Hume, Smith e Bentham. Porto Alegre: UFRGS,
2013.
106
GANEM, Angela. Adam Smith e a explicação do mercado como ordem social: uma abordagem
histórico-filosófica. R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 4(2): 9-36, jul./dez. 2000.
48

de bem-estar social, dentre as quais se destacam: i) utilitarista: em que o


bem-estar social é decorrente da soma do bem-estar de cada indivíduo,
independentemente de suas necessidades ou nível inicial de utilidade. [...]
ii) função Max-Min: neste caso, ocorrerá o inverso, somente quando os que
dispõem de menos receberem um incremento social é que ocorrerá uma
melhoria de bem-estar social; iii) função social intermediária (intermediate
social function): [...] o acréscimo de utilidades para os mais ricos deve vir
acompanhado de medidas para compensar os extratos mais baixos. 107

Figuram alguns contributos dos filósofos clássicos e contemporâneos acerca


da edificação do bem comum, ao qual salienta-se a vertente utilitarista de que o bem
comum consiste na “maior felicidade do maior número” de pessoas. Por essa
perspectiva, o bem, no quadro político-jurídico institucional do Estado, não deve se
fundar no bem individual, mas pelo benefício da coletividade, abrangendo o máximo
de pessoas que fundam uma comunidade108.

O asseguramento da Previdência está associado ao envelhecimento da


população109 . Cada vez mais tem-se uma população na terceira idade, que não
integra o mercado de trabalho, todavia, mantém necessidades de subsistência
digna. A população tem a sua expectativa de vida elevada, a partir de fenômenos
como os de (i) queda da taxa de fecundidade; (ii) avanços na medicina,
integralizando saúde e vida; (iii) baixa na mortalidade infantil; (iv) hábitos saudáveis
na alimentação e atividades cotidianas – impondo novos e velhos desafios 110.

Importa salientar que a Organização Internacional do Trabalho (OIT)


organizou, em 1952, a Convenção nº 102 denominada “Normas mínimas para a
Seguridade Social” recomendou aos 182 países que lhe eram vinculados, o
estabelecimento de políticas que minimamente organizassem um apartado de
previdência e assistência social. Essa recomendação está de acordo com o intuito
de estruturar a sociedade rumo ao bem comum, onde a saúde e a integridade dos
indivíduos são alocados com destaque.

107
CALIENDO, Paulo. Direito tributário e análise econômica do direito. Rio de Janeiro Elsevier, 2009
p. 81.
108
CORREA, Lara Cruz. Utilitarismo e moralidade – Considerações sobre o indivíduo e o Estado.
RBCS Vol. 27 n° 79 junho/2012, pp. 176.
109
MUNHÓS, José Luíz. Previdência Social: Um Estudo Comparado Do Modelo Brasileiro De
Previdência Social Pública E Do Modelo Chileno De Previdência. Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, 2007.
110
KÜCHEMANN, Berlindes Astrid. Envelhecimento populacional, cuidado e cidadania: velhos dilemas
e novos desafios. Revista Sociedade e Estado - Volume 27 Número 1 - Janeiro/Abril 2012.
49

Nesse sentido, compreende-se que a manutenção financeira da vida dos


indivíduos detém um conteúdo de essencialidade, fomentando a felicidade e o
respeito entre os sujeitos, onde, a falta dessa organização de teor monetário, pode
ocasionar: “constrangimento, miserabilidade, humilhação, perda da dignidade
humana”111.

111
PEREIRA, José Maercio. Previdência Social: Aposentadoria Por Tempo De Contribuição E Risco
Social. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2013, p. 22-23.
50

3. IMPACTOS DO COVID-19 NO DIREITO PREVIDENCIÁRIO

3.1. A saúde e segurança no trabalho: direitos previdenciários


ante o adoecimento pela COVID-19

No direito previdenciário, o contexto pandêmico impõe a discussão acerca do


auxílio por incapacidade temporária previdenciário, o auxílio doença no qual se
assegura o risco da incapacidade devido a incorrência de enfermidades, acidente de
trabalho ou qualquer prática que incapacite o empregado para o exercício de
atividades laborais por mais de 15 dias112.
O empregado contaminado pelo coronavírus deve ser afastado em prol da
adoção de medidas de isolamento com o objetivo de evitar a propagação do vírus. A
discussão acerca do recebimento do benefício por incapacidade temporária diante
do INSS se encontra no quadro de aplicação do princípio da Prevenção com a
finalidade de evitar o efeito letal da patologia e sua propagação para terceiros 113.

Considera-se que o trabalho está alocado em um contexto globalizado e


de forte competitividade, ao qual a saúde e o bem-estar do trabalhador são, muitas
vezes, secundarizados ou ignorados em prol da produtividade 114. Tem-se inúmeras
situações do trabalho no mundo contemporâneo que demonstram esse ponto como
a imposição de um ritmo acelerado de trabalho; a pressão pela alta produtividade; a
existência constrangimentos diários na ordem moral, sexual, física e psicológica dos
empregados; e fatores externos como a ameaça do desemprego 115.

Nesse sentido:

Hoje, cada vez mais, as empresas impõem - se em complexidades, em


necessidades de serem competitivas, para, no mínimo, manterem-se vivas,
tornando-se dinâmicas e inteligentes. A relação empresas e mercado,
produção e demanda qualidade e satisfação, vão se somando à evolução
de um quadro complexo de mutações na sociedade pós-industrial.
Consequentemente, a cada momento novos conflitos internos vão se
manifestando, às vezes de forma positiva, outras vezes negativamente.
112
VASCONCELOS, Melina. Os reflexos do Covid-19 no Direito Previdenciário. Jus, 2020.
113
VASCONCELOS, Melina. Os reflexos do Covid-19 no Direito Previdenciário. Jus, 2020.
114
GUI, Roque Tadeu. Prazer e Sofrimento no Trabalho: Representações Sociais de Profissionais de
Recursos Humanos. Psicologia, Ciência e Profissão, 2002, 22 (4), 86-93.
115
SATO, Leny; BERNARDO, Márcia Hespanhol. Saúde mental e trabalho: os problemas que
persistem. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, n. 4, p. 869-878, Dec. 2005.
51

Mas, em todos os casos, requerem que os conflitos sejam administrados,


para então, serem conhecidas as suas causas, da mesma forma que os
efeitos, que podem servir de reflexões e norteamentos para novos caminhos
e planos. [...]. Nenhuma empresa deve ser percebida com fim em si mesma,
ou dependente exclusivamente do seu objetivo. Ao contrário, uma empresa
para fluir deve ser vista como um organismo em que as partes do seu
contexto são constituídas por várias as dimensões componentes, são
representadas, como disse o autor supracitado, pelos múltiplos
stakeholders, que são os indivíduos, as entidades ou os grupos de interesse
que exercem pressão sobre os rumos estratégicos da organização, posto
que, os influenciam e/ou são por eles influenciados. Neste contexto, a
legitimidade da empresa passa a ser vista como a sua capacidade de
construir estratégias socioambientais que contemplem as demandas dos
múltiplos atores. Desta forma, a estratégia caracteriza-se menos como um
plano deliberado e mais como um processo socialmente construído a partir
da mediação de conflitos e articulação de compromissos entre a
organização e diversos outros atores116.

No campo das instituições internacionais destaca-se a Organização


Internacional do Trabalho (OIT), de cunho jurídico, criada em 1919, e trabalha pela
delimitação de diretrizes estáveis na segurança e medicina do trabalho. A
organização prepara convenções e documentos jurídicos acerca de direitos
basilares ao trabalho como os de liberdade sindical e a proteção ao direito de
sindicalização e negociação (Convenção nº 87, 98 e 154); a abolição do trabalho
forçado (Convenção nº 29 e 105); a não descriminação no emprego e ocupação
(Convenção nº 111)117.

Acerca disso, coloca-se:

[...] em 1998, foi editada a Declaração da Organização Internacional do


Trabalho sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho. Com a
adoção deste documento, cujo texto, em sua íntegra, encontra-se disponível
no anexo deste trabalho, a OIT preocupa-se inicialmente em oferecer aos
seus países signatários subsídios jurídicos para o progresso social dentro
do atual contexto da globalização da economia. A Declaração tem por
pretensão “conciliar a preocupação de estimular os esforços de todos os
países em conseguir que o progresso social acompanhe o progresso da
economia, por um lado, respeitando a diversidade de situações, as
possibilidades e as preferências de cada país, por outro”. Evidencia-se que,
face à acentuada precarização das condições de trabalho, decorrentes da

116
FERREIRA JR., Roberto Rodney. Os Conflitos Nas Organizações Contemporâneas. 2007. IV
Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, p. 04-05.
117
ERVOLINO, Ivan. A Influência Da Organização Internacional Do Trabalho (OIT) Na Definição Dos
Padrões Normativos No Brasil. 2011. 62 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Humanas) -
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2011.
52

globalização econômica, a OIT aprova a Declaração, a fim de promover o


respeito aos direitos humanos e fundamentais do trabalhador. 118

As situações de mal-estar e violência no trabalho ferem os direitos


fundamentais do trabalhador, ao qual se encontram o direito a um ambiente de
trabalho saudável, de acesso à saúde, de acesso ao lazer, de modo geral, o bem-
estar do trabalhador coaduna com o direito à vida digna 119. Trata-se de um empenho
institucional de ordem internacional, como posto:

[...] a normativa internacional de tutela laboral não se restringe aos grandes


documentos gerais de declaração de direitos humanos. Princípios magnos
relacionados ao trabalho humano acham-se contidos nos textos da
Constituição da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 1919 e da
Declaração de Filadélfia acerca dos fins e objetivos da OIT (1944). Tais
princípios são os seguintes: o trabalho não é uma mercadoria; a liberdade
de expressão e de associação é essencial para o progresso constante; a
pobreza em qualquer lugar constitui um perigo à liberdade de todos; a luta
contra a necessidade requer esforços nacionais e internacionais, constantes
e concertados, e com participação de representantes dos trabalhadores, dos
empregadores e dos governos, com o fim de promover o bem-estar comum;
a paz permanente só pode se basear-se na justiça social; todos os seres
humanos sem distinção de raça, credo ou sexo, têm direito a perseguir seu
bem-estar natural e seu desenvolvimento espiritual em condições de
liberdade e dignidade de seguridade econômica e em igualdade de
oportunidades. E destes princípios derivam as numerosas convenções e
recomendações adotados pela OIT desde a sua fundação 120

O direito à saúde e à segurança do trabalhador demanda um quadro


protecionista das instituições envolvidas no controle do trabalho, e deve abarcar,
principalmente os contextos laborais marcados pelas situações de trabalho flexível,
de terceirização dos serviços, ou de flexibilização do tempo e modo do trabalho 121.

Assim, deve-se destacar que:

118
ARAUJO, Wallanna Danas Oliveira de. Direitos fundamentais do trabalhador e a Declaração de
1998 da OIT. UFPB, Prima Facie, 2008, p. 33.
119
MELO, Sandro Nahmias. Meio Ambiente Do Trabalho, Direito Fundamental. 1999. 161 f.
Dissertação (Mestrado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1999.
120
MENEZES, Mauro de Azevedo. Constituição E Reforma trabalhista No Brasil: Interpretação Na
Perspectiva Dos Direitos Fundamentais. Universidade Federal de Pernambuco, 2002, p. 30.
121
ROCHA, Fábio Ribeiro da. Efetividade do Direito Fundamental ao meio ambiente de trabalho
seguro e adequado: a responsabilidade civil do tomador de serviços. 2015. 210 f. Dissertação
(Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2015.
53

O que se constata é que a qualidade de vida do trabalhador, especialmente


dos que vivem no terceiro mundo, vem-se degradando dia após dia.
Doenças até então inexistentes ou restritas a certos nichos empresariais,
como a LER/Dort tornaram-se comuns a todos, e espalharam-se como
doenças infecto-contagiosas, tornando impossibilitados, para o trabalho,
milhares de trabalhadores. As Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou
Distúrbios Osteomusculares (Dort) relacionados ao trabalho são
nomenclaturas utilizadas para designar inúmeras doenças, entre as quais
tenossinovites e tendinites, ou seja, inflamações que se manifestam nos
tendões e nas bainhas nervosas que os recobrem; são afecções que podem
acometer músculos, tendões, nervos e ligamentos de forma isolada ou
associada, com ou sem a degeneração de tecidos, e que pode ocasionar a
invalidez permanente.122

Nesse novo panorama do Brasil na atualidade, torna-se preciso dispor o


esforço institucional e das diversas ciências para elucidar as situações de
precarização do trabalho, e empenhar em construir um ambiente laboral que seja
saudável. Com o respeito aos direitos fundamentais do empregado e a construção
de uma vida digna123.
Deve-se observar que:

Conforme Rocha Sobrinho e Porto (2012), o bem-estar no trabalho


tradicionalmente tem sua conceituação tratada conforme dois enfoques. O
primeiro como uma manifestação ou avaliação afetiva das características do
trabalho, cujo ponto central seria o balanço, ou equilíbrio, entre as
avaliações positivas e negativas feitas pelo indivíduo. Se o balanço for
positivo, fica evidenciado o bem-estar; se negativo, é constatada sua
ausência. Esse primeiro enfoque aproxima-se da conceituação de bem-
estar subjetivo, sendo baseado nele. O segundo enfoque, conforme Rocha
Sobrinho e Porto (2012), trata o bem-estar no trabalho como um conjunto de
avaliações positivas sobre seus aspectos, como motivação, ambientação,
remuneração e outros. Ainda conforme os autores, não há como negar que,
embora o afeto seja uma questão central nos estudos sobre bem-estar no
trabalho, as percepções que o indivíduo tem sobre os aspectos relacionados
ao trabalho podem constituir-se como predisponentes às avaliações
afetivas. Portanto, elas devem ser consideradas como parte integrante da
própria conceituação de bem-estar. Esse enfoque tem como pano de fundo
as proposições conceituais de bem-estar psicológico, se assentando nele.
Há, ainda, um terceiro enfoque, que trata o bem-estar no trabalho como
sinônimo de qualidade de vida no trabalho, não fazendo distinção entre os
termos. Nele, a qualidade de vida no trabalho é investigada pelas avaliações
positivas duradouras que o empregado faz de aspectos de seu trabalho e de
sua organização. Nesse enfoque, a qualidade de vida no trabalho é definida
como o balanço entre vivências positivas (bem-estar no trabalho) e
vivências negativas (mal-estar no trabalho), o que caracterizaria a boa

122
HELOANI, José Roberto; CAPITAO, Cláudio Garcia. Saúde mental e psicologia do trabalho. São
Paulo Perspec., São Paulo, v. 17, n. 2, p. 102-108, June 2003, p. 105.
123
MELO, Sandro Nahmias. Meio Ambiente Do Trabalho, Direito Fundamental. Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, 1999.
54

qualidade de vida no trabalho (se vivências positivas prevalecessem) ou a


má qualidade de vida no trabalho (o oposto) (Ferreira, 2012). 124

O direito à saúde e a segurança do trabalhador demanda um ambiente de


trabalho saudável e ecologicamente equilibrado, mesmo que o contexto normativo
dispunha um trabalho de bases flexíveis, ou ainda, com a terceirização dos serviços,
deve-se pautar, em todas essas situações, pela qualidade de vida do trabalhador e
pela qualidade do ambiente de trabalho125.
Assim, destaca-se:

Ao analisarmos minuciosamente as definições apresentadas, poderemos


perceber características comuns, que evidenciam a ergonomia como
ferramenta preponderante da qualidade das atividades laborais. Dentre elas
destacamos: a) objetiva o bem estar dos trabalhadores e a qualidade de
vida no ambiente laboral; b) adaptação de trabalho (tarefas e ferramentas)
ao trabalhador; c) transformação e adequação dos ambientes de trabalho a
fim de evitar acidentes e prevenir doenças; d) abordagem interdisciplinar
aplicada na busca de conhecimentos relativos ao homem e seu ambiente
laboral. Enquanto ciência aplicada, a ergonomia tem por objeto o homem, a
busca incessante em adaptar o trabalho ao trabalhador, em oferecer
conforto e facilidades para produzir. A busca por saúde, segurança e bem-
estar do trabalhador não se constituem em um fim, mas em um meio para
uma produção com qualidade (LACERDA, 2006). A qualidade do que se
produz e a qualidade de vida no trabalho são fatores intrínsecos. Desta
forma, é inconcebível que bons produtos e/ou serviços sejam provenientes
de trabalhadores que se encontram doentes, desmotivados ou trabalhem
em condições inadequadas ou insalubres.126

O trabalhador emprega o seu tempo no ambiente de trabalho não apenas


para a construção da sua rotina de tarefas, como também na construção da
satisfação de sua dignidade e saúde. O trabalho, nesse sentido, representa o
desenvolvimento do bem-estar, da integridade, da satisfação e da felicidade 127. O
tempo vivenciado no ambiente laboral reflete nas dinâmicas pessoais de vida do

124
GOMIDE JUNIOR, Sinésio; SILVESTRIN, Luiz Humberto Bonito; OLIVEIRA, Áurea de Fátima.
Bem-estar no trabalho: o impacto das satisfações com os suportes organizacionais e o papel
mediador da resiliência no trabalho. Rev. Psicol., Organ. Trab. [online]. 2015, vol.15, n.1, pp. 19-29.,
p. 21 
125
ROCHA, Fábio Ribeiro da. Efetividade Do Direito Fundamental Ao Meio Ambiente De Trabalho
Seguro E Adequado: A Responsabilidade Civil Do Tomador De Serviços. Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, 2015.
126
AZEVEDO, Alessandra Bandeira de; SOUZA, Sueline. Os dilemas da saúde e segurança do
trabalho nas cooperativas. UFPB, 2013, p. 02.
127
SOBRINHO, Fábio Rocha; PORTO, Juliana Barreiros. Bem-Estar no Trabalho: um Estudo sobre
suas Relações com Clima Social, Coping e Variáveis Demográficas. RAC, Rio de Janeiro, v. 16, n. 2,
art. 5, pp. 253-270, mar./abr. 2012.
55

sujeito, trata-se de um processo duplo, em que trabalho e vida pessoal se constroem


mutuamente128.

3.2. Portaria 373, de 16 de março de 2020 e a instrumentalização dos


procedimentos institucionais do INSS no contexto pandêmico

Dentro das práticas estatais de entrega do serviço público pode-se destacar


as práticas relacionadas ao INSS no contexto pandêmico e a instrumentalização dos
procedimentos desse órgão para proteger a saúde da população. Com a Portaria
373, de 16 de março de 2020 se apontam as orientações para as medidas protetivas
no quadro no INSS, principalmente com a intenção de impedir o deslocamento dos
indivíduos às agências do INSS129.

Assim, dispõe a referida portaria:

Art. 1º Interromper, por até 120 (cento e vinte) dias as seguintes rotinas de
atualização e manutenção de benefícios administrados por este Instituto em
decorrência do estado de emergência pública, resultante da pandemia do
coronavírus (COVID 19), podendo ser prorrogado enquanto perdurar a
situação:
I - bloqueio dos créditos dos benefícios por falta de realização da
comprovação de vida aos beneficiários residentes no Brasil ou no exterior;
II - exclusão de procuração por falta de renovação ou revalidação após 12
meses;
III - suspensão de benefício por falta de apresentação de declaração de
cárcere;
IV - suspensão de benefício por falta de apresentação de CPF;
V - suspensão de benefício por não apresentação de documento que
comprove o andamento regular do processo legal de tutela ou curatela
quando se tratar de administrador provisório, além do prazo de 6 meses;
VI - o envio das cartas de convocação aos beneficiários com dados
cadastrais inconsistentes ou faltantes identificados pelo Sistema de
Verificação de Conformidade da Folha de Pagamento de Benefícios -

128
SORAGGI, Fernanda; PASCHOAL, Tatiane. Relação entre bem-estar no trabalho, valores
pessoais e oportunidades de alcance de valores pessoais no trabalho. Estud. pesqui. psicol., Rio de
Janeiro , v. 11, n. 2, p. 614-632, ago. 2011 .
129
VASCONCELOS, Melina. Os reflexos do Covid-19 no Direito Previdenciário. Jus, 2020.
56

SVCBEN e disponibilizados no Painel de Qualidade de Dados do


Pagamento de Benefícios - QDBEN; e
VII - suspensão de benefícios por impossibilidade da execução do programa
de Reabilitação Profissional.
§ 1º A interrupção prevista no inciso I do caput ocorrerá a partir da
competência 03/2020, ocasião em que ficarão interrompidos igualmente os
atos decorrentes deste bloqueio, como a suspensão e a cessação por falta
de realização de comprovação de vida.
§ 2º Enquanto perdurar o estado de emergência está suspensa a realização
de pesquisa externa para fins de comprovação de vida.
Art. 2º A interrupção das rotinas previstas nos incisos do caput art. 1º, com
exceção do inciso I, iniciará a partir da competência 04/2020.
Art. 3º As ações necessárias para o cumprimento das medidas previstas
nesta Portaria serão executadas por este Instituto em conjunto com a
Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social - DATAPREV.

As políticas públicas no campo da Seguridade Social consistem na defesa


dos direitos sociais e fundamentais aos indivíduos. Nesse sentido dispõe a doutrina
sobre o envolvimento do Estado na aplicação de políticas públicas com a intenção
de promover melhorias sociais:

No processo de definição de políticas públicas, sociedades e Estados


complexos como os constituídos no mundo moderno estão mais próximos
da perspectiva teórica daqueles que defendem que existe uma “autonomia
relativa do Estado”, o que faz com que o mesmo tenha um espaço próprio
de atuação, embora permeável a influências externas e internas (Evans,
Rueschmeyer e Skocpol, 1985). Essa autonomia relativa gera determinadas
capacidades, as quais, por sua vez, criam as condições para a
implementação de objetivos de políticas públicas. A margem dessa
“autonomia” e o desenvolvimento dessas “capacidades” dependem,
obviamente, de muitos fatores e dos diferentes momentos históricos de
cada país.130

As políticas públicas passam pela fase de implementação em que se


considera uma lista de elementos atinentes a estrutura do problema ou demanda
social, a fim de estruturar os objetivos que o programa almeja atingir. Na maioria das
vezes, os problemas atinentes a aplicação das políticas públicas está na
comunicação existente entre aqueles que formulam as políticas e aqueles que a
aplicam.

130
SOUZA, Celina. Políticas pública: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano 8, nº
16, jul/dez 2006, p. 28.
57

Além disso, é possível afirmar que os estilos que cada governante adota no
curso de seu mandato influencia diretamente na eficácia da aplicação da política
pública. Assim é preciso ter bem delimitado quais são os fatores dispostos no
programa, as suas dinâmicas, estratégias, possibilidades, elementos envolvidos e,
então, os seus objetivos131.

Tem-se todo um histórico acerca da revisão de políticas públicas no país, em


que se considera que a década de 1980 foi um marco revisional para as práticas
estatais. Na agenda dessa reestruturação estavam conceitos como os de
descentralização das políticas, de participação dos indivíduos, de transparência no
comportamento das instituições e reorganização das interações entre o público e o
privado132 .

Compreende-se que para a correta prática estatal de contenção do crime e


cumprimento de suas obrigações constitucionais no âmbito prisional é fundamental a
compreensão das implicações das políticas públicas. Acerca disso, dispõe a
doutrina:

O sistema penitenciário brasileiro vive uma grande crise tendo em vista sua
complexidade, crescimento e evolução da criminalidade. No Brasil, em
junho de 2014, o Conselho Nacional de Justiça divulga dados sobre a
evolução da população carcerária do país, compreendendo em 563.526
presos, para 357.219 vagas, gerando um déficit de 206.307 vagas
(MONTENEGRO, 2014). A solução parece simples, criação de novos
presídios. Contudo, o sistema já está sob o efeito de um ciclo vicioso
instaurado, em que o preso ao entrar no sistema penitenciário amplia o
crime, não se recupera, muito menos se reintegra na sociedade em uma
convivência pacífica, assim a necessidade de mais políticas públicas de
reintegração social do egresso e reforma do atual sistema são medidas
urgentes.133

Ainda, as políticas públicas a fim de garantir a sua efetividade e


consequentemente avaliar o comportamento das instituições em suas ações para
com a comunidade, são passíveis de avaliação. Observa-se, segundo dispõe
131
D’ASCENZI, Luciano. Implementação de políticas públicas: perspectiva analíticas. Revista
Sociologia e política, v. 21, nº 48, 2013.
132
TREVISAN, Andrei Pittol; VAN BELLEN, Hans Michael. Avaliação de políticas públicas: uma
revisão teórica de um campo em construção. rap – Rio de Janeiro 42(3):529-50, maio/jun. 2008.
133
MARTINS, Fernando; CAVALCANTI-BANDOS, Melissa Franchini. A necessidade de políticas
públicas de reintegração social no sistema penitenciário brasileiro: uma abordagem sistêmica. 11º
Congresso Brasileiro de Sistemas. O pensamento sistêmico e a interdisciplinariedades: debates e
discussões. Franca/SP, 2015.
58

Trevisan e Van Bellen134 que avaliar significa dar valor algo, considerando o
complexo número de pessoas, problemáticas e demandas que dizem respeito a uma
política pública, avaliá-la é valorar, de modo positivo ou negativo, as realizações
justificadas por um programa do governo. Desse modo, se entende a necessidade
de promoção dos direitos previdenciários no contexto pandêmico.

134
TREVISAN, Andrei Pittol; VAN BELLEN, Hans Michael. Avaliação de políticas públicas: uma
revisão teórica de um campo em construção. rap – Rio de Janeiro 42(3):529-50, maio/jun. 2008.
59

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa buscou investigar o direito previdenciário a partir dos aportes


do direito constitucional e do entendimento de que o direito não é estático, mas se
modifica conforme as demandas da sociedade. Verificou-se que a Previdencia
Social está pautada em um Estado Democrático de Direito que tem como principal
parâmetro a força normativa da Constituição e os princípios da dignidade humana e
da saúde do trabalhador.

Verificou-se como no contexto pandêmico a responsabilidade do Estado


previdenciário se estende, tanto na esfera institucional, quanto aos procedimentos
dos órgãos de acesso as garantias instituídas pelo Estado, como no caso da
flexibilização do atendimento do INSS para que não ocorra atendimento pessoal e,
consequentemente, o número de infectados com o coronavírus aumente.

Apontou-se, ainda, a responsabilidade do Estado Previdenciário no


panorama da pandemia do coronavírus, considerando as políticas públicas e o dever
de assistência pública na ordem econômica justa e solidária, mediante a
possibilidade de integração do auxílio por incapacidade temporária previdenciário
aos contribuintes infectados. Verificou-se, assim, que o Estado previdenciário está
imbuído de uma responsabilidade constitucional para com a sociedade,
principalmente no contexto de um regime jurídico emergencial como o que se impõe
com a pandemia.
60

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